Workshop
Workshop
sobre o
Sistema Plantio Direto
no Estado de São Paulo
Campinas, 13 e 14 de dezembro de 2005
Governo do Estado de São Paulo
Governador do Estado
José Serra
Secretário de Agricultura e Abastecimento
João de Almeida Sampaio Filho
Secretário-Adjunto
Antonio Júlio Junqueira de Queiroz
Coordenador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
João Paulo Feijão Teixeira
Diretor-Geral do Instituto Agronômico
Orlando Melo de Castro
Diretora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais
Sonia Carmela Falci Dechen
Campinas, 27 de junho de 2007
CARTA ABERTA
AOS AGRÔNOMOS
Prezados Colegas:
Pela segunda vez dirijo-me à classe dos engenheiros agrônomos e convido-os a refletir sobre o mesmo
assunto: A Agricultura Conservacionista Baseada no Plantio Direto.
Em abril de 1993, há quase 15 anos, lancei um apelo veemente a todos os meus colegas da pesquisa,
da divulgação e do assessoramento rural, dizendo: “Estudem esse assunto sem preconceitos, com interesse e com senso de responsabilidade para o problema. Os solos se formaram ao longo de milhares
de anos pelo acúmulo superficial de resíduos. Sua estrutura e vida biológica se baseiam na deposição
do material orgânico, camada sobre camada, por tempos imemoriais. Não há o que temer em retornar
às regras da natureza”.
Em abril de 2001, organizamos a Fundação Agrisus-Agricultura Sustentável com a missão de “Estimular a
capacitação e o aperfeiçoamento profissional, bem como incentivar a pesquisa agronômica e a extensão rural, com a finalidade de gerar, desenvolver e difundir tecnologias destinadas a otimizar a fertilidade da terra de forma sustentável e favorável ao meio ambiente”.
Por ocasião do Dia do Agrônomo, em outubro de 2006, ao comemorar na ESALQ meus 70 anos de formatura rememorei de improviso minha longa carreira, destacando fatos notórios por mim testemunhados, dentre eles “o advento dos herbicidas que permitiram a instalação do sistema do plantio direto que
é a maior garantia até hoje inventada de manter a fertilidade do solo”.
Estamos diante de fato recente, que é mais que uma tecnologia, pois se trata de um novo ambiente
agrícola quando adotamos o sistema do “solo imperturbado recoberto de resíduos” sobre 22 milhões
de hectares.
Urge aceitar e acreditar nesse novo ambiente agrícola que representa, na realidade, uma involução tecnológica ao retornar às condições primitivas quando a serapilheira recobria a superfície do solo.
Agora, as operações mecanizadas não destroem mais a rede fasciculada de canalículos deixada tanto
pelas raízes em cabeleira como pela variada fauna multiplicada em novo ambiente, mais propício por
menores oscilações da temperatura e umidade.
Não mais destruímos por gradagens sucessivas a estrutura granulosa do solo, dissociando grumos e
liberando argilas que, ao migrarem para o subsolo, formam camadas adensadas impermeáveis, os incômodos “pés de grade”.
Grades e arados não misturam mais com a terra os adubos fosfatados, quimicamente imóveis no solo,
deslocando-se apenas por efeitos biológicos ou quando arrastados pela água através das galerias deixadas pela bio-atividade. Formam-se sítios de alto P, assim alterando a dinâmica da assimilação pelas
raízes, bem como atenuando o problema da fixação.
Ao facilitar sua penetração, não se perde mais água por escorrimento, evitando-se a erosão com suas
danosas conseqüências. Infiltrando-se, as águas alimentam os lençóis freáticos e, em seqüência, os
aqüíferos mais profundos. Aumenta a vazão dos olhos d’água, crescem os estoques subterrâneos e
evitam-se os assoreamentos dos mananciais, dos córregos e dos rios.
A manta orgânica em decomposição renova continuamente o húmus e os ácidos húmicos que permeiam pelos interstícios da porosidade, com seus efeitos benéficos sobre as propriedades físicas e
químicas do solo.
As culturas comerciais, desde o estágio de plântulas, não mais são submetidas ao estresse causado
pelas altas temperaturas do solo e pelas oscilações extremas da umidade.
Estamos frente a um novo e diverso ambiente agrícola com relação ao solo cultivado, o qual nem sempre vem sendo devidamente reconhecido. A tradição do preparo mecanizado da terra, com a percepção
visual pictórica da terra lavrada colorida, ainda está gravada em nosso inconsciente.
Cumpre ter a coragem de mudar os conceitos, de renovar o inconsciente, de reformular as apostilas, de
ousar eliminar a imagem da aração anual da terra. Estamos em uma nova fase da agricultura tropical,
em um país privilegiado onde não há preocupação com o aquecimento rápido de um solo ainda gelado
pelo inverno.
Estamos ainda aprendendo essa nova agricultura em ambiente de solo imperturbado recoberto de resíduos. Há muito que pesquisar ainda para gerar tecnologias adequadas e para conhecer os fenômenos
que regulam essas tecnologias.
Vamos definir regras para renovar satisfatoriamente a manta em contínua decomposição. Vamos investigar as condições ótimas para as bactérias e fungos fixadores de N ainda que não simbióticos. Vamos
determinar as plantas de cobertura que melhor reestruturam o solo. Vamos pesquisar espécies, como
as Brachiarias, que deprimem fungos e nematóides prejudiciais às lavouras. Vamos inventar nova amostragem de terra que identifique os sítios de alto P.
Vamos difundir o novo ambiente de produção agrícola. Vamos praticar eficientemente uma agricultura
tropical onde faz calor e chove, com estiagem para as colheitas. Vamos, enfim, tornar sustentável o muito que já se fez, como indicam os 130 milhões de toneladas de grãos estimados para este ano, ao lado
de recordes da cana, dos citros, do café, das carnes, das demais frutas, das hortaliças e das flores.
No dia do 6o aniversário da Agrisus, proclamo estes convites a meus colegas, que tanto têm feito pela
nossa agropecuária, congratulando-me com todos.
Grande abraço,
Fernando Penteado Cardoso
Engenheiro Agrônomo Sênior, ESALQ-USP,1936
Visão
Fazer da Fundação uma entidade reconhecida por promover a melhoria e a conservação da fertilidade da terra e das condições ambientais envolvidas, visando a produção
agropecuária econômica e sustentável, de interesse, tanto dos produtores como da sociedade consumidora.
Missão
Estimular a capacitação e o aperfeiçoamento profissional, bem como incentivar a pesquisa agronômica e a extensão rural, com a finalidade de gerar, desenvolver e difundir
tecnologias destinadas a otimizar a fertilidade da terra de forma sustentável e favorável
ao meio ambiente.
Ficha Catalográfica
W926 Workshop sobre o Sistema Plantio Direto no Estado de São Paulo
(Campinas: 2005)
Workshop sobre o sistema plantio direto no Estado de São
Paulo. / (org) Sonia Carmela Falci Dechen. Piracicaba: Fundação Agrisus;
FEALQ; Campinas: Instituto Agronômico, 2007.
206 p.
ISSN: 0102-4477
1. Sistema plantio direto – São Paulo I. Dechen, Sonia Carmela Falci
II. Título
CDD. 631.51
Índice
APRESENTAÇÃO
11
INTRODUÇÃO
15
Orlando Melo de Castro
Fernando Penteado Cardoso
MESA REDONDA I
17
Alternativas para a formação de palha
Moderador
Denizart Bolonhezi
Apresentadores
Ivo Mello
Antonio Luiz Fancelli
Debatedores
Marcos Palhares
Rudimar Molin
Ricardo de Castro Merola
MESA REDONDA II
Sanidade e plantas daninhas x palha
Moderadora
Elaine Bahia Wutke
Apresentadores
Álvaro Manoel Rodrigues de Almeida
Jamil Constantin
Debatedores
Domênico Vitulo
Ciro Antonio Rosolem
João Kluthcouski
51
MESA REDONDA III
95
Qualidade química do solo
Moderador
Bernardo van Raij
Apresentadores
Heitor Cantarella
Carlos Alexandre Costa Crusciol
Debatedores
Eduardo Fávero Caires
Júlio Cezar Franchini
Leandro Zancanaro
MESA REDONDA IV
133
Qualidade física do solo e mecanização para o sistema plantio direto
Moderadora
Isabella Clerici De Maria
Apresentadores
Ricardo Ralisch
Afonso Peche Filho
Debatedores
Paulo Sérgio Graziano Magalhães
José Eloir Denardin
Orlando Pereira de Godoy Neto
MESA REDONDA V
181
Rumos da pesquisa em sistema plantio direto
Moderador
Fernando Penteado Cardoso
Participantes
Denizart Bolonhezi
Elaine Bahia Wutke
Bernardo van Raij
Isabella Clerici De Maria
APRESENTAÇÃO
O Instituto Agronômico (IAC), em parceria com a Fundação Agrisus e a Fundação
de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), realizou o primeiro “Workshop sobre
Sistema Plantio Direto no Estado de São Paulo” nos dias 13 e 14 dezembro de
2005 em Campinas (SP).
O IAC possui um grupo de pesquisadores – os SPDiretos, com coordenação de Isabella
Clerici De Maria – que, por meio de reuniões mensais com pesquisadores dos Pólos da APTA,
tem procurado definir linhas de atuação de suas pesquisas nessa área.
A Fundação Agrisus tem como missão estimular a capacitação e o aperfeiçoamento profissional, bem como incentivar a pesquisa agronômica e a extensão rural com a finalidade de
gerar, desenvolver e difundir tecnologias destinadas a otimizar a fertilidade da terra de forma
sustentável e favorável ao ambiente.
Convergindo os interesses da Agrisus e do IAC foi elaborado este workshop com o objetivo
de diagnosticar os obstáculos à plena implantação do sistema plantio direto e definir prioridades
de pesquisa no Estado de São Paulo, visando, dessa forma, a consolidar o sistema na agricultura
paulista.
A organização do workshop procurou agregar representantes do agronegócio com reconhecida experiência no assunto. Por isso foi um evento fechado e restrito a convidados: produtores rurais, profissionais da área, professores e pesquisadores.
O evento contou com cinco mesas-redondas com apresentações na forma de palestras e
debates que abordaram os problemas enfrentados pelos agricultores na implantação e consolidação do sistema plantio direto no Estado de São Paulo. Após cada abordagem os temas foram
debatidos por todos os convidados participantes.
O evento foi gravado, transcrito e esta publicação é o resultado dos debates, que agora
está à disposição dos interessados tanto neste formato (impresso) como nos sítios na Web da
Fundação Agrisus (www.agrisus.org.br) e do Instituto Agronômico (www.iac.sp.gov.br)
Nas próximas páginas você tem o conteúdo do workshop reproduzido integralmente, segundo as mesas redondas do evento. Por problemas com a gravação, algumas palestras foram
inseridas como artigos.
11
Revisão do texto
Celso V. Pommer, Universidade Estadual do Norte Fluminense/LMGV/CCTA Professor
Titular Visitante
Sonia Carmela Falci Dechen – IAC
Comissão Organizadora
Cristiano Alberto de Andrade
Estêvão Vicari Mellis
Fernando César Bachiega Zambrosi
Fernando Penteado Cardoso
Isabella Clerici De Maria
Ondino Cleante Bataglia
Sandro Roberto Brancalião
Sonia Carmela Falci Dechen (coordenadora).
12
Realização
• Instituto Agronômico
Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 – Campinas (SP)
Fone/Fax: (19) 3241-5188 Ramal 302 – www.iac.sp.gov.br
Diretor-Geral: Orlando Melo de Castro Diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais:
Sidney Rosa Vieira
Promoção
• Fundação Agrisus – Agricultura Sustentável
Rua da Consolação, 3.367 cj. 72 – CEP 01416-001 – São Paulo (SP)
Fone: (11) 3064-8776 – Fax (11) 3064.7927 – www.agrisus.org.br
Diretor-Presidente: Fernando Penteado Cardoso
Diretores: Fernando Penteado Cardoso Filho
José Roberto Pinheiro Franco
Antonio Roque Dechen
Secretário-Executivo: Ondino Cleante Bataglia
• Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz – Fealq
Avenida Centenário, 1.080 – CEP 13416-000 – Piracicaba (SP)
Fone (19) 3417-6615 – Fax (19) 3434.7217 – www.fealq.org.br
Diretor-Presidente: Antonio Roque Dechen
INTRODUÇÃO
Orlando Melo de Castro
Diretor-Geral do Instituto Agronômico – IAC
A promoção de um workshop é algo extremamente positivo na exposição de resultados
e na geração de propostas sobre o tema. Acima de tudo, é uma ótima oportunidade para estarmos juntos e podermos nos comunicar dessa forma tão direta. Por mais que a Internet tenha
facilitado a comunicação, o contato pessoal é insubstituível. Felizmente, o assunto objeto do
evento encontrou o apoio da Fundação Agrisus que nos proporciona esta oportunidade, à qual
o IAC, por meio de seu Centro de Solos, se junta com o entusiasmo de seus técnicos. Muito obrigado pela presença! O momento não poderia ser mais oportuno: o IAC e toda a Apta acabam
de receber novos pesquisadores e os dirigentes preocupam-se com mudanças na programação
de pesquisas e de ações. É um time que se espalha agora por todo o Estado e é muito bom fazer
propostas de trabalho na área de manejo e conservação do solo envolvendo as culturas anuais,
a integração lavoura-pecuária, o complexo da produção de cana-de-açúcar, como, por exemplo,
tem feito o Denizart Bolonhezi. Dessa forma, tenho a certeza de que podemos fazer com que o
imenso canavial que cobre o Estado de São Paulo seja o mais sustentável possível em termos de
atividade agrícola, já que a demanda pelos produtos originados a partir da cana, em especial o
etanol, é crescente em termos do Brasil e do mundo. Muito obrigado a vocês, tenho a certeza de
que serão dois dias muito proveitosos e passo a palavra para o Dr. Cardoso.
15
Fernando Penteado Cardoso
Diretor-Presidente da Fundação Agrisus
A Fundação Agrisus dedica-se à agricultura sustentável, naquilo que diz
respeito ao solo, apesar de o conceito de sustentabilidade ser muito mais amplo
do que apenas o solo. Ela nasceu por uma iniciativa de minha família, que vendeu as ações
da Manah e destinou parte dos fundos em benefício da agricultura, por esta ter-lhe proporcionado todo o sucesso da empresa. Este workshop visa a tentar enxergar o que já sabemos, e o
que falta saber, principalmente nas condições paulistas, – um pouco mais difícil do que outras
regiões porque as terras cansadas, com um banco de sementes de ervas daninhas, apresentam
problemas diferentes de um cerrado, que tem todas as propriedades físicas intocadas e não
está praguejado. Em São Paulo, as propriedades físicas estão, até certo ponto, deterioradas e o
banco de ervas daninhas tem mais de cem anos de formação e de acúmulo.
Para sustentabilidade, não conhecemos nada melhor do que o sistema plantio direto (SPD):
não só nas situações difíceis é um desafio, embora concentrado em São Paulo e em todo País
onde existem questões semelhantes. O grande objetivo, portanto, é traçar planos futuros da
pesquisa e, para o nosso caso, o financiamento de projetos.
Aproveito a oportunidade para anunciar que um dos nossos projetos mais recentes foi
editar a tradução de um folheto publicado nos EUA sobre o IRI (International Research Institute),
que em seu tempo no Brasil era financiado pela Fundação Rockefeller (pelos irmãos Rockefeller).
Hoje, é uma instituição particular que continua fazendo estudos nos EUA.
Esses americanos estiveram no País de 1954 até a década de 70 e deixaram relevantes
serviços que, muitas vezes, passam despercebidos porque nem sempre pesquisamos a história.
Esse folheto retrata a trajetória, principalmente, em relação à recuperação da fertilidade dos
solos cansados e esgotados e, paralelamente, a recuperação dos solos originalmente pobres – os
dos cerrados.
Trouxe dois volumes para a biblioteca do IAC que, logo, estarão disponíveis no site. O
folheto demonstra que as pesquisas iniciais, na década de 50, faziam-se em colaboração íntima
com o IAC e em conexão com a ESALQ. Aproveito a oportunidade, também, para presentear a
biblioteca do IAC, por meio de seu Diretor, de um relatório precioso, porque há poucas cópias no
Brasil, sobre o estudo do solo na região de Brasília (solos do cerrado), encomendado pelo colega
Bernardo Saião, amigo do Presidente Juscelino Kubitschek, que estava interessado em conhecer
o potencial daquele solo para produzir alimentos para a futura capital do Brasil. É um estudo
feito por um estudante de Cornell, que estava lá a fim de fazer uma tese de doutoramento. Ele
foi convidado para efetuar seus estudos no Brasil com a validade de trabalho de pesquisa para o
doutoramento. Obtive na biblioteca de Cornell e quero presentear o IAC com um exemplar que
reproduzimos aqui no Brasil.
Mantemos muitas esperanças de que este workshop possa fazer uma revisão do que sabemos e traçar caminhos para o futuro; não temos assistência de agricultores, não temos nenhuma objetividade de extensão rural, queremos conhecer o estado-da-arte. Os pontos ainda
indefinidos, as pesquisas importantes para definir essa tecnologia, concentrando a atenção nas
situações mais difíceis – os solos cansados, que foram terras boas, de mata alta, férteis para
café – que, após 100-120 anos mudaram completamente e apresentam seus problemas típicos.
Desejo a todos um trabalho produtivo.
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Mesa Redonda I
Alternativas para a formação de palha
Moderador
Denizart Bolonhezi
Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste,
Ribeirão Preto (SP)
Apresentadores
Ivo Mello
Presidente da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP)
Antonio Luiz Fancelli
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ (USP)
Debatedores
Marcos Palhares
Monsanto
Rudimar Molin
Fundação ABC
Ricardo de Castro Merola
Fazenda Santa Fé
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APRESENTAÇÃO 1: Ivo Mello - Presidente da FEBRAPDP
Como presidente da Federação, acionei algumas de nossas parcerias: Leonardo Coda, de
São Paulo, nosso conselheiro, que é da CATI, Rui Vaz, e a Associação de Plantio Irrigado na
Palha (APIP), além de informações do companheiro John Landers. Segundo ele, o Estado de
São Paulo tem certas coisas de cerrado. De alguma forma, colocaremos algumas provocações
no sentido de desenvolver o Sistema Plantio Direto (SPD), de difundi-lo mais em São Paulo, que
não teve a mesma evolução, nos últimos anos, da região Sul. Talvez tenha uma concepção muito
diferente do que foi ou simplesmente olhar para evitar erosão, fazer conservação de solo, como
foi no Rio Grande do Sul, onde a erosão foi sempre muito grande. Na média, na década de 70,
um agricultor gaúcho gastava 10 toneladas por hectare de solo para produzir uma tonelada de
alimento, e isso foi reduzido com associação do plantio direto, e com outras técnicas conservacionistas. Isso já mudou bastante, mas a realidade é que chegamos, na safra de 2004/05, com
aproximadamente 22 milhões de hectares no SPD no cultivo de grãos, apesar de tais valores
não serem muito exatos, em virtude da dificuldade de obtenção de informações.
A curva de ascensão de SPD foi na safra de 85/86 e, de lá para cá, com a crise dos planos
econômicos e endividamento do setor agrícola, de certa forma, o SPD foi a melhor alternativa
para o empresário rural no aspecto econômico. A partir da década de 90, a ascensão do SPD
coincide com aumento da produtividade, com sua grande participação, aliado às outras tecnologias. É missão da Federação: promover a rentabilidade sustentável do agricultor brasileiro por
meio do SPD na palha. Nossos amigos argentinos e uruguaios não entendiam o porquê de se
falar tanto em palha. A missão da CAPAS (Confederação Americana de Associações para uma
Agricultura Sustentável), da qual fazemos parte junto com nossas co-irmãs argentinas, paraguaias
e canadenses, é fortalecer organizações que promovam a agricultura sustentável – baseada na
preservação da palha como componente-chave para a produção de alimento e conservação do
solo e do meio ambiente e exatamente porque sem palha não há plantio direto.
Quais são os desafios do Estado de São Paulo para produzir palha?
Só como ilustração, apresento esse slide do companheiro Rolf Rerpsch, em que coloca várias
formas de se chamar o plantio direto no mundo.
A FAO, em todas as suas publicações sobre agricultura conservacionista, preconiza que
o não revolvimento do solo e a manutenção dos
resíduos de colheita sobre a sua superfície é a
melhor forma de fazer agricultura conservacionista. Para quem não sabe disso, o caderno, que
instrumentalizou a discussão em Johanesburgo
no encontro global de desenvolvimento sustentável em 2002, elaborado pela FAO, trazia
exemplos de estratégia de ocupação de solos
agrícolas de forma sustentável – há menção da
experiência da Epagri (SC), com as pequenas
propriedades familiares, muitas vezes com tração animal.
Também há menção de agricultura em maior escala, citando o Paraná e o Rio Grande
do Sul como exemplos vencedores de agricultura sustentável, os quais serviram de modelo de
estratégia para essa agricultura.
18
A palha é o alimento do solo, é a base de uma cadeia trófica, que daí para a frente desenvolve vários benefícios, porém será sempre assim? Vamos colocar alguns pontos para refletir a
respeito do desenvolvimento do SPD no Estado de São Paulo e o desafio de fazer palhada. No
Rio Grande do Sul, onde atuamos, em uma área que tem SPD em arroz irrigado desde 1983,
foram desenvolvidas estratégias com bastante sucesso. Todavia, nos últimos anos, constatamos
que, quanto menos distúrbio de solo (preparo) e quanto mais palha é deixada sobre a superfície,
há o favorecimento de uma espécie de nematóide que ataca a raiz do arroz, levando à queda de
produção. Nem sempre, portanto, a palha é um bom negócio.
A questão de integração da lavoura com a pecuária: o ruminante é um consumidor de
palha, competindo com o SPD, sendo assim o grande desafio: até que ponto a integração é
possível, uma vez que, no Sul, a cobertura de inverno é aquela que forma a palhada para a
cultura de verão?
Alfonso, presidente da ASPIPP, trouxe-nos
essas idéias: culturas que trazem retorno econômico num ciclo mais curto, ideal até 100 dias,
que possam ser colocadas no inverno. Culturas
que descompactam o solo, como o nabo-forrageiro, mas está deixando alguns problemas, estimulando o aparecimento de mofo-branco nas
culturas que vêm em seguida, e também não é
uma cultura econômica.
Para produção exclusiva de palha, há opções de plantas para formação da palha até 60
dias, mas a aveia é muito lenta para tal e, com
50 dias, ainda não está pronta. É preciso estudar culturas com efeito alelopático em relação
a doenças causadas por fungos de solo como
Rizoctonia e Fusarium.
Leonardo Coda e Ruiz Vaz sugerem a validação do manejo de palhada desenvolvida por
outros centros de excelência (Embrapa Trigo e
UFSM) para validação em São Paulo, lembrando que a compactação é um grande problema
e a questão do terraceamento, além do manejo
integrado de pragas.
Para cumprimento da legislação ambiental, o código florestal prevê área de preservação
permanente e a separação de uma reserva legal.
Então, seria interessante que, no planejamento
da propriedade, fosse contemplada a forma de
adequar a legislação aqui no Estado de São
Paulo.
O cultivo da cana-de-açúcar, economicamente muito importante, vem transformando
muitas áreas do Estado de São Paulo em um
19
imenso canavial. A cultura, é hoje, como em outras épocas, a bola-da-vez, em vista das crises
energéticas que vêm por aí. Os pecuaristas do Sul estão contentes: dizem que São Paulo não
terá mais pecuária de corte, virando tudo um canavial, melhorando para eles, porque lá não dá
para plantar cana-de-açúcar nos campos.
Alguns comentários em relação ao que o Dr. Fernando (Agrisus) está colocando. Nossa
idéia é fazer um levantamento do estado-da-arte, o que temos hoje, e direcionar para onde
queremos investigar, onde desenvolveremos tecnologia e onde trabalharemos as melhores estratégias de desenvolvimento daqui para a frente.
Trouxe algumas idéias exatamente acerca dessa perspectiva: formação de palhada. Em
relação aos desafios para o agronegócio mundial, o agronegócio brasileiro é importantíssimo.
Precisamos, portanto, considerar essa conjuntura macroeconômica que nos tem influenciado, pensando, por exemplo, se vamos dedicar uma linha de pesquisa para desenvolver uma palhada em
relação a qual preço de soja? Vamos dizer assim: há dois anos com a soja no Rio Grande do Sul
a 60 reais a saca, favorecida por causa de uma conjuntura de dólar a quatro reais, e a soja alta
em Chicago, simplesmente o agricultor jogou fora a rotação de culturas, e os agricultores no Rio
Grande do Sul esqueceram o que era rotação de culturas porque, por menos que produzissem
a soja, teriam resultado econômico. Hoje, na última safra, todos sabem da seca que assolou a
lavoura de soja no RS; os poucos produtores que ainda tiveram resultados econômicos na sua
lavoura foram aqueles que não abandonaram a rotação com milho, isso porque exatamente, a estruturação do solo e todos aqueles conceitos de SPD básicos, que os pesquisadores publicaram e já
tiveram várias instruções a respeito foram seguidas. Mas o produtor abandona a rotação, em vista
da conjuntura macroeconômica, por isso ela acaba sendo mais importante do que um postulado
científico aceito por toda a comunidade do agronegócio em determinadas regiões.
Pelo que sabemos, hoje, o Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária está querendo transformar o Consagro – Conselho Nacional do Agronegócio, e ter uma agência reguladora
do agronegócio, como existe a Agência Nacional de Água, a de Energia Elétrica, pensando em
constituir uma Agência Nacional do Agronegócio com a idéia de fazer a regulamentação do setor. Entendemos que isso é para ter uma política na qual realmente possamos confiar e entender
e que tenha cenário de produção, com 5, com 10, com 20 anos, para que possamos programar
não só o empresário; o agricultor possa programar sua produção, mas, principalmente, o setor
de investigação, de geração de tecnologia possa trabalhar com cenários que serão aplicáveis no
futuro.
Aí entra a palavra sustentabilidade. O Dr. Fernando colocou muito bem; a Fundação
Agrisus preocupa-se com a sustentabilidade do solo, e sustentabilidade é um conceito muito
maior – é um sistema de produção e uma provocação que temos levado em alguns fóruns de
discussão.
Se a humanidade resolver fazer sustentabilidade, se realmente todos que são signatários das
agendas 21 de acordos mundiais de mudanças climáticas, de desertificação, de biodiversidade,
e assim por diante, se resolvermos exercer o que está previsto no conceito de sustentabilidade,
simplesmente não precisamos mais produzir a quantidade de alimentos que produzimos hoje,
simplesmente trocando a matriz produtiva. Por exemplo, se europeus, japoneses e americanos
resolvessem, de um dia para o outro, trocar uma parte da sua dieta alimentar, que é proteína
animal, e proteína animal significa farelo de soja, de milho ou de outros grãos transformados
em ovos, leite, carne, se trocassem isso de 70 para 30%, o que seria, inclusive, muito mais
saudável para eles, consumir menos proteína animal desse tipo e transformar em soja, milho e
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outros grãos em proteína animal, simplesmente a sobra de alimento daria para alimentar uma
quantidade enorme de outras pessoas que não
têm acesso a alimentos.
Sabemos que tudo isso é problema de
distribuição de alimentos, mas vamos levar em
conta que a humanidade tenda a ir para esse
lado, a realidade é que não precisamos ter níveis
de produção tão altos por hectare como temos
preconizado nos últimos anos para desenvolver o máximo de eficiência econômica e quase
sempre procurando produzir o máximo de toneladas por hectares e assim por diante. É uma
reflexão. Dr. Otto Solbrig, biólogo argentino e
catedrático da Universidade de Harvard, disse:
“A humanidade é hipócrita e não vai cumprir o
que está previsto no postulado de sustentabilidade.” Portanto, partindo desse ponto, será que
temos, por meio de nossas instituições, condições de fazer com que o Governo brasileiro e os
dos blocos econômicos e mundiais se preocupem, em pelo menos, nos dar caminhos onde queremos chegar daqui a 5, 10 anos, se não iremos ficar fazendo coisas que, daqui a pouco, no meio
do caminho não servem, não têm aplicabilidade no campo. Junto com isso, há toda a celeuma
de cumprir a legislação ambiental e de recursos hídricos, o que é um desafio muito forte.
É uma grande preocupação para o empreendedor, sem dúvida, mas, ao mesmo tempo,
para o brasileiro que faz plantio direto, que faz com qualidade é uma coisa muito interessante,
porque pode transformar isso em marketing, em propaganda do produto, pois na realidade o
brasileiro está fazendo 22 milhões de hectares de plantio direto, e o faz com qualidade, podemos
agregar valor porque estamos fazendo serviço para a sociedade como um todo.
Um último lembrete: constatamos hoje, na Europa, que os subsídios estão se transformando em ajudas agroambientais: um produtor de qualquer país da comunidade européia que
deixar no mínimo 70% da cultura anterior sobre o solo, e dizer que faz plantio direto, tem 80
euros por hectare, simplesmente por fazer isso. No Brasil, o produtor, para ter 80 euros por
hectare de lucro precisa fazer uma senhora de uma ginástica.
Temos uma parceria com a Itaipu (certificação da qualidade ambiental da produção de
commodities em SPD na palha), apresentamos esse trabalho no Congresso de Rosário na
Argentina, o qual é exatamente sobre a qualidade do plantio direto.
O fato é que se tem abandonado a rotação, e não se tem feito muita palha, a palhada não
tem tido qualidade, além da falta de opções para fazê-la. A Itaipu, desde 1997, investindo em
difusão de tecnologia em SPD, concluiu que o ganho com sua adoção na bacia de contribuição
ao reservatório não foi o esperado; na realidade, o pessoal estava plantando soja em cima de
soja, sem muita palhada, não tendo, assim, as virtudes do SPD.
Concluindo, gostaria de lembrar uma iniciativa dentro dessas perspectivas: se temos a
melhor ferramenta de desenvolvimento sustentável de ocupação de recursos naturais (solos),
que é reconhecida pela FAO, temos que fazer propaganda, divulgar e valorizar, isso é uma ação
que fizemos com a Fundação Agrisus.
21
Estamos considerando marketing do nosso SPD, com ajuda do amigo Bernardo van
Raij, um texto preparado sobre SPD e sustentabilidade, onde resgata o que é sustentabilidade e
coloca, inclusive, um relatório dos primeiros documentos dizendo o seu significado.
Denizart Bolonhezi - APTA/Ribeirão Preto
A sustentabilidade é um tema que, na verdade, envolve todos os outros, e é extremamente
fitotécnico porque, para produzir palha, é preciso entender de muitas coisas, talvez seja o tema
mais complexo de todos. Para São Paulo, fica muito complicado, na sua região oeste, conseguir
viabilizar. Será que no plantio direto conseguiremos aqui, em São Paulo, aquele visual que temos do sul do Brasil? Será que teremos um SPD com visual de acúmulo de palha? Visitei Guaíra
e observei áreas em que se fazia SPD há algum tempo, passando grande dificuldades porque, às
vezes, o próprio extensionista diz que o produtor não faz plantio direto porque não tem visual.
Mas, será que os benefícios estão só no visual? Por isso tem que passar a grade?
APRESENTAÇÃO 2: Antonio Luiz Fancelli – ESALQ/USP
A agricultura brasileira depende de um sistema mais sustentável e em função do que vem
por aí em termos de conjuntura econômica, de problemas sociais e econômicos que estão se
aventando, o SPD é extremamente importante e precisamos contribuir para sua viabilização da
melhor maneira possível.
Já temos, hoje, tecnologia adequada para fazer o SPD. Até pouco tempo eram discutidos
problemas de máquina, de cobertura, e assim por diante. É hora de ir além e discutir um pouco
mais os problemas emergenciais que estariam relacionados a esse sistema.
Especificamente para o Estado de São Paulo, na minha opinião, os principais entraves do
SPD estão relacionados com o seguinte:
a) temos agricultores tradicionalistas que se acostumaram a fazer agricultura de maneira
mais ou menos tradicional, sendo extremamente refratários a qualquer tipo de mudança e,
principalmente, porque, segundo o censo recente realizado no Estado, a média de idade dos
agricultores paulistas é relativamente elevada, o que dificulta qualquer tipo de iniciativa de mudança;
b) outra coisa notória é o abandono da extensão rural por parte do Estado; infelizmente,
isso interfere negativamente em algo extremamente importante. Além disso, há um despreparo
dos agentes de transformação, principalmente depois da adoção do sistema de municipalização.
Acredito que estejamos usando ação e métodos ultrapassados de difusão de tecnologia.
Ainda continuamos com modelos equivocados de SPD, inclusive forço aí um adendo de
que ficamos muito usando o espelho “Paraná”, que não tem muito a ver com a nossa realidade.
Assim, temos que tomar cuidado ao trazer modelos preestabelecidos para as nossas condições.
Temos condição suficiente para definirmos sistemas de produção para nossa situação.
Também existe, hoje, uma tendência de agricultura, com padronização de tecnologia. São
os famosos pacotes tecnológicos, que realmente vão totalmente contra os princípios agronômicos
em termos de coisa fechada. São as famosas receitas de bolo que não contemplam as nuanças
do sistema de produção das diferentes condições edafoclimáticas do Estado de São Paulo.
22
A realização de pesquisa desconectada da realidade atual, a ausência de fórum específico
de discussão de problemas emergenciais, pelo menos até hoje. Agora e aqui, podemos dizer que
temos um fórum específico extremamente importante.
São esses tópicos que, acredito, sejam de extrema importância.
Gostaria de deixar claro que o SPD depende da reposição de resíduos, de palhada, então
precisamos tomar um pouco de cuidado quando fazemos um sistema de rotação de culturas só
extrativas, trabalhando apenas com seus resíduos, o que muitas vezes não é suficiente.
Se fizermos o balanço de energia e de nutrientes em uma lavoura de soja e feijão altamente
produtivas, a contribuição desses resíduos realmente deixa a desejar. Portanto, de tempos em
tempos, precisaríamos fazer uma cultura só para a necessidade de reposição de palha e fazer aí
“o descanso do sistema”.
As épocas de produção para resíduos vegetais para São Paulo, no outono/inverno, que
seria o mais comum, seria a implantação de uma cultura em pós-colheita de culturas comerciais.
Muitas vezes, em função do início das chuvas, isso pode ser prejudicado porque a colheita ocorre em abril, e aí podemos ter dificuldade com a implantação de algumas espécies.
Também existiria outra possibilidade, que seria na primavera - imediatamente antes da
implantação de culturas comerciais, no início das águas. Poderíamos utilizar espécies altamente
agressivas, de desenvolvimento rápido, por exemplo, o milheto, que, em 30-40 dias de desenvolvimento, já teria, em função de manejo da quantidade de semente utilizada, uma quantidade
de palha suficiente para justificar sua adoção.
Também poderíamos trabalhar em termos de verão com espécies exclusivas para a recuperação de área; numa área que esteja extremamente degradada poder-se-ia utilizar, na época
de verão (outubro) para fazer uma cobertura e, posteriormente, entrar com milho safrinha, ou
feijão já a partir de janeiro, então teria um período para fazer a palha, pelo menos para iniciar
o processo de sustentabilidade do sistema.
Há também a possibilidade de usar o verão para fazer consórcio de determinadas espécies
com culturas comerciais, como o sistema Santa Fé já consagrado por João Kluthclouski, pelo
Merola, que seria uma alternativa para trabalhar nessa situação.
Existem outros sistemas com relação a guandu-anão com milho, feijão-de-porco com milho, inclusive possibilitando colheita mecânica, sem problema nenhum.
Muito bem, as espécies consagradas para essa finalidade, citando-as rapidamente,
e recordando seus problemas: a aveia preta seria uma alternativa, é uma espécie que se
desenvolve bem em regiões mais baixas. Seu problema é que pode favorecer bastante a
podridão de colmos de milho, então essa não seria uma espécie indicada para plantio de
milho de maneira sistemática.
O trabalho do Professor Melo Reis mostra que aumentam extremamente as podridões
radiculares quando se planta milho ou outro tipo de gramínea em cima de aveia. Seu uso
contínuo também pode favorecer o aumento da lagarta-rosca, um problema bastante sério em
vários sistemas.
Então, pode-se mencionar o caso da aveia plantada a lanço na fazenda Colorado (SP),
que utiliza bastante esse sistema: aveia vem depois de roçada; sua primeira utilização será para
a produção de feno e a rebrota será utilizada como palha em SPD.
23
Outra alternativa seria a aveia-branca, que produz muito mais massa do que a aveia-preta,
mas temos problemas com ela aqui em São Paulo em função de variedades. Hoje, o IAC já tem
variedades bastante interessantes, possibilitando a produção de grãos, ou somente para fazer
massa em determinadas situações. O problema do aumento da infestação de lagarta-rosca em
função de emprego de aveia pode ser minimizado consorciando com Níger. Em lavouras de
aveia-preta, o problema praticamente foi debelado: fazendo Níger (10 a 12%) em cima da aveia,
o problema foi praticamente resolvido.
Outra opção seria centeio, para as regiões mais frias, região sul paulista. Em uma área da
fazenda Cerrado de Cima, localizada em Itapeva, o centeio é muito melhor do que a aveia em
termos de construção de perfil de solo, de melhoria de vida de solo em relação ao bombeamento
de nutrientes e quantidade de raízes produzidas.
O problema é que ele exige temperaturas mais baixas, porém tem efeito alelopático para
uma série de culturas, principalmente trigo, e tem uma ressemeadura, uma capacidade de rebrota bastante acentuada em regiões frias; o que pode ser um problema, além de ter um manejo
relativamente difícil, haja visto os problemas no Rio Grande do Sul em relação a manejo.
Em São Paulo, o problema não é tão grave; também na fazenda Cerrado de Cima, a
primeira rodada do centeio é para fazer feno para gado de leite, esse feno é então roçado, sendo
deixado numa forma de pré-secagem, depois recolhido e transformado em alimentos.
Esse centeio apresenta uma capacidade de rebrota extremamente grande, depois funcionando como cobertura morta para a soja mas, evidentemente, estamos tirando massa. Então,
temos que trabalhar depois com balanço de nutrientes no sistema porque as culturas seguintes
podem ser comprometidas.
Outra espécie que está sendo muito utilizada no Estado de São Paulo é o nabo-forrageiro,
pela sua capacidade de descompactar o solo, sobretudo a variedade Iapar PJ 4, que é um naboforrageiro pivotante, cujo sistema radicular é extremamente avantajado.
O problema do nabo-forrageiro é que tem uma relação C/N relativamente baixa; então,
se for mal planejado dentro do sistema de produção e se for destruído muito tempo antes do
plantio da cultura seguinte, pode-se perder em função dessa relação C/N bastante baixa. É
um reciclador espetacular de nitrogênio, pois há trabalhos da Embrapa mostrando que muitas
vezes pode ter mais nitrogênio do que as leguminosas em função da capacidade que tem de
concentrar nitrato. Mas seu problema é o seguinte: pode favorecer tremendamente o aumento
de percevejos, sobretudo o barriga-verde, que hoje é um dos principais problemas para milho
em todo o Brasil, principalmente em São Paulo, onde muita gente não sabe que está tendo
problema com essa praga, uma espécie secundária para soja, que se transformou em praga
primária no milho.
O nabo-forrageiro também é um hospedeiro extremamente favorável ao nematóide do
gênero Meloydogine. O principal problema, porém, é que ele é o principal hospedeiro de mofobranco. Sempre nos lembramos de mofo-branco em feijão, mas esse ano (2004/2005) tivemos
problema bastante sério com a soja. Na região de Jataí/Rio Verde, perderam-se aproximadamente, seis mil hectares de soja por causa do mofo-branco. O girassol também é um hospedeiro
espetacular de mofo-branco e o multiplica tremendamente.
Outra espécie com que tenho trabalhado mais, pela sua rusticidade e multiplicidade de uso,
é o Dolichos lablabe, uma espécie antiga, mas extremamente interessante, cujas desvantagens
são: é suscetível à vaquinha e é hospedeira de nematóide de galha. Mas era uma planta bas-
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tante utilizada em citros e deixou de ser utilizada por essa informação de que permitia aumento
grande na população de nematóide. Tudo bem, pode multiplicar nematóide porque é excelente
hospedeira, mas se não há nematóide na área, não há o porquê de não utilizá-la.
Na fazenda Colorado, utilizamos o labe-labe e trabalhamos com um sistema chamado de
perenização de cobertura verde, para plantar uma vez só. É o terceiro ano em que a utilizamos e
plantamos uma vez só.
Outra espécie interessante seria o milheto, de grande capacidade de produção de massa,
mas rebrota extremamente fácil, então precisa da utilização de herbicida, não dá para manejar
com roçadeira ou coisa desse tipo. Ele responde ao fotoperíodo e, assim, conforme a época do
ano e região, é preciso utilizar material menos sensível, do contrário o potencial de produção cai
significativamente, podendo também aumentar a ocorrência de lagartas de solo.
Outro problema sério para o milheto é sua baixa persistência de resíduo, desaparecendo
com muita facilidade, exigindo algo com relação C/N pouco melhor. Hoje, temos cultivares de
milheto no Brasil que já produzem até três mil quilogramas de grãos por hectare, e estão sendo
estudados para alimentação animal.
Guandu é uma espécie bastante interessante; tem-se que tomar cuidado porque, em regiões em que deixamos o guandu por si só, é preciso fazer destoca, porque acaba engrossando o
colmo.
Fizemos um sistema interessante nos tempos de projeto Rondon, quando fui coordenador, em 1982-86. Depois o Presidente Sarney acabou com o projeto. Fazíamos a utilização
do guandu para reduzir o problema de agricultura itinerante no Pará, em Marabá, porque
o agricultor usava três anos um lugar, esgotava o solo e, depois de certo tempo, a sua casa
estava a uns 10 km de onde fazia agricultura.
Desenvolvemos um sistema para trabalhar com guandu e recompor a fertilidade do solo,
porque tem uma capacidade muito grande de reciclagem de nutrientes e de renovação de folhas
e, a partir de três anos, voltava-se ao mesmo lugar, com a mesma produtividade que, muitas
vezes, o agricultor iria encontrar em locais bastante distantes. O problema é que ele tem um desenvolvimento inicial muito lento para as nossas condições e permite o aumento da população
de nematóide em algodão.
Crotalaria juncea: uma alternativa interessante. A dificuldade dela é que não suporta geada e chuva de vento, tem um caule semilenhoso dificultando o manejo, arrebenta roçadeira
porque é uma fibrosa, fazendo com que saia aquela fita que enrola nos mancais da roçadeira.
Ela tem uma resposta marcante ao fotoperíodo, mas um dos problemas mais sérios seria o
custo da semente. Hoje, é cada vez mais caro e difícil fazer semente de crotalária, porque
ela depende da mamangava para polinização, e hoje estamos tendo dificuldade para termos
matas fechadas onde se procria a mamangava. A Companhia Piraí, que fazia sementes de
crotalária, em Piracicaba, só consegue fazê-las para frente de Andradina, o que deixa cada
vez mais cara a semente.
A Crotalaria breviflora é possibilidade bastante atrativa: tem uma dificuldade para produzir
sementes, mas tem um período de florescimento bastante longo e floresce cedo, como o próprio
nome está dizendo. Essa espécie está sendo muito utilizada para cobertura em citros, fazendo
um manejo com uma entrelinha com mato, outra com breviflora e a outra com guandu, permitindo que se tenha flor na lavoura por muito tempo, favorecendo o desenvolvimento dos estágios
iniciais de inimigos naturais, que depois vão controlar ácaro, pulgão etc.
25
Outra coisa importante seria a braquiária, uma espécie espetacular, com grande capacidade de reciclagem. Recorde-se o caso do sistema Santa Fé depois da colheita do milho, com
o que sobrou de braquiária, que se destaca como uma cobertura espetacular para o plantio do
feijão. Esta aí uma contribuição muito grande do João Kluthclouski, do Merola nesse sistema.
Os trabalhos do João Kluthclouski, do Merola etc., mostraram que essa consorciação no sistema
Santa Fé pode reduzir bastante a população de nematóides, é supressora de fusarium e rizoctonia, e tem uma produção de fitomassa com relação C/N excelente para SPD, enriquecimento da
rizosfera através da agregação de solo e assim por diante.
Trabalho recente do nosso orientado de mestrado, Guy Tsumanuma, mostrou que até
pouco tempo se falava em plantar braquiária e depois entrar com nitrosulfuron para tentar segurar a braquiária. Hoje, sabemos que não é preciso nenhum tipo de manejo especial: pode-se
plantar milho e braquiára concomitantemente, e sem efeito em termos de competição.
Trabalhamos com várias espécies e nenhuma delas apresentou efeito de competição. Uma
coisa espetacular que tivemos foi um efeito de “bombeamento”, principalmente com a braquiária decumbens: a quantidade de raiz de feijão em cima de uma área que foi braquiária, e aquela
de raiz de feijão em uma área que foi milho é bem diferente.
Em trabalho nosso, em Piracicaba, com braquiária – ficou grande massa de braquiária e
pudemos avaliar o que isso estaria trazendo de benefício para o solo e coisas mais. Também
na fazenda Colorado fazemos o sistema de manejo na braquiária em cima do milho, há quatro
anos, com produtividades sempre crescente.
Devemos começar a pensar em trabalhar com consorciação de espécies. Saiu de moda
trabalhar com uma espécie só, porque queremos qualidade e quantidade de massa.
Então, podemos utilizar o lablabe com aveia, com semeadura a lanço. Quando a palhada
não for muito densa, atrás do trator que está fazendo a semeadura, pode-se arrastar uma série
de correntes para remexer a palha, fazendo a semente entrar em contato com o solo e germinar,
sem problema nenhum.
É contra-indicado passar a grade, porque aí se acaba com o SPD nos primeiros 3 cm de
solo, que são extremamente importantes e onde as coisas estão acontecendo, que é o “manjar
dos deuses”. Nessa camada de cima que é gostoso para os microrganismos - não vamos atrapalhar a ação de jeito nenhum.
Lablabe com aveia, o mesmo sistema um pouco mais avançado e milheto, tudo em plantio
a lanço, mas, se necessário usar corrente. De outra parte, lablabe com milheto se desenvolvem
bem e, depois, o lablabe, utilizando o milheto como tutor conseguindo-se produzir um pouco
mais.
Um problema é a vaquinha. Se formos plantar milho em seguida, precisamos tomar muito
cuidado com a larva-alfinete, já que temos uma população grande para fazer oviposição nas
plantas de milho que vêm em seguida.
Soja e milheto. Mas, como soja? Soja-grão, soja que passou lá na pré-limpeza e sobrou um
monte de grão. Então, se quisermos ser rigorosos é só fazer análise patológica para verificar se
não serão jogados contaminantes na área.
Não existindo condição muito complicada em termos de patógenos, usamos isso no campo, logicamente quando não formos plantar soja em seguida.
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Também soja, milheto e nabo-forrageiro, tudo junto seria muito mais adequado, e aí também pode fazer lablabe e aveia. Temos exemplo na fazenda Colorado, lablabe plantado em
linha, primeiro a aveia e depois o lablabe.
Espécies e iniciativas que acredito tenham sido frustradas e podemos deixar de lado: péde-galinha; já temos coisas muito melhores, a estabilidade é ruim e a quantidade de raiz produzida não é lá grande coisa, pensando em braquiária, pensando em outras coisas, semente difícil
de produzir, semente cara e tal, virou mais um comércio do que qualquer outra coisa. Pode-se
ver o pé-de-galinha em condição de área preservada, parcela de dia de campo e coisa desse
tipo, mas no campo nunca vi coisa bastante interessante. Ervilhaca, também, acredito que não
há muita razão de ser, tem coisas melhores para nossas condições. Resolveram trazer a moa,
setária, amarantus. Precisamos tomar cuidado, isso pode criar um híbrido interessante com o
caruru-nativo e depois fica difícil para controlar o “monstrinho” que criamos.
Necessidades de estudo
Temos que pensar em consorciação. É possível fazer massa em curto espaço de tempo e
massa de qualidade. Em termos de necessidade de estudo, pensar um pouco mais em alelopatia; perenização de sistemas para plantar uma vez só; estudar um pouco mais microbiologia do
solo, porque, infelizmente, sabemos muito pouco do que estaria ocorrendo.
Talvez seja muito mais importante a quantidade de massa que está sendo incorporada ao
sistema abaixo do solo, do que em cima, assim, a quantidade de raiz e o seu funcionamento.
A espécie que tem aumentado bastante tanto em termos de utilização na entressafra, como
também para a produção de palha, é o sorgo, com uma capacidade de rebrota espetacular.
Porém, seu efeito alelopático é bastante sério.
Então, numa dada lavoura de soja, o que seria aquele aspecto? Que herbicida foi passado?
Verificamos que não foi herbicida nenhum, é efeito alelopático de sorgo, que tem uma capacidade muito grande de emitir compostos fenólicos via raiz.
O problema principal é quando fazemos o tal de aplique e plante. Não tem nada a ver com
o herbicida em si, é que colocamos o produto em cima do sorgo, que, para se defender, aumenta
a síntese de compostos fenólicos e, evidentemente, que leguminosas são extremamente sensíveis
a esse produto, e demora para a soja se recuperar, e coisas parecidas encontramos em feijão.
Está aqui uma área com palhada de sorgo e outra em que a palhada de sorgo foi retirada.
No sistema aplique e plante sobre a palhada de sorgo dá para ver bem a diferença no feijão
plantado. Precisamos pensar mais a respeito desses efeitos alelopáticos.
Marcos Palhares – Monsanto
O sorgo tem baixa exigência nutricional e é bastante tolerante ao déficit hídrico em relação
ao milheto. Na figura a seguir, vemos o milheto bastante sofrido com estresse de 50 dias sem
chuva, e a Braquiaria ruziziensis ainda mantendo bastante cobertura verde - a capacidade de
rebrota é muito interessante.
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O sorgo, que mencionei, e a cobertura proporcionada por ele, é uma opção boa também
em relação ao milheto. Mostrou-se superior,
possui alta relação C/N, oferecendo a principal
vantagem em relação ao milheto, cuja biodegradação é muito acelerada.
Esse sorgo da figura anterior foi semeado
em abril após colheita da soja; em setembro,
mês sem chuva, já estava nesse porte, foi passado o correntão para que se promovesse a sua
rebrota.
O milheto, na figura seguinte, à esquerda,
mostrando baixa cobertura e produção de sementes, baixo rebrote após o início das chuvas,
germinação das panículas na cultura da soja. E
à direita, esse sorgo, como oferece muito mais
massa, 8 a 12 toneladas por hectare.
Qual é o melhor método agora de plantar as
coberturas? Como fazê-las?
O correntão foi uma das opções. A figura
anterior mostra o correntão e um destorcedor,
colocado no rabicho do trator para que a corrente, à medida que vai sendo a arrastada, não
ofereça nenhum impedimento mecânico e, assim, possa quebrar o sistema.
Na próxima figura, podemos observar
melhor como o correntão trabalha: imaginem
esses tratores trabalhando a 70% de comprimento total do correntão. Ele vem vindo, o solo
está dessecado, não há presença de plantas daninhas, não há revolvimento do solo, mas uma
simples incorporação da semente da braquiária
que foi feita a lanço.
Isso é um trabalho bastante eficiente observado em relação à semeadura a lanço da
braquiária. É claro que há um questionamento:
São Paulo comporta um trabalho desse tamanho?
Na figura anterior, vejam que há um destorcedor na parte intermediária da corrente, senão vai danificar o sistema em áreas ainda novas; é preciso que haja certa cobertura vegetal
para que se faça o manejo da dessecação e se
promova boa germinação da semente. Se o solo
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não tiver mínima cobertura de matéria orgânica, a germinação da semente é falha, porque há
áreas que não estarão bem protegidas.
Na figura seguinte, uma área ao lado,
com incorporação da mesma braquiária com
grade e, do outro, com correntão. Fica aí uma
sugestão para se pensar em propriedades que
possam comportar esse sistema.
A seguir, o milheto, incorporado com
correntão, e ao lado uma área com braquiária
ruziziensis.
Outro sistema, mostrado na figura a seguir, é a grade, que já está na propriedade, e
não precisa ir atrás de um correntão. Todavia
seus pontos negativos são vários: desagrega a
estrutura do solo, com formação de camadas
compactadas.
A figura a seguir nos dá um testemunho
forte de que quanto menos puder lançar mão da
grade, melhor, porque ela expõe o solo, perde
umidade, uma série de desvantagens em relação aos pontos positivos, porque aqui ela vai
controlar as plantas daninhas pequenas, vai
ter uma germinação das plantas de cobertura,
mas, enfim, pensando em conservação do solo,
o correntão mostrou mais vantagens.
Mesmo usando a grade para fazer essa cobertura, observa-se que a erosão laminar pode
acontecer. Outro sistema de plantio de cobertura com semeadura em linha, conforme mostra a
figura seguinte: a braquiária, como fica semeada
em linha, existe eficiência mais alta da germinação, e aproveita melhor fertilizantes, água etc.
Qual a necessidade de antecipação das
coberturas em relação ao plantio da soja? Deve
existir, logicamente, essa preocupação, e se
evitar ao máximo o sistema aplique e plante.
Nesse sentido, mostro também essa seqüência
de slides para se ter uma idéia do que não se
deve ou do que se deve fazer, pelo menos com
resultados.
Isso aqui é a massa proporcionada pela
braquiária semeada a lanço, com 600 PC, efetuando-se a semeadura logo após a dessecação.
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Isso também se conhece muito bem; o
ambiente para deposição da semente não é favorável, podendo ter algum efeito alelopático da
braquiária sobre a soja que está nascendo. Uma
série de coisas, hospedeiro de pragas, e doenças que podem estar acontecendo, mas enfim,
é como fica uma área. Vejam a capacidade de
produção de massa dessa braquiária, e com a
dessecação feita 14 dias antes do plantio, é uma
situação muito mais favorável, não existe receita
de bolo, se houver necessidade de dessecar com
21 ou 28 dias, tudo bem. Essa foi a braquiária.
Observem na mesma figura, por exemplo, o sorgo de cobertura. Olhem a massa que ele
proporciona no plante e aplique, uma quantidade muito grande, e as mesmas conseqüências
existirão por fazer a semeadura muito próxima da dessecação. Eis o sorgo dessecado 14 dias
antes do plantio - uma situação muito mais favorável, mas sem uma cobertura tão boa quanto
a proporcionada pela ruziziensis.
Aqui estão os resíduos deixados pelo milheto. Observamos que existem grandes porções
do solo descobertas, quer dizer, a emergência de plantas daninhas vai ser maior. Isso é uma área
que fica em pousio, sem estabelecimento de nenhuma cultura de cobertura.
Assim a trapoeraba, o capim-amargoso,
todas as plantas daninhas fecham seu ciclo de
florescimento, introduzindo sementes no sistema, proporcionando maior dificuldade na dessecação.
O sistema prevê o benefício de instalar
uma única espécie agressiva, com baixa exigência nutricional e hídrica, que vai suprimir outras
plantas daninhas. Isso é o manejo do banco de
sementes que vai proporcionar uma palhada
muito interessante para o sistema.
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O gráfico a seguir comprova a ruziziensis, a população final encontrada com a dessecação
feita 21 dias antes da semeadura e como cai a população, por exemplo, quando se faz o plante
e aplique. A gente perde, aqui, aproximadamente 100.000 plantas por hectare, variando em
função de espécies.
No caso, são questões levantadas por produtores; como: Em São Paulo vai acontecer a
mesma coisa? Ela pode ser utilizada em semeadura da soja? Qual a melhor época? Quantidade
de semente?
Vários trabalhos que liderei em Mato Grosso comprovaram que o melhor momento para
fazer a sobressemeadura é quando a soja está no R5 – quando se inicia aquele amarelecimento,
mais ou menos nessa época, quando se faz a sobressemeadura, as sementes caem sobre o solo,
favorecendo a germinação. Vejam na figura a seguir a situação que fica da cobertura proporcionada quando se faz a semeadura em R5 (ao centro).
À esquerda, quando se antecipou muito essa sobressemeadura ou, à direita, quando se
demorou demais, observamos que não há o fechamento bom da área. A quantidade de semente
– observem uma variação de 200 pontos de valor cultural para 400, 600 sendo a relação custobenefício mais interessante.
Na figura seguinte, eis mais uma idéia de como fica a sobressemeadura em R5, em R7;
a palhada proporcionada pela ruziziensis é bastante interessante; observem o fechamento do
solo quando se obtém uma boa cobertura, e a baixa incidência de um fluxo novo de plantas
daninhas quando se trabalha com ruziziensis.
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Ela pode ser trabalhada com milho? Sim pode. Pode ser consorciada? Sim, foi comprovado pelo sistema Santa Fé.
Isto é mais uma foto, ilustrando como acontece. O ideal é fazer a semeadura da braquiária
em linha, como constatado nesse trabalho da figura seguinte.
E aqui, só mais algumas idéias: fotos mostrando a quantidade de semente gasta. Aqui, a
semeadura a lanço da braquiária em área de colheita de milho, e como fica uma área após essa
colheita – vinte dias após a colheita do milho, vejam como ela fecha bem a área.
E, para a safrinha, também é muito interessante, logo após a colheita da safrinha, semear
a braquiária, em setembro ou agosto, dá tempo até novembro de conseguir fazer o plantio sobre
uma palhada bastante interessante. Um trabalho semelhante foi desenvolvido na fazenda de
Leonardo Coda, onde constatamos que a janela
de tempo entre a colheita da safrinha no vale do
Paranapanema até o plantio da soja, é tempo
suficiente para estabelecer uma boa massa e
fazer o manejo de cobertura.
Todos esses trabalhos foram efetuados por
uma equipe de nove pesquisadores, tudo está
bem consolidado, com trabalhos estatísticos que
serão publicados. Alguma coisa disso trazendo
32
para São Paulo não é difícil fazer palhada, se não for por rotação de cultura, podemos introduzila no sistema.
Rudimar Molin – Fundação ABC
A Fundação ABC há alguns poucos anos está atuando mais intensamente na região sul do
Estado de São Paulo – Itararé, Itaporanga e Itapeva, por influência das cooperativas.
A Castrolândia está trabalhando em Itaberá, e já havia uma atuação da Capau, de Arapoti,
há mais tempo no município de Itararé.
Inicialmente, farei um relato do que se faz lá: basicamente, são cultivos de grãos – milho, soja
e feijão; no inverno trabalha-se com trigo e triticale, que são as principais culturas econômicas,
e aveia-preta, o modelo que se tem hoje. Temos, porém, algumas preocupações concernentes a
esse modelo, como a erosão do solo, que ainda existe no plantio direto, relativos à mecanização,
terraceamento, outras práticas complementares, então esse sistema até que resolve o problema
de erosão com essas práticas complementares.
No entanto, o que chama a atenção é que há trabalhos de fertilidade, comparados com
Arapoti, que tem um clima um pouco mais semelhante, onde se está estabelecendo a dose de
máxima eficiência econômica para a cultura do milho: percebe-se que, essa região paulista
necessita muito mais nitrogênio para produzir a mesma quantidade – o produtor precisa aplicar
mais nitrogênio.
Isso nos leva a pensar que devemos caminhar um pouco mais para o estoque de carbono
no solo, aumentar mais essa matéria orgânica. É um clima, em relação ao do Paraná, mais seco,
mais quente, então, temos essa preocupação de aumentar um pouco mais carbono por meio
da palhada. Temos um inverno bem mais seco, e a limitação é a falta de água. Mais ao sul é
a questão de frio, a geada que limita, então imaginamos que o ideal é trabalhar com culturas
com uma relação C/N alta para conseguir um estoque maior de carbono e aumentar a matéria
orgânica e todos os outros atributos.
Uma das possibilidades do sistema atual seria aumentar um pouquinho mais a questão do
milho, que tem uma limitação maior, é uma questão de noites mais quentes em relação às outras
regiões em que atuamos. Teria essa possibilidade de participação como uma cultura econômica,
e aumentar um pouco mais a palhada. Com relação a trigo e triticale, dentro das limitações da
cultura, ela está bem estabelecida.
A questão, porém, é a aveia que, no inverno, tem aquela limitação de produzir menos
massa em clima um pouco mais frio, aliás, mais quente e seco; então no inverno, também,
buscaríamos algo tipo sorgo e milheto para substituir principalmente a aveia nesse modelo,
somando um pouquinho mais a essa massa. Foi levantado pelo Professor Fancelli a questão da
alelopatia, em relação ao sorgo e à cultura da soja. Talvez em intervalos de plantio isso possa
ser solucionado, não sei a que ponto chega esse tipo de informação.
Com relação aos consórcios, a preocupação maior é o custo da cobertura em si e não
a questão técnica. O produtor tem um pouco mais de dificuldade para adotar esse sistema e,
dentro desse consórcio, talvez o que nos preocupou um pouquinho foi a colocação do Fancelli
quando trabalhou a questão de soja consorciada. A questão de ferrugem, então não sei até que
ponto a participação da soja nesse sistema seria viável com esse evento da ferrugem que está
estabelecido. Talvez seja o entrave que gostaria de colocar aqui.
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Outra coisa que devemos considerar quando vamos trabalhar e propor um sistema para o
agricultor é o seguinte: se não adotar, não adianta, isso não vai para a frente de jeito nenhum.
Então, temos a questão econômica. Hoje, no Paraná, há um trabalho que acompanhamos
desde 1988: são sete sistemas que chamamos subsistemas de plantio direto, são 7 modelos de
propriedades: que faz soja-trigo, soja-trigo....até o sistema que integre a lavoura e a pecuária,
onde fazemos um acompanhamento econômico, fluxo de caixa para fazer essa avaliação.
Como pesquisadores, também teríamos que ter a preocupação com a questão econômica
quando desenvolvemos um modelo, porque nenhum produtor faz uma cobertura ou plantio direto simplesmente por amor à camisa ou para desembolsar dinheiro. Hoje, uma cobertura verde
de aveia está em torno de 190 reais por hectare, que desembolsam em nossas condições.
As limitações são estas: tirando essa região de São Paulo e pegando o Paraná, as três
cooperativas, temos em torno de 60% de área ociosa no inverno e, onde não se consegue
fazer cultura econômica, aí vêm as coberturas – aveia, principalmente, hoje é feita, e é tudo
desembolso. E se fosse possível, se tivesse uma solução, procuraríamos fazer 100% de uma
cultura econômica em cima disso, e não simplesmente a cobertura verde; sei que há uma grande
limitação em cima disso, mas, sempre que possível, deve-se buscar e desenvolver alguma coisa
que pague esse custo.
Essa é a grande mensagem, uma dificuldade, inclusive, que temos para desenvolver: por
um lado, a limitação da geada, mas se passamos para cá temos a questão do inverno seco, e
todas essas limitações de qual é a cultura econômica? Qual é a cultura que se vai pagar? O trigo
hoje se planta; ele forma palha e tem um equilíbrio econômico, é lógico, um ano que nem esse,
economicamente, está pior do que uma cobertura econômica, mas ao longo dos tempos, ele
consegue arcar um pouco com esse custo da conservação de solo.
Basicamente, essa é a minha mensagem, também estamos buscando esse tipo de
solução.
Ricardo de Castro Merola – Fazenda Santa Fé
Sou agricultor em Goiás e a vida toda procurei resolver os problemas na fazenda com
bastante apoio na pesquisa. Desde 1980 tenho uma área em parceria com a Embrapa, onde
desenvolvemos diversas atividades que possam resolver o problema da Fazenda Santa Fé.
As dificuldades começaram com a tiririca, em 1980, que foi invadindo toda a fazenda.
Entrei no plantio direto para resolver o problema, já que não havia outros; havia fertilidade alta e
um sistema de conservação muito bem feito com terraço de base larga em gradiente com canais
de drenagem gramados.
No Paraná, aprendi a técnica do plantio direto, mas, para implementá-la em toda a fazenda, gastei seis anos, porque a dificuldade era a palhada.
A primeira palhada que descobri por acaso foi sorgo, e como produzia sementes, estava
sempre presente no sistema de rotação, percebi que ele tinha alta persistência, rebrota vigorosa
e não dava efeitos negativos na cultura posterior. Mesmo porque, naquela época, não se usava
muito o aplique e plante, porque o Roundup custava 16 dólares o litro, não permitindo que
se errasse e não havia herbicida pós-emergente como hoje; só tínhamos 2,4-D, Gramoxone e
Atrazina.
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Trabalhei com sucessão de culturas e usei
como palhada o sorgo. Na figura a seguir, algumas alternativas que considero boas para o
Estado de São Paulo. O sistema Santa Fé no
verão pode ser utilizado no plantio consorciado
com milho, o resultado é excelente. E pode ser
usado de diversas formas: eis uma área de silagem da Fazenda Santa Fé, onde usamos braquiária brizanta com 400 pontos de valor cultural.
Vejam a exuberância da braquiária num
período curto, porque a silagem se corta com
100 a 110 dias após o plantio. É uma máquina
cortando, e a palhada de braquiária. A foto a
seguir mostra, de perto, depois de cortada a
braquiária. A Fazenda Santa Fé usava muito a
braquiária para fazer silagem. Não usa mais.
Depois de muitos anos, percebemos que a
braquiária tem um problema: quando é utilizada
para silagem, exporta muito potássio, cuja reposição fica caríssima. No fim, gastava-se muito,
porque a silagem tinha uma porcentagem de
matéria seca baixa, 18-20%, e exportava muito
potássio; no resto, era espetacular, pois é uma
cultura perene; ficava aí, dava mais dois ou três
cortes, e essa braquiária produzia 40 t de matéria original, sem riscos de vento e de pragas
que o milho tem, quer dizer, sem uma séria de
pragas que o milho tem, sem uma série de problemas, como veranico.
Essa é uma palhada de braquiária usada
em feijão irrigado, e como a fazenda Santa Fé
tem 70% da área irrigada, costumamos fazer para ter até três cultivos por ano. O desafio para a
produção de palhada é muito intenso.
Nesse caso, efetuou-se o sistema Santa Fé
com milho: deixando a braquiária desenvolver,
fez-se um corte para a silagem. A cobertura tem
que dar lucro para o produtor também. Não se
pode fazer cobertura bonita de cinema, que não
dê retorno financeiro: é preciso que ela contribua para a renda do produtor.
Nesse caso, da braquiária foi feita uma
silagem e depois rebrotou e plantou-se o feijão
em maio; esse feijão só usou um inseticida, um
acaricida, e nenhum fungicida. Será que a braquiária ocasionou isso? Com certeza foi, porque
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em outras áreas sem essa palhada tivemos que usar mais herbicida, mais inseticida e usar
fungicida na mesma época, na mesma fazenda.
Olhem que palhada: é de braquiária; costuma passar duas, três culturas para a frente,
então se houver algum problema, pode-se plantá-la que ela fica perene.
Pensando em São Paulo, coloquei esse
quadro: plantio de milheto em áreas iniciando
plantio direto. Trata-se de uma saída para quem
está em solo degradado, com baixa fertilidade,
alto teor de alumínio, e quer começar no processo. Minha sugestão é que prepare o solo,
faça o terraço.
Outra coisa, já que São Paulo está começando agora o plantio direto, não deixem desmanchar os terraços base larga, preservem-nos.
Esse negócio de plantar morro abaixo é muito bonito para pôr em foto, tem que aproveitar e
plantar em nível, está certo: por que o terraço? Ele não incomoda se for bem feito, base larga,
12 m, pode até marcá-lo com espaçamento maior em vez de usar aquela tabela tradicional, mas
não fiquem com seu solo só dependendo da palhada, se não houver palhada, a erosão leva
tudo, porque pode haver situações em que o nível de palhada na sua área caia.
Tive esse problema quando entrei no processo de produzir alto volume de volumosos,
porque tenho um confinamento que consome 40.000 t de silagem/ano. Imaginem isso, a produção de palhada necessária para silagem era
muito alta, então o resíduo que ficava era muito
pequeno; com isso, nesse processo, se tivesse
desmanchado todos os meus terraços teria, com
certeza, problema grave de erosão.
Na figura a seguir, um milho recém-plantado. A palhada de sorgo, uma palhada pouco
desejável. Essa área, no verão, foi sorgo que foi
cortado para a silagem, depois foi usada sua
rebrota, não como valor comercial, para fazer
palhada.
Usamos na fazenda o espaçamento de
50 cm, cujos ganhos de produtividade são
bem maiores do que os anteriores (80-75 cm).
A facilidade de implantar a cultura, parecendo
que há um incremento de produtividade que
compensa o aumento do consumo de semente,
porque hoje a semente no Brasil está em um
preço exorbitante.
Na figura a seguir, apresentamos uma
área onde se tem, na cultura anterior, o milho
de 50 cm com braquiária plantada em março/
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abril. No verão, essa soja está bonita, é precoce
e nela foi usada apenas dessecação e um único
pós-emergente para folha redonda, porque tínhamos muito picão, reduzindo o consumo de
herbicida.
Essa é uma área recém-implantada, onde
o plantio está começando agora. É pastagem,
mas pastagem de qualidade e não degradada,
era capim-mombaça. Foi plantado ano anterior
um semidireto, e esse ano fizemos o cultivo de
milheto antes das chuvas.
Esperei o milheto ficar num porte de 1 m
mais ou menos, dessequei e plantei. Fica muita
área exposta na linha porque utilizei o sistema
de facão, que revolve muito o solo. Prefiro isso
porque, às vezes, ao usar o disco duplo posso
ter problema de colocação da semente ou mesmo do fertilizante.
Esse é um projeto em desenvolvimento. É
plantio direto de milho e soja em cima de pasto
de tifton, por ele ser perene e não precisar mais
replantar, ou implantar qualquer cultura com
palhada. É uma experiência que está sendo testada numa área de 2 ha.
Esse é o tifton antes da aplicação do
Roundup. Por recomendação, usamos 5 L de
Roundup por hectare. Aí, uma foto dele todo
debilitado.
A expectativa é que esse tifton rebrote e
vire, de novo, um pasto verdejante. Com certeza, é mais uma alternativa de palhada e fica
mais fácil fazer integração agricultura-pecuária,
porque na hora se colhe, o pasto já está ali plantado, quase no ponto de pastejo. Como o tifton
tem uma produção mais linear do que o panicum durante o ano, porque é uma planta que tolera dias curtos, um sistema radicular profundo
agüenta mais o déficit hídrico, e nas regiões aqui de São Paulo, com problema de frio, ele é mais
tolerante do que os outros capins. Acredito que seja uma grande alternativa. Mas, se alguém
estiver questionando: o tifton custa caro para implantar. Na verdade, fica um mais caro do que
a braquiária, mas se fizer só uma vez, fica mais barato. Hoje, pode ser plantado com máquina.
Há empreiteiras em São Paulo que plantam, de maneira toda mecanizada.
A máquina mostrada a seguir é a que fez o plantio: John Deere. Ela tem um disco de corte
de 18 polegadas mais um facão. Nesse plantio precisou de 25% a mais de potência para puxar
a plantadeira, porque o sistema radicular e o rizoma são muito difíceis de romper.
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Na figura a seguir, mostramos o pasto de
tifton usado na fazenda Santa Fé. Existem 12
piquetes numa área de 21 hectares, o que dá
mais ou menos um retorno a cada 20-22 dias.
Estou colocando aí mais de 10 UA por hectare
no verão, com um ganho até agora de 880 g por
indivíduo por dia. Como a densidade de animais está em torno de 15, porque eles pesam
mais ou menos 300 kg, mandei que a próxima
rodada não se adubasse com nitrogênio para
poder não aumentar a carga animal, pois não
quero mais indivíduos nesse lugar - acho que
está muito alto.
Em minha apresentação tentei mostrar
que a integração pecuária-agricultura, aliada ao
plantio direto, essa facilidade que a braquiária
tem para fazer palhada, o sorgo e, se der certo,
o tifton também, acredito que o Estado de São
Paulo vai ter uma contribuição muito grande,
e entrará no SPD com bastante segurança e
sucesso.
Discussão da mesa redonda
Antonio Luis Fancelli – ESALQ/USP
Alguns pontos que não ficaram muito claros quando levantei o aspecto de alelopatia.
Evidentemente que definimos alelopatia quanto à espécie que está sendo considerada. No caso
do sorgo, quando no sistema aplique e plante, teremos o efeito de alelopatia.
Evidentemente, então, para evitar os problemas alelopáticos com o sorgo (não quis dizer que
não é para utilizar sorgo em hipótese alguma), precisaríamos de determinado tempo para que esse
sorgo fosse efetivamente controlado.
Hoje, há possibilidade de trabalhar com soja ou feijão em cima do sorgo, desde que tenhamos certeza de que o sorgo realmente foi controlado (está seco), aí não haveria problema nenhum
porque, da mesma maneira em termos de nabo-forrageiro, se plantarmos o milho, imediatamente,
após manejo do nabo-forrageiro, também identificaremos o efeito alelopático e, inclusive, com o
arroxeamento de folhas, que alguns acham que é deficiência de fósforo, não é, é problema de efeito
alelopático.
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Igualmente para o azevém - milho em cima de azevém, milho em cima de centeio, os mesmos
problemas. Então é essa colocação: de que uma vez determinado o tempo de controle para a cultura
antecedente não teria problema nenhum de alelopatia.
Evidentemente, tudo que foi dito é objetivando uma cobertura econômica, só que temos que
tomar cuidado, como avaliar o benefício dessa cobertura, porque hoje temos dados da Fazenda
Alvorada na região de Uberlândia em que fizemos uma avaliação de custo de duas culturas subseqüentes à cultura do trigo, e o trigo teve um retorno econômico. Não o trigo em si, mas o sistema
trigo-soja menor do que se tivéssemos feito uma cobertura, como foi feito numa área de aveia e outra
de lablabe.
Assim, essa cobertura, não necessariamente vai dar um dinheiro da cobertura, mas proporcionar melhor desempenho da cultura seguinte, proporcionando conservação de solo, redução de
adubação, de uso de herbicidas, do uso de inseticidas, e assim por diante.
Na Fazenda Colorado, em Araras, aplicamos, muitas vezes, em palhada de aveia ou em
palhada de milheto. Quando se trabalha com uma densidade populacional relativamente grande, no milho não usamos herbicidas de pós-emergência, é só dessecação e nada mais, não há
razão para isso, então é um beneficio bastante interessante, e a outra coisa também é lembrar
que hoje a maior parte das espécies que trabalhamos – milheto, aveia etc., o produtor pode fazer
essa semente na fazenda, não precisa comprá-la.
Crotalaria juncea talvez tenha certa dificuldade, mas aveia, milheto e lablabe, é tranqüilo para
fazer na fazenda. Evidentemente, os aspectos econômicos têm que estar atrelados, e é realmente
aquilo que estamos discutindo e propondo.
José Eloir Denardin – Embrapa Trigo
Um aspecto muito importante é a multidisciplinaridade. O melhorista também conhecer
do que estamos tratando, é fundamental, porque quando se olha uma soja cultivada no Brasil
central, que acho seria viável em São Paulo em outubro/novembro, com ciclo até fevereiro,
permitindo uma segunda safra, chamada safrinha de milho, pode-se dizer assim, mas por que
eu consigo isso? É por causa do plantio direto? Que eu não tenho que preparar o solo entre a
colheita da soja e o plantio do milho? Ou porque tenho espécies melhoradas para serem plantadas nessas épocas? Na verdade, não sei se foi feito esse melhoramento orientado para isso ou
foi uma casualidade. Na realidade, temos que, cada vez mais, levar esse tipo de conhecimento
ao melhorista para criar plantas que possam cobrir o ano com maior facilidade.
Quanto mais multisazonal for uma planta, mais fácil a criação dos modelos de produção.
Se não tivermos plantas adequadas, teremos grandes dificuldades para conduzir esses processos
e, ainda, as próprias culturas de coberturas, além do aspecto econômico.
As espécies de cobertura deveriam ser melhoradas principalmente em termos de ciclo. Quanto mais for esse ciclo, mais fácil conseguirmos encaixar nas janelas entressafras.
Portanto, o melhorista precisaria saber desses problemas, essa interdiciplinaridade não está
chegando até eles.
Um exemplo típico é a cevada no Brasil: hoje já está com 60 cm de altura; pergunto:
Que produção de palha produz isso? Que produção de raiz? Há uma planta dessa para tentar
melhorar uma estrutura de solo? Acho que o melhorista tem que saber que são as plantas que
melhoram o solo, não são as máquinas, não é o homem, são as plantas que o melhoram, que
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o estruturam. Na verdade, esses conhecimentos que estamos discutindo enquadram-se em,
praticamente, quatro grandes disciplinas: Física, Química, Fitotecnia e Plantas daninhas.
Acredito que o melhorista/geneticista daria uma contribuição para entendermos bem o que
estamos tratando, de forma significativa. É uma preocupação que devemos levar a eles.
Ciro Antonio Rosolem – UNESP/Botucatu
Vou comentar dois assuntos que já foram tratados e adicionar alguma coisa. O primeiro
ponto é o seguinte: vamos pensar no ponto de definição de pesquisa. Temos um defeito muito
grande no Brasil, que talvez não seja culpa nossa, mas o problema é que ele está aí - estamos
correndo atrás de agricultor, e de repente estamos fazendo uma pesquisa hoje que o agricultor
já fez lá atrás. Então, estamos mais preocupados em repetir e tentar demonstrar algo que já
está demonstrado. Precisamos parar com isso. E nessa linha vêm essas palavras ditas aqui:
bombeamento, alelopatia e uma série de coisas que são conceitos bem definidos, só que eu não
vi medidas disso.
Há publicações sérias falando que plantas bombeiam nutrientes. Meu Deus do céu, quanto há de nutriente até 1,5 m de profundidade? Dá para imaginar uma planta bombeando alguma
coisa lá de baixo para trazer para cima, quer dizer existem algumas coisas que precisamos parar
de pensar da maneira fácil e pensar como cientistas. Temos que saber o que está acontecendo,
porque, a partir do momento que começamos a trabalhar com causas, com explicações, com
fisiologia, com bioquímica, paramos de enxugar gelo.
É importante não perder essas perspectivas, precisamos dar uma opção para o agricultor,
sim, mas o conceito disso, a base disso para que não seja uma pesquisa extremamente efêmera,
acho um ponto fundamental.
Entrando um pouco nessa história de questão econômica. Sou agricultor e minha família é
de agricultores, mas como professor, cientista, não estou minimamente preocupado com a questão econômica. A função como professor, como cientista, é dar uma opção para o agricultor,
quem vai resolver se é econômica para ele naquela condição, naquele ano, é ele.
Temos um Instituto de Economia Agrícola, pesquisadores, gente da administração agrícola, e o agricultor que tem que ser o administrador, então precisamos parar um pouco com
essa história de que vamos resolver tudo. Mais ou menos complementa aquilo que o Denardin
levantou, não adianta querer fazer tudo, tem que ter melhorista, pessoal de plantas daninhas etc.
São idéias que estou dando.
Especificamente, para fazer palha, acho que fazer palha já sabemos em São Paulo, fazemos até bem, o ponto é o seguinte: acho que foi o Fancelli que levantou, precisamos dar o
próximo passo. Ele falou de consórcio. Acho que é o caminho. Gostaria de complementar: e aí
vem um pouco da história econômica, é a tentativa de utilizar plantas que dêem algum retorno
econômico, talvez consorciado com uma cobertura, são coisas desse tipo. Essa é uma linha
que estamos desenvolvendo em Botucatu, já há alguma coisa em Mato Grosso, Goiás. É usar,
por exemplo, um sorgo e uma braquiária. O girassol dá problema de mofo-branco? Dá, mas a
braquiária suprime, tem, talvez, um efeito supressivo, por que não Braquiária ruziziensis com
girassol ou com mamona?
Estamos tendo resultados espetaculares em termos de agregação de solo com triticale.
Tenho um aluno fazendo doutorado, está no terceiro ano, e nas parcelas onde entra triticale, a
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agregação de solo é espetacular. Não sou físico de solo, estamos medindo isso, quer dizer, nunca
esperaria isso do triticale, porque não dá muita massa, só que em termos de agregação de solo
está sendo a melhor espécie.
Agora, em um sistema que se entre com uma cobertura no outono e, depois, seja preciso
refazê-la na primavera, o triticale pode ser uma espécie muito interessante pelo seu valor econômico, e com um “pingo de água” ela consegue produzir. Em São Paulo, o triticale produz
relativamente bem em pelo menos quatro anos entre cinco. Temos conseguido fazer isso em
Botucatu, então, quer dizer, são algumas alternativas que precisam mais atenção.
Jamil Constantin – Universidade Estadual de Maringá
Com relação à questão de queda de população de aplique e plante na cultura da soja, isso
realmente pode acontecer, mas não seria o principal motivo de queda de produtividade. Outra
questão é a seguinte: estamos falando aqui de plantio direto e dando uma importância muito
grande, como deveria ser, a palha, mas quanto é bom? Porque a palha é uma barreira física e
química.
Quanto mais palha melhor? Então há uma complicação nessa história, tudo que é demais
passa, e palha também passa. Acho, talvez, a conduta que não desse tanto problema é a seguinte: produzir palha o suficiente para repor a matéria orgânica e proteger o solo até o fechamento
da cultura, não mais do que isso. Tenho motivos de sobra para pensar a esse respeito.
Ivo Mello – FEBRAPDP
Sobre a colocação do Ciro, é fundamental a pesquisa ter liberdade para criar. O pesquisador, o investigador tem que ser livre para criar e poder fazer a geração de conhecimentos, mas
tem que ter um norte. É aquilo que tentamos colocar dentro da idéia de que o nosso País, hoje
em dia, é um ator do agronegócio mundial importantíssimo.
No ano passado, em uma visita à FAO, um especialista argentino em biodiversidade, tinha
uma demanda (a FAO trabalha por demandas), do governo japonês que queria saber se o Brasil
e a Argentina teriam condições de alimentar os chineses do jeito que estavam alimentando nos
últimos anos. Quer dizer, a demanda de soja e outros produtos, que aumentou na China dada a
industrialização e a substituição que eles estavam fazendo da água de irrigação.
Em vez de produzir a 200 dólares a tonelada, estão empregando isso em urbanização e
industrialização, agregando 7 vezes mais o valor. Quer dizer, transformando a mesma quantidade de água de 200 dólares em 14 mil dólares na urbanização e industrialização e fazendo essa
substituição porque o Brasil e a Argentina têm proporcionado aumento de produção e atendido
ao mercado de uma forma pelo menos econômica.
Assim, o governo japonês demandou da FAO se isso era sustentável, se a Argentina e o
Brasil têm condição de conseguir atender à demanda chinesa nos próximos anos. Aí o argentino
até brincou conosco de que a preocupação do governo japonês é porque se não conseguíssemos isso, os chineses iam atravessar o mar e comer o Japão, iam comer os japoneses, era até a
brincadeira que ele fez, mas a realidade é isso.
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O governo japonês quer saber se não estamos exaurindo nosso solo, se a biodiversidade
do solo aqui da América do Sul, do Pampa e do Cerrado têm condições dessa forma, de como
estamos fazendo a agricultura ir adiante. Então, qual é o norte? Onde queremos chegar? Que
tipo de produção é sustentável?
Concordo plenamente, há muitos conceitos que sabemos que a ciência desenvolveu e não
precisamos estar inventando novamente a roda, devemos levá-los em conta. A preocupação de
palha é boa, mas que condições, que ecossistema, que tipo de regime pluviométrico, e assim
por diante.
Cada condição terá uma situação que vai ser adequada, mas o fator econômico é fundamental. Vou citar um exemplo: a maioria deve conhecer Dr. Dirceu Gassen, que faz palestras,
hoje está na Coplantio, era da Embrapa Trigo, e hoje faz palestras por qualquer lugar do planeta
sobre SPD, cobertura etc. Ele tem dito que tudo que o IAPAR, lá no Paraná desenvolveu de
cobertura não se usa praticamente nada daquele trabalho todo do Calegari, se usa muito pouco
daquilo, na realidade, o produtor, o agricultor economicamente tem usado soja, milho, aveia
e essas que todos sabem, e até que ponto não estamos gastando uma energia legal, boa em
desenvolver determinadas coberturas?
O doutor estava colocando todas essas lablabes que vemos naquelas palestras do Calegari
muito entusiásticas e energéticas, mas na realidade aquilo não está sendo usado. Então, como é
que queremos construir nosso futuro? Está claro que é um exercício muito mais de planejamento
estratégico, onde há um norte para realmente desenvolvermos tecnologias e pacotes tecnológicos, não no sentido de uma receita de bolo, mas pacote tecnológico adaptado às diversas regiões
e às características das regiões de produção do nosso País.
Carlos A. Costa Crusciol – UNESP/Botucatu
Em muitas situações, o agricultor adota o sistema aplique e plante porque não tem uma
semeadora com excelente desempenho, quando a planta está verde e o sistema radicular está
amarrado nesse solo e a semeadora desenvolve muito melhor quando a palha já está seca,
porque ele começa a embuchar.
Dependendo da tecnologia do agricultor, essa é a alternativa para um bom desempenho
da sua semeadora. Às vezes, ele não tem uma com sistema de guilhotina que vai muito melhor
quando se tem alta produção de massa.
Outra colocação que experimentamos em Botucatu é adotar a vegetação espontânea na
área de pousio para o SPD. Quando não se tem uniformidade da espécie espontânea da área,
há muito problema de efeito guarda-chuva e aí tem-se necessidade de reaplicação, ou ocorre
uma infestação muito precoce de plantas daninhas na lavoura, às vezes está num momento que
não dá para entrar com herbicida de pós-emergência, tendo problema de fitotoxicidade.
Questiono muito a utilização de vegetação espontânea, o custo acaba saindo maior em
função da necessidade de uma aplicação pós-emergente.
É interessante pensar quando fazemos comparação com milheto e forrageira-tropical perene, no caso as braquiárias. É bom guardar bem assim: pasto de primeiro ano não seca, qualquer
pecuarista, agricultor que plantou pasto, pode vir a maior seca do Brasil que, tirando o Nordeste,
seca normal de Centro-Oeste, esse pasto não seca, fica verde. Portanto, a braquiária bate no
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milheto porque este tem um ciclo definido, e aí, se o deixamos secar (estávamos conversando
com o Ricardo Merola) cai a semente, infestando a área e vira planta daninha.
Mas a braquiária, não. Ela está sendo colocada numa época que não é favorável ao seu
florescimento, porque se está entrando em consórcio em sobressemeadura, principalmente a
ruziziensis não vai emitir inflorescência, e permanece vegetando. Essa é a vantagem, e o milheto
não, ele encerra o ciclo. Se fizermos pastejo ou corte, ele dá um ou dois cortes e depois encerra
o ciclo, e produz um pouco de semente e vai infestar a área, se deixarmos produzir semente.
A braquiária não, ela é de primeiro ano e não entouceira porque se não pastejar não quebra a dominância apical, então não entouceira, ela forma uma cobertura uniforme. Além disso,
permanece verde até o momento que se quiser e agüenta atravessar a seca do cerrado, agüenta
a seca do oeste e noroeste do Estado de São Paulo (Prudente, Rio Preto, Araçatuba) e o milheto
não, então essa seria assim a grande vantagem.
Na primavera, o milheto vai produzir mais, se considerarmos um tempo curto de produção
de massa, 50 dias, ele vai produzir mais massa que a braquiária, só que os dados que temos
desenvolvido em Botucatu revelam o seguinte: o milheto com 50 dias de desenvolvimento, sua
palha desaparece, mas não é que seja ruim, o problema é que a época que estamos manejando
não é favorável para maior persistência de palha, então o agricultor não vai ficar esperando o
milheto produzir uma massa de qualidade para fazer a semeadura e atrasar a da soja.
Primeiro, gostaria de falar para o Ricardo Merola que ele terá sucesso nessa empreitada
com o tifton, porque a Agropecuária Dama, da Fazenda Bonança, tem usado o tifton em áreas
de plantio direto de milho, e tivemos a oportunidade de ver - eles aplicam herbicida, dá uma
fitotoxicidade nele, parece que está morrendo, fica meio tonto, o milho sai, ele vegeta e forma
uma boa massa de baixo, sem competir com o milho. Há um bom atraso na sua saída, mas
depois dá um pasto e cobertura de excelente qualidade.
Agora, queria fazer uma pergunta: naquela última foto mostrada, onde há um corte da
braquiária, você tem adotado esse sistema em função da exportação de potássio, se você adota
só um corte e a partir de que você fazia três cortes. Você tem adotado um corte, deixa-a vegetar
e entra com a semeadura do feijão ou não, você nem usa mais um corte?
Ricardo Merola – Fazenda Santa Fé
No caso da silagem, parei de fazer silagem de braquiarão, em função do seu custo. Ela é
um falso barato porque como tem de 18 a 20% de MS, então para cada tonelada de silagem,
estou levando 800 kg de água, e tenho problema de efluentes nesse silo também. Fora isso, esse
consumo de luxo do potássio chega a 3,2% da MS. Então, se você pegar 40 t de matéria original
e fizer as contas, a exportação de potássio fica da ordem de 600 a 700 kg de KCl só para repor
o potássio exportado. Assim, a silagem sai por um custo semelhante à silagem de milho, está
certo? Então, estou adotando agora silagem de milho.
Ondino Bataglia – IAC, Conplant e Fundação Agrisus
Em vista dos nossos convidados, a discussão aqui tem partido muito para fora de São
Paulo, porque tivemos, em nosso estado, o ciclo do café, que provocou uma erosão danada dos
solos, principalmente da região oeste. Depois, tivemos o ciclo da laranja, que ainda permanece,
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e agora temos o grande ciclo da cana-de-açúcar, invadindo solos não tão estruturados, não tão
adaptados como eram os Latossolos.
Seria muito interessante pelo conhecimento que a mesa tem que nos dissessem sobre essa
questão de plantio direto em cana-de-açúcar, e o uso de novos métodos de cultura de citros,
por exemplo.
Ricardo Merola – Fazenda Santa Fé
Contribuindo com a minha experiência, tenho feito plantio direto de cana também. Iniciei
porque a fazenda hoje está cercada por usinas de açúcar e estão entrando nas áreas de soja.
Como faço plantio direto há muito anos, achei pela lógica e estrutura do meu solo, que poderia
fazer plantio direto de cana. Fiz o plantio apenas sulcando a área, e uma adubação toda orgânica, não usei adubação mineral - peguei o esterco do confinamento e joguei no fundo do sulco,
só que usei uma quantidade elevada porque tinha disponibilidade desse adubo. A cana está
muito boa, será seu primeiro corte, mas pela avaliação do pessoal da usina, que tem experiência
com cana-de-açúcar, deve passar de 140 t/ha nesse primeiro corte. Outra experiência que tive
é o plantio direto em cima de palhada de braquiária de tomate industrial. Isso funciona muito
bem, o único detalhe é que tem que usar dois equipamentos, o primeiro é uma espécie de um
subsolador, abrindo o sulco de mais ou menos 25 de largura por 15 cm de profundidade e, nessa
abertura do sulco, já se faz a adubação de base. Depois, vem com a transplantadeira, plantando
mudas de tomate nesse solo já semipreparado que é um pequeno espaço da área total utilizada.
Ocorre que toda a irrigação, economiza-se, em torno de 20% de água, porque se diminui a perda, tem-se os frutos todos alojados, quer dizer, colocados em cima da palha, com isso diminui
também o uso de fungicidas. Essas duas culturas que eram uma polêmica se poderiam ou não
plantar direto, já plantei, a cana agora pela primeira vez, e está indo muito bem lá na região.
Marcos Palhares – Monsanto
Um dos grandes objetivos do plantio direto é o manejo das plantas daninhas, para exatamente evitar competição do mato como fator de decréscimo da produção. Quando se fala em
manejo de plantas daninhas, não se pode deixar de pensar em bancos de sementes em primeiro
lugar e, nesse ponto, quando imaginamos uma área sendo manejada para plantio direto sobre a
área de pousio, temos que entender que durante esse período, nesse intervalo de tempo entre a
colheita da safra e o plantio da próxima sem manejo nenhum, vai proporcionar o encurtamento
do ciclo das plantas daninhas, e a reintrodução das sementes para o banco.
Enfim, temos visto no campo o efeito guarda-chuva sendo pronunciado, em situações de
pousio muito mais do que quando se estabelece uma espécie só para ser manejada: encontramos colonião, trapoeraba e outras espécies de diferentes níveis, estratos e estágios vegetativos,
dificultando muito o manejo de dessecação. Observamos que 80-90% do fluxo de emergência de plantas daninhas em uma área manejada sobre plantio direto são oriundas do inverno,
portanto, sementes mais vigorosas, com poder germinativo maior, o que acaba trazendo uma
conseqüência de maior dificuldade de manejo das plantas daninhas em pós-emergência. Queria
deixar claro e reforçar, o que foi colocado lá no início, de o Estado de São Paulo ter um dos
bancos de semente mais bem alimentado hoje em dia, porque o nível de revolvimento e tudo
mais é uma coisa grande.
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Ricardo Ralisch – UEL
O Estado de São Paulo tem algumas experiências bem interessantes com a cana-de-açúcar.
Vale a pena estudá-las e conhecê-las. Temos também alguma experiência. A planta de canade-açúcar é extremamente regeneradora de solo, é fantástica para regenerá-lo, o problema é o
sistema de produção, que é muito agressivo. Então, o que estamos conseguindo lá são algumas
situações de diminuir um pouco a agressividade do sistema de produção da cana-de-açúcar
para aumentar a vida útil da lavoura. Diminuindo essa degradação que acontece no solo, principalmente física, compactação etc., ele entra muito bem num sistema de rotação, só que de longa
duração, e para isso, uma das coisas que têm sido feitas é regionalizar um pouco as lavouras de
cana-de-açúcar para evitar ao máximo possível sua colheita em solos úmidos e em argilosos.
Então, é preciso alternativa para manter a indústria, porque, na verdade, o que determina
e o que impõe a necessidade do corte é a indústria, não a lavoura. Temos que ter mecanismos
alternativos para manter a alimentação da indústria sem prejudicar demais o campo.
Trata-se de uma equação difícil e bem interessante, exigindo um gerenciamento meticuloso de todo o sistema.
Fernando Penteado Cardoso – Fundação Agrisus
Trouxeram o assunto de plantio direto em cana como uma novidade. Quero dar um pequeno testemunho: estou no décimo primeiro corte de cana com plantio direto, com uma produtividade de 80 t ha-1, colhendo 150 t ha-1 no primeiro corte, e a média dos 10 cortes é superior
a 100 t ha-1. É uma terra roxa legítima, que foi bem adubada, nunca viu ferro até hoje, toda
adubação é feita em cobertura, salvo o fósforo que, no início, foi colocado no fundo do sulco. A
cada cinco anos, também se faz uma aplicação localizada de fósforo no centro da rua.
Nas camadas superiores, há uma reciclagem de prazo curto, não saberia dizer o tempo,
mas se a reciclagem se deu de camadas mais profundas é um benefício para a cana nova que
vem vindo e tem, no início, um sistema radicular mais superficial. Esse é meu testemunho de
cana em plantio direto no Estado de São Paulo em terra roxa legítima e somente posso dizer
que funciona.
Heitor Cantarella – IAC
No Estado de São Paulo, o plantio direto funciona e o único problema em cana-de-açúcar
é realmente manejo, como Ralisch mencionou. A usina tem a prioridade de colher a cana para
alimentar a si própria (autogestão), então, em época de chuva, se precisar entrar com máquinas
pesadas, eles vão entrar mesmo e, muitas vezes, em épocas de chuva, onde ocorre o pior problema da cana que é o pisoteio da soqueira e a produtividade decai rapidamente.
A reforma tem que ser feita com mais freqüência e, às vezes, é um cuidado que numa
propriedade como a do Dr. Cardoso certamente toma, não é, mas, operações de usina são de
dezenas de milhares de hectares e não é possível ter sempre esse cuidado. O principal obstáculo para cana-de-açúcar em plantio direto, normalmente, quando se faz o corte da cana sem
queima, é o problema físico de solo, então onde as usinas fazem plantio direto, antes de fazê-lo,
efetuam uma verificação, se há compactação, e em alguns casos, quando há, o risco de insu-
45
cesso é grande, mas, como o Dr. Cardoso mencionou, há muitos exemplos aqui de sucesso de
plantio direto em cana.
Isabella Clerici De Maria – IAC
Na realidade, quero fazer uma provocação para o moderador porque há duas semanas ele
fez uma explanação sobre plantio direto em cana em São Paulo e, inclusive, tinha-nos colocado
que o mais importante é que o nosso Estado tem condição muito boa para fazer palha, pois tem
palha de cana e palha de pasto e, pelo que vimos das discussões, aqui se sabe fazer palha, ou
seja, há condição de fazer palha. O que não se discutiu muito aqui é como se faz com aquelas
culturas que não produzem palha. Quais são as alternativas para essas culturas? Então, você
mesmo tem a experiência de amendoim numa área de pasto, mas depois que se retira o amendoim como fica o plantio direto?
Então essa questão de como fica o plantio direto depois de determinadas culturas, que de
alguma forma revolvem o solo. Temos experiência de plantio direto de mandioca, mas, como é
que fica quando sai a mandioca? Então, é importante para nós hoje, pois nos sistemas de manejo, temos culturas que depois que saem, elas próprias revolvem o solo ou fazem uma alteração
da palha ou deixam pouca palha.
Dessa forma, é uma questão importante também, porque soja, milho até algodão, plantando em cima de cana está meio fácil, pois o que está difícil é fazer com que essas culturas que
estão no sistema de produção e no sistema tanto de irrigado como de sequeiro, sejam equacionadas e solucionadas, dentro do sistema de manejo adequado.
Denizart Bolonhezi - APTA/Ribeirão Preto
É empolgante tudo que se refere à adoção do SPD em área de renovação de cana e é um
tema genuinamente paulista. Isso surgiu em São Paulo. Então, tivemos durante muito tempo
a crítica de que São Paulo não tinha plantio direto. Hoje, São Paulo tem essa experiência já
comprovada tanto em experimentação como em validação dessa cultura em área comercial, daí
a observação do Dr. Penteado. No caso do amendoim-pastagem, é muito interessante a cultura
do amendoim que se vem expandindo em São Paulo. Temos um ensaio que já vai para três
anos, amendoim em área de pasto e o plantio direto hoje, você vai lá e verifica uma braquiária
formada só com o banco de sementes na área. Então, espero e colho o amendoim, o banco
de sementes forma novamente e em novembro, como permite o uso de cultivares de ciclo mais
longo eu posso plantar, em dezembro, o amendoim, sem problemas, e esse banco é formado
novamente. Se a colheita manual é utilizada, mas, antes se faz o arranquio utilizando o arrancador, que é o processo preliminar a colheita, ele favorece a distribuição de qualquer espécie
forrageira e isso os produtores da região de Tupã já estão visualizando: uma cultura que criava
um mito em torno da viabilidade do plantio direto, pelo contrário, o processo de colheita ajuda
a viabilização da implantação de uma forrageira depois.
46
Fernando Penteado Cardoso – Fundação Agrisus
No caso a que me reportei, esqueci de informar que é cana de colheita manual e queimada
todos os anos.
Denizart Bolonhezi - APTA/Ribeirão Preto
É aí que mora a questão da longevidade do canavial, pois os testemunhos que se têm
visto em usina, a longevidade cai para quatro anos, justamente por esse aspecto é impossível
fazer colheita, conciliar umidade do solo com colheita mecanizada, pois compromete o fluxo de
matéria-prima na indústria.
Opinião dos participantes
• Planejamento de modelos de produção com enfoque no processo colher-semear;
nitrogênio é fundamental para gerar carbono, mas nitrogênio é passível de ser comprado,
carbono não -> estudar espécie com elevada capacidade de produção de biomassa, mesmo
que seja gramínea; estudo de consorciações; considerar, no melhoramento de plantas, aspectos
relacionados a ciclo e multissazonalidade para permitir diversificação de épocas de semeadura
e múltiplas safras por ano agrícola.
• Regionalização edafoclimática para buscar culturas de cobertura adequadas às diferentes condições; melhoramento das espécies visando atender aos interesses dessas regiões; desenvolver e difundir alternativas técnicas para manejo das coberturas vivas ou mortas; incentivar a
produção de sementes por produtores.
• Limitações: falta de conhecimento sobre manejo de plantas de cobertura. Necessidades:
desenvolvimento de estudos para seleção de plantas nas diferentes regiões do Estado; manejo
de mato (gramíneas) x controle econômico.
• É imprescindível buscar um plano de rotação para otimizar o carbono do solo e entender o Intervalo Hídrico Ótimo (IHO), que relaciona: capacidade de aeração (CR), densidade
do solo (monitorando a retenção de água), comprimento radicular e resistência à penetração.
Embora sejam índices difíceis de trabalhar, é imprescindível para entendermos o porquê da
ocorrência de safras positivas ou não no verão e sua interface com plantas de cobertura,
associando a essa linha de pesquisa, o manejo do nitrogênio operações em sobressemeadura
ao final do ciclo de verão.
• Pesquisa sobre o uso de sobressemeadura de milheto e braquiária sobre culturas de
inverno com o intuito de preencher a janela de primavera, sem mobilização do solo; uso da
cultura da cana-de-açúcar como rotação de cultura com cereais em ciclos de 3 a 4 anos e alta
produtividade.
• Pesquisas sobre a alelopatia, como foi sugerido pelo Dr. Fancelli; plantas de cobertura
parecem já estar bastante estudadas. É preciso também conhecer a diversidade microbiológica
em diferentes situações de PD.
47
• Milheto; sorgo; braquiária; desenvolver culturas econômicas para substituí-las com os
mesmos benefícios, desenvolvimento de mercado; melhoramento genético voltado a coberturas
quando não é possível o uso econômico.
• Espécies disponíveis para o plantio direto (palha e ou econômica); metodologias de
implantação (semeadoras, correntão, santa fé) outras oportunidades/opções; influência da palha
no sistema; contribuição para o solo (química e física); (alelopatia, marcha de decomposição,
absorção de nutrientes).
• Consorciação de espécies de cobertura; avaliação microbiológica dos efeitos das espécies de cobertura no solo; efeitos alelopáticos de importância agrícola.
• Apesar dos resultados favoráveis com gramíneas, existe a possibilidade de problemas
com a baixa diversidade de espécies a longo prazo. Desse modo, outras culturas como lablabe
e nabo-forrageiro devem ser avaliadas como alternativas em futuro próximo.
• É um tema muito importante, principalmente para o ESP. Foram apresentadas experiências que mostraram bons resultados, mas é necessário estabelecer alguns parâmetros para
avaliar melhor esse tema, pois, como comentado, assim como pouca palhada, palha em excesso
pode ser problema.
• Braquiária. Usá-la como referência; além de palha, avaliar sua contribuição para aumento da matéria orgânica do solo, em várias profundidades.
• Procurar desenvolver culturas de coberturas ou sistemas de produção que gerem alguma
receita para que o produtor seja estimulado a fazer cobertura do solo e não o plantio direto, em
regiões de clima seco no inverno; além da braquiária e do milheto, que outras espécies sejam
avaliadas quanto à taxa de decomposição e sistema radicular quanto à agregação do solo.
• Integração agricultura-pecuária na formação de palha; consócio de culturas para a formação de palha.
• Seleção de espécies de plantas de cobertura para diferentes regiões; pesquisas sobre sobressemeadura/braquiária; pesquisas com misturas de espécies, taxa de degradação de espécies
de cobertura, efeitos alelopáticos.
• Buscar alternativas de palha que possam, além de produzir massa seca, contribuir para
a fertilidade e o desenvolvimento da cultura seguinte; pesquisar consorciação; interação agricultura x pecuária.
• Formar um plano de rotação de cultura no qual deve ser incluído adubação verde tanto
no inverno quanto no verão; alternar os diversos cultivares de adubos verdes, tanto individualmente quanto em misturas, utilizar consórcios; não deixar áreas em pousio.
• Estudar mais cultivos consorciados e coquetéis de plantas de cobertura e adubos
verdes.
• Opções de culturas com formação rápida de massa para utilizar entre colheita de safrinha e plantio de verão; precocidade e baixa necessidade de água.
• Para PD em São Paulo, qual é a quantidade e C/N ideais?
• Conhecer e entender melhor as culturas formadoras de palha (e de dinheiro para o
agricultor).
• Espécies/variedades de plantas consórcios/sistemas de plantio para garantir cobertura
de solos.
48
• Estudar palhadas que sejam mais duradouras, não havendo necessidade de produção
de grande volume.
• Quantidade e qualidade de palha; palha na superfície e no solo (raízes), consórcio de
plantas de cobertura.
• Semear antes de plantar; braquiária até encontrar outra melhor.
• Estudo com rotações de cultura: procurar culturas com rentabilidade para produção
de massa, usar, por exemplo, o sorgo para produção de grãos; pensar em um sistema para
formação de palha.
• Rede paulista de avaliação de plantas-cobertura; avaliação rebrota de sorgo; consórcio
crotalária com cana; sistemas conservacionistas de renovação de pastagens.
• Regionalizar o Estado de acordo com a quantidade de chuva e estabelecer as culturas
que melhor produzam palha; associar estudos de alelopatia.
• Existe uma oferta razoável de opção, sendo necessário validá-las nos diversos ambientes. Mais importante que a produção de palhada é o seu manejo que ainda necessita ser mais
bem administrada. A palha de cobertura deve ajudar na redução de agroquímicos.
• Conhecimento das plantas e de sua adaptação agroecológica para utilização em distintos
(estudos complementares sobre mineralização da matéria orgânica,...); estudos sobre consórcios;
maquinário mais adequado à semeadura de espécies com tamanhos distintos de semente; a implementar o melhoramento genético para maior adaptação agronômica e ecológica das plantas
de cobertura; definir quantidades mínimas de palha para as diferentes espécies.
• Opções para “perenização” de espécies de cobertura; opções de semeadura de gramíneas após cultivo de soja; identificação da importância da palha de leguminosas no aumento
dos estoques de carbono no solo – esquema de rotação; adubação nitrogenada em gramíneas
usadas para cobertura e qualidade da palha e da matéria orgânica do solo; épocas de semeadura e espécies nas diferentes condições climáticas do Estado de São Paulo.
• Observar ou estudar dentro de cada região as demandas ou atividade dos agricultores.
Tendo essa informação, fazer pesquisas com as espécies aqui discutidas para aplicar o manejo
do PD visando obter palha, respeitando as particularidades regionais.
• Na base de critério (Santa Fé e outras variantes) e sobressemeadura (semeadura aérea
sob a cultura em pé). Devem ser incentivados estudos de culturas conhecidas e outras por conhecer, utilizar a formação e permanência da palha. Ainda, incentivar os produtores a destinar
pequenas áreas nos seus sítios para adaptar culturas a sua realidade.
49
Mesa Redonda II
Sanidade e plantas daninhas x palha
Moderadora
Elaine Bahia Wutke
Instituto Agronômico – IAC
Apresentadores
Álvaro Manoel Rodrigues de Almeida
Embrapa Soja
Jamil Constantin
Universidade Estadual de Maringá (PR)
Debatedores
Domênico Vitulo
Cooperativa Agrícola de Pedrinhas
Ciro Antonio Rosolem
UNESP/Botucatu
João Kluthcouski
Embrapa Arroz e Feijão
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APRESENTAÇÃO 1: Álvaro Manoel Rodrigues de Almeida – Embrapa Soja
PLANTIO DIRETO E DOENÇAS DA SOJA
1 - Introdução
O contínuo aumento da área com semeadura direta (SD) com soja, no Brasil, é uma realidade irreversível atingindo, na safra 2004/05, a área de 22 milhões de hectares (John Landers,
informação pessoal).
Apesar das vantagens preconizadas com o sistema, como redução de erosão, aumento
do teor de matéria orgânica do solo, economia de combustível etc. (Phillips et al., 1980) ainda
continuam evidentes as premissas: 1) a SD, ao deixar restos de cultura sobre a superfície do
solo contribui para aumentar a incidência de doenças e, 2) a semeadura convencional (SC), ao
incorporar os restos de cultura, reduz o inóculo inicial dos patógenos e, conseqüentemente, a
taxa de progresso das doenças.
Embora ambos os pontos mencionados sejam verdadeiros (Petrie, 1986), é necessário
discutir como podem ser minimizados, favorecendo a prática conservacionista e permitindo
uma agricultura sustentável e economicamente eficiente.
Diversas tecnologias têm sido desenvolvidas, permitindo ao produtor associá-las, de modo
a reduzir o efeito das enfermidades no sistema de SD.
Na safra 1996/97, segundo Fernandes (1997), utilizando informação pessoal dos pesquisadores J. E. Denardin & I. Ambrosi (Embrapa Trigo), apenas no Rio Grande do Sul a economia
de combustível devido ao uso da SD na lavoura de trigo foi de 22 milhões de dólares.
Diferentemente da cultura do trigo, no Brasil muito poucas pesquisas foram feitas com a
soja visando o controle de enfermidades no sistema de SD. Provavelmente, os patossistemas
do trigo fossem mais severos que aqueles da soja e porque na soja, até o advento da ferrugem
asiática, as enfermidades fossem controladas eficientemente com resistência genética. Outro fato
deve-se à extensão territorial da cultura da soja, a maior parte dela fora de regiões tradicionais
de SD ou regiões onde a formação da palha de culturas em sucessão é reduzida.
Este trabalho procura mostrar resultados obtidos com três patossistemas da soja, além de
comentar resultados parciais e indicar futuras linhas de pesquisas associadas à SD no Brasil.
2 - Parâmetros epidemiológicos e semeadura direta
A infecção das plantas por fitopatógenos requer três condições especiais: presença de patógeno virulento, condições climáticas (ambiente) favoráveis ao patógeno e presença da planta
suscetível. Esses parâmetros compõem o triângulo epidemiológico (Figura 1).
52
Figura 1. Triângulo epidemiológico e parâmetros associados à
infecção por patógenos de plantas.
A SD e a SC possuem características específicas, as quais estão associadas aos parâmetros epidemiológicos (Tabela 1). A SD permite maior retenção de umidade no solo e, devido à
formação de palha, reduz a temperatura do solo. Essas condições favorecem alguns patógenos
cujo desenvolvimento requer menor temperatura. Outros, contudo, são afetados por baixas temperaturas e têm seu desenvolvimento reduzido.
A SD, ao deixar os restos de cultura sobre o solo, acaba favorecendo a sobrevivência de
organismos necrotróficos. Na SC, ao contrário, devido à aração e gradagem, há incorporação
dos restos de cultura ao solo, auxiliando sua decomposição e reduzindo a fonte de inóculo
primário.
Além desses comentários, relacionados à fonte de inóculo dos patógenos, observa-se que,
em geral, os solos cultivados sob sistema de SD possuem maior atividade microbiana e também
maior diversidade genética de microrganismos. Essas características são extremamente importantes no controle de patógenos radiculares e serão comentadas no item supressividade.
Um resumo comparativo dos dois sistemas em relação à epidemiologia pode ser visto na
tabela 1. Aos três parâmetros epidemiológicos pode-se adicionar uma propriedade interessante
que é a maior diversidade genética de microrganismos, podendo ser de grande importância no
controle de patógenos radiculares. Esse fato será comentado, posteriormente, ao se mencionar
o efeito supressivo dos solos.
Tabela 1. Comparação de parâmetros epidemiológicos entre os sistemas de semeadura direta e
convencional.
Umidade do solo
Temperatura do solo
Sobrevivência de organismos
necrotróficos
Diversidade genética de
microrganismos
53
Semeadura direta
Semeadura
convencional
+++
+
+
+++
+++
+
+++
+
3. O Sistema de semeadura direta favorece a incidência de doen­
ças de plantas?
A pergunta freqüente que os pesquisadores enfrentam é sempre essa. Conforme mencionado anteriormente, a SD tem características que podem realmente favorecer os patógenos.
No entanto, é necessário esclarecer que a SD, devidamente implantada, seguindo a tecnologia
disponível, pode facilmente superar os problemas fitossanitários. Começando com o solo, cuja
movimentação inicial é necessária para evitar a compactação. Segue-se o controle da acidez
e adubação de acordo com as recomendações e posteriormente, a semeadura e condução da
lavoura.
Um exemplo de preparo mal conduzido pode ser visto na figura 2, onde as plantas se
apresentam com inadequado sistema radicular.
Figura 2. Plantas desenvolvidas em solos compactados.
Sistema radicular afetado, com pouca produção de raízes
tornam as plantas definhadas e sensíveis a infecções por
patógenos de parte aérea e radiculares.
Plantas vigorosas são normalmente resistentes às doenças
Além disso, e conforme será mencionado adiante, esses solos, por possuírem maior diversidade genética de microrganismos, também apresentam características biológicas desfavoráveis
aos fitopatógenos, auxiliando o desenvolvimento de plantas sadias (Figura 3).
Figura 3. Desenvolvimento de Trichoderma sp., fungo naturalmente encontrado no solo e parasita de fitopatógenos
radiculares.
4. Estudo de patossistemas da soja em semeadura direta
Para avaliar o efeito da SD e SC na evolução de doenças foliares e radiculares da soja
foram estudados três patossistemas cujos resultados serão apresentados e discutidos a seguir.
54
4.1 Mancha parda (Septoria glycines)
Essa doença é, normalmente, a primeira doença foliar observada em plantas de soja
(Almeida et al., 2005). Nas folhas primárias caracteriza-se por lesões escuras e circulares (Figura
4A), enquanto que, nas folhas trifolioladas (Figura 4B) apresenta inicialmente lesões necróticas,
com halos amarelos, podendo coalescer e resultando em extensas áreas necróticas, causando
desfolha precoce.
Figura 4. Folhas primárias (A) e trifolioladas (B) de soja,
infectadas por mancha parda (Septoria glycines).
Avaliações de campo, em parcelas com semeadura direta e convencional, permitiram detectar diferenças de severidade ao longo do tempo pós emergência. Esse fato foi acompanhado
por seis safras e permitiu concluir que na SC a severidade nas plantas progrediu mais rapidamente do que na SD (Figura 5). Isso se deveu ao fato de que na SD a palha formada pela cultura
de inverno impediu que os restos de cultura da soja, do verão passado, fossem eficientes como
fonte de inóculo, para a soja, do ano seguinte. Apenas em locais onde há formação de palha
esse efeito é observado.
Embora ocorram diferenças quanto à intensidade da severidade e velocidade de evolução,
ao longo dos anos, a severidade final foi semelhante entre os dois sistemas. Isso se deve ao efeito
de inóculo externo.
Figura 5. Curvas de progresso de mancha parda
(Septoria glycines) em soja, nas safras de 1997
a 2003 nos sistemas de semeaduras convencional e direta, com rotação (milho) no verão, a
cada três anos e trigo no inverno, como sucessão, após soja. Conv-R= convencional com rotação; Conv –S= convencional com sucessão;
Di-R= direto, com rotação; Di-S= direto com
sucessão.
Esses resultados demonstram o efeito da palha na disseminação de propágulos de S.
glycines. Solos arados e gradeados têm ausência de cobertura vegetal e permitem que os respingos de chuva disseminem facilmente a doença. Esse efeito pode ser visto na figura 6. Plantas
expostas à SC mostram solo aderido ao caule, hastes e folhas. Na SD, as plantas estão limpas,
demonstrando o efeito da palha.
55
Figura 6. Disseminação de mancha parda
(Septoria glycines) em plantas de soja desenvolvidas em semeadura convencional (esquerda) e semeadura direta (direita).
As conclusões deste patossistema são:
a) A evolução da doença foi mais acentuada na semeadura convencional;
b) A palha da cultura de inverno (trigo ou aveia ou milheto) pode ter impedido a liberação
de propágulos, reduzindo o progresso da doença;
c) A severidade de mancha parda, no sistema de semeadura direta, também pode ser
reduzida com rotação de culturas;
d) A rotação com milho, por um ano, foi suficiente para reduzir a curva de progresso de
mancha parda.
4.2 Podridão de carvão (Macrophomina phaseolina)
Raízes infectadas apresentam, inicialmente, descoloração da medula e posteriormente,
quando a planta morre pode-se ver grande formação de microesclerócios abaixo da epiderme,
a qual se separa facilmente da raiz (Figura 7).
Figura 7. Deslocamento de epiderme e formação de microesclerócios em raízes de soja com podridão de carvão, causada por
Macrophomina phaseolina.
Ao se coletar amostras de raízes e de solo, das plantas de soja, cultivadas em semeadura
direta e convencional, constatou-se que, no sistema convencional, havia mais microesclerócios
formados nas raízes e também maior presença no solo (Tabela 2). Essas diferenças foram estatisticamente significativas e ocorreram em anos secos (Almeida et al., 2003).
Tabela 2. Área abaixo da curva de progresso de doença obtida em semeadura direta e semeadura convencional de soja, infectada com podridão de carvão (Macrophomina phaseolina). (Almeida et al., 2003).
Semeadura
convencional
Semeadura direta
Chuva (mm)
1997/98
935 a
940 a
876,3
1998/99
1118 a
851 b
689,9
1999/00
2189 a
1764 b
474,3
2000/01
637 a
518 a
846,9
Ano
Médias seguidas pela mesma letra, nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de
probabilidade.
56
O efeito do déficit hídrico neste patossistema é conhecido. Plantas estressadas por seca são
mais facilmente infectadas por M. phaseolina (Olaya & Abawi., 1996). Ficou comprovado, neste
trabalho que:
a)A incidência de raízes infectadas é maior em anos secos;
b)A incidência é significativamente maior em semeadura convencional devido à:
a.1 Distribuição de propágulos pela mecanização, e
a.2 Incorporação de restos de cultura e maior sobrevivência do patógeno;
c) A menor temperatura e a maior umidade dos solos com semeadura direta reduziram a
incidência da doença nas raízes de soja.
4.3 Murcha de esclerócio (Sclerotium rolfsii)
Após a emergência, as plantas de soja podem ser infectadas por patógenos radiculares,
como Fusarium oxysporum, Rhizoctonia solani e Sclerotium rolfsii (Almeida et al., 2005). Essas
infecçóes ão normalmente causam sintomas de murcha, com posterior morte da planta. Nos
últimos anos, na região norte do Paraná e em solo classificado como latossolo roxo, a murcha
tem sido associada a S. rolfsii (Figura 8). Essa morte tem obrigado vários produtores a efetuar
ressemeaduras. Embora existam associações entre clima e variedades de soja, o que se observa
é maior incidência em campos onde foi cultivado milho safrinha. Essa observação está sendo
investigada.
Figura 8. Morte de plântulas de soja causadas por Sclerotium
rolfsii.
Estudos efetuados em laboratório procuraram avaliar a formação de esclerócios em palha esterilizada de milho, soja, tremoço, trigo e soja. Os resultados demonstraram significativa
formação dessas estruturas em palha de milho, seguido de soja e tremoço. A menor incidência
ocorreu em palha de trigo (Tabela 2).
a)A murcha de esclerócio tem aumentado em ambos os sistemas de semeadura: direta e
convencional;
b)A maior incidência foi observada em solos com palha de milho e soja, com menor
incidência em palha de trigo;
c) Questiona-se, até prova científica explicativa, se o aumento de área com milho safrinha
pode ter aumentado a incidência de S. rolfsii;
d)A utilização de espécies de inverno utilizadas em sucessão podem reduzir a incidência
de S. rolfsii no verão favorecendo organismos antagonistas?
57
5. Estratégias para controle de doenças em semeadura direta
5.1 Manejo e preparo do solo (calagem, adubação etc.)
As recomendações do Sistema de Produção, editado pela da Embrapa Soja, para o cultivo
da soja na região Central do Brasil (Embrapa Soja, 2005) são bem claras, procurando auxiliar o
agricultor no adequado preparo do solo e implantação da cultura em semeadura direta. Plantas
bem nutridas, com boa formação de raízes, são mais resistentes às doenças.
5.2 Rotação de culturas (RC)
RC é um método milenar de controle de enfermidades. Sua descrição na bíblia demonstra
isso. Na Bíblia, no Êxodo (23:10 e 11) encontra-se o seguinte comentário: “Faça plantações em
suas terras e colha o que nelas produzir. Mas de sete em sete anos, deixe a terra descansar. O
sétimo ano é de descanso da terra. Não faça plantações e nem colheita nesse ano”. O pousio,
como citado, é uma prática que visa impedir o desenvolvimento de um patógeno, privando-o
de alimento.
Embora a RC seja uma prática adequada para controlar doenças, especialmente em semeadura direta, é necessário que o agricultor entenda isso, de modo a aceitá-la.
O sucesso da RC depende de vários fatores: condições ambientais, natureza do patógeno
e características da espécie vegetal.
Para que a RC seja eficiente é necessário que a doença seja originária do próprio campo. A
RC não será eficiente quando o patógeno for transmitido eficientemente pelas sementes ou pelo
vento, capaz de ser transportado a longas distâncias. Outro fator é que o patógeno necessita ter
pequena gama de plantas hospedeiras (cultivadas ou plantas daninhas) (Morrall & Dueck, 1982,
Steadman, 1983) ou ser incapaz de sobreviver na ausência de planta hospedeira adequada.
A RC não será eficiente quando o patógeno produzir estruturas de resistência, capazes de
sobreviver por longos anos. Um exemplo típico é Sclerotinia sclerotiorum, que produz estruturas
de resistência denominadas esclerócios, os quais se formam aderidos ao tecido vegetal infectado
(Adams & Ayers, 1979; Cook et al., 1975; McGee, 1977; Petri, 1986).
Um exemplo de rotação não planejada, é a semeadura de girassol, antecedendo a soja.
Sclerotinia sclerotiorum tem grande número de plantas hospedeiras. Plantas infectadas por esse
patógeno irão produzir centenas de esclerócios, os quais no campo e em condições adequadas
irão germinar e infectar a soja (Figura 8). Nesse caso, ambas as culturas são suscetíveis ao fungo.
Figura 8. Planta voluntária de girassol, em campo cultivado com
soja (esquerda) e desenvolvimento
de esclerócios em hastes de soja infectada por Sclerotinia sclerotiorum
(direita).
58
O fundamento da RC é a eliminação da fonte de alimento do patógeno, dificultando sua
sobrevivência. Além desse fundamento há outros dois tópicos cujos mecanismos são diferentes
mas acabam afetando a sobrevivência dos patógenos: supressividade e alelopatia.
5.2.1 Supressividade.
O conceito de supressividade do solo advém do fato de alguns solos impedirem ou reduzirem o desenvolvimento de certos patógenos radiculares, mesmo que a planta seja suscetível.
Essa capacidade pode ocorrer devido a fatores bióticos ou abióticos (Mazzola, 2002). Condições
físico-químicas do solo, como pH, teor de matéria orgânica e de argila podem contribuir para
o não desenvolvimento da doença. No entanto, a maior parte da supressividade observada é
devido à atividade de microrganismos antagônicos ou de seus metabólitos. A supressividade
pode ser geral ou específica. A supressividade geral ocorre naturalmente em alguns solos e
desaparece quando o mesmo é esterilizado. Por outro lado, a supressividade específica é aquela
onde um organismo ou grupo de organismos impedem o desenvolvimento do patógeno (Cook
& Baker, 1983).
Solos supressivos têm sido identificados e associados a inúmeras doenças radiculares
(Hoitink & Boehm, 1999).
Na Austrália, pesquisas conduzidas por Reeves et al. (1984) demonstraram que tremoço
após o trigo reduziu significativamente o mal do pé do trigo causado por Gaeumannomyces
graminis var. tritici e aumentou o rendimento do trigo.Segundo Cook & Rovira (1976) a redução
da severidade dessa doença em monocultura do trigo ocorreu devido ao aumento da população
e atividade da bactéria Pseudomonas do grupo fluorescente, produtoras de antibiótico e ao
parasitismo de Trichoderma spp., fato confirmado por McSpadden Gardener & Weller, 2001).
Alguns outros exemplos descritos são o controle de Fusarium oxysporum (Scher & Baker, 1980)
e Rhizoctonia solani (Henis et al., 1978; 1979).
Nematóides de cisto também têm sido controlados pela ação supressiva de solos, como
mencionado por Kerry (1988) e por Westphal & Becker (1999).
Um fato interessante e de enorme utilidade na agricultura, especialmente nos sistemas
de semeadura direta, foi a associação entre a espécie/genótipo da planta na seleção de comunidades microbianas do solo, com capacidade de supressão de doenças (Larkin et al., 1993a;
Mazzola & Gu, 2000a; Gu & Mazzola, 2001a,b).
5.2.2. Alelopatia.
Outro fato associado à RC é a alelopatia. O termo foi criado por Molish (1937) significando
interações químicas favoráveis ou não, entre plantas e microrganismos. Em 1967, Latham &
Watson investigaram a potencialidade de 27 resíduos de culturas no controle de doenças de
cebola. Eles concluíram que certas espécies como trevo doce e cevada poderiam reduzir significativamente as raízes rosadas, uma doença de cebola causada por Pyrenochaeta terrestris.
Outro trabalho, desenvolvido por Smith et al. (1999) com raízes de canola em decomposição, mostrou o efeito na redução de patógenos do solo. Essas informações foram utilizadas para
a prospecção de efeito similar em espécies vegetais utilizadas em regiões tropicais, no sistema
de rotação ou sucessão de culturas (Martins et al., 2004). Ao se deixar sobre o solo os restos de
cultura (semeadura direta) ou ao incorporá-los (semeadura convencional), ocorrerá a mineralização com liberação de compostos químicos e possível ação deletéria sobre microrganismos
patogênicos ou não.
59
Extratos obtidos a partir de fragmentos esterilizados de hastes e folhas de trigo, soja, milho,
girassol, azevém e braquiária foram mantidos em água esterilizada por dez dias. Os extratos
foram utilizados para testar a ação sobre a germinação de esporos de Fusarium spp. Os dados
mostraram que, em dois testes, os extratos de palha de azevém e braquiária causaram redução
significativa da germinação de esporos de Fusarium spp. (Tabela 3).
Tabela 3. Efeito de diferentes extratos de plantas na germinação de esporos de Fusarium spp. isolado de raízes
de soja. A.M.R. Almeida. Embrapa Soja. 2004.
Extrato
Teste 1
Teste 2
Média
Água
90,7
87,9
89,30 a
Milho
89,0
77,8
83,40 a
Soja
93,0
84,1
88,50 a
Trigo
98,0
89,0
93,50 a
Braquiária
0,28
0,00
0,14 c
Azevém
29,2
0,59
14,89 b
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de
probabilidade.
5.3. Resistência genética
De todas as medidas de controle a mais eficiente é, sem dúvida, a resistência genética.
Infelizmente, nem sempre a mesma é obtida, por ausência de genes de resistência o que obriga
o agricultor a utilizar diferentes estratégias, incluindo a utilização de fungicidas.
Na Embrapa Soja, o controle de doenças através de resistência genética foi sempre
prioritário. Inúmeros casos de sucesso podem ser citados, como por exemplo, resistência à mancha olho de rã, ao cancro da haste, ao oídio, ao vírus do mosaico comum da soja, entre outras
(Almeida et al., 2005).
5. 4. Controle químico
Quando nenhuma das medidas de controle citadas anteriormente são eficientes no controle das doenças, resta a utilização de fungicidas. Atualmente, inúmeros princípios ativos estão
disponíveis para os agricultores (Embrapa Soja, 2005).
6. Conclusões
6.1 Regularmente deveria haver um fórum NACIONAL para discussões de prioridades e
apresentação de RESULTADOS DE PESQUISA relacionados à semeadura direta. Este encontro
pode ser o início.
6.2 Agências de fomento deveriam considerar as prioridades e exigir que as pesquisas
sejam complementares, pontuais, associando grupos de fitotecnia, microbiologia, entomologia,
60
física e química do solo, fitopatologia etc. APENAS COM PESQUISA INTERATIVA os problemas FITOSSANITÁRIOS responsabilizados pela semeadura direta poderão ser solucionados;
6.3 As secretarias de agricultura devem avaliar as campanhas de treinamento de agricultores. Apesar das informações existentes, grande número de produtores AINDA não utilizam o
conhecimento para o estabelecimento adequado de lavouras no sistema de semeadura direta;
6.4 A rotação de culturas é, muitas vezes, analisada apenas quanto à produtividade e economicidade. No entanto, as melhorias invisíveis do solo e supressividade não são considerados
no aumento da produtividade;
6.5 No caso da soja, há grande carência de medidas de controle integrado de doenças,
principalmente devido à rápida expansão da cultura para novas regiões edafo-climáticas;
6.6 Alelopatia (efeito de algumas espécies vegetais sobre propágulos) deve ser mais estudado, procurando avaliar possíveis benefícios no controle de patógenos de plantas;
6.7 Estudos microbiológicos, quanto à supressividade e a diversidade genética dos microrganismos associados às espécies vegetais devem ser incentivados pelas agências de financiamento de pesquisa.
7. Participantes
Álvaro M. R. Almeida - Embrapa Soja
Eleno Torres - Embrapa Soja
Paulo C. Galerani - Embrapa Soja
Alexandre Cattelan - Embrapa Soja
Julio Franchini - Embrapa Soja
Joaquim Mariano da Costa – COAMO
Ademir Simionato – COAMO
Celso A. Gaudêncio - Autônomo
8. Referências
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APRESENTAÇÃO 2: Jamil Constantin – Universidade Estadual de Maringá (PR)
DESSECAÇÃO ANTECEDENDO A SEMEADURA DIRETA PODE AFETAR A PRODUTIVIDADE
Jamil Constantin
Rubem Silvério de Oliveira Jr.1
Mônica Cagnin Martins
Pedro Venícius Lopes
Alberto Leão de Lemos Barroso
1. Aplicações seqüenciais
Segundo Almeida (1991), o êxito do plantio direto dependerá da disponibilidade de herbicidas que sejam eficazes nas operações de “manejo” ou “dessecação” e após a instalação da
cultura. O “manejo” ou “dessecação” antecedendo o plantio direto é fundamental para um bom
desenvolvimento das lavouras. A eliminação das plantas daninhas antes da semeadura permite
que a cultura tenha um desenvolvimento inicial rápido e vigoroso.
Engenheiro Agrônomo, Doutor, Professor da área de Ciência das Plantas Daninhas da Universidade Estadual de Maringá-UEM, Maringá, PR; e-mail: [email protected]; [email protected]
Engenheira Agrônoma, D.S., Pesquisadora da Fundação Bahia.
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Fundação Bahia.
Engenheiro Agrônomo, D.S., Doutor, Professor do Departamento de Agronomia da Fundação do Ensino
Superior de Rio Verde (ESUCARV).
63
Trabalhos têm demonstrado que aplicações seqüenciais, onde são aplicados antecipadamente herbicidas sistêmicos, tais como glyphosate e 2,4-D, e após 15 a 20 dias, na véspera
ou na data da semeadura são aplicados herbicidas de contato como paraquat, paraquat +
diuron, diquat e flumioxazin, proporcionam maior eficiência no controle das plantas daninhas
e permitem a semeadura no limpo. A segunda aplicação serve fundamentalmente para corrigir
problemas de rebrotas e de novos fluxos de plantas daninhas já emergidos por ocasião da
semeadura (Marochi, 1996; Pinto et al., 1997). De acordo com Pereira et al. (2000), o primeiro
fluxo que emerge no verão é normalmente o de maior densidade e o que tem maior potencial de
prejudicar o rendimento das culturas, uma vez que emerge antes ou junto com a cultura. Uma
vantagem adicional das aplicações seqüenciais seria o fato de que espécies de mais difícil controle como Ipomoea grandifolia (corda-de-viola) e Comelina benghalensis (trapoeraba) poderiam
ser adequadamente controladas. Segundo Melhorança et al. (1998), dessecações seqüenciais
seriam recomendáveis, principalmente em condições de altas infestações ou para plantas daninhas consideradas de difícil controle.
O uso de dessecações seqüenciais, iniciadas 15 a 20 dias antes da semeadura, apresenta,
portanto, inúmeras vantagens, que são tanto maiores quanto maior for a biomassa de cobertura
do solo. O controle do primeiro fluxo de plantas daninhas que emerge é fundamental para
reduzir a interferência das mesmas sobre a produtividade das culturas que se estabelecerão
posteriormente.
2. Intervalo de tempo
Outro ponto importante a se observar é o intervalo de tempo entre a dessecação e a
semeadura das culturas. Tem-se verificado que em áreas com grande cobertura vegetal (de
40% a 50% de cobertura do solo) as culturas que são plantadas em períodos muito curtos após
a operação de dessecação apresentam clorose das folhas no período inicial, com redução no
desenvolvimento vegetativo, podendo implicar em queda de produtividade.
Calegari et al. (1998) relataram que a semeadura de milho logo após a dessecação da
aveia pode acarretar germinação desuniforme e desenvolvimento inicial inadequado (estiolamento) das plântulas de milho, e recomendam um intervalo de pelo menos duas a três semanas
entre o manejo da aveia e a semeadura do milho. Os mesmos autores também observaram
que determinadas coberturas podem ter efeitos alelopáticos sobre culturas subseqüentes, sendo
que uma forma de diminuir esses efeitos seria aguardar um tempo maior para implantação do
cultivo sobre a cobertura manejada. Melhorança et al. (1998) observaram que a semeadura de
soja em áreas de pastagem, realizada em período inferior a 15 dias após a aplicação do dessecante, resultou em clorose acentuada na parte aérea, especialmente na fase inicial da cultura.
Peixoto & Souza (2002) verificaram que a produtividade da soja foi diminuída em até 13,9%
quando esta foi semeada imediatamente após a dessecação de sorgo. Melhorança & Vieira
(1999) verificaram que a época de dessecação de Brachiaria decumbens afetou o rendimento
e o desenvolvimento vegetativo da soja, sendo que a dessecação realizada 18 dias antes da
semeadura propiciou rendimentos 17% e 32% superiores às dessecações realizadas aos 7 e 1 dia
antes da semeadura, respectivamente.
64
3. Resultados recentes
Com relação às plantas daninhas, experimentos conduzidos pelo Departamento de
Agronomia da Universidade Estadual de Maringá durante a safra 2003/2004, em conjunto com
a COAMO e COPACOL (dados não publicados), demonstraram que a tendência é a mesma,
ou seja, quanto menor o período entre a dessecação das plantas daninhas e a semeadura,
maiores as reduções de produtividade nas culturas de soja e de milho. Nesses experimentos,
compararam-se dessecações seqüenciais iniciadas 20 dias antes da semeadura com dessecações
realizadas sete dias antes da semeadura e dessecações realizadas no dia da semeadura (sistema
aplique-plante). Em todos os casos, a cobertura do solo pelas infestantes no momento das aplicações situava-se entre 60% e 100%.
Para os trabalhos conduzidos dentro das estações experimentais das duas cooperativas
verificou-se que a dessecação 20 dias antes da semeadura resultou num aumento da produtividade da soja de 6,8 e 7,8 sacos ha-1, quando comparada, respectivamente, com as dessecações
sete dias antes da semeadura e na data da semeadura (aplique-plante). No milho, estas diferenças foram de 10,9 sacos ha-1 e 18,5 sacos ha-1 a mais, a favor da dessecação realizada 20 dias
antes da semeadura. Em experimentos conduzidos em seis áreas de cooperados da COAMO,
na cultura da soja, as diferenças foram ainda maiores, resultando em queda média de 11,23
sacos ha-1 no sistema aplique-plante em comparação com a dessecação realizada 20 dias antes.
Conclui-se, dessa forma, que a soja e o milho que emergiram e tiveram o seu desenvolvimento
inicial em meio à cobertura vegetal (sistemas aplique-plante e sete dias antes da semeadura) não
totalmente dessecada tiveram sua produtividade reduzida.
4. Efeito do grau de cobertura do solo
Todos os sistemas testados acabam atingindo bons níveis de controle das infestantes com o
decorrer do tempo. A diferença básica entre eles está principalmente na velocidade de dessecação da biomassa das plantas daninhas, o que, por sua vez, implica no grau de cobertura do solo
no momento da emergência da cultura e no seu desenvolvimento inicial (Figuras 1 e 2). Assim,
para os sistemas de dessecação sete dias antes e aplique-plante, as culturas emergiram e se
desenvolveram inicialmente sob intenso sombreamento, e mesmo com estes sistemas atingindo
uma boa dessecação aos 14 dias após a semeadura as plantas daninhas ainda continuavam
“em pé” e sombreando o milho e a soja. O primeiro resultado desse fato foi o aparecimento
de clorose e estiolamento das culturas, retardando o desenvolvimento e culminando com menores produtividades. Para dessecação 20 dias antes, já no momento da semeadura o nível de
controle era elevado e as plantas daninhas estavam tombadas rente ao solo, não interferindo
no desenvolvimento da cultura. Ressalta-se que nos experimentos nas áreas de cooperados da
COAMO, em duas propriedades, as perdas atingiram até 50% da produção de soja no sistema
aplique-plante. Essas áreas passaram por um período de seca prolongado, sugerindo que a
importância do manejo utilizado antes da semeadura é aumentada quando a lavoura passa por
condições adversas durante o ciclo, possivelmente em função do estresse sofrido inicialmente, o
que pode comprometer a resistência da cultura às condições adversas.
65
Figura 1. Eficiência do manejo de dessecação aos 5
dias depois do plantio (AP = aplique-plante; 7 DAP =
sete dias antes do plantio; SIC = sistema integrado de
controle de plantas daninhas).
Figura 2. Desenvolvimento do milho em função dos diferentes manejos aos 20 dias após o plantio (SIC = sistema integrado de controle de plantas daninhas; 7 DAP
= sete dias antes do plantio; AP = aplique-plante).
Deve-se considerar, é claro, que, além do sombreamento inicial das culturas, existem outros fatores como a demanda de nitrogênio pelos microrganismos decompositores, efeitos alelopáticos e outros aspectos que ainda deverão ser estudados e esclarecidos, para melhor explicar
estas quedas de produtividade e, com isso, evitá-las. Mas, pode-se dizer que, quanto maior a
cobertura do solo, implicando elevada massa verde, maior será o prejuízo se a semeadura for
realizada pouco tempo após a dessecação. Já em áreas de baixa infestação, com pouca cobertura do solo, a semeadura poderá ser feita logo após a operação de dessecação, sem prejuízo
da produtividade.
5. Literatura Citada
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(IAPAR. Circular, 67).
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perguntas 500 Respostas).
MAROCHI, A. I. Avaliação de métodos de controle químico para Richardia brasiliensis (poaiabranca), infestando áreas sob plantio direto da região sul do Brasil. In: Zapp: Desafio do novo.
São Paulo: Zeneca Agrícola, 1996. p.175-186.
66
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pergunta a Embrapa responde. Dourados: Embrapa-CPAO, 1998. p. 177-194. (Coleção 500
perguntas 500 Respostas).
MELHORANÇA, A. L.; VIEIRA, C. P. Efeito da época de dessecação sobre o desenvolvimento e
produção da soja. In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL,
21., Dourados, 1999. Resumos... Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 1999. p. 224-225.
PEREIRA, E. S.; VELINI, E. D.; CARVALHO, L. R.; MAIMONI-RODELLA, R. C. S. Avaliações
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PEIXOTO, M. F.; SOUZA, I. F. Efeitos de doses de imazamox e densidades de sorgo (Sorghum
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DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, 21., Caxambú, 1997. Resumos... Caxambu: SBCPD,
1997. p. 165
DESSECAÇÃO EM ÁREAS COM GRANDE COBERTURA VEGETAL:
ALTERNATIVAS DE MANEJO
Jamil Constantin
Rubem Silvério de Oliveira Jr.5
Mônica Cagnin Martins
Pedro Venícius Lopes
Alberto Leão de Lemos Barroso
No Boletim Informações Agronômicas no 109, de março de 2005, fizemos considerações
sobre o efeito da dessecação de manejo sobre o desenvolvimento e a produtividade das culturas
semeadas posteriormente. Demonstramos que a modalidade aplique-plante (ou simplesmente
AP) em áreas de alta infestação pode prejudicar o desenvolvimento inicial das culturas, redundando em queda de produtividade.
Em experimentos realizados na área de atuação das cooperativas COAMO e COPACOL,
na safra 2003/2004, observou-se reduções de produtividade quando o sistema de manejo AP
foi utilizado, ou seja, quando a semeadura foi realizada imediatamente ou até sete dias após a
operação de manejo.
Nos trabalhos conduzidos dentro das estações experimentais das cooperativas, verificouse que a dessecação 20 dias antes da semeadura resultou num incremento de produtividade
Engenheiro Agrônomo, D.S., Doutor, Professor da área de Ciência das Plantas Daninhas da Universidade
Estadual de Maringá (UEM), Maringá, PR; e-mail: [email protected]
Engenheira Agrônoma, D.S., Pesquisadora da Fundação Bahia.
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Fundação Bahia.
Engenheiro Agrônomo, D.S., Doutor, Professor do Departamento de Agronomia da Fundação do Ensino
Superior de Rio Verde (ESUCARV).
67
da soja de 6,8 sacos ha-1 e 7,8 sacos ha-1, respectivamente, quando comparada com as dessecações realizadas sete dias antes da semeadura e na data da semeadura (AP). No milho, essas
diferenças foram de 10,9 sacos ha-1 e 18,5 sacos ha-1 a mais a favor da dessecação realizada
20 dias antes da semeadura. Em experimentos conduzidos em seis áreas de cooperados da
COAMO, na cultura da soja, as diferenças foram ainda maiores, resultando em queda média de
11,23 sacos ha-1 no sistema AP em comparação com a dessecação realizada 20 dias antes.
Conclui-se, dessa forma, que a soja e o milho que emergiram e tiveram o seu desenvolvimento inicial em meio à cobertura vegetal não totalmente dessecada (sistemas AP e sete dias
antes do plantio) mostraram sua produtividade reduzida. Esses trabalhos foram apresentados na
27a Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil (Constantin et al., 2005a, 2005b;
Oliveira Jr. et al., 2005).
Todos os sistemas testados acabam atingindo bons níveis de controle das infestantes com
o decorrer do tempo. A diferença básica entre eles está principalmente na velocidade de dessecação da biomassa das plantas daninhas, o que, por sua vez, implica o grau de cobertura do
solo no momento da emergência da cultura e seu desenvolvimento inicial. Assim, para os sistemas de dessecação sete dias antes do plantio e AP, as culturas emergiram e se desenvolveram
inicialmente sob intenso sombreamento (Figura 1), e mesmo estes sistemas atingindo uma boa
dessecação aos 14 dias após a semeadura, as plantas daninhas ainda continuavam “em pé” e
sombreando o milho e a soja. O resultado desse fato foi o aparecimento de clorose e estiolamento das culturas, retardando o desenvolvimento e culminando com menores produtividades
(Figura 2).
Figura 1. Eficiência da dessecação dos diferentes manejos – aplique - plante (AP), dessecação sete dias antes
do plantio (7 DAP) e dessecação 20 dias antes do plantio (20 DAP) – aos sete dias após o plantio.
Figura 2. Estiolamento e clorose da soja no manejo AP comparado ao manejo 20 DAP, ambos
aos 14 dias após o plantio.
68
São, portanto, evidentes os benefícios do manejo antecipado nas áreas de alta infestação
e/ou elevada cobertura do solo por ocasião da operação de manejo. No entanto, em muitas ocasiões a efetivação desta operação pode implicar atraso da data da semeadura da cultura, o que
pode resultar em efeitos indesejáveis para a lavoura. A primeira aplicação de manejo depende
do início das chuvas que antecedem a semeadura de verão. Esse fato ocorre pela necessidade de
haver disponibilidade de água no solo para que os herbicidas sistêmicos utilizados na primeira
aplicação de manejo possam ser adequadamente absorvidos e translocados. Também é esperado que, entre a primeira e a segunda aplicação de manejo, haja a ocorrência de chuvas que
estimulem a germinação do primeiro fluxo de plantas daninhas.
Haverá ocasiões nas quais não será possível realizar duas aplicações de manejo, seja por
questões de logística da propriedade, seja pelo atraso do início das chuvas ou mesmo pela
resistência do produtor em adotar o sistema de manejo antecipado. Partindo do pressuposto que
a decisão tomada privilegiou uma única aplicação de manejo em áreas-problema, é necessário
traçar novas estratégias eficazes para evitar a interferência negativa da biomassa sobre a emergência e o desenvolvimento inicial das culturas semeadas.
Devido à natureza sistêmica dos herbicidas tradicionalmente utilizados em manejo (glyphosate e 2,4-D), o efeito sobre as plantas daninhas é lento e a cobertura demora alguns dias para
morrer completamente. Uma das possibilidades interessantes para acelerar esse processo seria
a associação destes princípios ativos com outros de ação mais rápida. Com esse objetivo, novos
experimentos antecedendo a semeadura da soja foram conduzidos pela Universidade Estadual
de Maringá, na safra 2004/2005, no intuito de estudar opções que viabilizassem tal possibilidade.
Nesses trabalhos, conduzidos em várias localidades do Brasil pela Universidade Estadual
de Maringá em conjunto com instituições como a ESUCARV e a Fundação Bahia, ficou evidente
que uma das alternativas viáveis seria a associação de glyphosate com flumioxazin. Dentre
os aspectos favoráveis dessa associação, em comparação com a utilização de glyphosate isoladamente (Figura 3), destacam-se a maior velocidade de dessecação da biomassa presente,
estabelecendo melhores condições de emergência para a cultura, a maximização de controle de
espécies consideradas de difícil controle (corda-de-viola, erva-quente, apaga-fogo) e um efeito
residual no controle do primeiro fluxo de infestação da cultura (Figura 4). A conjunção desses
três fatores permite a emergência no limpo e impede o sombreamento inicial da cultura, além
de retardar a instalação da infestação de plantas daninhas.
Figura 3. À esquerda, emergência da soja no
tratamento glyphosate (AP) aos sete dias depois do plantio; à direita, emergência da soja no
tratamento glyphosate + flumioxazin 50 g (AP)
aos sete dias depois do plantio.
Figura 4. Emergência da sementeira de plantas daninhas em sistema AP aos 24 dias após o plantio
(época de aplicação do pós-emergente).
69
Como benefícios adicionais, em função da inibição do primeiro fluxo de emergência de
plantas daninhas, pode-se conseguir postergar a época de aplicação do controle pós-emergente
nas culturas, o que, no caso de culturas como a soja, por exemplo, implica aumento da tolerância da cultura aos herbicidas utilizados. A médio e longo prazos tal manejo permite prever
a redução da densidade dos bancos de sementes de plantas daninhas presentes no solo, o que
permite supor maior facilidade de seu controle. Um outro aspecto interessante é que, dentro
do panorama de intensificação do uso de glyphosate, em virtude das culturas transgênicas, a
utilização de um outro herbicida com mecanismo de ação distinto pode prevenir ou retardar o
aparecimento de biótipos resistentes de plantas daninhas.
Os experimentos demonstraram que, principalmente nos primeiros dez dias após a aplicação da associação glyphosate + flumioxazin, a velocidade de dessecação da biomassa vegetal
foi aproximadamente o dobro daquela observada nas áreas com glyphosate isoladamente. Esse
fato permitiu um melhor desenvolvimento inicial da soja, evitando quedas de produtividade
mesmo em áreas onde se realizou o manejo na modalidade AP e que apresentavam grande
cobertura vegetal .
Em experimento conduzido na região de Ponta Grossa (PR), cuja infestação predominante
era de Brachiaria plantaginea cobrindo totalmente o solo e com altura por volta de um metro,
quando se realizou o AP com glyphosate isoladamente a perda em produtividade na soja foi de
quase 12 sacas ha-1. Nessa mesma modalidade de manejo, quando se utilizou glyphosate +
flumioxazin também foram observadas perdas, mas num montante de menos de 8 sacas ha-1.
Por outro lado, quando a operação de manejo foi realizado três dias antes da semeadura, o
glyphosate isolado acarretou uma perda de 8 sacas ha-1, ao passo que a associação dele com
flumioxazin eliminou as perdas de produtividade. Dessa forma, viabilizou-se uma alternativa
para evitar a necessidade de duas operações de manejo em áreas de alta infestação, sem que
haja prejuízos na produtividade.
Em experimento conduzido em Luís Eduardo Magalhães (BA), onde a cobertura do solo
pelas plantas daninhas era da ordem de 40% a 50%, o AP com glyphosate isolado resultou em
perda de 6,7 sacas ha-1. Com a associação com o flumioxazin, essas perdas não ocorreram.
Em área experimental estabelecida em Rio Verde (GO), cuja infestação era predominantemente de Alternanthera tenella (apaga-fogo), o AP com glyphosate resultou em perdas de 12,2
sacas ha-1 e quando o manejo foi realizado três dias antes da semeadura as perdas foram de 9,9
sacas ha-1. Já para a associação com flumioxazin, quer seja no AP ou três dias antes, não houve
decréscimos de produtividade.
Em outra área que recebeu o mesmo experimento, com infestação de Parthenium hysterophorus (losna-branca), em Maringá (PR), os resultados obtidos foram semelhantes aos anteriores. No manejo AP ou na dessecação três dias antes da semeadura, a utilização de glyphosate
resultou em perdas de 6,6 sacas ha-1 e de 7,7 sacas ha-1, respectivamente, ao passo que a associação com flumioxazin, em ambos os casos, não afetou a produtividade. Na figura 5 é possível
observar como o sistema de manejo afetou o desenvolvimento da soja, com desenvolvimento
normal nas áreas onde a dessecação foi acelerada com o flumioxazin e com o estiolamento das
plantas nas áreas onde a dessecação foi mais lenta (glyphosate
isoladamente).
Figura 5. Efeito de diferentes sistemas de manejo da soja, 24 dias após
a semeadura: glyphosate isoladamente (à esquerda) e glyphosate + flumioxazin na dose de 50 g ha-1 (centro) e de 80 g ha-1 (à direita).
70
Comprova-se, dessa forma, que o fato de se poder acelerar a morte da cobertura vegetal
constitui um componente muito importante no desenvolvimento e, por conseqüência, na produtividade das culturas semeadas posteriormente. A associação de glyphosate com flumioxazin
demonstrou ser uma opção viável para a utilização desta proposta de manejo. Com base nos
resultados apresentados, conclui-se que, numa condição de aceleração da morte da cobertura
vegetal, torna-se possível a semeadura em um curto espaço de tempo após a dessecação, evitando-se grandes perdas na produtividade.
Literatura
CONSTANTIN, J.; OLIVEIRA JR., R. S.; PAGLIARI, P. H.; COSTA, J. M.; ARANTES, J. G. Z.;
CAVALIERI, S. D.; ALONSO, D. G.; ROSO, A. C. Sistemas de manejo: efeitos sobre o desenvolvimento da soja e sobre o controle de plantas daninhas. In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA
DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 27., 2005, Cornélio Procópio, PR. Resumos... Londrina:
Embrapa Soja, 2005a. p. 527-528.
CONSTANTIN, J.; OLIVEIRA JR., R. S.; PAGLIARI, P. H.; DAL­BOSCO, M.; ARANTES, J.
G. Z.; CAVALIERI, S. D.; ALONSO, D. G. Influência de sistemas de manejo de plantas daninhas antecedendo o plantio sobre a cultura da soja. In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA
DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 27., 2005, Cornélio Procópio, PR. Resumos... Londrina:
Embrapa Soja, 2005b. p. 529-530.
OLIVEIRA JR., R. S.; CONSTANTIN, J.; PAGLIARI, P. H.; ARANTES, J. G. Z.; CAVALIERI, S.
D.; ROSO, A. C.; SOARES, R.; HOMEM, L. M. Efeito de dois sistemas de manejo sobre o desenvolvimento e a produtividade da soja. In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO
CENTRAL DO BRASIL, 27., 2005, Cornélio Procópio, PR. Resumos... Londrina: Embrapa Soja,
2005. p. 525-526.
Debate
Domênico Vitullo – Cooperativa Agrícola de Pedrinhas
O uso de uma única espécie (monocultura) provoca desequilíbrio ambiental. A idéia do
coquetel surgiu, em 1994, por meio do Sr. Andrea Vicentini: consiste na mistura de várias espécies (aveia, girassol, milheto, moa e trigo) para obter a maior diversidade possível.
71
A diversidade estimula a maior complexidade das relações existentes no cultivo criando
uma estabilidade dinâmica. Trata-se do princípio de sustentação de uma floresta em clímax (é
como se fosse uma floresta tropical criada em alguns meses).
O plantio foi feito em maio, com semeadora de plantio direto ou convencional com sistema
de rotor.
• Quantidade de sementes:
Tremoço
33 a 42 kg ha-1
Aveia
33 a 42 kg ha-1
Nabo-forrageiro
6 a 8,5 kg ha-1
Girassol
4,5 a 6,5 kg ha-1
A dessecação foi feita 90 a 100 dias após o plantio (observar a granação da aveia e
do nabo)
A pesquisa revelou os seguintes diferenciais e resultados:
• cobertura do solo;
• reciclagem de nutrientes devida às diferentes necessidades nutricionais;
• perfil do solo sendo explorado por sistemas radiculares diversos;
• descompactação do solo;
• equilíbrio do agroecossistema;
• menor incidência de pragas e doenças;
• aumento da produtividade dos cultivos após coquetel.
Cultivos subseqüentes ao coquetel:
• coquetel dessecado;
• soja;
• milho;
• feijão.
Demanda de pesquisa: são necessários maiores estudos em:
• fertilidade do solo;
• biologia e microbiologia do sistema;
• física do solo;
• viabilidade econômica da rotação de culturas.
Ciro Antonio Rosolem – UNESP/Botucatu
Pragas, doenças e matologia em Sistema Plantio Direto
Com a utilização do plantio direto, verifica-se a ocorrência de uma série de problemas
fitossanitários:
Aumento da incidência da lagarta-do-cartucho e da lagarta-elasmo (a lagarta-dos-capinzais), podridão de raízes novamente, nematóide novamente, curdobacterium - doença de des-
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coberta relativamente recente. No milho, a tal da larva-alfinete, lagarta-do-cartucho no solo e a
barriga- verde.
Doenças no milho: Phaospheria, cercóspora: é uma encrenca esse tal de Plantio Direto.
Soja, lagarta-do-cartucho; é diferente do que aprendemos na escola, que era controlado facilmente por precipitação. Percevejo-castanho, coró: cochonilha, que dava em café e, agora, ataca
a soja, quer dizer; esqueceram de avisar as pragas que esse negócio de plantio direto é bom, não
é, ou melhor, foi bom para elas também.
Nematóide, ferrugem e assim por diante. Trigo também tem muitos problemas e penso
que a aveia também: lagarta-do-cartucho, e até milheto podem ter pragas, podendo dar até
lagartas que comem a resteva do milheto, contribuindo, em função dos restos culturais, para o
aumento até de lagarta-elasmo, ou seja: vamos parar com esse negócio de semeadura direta,
pois isso não é bom, devido a estarmos colocando altas doses de produto químico e vamos ter
que aumentá-las.
Agora, será verdade? Será culpa do sistema ou será que esse agricultor é relaxado?
Realmente, teoricamente, desconfia-se, pois quando se faz semeadura direta, ou seja, acúmulo
de palha, tem-se mais umidade e isso pode, eventualmente, levar à maior população de pragas
e maior potencial de inóculo e, em algumas situações, à diminuição. Por outro lado, para um
bom programa de SD, temos a rotação de culturas - quase obrigatória. Quando se faz rotação
de culturas, tem-se tigüeras de uma espécie no cultivo da outra espécie... Será? Sempre há, é
um negócio meio assim, não era para ter, não é? Isso leva à universalização e cosmopolitização
das pragas. O questionamento é o seguinte: será que o SSD, só porque tem mais palha, mais
umidade, complica tanto assim?
Muito do que é colocado como problema de pragas e doenças em SSD, na realidade,
reflete um sistema mal conduzido. O bom agricultor no convencional é um bom agricultor de
SSD e também, aquele aventureiro no convencional não será um bom agricultor no sistema
plantio direto.
É lógico que existem problemas que precisam ser resolvidos. O acúmulo de palha não é
bom? Não penso assim, acho que quanto mais palha é melhor. É um ponto para ser discutido.
Há algumas coisas que são colocadas, mas quando olhamos os princípios são impossíveis
de acontecer. Portanto, qual será a primeira aproximação? É aplicar fungicida com dessecante
e, honestamente, é isso que está sendo feito. É colocar um Paraquat. Foi proibido e está sendo
feito. Em foto publicada na revista Plantio Direto, percebe-se que estão aplicando parathion
como dessecante. Então, a tendência do agricultor é essa; por imediatismo, acompanha, e isso
talvez não esteja errado, pois tem filho para tratar, escola para pagar e supermercado no final
da semana.
Agora, temos obrigação de oferecer soluções. Alternativas que sejam aplicar mais “venenos” genericamente, que sejam, aplicar mais herbicida, mais inseticida, mais fungicida,
então aí concordo plenamente com o que o Álvaro levantou, que é o seguinte: temos ramos
novos da ciência crescendo e não estamos prestando atenção para isso. Temos essas interações entre plantas e não há quase ninguém no Brasil estudando isso. Até há algumas pessoas trabalhando com alelopatia, com nome equivocado ou não, mas está fazendo alguma
coisa, ou não tem esse mérito?
Acho que o jeito de lidar com as relações entre organismos, será na bioquímica e talvez,
muito provavelmente, na genômica. Vejo muito dinheiro colocado no Brasil para fazer genoma,
73
ou seja, fazer mapeamento de genes. Não conheço nenhuma prática que envolva engenharia
genética derivada de um genoma. Todas as variedades, todos os processos que envolvem genômica que estão no mercado hoje foram derivados de estudo de processos, derivados de ciclos
bioquímicos e não do conhecimento do genoma. Então, precisamos pensar o que queremos.
Temos que dar esse passo até certo ponto inócuo. Por exemplo, toda uma nova área de estudo
sobre sinalizadores: acho que é por aí que vamos encontrar resposta, sendo que vai demorar um
pouco, mas estamos fazendo agricultura há 500 anos neste País, há quatro mil anos no mundo;
pois então não vamos resolver o problema de semeadura direta e das relações entre plantas
em quinze dias. Agora, não vejo em nossas universidades nenhum trabalho envolvendo ácido
jasmônico, que foi a vedete de um congresso que estive no ano passado na Austrália. Ácido
salicílico, muitos fenóis, são as vedetes hoje, ou seja, sinalizadores, isto é compostos químicos
que as plantas usam para sinalizar. Sinalizar o que? Tudo, se elas precisam de mais nitrogênio, se
há uma praga atacando. Inclusive coisas assim, “meio extraterrestres”, sinalização entre plantas
via aérea, pelo ar, o ácido jasmônico serve para isso. Uma planta atacada por determinada
praga conta isso para a vizinha e esta desenvolve alguns fenóis para se defender. Lógico que,
para desenvolvê-los, vai produzir carbono e produzir menos, mas se defende. Muito disso que
vimos hoje, que um sintoma típico, um amarelecimento, que uma coisa indica outra, não sei,
daí concordo com Jamil, pode ser alelopatia, pode. Que tipo de sinalização existe entre a planta
que está nascendo e a que está morrendo? Fizemos alguns experimentos em Botucatu, que
mostraram que sombreamento não é, pois colocamos algumas espumas e a soja sai bonita do
mesmo jeito. O que fico triste é que quando mandamos projeto para o CNPq, para a Fapesp,
que envolva cem mil dólares recebemos uma resposta assim: “Ah! O equipamento é muito caro.”
Meu Deus do céu! Quanto custa a Agricultura neste País? Quem deu essa opinião foi um de nós,
não foi o CNPq, nem as elites. Foi um colega meu que desconhece o que está acontecendo no
mundo. Então, nós da academia, temos, sim, culpa nessa história.
Só para falar um pouco mais de controle de mato. Ah! Alelopatia é um negócio que temos
muito para aprender e para usar. Temos o binômio quantidade e qualidade de palha. Quando
estava na escola, formei-me em 1973, o princípio era preparar o solo e fazer um colchão para
que a semente germinasse e a planta se desenvolvesse bem. Será que bastante palha é uma
barreira, Jamil? Ou será que é cama? Vai depender, lógico, da qualidade desse binômio. Então,
a palha pode ser um obstáculo, mas também é um aspecto que, se bem usado, faz a planta
crescer melhor. Quer dizer: quando vai ser uma coisa, quando vai ser outra, não sabemos. E
vamos saber quando? Quando pararmos e fizermos como o professor Malavolta dizia, cansar
de estudar bioquímica, temos que chegar lá, quer dizer uma agricultura que se passa de 1.000
para 2.000 kg ha-1 é muito fácil, agora, de quatro mil para cinco para seis para dez, como está
chegando, temos que saber bioquímica, não há outra saída, não há jeito melhor.
O Jamil usou alguns quadros e colocou o DMS e tenho visto muitos colegas da universidade que vão dar palestra para profissionais, para agricultores, e começam a desconsiderar
resultados obtidos mediante uma análise estatística. Isso é a morte da ciência. Um agricultor
fazer isso? O técnico que vai vender produto, sim. O pesquisador fazer isso, não, ele não pode.
É necessário estabelecer uma relação de causa e efeito e explicar porque está acontecendo.
Daí, tem-se, um resultado sólido, e isso está faltando para todos nós, inclusive uma autocrítica
que faço, porque, a partir do momento que temos o resultado e estabelecemos uma relação
de causa e efeito, esse resultado é consistente e extrapolável. Agora, a partir do momento que
falo, deu porque deu, então não deu. O problema é nosso, temos que resolver, temos gente de
74
cooperativa, agricultores, setores importantes para nos ajudar e nos cobrar a fazer isso, pois sem
cobrança não vamos chegar a lugar nenhum.
Elaine Bahia Wutke - IAC
Agradecemos ao Ciro a veemente explanação; espera-se que continue trabalhando um
pouco com feijão. Agradeço a Sonia e, em seguida, prosseguiremos com a explanação do
Dr. João Kluthcouski.
João Kluthcouski – Embrapa Arroz e Feijão
Nem sempre avaliamos o que está em nosso entorno. Rapidamente, mostrando que, se em
1980-2005 fôssemos adquirir um trator 296 ou 297, precisaríamos em termos de sacas de arroz
1.650% a mais. Tudo bem, essas análises estão sendo feitas para pecuária etc. e se desvalorizando ao longo do tempo. Isso está ocorrendo mundialmente.
Pensávamos até 2002 que o plantio direto era literalmente sustentável. É verdade, ou não?
O agronegócio da soja era comentado no mundo todo! No nosso agronegócio, de repente, vieram a ferrugem, uma alta em dólar dos insumos e passamos a ser insustentáveis economicamente e continuamos sendo sustentáveis ecologicamente. Então o plantio direto tem que fazer uma
retomada de ações. Qual retomada? Primeiramente, reduzir o custo de produção; acostumamos
a usar tudo que é enlatado, que aparecia dentro do sistema de produção. Como vamos reduzir o custo? Rotação, as coisas antigas, dentro
do próprio plantio direto, o manejo integrado.
Dentro do plantio direto há um aspecto que
ninguém comentou aqui, que o principal fator
de aumento de custo é o uso de semente, que
chamo de “podres”. Não temos sementes sadias
sendo produzidas no País, ou seja, mofo-branco, fusário, antracnose, todas essas doenças estão sendo trazidas via semente para o País, pois
o controle passou a ser terciário dentro desse
contexto. E o segundo desafio que temos é o
uso intensivo da área o ano todo.
75
Os investimentos são caros, principalmente nessas regiões de fronteira do cerrado e as
vizinhas, e estamos usando essas áreas normalmente só por quatro meses ao longo do ano.
Então, o desafio é usá-las durante todo o ano.
Gostei de ver o Professor Veline mostrando essa seqüência em uma de suas apresentações
lá em São Pedro, pois até que enfim alguém se preocupa em ver controle de planta mesmo
com cobertura, como cultura, como cobertura morta, não colocando mais o herbicida como
cabeceira, está certo, pois temos meios de evoluir para reduzir custo de produção, e, novamente,
o Veline conclui que para algumas espécies, a palhada tem eficiência comparada aos herbicidas,
e que são necessários entre seis e dez toneladas, pois o intervalo está muito grande de matéria
seca para proporcionar o controle de 60-85% das espécies mais sensíveis.
Também gostei do Kliewer que diz que a incidência de plantas daninhas tem relação direta
com o comprimento do período do pousio. Por
isso, temos que usar toda a área durante o ano
todo e também está muito claro que o sistema
plantio direto tem um controle efetivo na questão de plantas daninhas. Já existe na literatura
muita coisa que pode nos balizar. Repetindo
que precisamos, segundo o Saraiva, o Torres ou
o Lopes de, pelo menos sete toneladas por hectare de palha para ter uma cobertura satisfatória
da superfície do solo, mas como a velocidade
de decomposição dessa palha chega a ser cinco vezes superior do que em clima temperado,
esse número pode ser questionado, pois mesmo
sete toneladas pode não perdurar por tempo
suficiente. E observa o Seguy que, em 90 dias,
a palhada de soja, ela que cobria 86% da superfície do terreno passou a cobrir só 7%, quer
dizer, é o efeito da espécie, enquanto a palhada
do milho cobria 63% passou a cobrir 30%. Mais
um destaque interessante, sobre infestação de
plantas daninhas na cultura da soja do Kliver,
após aveia, dizendo que sempre as gramíneas
têm um efeito no controle das plantas daninhas superior ao das folhas largas, está certo,
isso sempre ocorre. Também a importância da
quantidade de palha, a biomassa no controle da
planta daninha, sempre nós temos um controle
de massa maior.
Resultados do Veline mostram que quinze
toneladas são capazes de controlar a Brachiaria
plantaginea (capim-marmelada) e que existe
tanto o efeito da barreira física quanto o efeito
alelopático. Quer dizer, mesmo tirando a palha,
há um controle bastante grande das plantas
76
daninhas e são efeitos físicos combinados com
alelopáticos em relação às plantas daninhas.
Vamos começar, então, com o milheto,
sem desprezar a aveia e o centeio - todas são
fontes de cobertura e usadas em momentos
pontuais. O milheto, porém, é o carro-chefe em
termos de cobertura morta na região central do
Brasil. Gostaria de considerar aqueles “18-20
milhões de hectares de plantio direto”, em vista
de boa parte estar sendo feita com uma gradagem, para incorporação do milheto. Aqueles 3
cm que o Fancelli mencionou, na miniindústria
eles são destruídos nessa operação. Então,
quanto há de plantio direto, efetivamente, não
sabemos.
O milheto, além desse problema crônico,
apresenta uma degradação muito rápida da
palhada e talvez a razão esteja aqui: ele tem
348-350 kg ha-1 de massa verde aos 55 dias
que dessecamos, então é uma palhada que não
vai ter persistência praticamente nenhuma e é o
que ocorre na realidade, por isso essa fonte não
pode ser desprezada, porém, é preciso procurar
novas fontes.
A seguir, mostramos a foto da propriedade
do Ricardo Merola, com uma braquiária estabelecida que ele está fazendo silagem; essa é a
fonte que estamos defendendo hoje, com “unhas
e dentes”, mesmo que tenha um ciclo bastante
longo - ocupa oitenta dias na área para poder
formar uma massa satisfatória e ainda está sendo a nossa vedete em termos de palhada.
O percentual de redução em um período
de 107 dias de soja, milho, arroz, milho mais
brizantha e milho mais ruziziensis, quer dizer,
vamos observar que, no setor da soja, as demais
têm muita semelhança. A velocidade de decomposição dessas palhas são muito semelhantes,
particularmente as leguminosas e as gramíneas.
Temos que ter realmente é massa, é volume de
palha para poder compensar essa velocidade de
decomposição, e isso ocorre no inverno, que é
o período de uma estação mais fria no CentroOeste.
77
A figura a seguir mostra uma opção que temos no sistema Santa Fé, que é produzi-la
consorciada, usar essa palhada, essa braquiária; já existem muitos produtores adotando esse
sistema que é a melhor forma de fazer uma cobertura de segadeira nessa safra para a frente; a
seguir, entraríamos com a cultura anual.
Não vamos quebrar a rotina do produtor e acrescentaremos mais uma utilidade para essa
área, colocando que, em algumas regiões, esse processo pode ser feito na entressafra, como é o
caso do MT, do médio e norte do Mato Grosso, em que as chuvas se alongam por um período
maior. Na figura a seguir, o exemplo da colheita desse consórcio, sem problema nenhum em
termos de queda de produtividade ou embaraço na colheita.
Só para enumerar, a biomassa de cobertura, já existe um trabalho feito em que ela
biomassa foi superior a outras fontes. A biomassa radicular talvez seja a mais próspera, pois a
indústria de raízes é muito grande pelas gramíneas forrageiras e, em particular, pela braquiária.
A matéria orgânica do solo (MOS) é difícil de se recuperar em algumas situações, e temos conseguido aumentá-la, mesmo que lentamente, em termos de propriedades físico-hídricas do solo.
Esses estudos, sua maioria muito recentes, mostram que ela melhora os agregados maiores que
2 mm, melhora-lhes a estabilidade, aumenta a macroporosidade, diminui a massa específica,
retém mais água e causa melhor permeabilidade do solo.
Cobertura morta temos bastante, mas devemos procurar espécies que permitam depurar
o ambiente e reduzir os custos e os patógenos etc.
Em trabalho recente para recuperação de fósforo, Souza mostra que a recuperação desse
elemento é o dobro quando se compara soja com braquiária e soja solteira. A dose de nitrogênio no caso do feijão são dados extremamente recentes, e já comentei com Ricardo que não
estamos conseguindo resposta de nitrogênio em áreas de palhada de braquiária em plantio
direto de longo prazo. Não posso falar de plantio direto recente, pois não testamos. No caso do
Ricardo, há mais de vinte anos e no caso de Cristalina, cinco a seis anos, e o feijão não responde
a mais de 30-45 kg de nitrogênio, uma economia fantástica de nitrogênio e pensamos até que
a Dobereiner estava certa, que as gramíneas realmente fixam uma quantidade de nitrogênio.
Na parte de biologia do solo, alguns estudos já foram feitos e temos maior atividade biológica
comparada à maioria de outras fontes.
Temos uma redução de rizoctonia, de fusário, uma redução literal, ou seja, redução a zero
no caso do Ricardo Merola, que tem uma área muito grande, altamente infestada e temos, de
acordo com Vilella, uma redução de nematóides, culminando tudo isso, com menor uso de fungicida e, nesse caso, não estamos usando o tratamento de sementes para fazer o plantio, nem
de soja, nem de feijão. Plantas daninhas, menos plantas daninhas, são poucos os trabalhos
dos quais tenho as referências e, em conseqüência disso, menos herbicida pós-emergente e
menos banco de sementes, haja visto no trabalho do Vilella: ele apresenta isso, que o banco
de sementes vem a reduzir, quando você tem dois, três anos de braquiária na sua área e foi
uma forma de mostrar os resultados que temos obtido.
E, no tocante ao rendimento de grãos, exemplos de MS, de Brasília, do MT, aumento e rendimento de soja chegando a oito sacos por hectare, ou seja, em torno de oito sacos, pois a maioria
dos resultados mostram isso e feijão também um aumento de 300-400 kg ha-1, pelo simples fato
que temos a braquiária como cobertura morta e aumento também do sorgo sobre palhada de
braquiária igual do milho, pois foram poucos os trabalhos executados e aumento também no
arroz em terras altas em função da palhada de braquiária. Manejo no convencional tem que ser
bem feito, conforme se vê na figura seguinte na fazenda Mandaguari (MG), dois anos de presença
78
de braquiária na área, só que ali há um detalhe,
vocês estão observando este verde.
Esse produtor, longe da pesquisa, não
mata braquiária, reduz o crescimento, faz uma
subdose durante o crescimento da soja e do feijão, colhe o grão e ela volta normalmente e fecha
totalmente a área. O produtor de Uberlândia é
um descendente de holandeses, faz a cama verde. Vê-se na figura abaixo a semeadura de feijão
em cima de palhada, o que cria uma barreira
física extraordinária, tanto para doenças como
para plantas daninhas.
Nas figuras abaixo, exemplo de plantas daninhas em uma área que tinha a braquiária e,
na direita, só milho, meia dose de Flex que a braquiária, no primeiro ano, praticamente dizima
a folha estreita; a folha larga, porém, reduz bastante, mas sempre volta, o leiteiro volta, a trapoeraba desaparece em ambientes com braquiária.
Observam-se os efeitos de duas doses de flex seqüenciadas e meia dose de Flex. São
aplicações experimentais e temos em cima do pivô, a testemunha, em baixo, a braquiária, a
testemunha; a braquiária e a corda-de-viola e a testemunha; observa-se que trapoeraba praticamente não existe.
79
Na área vista na figura seguinte, usaram-se 4 L ha-1 de glyphosate na dessecação e nesta
outra, 4 L de glyphosate mais um de 2,4 D–amina, mais os pós-emergentes que, com certeza vai
precisar e, assim, será uma dose ou meia dose de folha larga ou estreita, dependendo da área.
Vemos, a seguir, exemplo de uma parcela com braquiária e uma sem: foi um trabalho
de tese e observa-se inclusive, o desenvolvimento do feijão, o ciclo fica mais uniforme e sem
braquiária, pois se situa naqueles níveis considerados ótimos sob pivô e a fertilidade não está
nos níveis ótimos.
Comparem-se as parcelas com e sem palhada de braquiária, com herbicida pós-emergente e sem herbicida pós-emergente, a lavoura, às vezes, fica um pouco feia com palhada de
braquiária, sem herbicida e com herbicida, com meia dose de Flex (nome comercial).
Com apenas meia dose de Flex, na colheita do feijão, observa-se a quantidade de resíduo
que permanece na superfície.
A figura seguinte mostra soja no Mato Grosso, sem pós-emergente, porém em palhada de
mombaça, em que foi feito dessecamento com glyphosato sistêmico, plantou-se a soja e, a seguir, entrou-se com o Paraquat, para poder derrubar, pois esse Panicum estava mais alto que a
soja, então com o Paraquat, normalmente, ela acama; eu evito um pouco esse comportamento,
apesar de que essa soja acamou também um pouco.
Nas plantas daninhas da figura abaixo, por exemplo, o leiteiro, onde há palha, tem sua
infestação reduzida de 52 para 14 %, o caruru de 30 para 6%, o colchão, de 7,5 para 2,2%,
80
assim por diante, dependendo da fonte da palhada de que foi feito: soja com braquiária, milho
com braquiária.
Elaine Bahia Wutke - IAC
Quem trabalha com leguminosas, especificamente com adubação verde, sabe que há muita demanda na nossa seção de um segmento que não vemos ser muito discutido em Fórum de
plantio direto: o de orgânicos. Temos, mesmo, uma demanda de produtores que querem aderir
e fazer em plantio direto, o sistema orgânico; então é um desafio, pois muita coisa dentro de
SPD, como é o caso de controle de infestantes, seria um ponto a ser bastante estudado, pois
já se eliminaria a adição de herbicidas. Há algo mais também a ser considerado dentro dessas
espécies, pois em São Paulo, embora tenhamos estudos para o zoneamento adequado, além
de ter uma diversidade climática e uma predominância de leguminosas de verão, ainda temos
pouca opção para o outono-inverno, e então há uma opção maior de gramíneas.
Assim, além do aspecto de sementes, de fitossanidade na parte de doenças ou pragas, é
um fator a considerar e algo que eu coloco porque esse desafio dentro do sistema de produção
orgânica é algo que eu acho que deva ser considerado.
81
Discussão da Mesa Redonda
Denizart Bolonhezi – Apta/Ribeirão Preto
Senti falta aqui de informações no tocante à entomologia. Fizemos levantamento em ensaios de espécies de cobertura e a atração de inimigos naturais é bastante variada, conforme
as espécies avaliadas e não de inimigos naturais, mas também de insetos-pragas que estarão
convivendo com a cultura posterior. Então, penso que em um próximo evento vale a pena trazer
alguém da área de entomologia para contribuir nesse sentido e aproveitar a oportunidade que a
Elaine comentou de cana-de-açúcar, mas a cana crua colhida sem queimar quebrou muito paradigma da cana-de-açúcar em São Paulo e as usinas que estão adotando a produção orgânica
de cana tiveram que conviver com essa questão da sanidade muito rapidamente e criaram-se
até linhas de conceito do que se deveria fazer. O que a gente tem visto na prática, as usinas que
fazem cana orgânica convivem com um volume estrondoso de palha, quase é uma monocultura, pois é interrompida por apenas 120 dias depois e fica com cinco anos de cana. E como
eles controlam a cigarrinha? O maior problema no início é a cigarrinha, pois hoje convivem com
o controle biológico. Existem ferramentas nas áreas básicas tanto de controle de praga como
de doença que o Almeida comentou do trichoderma, já com produtos biológicos. Você pode
lançar mão só que para o SPD. Hoje há usina fazendo o monitoramento de metharrizum para
cigarrinha. Ele faz o monitoramento de dano e entra com o controle, não fazendo em momento
algum sem necessidade. E aqueles que não querem esperar, logicamente os resultados não vêm
num primeiro momento. Uma cana que ficou em sistema convencional todo o período não vai
ter uma atividade biológica que favoreça o controle. Então o metharrizum não vai ser favorável
no início; ao longo do tempo, os resultados são favoráveis e as usinas não querem mais adotar
inseticidas. Eu acho que há variantes de acordo com o consultor que vai dar palpites ou que
exerce influência lá, aí acabam as empresas funcionando e usando os inseticidas, os nicotinóides para o controle da cigarrinha. Então a questão é aproximar mais o pessoal da agricultura
orgânica e, principalmente, na área de hortaliças que o apelo é maior pois os produtores tiveram
que conviver no controle fitossanitário com produtos alternativos mediante o protocolo a ser
considerado dentro do sistema. Acho que está faltando mais comunicação entre as áreas. Existe
um acervo de informações que poderia ser passível de aplicação em SPD.
Ricardo Ralisch – UEL
Com relação ao assunto dos orgânicos, gostaria de citar dois exemplos, a título de ilustração. Minha parte é o que acontece no sudoeste do PR, que a Maria de Fátima Ribeiro coordenou
ou coordena um projeto com plantio direto com atividade orgânica na região e tem a SPTA,
União da Vitória no PR, que tem toda uma relação com Agroecologia da qual estamos participando num projeto e adoção do plantio direto em comunidade, muito interessante. Eu tive
oportunidade de fazer duas visitas técnicas, e há um vasto campo para explorar os conceitos e
bem pertinente.
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Ivo Mello – FEBRAPDP
Vou colocar uma experiência nossa. É “achologia”, pois eu sou produtor e ficaria constatado só na nossa propriedade, já que estou fazendo vinte anos de safras de arroz irrigado e
vamos fechar treze anos sem aplicar uma gota de inseticida numa área contínua de 600-800 ha
de arroz irrigado sem rotação. Área contínua. E um pouco disso a gente credita ao fato de fazer,
desde 1983, plantios diretos nessa propriedade e simplesmente foi a aplicação dos conceitos dos
centros de excelência, que postularam o que se chama de manejo integrado de pragas; o pessoal
faz isso há dezoito anos e não estava publicado, eu vi algo num congresso no início da década
dos 90s, na Colômbia, em uma reunião de arroz e manejo integrado de pragas, dizendo que
já fazia há alguns anos, e realmente com aperfeiçoamento e aprendendo mais, colocando mais
energia nisso; o fundamental é o seguinte, quanto menos distúrbios fazemos no meio ambiente,
a natureza ganha mais em biodiversidade e passa a ter mais inimigos naturais e a gente atribui
isso também ao plantio direto, porque no solo deixando mais palha há mais alimento para que
a cadeia trófica possa desenvolver, pelo menos essa é a idéia que a gente traz.
Eu queria comentar também em relação a uma coisa: seria interessante que nós não fiquemos só nesta reunião, pois a federação é parceira para isso e me coloco à disposição para que
continuemos parceiros juntamente com o IAC e a Fundação Agrisus; que continuemos fazendo
essa reunião para que possamos informar-nos mutuamente e integrar o conhecimento do que é
SPD e tecnologia em SPD na palha; sugiro que, no próximo encontro, discutamos o conceito de
sustentabilidade, porque acho que é fundamental, quando estamos trabalhando os desafios de
atender ao que a sociedade demanda, pois na realidade, foi um urbano que disse que a gente
tem que ser sustentável e vocês são até um pouco mais urbanos que eu, mas trabalham com
desenvolvimento de tecnologia para quem povoa áreas rurais, para quem gerencia recursos
naturais, como eu, que sou gerente de recursos naturais: deixei de ser agrônomo, e já me classifico como gerente de recursos naturais. E as pessoas que nos desafiaram a ser sustentáveis,
grande parte delas são urbanas e a internalização dos conceitos para que a gente possa ter uma
interlocução de igual para igual e a gente cumpra leis, legislações ambientais, são realmente a
sociedade urbana, eu diria que isso fosse internalizado pelo grupo que fosse foco de discussão
em um workshop sob a forma de painel só sobre isso, para que se pudesse trabalhar mais nessa
área de conceito e trazer todos esses conceitos, pois vocês são especialistas, já que a maioria dos
centros de excelência tem alelopatia, como já foi lembrado. Você sabe que existe, mas pratica
pouco, vamos dizer assim de uma forma mais integrada, associando na nossa atividade e também colocar assim que o Dr. Ricardo Ralisch tem uma conceituação, é uma provocação pública
para nós que somos protagonistas do SPD na palha, que o Bartz foi lá no EUA aprender como é
que o americano fazia, trouxe para cá e acabou realizando essa revolução na América do Sul, e
depois expandiu para o resto do mundo, hoje reconhecido pelo Banco Mundial e pela FAO para
qualquer plano de fomento. Que o grupo aproveitasse para fazer uma conceituação do que é o
SPD nas regiões do Brasil, mas também com suas características regionais. Obrigado.
Antônio Luís Fancelli – Esalq/USP
Eu queria levantar alguns pontos que foram debatidos e discutidos pelos colegas e lembrando alguns aspectos. A alelopatia, do jeito que está sendo colocada, eu não entendi bem,
mas o pessoal está considerando como uma coisa específica. Então o termo alelopatia é genérico, pois qualquer interferência de um organismo sobre o outro, de uma forma ou de outra,
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química, é conhecida como alelopatia e temos várias formas e determinações específicas dentro
desse enfoque alelopatia. Tanto assim que, hoje, o pessoal da área de plantas daninhas, sabe
melhor que a gente que não se fala mais mato-competição, separando entre uma coisa da outra.
Da mesma maneira em termos de organismos e plantas, microrganismos, assim por diante,
esse efeito alelopático é extremamente importante e é a base da territorialidade; então, todos os
seres vivos e todos os organismos vivos trabalham em função disso, para se estabelecer, para
se multiplicar, como efeito de colonização; é básico e, durante muito tempo, negligenciamos
aspectos desse tipo e estudávamos de forma isolada os fenômenos. Outra coisa que temos
que tomar um pouco de cuidado: somos levados a resultados interessantes, partindo então,
para generalizações, isso é uma “coisinha” que temos que nos policiar bastante, em termos de
generalização, porque trabalhamos com vida; assim a coisa pode ser um pouquinho diferente
e tem-se que tomar mais cuidado. Também concordo plenamente com o Ciro que devemos
estudar um pouco mais de bioquímica, em termos de princípios básicos, de fisiologia de plantas
etc. e tal, esquecendo, muitas vezes, de ir ao detalhe. Lembraria, também, que a gente precisa
ir um pouco mais para o campo, fazer um pouco mais de observação do que a natureza está
nos mostrando para tentarmos entender o processo de maneira holística, de maneira global, e
é exatamente isso que, acatando o que o Álvaro nos disse, vamos ter que trabalhar de maneira
mais integrada.
O plantio direto, por exemplo, para entendê-lo bem, só vai ser possível se trabalharmos
com visão de sistema de produção, uma visão sistêmica, uma visão holística, pois, de forma
pontual, vai ficar difícil de prossegir, continuaria numa colcha de retalhos, onde uma estampa é
completamente diferente da outra e não se combinam, então precisaríamos ter um pouco mais
de estudos integrados.
O último aspecto que gostaria de lembrar: foi falado de pragas, de doenças etc.; dessa
forma, o SPD ou o SSD, a base da estabilidade do sistema é diversidade, com condição tropical
ou subtropical; os fatores que regem a vida são interações bióticas, então é preciso diversidade,
não adianta nada trabalhar com SPD e termos só uma cobertura, pois vamos cair na mesma
coisa, tal é o exemplo do MS que ficou muito tempo só em cima de milheto, aumentando, assim,
problemas de percevejo, de lagartas; então, a biodiversidade é extremamente importante, é
preciso trabalhar em cima disso, diminuindo o problema de pragas, doenças e tal, porque se
deve lembrar os princípios básicos de ecologia, identificando organismos que são os estrategistas
R e os estrategistas potássio. Fica impossível imaginar que, em determinada lavoura de milho,
não há nenhuma lagarta-do-cartucho, ela precisa estar aí, da mesma maneira determinados
microrganismos, fusário e rizoctônia. Porquanto, em determinadas vezes, esses organismos os
estrategistas R, precisam preparar o ambiente para quem vem depois, o estrategista potássio,
e aí toda vez que perturbamos o ambiente, de forma significativa, predomina o estrategista R,
pois, no ambiente perturbado, só há condição de tê-lo e, dentro dessa linha de estrategista R e
estrategista potássio, teríamos que lembrar também do equilíbrio nutricional: quando uma planta está em desequilíbrio nutricional, logicamente, há possibilidade de ocorrer mais patógenos,
mais microrganismos e assim por diante. Então, ocorre lembrar um pouquinho da famosa teoria
da trofobiose.
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Elaine Bahia Wutke - IAC
Obrigada, Fancelli, só aproveitando uma carona no que ele disse sobre a biodiversidade,
que a gente não caia na monotonia dentro do plantio direto, assim como já teve o ciclo do café,
do algodão, da cana que já foi e está voltando, do trigo, do milheto e, mais recentemente, da
braquiária. Então, fica-se em cima só de uma cobertura e o necessário seria maior diversidade
de culturas. Passo, então, a palavra para o João Kluthcouski.
João Kluthcouski – Embrapa Arroz e Feijão
Eu acabei me esquecendo de que no ano passado foi lançado o livro integração L & P,
que, na verdade, deveria chamar-se Plantio Direto e Integração L & P, porque tudo aqui que diz
respeito às culturas relaciona o plantio direto, então a parte de pecuária, relativa ao desempenho
animal, é menor e se entende mal dentro dessas possibilidades de integração que já existe e eu
nem sei se ainda tem, porque parece que a Elaine não encontrou, mas esse livro já existe, ele foi
reforçado. Elaine, a sua preocupação com pragas aqui não existe nenhuma linha e apesar de,
no sistema plantio direto, existir muita informação prática, eu recordo que, lá no nosso Centro,
temos a Eliane que trabalha com manejo integrado e tem uma série de trabalhos publicados e
uma série de fazendas que ela monitorou; das fazendas que ela monitorou, uma foi do Ricardo e
até houve uma pequena aposta, pois o Ricardo falou: você me paga o prejuízo e usava quatro a
cinco aplicações e passou a usar uma aplicação e um ácaro que ocorreu porque era ilhado pelo
algodão precisou de um acaricida.
A produção de grãos está muito baseada no uso energético e não por pressão da pesquisa,
mito mais por pressão dos “vendedores” e é claro que interessa a eles isso aí, então nós temos
que dar uma resposta contrária em termos de doses e tecnologia de aplicação. Temos visto, hoje,
também o uso do Nim no controle de pragas, e ele é efetivo, por exemplo, nos mastigadores, na
grande maioria com 90% de controle ou mais, havia vaquinha, mosca-branca, lagarta, estava
dentro do quadro dos orgânicos, recomendados por esses produtores, sendo isso um aspecto
que não se explora e o Nim é uma planta que tem uns cinco a dez milhões de plantas em estado
de produção de sementes aqui no Brasil e eu gostaria não sei se é o momento, como eu conheço
um pouco Marília, de saber do projeto que é desenvolvido pela CATI e pelo IAC, com parceria
bastante participativa, abrindo áreas com plantio direto. Eu considero que o plantio direto, no
meu pequeno conhecimento nesses três anos, do que é um plano de difusão de sistema, é juntar
essas peças que estão na Unesp, na Esalq, em Botucatu, criar um sistema e validá-lo. Queria
lembrar ainda, que no momento que estivermos difundindo, isto é, criando e difundindo, tudo
melhora.
O que fizemos para melhorar o desempenho de arroz e feijão dentro do cerrado foi cansativo, trabalho de fazer, pelo menos, duzentas unidades demonstrativas, diversos solos, foram
dez ou mais dias de campo. O produtor, quando se trata de sistema, só acredita vendo; setenta
por cento usa o sistema desde que veja um dia de campo, ele não confia em papel nem em
palavra, pois quando é uma nova variedade é mais fácil usar, então eu não acho, não sei se isso
seria um princípio e eu vejo a Alta Paulista com seis milhões de hectares precisando de alguma
coisa porque lá o pasto está bastante degradado e talvez essa fosse uma tentativa que tenhamos
dentro do programa uma validação para fazermos transferência para o produtor.
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José Eloir Denardin – Embrapa Trigo
Eu só queria fazer um comentário pelo sistema Santa Fé, plataforma asiática, mediterrânea
e América latina. O projeto da União Européia visa à tecnologia da América Latina, nós fizemos
um banco de dados que será liberado a partir de março do ano que vem. E quando escrevemos
sobre o Santa Fé, embora o plantio direto tenha nascido numa região de clima temperado, acho
que já passou a perna no de clima temperado. Esse esquema de entressafra foi de passar a perna no mundo inteiro e porque na realidade você não tem um período de plantas exclusivamente
mortas, com três cultivos no ano inteiro. Então, a repercussão disso aí foi sensacional e vai ser
espetacular quando surgirem mais resultados, pois ainda estamos num grupo restrito de pesquisadores. Então, realmente, é algo relevante do ponto de vista de agricultura no mundo, quando
se observa o que está acontecendo aqui no cerrado brasileiro e a gente não sabe o potencial
disso, parece que há uma barreira aí do rio Paraná. E a maioria dos países da Europa também
têm seis meses sem chuva, quer dizer, a mesma situação. A Austrália também tem seis meses,
então eu posso colocar o porquê das coisas, que nós estamos correndo atrás, mas de qualquer
forma o processo está aí e está dando exemplo para o mundo inteiro. Eu gostaria de chamar a
atenção em um aspecto que percebi aqui: foi o que o Álvaro colocou que, no plantio direto, dá
para controlar doença. Até pouco tempo, a fitopatologia colocava que o plantio direto era um
problema e não era solução; havia gente que trabalhava contra isso, poderia achar defeito para
ponderar os processos, pois fazia tempo que eu não via uma palestra deste jeito, onde se procurou soluções e não problemas e o terceiro aspecto foi em relação ao que falou sobre máquina.
Jamil falou sobre palha. No plantio direto, a semeadura na linha, essa cama para semente tem
que existir, sendo preciso depositar semente no local adequado; sendo muito sensível, pode
ficar no meio da palha entre um poro e outro muito grande, e então as máquinas têm que estar
preparadas para isso, fazendo uma cama muito grande, mobilizando o solo na linha, pois é uma
questão especial, como os discos de cortes que deixam duas paredes espelhadas, pelo teor de
argila especialmente, pois não aparecem nos solos mais arenosos e a gente tem certeza: isso
acontece porque aquele local não é favorável para a semente germinar. Então, a boa máquina
tem que retirar a palha do lugar, preparar a linha de semeadura, depositar a semente e depois
cobrir o local. No momento em que essa semente ficar no meio da palha misturada com terra,
não terá uma germinação eficiente e nem padrão de lavoura que vocês querem, sendo isso uma
questão que tem que ser observada. Comentamos que a indústria de máquinas agrícolas é muito
relutante nesse ponto, pois parecem muito donas de si e resistem muito a essas mudanças, não
querem mexer, relutam, falando sempre que isso custa caro, mexer com material de mecânica,
teoricamente para cada condição você teria um tipo de máquina diferenciada; isso é possível
porque, para cada condição, você tem um tipo de situação, então o genérico não vai funcionar;
vamos dizer que máquina ou semeadora não se compra na vitrina, compra-se na lavoura, tem
que fazer que o empresário leve até você, para testar qual é o melhor kit. Ainda mesmo assim,
temos problema, pois para plantar milho é uma coisa, para plantar soja, braquiária, é outra, e
para milheto é outra diferente, então há muito conhecimento agronômico nesse processo para
se fazer um belo trabalho.
Esses aspectos de palha-máquina, eu acho que é a essência, então essa preocupação que
o Jamil colocou: o que posso perder se tiver muita palha? Eu gostaria de colocar que é assim,
eu acho que a palha na superfície é importante para conservação do solo e redutora da erosão,
então eu não preocuparia se vai reduzir 2 ou 3% de sacas de soja por hectare e até não ganhar
nada ou ganhar dez sacos, eu me preocuparia mais com a redução da degradação física e com a
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melhoria de aspectos biológicos e a redução de custos. Tenho que saber quanto estou perdendo,
quanto estou deixando de perder e deixando de ganhar e isso significa ter um plano-base, e
isso será um modelo destinado ao agricultor. Então eu vejo essas preocupações como coisas de
reflexão com o que devemos fazer no SPD. Obrigado.
Elaine Bahia Wutke - IAC
Obrigado, Denardin. A seguir passo para o Marcos Palhares que estava inscrito e, depois,
a seguir, o Ricardo.
Marcos Palhares – Monsanto
Eu gostaria de perguntar ao Almeida, com relação a fungos necrotróficos de solo, se existe
alguma coisa em andamento para a cultura do milho. Esses fungos necrotróficos, diplódia,
cercóspora, na mesma linha de trabalho.
Álvaro M. R. Almeida – Embrapa Soja
Pois é, eu vou ter que lhe pedir desculpas, pois talvez esse seja um defeito da instituição
em que trabalho. Eu entendo um pouco de soja. Mas eu vou pegar o seu e-mail que está aqui
na citação e pedir para o colega da Embrapa milho e sorgo entrar diretamente em contato com
você e ele entra em contato com você, que exporá seu problema. Está certo?
Ricardo Merola – Fazenda Santa Fé
Bom, eu fiquei pensando bastante sobre o que o pessoal falou no período da tarde: aquele
questionamento de que o plantio direto traz doenças, pragas, em número maior que o convencional. Será que isso é verdade? Raciocinando, pensando que talvez fossemos culpados por tudo
isso, cheguei à conclusão de que o maior problema que estamos enfrentando no País é a falta de
calendário agrícola para fazer agricultura regional, para todo o mundo plantar em determinada
época. O que está acontecendo é que no plantio direto o produtor alargou a faixa de plantio,
pois, assim que chove 20 mm, ele conserva a umidade do solo por um período muito longo e depois chove novamente; pode-se observar, no mesmo município, milho germinando e milho florescendo; isso, portanto, tem ocasionado essa proliferação intensa de pragas, de doenças, além
do problema sério da safrinha, pois nós estamos colhendo milho e já está o vizinho plantando
milho de novo. Penso que o Governo, os técnicos deveriam fazer um calendário para o agricultor poder respeitar isso aí, como se faz com o algodão, com o problema do bicudo. Conversando
com amigos, verifica-se que a maneira mais fácil de se introduzir esse calendário agrícola é a
pressão econômica em cima do Governo, pois a agricultura brasileira está literalmente quebrada
de norte a sul, então o governo vai ter que entrar com seguro agrícola total, não só o que é feito
no banco, vai ter que fazer o seguro da lavoura. Se o produtor perder a lavoura, tem que ser
ressarcido. Se ele vai ter que ressarcir, a Embrapa já tem zoneado cada município, ele vai ter que
plantar no período ideal de cada cultura que possa ser assegurada. Então é o primeiro passo
para que o seguro agrícola permita a menor proliferação dessas pragas. Essa é minha idéia da
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questão e eu acho que é o único caminho. E outra coisa que nós temos que alertar os nossos
dirigentes é que com a globalização da economia, temos a política de preço mínimo como era
no Governo militar. A política de preço mínimo tem que existir, pois a agricultura brasileira, sem
essa característica e o seguro agrícola, está fadada ao insucesso, a desaparecer, e estou dizendo
isso porque onde eu moro, no Centro-Oeste, a situação está muito pior do que vocês pensam.
O produtor está devendo na média duas safras. Muito obrigado.
Elaine Bahia Wutke - IAC
Obrigado, Ricardo, antes de passar a palavra para o João, o Álvaro quer fazer um
comentário.
Álvaro M. R. Almeida – Embrapa Soja
Eu quero comentar com o Ricardo: nós temos grosseiramente falando aqueles organismos
que se conservam, naqueles que conseguem sobreviver como aquele que já morreu e aqueles
que necessitam de tecido vivo para viver. O que você comentou, e a maior parte do que você
comentou, os plantios escalonados nem nas microrregiões funcionam, principalmente por causa
da ferrugem da soja, que é fungo que necessita do tecido vivo, com sua ausência morre rapidamente. Sobra para nós naquele triângulo que eu mostrei de relação patógeno-hospedeiro, o
único que não podemos mexer é o ambiente. Por isso, jamais será possível fazer um escalonamento de plantio bem curto de modo que evite esse problema com um na pré-colheita, outro na
colheita, outro já semeando, não há jeito. Com relação ao plantio direto, realmente é verdade,
a grande maioria de fungos preservados em restos de culturas, isso é natural, nós temos esse
estudo também. Sobrevivem mais quando os restos de cultura são deixados na superfície. Só
o enterrio é capaz de diminuir bastante todos eles por causa da mineralização normal e a competição que existe no próprio solo. Por isso é que o plantio direto, na maioria dos patógenos,
favorece a infecção. O exemplo mais típico, Ricardo, é com a cultura do trigo, tanto é que a mais
bem estudada com relação a esse aspecto. Então eu queria resumidamente falar sobre o que
você levantou aí.
Elaine Bahia Wutke - IAC
Eu gostaria de passar para João posteriormente, ou para o Jamil, Jamil!
Jamil Constantim – UEM
Eu gostaria de deixar bem claro para vocês a parte da palhada. O que eu coloquei que
ela é necessária, mas o dilema é o seguinte: se você formar uma palhada boa, tudo bem, mas
o problema é o manejo dessa cobertura, se manejar vinte dias, antes, você perde o tempo que
essa cultura vai ficar protegendo o solo; se você errar o manejo, vai cair a produtividade, então
temos que ver qual o melhor manejo para chegarmos a esse meio termo. A palhada é essencial,
mas seu manejo para a cultura posterior é essencial ao agricultor.
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João Kluthcouski – Embrapa Arroz e Feijão
O Professor Denardin me chamou a atenção para a integração, pela qual eu tenho uma
paixão muito forte, pelos resultados no Centro-Oeste, e pelo que vemos em outros locais. Já vi
muitos trabalhos realizados na região de Paranavaí (PR), cuja integração com um molde diferente está sendo feito com um sucesso muito grande, nas cooperativas principalmente (Cocamar).
No manejo dessas plantas, porém, é que se tem que pensar de modo diferente. Por exemplo:
os Panicum, de forma geral, são de difícil manejo para plantio direto, exigem uma dose quase
que dobrada dos dessecantes e nem sempre têm um controle efetivo. Quem for entrar por
exemplo no sistema Santa Fé, onde entram as forrageiras todo o ano e entra o grão, Panicum e
Andropogon, devem ser duas espécies que merecem cuidado. No tocante à decumbens, nunca
trabalhamos. Trabalhamos um ano só lá no Ricardo, porque ela tem o problema da alta suscetibilidade à cigarrinha, e inclusive na apresentação do Jamil, fiquei preocupado, porque nunca vi
resultado negativo com braquiária, e nós temos apresentado um quadro do Bloch com decumbens que mostra que é menor com relação à cobertura realmente. Então há um diferencial como
cobertura, com relação às espécies.
Com a ruziziensjs, a mais fácil de trabalhar, o pessoal tem conseguido os melhores resultados de grãos e o melhor desempenho na dessecação, doses normais sem problema nenhum e
melhor cobertura do solo. Só que ela é um pouquinho inferior, ou um pouco inferior à brizantha
em termos de uso para a sustentação animal: essa, se mal dessecada, se a planta estiver em
estresse normalmente temos que aumentar a dose para 4 L ha-1, como nós normalmente usamos
e até acima da dose do glyphosate original. Então a preferência do agricultor e do pecuarista
é por brizantha: mas a opção que eu diria que as duas melhores brizantha ou ruziziensis, uma
mais ao lado da cobertura, outra mais utilizada pela pecuária no período seco, com grande
vantagem, quando a braquiária é de primeiro ano, ela permanece doze meses do ano verde,
então podemos pôr fim à questão de confinamento que está ficando cada vez mais caro, “boisanfona”, e nós temos ganhos de 500-600 gramas na seca de animal/dia com lotação de 2,5
UA e áreas agrícolas. O Ricardo mostrou braquiária que já teve lotação 4-5 UA. Que são áreas
realmente, e eu gostaria de usar uma expressão antiga.
A braquiária, em 1960, veio salvar a pecuária brasileira, a partir dessa década agora ela
vai ajudar muito nas culturas de grãos em função dos inúmeros benefícios e quanto mais se dá
condição para ela crescer bem adubada, numa área fértil, melhor produz. Obrigado.
Ricardo Ralisch – UEL
Eu gostaria de me manifestar sobre o que Ricardo Merola comentou, sobre o contexto agropecuário brasileiro e acho pertinente, pois no momento em que estamos discutindo a
complexidade do plantio direto e com a abrangência que tem no País, é inevitável vincularmos
atividade da Pecuária e da Agricultura, etc. Então, nós temos que discutir técnicas práticas,
aspectos pontuais do plantio direto e evidentemente, temos que discutir conceito da atividade
agropecuária brasileira. Acredito que não seja este o momento, mas acredito que cada um de
nós pode refletir um pouco sobre isso. O que está acontecendo, quais são as tendências brasileiras diante do panorama mundial, estamos dando uma migalha, a promessa de uma migalha
nos países em desenvolvimento. Acho que é bastante pertinente que levemos em consideração,
porque isso acontece da posição confortável, de não ser agricultor, não é, manifesto-me dessa
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forma, particularmente acho que a agropecuária brasileira vem se desenvolvendo bem porque
tem muita independência do setor político, então, apesar disso ser bastante difícil e sacrificante,
o agricultor também cria competências interessantes, e não é só competência do agricultor que
tem, é só uma competência do agricultor, é dele do sistema que está muito bem representado
nesta sala. O agricultor, com suas instituições de ensino, com suas instituições de pesquisa, com
a extensão oficial ou não oficial etc., penso que é um enorme potencial da agropecuária brasileira, no contexto mundial apesar de termos dificuldades do cenário não muito animador pela
frente, tenho a impressão que talvez até o próprio plantio direto seja o exemplo disso, como essa
capacidade das pessoas e do sistema todo de achar as soluções e resolver os problemas, acho
que a organização dos agricultores e dos produtores propriamente ditos, não só agricultores,
mais pecuaristas. E há muita gente no mundo com medo disso. O plantio direto já deu mostras
do potencial de exploração de uma região que era considerada de pouco potencial produtivo,
que é o Cerrado, o próprio PD deu exemplos de soluções duráveis para intensificar a produção
no contexto mundial, existe um temor muito forte no cenário agropecuário mundial sobre o
sistema produtivo brasileiro que pode ser um diferencial no contexto mundial.
Elaine Bahia Wutke - IAC
Obrigada, Ralisch, antes de finalizar e passar a palavra para Sonia, só para pegar uma
observação do Ricardo, é que realmente, em termos de calendário, particularmente a gente
que vivenciou alguma coisa durante seis ou oito anos na cultura do feijão, tentando fazer um
zoneamento climático mais adequado, não só com base em produtividade, mas também em
epidemiologia, que pudesse dar um embasamento maior em relação a essas orientações em relação à fitossanidade da cultura, seja em plantio direto, seja em convencional. Às vezes, a gente
é convocada a participar das comissões técnicas da Secretaria e vê a recomendação técnica ser
barrada por algum interesse político regional e aquela informação não passa, então eu acho que
é um Fórum como este, para que uma decisão técnica dê um respaldo para orientação e não
simplesmente achar que pode, deve, não é isso, então às vezes acontece isso, a gente se sente
frustrada muitas vezes. Quero passar a palavra para Sonia agradecer a sessão. Muito obrigada!
Comentários nessa Mesa Redonda II:
Elaine Bahia Wutke/IAC: como os sistemas de produção orgânicos podem ser adequadamente adaptados em PD, quando não foram contemplados nas apresentações nem nos debates?
Como proceder, já que não se pode utilizar herbicidas e outros defensivos químicos, como
fungicidas, inseticidas, acaricidas e nematicidas químicos?
Denizart Bolonhezi/Apta Ribeirão Preto: na cana-de-açúcar orgânica, por exemplo, utilizase o Metarhizium ao longo do tempo, para controle de pragas, com efeitos favoráveis e redução
da sua incidência. Em hortaliças, onde o sistema orgânico é mais conhecido, faltam informações
a respeito.
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Ricardo Ralisch, UEL: o IAPAR tem um projeto interessante em produção orgânica e a
AS-PTA tem estudos a respeito.
Ivo Mello, presidente da FEBRAPDP:
- na Mesa Redonda faltaram comentários sobre pragas: falou-se mais de doenças e de plantas daninhas;
- por ser produtor: filosofia do “achismo”:
- quanto menos distúrbio, mais biodiversidade na natureza, mais palha e mais condições de
cadeia trófica;
- programação de mais reuniões em parceria, como esta, com a FEBRAPDP;
- Sugestão: discussão sobre o conceito de sustentabilidade, já internalizado no grupo, com a
criação de um painel exclusivo sobre o assunto.
Antonio Luiz Fancelli, ESALQ/USP:
- alelopatia: não entende como específica e sim como genérica;
- base da territorialidade que foi negligenciada → estudo isolado;
- não se fala em alelopatia como mato-competição;
- cuidados com generalizações a partir de poucos resultados;
- concorda com os estudos bioquímicos mencionados pelo Prof. Ciro Rosolém, mas insiste em
que se deve ir mais ao campo para observações na natureza e conseqüente entendimento do
processo;
- deve-se trabalhar integradamente;
- PD ou PC → a base da estabilidade é a diversidade que, em regiões tropicais, rege-se pela biodiversidade;
- necessários mais estudos conclusivos sobre desequilíbrio nutricional.
João Kluthcouski, Embrapa Arroz e Feijão: aumento do uso do Nim para controle dos
mastigadores: “unidades demonstrativas”.
José Eloir Denardin, Embrapa Trigo:
- comentários sobre o sistema “Santa Fé”;
- menção sobre condições da região Oeste de São Paulo; sem chuva, a partir de final de março;
países europeus, Austrália e Ásia também têm 6 meses sem chuva;
- PD = PC na linha → semente “na cama” → adaptação das máquinas → mobilização na linha →
indústria de máquinas para semeadura na palha.
Marcos Palhares, Monsanto: fungos necrotróficos! Há algo para milho ???
Ricardo de Castro Merola, Fazenda Santa Fé:
- PD traz mais doenças, pragas etc.?
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- O maior problema é a falta de calendário agrícola regional, porque aumenta o prazo para semeadura (tem milho novo, milho mais velho etc. uma confusão!)
- Governo → incentivar e incrementar o seguro agrícola e zoneamento para evitar proliferação de
fitopatógenos; estabelecer política de preços mínimos.
Álvaro M. R. Almeida, EMBRAPA Soja: o ambiente é o único fator que não pode
ser alterado; a grande maioria dos fungos nos restos de culturas sobrevive mais quando
deixada na superfície (enterrio: maior mineralização); na cultura do trigo, tem-se aumento
das doenças no PD.
Jamil Constantin, UE Maringá: o manejo da cobertura ainda é um dilema!
João Kluthcouski, Embrapa Arroz e Feijão:
- a integração “lavoura-pecuária” é uma solução → o manejo das plantas deve ser bem
pensado antes: Panicum, por exemplo; Brachiaria ruziziensis é a mais fácil de trabalhar, mas
é pouco inferior à B. brizantha (está em 80% da área com braquiária) para sustentabilidade
animal!
Ricardo Ralisch, UEL: temos que discutir práticas pontuais e o contexto da agropecuária
brasileira.
Opinião dos participantes
• Rotação de culturas; diversificação e escalonamento de épocas de semeadura; ampliação do conhecimento relativo à supressividade (competitividade, quebra de ciclo devida, corte
de substrato...), alelopatia (física e química) antagonismo... de espécies “casm” e de cobertura;
qualiosor de semente; controle biológico; manejo integrado.
• Intensificar os estudos das relações entre as diferentes biomassas e ocorrências de pragas,
doenças e mato; monitorar as ocorrências para formação de um banco de dados s/ incidências
de pragas doenças e mato nos sistemas
• Limitações: falta de conhecimento em técnicas de manejo de mato; falta de conhecimento em técnicas de prevenção de doenças. Necessidades: pesquisa focada na “teoria da
trofobiose”; pesquisa com coquetéis de plantas.
• A rotatividade de moléculas herbicidas pós-emergentes, principalmente na cultura de verão é de extrema necessidade para diminuição do banco de sementes; tratamento de sementes,
estudar nodulação, se é necessário o fungicida em regimes hídricos s/ veranico.
• Problemas com resistência de plantas daninhas à herbicida; pesquisa mais intensa com
mistura de princípios ativos.
• É necessário conhecer um pouco mais sobre a quantidade e qualidade da palha e as
interações com a microbiota do solo, principalmente sobre as interações simbioticas.
92
• Novos métodos de controle de doenças de solo antagonistas.....; reforço no entendimento
e controle de pragas de forma integrada.
• Controle de plantas daninhas pela palha e suas conseqüências para as culturas subseqüentes.
• Manutenção e aumento de população de antagonistas; efeito do manejo de espécies
consideradas daninhas na produção de massa verde; controle biológico de doenças; desenvolvimento de sistemas de alerta em função do ambiente de produção (SPD, tipo de palha, clima,
etc.).
• A resistencia a herbicidas já tem sida observada mesmo em áreas com rotacoes mais
complexas e em nenhum momento foi mencionada nas discussoes.
• Infelizmente não participei desta mesa e desconheço os avanços nesta área.
• Utilizar maneiras de ampliar a biodiversidade nas culturas e avaliar o efeito em incidência de pragas e doenças.
• Consorciações de espécies como planta de cobertura que possam apresentar efeitos de
diminuição ou supressão de doenças x pragas.
• Estudos de influencia da cobertura vegetal no desenvolvimento de doenças; interação
entre doenças e nutrição de plantas; herbicidas e quantidade de palha = época e modo de
dissecação da cobertura vegetal.
• Limitações de combinações de espécies de plantas (cultura de cobertura/econômica)
com relação a aspectos fitossanitários; supressão de doenças com culturas de cobertura; alternativas de manejo para reduçao do banco de sementes de plantas daninhas.
• Estabelecer um sistema de rotação capaz de estabelecer uma supressão de pragas e
doenças no sistema.
• Pesquisa com cultivares resistentes; controle de plantas daninhas hospedeiras de patógenos; qualidade de sementes.
• Estudos sobre fitotoxidade de dessecantes na cultura produtora de grãos; verificar se o
problema é sombreamento ou imobilização de nutrientes (*nitrogênio).
• Trabalhos sobre os benefícios (e malefícios) que os diferentes tipos de palha deixam no
sistema; reistencia de plantas daninhas e doses de herbicidas.
• Opções de culturas que podem inibir doenças não ficou muito claro.
• Controle alternativo de pragas com menor uso de agrotóxicos melhoramento de plantas
visando tolerância a doenças em SPD.
• Atenção especial ao manejo das coberturas evitando interferências nas culturas implantadas posteriormente.
• Controle/convivência com nematóides; interferências entre organismos.
• Alelopatia da palha pré-existente; correlação entre palha e incidência da moléstia/praga
danosa economicamente.
• Estudar um pouco mais sobre a interferência da cobertura sobre a flora de ervas; manejo
de resistência de plantas a herbicidas.
• Desenvolvimento de herbicidas alternativos (óleo fúsel); uso de fungos antagonistas no
controle de doenças.
93
• Juntar esmpre fitopatologia, entomologia e microbiologia incluindo um fórum extra
(mesa redonda) para plantas daninhas. A ausência de entomologista e microbiologista deve ser
sanada no próximo evento.
• As pesquisas são ainda muito incipientes. É necessário muita pesquisa sobre o efeito ds
diferentes palhadas nas plantas daninhas efeito físico ou alelopático. Também, é necessário obter
mais conhecimento na relação plantas daninhas x arranjo espacial das plantas – espaçamento
e densidade.
• Utilização de sementes com qualidade fisiológica e sanitária; estudos para constatação
efetiva ou não do controle de infestantes, patógenos e nematóides tanto em plantas de cobertura quanto naquelas economicamente estabelecidas para definição dos sistemas de produção e
culturas inseridas; estudos de interações bioquímicas no controle; estudos epidemiológicos para
subsídio ao zoneamento e sanidade da lavoura.
• Diversidade microbiana em solos sob SPD e relação com o controle de microrganismos
fitopatogênicos; efeito alelopáticos entre algumas culturas de cobertura e plantas daninhas;efeito
físico da palha ( quantidade) na redução da infestação por daninhas.
• Pelo que vimos através das palestras necessitaria de estudos por região. Verificando
quais são as doenças ou pragas que ocorrem devido a palha que esta sendo usada e qual plantio
que sucederá a essa palha.
• Relações entre equilíbrio nutricional, rotação de culturas e monitoramento dessas espécies; conferir sistemas de rotações incluído a ILP e seus efeitos na composição das plantas
daninhas no monitoramento.
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Mesa Redonda III
Qualidade química do solo
Moderador
Bernardo van Raij
Instituto Agronômico – IAC
Apresentadores
Heitor Cantarella
Instituto Agronômico – IAC
Carlos Alexandre Costa Crusciol
UNESP Botucatu
Debatedores
Eduardo Fávero Caires
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
Júlio Cezar Franchini
Embrapa Soja
Leandro Zancanaro
Fundação Mato Grosso de Rondonópolis
95
APRESENTAÇÃO 1: Heitor Cantarella – IAC
O sistema de plantio direto tem algumas premissas: primeiro, o não-revolvimento do solo,
cuja importância já foi bastante enfatizada, e a rotação de culturas. Enfocando a parte de solos
e sua química, vamos examinar alterações que sucedem no sistema plantio direto.
Temos a deposição de restos vegetais no solo e o não-revolvimento, ou seja, o acúmulo de
restos vegetais na superfície. Não sei se podemos chamá-los de matéria orgânica.
As culturas de cobertura acabam fazendo uma reciclagem de nutrientes ou os depositam
na superfície, tiram-nos de dentro do solo e deixam-nos na superfície como palha. Temos o
acúmulo de nutrientes na superfície, um gradiente de fertilidade, e também a formação da
acidez, que fica maior na superfície, local onde se aplicam os fertilizantes, principalmente, os
nitrogenados. A alteração em vista do sistema plantio direto advém das alterações provocadas
nesse sistema.
O acúmulo de matéria orgânica na camada superficial tem várias funções: acarreta alterações, fornece nutrientes, tampona reações químicas, tem efeitos sobre a acidez e sobre as
propriedades físicas e microbianas do solo.
Todavia, a questão que levantamos aqui no Estado de São Paulo, especialmente, é o
quanto de matéria orgânica tais solos estão realmente acumulando em função do plantio direto.
É importante, porque as alterações no solo são basicamente atribuídas a essa matéria orgânica.
Temos que ver em nossa região, portanto, qual a sua relevância e em que partes do Estado de
São Paulo e até do Brasil, esse acúmulo de matéria orgânica pode estar ocorrendo. Já debatemos a baixa produção de palha e a rápida degradação e precisamos ter isso em mente quando
falamos em alterações químicas do solo.
Normalmente, quando praticamos agricultura, essa é uma curva típica de degradação da
matéria orgânica, do carbono orgânico. Pode ser deste com o tempo. Se pegamos um solo sob
floresta ou mesmo sob cerrado em equilíbrio e passamos a cultivá-lo, temos um decréscimo do
estoque de matéria orgânica ao longo do tempo. Essa curva de decaimento será mais intensa,
dependendo do tipo de solo, do tipo de manejo, mais intensivo ou não.
O que está fornecendo nitrogênio para as culturas, especialmente quando fornecemos
pouco nitrogênio pela adubação? Com o tempo, essa curva de decaimento vai atingir outro
equilíbrio. Quando falamos em plantio direto, o objetivo é mudar esse manejo de forma que se
altere a tendência de curva e estabilize, ou até
aumente o estoque de nitrogênio.
Gostaria de chamar a atenção e colocar
alguns números que talvez ilustrem porque seja
tão difícil aumentar a matéria orgânica no solo.
Suponha-se que queremos aumentar 1%
a matéria orgânica na camada de 0 - 10 cm de
solo, ou seja, aumentar 10 g dm-3 de matéria
orgânica nesse solo. Isso representa, por hectare, 10.000 kg de matéria orgânica por hectare,
5.800 kg de carbono e 480 kg de nitrogênio.
96
Supondo a matéria orgânica com 58% de carbono e uma relação C/N de 12:1, um dos
limitantes para o aumento de matéria orgânica é que temos que, de alguma maneira, aportar
nitrogênio no sistema. Observando os sistemas que temos, hoje, é até fácil encaminhar grande
quantidade de carbono. Mas o nitrogênio é raro e caro: vem ou de fertilizantes, ou de leguminosas, ou de fixação livre, porém não temos muita noção de quanto é, embora estime-se que tenha
fixação não ligada a leguminosas. Não sabemos, porém, quantificar muito bem isso ainda.
O ponto é que, para aumentar a matéria orgânica do solo, precisamos aumentar o nitrogênio, com cana crua, por exemplo, cujo cultivo é uma espécie de plantio direto. A cana colhida
crua deixa uma quantidade de resíduos no solo bastante apreciável: são depositados 10 a 20 t
de matéria seca e esse material tem uma relação C/N de 100:1, sendo de difícil decomposição.
Seria, talvez, o sonho do ponto de vista da conservação de solo em que nós fazemos no plantio
direto.
Há uns dados interessantes na literatura
sobre cana. Graham et al. (1999) compararam
59 anos de cana crua e queimada na África do
Sul. Infelizmente, eles usaram Vertissolo, que
era um solo que já tinha um teor de carbono
muito alto para começar.
Mas, comparando queima sem resíduo
e com resíduo, esses autores, após 59 anos
de observação, chegaram à conclusão de que
o aumento do carbono no solo ocorria significativamente apenas até 10 cm de profundidade. Abaixo disso não era significativo. É uma
quantidade apreciável de palha que vai nesse
sistema, e são 59 anos.
Mas eles observaram - e eu quero chamar
a atenção - que o efeito sobre a biomassa microbiana se dá numa quantidade muito maior,
até 30 cm de profundidade, a mesma coisa para
nitrogênio. As alterações provocadas no solo
restringiram-se apenas à camada superficial, o
que é até decepcionante após 59 anos. Mas eles
mediram outros parâmetros ligados a nitrogênio,
como nitrogênio mineralizável e, para esses atributos do solo, os efeitos da palhada se manifestaram até 30 cm pelo menos. Essas alterações,
provocadas depois de 59 anos de palha, para
os teores totais, estão restritas a camadas até 10
cm. Mas para outros atributos do solo, carbono
e nitrogênio na biomassa microbiana facilmente
mineralizáveis, carbono na fração leve, enfim,
vários outros atributos de qualidade do solo que
podemos colocar entre aspas, foram alterados
97
no solo muito mais rápida e efetivamente, até
em profundidade.
No Estado de São Paulo, temos alguns
dados também com cana após quatro anos,
comparando a cana queimada e crua em vários solos como o Latossolo Vermelho argiloso
e até um Neossolo Quartzarênico. Após quatro
anos, apenas no arenoso houve diferença na
profundidade até 5 cm. Em outro solo Latossolo
Vermelho, após 12 anos, as alterações ficaram
também restritas à superfície. É muito difícil
mudar os teores de matéria orgânica, mesmo
nessas condições. Dá um grande contraste pela
quantidade de matéria orgânica e de resíduos
colocados no solo.
É importante que, em vista desses resultados e de uma série de outros que vimos, que
mostram que é difícil aumentar a matéria orgânica do solo, que passemos a dar mais ênfase
nesses estudos de plantio direto, na fase mais
ativa dessa matéria orgânica e não em teores
totais. Temos que procurar focar nossa pesquisa
nessa matéria orgânica, fazendo fracionamentos
e indicadores de qualidade do solo, e menos na
matéria orgânica total, porque já percebemos
que vai haver uma dificuldade muito grande em
alterar esses teores totais. Na verdade, o que
altera as propriedades do solo e traz os benefícios das suas propriedades químicas e físicas é a
matéria orgânica ativa; muitas vezes, perdemos
o foco ao ficar tentando medir carbono total e
matéria orgânica total.
Outro aspecto que diz respeito à parte
química do solo é a amostragem. No plantio
convencional, ela é feita ao acaso. As operações
de uniformização que utilizamos nos permitem
que a amostragem seja feita de forma aleatória.
No plantio direto existem gradientes verticais
e horizontais mais pronunciados em vista do
acúmulo de palha, da aplicação localizada e da
falta de movimentação desse solo.
No Rio Grande do Sul, Ibanor Anghinoni
propôs a amostragem em faixas, e uma profundidade de 10 cm. Isso é outra questão que
temos que discutir para nossas condições aqui,
98
porque não estamos tendo um acúmulo de matéria orgânica no solo. Muitos dos nossos plantios
diretos estão misturados com gradagens leves. Estamos também aplicando fertilizantes a lanço
e muitas adubações estão sendo feitas com sulcadores acoplados à adubadeira para enterrar
esse adubo. Com isso, é possível que não tenhamos nem o gradiente horizontal nem vertical,
que são previstos para aquele tipo de amostragem. Esse é outro assunto que temos que voltar
a estudar.
Outro ponto que eu acho relevante para
pesquisas em plantio direto, especialmente em
nossa região, é a questão de profundidade de
amostragem. Existem recomendações no Brasil
para amostragens de 0-10 cm e 0-20 cm. A
maior parte das tabelas de adubação é feita
para a amostragem a 20 cm. Se nós amostrarmos o solo a 10 cm, pegarmos a camada mais
rica e calcularmos as recomendações com base
nas tabelas feitas para 20 cm, podemos subestimar a adubação e, a médio prazo, empobrecer
o solo. Por isso, essa é outra preocupação que
devemos ter. Justifica trabalharmos nesse tema
para evitar o uso incorreto das tabelas de adubação devido à amostragem.
Não está muito bem claro ainda, inclusive,
se em nossas regiões, com baixo acúmulo de
matéria orgânica na superfície, pelo pequeno
aporte e pela rápida degradação, isso vai acontecer. Fizemos uma simulação pegando uma
análise de solo 0-20 cm e 20-40 cm com as recomendações de adubação. Se usássemos esse
tipo de amostragem nas tabelas atuais, num
ciclo de soja e milho safrinha, típico de uma seqüência de rotação de culturas aqui no Estado
de São Paulo, diminuiríamos a adubação com
fósforo 57% e, potássio, 30%, porque haveria
um ligeiro acúmulo de nutrientes na superfície.
Esse também é um outro assunto que temos
que estudar.
Outro tópico relevante é a gente ver respostas de adubação diferenciadas para plantio
convencional e plantio direto. Temos visto muita
coisa para nitrogênio e alguns dados também
para acúmulo de fósforo nesses solos, relacionado à matéria orgânica e talvez à matéria orgânica ativa, já que a matéria orgânica total não está
mudando muito. Essa maior ciclagem de carbono na superfície do solo pode trazer algumas alterações, inclusive para fósforo, mas existem muitas dúvidas. Alguns dados de pesquisa mostram
que pode haver mais fósforo ligado à matéria orgânica, especialmente nas camadas superficiais,
99
e que, talvez, esse fósforo não esteja sendo detectado nas análises de solo. Por isso, esse é uma
questão que temos que pesquisar, porque esse fósforo orgânico é um nutriente extremamente
importante.
O fósforo orgânico e também o enxofre e
todos os nutrientes que tenham sua disponibilidade afetada pela matéria orgânica merecem
atenção quando pensamos no sistema plantio
direto. O enxofre e os micronutrientes, sem falar
do nitrogênio, não é?
Vou passar muito rapidamente pela calagem, porque há dois especialistas aqui que
têm trabalhado bastante nisso e que vão falar
depois de mim. Mas a recomendação de calagem no plantio direto é corrigir antes de iniciar
e, posteriormente, aplicar calcário na superfície.
Algumas pesquisas sugerem que o nível de saturação por bases em plantio direto pode ser menor. Outras pesquisas indicam que a movimentação de calcário e de bases aceleradas pela presença de palha e resíduos orgânicos têm levado
muitos agricultores a diminuir a aplicação de calcário no plantio direto. Eu gostaria de levantar
a questão aqui, mas não vou me alongar nela. Existem resultados contraditórios em função da
meia-vida curta de ácidos orgânicos, do aumento da movimentação dessa frente alcalina em
solos argilosos e também uma preocupação com a diminuição do uso de calcário em plantio
direto. Em nossas condições, com pouca palha e que se decompõem rapidamente, precisamos
rever as premissas do plantio direto para que possamos ter um nível menor de saturação. Em
muitos solos, em que não estamos vendo muitas modificações na parte orgânica, é prematuro
diminuir a recomendação de calagem. Nós temos dúvidas em relação a isso, especialmente em
nossa região de inverno seco. Espero, porém, que os outros palestrantes toquem nesse assunto
com um pouco mais de propriedade.
O nitrogênio é uma preocupação que nós
temos em plantio direto também. Existe uma incerteza maior quanto às quantidades recomendadas, devida à contribuição maior da matéria
orgânica e ainda entendemos relativamente
pouco desse assunto. Normalmente, existe
uma recomendação para o aumento de doses
no início do plantio direto, mas existem muitas
evidências a respeito da diminuição da dose,
ou de maior eficiência do fertilizante em áreas
com plantio direto há muitos anos, especialmente aquelas com grandes aportes de matéria
orgânica. Provavelmente, a ciclagem rápida do
nitrogênio por essa fração ativa da matéria orgânica, especialmente a biomassa microbiana,
esteja relacionada a isso. A contribuição da biomassa é muito interessante, merecendo estudos
multidisciplinares. A gente esqueceu aqui nesse painel de falar sobre microbiologia. Quando
100
a gente fala em nitrogênio, fósforo, enxofre em
plantio direto, a parte microbiológica é muito
importante e, talvez, a menos estudada.
A época de aplicação de nitrogênio é outro tópico importante quando falamos em sistema plantio direto. Existem recomendações para
antecipar o nitrogênio nesse plantio. O argumento é que a biomassa microbiana imobiliza,
inicialmente, o nitrogênio e o libera à medida
que as plantas vão crescendo. O que favorece
o desenvolvimento das plantas, temperatura e
umidade, é o mesmo que favorece o crescimento
desses microrganismos. O benefício seria evitar
custos de fornecimento de nitrogênio e facilitar
as operações do campo. Essa é uma tecnologia
que foi desenvolvida no Paraná. Existem dados
bastante específicos que mostram que isso funciona muito bem lá e já se espalhou pelo Brasil,
sendo adotado inclusive em algumas regiões
paulistas. Fizemos alguns trabalhos de pesquisa
sobre isso. Um deles, em Ribeirão Preto, utilizando fertilizantes com nitrogênio marcado.
Em um dos anos, o aproveitamento do
nitrogênio quando nós antecipamos, foi significativamente menor do que a aplicação convencional de plantio e cobertura.
No ano seguinte, porém, não houve diferença nenhuma. Agora, isso aconteceu em
um Latossolo Vermelho distrófico, em um ano
bastante seco. Para se ter uma idéia, em janeiro
desse ano, choveu apenas 80 mm.
Nessa condição foi um ano bastante seco
e a antecipação não trouxe nenhum risco. Mas,
em um ano anterior, de chuva normal, houve
esse problema. Depois, fizemos dois ensaios
paralelos também em Palmital, em solos argilosos. Quando aplicamos antecipado, a resposta
foi muito menor, comparando com o nitrogênio
em cobertura, mostrando que existem muitas
ocasiões em que essa aplicação antecipada não
é conveniente.
Em um solo mais arenoso em Votuporanga,
confirmam-se aqueles dados do solo arenoso.
Quando nós aplicamos antecipado, o rendimento de grãos foi muito inferior do que quando o
101
fizemos da maneira convencional. Nós medimos o teor de nitrato no solo em que o nitrogênio
foi aplicado 28 dias antes e notamos, nesse ensaio, que na época da semeadura os teores de
nitrogênio já eram bastante baixos. Nesse caso, nós estávamos semeando o milho que não tinha
raízes. Havia chovido nesse período, no caso 150 mm (o que pode acontecer no verão) e entre
o período da semeadura e da cobertura mais 379 mm. Então, um ano bastante chuvoso explica
o efeito negativo dessa aplicação antecipada.
Outro dado do Rio Grande do Sul, de vários locais, mostra que em anos secos, com dose
como de 90 kg, aplicada em várias situações,
não houve diferença. Mas em um ano mais chuvoso resultou em redução mais significativa da
produtividade.
Na nossa ótica existem vários dados experimentais que apontam o risco dessa antecipação da aplicação de nitrogênio. Por isso, a
recomendação dessa prática é questionável nas
regiões em que não temos grande quantidade
de matéria orgânica.
Outro problema que conhecemos é o uso
de uréia em superfície. Principalmente quando temos muita palha, sabemos que tem que
incorporar. Existe no mercado um inibidor de
urease, NBPT, que já foi testado por nós aqui
recentemente. Quando comparamos a uréia à
uréia+inibidor e nitrato de amônio, as perdas
com a utilização do inibidor foram reduzidas à
metade. Temos dez ensaios de campo em várias
culturas e esse inibidor, em nenhuma situação,
controlou totalmente as perdas, mas reduziu-as
40% a 60%, refletindo na eficiência do uso de
nitrogênio na produtividade.
Para encerrar, farei um resumo de assuntos que considero relevantes para pesquisas.
Precisamos trabalhar mais nas reais alterações
do solo que estão sucedendo em nossas condições, em que há uma rápida decomposição da
palha. Temos que focalizar bastante os nossos
estudos em pesquisas com fracionamento de
nitrogênio e qualidade do solo, entrando aí na
parte de indicadores de qualidade, especialmente microbiologia e biomassa microbiana. Aí,
provavelmente, vamos achar as diferenças que talvez expliquem a melhoria do solo com sistema
plantio direto. Para as nossas regiões temos que definir a amostragem com relação à profundidade, porque existem diferentes recomendações no Brasil. Esse é um assunto que merece estudo. Temos que definir a saturação por bases para calagem em sistema de plantio direto, porque
102
também existem evidências de que
podemos diminuir essa saturação. O
sistema produtivo teme que isso possa ocasionar diminuição de produtividade, alteração na disponibilidade
de alguns nutrientes afetados pela
matéria orgânica, fósforo, enxofre e
micronutrientes.
No manejo do nitrogênio temos que refinar os critérios de recomendação, entender um
pouco mais a parte microbiológica e, por fim, atualizar as tabelas de recomendação, porque se
formos alterar a profundidade de amostragem, certamente teremos que alterar nossas tabelas
de adubação.
Bernardo van Raij - IAC
Chamo a atenção para a importância da experimentação agrícola, para a questão de
nitrogênio antes do plantio. Tem sido dito que não teria importância se esse nutriente fosse colocado antes ou depois. Isso tem sido feito sem nenhuma base e os agricultores e técnicos ouvem.
Mas o Heitor mostrou que não é bem assim.
APRESENTAÇÃO 2: Carlos Alexandre Costa Crusciol – UNESP/Botucatu
Começamos um projeto grande, conseguimos um bom recurso em 1998, pelo CNPq. Um
PRONEX, para desenvolvimento de técnicas para a implantação do sistema plantio direto no
Estado de São Paulo, com enfoque, principalmente, para regiões de inverno seco. Todo o mundo
fala que Botucatu tem um clima diferente do resto do Estado de São Paulo, mas lá, nós também
não conseguimos manter palha no sistema, temos dificuldade. A persistência de palhada lá é
muito curta. Então tudo aquilo que ouvimos falar de uma região mais fria, de grande produção
de palha e acúmulo, não conseguimos e estamos tendo dificuldade. Parece que agora conseguimos a renovação desse projeto, o Ciro é o nosso coordenador. Não fazendo da braquiária uma
monocultura, mas parece que ela está começando a nos salvar lá no plantio direto.
O que vou mostrar aqui são as pesquisas. Fiquei perdido para montar essa palestra, porque
o tema era muito amplo. Daí, conversando com o Ciro, combinamos de mostrar os resultados
que estamos obtendo em Botucatu, porque estaria dentro do Estado de São Paulo e é o que a
gente acha que deve estudar aqui.
O Heitor já mostrou isso: a dinâmica de nutrientes no sistema, absorção. Se for soja fixação e mineralização desse nitrogênio, modo de utilização, exportação, eu posso ter problema
de lixiviação. Vou mostrar um dado para vocês, quando a braquiária entra no sistema, o que
acontece.
Percebe-se a importância da rotação de cultura, sistema radicular explorando diferentes
profundidades. Isso é importante se a gente for pensar em reciclagem e aproveitamento de
adubação residual, ou em elementos que nós estamos perdendo. Integração, tentar otimizar o
sistema. Mostrar o enfoque principal, porque o que nós queremos é esse acúmulo de matéria
103
orgânica no solo e conseguir todos os benefícios
dela. É um trabalho do Bernardo van Raij, em
que ele mostra a contribuição da matéria orgânica na CTC do solo.
Vários solos chegando a 82% da CTC com
a contribuição da matéria orgânica. Está difícil
conseguir isso aqui em São Paulo, em situação
de inverno seco, aumentar a matéria orgânica e
conseguir o benefício mostrado na figura.
Agora algo de uma área pessoal. Eu coloquei aqui pousio. Isso é um experimento feito
em Botucatu em dois anos. E está presente a
braquiária. Neste aumento de matéria orgânica, estamos pensando agora, está entrando um
projeto de seu fracionamento.
Nessa área, a rotação era milho, aveia,
soja, triticale. A colheita da aveia e do triticale
em Botucatu, desde que semeada corretamente, ocorre em agosto. Essa área fica em pousio,
porque nós só conseguimos semear a safra de
verão. Naquela região todo mundo fala que
chove muito, mas chove cedo, só em novembro.
Essa área fica em pousio. Aqui seria um plantio direto com rotação de culturas graníferas e
em seguida, estou colocando a braquiária. O
objetivo nosso foi fazer a integração e produzir
forragem.
Dois anos depois da braquiária em consórcio, ela aumentou matéria orgânica total, é
amostragem de 20-40 cm. Então eu coloquei
um ponto aos 30 cm e verifiquei que ela aumentou a matéria orgânica total em todo o
perfil do solo.
Fizemos uma simulação de pastejo, tentando retirar uma quantidade de matéria seca, porque se a gente retirá-la para silagem como o
Ricardo, acontece aquilo que ele falou, teremos uma grande exportação de nutrientes, principalmente de potássio, depauperando o solo.
Num segundo experimento, conseguimos colocar gado. Foi numa área lá da Zootecnia
onde eles têm novilho superprecoce. Conseguimos colocar gado, mas era difícil trabalhar com
a Zootecnia e tivemos que voltar para a nossa área.
A CTC não foi a determinada, foi a calculada. A contribuição da matéria orgânica não
acompanhou bem isso. Na verdade, o solo tem condição para ser feita uma análise para determinar a CTC.
104
Na figura a seguir, um trabalho do Ciro,
uma situação sem calcário, calcário incorporado, e calcário em superfície. Uma coisa que nós
temos observado em Botucatu é que a aplicação
de nitrogênio tem proporcionado incremento de
cálcio e magnésio no perfil do solo. Em alguns
anos, você analisa, determina pH e ocorre sua
correção. Em alguns anos não, só aumenta o
teor de cálcio e magnésio no solo e não há correção de pH.
Então foi um solo com calagem e aplicação
de nitrogênio. À medida em que foi aplicando
nitrogênio, o Salvador e o Ciro determinaram
amônio e nitrato. Vê-se que houve um incremento de nitrato no solo.
A figura a seguir mostra que a absorção
de magnésio sofre uma interferência do alumínio inorgânico. À medida em que aumenta
o alumínio, ocorre redução na absorção do
magnésio. Quando esse alumínio está ligado ao
citrato, esse aumento não interfere na absorção
do magnésio.
O que eu queria mostrar são as doses de
nitrogênio, utilizando a cultura do milho, teor de
cálcio no solo e concentração de cálcio.
A linha azul mostra, no caso, zero de nitrogênio. À medida em que foram aumentando
as doses de nitrogênio, elevou-se o teor de cálcio no solo. Então o nitrato pode estar funcionando como íon acompanhante do cálcio e do
magnésio, e pode estar incrementando isso no
perfil. Houve um experimento de quatro anos,
até hoje eu não tabulei esses dados, que foi o
primeiro que nós montamos com nitrogênio no
campo. Nos dois primeiros anos, percebemos
redução e elevação do pH. Estamos atribuindo isso à autocalagem, à absorção de nitrato e
à liberação de hidroxila. Então a lixiviação de
nitrato pode incrementar a saturação por bases,
ao longo do perfil do solo, minimizando a acidez
em profundidade, ou seus efeitos. Nem sempre
temos constatado redução de pH. É algo ainda
para estudar melhor.
As figuras seguintes mostram os resultados da aplicação de gesso em uma área com
105
calagem superficial. Houve aumento do sulfato, tanto sem calagem, quanto com a aplicação de
calcário. O efeito do gesso foi um incremento de cálcio no perfil do solo, com um incremento
menor de magnésio, 0 e 2.100. Seguimos a recomendação do IAC pelo teor de argila. A gente
acha que a aplicação de gesso é uma boa alternativa para tentar corrigir a acidez em subsurpefície. A lixiviação de sulfato pode incrementar a saturação por bases. É o mesmo efeito aí da
lixiviação do nitrato.
Uma coisa que o Heitor estava falando,
de ciclagem de nutrientes, podemos ver neste
milho plantado lá na Bonanza, na agropecuária
Dama. Milho plantado sobre braquiária.
Mas o que eu quero mostrar para vocês é
que todo aquele beneficio da matéria orgânica,
nós não estamos conseguindo, porque estamos
manejando plantas de cobertura, às vezes em
momento errado.
O trabalho do qual tiramos os resultados
dessa figura foi feito por nós em Botucatu, em
que trabalhamos com milheto, brizanta (linha
verde) e mombaça (linha preta), é um Panicum.
O milheto chegou quase a 15 toneladas de matéria seca por hectare, o Panicum e a braquiária
em torno de 6, 7 toneladas, porque o desenvolvimento inicial das forrageiras tropicais perenes
é muito lento, depois de 70 dias. É uma área
que foi plantio direto de amendoim. Comparado
com uma testemunha com preparo convencional, o amendoim vai superbem em plantio direto. Esse foi o comportamento da matéria seca
na superfície do solo. Olha só o que aconteceu
com o milheto.
Estou entrando um pouco em palha para
depois falar em reciclagem do milheto. Da palha inicial do milheto, em 51 dias, só restavam
42%, 43%; da braquiária mais de 68% e, do Panicum mais de 80%, principalmente a mombaça
106
que entala muito. A mombaça lignifica mais do
que o Tanzânia. A degradação é bem lenta e ela
tem uma persistência de palhada boa.
Aí a gente fica perguntando o seguinte:
por que eu não conseguia aumentar, e agora
com Panicum e braquiária nós estamos conseguindo elevar o teor de matéria orgânica total?
Agora, quando estávamos usando milheto, por
que não estávamos conseguindo aumentar essa
matéria orgânica?
Eu peguei nesse mesmo período, com diferentes datas de semeadura de milheto, para
manejá-lo em estágio diferente. Minha surpresa foi isso: se o agricultor do cerrado, ou em nossas
condições, esperasse o milheto chegar em enchimento de grão, quando o grão está leitoso, esse
é o comportamento da dinâmica de palha, 70 dias depois ele teria quase 100% da palhada do
milheto na área. Aquele milheto que eu falei para vocês, na fase de emborrachamento, tinha
acabado de diferenciar a gema vegetativa e reprodutiva. Ele estava viçoso, todo enfolhado, 40%
só de palha aos 51 dias. Então, na verdade, o que faz no cerrado, principalmente em áreas de
algodão, ele colhe o algodão, faz destruição de soqueira, coloca o milheto, deixa por 30, 40, 50
dias. Às vezes, ele cresce bastante, forma uma massa e você acha que formou uma boa massa.
Mas, na verdade, daí 30 dias, você vai lá e não
tem mais nada. O agricultor não vai esperar formar uma boa massa, que tenha persistência, e
atrasar seu plantio comercial.
Então, vamos ver se isso está interferindo
na liberação de nutrientes. Libera uma quantidade considerável de nutrientes e já não vai
ter tanta imobilização. Acho que a alternativa
vai ser a seguinte, fazemos um consórcio. Na
época, fazemos um mix de forrageira tropical
com o milheto. Este estará produzindo bastante
palha no início e a braquiária, as forrageiras, terão maior persistência de palha. Acho que essa
será a melhor alternativa, porque é a dinâmica
de nutrientes. Aqui estão os resultados com o
nitrogênio.
O milheto chegou a acumular quase 150
kg de nitrogênio, a braquiária e o Panicum em
torno de 90 kg. Essa é a dinâmica. Com o milheto, depois de 51 dias, existia só 20% de nitrogênio acumulado. A braquiária libera mais
rápido que o Panicum, e o Panicum tem esse comportamento. Mas ainda restou na planta 40%.
Tratamos aqui de nitrogênio que faz parte da celulose. É um processo. Está lignificado, está na
estrutura lignificada.
O fósforo sai totalmente com 51 dias.
107
Em termos de porcentagem, todo o fósforo já saiu dessa palhada, zerou, já foi liberado.
Potássio, a mesma coisa. Todo potássio sai da palha tendo chuva. Aqui eu acho que começa a explicar um pouco, porque persiste mais a palhada das forrageiras tropicais perenes
Vejam o cálcio.
Ainda resta na planta 50% do cálcio, tanto do Panicum como da brizantha.
São estruturas de difícil degradação e isso aumenta a persistência da palhada. O magnésio
tem comportamento muito semelhante.
O enxofre, com 51 dias, está praticamente liberado nas três espécies.
Outra linha que se deve estudar é essa
parte de ciclagem de nutrientes, de dinâmica de
nutrientes provenientes da palha.
O pH onde foi braquiária e onde não foi.
A figura seguinte mostra a variação do pH no
que era uma rotação de milho com triticale, no
caso desse ano. Depois vieram soja e aveia,
mostrando o efeito da braquiária. Aí entra o
sistema Santa Fé na correção do pH.
Outra com o manejo do nitrogênio. Vejam
no lablabe com aplicação de amônio liberado
do lablabe, sorgo e sem palhada e tempo de
incubação. Caiu o amônio, que no caso do
lablabe, está virando no nitrato. Onde era sem
palha, praticamente, não alterou. Onde havia
sorgo, acreditamos que esteja ocorrendo imobilização e depois de 100 dias, há liberação de
nitrogênio.
108
O pessoal fala muito em aveia na rotação com milho, aplicação de nitrogênio na aveia,
sem aplicação, na ervilhaca e no nabo. Na aveia sem aplicação de nitrogênio, a produção cai. A
aveia imobiliza muito nitrogênio e demora às vezes para liberá-lo.
Esses são resultados de um trabalho feito
pelo Ciro de manejo de nitrogênio.
No primeiro grupo: o de nitrogênio, 60 kg
de nitrogênio e 120 kg de nitrogênio. A gente
queria ver a contribuição do nitrogênio aplicado
na semeadura, na palhada, 30 dias, 60 dias e 90
dias depois.
Numa área de pousio, o que a gente tem
observado é o seguinte: a baixa, normalmente
começa a cair o teor de nitrogênio na palhada.
Quando a planta, no caso o milho, começa a
absorver, a maior parte do nitrogênio que ele
utiliza vem do solo. Esse comportamento aumenta o teor no solo. Quando aumentamos, a
adubação tem aumentado, mas esse incremento
do nitrogênio vem da palha. Nesse caso, vem
caindo e vai aumentando e o nitrogênio utilizado pelo milho sempre é proveniente do solo.
Em outra situação, com a aveia-preta,
também cai o nitrogênio da palhada, aumenta
o do solo. Começa a cair o do solo, que está em
vermelho, em função da absorção pelo milho.
Quando aplico o nitrogênio, cresce a absorção de nitrogênio pelo milho e também o teor de
nitrogênio no solo.
109
Vejam com a aplicação de nitrogênio na
aveia; seu incremento sempre está acompanhado pela sua redução no solo em função desse
incremento de nitrogênio no milho. O nitrogênio
aumentou, principalmente na palhada, depois
caiu e seguiu essa seqüência. No final, o milheto
teve o mesmo comportamento.
Fez-se um balanço desse nitrogênio até 60
cm de profundidade, observando-se o seguinte:
o nitrogênio da palha vai para o solo e a planta
pega, principalmente, o nitrogênio do solo, e
não o proveniente da palha. Então, o nitrogênio
aplicado na cultura de cobertura é acumulado
na palha e isso beneficia a próxima cultura, no
caso, o milho e o milheto.
No balanço do nitrogênio isso foi observado. O Ciro verificou que, na área de pousio,
o balanço foi zero na dose zero. Na de 60 kg,
houve maior absorção de nitrogênio favorável
para o milho; em 120, a mesma coisa.
Quando se usou o lupino, tanto na dose
zero como nas demais, ocorreu maior absorção
de nitrogênio pelo milho.
Quando se utilizou a aveia, tanto com a
aplicação de nitrogênio como sem, ocorreu um
excesso de nitrogênio. O milho não conseguiu
pegar o nitrogênio proveniente da palhada da
aveia sem aplicação de nitrogênio. Então, o que a
gente tem observado, e também em outros experimentos, é que a aveia pode estar imobilizando
o nitrogênio e não o disponibilizando para o milho, quando não se faz a aplicação de nitrogênio.
Quando se faz, o milho acaba absorvendo-o.
E com o milheto + nitrogênio, essa absorção é maior. Então, o que ele constatou lá, é que
com a aveia diminui a eficiência de nitrogênio
e ela está tendo algum efeito sobre sua disponibilização. Quando se trabalha com milheto,
aumenta a eficiência do uso de nitrogênio pela
cultura do milho.
Então essa é uma linha que o Heitor levantou, o manejo do nitrogênio, sua antecipação
pela planta de cobertura, que tem que ser mais
bem estudada e verificar a sua eficiência.
110
Outra coisa em relação ao nitrogênio
é o que temos observado em Botucatu. Toda
vez que entramos com o sistema Santa Fé, no
primeiro ano de rotação sempre produz mais.
Todo mundo pensa que a braquiária vai competir com o milho. Eu estou mostrando o resultado
de um experimento.
Eu estava falando ontem para o João K
que, em três anos de experimento, quando se
entra a primeira vez com o consorciado, a produção é sempre maior e não sabemos o porquê.
Levantamos uma hipótese e estamos estudando
com o Márcio Lambais, lá na Esalq. Será que
essa braquiária está fixando nitrogênio para o
milho? Então, o Márcio está tentando identificar
azospirilo, a eficiência, os grupos.
Essa é uma coisa que requer também
aprofundar mais os estudos. Para vocês terem
uma idéia, foram três experimentos: três anos
com sorgo, três anos com milho. Todas as
vezes que a braquiária entrou consorciada, a
produtividade foi maior. Desde que se coloque
a semente da forrageira a 6 cm, se se atrasar o
máximo para ela sair, o milho se estabelece primeiro, fecha, e ela não vai brigar com o milho.
A braquiária só vai começar a competir com
o milho na hora que este começar a carregar
carboidrato para seu pleno desenvolvimento.
Começa a secar a folha e aí as plantas de braquiária vêm. Você também não pode atrasar
para colher, senão ela toma conta da lavoura.
Mas em todos os experimentos o do primeiro
ano, a produção foi maior.
Temos que pensar na integração, porque
ontem a Elaine falou: “deve-se tomar cuidado
com a braquiária para não virar uma monocultura, também porque parece que ela é a salvação da lavoura”.
Ela não é bem a salvação, porque se você
entrar com o sistema Santa Fé seguido na mesma área veja o que acontece: doses de nitrogênio aplicado no milho. Esse experimento já
tem dois anos, entrando em área que já foi uma
sucessão de Santa Fé, uma monocultura de
Santa Fé, vamos dizer assim. Olhem a resposta
111
ao nitrogênio. No sorgo, a mesma coisa. E vejam o tanto que interferiu, na dose 0 de nitrogênio.
A produção foi bem abaixo com a braquiária, de quando o milho foi solteiro. A linha azul representa o Panicum. Mas, com sorgo, a produção diminui, quando plantado em seqüência.
O nitrogênio foi aplicado, só para vocês
terem uma idéia, em dezembro. A figura anterior
mostra uma avaliação de forragem em outubro
do outro ano. Vejam como a braquiária (linha
verde) aproveita o nitrogênio que foi aplicado
10 meses antes, ainda no pastejo de outubro.
Então ela está pegando o nitrogênio que a gente falou que o milho não pegou. O Panicum,
uma forrageira mais exigente, mais responsiva,
tem aproveitamento maior. Vejam com o sorgo.
Apliquei nitrogênio em dezembro e a forrageira
está respondendo em outubro. A eficiência de
absorção disso daí, ou a redução de lixiviação
de nitrogênio para as camadas mais profundas do solo, é significativa. Nós não fizemos o balanço de nitrogênio nesse caso, mas ela pegou o nitrogênio que foi aplicado lá atrás. A gente
acompanhou as curvas de resposta.
Esse é um aspecto no qual a gente acredita muito no plantio direto, com o sistema Santa
Fé. Concordo com a Elaine. A gente não pode fazer uma monocultura de Santa Fé, tem que
entrar em rotação.
Eu queria mostrar outro resultado que a
gente tem observado lá. Vejam uma comparação de fósforo no plantio direto. Ocorre um
acúmulo de fósforo nas camadas superficiais,
em função da não-mobilização e revolvimento
desse solo. Mas o resultado que eu queria mostrar é que, quando nós entramos essa é uma
área de rotação normal que eu falei para vocês,
milho-trigo-soja-aveia, e a braquiária entrando.
Depois ficava em pousio. Colhia o trigo em
agosto, ali em Botucatu, o qual ficava dois, três
meses em pousio.
Vejam o que a braquiária fez com o fósforo: aumentou-lhe o teor em todo perfil. Nós
não sabemos o que está envolvido. Estamos começando com um orientado que está entrando
nesse experimento aí, para fazer fracionamento
de fósforo e ver o que está realmente acontecendo. Esse solo dá em média 9 toneladas de milho
por hectare.
A figura seguinte foi tirada de trabalho do
Silva que fez doutorado em Lavras e mostra o
112
seguinte: ele usou várias plantas de cobertura, solo descoberto, crotalária, guandu, mucuna,
braquiária e cerrado nativo.
As plantas de cerrado têm uma capacidade menor de fixação, elas solubilizam fósforo e
diminuem a fixação de fósforo no solo. A mais
próxima das plantas de cerrado foi a braquiária, que proporcionou, entre todas as plantas
de cobertura, a menor fixação de fósforo, e aumentou a solubilização. Será que, para diminuir
o custo da adubação fosfatada, não se poderia
utilizar fontes de fósforo de baixa reatividade e
tentar usar a braquiária como solubilizador de
fósforo?
Não sei. Estou dando uma idéia aqui também. Acho que é uma linha que poderíamos pesquisar.
Para finalizar quero mostrar-lhes o efeito da água na lixiviação de potássio, é outra linha
que acho interessante.
Vejam o potássio na planta de cobertura. Quando se coloca potássio na planta e na palhada, a produção cai pela ação competitiva de cálcio e maguinésio e muito potássio na área.
113
Adubação potássica: vimos que, quando se faz a antecipação de fósforo e potássio num
solo com teor médio a baixo de fósforo, a produção vai cair. Só dá para antecipar a adubação
fosfatada se tivermos um bom teor de fósforo.
Eu queria agradecer ao Zancanaro, que está aqui, vai ser um dos debatedores e mostrar
que esta é mais uma linha que deve ser estudada.
Nas figuras seguintes, o algodão da esquerda está muito maior que o da direita. O que
aconteceu?
Foi feita a adubação convencional nossa. A adubadeira só solta uma linha abaixo da
semente, como é a adubação do
algodão dos dois lados, em Sorriso.
Vejam o desenvolvimento da planta.
Então essa é uma linha de adubação,
isto é, a localização de adubo, que
deve ser explorada no plantio direto
e deve ser mais bem estudada.
Bernardo van Raij - IAC
Acho que o que ficou de intrigante foi o aumento de matéria orgânica em profundidade
com a braquiária, porque se a gente pensa em seqüestro de carbono em plantio direto, tem que
pensar dentro do solo e não em cima, e isso é muito importante.
Carlos A. Costa Crusciol – UNESP/Botucatu
Pelo que estamos avaliando, é muita raiz que a braquiária faz. A gente se assusta e pensa
que é a mesma quantidade de raiz e de massa seca que ela faz. Mas nós não vamos transformála em monocultura, não.
Bernardo van Raij - IAC
Outra coisa é a dinâmica de nitrogênio junto com o gesso para controlar a reação do
subsolo. Mas, agora, vamos passar a palavra ao Eduardo Caires, da Universidade Estadual de
Ponta Grossa, região onde o plantio direto começou, praticamente, junto com Londrina.
Debate
Eduardo Fávero Caires – UEPG
Os dois palestrantes que me antecederam fizeram uma brilhante explanação. Concordamos
com muitas de suas colocações e vamos procurar abordar mais, talvez algumas coisas relacionadas com calagem e adição de gesso, parte que foi explorada de forma um pouco mais rápida.
Bem, a gente vai falar sobre a correção da acidez em plantio direto. Tem sido um tema
bastante intrigante. Então nós o trazemos para discussão. Em resultados de dez anos de acom-
114
panhamento no sistema plantio direto na região de Ponta Grossa, vimos os efeitos de doses
de 0, 2, 4 e 6 toneladas por hectare, aplicadas em superfície e o acompanhamento ao longo
desses dez anos, nas camadas de 0-5, 5-10, e 10-20 cm. Percebe-se que, independentemente da
dosagem, a velocidade de reação do calcário foi a mesma. Tanto na dose 2, 4 ou 6, o comportamento da dinâmica de correção foi o mesmo e nas camadas de 0-5, e 5-10 cm, foi semelhante.
Na camada de 10-20 cm, basicamente, é que a gente começa a ter a reação desse calcário
na superfície, depois que ocorre a reação nas camadas mais superficiais, o que pode ser visto
claramente. Percebe-se, nesses casos, a movimentação de bicarbonato, lenta e gradual ao longo
do perfil, até alcançar a profundidade de 10-20 cm. Só ocorre a reação nessa camada depois
que começa a queda da reação nas mais superficiais. Só que nós temos observado também,
em alguns estudos, que efeitos em profundidades maiores que 10 cm, provavelmente, tenham
sido associados a outros fatores. Até 20 cm parece-me bastante claro que a movimentação é
por bicarbonato de cálcio e magnésio ao longo do perfil. Abaixo de 20 cm, há muitos estudos
mostrando que o calcário, aplicado superficialmente, pode também alcançar camadas mais
profundas. E esses efeitos têm sido atribuídos a uma série de fatores, entre eles, a movimentação
por ácidos orgânicos e a movimentação física. Só que nós não conseguimos observar.
Em outro estudo que fizemos recentemente, avaliamos a influência da cobertura da aveia
preta. A influência no pH, e nos teores de cálcio, magnésio e potássio ao longo do perfil. Nós
não conseguimos observar nenhum efeito da aveia na alteração do pH, nos teores de cálcio
e de magnésio. A única influência que nós observamos foi no teor de potássio. Percebe-se
que, 30 meses após a calagem, obtivemos dois ciclos de aveia com a produção em torno de
4 toneladas de matéria seca de aveia preta. Depois de dois ciclos de aveia, 30 meses após a
calagem, nós realmente não conseguimos identificar nenhum efeito desse material, do resíduo
da aveia preta na incorporação do calcário. Nós colocamos uma interrogação muito grande do
efeito dos ácidos orgânicos solúveis na movimentação do calcário aplicado em superfície. Eu,
particularmente, acredito mais no efeito de solvatos de cálcio, do que propriamente de ácidos
orgânicos de pequena cadeia.
Acho que isso aqui precisa ser mais bem estudado. A formação e migração de carbonato
de cálcio e magnésio. Parece-me muito claro ocorrer até a profundidade de 20 cm, o deslocamento mecânico através dos canais surgidos a partir de raízes mortas. Alguns estudos recentes
de vegetação mostram que é possível esse caminhamento do calcário por esses canais. A adição
de calcário em fertilizantes nitrogenados: já foi mostrado aqui pelo Crusciol, que existe a possibilidade de efeitos, e esse manejo de resíduos orgânicos. Eu acredito mais em efeitos de longo
prazo. A gente tem observado maiores efeitos do calcário aplicado na superfície, em camadas
subsuperficiais, em áreas de longo período de plantio direto. Então é possível que essa movimentação não seja por complexos orgânicos de baixo peso molecular e, sim, por complexos
orgânicos de alto peso molecular, como é o caso dos solvatos de cálcio.
Existe outro paradigma do plantio direto, de que a calagem superficial concentra o sistema
radicular nas camadas superficiais. Uma grande dúvida que existiu, sobre a qual eu trouxe aqui
só um resultado, faz com que a gente venha trabalhando muito com crescimento de raiz. No
caso de raiz de milho em função de doses crescente de calcário aplicado em 93 e as raízes do
milho, avaliadas em 2000. Em uma reaplicação de calcário um pouco antes desse milho também, a gente observa claramente, a profundidade de 0 a 10 cm. A calagem superficial diminui
o comprimento relativo da raiz. Com o aumento das doses de calcário, o comprimento relativo
de raiz diminuiu e aumentou na camada de 20 a 60 cm. Houve uma distribuição melhor das
115
raízes quando a calagem foi feita na superfície e não houve maior concentração nas camadas
superficiais, como se tem dito muito por aí. A camada de 10-20 não apresentou alteração
alguma e nós observamos uma ligeira compactação nessa camada. Acreditamos que esse
tenha sido o principal motivo da calagem. O aumento do cálcio e a diminuição do alumínio
contribuem para maior passagem de mais raízes para as camadas mais profundas. Então, não
é verdadeira essa afirmativa de que a calagem superficial concentra o sistema radicular na
camada superficial do solo.
Outros resultados interessantes, no que diz respeito à calagem: temos observado produtividades muito alta na ausência, de calcário, em solos em longo período no sistema de plantio
direto. Solos com altos teores de matéria orgânica, e de alumínio, produzindo 3.000 kg por
hectare de soja. Num solo com mais de 10 milimol de alumínio, 2.400, 2.600. Solos com altos
teores de matéria orgânica, com pH baixo e produzindo relativamente bem. O milho também:
8.000, 9.000 kg por hectare em solos com alta acidez em plantio direto. Esses dados é que
têm gerado muita dúvida e que o Heitor aqui levantou, a respeito da redução da saturação por
bases, porque se produz muito bem em condições muito ácidas. Isso aqui tem sido ressaltado
nos últimos anos na literatura.
Nós temos hoje dados do Mato Grosso mostrando resultados semelhantes, ou seja, em
situações diferentes, obtendo-se altíssima produtividade em condições ácidas. Esses tipos de
resultado geram muita confusão porque, primeiro, eu falo que posso reduzir a dose de calcário
em plantio direto. Só que a maioria dos estudos é muito pontual e, normalmente, de curta duração. Quando a gente faz um levantamento, por exemplo, em cada trabalho desse, a gente não
sabe exatamente como foi a distribuição de água, não sabe quanto choveu durante o período
de desenvolvimento da cultura, para que se possa ter uma produtividade desse porte aqui em
condições ácidas. Eu só quero apresentar os resultados bem recentes que observamos com trigo.
Em uma das áreas mais antigas de plantio direto no Brasil, quando houve uma longa estiagem
durante o período vegetativo do trigo, a resposta à calagem foi de que o trigo subiu de 1.200 kg
e chegou próximo de 4.000 kg por hectare com a aplicação de calcário. Choveu bem na semeadura e no florescimento, mas parou de chover, praticamente, durante todo o ciclo vegetativo
da cultura. Então, os teores da mesma ordem de grandeza daquele anterior. O alumínio e a
saturação por alumínio em níveis tóxicos, mostrando que a análise pelo KCl indica, sim, uma representatividade boa das condições de acidez, e com uma altíssima resposta do trigo à aplicação
de calcário em ano seco. Onde não havia calagem e onde havia calcário, dá para observar de
longe a diferença visual da calagem e o efeito da toxicidade do alumínio. O caso é na fazenda do
Nonô Pereira, em Palmeira. Também foi seco no inverno com sintoma extremamente idêntico
ao que observamos um ano antes. A lavoura produziu um pouco mais de 1.000 kg de trigo
em função de aplicações de baixíssimas doses de calcário. Fazia mais de dez anos que o Nonô
Pereira não aplicava calcário em sua propriedade. Acho que agora ele esteja aplicando.
Eu trago dados de produção acumulada. Acho que quem trabalha com calagem tem que
trabalhar por muito tempo. Isso, às vezes, desestimula alguns pesquisadores. Numa análise de
cinco anos, produção acumulada com aplicação de calcário, a gente observou, durante cinco
anos, esse tipo de resposta, com a dose econômica em torno de 3,3 toneladas de calcário.
Corresponde à elevação da saturação por bases em torno de 65%, com base na amostragem de
0-20 cm. Evidente é a resposta acumulada em dez anos, indicando o maior retorno econômico,
de quatro toneladas por hectare, mostrando o cálculo da elevação do V a 70% pelo critério da
116
elevação de saturação por bases na profundidade de 20 cm. Então o cálculo na base de 70% é
muito seguro para preconizar necessidade de calagem.
Em outro trabalho que fizemos, envolvendo calcário na superfície e calcário incorporado,
observamos, também, na implantação do sistema, que em áreas onde não se há uma acidez elevada no início, que o maior retorno econômico que houve ao longo de cinco anos, foi quando se
aplicou calcário na superfície em dose total. A dose calculada para elevar a saturação por bases
a 70% também, aplicada uma única vez, ou aplicada parcelada durante três anos na superfície.
O retorno econômico foi da ordem de 35 a 39 dólares por hectare por ano, com a aplicação do
calcário. Ocorreu o prejuízo maior com o incorporado, pois o custo da incorporação não pagou
o aumento da produção. Esses dados dão segurança hoje para preconizar o critério da elevação
da saturação por bases.
Júlio Cezar Franchini – Embrapa Soja
Ainda bem que eu não concentrei meu trabalho em cima da questão da calagem, porque
o Caires praticamente esgotou o assunto. Hoje, ele é a pessoa que tem os melhores resultados
com calagem em longo prazo. Concordo com ele em, praticamente, tudo que disse.
Fala-se muito em plantio direto, em palha, em matéria orgânica, mas uma coisa que a
gente deve ter em mente é que, no plantio direto, a qualidade só aparece com o tempo, um
componente muito importante nesse sistema.
Muitas vezes queremos entrar no plantio direto e já obter todos os benefícios do sistema
no primeiro ano, e isso não acontece. Vou tentar mostrar um pouco dos dados em relação à
dinâmica do carbono. Que a qualidade no plantio direto está relacionada com o carbono, todo
mundo sabe disso.
Só para relembrar, o que está associado com o aumento de carbono no solo, a questão de
água, erosão. Existem benefícios do plantio direto que aparecem no primeiro ano, a questão de
proteção do solo e redução de erosão. Outros benefícios, porém, só aparecem com o tempo. A
questão de água, biologia do solo, diversidade. Infelizmente o workshop não contemplou a parte
de biologia do solo, muito importante e que precisa ser trabalhada também dentro do conceito
de interdisciplinaridade.
O solo foi comentado bastante aqui e também a questão dos gases do efeito estufa. A
premissa básica do nosso trabalho nessa área, que é uma conceituação simples, de que o manejo do solo e a rotação de culturas modificam a dinâmica da matéria orgânica, alterando a
sustentabilidade do sistema.
Quero falar sobre o primeiro trabalho feito no Brasil fazendo essa comparação dos estoques de carbono na região dos cerrados. Eu trouxe exatamente para fazer esse paralelo com o
Estado de São Paulo, que tem regiões que se encaixam no bioma de cerrado. Aqui estes dados
têm sido muito discutidos, são valores bastante altos. Esta é a taxa de acúmulo de carbono em
quilograma por hectare por ano.
Vejam o caso do sistema plantio direto, comparado com quando se faz o revolvimento,
pastagens cultivada, que é a pastagem bem conduzida com manejo de adubação. E comparem
também com um sistema de reflorestamento. Mas vamos ficar com esse diferencial entre o
sistema com revolvimento e o plantio direto.
117
As taxas ali mostradas estão muito elevadas para as condições de cerrado. Isso tem
sido bastante discutido, mas precisamos de mais
dados para ir aferindo essas taxas. Portanto, é
questão do plantio direto. O conceito que se tem
é que plantio direto sempre aumenta a matéria
orgânica do solo. Só que não é sempre assim.
O objetivo é mostrar e nós temos a comparação
do plantio direto com o plantio convencional.
Nós temos três sistemas de rotação de culturas.
Se observarmos na figura acima, temos
rotações que têm praticamente as mesmas espécies. Temos uma pequena variação na sua
distribuição. A linha de cor verde representa um
sistema que tem uma quantidade maior de leguminosas, incluindo a soja e o tremoço. A linha
vermelha, o que também tem a soja e o tremoço. Mas o que chama atenção nesse sistema é
que, nos últimos dois anos, ele só teve gramíneas. Em relação ao estoque de carbono aqui em
quilograma por hectare por metro quadrado, o
estoque na camada de 0-10, 0-20 e 0-40 cm
de profundidade. Valores positivos indicam o
acúmulo de carbono no plantio direto. O valor
negativo, maior quantidade de carbono no plantio convencional. Nessa situação, nos últimos
anos, onde havia uma presença maior de gramíneas, o que aconteceu no plantio direto? Foi
observada uma boa cobertura de solo e um grande acúmulo de palha na superfície. E como
foi colocado aqui várias vezes, palha com alta relação C/N, de difícil decomposição no solo.
Nós temos uma relação entre 10, 11 e 12. Nesse
caso, se temos na superfície uma palha com relação C/N 40/100, então é mais fácil decompor
matéria orgânica do solo do que a palha que
está na superfície.
Com a incorporação no plantio convencional, conseguimos decompor melhor a palha
e ela se converte em matéria orgânica do solo.
Nós temos mais matéria orgânica no plantio
convencional com gramíneas, do que em um
sistema com leguminosa. Nesse caso, a rotação
é muito importante para regular este processo,
se vai haver acúmulo ou não.
Na figura acima vemos o sistema plantio direto, em experimento onde a avaliação foi
feita após treze anos em Londrina. Percebe-se a sucessão trigo-soja, uma rotação considerada
a ideal, porque no sistema ela tenta maximizar as culturas de grãos. Uma leguminosa antes do
milho-aveia, antes da soja, e trigo-soja. Os sistemas vão se alternando, como se vê na figura, e
118
entra novamente a rotação trigo-soja. O problema maior do trigo é o das doenças foliares. Não
pode haver trigo por mais de dois anos na mesma área. Há rotação com o tremoço e a aveia no
inverno e há rotação no verão.
É uma rotação que busca o beneficio de todo o sistema. Percebe-se, no destaque circundado, os plantios direto e convencional com a taxa de acúmulo de carbono nos sistemas. A
referência e o estoque de carbono no solo, antes do início dos estudos é mostrada na figura.
Plantio convencional com trigo e soja, perda de carbono, após treze anos com a rotação. Mesmo
no plantio convencional ocorre um pequeno acréscimo. É importante sempre fazer uma ressalva
nesses estudos de experimento de campo. Apesar de serem parcelas de 15 x 30 m, são parcelas
grandes, mas o plantio convencional em condições experimentais sempre está protegido, não
está exposto à erosão. As parcelas acabam protegendo umas às outras. Assim, não há aquele
efeito de rampa de escorrimento. Sempre em condições experimentais, o plantio convencional
está acima do que realmente é na realidade. No plantio direto com trigo-soja, as taxas em torno
de 600 kg por ano, um pouco mais. No histograma seguinte, a rotação em plantio direto.
Quero chamar a atenção da rotação com a presença da leguminosa. Existe um estímulo à
mineralização no plantio direto, com taxas menores do que as mostradas, que só se tem em culturas comerciais que formam aquela palha de final de ciclo de difícil decomposição. Lembrando
que há o tremoço e a aveia, culturas de adubação verde, que são manejadas no estado de pleno
florescimento, um resíduo de fácil decomposição.
É muito importante a relação de se ter resíduos de baixa decomposição, com outros de alta
decomposição, porque também a atividade biológica é muito importante. Existe a necessidade
de haver esse equilíbrio.
Na discussão da questão do Paraná,
o plantio direto é muito importante naquele
Estado porque as condições de PD são ideais.
Nas outras regiões temos que buscar soluções.
A avaliação, após 22 anos no sistema trigo-soja, de como é a distribuição de carbono no
solo pode ser vista na figura a seguir.
Percebe-se que a variação maior está na
superfície, sendo os ganhos em profundidade muito pequenos. Temos o plantio direto e
o estoque total nessa camada de até 40 cm,
plantio convencional. Uma diferença de 10 t
em 22 anos, o que dá uma taxa média para
as condições do Paraná, região Norte do
Estado, Latossolo Vermelho distroférrico, de
500 kg/ha/ ano.
Uma coisa que é preciso chamar a atenção também é quando ocorre o acúmulo de
carbono no plantio direto. Vimos anteriormente diferenças de estoque naquele período dividido pelo ciclo de tempo. Há uma taxa média
119
para aquele período, só que não é constante. Observe na figura a seguir, plantio direto após
doze anos.
Efetuaram-se avaliações ao longo do tempo. Temos que a taxa média durante o período
foi de 500 kg/ha/ano, mas essa taxa variou ao longo do tempo. Quando se sai do plantio convencional, uma situação de solo degradado, e passa para o plantio direto, existe um potencial
muito grande de acúmulo de carbono no inicio. A taxa chegou até 800 kg/ha/ano. Com oito
anos, ela foi reduzida em torno de 300 kg e, após doze anos, já está em 200 kg por ano. A taxa
vai variando ao longo do tempo e, com o isso, o sistema vai reduzindo o potencial de acúmulo.
Existe aumento de biomassa microbiana, existe aumento de demanda de carbono. A taxa não
é constante e o sistema também vai atingir seu equilíbrio. Isso aí está muito relacionado com as
características do solo e o teor de argila. Precisamos evoluir muito no tema.
Fizemos a avaliação seguinte em 2003,
na região paulista de Taciba, variação das perdas de carbono em solo arenoso, pastagem de
grama-matogrosso. Isso foi no auge da febre da
soja, que avançou em áreas de pastagem degradada, e nós fizemos o acompanhamento do
que aconteceu com o carbono após o manejo
da pastagem.
Esse é resultado de um manejo preconizado para a renovação da pastagem. Perdas
muito grandes no solo, na pastagem, com o
revolvimento e, após o segundo ano, a recuperação. Já no primeiro ano a pastagem foi arada
e utilizaram o plantio direto, mas aí a perda é
associada com a gradagem. No segundo já há
recuperação. Mas há uma perda. Observe-se
as perdas relativas do total, aproximadamente,
10% do carbono no solo e o resultado chama a
atenção! As perdas estão associadas às frações
menores. A fração associada ao silte e à argila é
a fração 200 a 53 micra.
A questão do fósforo já foi levantada. Num
experimento de longo prazo, após quinze anos,
a taxa de aumento do fósforo, principalmente na
camada de 0-10 cm em torno de 1,5 ppm por
ano de acréscimo. Aí é importante a questão do
tempo. A produção da soja no plantio direto,
com base na produtividade da soja, a diferença
entre o plantio direto e o convencional. A produtividade é maior no plantio direto, conforme
se vê no histograma em verde e em vermelho,
no convencional.
Para a época, na década dos 80s, com a
tecnologia disponível, foram necessários cinco
120
anos para que a produção no plantio direto
passasse a ser maior que no convencional.
Identificamos essa fase critica inicial do sistema,
depois passamos por uma estabilização e, após
dez anos, o sistema atinge a maturidade e há
sempre produções maiores no plantio direto.
Pode-se ver a evolução da tecnologia na
figura seguinte. O experimento começa em 89,
aquela fase crítica é reduzida e, praticamente,
não ocorre quando existe a rotação de culturas.
E a questão da rotação também não aparece todos os anos, só em anos ruins, os quais ocorrem
alternadamente.
Na figura acima, estão destacados os anos
em que houve o efeito da rotação de culturas.
A produtividade acumulada de soja no
plantio direto e no convencional com rotação
e com sucessão de culturas é vista na figura
seguinte.
A diferença do plantio direto em relação
ao convencional é mostrada na figura a seguir.
A diferença é de 7.600 kg durante o período. Se dividirmos esse valor pela produtividade
média, observaremos que, no plantio direto, obtiveram-se três safras a mais de soja em relação
ao convencional, com rotação de culturas, o que
equivale a uma safra a mais no plantio direto.
No mesmo exercício de sucessão, é necessário
um ano a mais para obter o mesmo resultado.
Na questão do calcário, o Caires praticamente esgotou o assunto. Mas é interessante a
gente observar. Nós tínhamos nessa situação
no ano passado, aveia e ervilhaca e pousio e o
efeito sobre o pH numa área sem calcário.
Percebe-se a redução do alumínio, principalmente em profundidade. Há redução à metade dos teores de alumínio com aveia e ervilhaca.
Na presença de calcário, intensificou-se o efeito
de redução em profundidade. Também se vê o
efeito de calcário. Está assinalado. Não aparece
o efeito em profundidade, devido ao solo muito
ácido, com teor de argila elevado. Os maiores
efeitos aparecem nas camadas superficiais de
0-10, 10-20 cm. O solo já está no processo de
121
acidificação. Os maiores efeitos foram observados doze meses após a aplicação do calcário.
Então, cada situação tem que ser analisada em detalhes.
Em Mauá da Serra, vêem-se os altos teores de matéria orgânica na instalação do experimento há mais de dez anos, o efeito sobre o alumínio, o cálcio e a produtividade, as culturas em
altos níveis de acidez. Observamos, antes alumínio, sendo a produtividade máxima observada
com 2,5 toneladas de trigo, e milho respondendo mais que a soja.
Leandro Zancanaro – Fundação Mato Grosso de Rondonópolis
Quando vimos aquele tema qualidade química do solo, confesso a vocês que fiquei um
pouco preocupado, porque nós estamos lá na frente dos produtores e, muitas vezes, nos atemos
muito à questão das análises de solo. O Heitor Cantarella comentou bem a própria questão
da matéria orgânica. Por exemplo, matéria orgânica total, que muitas vezes não nos dá uma
informação tão confiável. Nós deveríamos, talvez, pensar em matéria orgânica ativa, falar em
termos de qualidade química do solo para quem esta lá na frente do produtor. Fundado só em
análise do solo, tenho certa dificuldade de falar, porque é uma ferramenta fantástica, mas talvez
não explique muito as coisas. Essa é a dificuldade que temos diante do produtor.
Outra questão: o Dr. Fernando Cardoso falou ontem que, na verdade, aqui no Estado
de São Paulo, vocês têm muitas áreas que foram cultivadas há vários anos e que estão em
condições já degradadas. De certo modo, no Mato Grosso, temos uma situação mais ou menos
parecida, não com cem anos de cultivo, mas com dez, quinze anos de pastagem, abertura de
solos de cerrado, em que a pastagem foi implantada sem investimento nenhum. Hoje temos
solos que não têm mais capacidade de produzir forragem.
Nesse processo, é inevitável, do meu ponto de vista, entrar com agricultura nessa área.
Será, porém, que essa agricultura feita com soja, infelizmente monocultura de soja, deve ser o
sistema preconizado?
Creio que não. Na verdade, nesse sistema, a agricultura entraria como a maneira de viabilizar a correção de solo e, futuramente, voltar com pastagem, com uma capacidade de pastejo
maior, depois de dois, três anos. Voltar de novo com lavouras comerciais, nesse ano difícil,
nessas áreas com muitos solos de textura arenosa.
122
Em função da crise econômica, está-se começando a pensar em utilizar essas áreas para
reflorestamento. A crise ninguém deseja, porém nesse momento de dificuldade, o pessoal
começou a pensar em alternativas que, creio, sejam mais sustentáveis nesses solos que são de
alto risco.
Foi comentada aqui a questão de análise de solo. Uma questão que ocorre muito no Estado
do Mato Grosso para quem trabalha direto com o produtor é a diferença entre laboratórios e
que fazem o produtor falar muito em análise de solo. Nós notamos que há uma diferença muito
grande entre laboratórios. Além daquelas informações de pH, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, matéria orgânica e argila, é difícil falar em qualidade do solo só com base naquilo lá.
Outra questão no Estado do Mato Grosso é que temos poucas áreas com sistema de
plantio direto propriamente dito. Alguém ontem apresentou um dado de 22 milhões de hectares
com áreas de plantio direto. O Mato Grosso, hoje, tem próximo de seis milhões de hectares de
soja. Se vocês fizerem uma pesquisa, vão ouvir que cerca de cinco milhões estão sob plantio
direto. Mas, na verdade, é plantio direto sobre a palhada do milheto, porque antes da palhada
do milheto houve uma operação de niveladora. Na essência da palavra, nós temos poucas áreas
de plantio direto.
Foi comentada pelo Heitor e pelo Júlio alguma coisa sobre os pré-requisitos do plantio
direto, que são: não-revolvimento, rotação de culturas e cobertura de solo. Lá fazemos o revolvimento, embora mínimo, muitas vezes com niveladora, mas fazemos. A rotação de cultura: na
verdade, fazemos o uso de monocultura de soja. Quem cultiva algodão também faz a monocultura do algodão. Nós também, assim como vocês aqui, ainda temos muito o que melhorar.
O que eu chamo a atenção é sobre a questão da análise de solo desse sistema e cobertura
de solo. Temos uma cobertura de solo com monocultura também de milheto produzindo muito
pouco. Considerando aquilo que o Heitor comentou, da questão da matéria orgânica ativa, se
vocês pegarem os dados de alguns laboratórios que estão no mercado lá no Mato Grosso, há
quinze, vinte anos, percebe-se, realmente, que pelos teores de matéria orgânica das análises de
rotina, mesmo nesse sistema, temos uma monocultura, que tem outro revolvimento de solo, os
teores totais de matéria orgânica do solo estão subindo.
É comum, nós que estamos diante do produtor de algodão, o agrônomo que cuida de uma
área de algodão falar assim: “eu faço monocultura de algodão e minhas análises de solos estão
acusando aumento de matéria orgânica do solo”. O que significa a qualidade dessa informação?
Na verdade, há muita coisa que é material orgânico ainda, que está sendo interpretada como
sendo matéria orgânica nas análises de rotina. Nós, muitas vezes, estamos diante desse agrônomo, desse produtor, e eles usam isso como argumento, só que nós temos uma necessidade de
mudar o nosso manejo.
Sobre a parte química, eu vou passar. A acidez foi muito comentada aqui, mas eu vou
comentar algumas dúvidas, alguns questionamentos, que, geralmente, um produtor, ou um
agrônomo, que está diante de uma propriedade nos faz.
É sobre a adoção de plantio direto. Nós temos lá na parte química, a acidez como um dos
principais fatores em que, volta e meia, o pessoal justifica o revolvimento maior dos solos em
função da calagem. Por exemplo, acho que o Heitor e também o Caires comentaram sobre a
questão dos critérios. Será que os critérios são os mesmos para os sistemas com textura? Aqui
os níveis de acidez adequados para alto potencial produtivo são os mesmos para o plantio direto
e o convencional?
123
Essa é uma dúvida que o pessoal nos traz e, acompanhando lavouras comerciais para
manter nossos programas de pesquisa, verificamos que há muitas áreas com pH baixo, com
saturação por bases até então consideradas baixas, com potencial produtivo muito alto. Aí o
produtor questiona: faço ou não faço calagem? E entra outra questão. Nós, no Estado do Mato
Grosso, temos uma boa área tomada pelo nematóide de cisto. Daí entra aquele medo: se eu fizer
calagem em excesso, como fica o meu nematóide de cisto? Essas são perguntas que eu acho que
o Heitor levantou, que merecem ser estudadas.
Outra questão. Nós temos lá solos com textura arenosa e solos com textura argilosa. Creio
que, nos argilosos, temos menos problemas. Na questão dos solos arenosos lá, como eu lhes
falei, temos muitas áreas de pastagem que não têm mais capacidade de suporte. Há necessidade
de recuperar esses solos. Mas nós temos que ter em mente também que esses solos de textura
arenosa, que estão sendo cultivados no Mato Grosso não têm aptidão agrícola. Ao entrar nesses
sistemas com culturas anuais, nós devemos ter em mente que não são recomendadas para esses
solos. Mas será que os critérios de recomendação são os mesmos?
Vou dar um exemplo bem rápido de nossos dados. A figura a seguir mostra a condição
inicial de um solo com 10% de argila, CTC 3,2;
V % 12.
Na figura a seguir temos a produtividade
de dez variedades de soja em combinações de
calcário dolomítico, calcítico, a dose total considerando o PRNT 100.
Observamos que, de modo geral, mesmo
na área de abertura de cerrado, ou de recuperação de pastagem degradada, a quantidade de
calcário utilizada é bem maior do que a recomendada por qualquer critério.
Nós estamos falando de plantio direto,
mas por que tocar nesse assunto aqui? Por que
nossa intenção na Fundação, na idéia de tentar
recuperar esse solo, nós temos que fazer sua
correção da maneira mais rápida possível, para
evitar a necessidade futura de fazer seu revolvimento de novo. Nós temos o cerrado. Lavouras
comerciais têm demonstrado que, realmente,
para se entrar num solo de textura arenosa em
plantio direto é preciso fazer uma correção inicial, que é a premissa básica do plantio direto.
Essa correção inicial, porém, é com quantidades bem maiores do que as recomendadas por qualquer critério. Por que isso? Não sabemos.
Inclusive, uma estudante de doutorado de Viçosa, que trabalha na Embrapa, passou uma semana conversando com várias pessoas e isso vai ser assunto da sua tese de doutorado. Por que
razão, não sabemos.
Há um trabalho do Roque e Prado na Revista Brasileira de Ciência do Solo, onde citam o
Quaggio, do IAC.
124
O parágrafo em destaque é da discussão
desse trabalho e tem vários fatores. O Quaggio
deu suas explicações, que são uma revisão do
que o Prado e o Roque utilizaram para explicar
seus dados. E também repetiram os dados do
Mato Grosso. Ou seja, essa subestimativa não
ocorre só no Mato Grosso.
Outro ponto que o pessoal do Mato Grosso
questiona é quando está com plantio direto. A
princípio, esse cultivo mínimo estabelecido, o
que fazer quando há uma acidez acentuada nas
camadas de 10 a 20 cm de profundidade, já que
não houve, inicialmente, correção adequada para a implantação do sistema plantio direto?
Em Mato Grosso, as extensões de áreas são muito grandes e o pessoal acaba fazendo a
incorporação de calcário com grades de 28 polegadas. Olhando, a profundidade de corte dessa
grade chega a 20 cm, mas a profundidade de incorporação é menor. Hoje, temos muitas áreas
com essa condição de acidez 10 a 20, uma correção muito superficial. Ou seja, já se partiu de
uma situação inadequada. O que fazer? Parte-se para a calagem superficial ou volta-se para
o convencional? Incorporo isso em profundidade, para depois começar novamente o plantio
direto? Quais as condições, porém, para que a calagem superficial seja adotada?
Do meu ponto de vista, não sei se estou errado, mas para a calagem superficial ter uma
resposta temos que ter cobertura de solo, e é onde temos pecado até o momento. Muitas vezes,
optamos pela calagem superficial pela facilidade, mas não temos a condição necessária para
que ela funcione.
Então, a importância da cobertura em solos com uma textura arenosa, a manutenção e
o acréscimo da matéria orgânica e a reciclagem
de nutrientes, ajudam.
Eis uma questão desses solos mais críticos
que o Estado do Mato Grosso tem, e que talvez
São Paulo também tenha. Eu vejo o seguinte
estabelecimento das culturas anuais. A figura a
seguir são fotos que tirei na semana passada, de
um solo arenoso, que, na minha opinião, nem
deveria ser cultivado.
Eu fico pensando: o que essas plantas,
nesse solo, estão sentindo agora? Eram umas
três horas da tarde. Eu tenho que pensar num
sistema que garanta condições de, pelo menos,
estabelecer e ter o desenvolvimento inicial da lavoura. A cobertura do solo, além da manutenção de matéria orgânica e reciclagem de nutriente deve ser usada também nesses solos, para a
agricultura com restrições: só para viabilizarmos a recuperação da fertilidade, para depois voltar
com pastagem ou reflorestamento.
O milheto implantado na semente Mariana, que é uma referência na utilização de solos
arenosos é muito bem produzido, mas na linha de plantio ainda temos o solo muito exposto, e aí,
125
é muito fácil ocorrer a morte da planta. Cabe uma questão sobre Brachiaria ruziziensis, implantada no final das chuvas passadas em solo arenoso. Eu prefiro uma cobertura como mostrada
a seguir, porque cobre mais uniformemente a superfície, protege das alterações de temperatura
e já tem um pouco mais de umidade, para o
estabelecimento da cultura na fase inicial.
Para terminar, minha pergunta é a seguinte: nós temos na Fundação Mato Grosso
uma preocupação: será que nesses solos extremamente sensíveis nós devemos, dentro do
manejo da química do solo, da fertilidade do
solo, da adubação do solo, embocar a cultura
necessariamente? Ou o sistema para eu plantar
e conseguir colher tenho que estabelecer bem a
primeira cultura? Será que eu não devo mudar
o sistema de adubação para pensar na cultura
de cobertura? Dar-lhe a mesma prioridade que
dou para a cultura comercial?
É claro que isso vai representar em custo,
mas eu não posso só pensar em lançar a tecnologia para aumentar o custo. Na verdade,
tenho que aumentar minha eficiência e diminuir
meu risco. Nós temos dados que mostram que,
muitas vezes, é possível investir nessa cultura de
cobertura, porque a soja recupera bem o que se
fez na cultura anterior.
Então, uma linha de pesquisa futura, não
sei se vocês concordam, é pensar como favorecer a cultura de cobertura. Seja ela braquiária
ou milheto, sem comprometer o potencial produtivo, garantir uma facilidade e o menor risco em
implantar a cultura anual, que deve ser usada com restrição.
Não há como investir em culturas de cobertura, que na visão dos cientistas e produtores
não tem valor comercial. Mas até a safra 2005/2006, era fácil convencer utilizar quantidade de
fertilizantes em áreas com a fertilidade já corrigida. Lá existe uma troca de valores. Dá-se muito
valor a fertilizantes e pouco a manejo. Achamos que há necessidade de mostrar trabalhos que,
nesses solos extremamente sensíveis, talvez tenhamos que pensar muito mais em manejo da
palhada e matéria orgânica como um todo.
Conhecimentos hoje existem em nossa opinião, não de forma pronta a responder às
dúvidas. As informações existentes, associadas aos fundamentos e às observações que resultam
em soluções. Muitas vezes, o produtor e o agrônomo querem as soluções prontas. Acho que a
pesquisa, incluindo vocês que estão na Embrapa, no IAC, têm que, realmente, como diz o Ciro,
preocupar-se muito mais com os processos. Depois, nós da assistência técnica, que estamos
mais próximos do produtor, temos a capacidade de associar as informações com as observações
do dia-a-dia, para chegar às soluções.
126
Todavia, o Merola está aí e é produtor. Nada adianta todo o conhecimento gerado se ele
não fizer tudo direito. Eu tenho a tecnologia perfeita, porém o produtor na sua execução falha,
queima a tecnologia. Hoje, informação é importante, mas também a qualidade na implantação
de qualquer tecnologia.
Discussão da Mesa Redonda
Antonio Luiz Fancelli – Esalq/USP
A gente tem que tomar cuidado com o trabalho em termos de utilizar estatística e coisas
desse tipo. Não é porque está publicado que determinada coisa seria adequada, porque há muito lixo publicado também. Só para ter uma idéia: hoje, eu estou analisando um trabalho para
publicação e, em função da quantidade de nitrogênio que esse autor encontrou nos nódulos,
fazendo uma continha rápida, tem aqui 428 kg de nitrogênio fixado pelo feijão nesses nódulos.
Isso está completamente errado. Não pode ser publicada uma coisa desse tipo. Em termos de estatística, a gente pode utilizar estatística não paramétrica e outras coisas. No caso de braquiária,
que foi aqui uma indagação do Cruciol. Será que ela está fixando nitrogênio? Já existem, pelo
menos, uns três trabalhos na literatura que mostram que braquiária fixa nitrogênio através de
fixadores livres. Há um trabalho que mostra que a braquiária pode fixar até 45 kg de nitrogênio
por hectare. Isso aí é importante. Milheto também, até 30 kg por hectare, já existe trabalho na
literatura. O guandu também favorece bastante a solubilização de fósforo, já há trabalho, uma
dissertação do Renato Amable que foi meu orientado. Só queria levantar uma questão. Eu não
entendi bem o que o Crusciol colocou aqui, de que a aplicação de nitrogênio aumenta cálcio e
magnésio. Eu queria entender o que significa isso. Aumenta cálcio e magnésio?
Carlos A. Costa Crusciol ����������������
– UNESP/Botucatu
O que se tem observado é que com a adição de nitrogênio, tem ocorrido aumento de
nitrato no perfil do solo e, conseqüentemente, cálcio e magnésio. A gente acredita que o nitrato
está funcionando como par iônico do cálcio e do magnésio e arrastando no perfil.
Antonio Luiz Fancelli – Esalq/USP
Então está melhorando a distribuição e não aumentando o cálcio e o magnésio.
Carlos A. Costa Crusciol ����������������
– UNESP/Botucatu
Desculpe-me. Acho que foi uma colocação errada. É que o cálcio e o magnésio colocados
em superfície estão melhorando essa distribuição.
Ciro Rosolem – UNESP/Botucatu
Bom, tentando resumir. Eu era debatedor ontem, mas quero propor uma coisa aqui. Queria
ouvir, na verdade, porque é uma confusão que eu tenho na cabeça e tem a ver com a dúvida
127
que você levantou agora, que eu acho que existe com relação a esse fenômeno assim chamado
de auto-calagem. Há algumas coisas que estão acontecendo, que a gente está vendo e na verdade não sabe bem. O Pavan e o Franchini começaram a trabalhar com ácidos orgânicos. É difícil
a gente falar que o processo não existe. Ele existe. A minha dúvida é o tamanho do significado
desse processo no campo. Nós temos trabalhado com algumas coisas e os nossos resultados têm
apontado mais para um efeito da decomposição vegetal, gerando nitrato, e a própria adubação
nitrogenada, lixiviando potássio, cálcio e magnésio. Nós temos trabalhos lá com milheto, com
aveia, com nabo, sem alteração nenhuma nos teores de cálcio e magnésio no perfil.
São trabalhos conduzidos de maneira diferente. Mais clássicos são os trabalhos com pequena movimentação de carbonato e de sulfato. Gostaria de ouvir o que a audiência sentiu. O
que eu senti de hoje e que parece pela apresentação do Eduardo, do Crusciol e do Franchini,
é que, realmente, devem existir os processos dos ácidos orgânicos, mas eles não são tão essenciais. Parece que estão sendo mais importantes os íons minerais. Eu gostaria de ouvir se existe
um consenso nisso, ou ainda temos que gastar muito tempo nisso?
Bernardo van Raij - IAC
Eu só complementaria uma coisa. Um dos principais carreadores de cálcio e magnésio é
nitrato, que quando é absorvido embaixo, eleva o pH. É um mecanismo de correção, mas como
você diz, o importante é a magnitude. No plantio convencional ocorre muito essa lixiviação de
nitrato, porque você ara todo ano e quebra matéria orgânica. No plantio direto você não quebra
a matéria orgânica e não tem tanta decida de nitrato. Acho que esse vai ser o ponto.
Ondino Bataglia - IAC, Conplant e Fundação Agrisus
Minha questão é a seguinte: a Fundação Agrisus tem o objetivo neste Workshop de levantar questões que precisam ser resolvidas para financiamento de projetos. Será que vale a pena
ficar financiando projetos para estudar amostragem ainda? Não bastam os dados que nós temos
e já fixar em 0-20, que é a zona do sistema radicular para amostragem? Porque, à medida que
você estimula estudos, aparecem resultados dos mais variados e aí, o sistema de recomendação
fica muito complicado.
Heitor Cantarella – IAC
Eu levantei a questão porque existem recomendações, especialmente do Rio Grande
do Sul, para mudança de profundidade de amostragem. E o Rio Grande do Sul tem uma
tradição maior que a nossa, em plantio direto, com mais áreas. O Paraná também tem
adotado uma amostragem mais superficial de 0-10 cm e isso traz para nós uma incerteza,
já que aqui em São Paulo ainda mantemos a recomendação de amostrar 0-20 cm. Eu fico
contente de saber que amostrando de 0-20 não estamos errando. Mas é uma questão que
temos que debater. Temos que saber se nós precisaremos gastar tempo com isso novamente,
mas é o que está em pauta.
128
Júlio Cezar Franchini – Embrapa Soja
Eu não ia falar sobre amostragem, ia falar sobre a questão da calagem. O efeito da calagem superficial ali não foi colocado no momento, mas os trabalhos do Caires são em áreas de
plantio direto há muito tempo. Esses efeitos a gente tem observado. Eu mostrei Mauá da Serra,
que é o estudo em que temos os dados mais recentes, mas são regiões que têm uma condição
climática favorável para a formação do resíduo. Nós, do IAPAR, o Mário e o Pavan, nunca colocamos em nenhuma recomendação. Através dos trabalhos, mostramos que era possível haver
esse mecanismo e contribuir para o processo. Nunca colocamos em nenhum lugar que era para
fazer dessa forma, não demos receita. Mostramos o mecanismo e que ele era possível.
Então ali, no caso de Mauá da Serra, a gente observou numa região de plantio direto e
também uma das mais antigas do Brasil, teores elevados de matéria orgânica. No plantio direto,
temos observado que também há o aumento de carbono solúvel. O processo é favorecido. Agora
se é composto de baixo peso molecular, ou se é de alto peso molecular, eles têm uma participação no processo. No início, geramos essa discussão. Realmente, o processo é importante ou
não? Depende da quantidade do material produzido. É uma conta simples, quanto mais massa
produzida. Aqui também nós falamos muito em massa e palha, resíduos diferentes. Quando a
gente fala de milheto, de braquiária, de aveia e de nabo são coisas diferentes. A composição
é diferente. Nós não podemos esperar o mesmo resultado usando qualquer tipo de resíduo, a
palha. O Heitor colocou aqui a palha de cana. É um material praticamente inerte, tanto que se
mantém muito tempo na superfície. A gente tem que saber o que esperar do material que está
usando.
Eduardo Fávero Caires – UEPG
Só respondendo ao que o Ciro questionou. Confesso que acho que é um conjunto de efeitos muito difícil de isolar no campo. Eu não tenho o convencimento de que a lixiviação de nitrato
seja o principal mecanismo. A gente tem feito alguns estudos e sabe que há uma contribuição.
Agora, que é o principal mecanismo envolvido na correção do subsolo, eu não tenho esse
convencimento ainda. Em áreas mais antigas em plantio direto, os efeitos são bem maiores. Em
áreas mais recentes em plantio direto, a movimentação do calcário é bem menor. Então, lógico.
Em áreas mais antigas eu vou ter mais carbono e nitrogênio, mas também existem dados bem
concretos de movimentações por compostos orgânicos de alta massa molecular, que é o caso de
solvato de cálcio. Em áreas de plantio direto mais antigas, acredito que as concentrações sejam
mais altas. É difícil isolar mecanismos. Existe um conjunto todo. Há também aqueles canalículos
de movimentação física, que eu não sei até que ponto possam contribuir. Mas acho que é um
assunto ainda interessante, para ser mais estudado e mais investigado, para entendermos melhor os mecanismos.
Denizart Bolonhezi – Apta/Ribeirão Preto
Só para aproveitar o momento. Eu não ouvi ninguém mencionando sobre o uso de silicato no
plantio direto e eu sei que o público aqui tem muita capacidade para tecer algum comentário para
deixar isso registrado. Na prática, a gente tem visto em São Paulo aplicação de silicato em superfície.
Daqui a pouco, até na papinha da criança vai poder usar silicato, de tantos benefícios que a ele têm
129
sido apregoado, sem talvez um respaldo científico. Se puder alguém fazer algum comentário para
não deixar passar em branco, porque tem tudo a ver com qualidade química de solo.
Ricardo Ralisch – UEL
Com relação à dinâmica de nutrientes, parece-me que é um dos assuntos que o plantio
direto exige que tenha primeiro uma mudança de conceitos, que precisam ser estudados, aprofundados. Não é o único, são diversos. Esse é um deles. E com relação à amostragem, o que
nós estamos fazendo, pelo menos nas áreas em que temos atuado, não é 0-10 ou 10-20 cm, são
ambas. É estratificar a amostragem, porque ela dá uma interpretação muito melhor de como
está acontecendo essa concentração e a distribuição.
Ricardo Merola – Fazenda Santa Fé
Como agricultor que estou em uma região que tem uma oferta muito grande de cama de
frango, através da Perdigão, dejetos de suíno e do próprio esterco de curral, do meu próprio
confinamento. Todos os trabalhos que a gente tem lido falam de você incorporar esse material
orgânico ao solo. Eu quero saber se já existem estudos da sua aplicação em solo sem incorporação. Se os resultados são iguais, qual a liberação e o tempo de liberação da matéria orgânica?
Participante não identificado
Eu já li alguma coisa. Existem alguns trabalhos muito antigos que dão conta de que se
pode colocar na superfície, sim. É lógico que estamos falando de 5 a 6 toneladas. Nessas quantidades não há problema nenhum.
Ricardo Merola – Fazenda Santa Fé
E a liberação desse?
Bernardo van Raij - IAC
Normalmente, esses produtos orgânicos todos não teriam problema, porque muita coisa
já penetra no solo. Por sinal é muito bom, porque é uma adubação. Quando você põe na forma
líquida é uma adubação que penetra no solo, como a vinhaça.
Ricardo Merola – Fazenda Santa Fé
No caso é um produto que não penetra, esterco de gado e cama de frango.
130
Bernardo van Raij - IAC
Ele perde um pouco por volatilização. O silicato de cálcio funciona como calcário, vai
ter o mesmo problema de granulometria, mas a sílica fica lá. Então para gramíneas, às vezes,
favorece um pouco.
Opinião dos participantes
• Uso criterioso de fertilizantes contemplando, preferencialmente, o sistema agrícola produtivo e não a cultura; culturas (espécies vegetais) como contribuidoras para liberação, mobilização, disponibilização de nutrientes; taxas de mineralização de material orgânico; quebrar o
paradigma de que adubo verde está orientado à produção de nitrogênio, quando deve estar
orientada à produção de carbono, entrando na dinâmica de nutrientes.
• Limitações: agricultores e técnicos pouco conhecem sobre física, química e biologia do
solo; pesquisa focada em ensaios de laboratório; necessidades: pesquisa em qualidade de aplicação de corretivos e fertilizantes; desenvolver novas formas de adubação; melhorar a qualidade
de fertilizantes.
• Aprofundar os estudos da dinâmica de nutrientes, associados aos diferentes resíduos;
analisar os ácidos orgânicos.
• Qual a real contribuição e estudos de taxa de mineralização da matéria orgânica do
solo. O SO42- e a evolução dos atributos físicos. Reciclagem de potássio e enxofre pelo milheto.
• Necessidade de aprofundamento da pesquisa nos processos e reações químicas que estão surgindo no SPD, com quebra de paradigmas e revisão dos antigos conceitos agronômicos.
• Investigar um pouco mais a respeito da dinâmica do nitrogênio no sistema e as relações
com cálcio e magnésio. Conhecer a qualidade da matéria orgânica e o comportamento do
carbono. Além de estudar as simbioses relacionadas com a química do solo.
• Calagem x gessagem = índices de decisão.
• Amostragem de solo adequada à realidade do Estado; condições mínimas necessárias
para aplicação da calagem em superfície.
• Adubação de sistemas de produção; dinâmica de nutrientes em SPD; desenvolvimento
e estudo de fertilizantes com solubilidade gradual; estudo do aumento de eficiência do uso do
fósforo em PD; avaliação da importância de distribuição do fósforo ao longo do perfil do solo;
estudos da relação solo-planta em nível de rizosfera.
• O potencial diferenciado das espécies em alterar o comportamento químico do solo em
relação à disponibilidade de fósforo, mobilidade de cátions e imobilização de alumínio, ainda
permanece em aberto nas condições de São Paulo.
• Pouco se sabe sobre esse item. Ainda temos que aprender. São muitas as experiências,
mas o assunto é complexo e requer investimentos em recursos humanos.
• Registrar acúmulo de carbono e nitrogênio em diversas situações ao longo do tempo;
pesquisar se há necessidade de melhorar a fertilidade do subsolo, ou se a palha e a colocação
superficial de insumos resolvem tudo.
• O manejo da calagem em solo nos sistema plantio direto, quanto a parâmetros para
interpretação e recomendação da calagem superficial. Em que condições ela é recomendada?
131
• Estudos de antecipação da adubação nitrogenada na semeadura; estudos de fontes
e doses de fósforo x eficiência de aplicação; movimentação de calcário aplicado na superfície
por compostos orgânicos e inorgânicos; gesso agrícola = critérios para a sua recomendação;
níveis críticos de enxofre no solo para o desenvolvimento de plantas gramíneas e leguminosas;
micronutrientes = disponibilidade e níveis críticos.
• Qualidade (fracionamento) da matéria orgânica; matéria orgânica ativa; calagem em
SPD; ciclagem do nitrogênio/matéria orgânica (aspectos microbiológicos/bioquímicos); indicadores de qualidade do solo.
• Pesquisas necessárias: calagem e gessagem no plantio direto; fertilidade do substrato
para aprofundamento do sistema radicular; micronutrientes: modos de aplicação, doses etc.
• Recomendação para análise de solo para plantio direto; estudo aprofundado dos microrganismos do solo no plantio direto.
• Qualidade da matéria orgânica em função do sistema de rotação; antecipação da adubação nitrogênio (adubação das plantas de cobertura); aumento da disponibilidade de fósforo,
após cultivo com brachiárias (fracionamento de fósforo).
• Maior treinamento e instrução de agentes da extensão para, efetivamente, pôr em prática toda pesquisa e desenvolvimento das técnicas do plantio direto. Existem estudos, mas eles
não chegam ao agricultor.
• Gesso aplicado em PD. Precisa de números para PD em SP; amostragem não está
convincente. Que sabemos sobre o quê fazer?
• Ciclagem de nutrientes; manejo de cobertura morta em plantas perenes – café/citros.
• Estudo da ação das coberturas na disponibilização dos nutrientes.
• Ciclagem de nutriente; critérios para calagem/correção do solo; dinâmica do fósforo;
micronutrientes em ambientes com + matéria orgânica.
• Sítios de fósforo; levar cálcio ao subsolo com gesso; reatividade dos calcários a utilizar.
• Faltam parâmetros de qualidade para plantio direto (químico, físico, biológico) quando
o solo está doente.
• Estudar o modo de aplicação de nutrientes, relação entre matéria orgânica x disponibilidade de nutrientes e desenvolvimento do sistema radicular. Definição de metodologia de
amostragem de solo sob plantio direto.
• Determinação de níveis críticos de silício no solo para recomendação do uso de silicatos.
• Os conhecimentos são abundantes, porém existe a necessidade de se conhecer melhor
o aporte de nutrientes que as palhadas podem suprir às culturas comerciais.
• Estudos de freqüência de adubação e quantidade necessária no sistema no ano agrícola; inter-relações entre sanidade de plantas e estado nutricional, também com vistas ao controle
fitossanitário; reciclagem por distintas espécies de cobertura; necessidade ou obrigatoriedade de
adubações parceladas.
• Manejo de fósforo e potássio na cultura de cobertura e disponibilidade desses nutrientes para as culturas em sucessão; efeito da gessagem na eficiência da fertilização nitrogenada,
considerando a melhoria da fertilidade do subsolo e o maior aprofundamento do sistema radicular; velocidade de reação do calcário aplicado superficialmente e relação com a umidade, em
função do acúmulo de palha.
• Os dados abordados ou mostrados, vimos que V% baixo não se mostrou não limitante
em certas condições de plantio direto. O que está ocorrendo? Necessitando um detalhamento
da química do solo sob essa condição, o manejo do solo sob plantio direto.
• Em nitrogênio: incentivar estudos em que a microbiologia e enxofre participem nos
trabalhos de manejo de nitrogênio; estudos da rizosfera nos sistemas de rotação.
132
Mesa Redonda IV
Qualidade física do solo e mecanização para o sistema de plantio direto
Moderadora
Isabella Clerici De Maria
Instituto Agronômico – IAC
Apresentadores
Ricardo Ralisch
UEL
Afonso Peche Filho
Instituto Agronômico – IAC
Debatedores
Paulo Sérgio Graziano Magalhães
Unicamp
José Eloir Denardin
Embrapa Trigo
Orlando Pereira de Godoy Neto
CAT Pirassununga
133
APRESENTAÇÃO 1: Ricardo Ralisch – UEL
Na minha apresentação, vou falar um pouco sobre plantio direto-sistemas de produção,
física do solo e mecanização, entrando mais especificamente, no assunto degradação física do
solo. E, finalmente, gostaria de falar sobre o uso de máquinas agrícolas como solucionadoras
de problemas, como um recurso para nos dar um resultado, ou solucionar determinados
problemas.
O que tem acontecido, algumas vezes, é que temos invertido isso, usando a máquina para
nos criar problemas. O sistema convencional foi muito nítido nisso; então, pretendo dar uma
rápida abordagem.
Entrarei, rapidamente, no primeiro assunto: plantio direto-sistemas de produção. Tivemos
uma experiência na região de Londrina, mais especificamente na microbacia do Ribeirão Jaú,
município de Rolândia. Fizemos um levantamento sobre sistemas de produção em determinada
bacia, bastante detalhado, com efeitos, classificação e reconhecimento do solo, e uma avaliação de como tais sistemas de produção estão afetando algumas das características do solo.
Logicamente, o objetivo do trabalho sempre foi o plantio direto em culturas anuais. Mas, eu gostaria de abrir outro horizonte para todos os sistemas de produção, trabalhar no conceito plantio
direto, seja para culturas anuais, semiperenes e perenes, seja para horticultura. Há outras áreas
em que o plantio direto pode ser empregado, além das culturas anuais. Mas, aqui, nós temos o
foco em culturas anuais e, por isso, identificamos diversos sistemas de produção e de cultura e
tentamos analisar seus efeitos no solo.
Por que menciono esse trabalho? Porque ele foi o prólogo para uma linha de trabalho que
temos hoje em Londrina, que é a sustentabilidade dos sistemas de produção. Nele pudemos ver
que, na verdade, plantio direto, que nós chamamos de integral, são somente parte das áreas
trabalhadas, que adotaram integralmente todas as recomendações do plantio direto.
Temos que superar as condições inadequadas, seja plantio, colheita, semeadura, seja aplicação de defensivos. Nós precisamos acompanhar. Isso precisa ser monitorado e controlado.
Quem nos pode ajudar nisso? Um bom sistema, uma boa rotação, plantas com o sistema radicular mais agressivo.
Do ponto de vista ainda da compactação, só citando um pouco da nossa experiência,
temos constatado basicamente dois problemas muito comuns quando somos solicitados a fazer
uma análise de área com compactação. O primeiro problema, e o mais recorrente, é este: o
que se considera como compactação não é. Na verdade, é uma recuperação das características
naturais do solo depois da adoção do sistema. É um solo naturalmente denso, no qual ocorre a
recuperação das suas características naturais, quando não há o revolvimento contínuo. Não é
uma compactação, ele está voltando às suas características. É muito freqüente encontrar perfis
de solos nos quais o horizonte A já foi perdido por erosões antigas. Estamos trabalhando praticamente no B, no B estrutural, no B latossólico. Se é um B estrutural, é lógico que ali é muito
denso e temos que conviver com isso. Não é com operações agrícolas e com rompimentos sucessivos que vamos conseguir reconstruir essa estrutura. É justamente com rotação e densidade
de raízes, com matéria orgânica e com um sistema bem conduzido.
Outro problema que temos visto com alguma freqüência é que há uma compactação residual, causada pelo sistema anterior, que não foi adequadamente controlada, ou que ainda não
tem sido bem controlada. Como vamos lidar com essa compactação? Depende da sua intensi-
134
dade, profundidade e da espessura em que está. Temos tido bastante sucesso em minimizar o
efeito dessa compactação com um bom sistema de rotação de culturas e de rotação de sistemas
radiculares. Eles nos ajudam a romper essas camadas e, paulatinamente, elas se vão recuperando. É muito mais fácil recuperarmos as camadas compactadas da superfície, do que um pouco
mais embaixo, porque na superfície o clima nos ajuda muito. As sucessivas mudanças do estado
úmido para seco nos ajudam bastante na ruptura dessas estruturas. Quando fica um pouco mais
embaixo, a 20-25 cm, são as raízes que vão ter que nos ajudar. Numa eventualidade, a máquina
pode ser empregada, desde que seja a adequada, na condição adequada. Mas isso é, volto a
dizer, interrupção do sistema.
Existe uma prática também na região de Londrina que é a da escarificação; A cada dois
anos, a cada quatro ou cinco safras, automaticamente, o agricultor, o produtor, faz isso sistematicamente. Não é conveniente nem necessário. É um dispêndio desnecessário de recursos,
cujos efeitos não são tão interessantes quanto se imagina. Isso precisa sempre ser levado em
consideração.
Do ponto de vista de outras regiões, o que nos preocupa muito é a compactação que
chamo de arranjamento, de organização das estruturas, que sucede com solos mistos, tendendo
a arenosos. A compactação nos argilosos, que nos parece mais nítida que nos arenosos, parece muito mais fácil para conviver com ela. Temos tido muita dificuldade de conviver com as
compactações de rearranjamento de partículas que se dão no perfil do solo, em função de sua
degradação física, que é a desagregação.
A compactação é muito importante, só que a desagregação também é uma degradação
física muito importante. Principalmente em solos mistos, com teores de areia acentuados, mas
que tenham ainda um teor de argila importante. Nós, através de algumas operações agrícolas - e
a semeadora é uma delas - provocamos uma desagregação. Essa compactação de organização
dos diferentes tamanhos de partícula no solo tem sido muito difícil de controlar. Esse é um efeito
que temos que evitar antecipadamente.
Para dar um exemplo do que seria a compactação por desagregação, o selamento superficial, por exemplo, é um efeito de desagregação. A gente desagrega a superfície. Há vários
exemplos de operações recomendadas para uma determinada região as quais são totalmente
inadequadas. Promoveram a desagregação, até a ruptura de todas as estruturas do solo. Elas
causam o selamento superficial do solo de uma região, praticamente impedindo e inviabilizando
sistemas de produção. A desagregação, além da compactação, parece-me uma coisa à qual
devemos estar atentos.
Máquinas para solucionar os problemas. Bem, eu estava dizendo que do ponto de vista
de sistemas de produção, e a ligação disso com o sistema plantio direto, é lógico que existe uma
tendência de nos atermos às culturas anuais, mas os conceitos podem ser aplicados em qualquer
circunstância. Todavia, eu vou discutir com base nas culturas anuais, porque, pelo que observei
das discussões de ontem, surgiram algumas questões. Vou mencionar um trabalho que ainda
não tem resultados tabulados. Nós o estamos executando agora, que é justamente comparando
semeadoras e sistemas de rompimento de solos e sulcadores. O que me chamou a atenção foi a
preocupação do Jamil com a palha.
Temos, por exemplo, quando avaliamos uma semeadora, seu efeito na redução de cobertura. Ela rompe o solo e ficamos preocupados com isso, e é sempre uma avaliação que
fazemos.
135
Em sistemas diferentes, usaram-se sulcadores desiguais. Há casos daqueles sempre com
hastes, mas sulcadores diferentes e que promovem a redução de cobertura muito mais acentuada, diferente de outros, com uma redução bem menor. Há efeito também na emergência e na
germinação, o que pode ser muito bem percebido com os semeados no mesmo dia, comparados
com aqueles 21 dias após a semeadura, com um bom regime de chuvas após a semeadura.
São preocupações que nós temos com sistemas de rompimento de solo e como isso funciona. Por que estou usando esse exemplo?
Porque, se nós voltarmos para a circunstância mencionada inicialmente, em que a preocupação é com a redução do índice de cobertura, nós encontraremos o efeito, notadamente
com 35% de redução da cobertura. Pode se comparar com uma região com cerca de 95% de
cobertura. Um dos equipamentos reduziu 35% e, o outro, 44% da cobertura. É importante isso
do ponto de vista da sua manutenção, um aspecto importante que nos tem preocupado.
Temos tentado induzir, principalmente o Denardin com seus trabalhos, o IAPAR com a
equipe do Ruy Casão aliados aos fabricantes. Há, porém, um efeito com a emergência das plantas. É nítida a diferença. Qual é o aspecto curioso? É que a máquina que teve redução menor da
cobertura tem uma pequena diferença da configuração da haste. Ela teve, no entanto, um efeito
muito grande na emergência. A outra máquina, apesar de ter tido um efeito na cobertura mais
maléfico, pior, teve 143,1 plantas a cada 10 metros, que emergiram após 21 dias. Outra teve
92,6, praticamente 93 plantas emergidas a cada 10 metros, após o período de 21 dias.
Há também esse aspecto importante. Existem diversas suposições para isso, mas a principal é o contato solo-semente, o efeito como esta haste está promovendo a linha de semeadura.
É até perceptível a exposição de torrões.
O mecanismo de ruptura do solo, o mecanismo de abertura, de mobilização são importantes de reconhecer. Cada sistema deve ser utilizado para cada tipo de solo, para cada circunstância que está nele. Isso significa que o mesmo conceito que tínhamos de alternância de sistemas
de ruptura, de abertura de sulco, com o preparo do solo, temos que ter com a semeadura. A
associação dos discos duplos da haste, quando usar isso ou aquilo, tudo depende do tipo, das
características e das condições em que o solo se encontra. Se está propenso à exposição de
torrões, à formação de torrões; se está propenso à ruptura, ao cisalhamento, tudo isso deve ser
considerado. São informações a levar em conta até na escolha desses equipamentos.
Ainda do ponto de vista da mecanização para o plantio direto, existem alternativas passando além das semeadoras. Há outras máquinas e outros equipamentos importantes, como
as colhedoras e seus distribuidores de palha, os pulverizadores, tecnologia de aplicação, fundamental no ponto de vista de qualidade do sistema. Temos também os controladores mecânicos
de cobertura.
A Isabella perguntou-me ontem sobre associação de plantio direto e produção de orgânico.
Por exemplo, uma alternativa que está sendo muito boa é o controle mecânico das coberturas.
Através de diversos mecanismos, diversas horas, há várias formas para conduzir esse controle
das coberturas.
136
APRESENTAÇÃO 2: Afonso Peche Filho – IAC
As questões ligadas ao plantio direto em São Paulo não passam somente pelas questões
de física do solo ou de química; passam, também, por outros problemas.
A imagem de fundo é da Fazenda Malabar, em Itatiba, onde começamos a fazer plantio
direto há mais de 20 anos. Vou tentar trabalhar a questão de diagnóstico de obstáculos.
Quais são os obstáculos para a plena implantação do sistema de plantio direto no Estado
de São Paulo? Vou tentar propor algumas prioridades de pesquisa e o que acho sobre isso.
Primeiro, os obstáculos: o Estado de São
Paulo é um reduto de caciques, nós temos um
número de caciques, uma cacicaiada lascada.
Há 40 caciques aqui na DIRA, mais um monte de
caciques nas bacias hidrográficas, e agora está
vindo um monte de caciques ligados à APTA,
que são os dos Pólos. Acho que esse novo mapa
do Estado de São Paulo, formado pelos Pólos,
vai resolver esse problema de chilique entre pesquisadores, extensionistas. Isso é um problema
crônico do Estado de São Paulo.
Em São Paulo, é fundamental entender as
grandes regiões e o cenário das bacias hidrográficas. Os grandes comitês de bacias. Acho
que hoje é um cenário muito interessante para a
gente trabalhar sistemas de produção no Estado.
A Fundação Agrisus poderia promover uma interação entre os diversos caciques, para a gente
poder discutir projetos, financiamentos, otimização de recursos para as bacias. Principalmente
pelo fato de o sistema plantio direto ser uma
ferramenta poderosa na contenção de erosão
nos mananciais.
O Estado de São Paulo é dividido em
algumas grandes regiões. Temos o Cristalino
paulista, uma condição completamente diferente do Planalto. Temos um planalto que é areia,
um planalto superior e inferior. Temos uma
Depressão Periférica, que é uma verdadeira
torre de babel em termos de solo e tipos de agricultura. Como o Dr. Fernando disse, São Paulo
tem que se orgulhar ou chorar por ser o Estado
com o solo mais erodido do Brasil, o mais “danado” do Brasil.
137
Quando se fala em Latossolo, fala-se em Latossolo, quando se fala em Podzolizados,
fala-se em Podzolizados, e há as novas classificações também que dão um chilique em todo o
mundo, que ninguém entende nada e depois fica todo o mundo chorando.
A gente vem desenvolvendo alguns conceitos ligados com a física do solo e à mecanização,
fundados em dois pontos: a fragilização das terras ligadas com o uso e a questão da vulnerabilidade das terras, diante do que queremos colocar. Isso é importante e nós desenvolvemos algumas tecnologias para identificar a fragilidade ante diversos tipos de preparo, inclusive plantio
direto.
Na bacia do Corumbataí, fizemos um estudo onde se vê, mesmo com a adoção de plantio
direto, uma expectativa de fragilidade muito severa em algumas áreas.
Isso significa o quê? Significa que precisamos, necessariamente, prescrever plantio direto
adequadamente. E o que está mostrando nessa
figura não significa que a gente tem soluções,
como a questão da classe e a capacidade de
uso. “Afonso, essa área aí possivelmente é 7,
8”? Eu respondo: “vá ao Vale do Paraíba ver se
a turma não planta, mesmo em situação parecida”. Como é que eu vou discutir? Vou dizer ao
agricultor largar mão de plantar lá?
Isso é o que mostra muito bem o que significa o potencial dos sistemas agrícolas para
poder fragilizar.
Outros pontos importantes em relação à mecanização e, principalmente, à questão de
máquinas em si, é que temos que entender as questões de mecanização no plantio direto como
um conjunto de variáveis. Quando se pensa em fertilização, por exemplo. Na minha cabeça, há
um grande grupo de gente que estuda nutrição de plantas, tem um grande grupo que estuda
adubação e pouca gente estudando fertilização. O que significa a recomendação que o Doutor
Heitor me fez? Terei que ser fiel a ele, e seguir sua recomendação que manda jogar lá? Porque
há hora que eu não lhe sou fiel. Ele recomenda e eu jogo de qualquer jeito. O Ricardo mostrou
uma última foto, não sei se vocês se lembram. Há uma variedade grande de altura de plantas e
eu tenho estudado muito essas questões, a produção de plantas espetaculares. Por que plantas
espetaculares? Porque temos alguns pés de soja e de milho extremamente produtivos. E devem
pautar para quê? Para estudar uma planta ruim ou uma muito boa? Eu acho que temos que
estudar os extremos. Por que nós, dentro de uma área de alta produtividade, temos plantas
muito ruins e plantas muito boas?
A partir de agora, a minha palestra vai-se pautar só por áreas de alta produtividade. Todo
meu estudo aqui foi feito em áreas de alta produtividade. Tudo o que vou falar aqui foi em fazenda que produz 140 sacos de milho por hectare, 130 sacos. São 60, 70 sacos de soja. Onde havia
área de alta produtividade, lá foi esse Afonsão xeretar para ver qual o segredo do sucesso.
Nós temos alguns problemas ligados com insumos de máquinas. Você imagina a parte de
lubrificação. Nós precisamos de incentivo de estudos para entender os processos de lubrificação
de máquinas agrícolas, porque elas são complexas e não é só um tipo de graxa que vai resolver
os problemas. Você imagina uma semeadora. Na verdade ela é um conjunto de carrinhos, e se
138
você for plantar mil hectares com uma semeadora de 10 carrinhos, cada carrinho faz 100 ha
andando. Você imagina o que significa lubrificar isso, imagina o que significa a graxa que está
na mão dos agricultores?
Que significa fertilizante? Nós temos um
problema crônico com fertilizantes no Brasil,
principalmente nas suas questões físicas. Temos
discutido muito isso com a ANDA. Estamos lá
com um processo incentivando o pessoal para
trabalhar a questão de qualidade e tecnologia de aplicação de fertilizantes. Fizemos um
diagnóstico junto aos fornecedores e o maior
problema, realmente, é qualidade. Mas na hora
que você traz isso para discussão, também dá
chilique. E a turma de máquina do mesmo jeito.
Esses dois precisam sentar para discutir, porque
um “tucha” uma máquina no agricultor, o outro
“tucha” adubo. Conjugam o verbo “tuchar”. É verdade, ele “tucha”, “tucha”, “tucha” e quebra
o agricultor.
Ensaios com semeadoras para alta produtividade são complexos. Ensaios de fertilização.
Imagine você o que significa uma semeadora
destas mostrada na figura a seguir.
Isso aqui é no laboratório de semeadoras e fertilização do IAC, no Centro de
Mecanização. Estamos mostrando um ensaio
com uma semeadora, cuja capacidade de
quase três toneladas de fertilizantes cada vez
que abastece. Sabe como se faz isso? Com um
“big-bag”. Ele armazena o fertilizante em colunas com três bags.
Alguns elementos receberam o bag de
cima; outros, o do meio e, finalmente outros
dois, o debaixo. Imagine a escoabilidade em
cada uma delas, o que significa. Já começa assim. Da mesma forma, os nossos pequenos agricultores aqui. Quando há uma pilha de sacos e
ele começa a levar para botar na carreta, tira
a pilha de dentro do barracão, tira sacos com
dureza, com escoabilidade muito diferente um
do outro para passar no mecanismo dosador.
Olhe! Lá se estudam máquinas também
imitando um solo inclinado. Nós temos diversos
problemas para trabalhar. Esses tipos de ensaio
são problemáticos. As indústrias de máquinas,
simplesmente no governo Collor, tiraram a obrigatoriedade de ensaios. Ou seja, o que vocês
139
estão usando, principalmente nas suas pesquisas? Não sei, não, se elas funcionam bem, ainda
mais com componente chinês, componente não sei de onde. Aqueles rolamentos que funcionam
bem para “caramba”! E assim vai embora, não é?
Outra coisa importante que nós temos que trabalhar são as relações da semente com tratamento químico e também com a grafite, além
dos acessórios, os discos.
As empresas entregam os discos junto,
mas há empresas que entregam discos da forma
que se vê na figura a seguir:
Que significa? Significa que o furo ali (e
olhe o rasgo!), isso sempre cai um furo e meio.
E o agricultor, todo pomposo, acha isso bonito
e esquece também que com o tempo isso dá fadiga no plástico. Eu chego lá, abro a semeadora
e digo: está ralando? “Não, só uma raladinha”.
Só uma raladinha significa o quê? Que a semeadora está sendo puxada num sentido e a gente
fazendo força em sentido contrário. Ocorre uma falha e isso é uma constante. Assim, temos que
incentivar pesquisas de material plástico ou outro tipo de material. Também é muito importante
a gente trabalhar.
Lembrar sempre: vou pegar uma semeadora. Como o Ricardo bem colocou, todas as
máquinas promovem a compactação do solo.
No plantio direto, isso é fato. Então, pulverizando ocorre compactação, colhe, produz. Temos
que discutir os produtos da mecanização. Uma
semeadora para mim é, no mínimo, dez máquinas: uma que corta, uma que rompe o solo,
uma que dosa o fertilizante, uma que o posiciona, uma que dosa e posiciona a semente, uma
que controla a profundidade, uma que fecha o
sulco, uma que marca a linha e um sistema de
lubrificação etc.
Se a gente juntar todos esses pontos
começa a entender o que significa eficiência
da máquina. E o que significa confiabilidade
da máquina? Hoje eu fiz uma sugestão para
a federação e no congresso vamos ver se nós
discutimos essas questões de confiabilidade e,
principalmente, de eficiência dos sistemas mecanizados em plantio direto. Porque não dá
para entender produtividade e competitividade
errando tanto.
140
Quero agradecer ao pessoal do Sul, que leva para cooplantio. Vou usar várias fotos, não
por serem do Rio Grande do Sul, mas pela qualidade das fotos que eles disponibilizam no site.
Vejam bem na figura a seguir essas loucuras
que nós temos em termos de velocidade.
Que significa? É sair de 5 para 10 km de
solo em função do rendimento. Também mostra, muito bem, a eficiência dos carrinhos, a
diferença de um para outro em função de uma
regulagem adequada. Algum pode estar possivelmente com o rompedor de solo muito profundo. Essa prática já estava há muito tempo no
meu conceito. O Ricardo colocou aí isso. Mas
hoje eu venho estudando muito rompimento de
solo e a primeira coisa que precisamos estudar
é se juntar nisso, rompedor de semeadora. E
romper solo com semeadora não significa subsolar.
Pare com essa loucura! Ponha lá um rompedor de solo. A 30 cm uma banalidade. Ancora
a máquina pra caramba! Levanta, faz uma superfície rugosa justamente onde a roda estabilizadora de profundidade vai trabalhar. E aí, você vai, em Mato Grosso, aqui, no interior de
São Paulo, aquela caboclada, agrônomo companheiro nosso recomendando: “ Não! Tem que
enterrar até o talo!”
Boa parte dos nossos estudos não é para divulgar, porque nós muitas vezes prestamos
serviço para as empresas e temos um contrato danoso, que não nos deixa divulgar. Isso, muitas
vezes, fica com o pesquisador e é uma dificuldade. Mas, enfim, temos alguns beneméritos que
deixam a gente disponibilizar tais dados.
Na figura a seguir, estão os resultados com
uma semeadora John Deere. Cada coluna do
histograma representa um carrinho.
A cor verde significa o ideal e o branco, a
competitividade. Significa o quê? Duas plantas
juntas. Quando uma planta está competindo
com a outra está fora do espaçamento. E o azul
são falhas.
Nós vamos imaginar sempre que estamos
plantando 1.000 hectares, o que é pouco. O que
significa esse 11 aqui? 11 é sempre a média: 10
linhas-100 hectares.
Então o que sucede numa semeadora como essa. Estou usando os nomes aqui, porque
achei que era pertinente usá-los. Eu não ia ficar falando aqui semeadora 1, 2, 3, e não estou
fazendo apologia ao uso da máquina. Faço apologia de soluções. Veja que um dos carrinhos
está com mais ou menos 20% de plantas, uma competindo com a outra. Possivelmente, não
vai fazer nada. Outro mostra quase 40% de falha, ou seja, de 100 hectares, 40% não existem.
Então, é o que hoje a gente está chamando assim: subdesempenho satisfatório. O agricultor
produz 140 sacos e se acha “bonitão pra caramba”. Só que de 1.000 hectares, 400 não existem
141
e 600 produzem. Na hora que dá chilique no mercado, não agüenta. Quebra, não é? Por quê?
Isso é uma constante nos estudos, No subdesempenho satisfatório ganha dinheiro, porque o
mercado tampa. E na hora do “pega-pra-capá”, ou seja, que precisa passar momentos difíceis,
ele tem uma eficiência muito baixa. E aí, que acontece? Quebra.
Em média, no Vale do Paranapanema, analisamos 120 propriedades e em Mato Grosso,
40 propriedades. Veja bem, em média. Eu lhes garanto, entre 60% e 70% em propriedades de
110 a 140 sacos de milho por hectare, propriedades entre 50 e 60 sacos em média de soja por
hectare e algodão também. Ou seja, a eficiência operacional, hoje, está em torno de 60% a 70%
em grandes lavouras. Agora, imagine os outros que não fazem isso.
Falamos da plantabilidade de milho, agora
olhem a de soja.
Veja na figura o caso da fazenda São
Marcos, um grande erro isso. Ela está em média
com 10% de falha. Mas veja o que acontece com
alguns carrinhos. Veja se é possível se sustentar
com 20%. Paga, mas não usa, porque a escala, lembro-lhes que a escala de mecanização é
métrica, não é uma escala de hectare, alqueire.
Então, recomendando 500 kg, recomendam-se
5 toneladas de calcário, ou seja 500 gramas por
m2 bem distribuídos.
Às vezes, alguns chiliques que se vêem por
aí, com planta, com problema de calcário, é com problema de aplicação. Muitas vezes, a questão
com fertilizantes, com adubação está ligada à fertilização, ou seja, à não-resposta.
Algodão: a mesma coisa.
Veja bem a plantadeira John Deere dando chilique também. Algodão é uma cultura
caríssima, não se dá. Nesse caso, está levando
chumbo aqui também. Veja um dos carrinhos.
Se você fosse sorteado para ganhá-lo de presente, você estava perdido, não?
Você imagina um agricultor que planta
1.000 hectares. Na cabeça dele “Ivo, você ganhou dinheiro para caramba plantando 1.000
hectares”, O que vai fazer? - Vou plantar dois
mil. É isso ou não é? E com o mesmo sistema.
Ele não muda, ele soca o pau. Eu até brinco, que ele põe o Afonsão para dirigir e fala: “Soca o
pau”. Com essa barriga aqui.
Outro conceito importante, fora máquina, é a questão dos ambientes de produção e vai
servir um pouco para trabalhar outras máquinas. Como o Ricardo colocou também a importância das diferenças das máquinas.
Veja esse nível de cobertura de solo para essas colhedoras da figura a seguir.
142
Imagine uma semeadora gorda, feia e
barbuda, passando ali em cima. Alguma parte anda aqui, uma perna anda ali, outra perna
anda acolá. Faça-me o favor, não é?
Agora veja a foto acima, linda, maravilhosa! Veja bem essas máquinas trabalhando. Veja a
condição de cobertura. Veja a eficiência e o que
ela significa para a gente poder evoluir nessas
questões.
Na figura a seguir, veja a semeadora trabalhando. A gente precisa investir muito nessas
questões ligadas a estudos de eficiência e, principalmente, de confiabilidade das máquinas, diante da demanda que elas têm para trabalhar.
Nós temos alguns problemas ligados a isso. A eficiência é um fator dividido por um numerador e a confiabilidade é uma multiplicação. É uma questão que precisa ser discutida.
Outro caso lá, que dá para ver muito bem a questão de cobertura, de tecnologia de cobrir.
Essas questões são importantes, a gente olhando da mesma forma.
Eu estou batendo muito nisso, porque é
de extrema importância. Nós estamos fazendo
apologia ao transgênico, adubo, essas coisas.
Ficam neuróticos. Isso realmente vai vir? Agora
eu quero ver. O produtor está sendo eficiente?
Realmente, está agüentando? Uma boa parte
dos agricultores nossos vai continuar sendo
agricultor?
Esse é realmente o principal problema.
Nós não podemos deixar agricultor quebrar,
porque toda vez que um quebra, vem um novo
para aprender e temos que atendê-lo. É verdade. Aí vem conversar sobre a mesma coisa. Isso
é um problema para nós.
143
Nós não podemos fazer isso mostrado na
figura a seguir.
Germinar e perder. Provavelmente, isso
foi um problema de doença. O Ricardo mostrou. Olhe, há planta em condições de produzir
bem. Muito melhor do que outras. Nas suas 200
mil plantas, quantas vocês tem com x vagem?
Quantos pés de milho você tem que pesam mais
do que 200 gramas? 200 gramas é fácil produzir. 60 mil plantas vezes 200 gramas é igual a
seis mil quilos.
Veja na figura ao lado, como é que a gente
pode ter uma cobertura espetacular com uma
condição de planta assim (linha da esquerda) e
outra assim (linha da direita)?
Então, eu acho que a gente tem que discutir
bem essas questões. Os entraves são esses. Nós
temos os problemas muito graves de chilique
político. A Secretaria nossa é uma secretaria do
vento. Ela não lidera. E isso acontece então. A
cacicada no reduto lidera. É preciso juntar essa
cacicada para discutir sobre isso.
E as prioridades que eu acho de pesquisa:
- Primeiro, os modelos regionais focados nos solos produtivos. Já falamos bastante sobre isso.
E eu trabalho em solo produtivo por quê? Primeiro, não podemos ter um produtor que produz
soja, produz milho, produz arroz. O que você produz, Ivo? Eu produzo solo produtivo!
Então, a nova ordem é essa, ou seja, para a gente poder realmente ter um enfoque sistêmico no todo, para compor sistemas mais eficientes de produção. Porque hoje nós estamos muito
colocados e pontuais. Nós não podemos mais ser tão especialistas como somos. Especialista é
pesquisador. Agricultor não pode, ele é eclético, ele precisa trabalhar mais.
Popularizar só a análise química do solo
não pode. E a análise física, a biológica, e outras coisas mais?
Outro ponto fundamental é um fato que a
geração participativa de tecnologias dá certo. O
Rio Grande do Sul faz isso, o Paraná também.
Precisamos incentivar essas questões, trabalhar
numa rede agrícola os parceiros. Porque como
disse o Ricardo, eu não tenho particularmente
condições de trabalhar meus ensaios dentro de
uma estação experimental. Esta é engessada
numa condição muito forte da pesquisa com
adubação, na pesquisa com genética. E realmente, se eu colocar e empreender um volume de trabalho lá, crio um monte de problemas para
144
trabalhar. Muitas vezes, o agricultor ajuda a gente e a gente, interpretando, ele aprende ali com
a teoria nossa. Essas trocas de informação entre o saber criado pelo agricultor dão um blend
muito bom. É muito importante e eu sonho com isso. A Agrisus vir a financiar um trabalho para
a gente montar uma rede de agricultores?
Novas técnicas para transferência de tecnologia. É outro tópico importante que venho
estudando. Hoje, estamos estudando uma técnica chamada giro no campo, não é mais dia de
campo, é giro. Poucos agricultores e muito assunto. Eu vou antes e faço as estações. É bate-papo
com máquina, bate-papo com soja. Isso é muito importante, informações para buscar. Você
busca com a Dra. Isabella. Giro é uma coisa importante. Nós precisamos colocar outras pessoas
para nos auxiliar, como sociólogos. Outras formações para poder trabalhar melhor a gente.
Essa questão de extensão rural é problemática e não pode ficar só com a forma que está,
só com pequenos produtores. Entender os impactos ambientais com plantio direto. Plantio direto
não é só coisa boa, ele modifica o meio. Nós não podemos cometer o erro que cometemos com
a convencional. O barco do plantio direto está aí. Se entrar, vamos entrar trabalhando essa
questão. Precisa entender soluções mitigadoras. Que significa um solo coberto com palha? Que
significa ter uma rotação econômica?
A natureza não é assim. É importante trabalharmos essas questões.
Os indicadores de qualidade operacional. Esse é outro ponto. Nós não temos nada para
prescrever. É preciso trabalhar o indicador para o agricultor entender o que significa eficiência,
o que significa confiabilidade de máquina. Essas questões precisam ser trabalhadas.
Modelos para avaliação de eficiência e confiabilidade nos diferentes sistemas de produção.
Plantio direto e qualidade, não são direitos só de rico nem de pobre, dá para todo mundo fazer,
o agricultor mais humilde e o mais sofisticado.
E trabalhar mais essa questão de relação de insumos e projetos de máquinas, em ambiente
operacional. Acho que esses, no meu ponto de vista, são pontos prioritários para poder financiar e desenvolver a pesquisa.
DEBATES
Paulo Sérgio Graziano Magalhães – Unicamp
Acho que os dois palestrantes anteriores levantaram muito bem os problemas da mecanização. O Ricardo começou com uma apresentação e uma transparência muito boas. Foi
aquela da máquina virando. Uma máquina que a gente está pressupondo que é para apresentar
soluções e, na verdade, traz problemas. A gente tem visto muito isso nas máquinas que estão
saindo no mercado.
O plantio direto viabilizou que se plantassem grandes áreas, cada vez áreas cultivadas
maiores. Com isso o que aconteceu? Viabilizou que o fabricante fizesse máquinas maiores. Ao
invés de 10, Afonso, já temos máquinas com 20, 25 linhas, e isso significa aumento de peso,
de demanda de potência. Significa um trator maior na frente puxando a máquina e maiores
problemas de compactação. Cada vez mais problemas e não mais soluções. Isso porque ele quer
fazer tudo rápido. Possui grandes áreas e precisa produzir, precisa plantar. Ele acha que basta
145
aumentar o número de linhas, aumentar a capacidade do trator, que resolveu o seu problema.
A gente enfrenta esse tipo de problema.
Outra coisa que foi colocada por eles, bastante interessante também, foi a parte referente aos sulcadores. Como são esses sulcadores? Como estão esses rompedores de sulco aí? O
Afonso comentou que estão colocando a 30 cm de profundidade. É isso aí, não é, Afonso?
Quer dizer. Como é possível você querer apenas romper a camada superficial para poder
colocar fertilizante, para poder colocar sua semente? Ao mesmo tempo que você quer usar a
máquina para fazer plantio direto, quer fazer, simultaneamente, uma escarificação.
Nós precisamos, e o Ricardo colocou isso muito bem, fazer a parte de melhorar a estrutura
física do solo. A máquina está para melhorar essa estrutura física. É claro que para plantar e colher, você precisa da interferência da máquina. Esta vai compactar, de alguma maneira, alterar
a estrutura física. A gente precisa trabalhar e evoluir com este tipo de máquina, com soluções
de engenharia. Infelizmente, não é, acho que o Afonso também colocou, tem bastante gente
preocupada com a parte física e química do solo, com os fertilizantes. Mas muito pouca gente
preocupada com a parte de desenvolvimento de máquinas.
O que a gente vê nas indústrias de máquinas agrícolas é um experimento do “faz para ver
como é que fica”, sem usar nenhuma base de engenharia. São poucas empresas que trabalham
com desenvolvimento de máquinas agrícolas, que utilizam engenharia para criar novos produtos. A maioria vai ao campo, escuta a idéia de agricultor aqui, escuta a idéia de outro ali, e volta
uma semana depois, com um novo produto. Cada ano que a gente vai à Agrishow, observa mais
máquinas, muito parecidas e, realmente, com poucas tecnologias colocadas dentro dela. Vão
apenas seguindo as idéias que foram postas dentro dela ao longo do tempo.
O que foi comentado aqui também é que a gente precisa reduzir as fontes de compactação. Eu sempre digo a meus alunos. Mecanização agrícola e compactação são duas coisas que
andam juntas. Nós precisamos saber quando e como gerenciar isso.
Acho que foi comentado, ontem, a respeito de cana-de-açúcar. Não dá para ter uma
mecanização que não compacte. Discordo um pouco disso. Acho que dá para se ter uma gerência um pouco melhor. Quem trabalha na cultura da cana vê que a gerência é um problema
muito sério.
O Afonso levantou aqui vários problemas desse método dos ensaios das máquinas que
estão mal reguladas. Por que estão mal reguladas? Porque apresentam aquela característica que
ele mostrou lá. Eu tenho 10 carrinhos e desses, 10%, 20%, estão trabalhando de forma ruim.
Está-se deixando de plantar 20%. Para mim, isso é péssimo.
Não adianta, depois, o “cara” vir com programas de fertilizantes, aplicando agricultura
de precisão, para descobrir porque, naquele pedaço, a planta não nasceu direito, porque a
produtividade foi menor. Adianta alguma coisa aplicar milhões de reais para fazer agricultura de
precisão se você não tem uma semeadora que faca uma aplicação decente? E isso é problema
que dá para resolver. Existe tecnologia para isso, custa caro e precisa de investimento. Tudo isso
faz com que essas coisas estejam aí no mercado, causando problemas.
Só trazendo um pouquinho a brasa para o lado da minha sardinha. Vou falar do cultivo
de solo em cana-de-açúcar. O que a gente tem lá é uma palhada muito grande. Foi comentado
que temos de 10 a 20 toneladas de matéria seca por hectare. Isso é uma quantidade de palha
muito grande. Também foi comentado aqui a dificuldade dessa palha em se decompor. A gente
precisa fazer a manutenção dessa palhada, fazer o cultivo e fazer o plantio direto.
146
Há várias usinas que, quando começou
esse incentivo do Governo, pela não-queima
da palha, pela colheita da cana verde, da cana
crua, levantaram vários problemas. Que a cana
talvez não germinasse decentemente e reduziria
a produtividade. Veio o problema das cigarrinhas. Com o passar do tempo, porém, começaram a surgir soluções para esses problemas
também.
A gente hoje sabe que há muita usina que,
há bastante tempo, trabalha com a colheita crua
em sua área integral. Temos a Usina São Domingos, que faz açúcar orgânico e tem uma produção de 7 a 8 anos, de áreas com cana crua, e uma produtividade de 100 toneladas por hectare
de cana. E como é que eles fazem isso?
Eles fazem sem os tratos culturais que antes faziam, com aplicação de vinhaça apenas.
Não há nenhuma aplicação de fertilizantes entre os vários cortes da cana, apenas uma aplicação
no plantio. Mas nem todo o mundo consegue fazer isso. O pessoal, às vezes, necessita fazer a
aplicação de fertilizantes e de cobertura. Acima de uma camada, que tem a espessura de 6 a 8
mm, você tem uma camada espessa de palha e aplicação de fertilizantes de cobertura. Precisava
aplicar fertilizante junto com o cultivo, abrir o sulco e colocar o fertilizante dentro e, muitas
vezes, fazer subsolagem por problemas de compactação. Mas eu não tenho máquinas para fazer
isso. Há algumas tentativas de fazer o cultivo da cana tradicional em cima da palhada.
Os problemas que tinham aparecido anteriormente. Na figura seguinte, apresentamos dois
equipamentos, cultivadores de cana, que foram desenvolvidos pelo pessoal do antigo CTC da
Coopersucar.
O primeiro é um sistema que vai trabalhando na entrelinha. Estão aplicando duas linhas
simultaneamente.
O seguinte vai aplicando ao lado da soqueira, tentando segurar a palhada. É só aplicação
de escarificação.
O problema no plantio direto para a cana é a quantidade de matéria seca. O pessoal está
falando que, para as outras culturas, a matéria seca desaparece. A gente vê que a matéria seca
continua por bastante tempo, havendo grandes problemas no seu manejo.
147
A figura a seguir representa a tentativa
de se construir um subsolador comercial, um
Canavieiro.
Vejam o tamanho dos discos e, lá no finalzinho, um rolo tentando colocar a palha no
lugar. São algumas alternativas.
Nós fizemos um trabalho de doutorado,
com um aluno do Estado de Mato Grosso, que
foi o desenvolvimento do disco de corte.
Na figura anterior é o que está do lado
esquerdo. É um disco alternativo para ver se
consegue cortar a palhada de maneira mais eficiente. Não só para cana, mas para a de plantio
direto de maneira geral. O experimento foi feito
em nosso laboratório, mas a gente percebe que
há diferença entre os dois sistemas. No centro
da figura, usado no sistema convencional, está
o disco liso, e à direita, o disco dentado para
o plantio direto. Dá para ver esse disco trabalhando, uma mesma semeadora, na mesma
regulagem.
A melhora na eficiência do corte da palha,
dá para ver bem nitidamente.
Observem, na figura, o efeito no campo,
do disco convencional, ondulado e do dentado.
Este corta melhor a palha e revolve muito menos o solo.
Acho que foi o Afonso que mencionou.
Vejam na figura que, ao você mobilizar demais
o solo, retirando a palhada, acaba trazendo terra para cima da palha, à direita, torrão. E, do
lado esquerdo, não tenho nada. É um perfil de
solo muito mais adequado.
Bom, na figura seguinte temos o que
o Ricardo comentou, o problema da compactação.
Olhe possíveis causas de compactação em
cana-de-açúcar. Tenho uma máquina que pesa
15 toneladas. Cada transbordo como o da figura, quando cheio, pesa 12 toneladas. São dois e
tenho um trator de 5 toneladas lá na frente. Em
cada entrelinha passo duas vezes com esse conjunto de máquinas pesando 20, 30 toneladas.
Passo uma vez para cá, depois eu vou lá, volto e
148
passo de novo. Isso é um problema de compactação, por isso foi comentado. Se eu fizer isso
aqui numa época um pouco mais úmida, e o
pessoal colhe numa época mais úmida, tenho
problemas de compactação. Para resolver isso
vou ter que fazer uma escarificação, obrigatoriamente, senão a cana não se vai desenvolver,
ou não vai produzir aquelas 100 toneladas esperadas. É por isso que cai a produtividade. Não
consigo fazer o que o Dr. Fernando falou. Vou conseguir reduzir para 4, 5 ou 6 cortes, quando
muito. Na verdade, preciso aumentar a longevi-
dade desse canavial e, para isso, são necessárias
soluções alternativas.
Mesmo na Fazenda São Domingos, o que
ele faz? Faz 6, 7 anos de colheita com cana verde, depois planta crotalária e aí vem com plantio convencional no solo. O plantio direto dele
acaba quando tem que reformar o canavial. Ele
tem que fazer uma escarificação e veja na figura
seguinte o trator que ele usa.
O Afonso é o pesquisador mais pesado do
IAC e esse é o trator mais pesado que eu conheço. É um Challenger. Um trator dessa potência
aqui, escarificando a 30, 40 cm de profundidade. Depois vai arar ou gradear para tentar ter
condições de fazer o plantio de cana em seguida. Isso é um problema muito grande.
Em plantio direto, a gente acha que não
pode ser uma coisa exclusiva para os grandes.
Tem que ser para os grandes e para os pequenos. A gente está tentando uma alternativa, que
é o auxilio mecânico para a colheita de cana-deaçúcar. Ele vai viabilizar ao pequeno produtor,
ou ao fornecedor de cana manter-se no merca-
149
do, colhendo cana crua e reduzindo os problemas de que falamos, reduzindo compactação e o
problema do desemprego também.
A máquina mostrada vai colhendo, no caso, cinco linhas simultâneas. Eu tenho ali 10
operadores que vão fazendo a parte mais difícil, que é separar a cana e alimentar a máquina.
Computando o espalhador e uma carreta, a máquina inteira pesa 10 toneladas quando carregada, incluindo o peso do pessoal que está aqui. São cinco linhas e vou passar uma vez só nelas.
Reduzi o problema de compactação. Quando trabalhava com 30 linhas eram 30 toneladas, duas
vezes em um lugar só.
A figura acima mostra a planta geral da
máquina. Para passar uma vez só e nenhuma
em todas, há um conjunto de rodados. Há um
conjunto de linhas que nem vai ser compactada.
Essa é uma solução que a gente acredita que vá
viabilizar o plantio direto para a cana-de-açúcar, para o agricultor, que é fornecedor, que não
tem capacidade de estrutura para um sistema
de colheita convencional. Vai permitir avançar
um pouquinho nessa área para o sistema para
todos.
O aspecto lateral da máquina é visto na
figura acima. Ficar com palhiço demais também é prejudicial. Todo o mundo já comentou isso
aqui. Talvez, 15 toneladas por hectare seja muito palhiço e a gente precise reduzir um pouquinho
essa quantidade de matéria seca. Uma das alternativas é usar isso aí também como fonte de
energia. Isso é possível, é viável. A gente espera encontrar soluções de tecnologia para retirar o
palhiço do campo, antes de ele ir para o chão e se contaminar com a terra. Aí fica mais difícil,
fica mais caro o molho que o peixe. Na tabela a seguir, vê-se o que pode representar isso em
ganho de energia.
Recuperação da
palha %
t palha (matéria
seca)/ t cana
t bagaço/ t cana
Total de biomassa disponível t/ t cana
Equiv. em óleo,
kg/t cana
100
0,075
0,14
0,215
77
50
0,0375
0,14
0,177
61
Acho que essas transformações que têm ocorrido, o sistema de plantio direto é muito
importante e conseguiu se consolidar no Brasil. São 20 e tantos milhões de hectares sendo
plantados com plantio direto. Acho que se a gente tiver que fazer uma análise dos últimos cem
anos, houve grande revolução na parte de plantio. Acho que o plantio direto tem um grande
peso nisso, se não for o de maior peso. Foi uma grande revolução em nossa época. Se você
pegar um livro de máquinas agrícolas de 40 anos passados, as máquinas são as mesmas. O que
varia são as que surgiram, especificamente, com o plantio direto. Caso contrário, a gente não
tem grandes revoluções na questão máquinas agrícolas. O plantio direto tem-se mostrado, como
todo o mundo sabe, uma grande vantagem.
150
Eu acho que a cana também deve entrar nesse sistema de maneira mais enfática.
Conhecendo, hoje, a quantidade de gente que faz cultivo de cana crua, ou colheita de cana crua
vê-se que ainda é muito pequena. Muitos fazem por imposição legal e não por vontade, não por
acreditar no sistema. Nós precisamos divulgar um pouquinho mais, trazer esses benefícios do
plantio direto também para a cana-de-açúcar, para conseguir mais adeptos. Que a vontade de
fazer isso, seja por acreditar realmente no sistema e não por imposição legal.
José Eloir Denardin – Embrapa Trigo
Estou abordando este tema dentro da idéia de física e mecanização, contextualizando tudo
dentro da visão de sistema agrícola e dentro da idéia de fertilidade integral.
Nessa abordagem vocês vão perceber que vou falar muito mais sobre o que o Ralich colocou, do que sobre o Afonso e o Magalhães. Mas é uma idéia de tentar enxergar esse todo como
uma visão mais holística, mais abrangente e muito mais sistêmica sobre esse aspecto.
Quero começar com uma coisa bem simples, e vai ser muito simples a minha exposição.
Não vou falar nada sobre resultado de pesquisa. Simplesmente, tentar fazer ver o sistema de
plantio direto como um sistema realmente, e não como um processo de deposição de semente
no solo, sem o preparo deste.
Para isso, eu quero diferenciar ecossistema de agroecossistema, de uma maneira bem
simples para entendermos o que eu vou colocar.
Ecossistema natural: inter-relações entre fauna, flora e microrganismos, associados a fatores
como geológicos, atmosféricos, meteorológicos, que estão dentro de um equilíbrio dinâmico.
Agroecossistema é a mesma coisa. Simplesmente, tem o antrópico e, aí, vem o desequilíbrio. Essa é a nossa preocupação. Acredito que em um sistema conservacionista, temos que
tentar a busca desse equilíbrio. É isso que eu chamaria de caráter de sustentabilidade, tentar
buscar esse reequilíbrio.
O agroecossistema pode ser apresentado como o estabelecimento rural, porque é onde
o homem tem o poder de decisão. E constitui um sistema termodinamicamente aberto, com
uma permanente entrada e saída de matéria e de energia e uma permanente relação com os
sistemas como um todo. Por isso, temos que olhar para o equilíbrio com o sistema como um
todo. Esse desequilíbrio que é provocado pela ação antrópica, dá-se pelo uso de: mão-de-obra,
combustível, agroquímicos, espécies vegetais e animais estranhos a aquele ambiente anterior,
máquinas agrícolas, material orgânico que vem de fora, mobilizações de solos, retiradas etc.
Esse desequilíbrio é de praxe quando olharmos para essas ações do homem: mobilização do
solo, quantidade e qualidade de agroquímicos empregada, diversidade de espécies, arranjo de
espécies no tempo e no espaço. Altera a taxa de mineralização, a quantidade e a qualidade da
matéria orgânica original. E o que acontece com isso? Mexe ou altera totalmente a atividade
biológica. Se alterou a atividade biológica, o principio, o ciclo da natureza que vai ser afetado é o
do carbono. É o reflexo que tem, mas a gente pouco percebe. Mexendo nesse ciclo do carbono,
vai haver uma mudança na relação partícula–poro e, para a agricultura, é essa relação que nos
interessa, porque tudo ocorre no poro ou na interface das partículas. Se há uma mudança no
ciclo do carbono, vai haver uma repercussão nessa relação aqui. Automaticamente, vamos interferir no que chamamos de fertilidade integral do solo, física, química e microbiologia do solo.
151
Isso tudo se vai refletir, mas com um impacto muito grande no ciclo hidrológico. Esse, sim,
é fácil a gente perceber. E é por isso que a gente trata da conservação do solo em escala de
microbacia. Desde a transferência do homem para dentro do ecossistema, transformando-o em
agroecossistema.
Essa é uma introdução para a gente perceber que tem que ter a visão global. Não dá para
ver as coisas apenas por um ângulo e, sim, dentro de um sistema produtivo e um modelo de
produção.
A base do plantio direto está aqui. Essas
duas expressões definem a nossa organização.
Sistema agrícola produtivo pode ser composto
por três fatores: o ambiente, a planta e o solo.
O ambiente colabora com a energia, luz, calor,
precipitação. Pouco podemos fazer sobre isso,
mas podemos. As épocas de plantio podem interferir ou nos ajudar a utilizar esses fatores. A
genética e as plantas. As plantas melhoradas e
adaptadas.
A fertilidade do solo tem um problema
sério para quebrarmos nessa visão holística.
Fertilidade do solo compreende, água, calor,
oxigênio, permeabilidade, pH e nutrientes. Basicamente, ela se concentra aí, porque é aí que
talvez estejam os maiores limitantes, quando nós saímos do ecossistema para um agroecossistema. Aqui ocorrem os maiores estudos. Podem perceber que a permeabilidade ao ar, as raízes, a
troca de oxigênio com a atmosfera e a disponibilidade de água são fundamentais.
Quem rege e é o grande comandante dessa fertilidade? Vocês vão ver que se chama
estrutura do solo. Modificando-se a estrutura do solo, modificam-se todas essas relações nessa
figura, alterando a fertilidade global do solo. Temos que olhar para a fertilidade sob o aspecto
da estrutura.
Mas eu tenho a pergunta: Quem é que comanda a estrutura do solo? É o carbono. Ninguém
pode fazer estrutura do solo, não há máquina nem homem que a faça. A estrutura do solo só
pode ser construída se houver carbono no sistema. É ele que mantém a estabilização ou a
construção de agregados.
Bem, eu falei sobre sistema produtivo. O modelo de produção compreende o arranjo
temporal e espacial das espécies vegetais e animais que compõem o sistema agrícola produtivo.
Ou seja, o modelo de produção determina a qualidade, a quantidade do material orgânico
aportado do sistema agrícola produtivo. Então, dependendo de como nós combinarmos as espécies, podemos ter um sistema agrícola mais produtivo ou menos, com o solo mais fértil ou
menos fértil. Essa é a visão que nós temos que procurar ter para tentar buscar o equilíbrio do
agroecossistema.
Sistema agrícola produtivo então deve ser definido da seguinte forma: É a busca do equilíbrio dinâmico do agroecossistema, mas sem deixar de lado a competitividade, as necessidades
socioeconômicas, a segurança e qualidade alimentar e o respeito ao ambiente. Aqui está o verdadeiro papel de um agrônomo. Como ele vai poder fazer assistência técnica, se não consegue
compreender que temos que pensar assim, com uma visão global e não seccionada?
152
O solo pode ser conceituado de várias maneiras. Pode até ser assim: um complexo químico, físico e biológico. Mas dentro de um sistema produtivo, o enfoque funcional para solo é isso;
ele é um componente determinante da produtividade do sistema, em função de limitações da
fertilidade. A fertilidade tem de ser vista como um todo.
O que seria a estrutura do solo que eu
coloco como o regente da fertilidade? É o arranjo das suas partículas e dos seus agregados.
Quando olharmos um agregado do solo, vamos
ter umas coisas bem fundamentais e bem básicas. Não sei se o pessoal da extensão conhece
isso. Acho muito difícil alguém conhecer isso
com profundidade. Na representação a seguir,
vemos as partículas individualizadas, o cascalho, a areia, o silte, a argila e os colóides.
A gente pergunta: como essas partículas se
unem para formar um microagregado? Através
de reações químicas, principalmente nos óxidos
de solos. São os sesquióxidos de ferro e alumínio os grandes estabilizadores da microestrutura
do solo. Quando os micros se unem para criar os macros, quem vai estabilizá-los é a matéria
orgânica fresca.
Nós temos uma questão bastante resolvida em termos de degradação do solo ou recuperação da sua estrutura. Se o microagregado tem uma estabilidade alta devida à química, como
podemos explicar que um solo dispersa por uma ação mecânica? A gente pode concluir que
não é a mecânica, não é a grade de disco, não é a mobilização intensiva de solo que degrada o
microagregado. É preciso haver uma reação química nesse processo. Então a gente olha alguns
fertilizantes ou alguns corretivos que mexem nessa parte do sistema. Como uma grade com
distância de 10 cm entre um disco e outro pode destruir um agregado de um milímetro ou de
dois milímetros? Ela não tem esse poder, tem que haver uma reação lá dentro. Eu diria que nós
temos calcário, por exemplo, que pode precipitar alumínio, e assim promover uma dispersão.
Como o pH não passa de 7 nos nossos solos agrícolas, não há agregação pelo cálcio, apenas
dispersão no processo.
Os microagregados podem ser dispersos desta maneira. Agora, raízes, hifas, exsudatos
e matéria orgânica fresca que estão nos sistemas vão dar estrutura de outro microagregado,
formando um macro.
Veja se isso não é uma coisa permanente,
se há paradas nesse sistema. Isso deixa de ocorrer, ou seu efeito é efêmero, dura alguns dias
ou meses. No momento que desaparece essa
matéria orgânica fresca, não existe mais macroagregados.
Nossa maneira de tratar o solo no preparo convencional é de desestruturá-lo, ou de até
dispersá-lo. É uma solução que percebemos que
ocorre.
153
A fração orgânica. Não quero entrar em detalhe também, mas falar somente do que ela é
composta. De matéria orgânica e de material orgânico. De restos animais e vegetais em diferentes
estágios de decomposição, componentes transitórios que têm como ação estruturar o solo.
Se olharmos uma foto como a figura seguinte, numa camada de 0 a 10 cm, a gente pergunta: precisaria fazer análise química para ver se o solo é fértil?
Aqui faço um comentário: se você pegar um tijolo cozido e embebê-lo com uma solução
nutritiva completa, bem balanceada, moê-lo e mandá-lo para um laboratório de química, poderá sair um laudo dizendo que essa amostra
representa um solo fértil. Mas não é. Por esta
visão de um todo percebe-se que há atividade
biológica, macroagregados, microagregados.
Dá para perceber raízes vivendo nisso aqui.
Agora, como se constrói isso? Nós temos
tratado desde ontem de manhã, insistindo em
palha. Eu falo palha como se fosse fitomassa
ou biomassa e, não, simplesmente palha. Deve
haver raiz no sistema. No subsolo, na camada
abaixo da superfície, deve haver uma atividade
orgânica muito alta. E ela é promovida muito
mais por raízes do que por palha na superfície.
Essa palha cria uma interface talvez muito pequena entre si e o solo. Mas milheto, por exemplo,
braquiária que você falou, qualquer planta que tenha um sistema radicular abundante, pode
promover esse tipo de estruturação de solo.
Observe o torrão na figura a seguir. Aqui
eu entro um pouco na física e pergunto: como
amostrar um solo que tem esse núcleo organizado aqui dentro, diante de um torrão completamente agregado? Como amostrar isso física e
quimicamente para fazer uma análise?
São situações completamente diferentes
em termos de fertilidade integral. Essas frações
têm fertilidades completamente diferentes. Eu
aprendi que trabalho que coleta amostra 0 a 5,
5 a 10, 10 a 20, esqueça. Não se lê mais isso. Ou
você abre uma trincheira, observa as camadas
morfologicamente e tenta amostrá-las para perceber o que está acontecendo lá dentro, ou não
tem mais sentido misturar um anel num torrão
desse, coletando isso aqui. Eu lhe pergunto: o
que você está amostrando aqui? Não tem estatística que explique o que está acontecendo
nesse processo.
Ou então, como o Ralish mostrou, aqueles solos que são compactados por dispersão e
154
depois com uma reacomodação das partículas.
Como transformar isso num solo poroso novamente? Quem pode fazer isso? Não há máquina
que o faça. A máquina pode vir a ser um auxilio, mas quem pode construir isso são raízes. Eu
vou insistir.
Portanto, mobilização do solo, aporte de
matéria orgânica menor do que a demanda microbiológica e adição de corretivos e fertilizantes
de forma indiscriminada promovem uma intensificação da mineralização da matéria orgânica
fresca, inclusive da estável. Isso vai desestruturar o solo. A foto a seguir deve ser de vocês, do Centro de Arroz e Feijão.
Observe que temos uma camada de solo e outra, completamente diferente. Afinal de contas, nós estamos depositando fertilizante onde? Dá para considerar isso como um solo realmente
fértil? Perceba que temos que tentar destruir ou melhorar isso. Máquina pode ser um auxilio.
Agora, só as raízes poderão reestruturar essa camada.
Modelo de produção dentro do conceito de solo, de clima e de ambiente que nós temos.
Esse modelo de produção deverá promover um aporte de fitomassa maior que o potencial de
mineralização. Temos que ganhar da microbiologia do solo. Se perdermos, estamos degradando
o solo. Se ganharmos e conseguirmos um aporte superior, vamos ter um aumento de matéria
orgânica e, com isso, reestruturaremos o solo.
Essa visão que eu coloquei aqui tem como
enfoque preocuparmo-nos com morfologia de
solo. Não podemos mais ignorar a abertura de
pequenas trincheiras e observá-las para coletar
amostra de solo. Temos que nos conscientizar que
o modelo de produção é a nossa grande chave.
Mas podem perguntar: Mas quanto produzir? Não sei. Essa é uma grande pesquisa
para executarmos. E o que produzir? Também
não sei.
Na figura seguinte estão dispostas as raízes
de plantas conduzidas em tubos de PVC com 1
m de comprimento e 30 mm de diâmetro, com
areia e solução nutritiva.
Imagine o agricultor que está somente com
um tipo de raiz em seu sistema. Um agricultor
que de vez em quando coloca um milho, um
sorgo em seu sistema. Veja o quanto ele pode
melhorar.
155
Tenho a impressão de que quem está em situação parecida é o sul do Brasil onde a degradação é iminente. Não tenho dúvida nenhuma disso.
Para ilustrar, ainda, nós temos na próxima figura uma raiz de gramínea, a aveia.
Veja a limitação da aveia comparada com um milheto ou outro do tipo, que coloca uma raiz
onde há um orifício feito por algum inseto e em relação ao resto não consegue cruzar os sistemas
compactados. A raiz de nabo, eu acho que ao invés de descompactar solo, ela o comprime. Ela
pode descompactar por onde passa, mas teve que empurrar o solo ao lado para poder crescer.
Acho que dessa forma não temos um fator de descompactação. Descompactação com 250 mil
plantas de nabo no solo, são 250 mil raízes. 60 mil plantas de braquiária por hectare quantos
milhões de raízes são?
SISTEMA AGRÍCOLA PRODUTIVO: FATOR DE PROMOÇÃO DA
FERTILIDADE INTEGRAL DO SOLO 9
José Eloir Denardin10
10
Rainoldo Alberto Kochhann10
Norimar D’Ávila Denardin1111
Introdução
A desenfreada busca por aumentos de produtividade, alicerçada no conceito de fertilidade
do solo, notabilizado por parâmetros químicos e pelo uso intensivo de fertilizantes minerais, conduzida como estandarte desde a “revolução verde” e responsável pela deflagração de políticas
de subsídios a esses insumos como alternativa-solução para a manutenção da competitividade
da agricultura, nitidamente perdeu força e está sendo substituída pela implementação das diretrizes da agricultura conservacionista, cenário em que a ampliação do conceito de fertilidade do solo e a ambiência assumem relevância. A otimização de sistemas agrícolas produtivos,
embasada em gestão incompatível com a promoção da fertilidade física, química e biológica
do solo e descomprometida com o equilíbrio dinâmico do agroecossistema e de seu entorno,
indubitavelmente, mostra-se dessincronizada ante a permanente expectativa de alcance de uma
agricultura tendente à sustentabilidade.
Nesse contexto, a ampliação da base conceitual de fertilidade do solo, em que a estrutura
deste desempenha papel determinante da expressão do potencial do fator solo, a quantidade e
a qualidade de carbono orgânico gerado, parâmetros de essencial e incontestável ação na estru Trabalho apresentado na Reunião Técnica Internacional “Relação semeadora/solo em sistema plantio direto – problemas e soluções”, promovida pelo PROCISUR e organizada pela Embrapa Trigo em Passo
Fundo, RS, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2005.
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Eng.-Agr., Pesquisador em Manejo de Solo na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (Embrapa Trigo). Rodovia BR 285, Km 294, Caixa Postal 451, 99001-970
Passo Fundo, RS, Brasil. Fone (054) 3311 3444, Fax (054) 3311 3617. E-mail: [email protected].
br e [email protected]
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Bióloga, Professora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Passo Fundo,
Campus I, Caixa Postal 611 e 631, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil. Fone/Fax (54) 3316 8151. E-mail:
[email protected]
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turação do solo, juntamente com o seqüestro de carbono orgânico, processo de proclamados e
esperados benefícios à atmosfera, vem se constituindo em referencial para a gestão de sistemas
agrícolas produtivos. Sob esse enfoque, é evidente que às características estruturais das plantas
(qualidade e quantidade de fitomassa) está reservada a qualidade e a quantidade de carbono
orgânico produzido, parâmetros estes responsáveis pela qualidade estrutural do solo e definição
do padrão de fertilidade física, química e biológica do solo. A integração desse trinômio, para
a promoção da fertilidade integral do solo, está, indissociavelmente, vinculada ao modelo de
produção estabelecido, que, por sua vez, é dependente das características comportamentais das
plantas cultivadas.
Objetiva-se com essa dissertação promover, no âmbito da implementação de um programa
de desenvolvimento de sistema plantio direto no Estado de São Paulo, preocupações atinentes
ao moderno enfoque da gestão conservacionista e ambiental de sistemas agrícolas produtivos,
em que a técnica de pousio das terras, cuja premissa é de que a recuperação da fertilidade
integral do solo é promovida pela vegetação espontânea, possa ser reproduzida e otimizada em
modelos de produção que viabilizem o processo concatenado e ininterrupto de colher-semear.
Sistema agrícola produtivo
Com o intuito de destacar a relevância do papel reservado às plantas na produção de
carbono orgânico e, conseqüentemente, na estruturação do solo e na construção da fertilidade
integral do solo, no contexto de uma agricultura tendente à sustentabilidade, é imprescindível
conceituar sistema agrícola produtivo e diferenciá-lo de modelo de produção.
Sistema agrícola produtivo é entendido como a interação dos fatores ambiente, planta
e solo, em que o fator ambiente participa com o potencial energético, o fator planta com o
potencial genético e o fator solo com o potencial fertilidade (Figura 1). Assim, a produtividade
agrícola, isto é, a quantidade de produto gerada por unidade de área, é o resultado integrado
do sistema agrícola produtivo, de modo que não tem sentido referir-se de forma isolada à produtividade do ambiente, à produtividade da planta ou à produtividade do solo, visto que não
há geração de produto na ausência de qualquer um desses fatores ou sem a interação deles. A
interação desses fatores determina que a produtividade do sistema agrícola não pode ser maior
do que aquela potencializada pelo fator mais limitante, sendo essa afirmativa denominada “lei
dos fatores limitantes”. Exemplificando: nenhuma interferência no fator ambiente ou no fator
planta, com vistas a aumentar a produtividade do sistema agrícola produtivo surtirá efeito se o
FATOR AMBIENTE è ENERGIA
LUZ
FATOR PLANA è GENÉTICA
TIPO AGRÔNOMICO
SISTEMA
AGRÍCOLA
PRODUTIVO
CALOR
PRECIPITAÇÃO
ADAPTABILIDADE
ÁGUA
CALOR
OXIGÊNIO
FATOR SOLO è FERTILIDADE
PERMEABILIDADE
pH
NUTRIENTE
Figura 1. Estrutura conceitual de sistema agrícola produtivo.
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ESTRUTURA
DO SOLO
CARBONO
ORGÂNICO
fator solo encontrar-se no limite de suas potencialidades. Desse modo, é possível deduzir que o
manejo de um sistema agrícola produtivo nada mais é do que a exploração das potencialidades
dos fatores de produção que o compõem.
Modelo de produção compreende o arranjo temporal e espacial de espécies vegetais e/ou
animais que compõem os sistemas agrícolas produtivos.
Agroecossistema – sustentabilidade agrícola
Ecossistemas naturais, interpretados como o conjunto de relações mútuas entre fauna,
flora e microrganismos, em decorrência da interação de fatores geológicos, atmosféricos e meteorológicos, constituem, do ponto de vista da termodinâmica, um sistema aberto, com fluxos de
energia e de matéria dinamicamente equilibrados. Interferências antrópicas, com fins agrícolas,
alteram a dinâmica desses fluxos de energia e de matéria, transformando ecossistemas em agroecossistemas. Assim, os agroecossistemas, convencionalmente representados pelas propriedades
rurais, são ecossistemas sob interferência antrópica, em permanente e estreita relação com os
sistemas das interfaces.
O caráter de sustentabilidade que se pretende imprimir aos agroecossistemas, fundamentado na competitividade do agronegócio, no atendimento de necessidades socioeconômicas, na
segurança alimentar da humanidade e na preservação dos recursos naturais, está na dependência da obtenção de um novo equilíbrio dinâmico dos fluxos de entrada e de saída de energia e
de matéria do sistema e da conseqüente qualidade das relações estabelecidas com os sistemas
do entorno. Em decorrência, elementos indicadores de sustentabilidade de um agroecossistema
podem ser representados por parâmetros que expressam o grau de organização e de disciplina
dos processos implicados no sistema e da qualidade resultante das relações com os sistemas
vizinhos. Nesse contexto, os fluxos de energia e de matéria associados ao ciclo hidrológico
destacam-se como os mais evidentes indicadores de sustentabilidade de um agroecossistema,
em conseqüência da elevada sensibilidade que apresentam à interação dos fatores geológicos,
atmosféricos, meteorológicos e antrópicos. Indubitavelmente, esse comportamento, termodinamicamente aberto dos agroecossistemas, envolvendo complexos e integrados fluxos de energia
e de matéria, essencialmente emanados do ciclo hidrológico, justifica a contextualização da
agricultura conservacionista, com caráter de sustentabilidade, no âmbito da bacia hidrográfica.
Do ponto de vista da fertilidade integral do solo, um relevante indicador do caráter de
sustentabilidade de agroecossistemas está associado à dinâmica dos fluxos de adição e de mineralização do carbono orgânico, em decorrência do manejo estabelecido pelo homem e aplicado
ao sistema agrícola produtivo.
Nesse cenário de tomada de decisão em relação à gestão de um sistema agrícola produtivo, destacam-se os aspectos relativos à intensidade de mobilização do solo, à diversidade
e ao arranjo de espécies que compõem o modelo de produção e à quantidade e à qualidade
de agroquímicos empregados. Enquanto a intensidade de mobilização do solo e a quantidade
e a qualidade de agroquímicos estão associadas à taxa de aceleração da mineralização do
material orgânico aportado ao solo, a diversidade e o arranjo de espécies, determinados pelo
modelo de produção adotado, estão associados à quantidade e à qualidade da matéria orgânica resultante no solo.
158
A taxa de perda de matéria orgânica do solo é altamente influenciada pela mobilização do
solo, por homogeneizar resíduos culturais e nutrientes na camada revolvida, oxigenar o solo e,
conseqüentemente, estimular a ação de microrganismos decompositores. Em um mesmo solo,
o preparo convencional pode duplicar a taxa de mineralização da matéria orgânica em relação
ao sistema plantio direto. Sistemas agrícolas produtivos, em que a gestão contempla mobilização
intensa de solo, remoção ou queima de resíduos culturais, modelo de produção que envolve
espécies de baixa produtividade de resíduos culturais e/ou pousio sazonal, e, conseqüentemente,
resulta em baixa produtividade de fitomassa, normalmente, geram taxa anual de aporte de
material orgânico ao solo inferior a taxa anual potencial de mineralização. Essa condição determina mineralização da matéria orgânica estável do solo, implicando em redução do conteúdo
de carbono do solo, desestabilização estrutural do solo e, por conseqüência, degradação da
fertilidade integral do solo. Em síntese, os processos de melhoria da fertilidade integral do solo,
indubitavelmente, estão associados à gestão de sistemas agrícolas produtivos que promovam
maximização do aporte de material orgânico ao solo e minimização das perdas. Nesse sentido,
é relevante considerar que, além dos resíduos culturais produzidos pela parte aérea das plantas,
há o material orgânico aportado pelas raízes, que, incontestavelmente, assume papel preponderante na construção da fertilidade física, química e biológica do solo. Modelos de produção que
contemplem espécies de abundante e agressivo sistema radicular, como gramíneas forrageiras
perenes, que alocam maior fração de carbono fotossintetizado para as raízes do que espécies
anuais, são mais eficientes em elevar o estoque de matéria orgânica no solo e em imprimir
caráter de sustentabilidade aos agroecossistemas.
Fertilidade integral do solo
O solo, sob enfoque elementar, é conceituado como um corpo componente da paisagem
natural, representado por um elemento volumétrico e constituído por uma matriz de sólidos
que abriga líquidos, gases e organismos vivos, compondo um complexo sistema físico-químicobiológico dotado de características e de propriedades resultantes dos efeitos do relevo, do clima,
do tempo e da atividade biológica atuantes sobre o material de origem (processos pedogenéticos), bem como da ação antrópica. Sob enfoque funcional e do ponto de vista agrícola, o solo
constitui o ambiente natural em que as plantas se desenvolvem, atuando como elemento de
suporte e de disponibilização de água, ar e nutrientes. Entretanto, sob enfoque funcional e do
ponto de vista de sistema agrícola produtivo, o solo é apenas um componente determinante da
produtividade desse sistema, em razão de limitações de sua fertilidade integral.
O grau de fertilidade integral do solo, ao envolver aspectos físicos, químicos e biológicos, é
determinado, fundamentalmente, pela estrutura do solo. A estrutura do solo rege os parâmetros
determinantes da capacidade de armazenamento e de disponibilidade de água, da capacidade
de armazenamento e de difusão de calor, da permeabilidade ao ar, à água e às raízes, do nível
de acidez e da disponibilidade de nutrientes (Figura 1).
A estrutura do solo pode ser conceituada como a relação entre o volume realmente ocupado pelas partículas do solo e o volume aparente desse solo, variando com as dimensões dos
poros existentes entre as partículas. De outra forma, estrutura do solo é o arranjo das partículas
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que o compõem, decorrente de processos pedogenéticos e/ou de ações antrópicas relativas ao
manejo. Sob o enfoque de sistema agrícola produtivo, a estrutura do solo amplia o conceito de
fertilidade do solo, não o limitando, exclusivamente, a aspectos químicos, genericamente considerados como reação do solo (pH), teor de nutrientes e nível de matéria orgânica.
A agregação e a estabilidade dos agregados do solo, que determinam o tipo e a qualidade
da estrutura do solo, são diretamente dependentes da quantidade e da qualidade da matéria
orgânica do solo. A matéria orgânica interage com minerais do solo, formando complexos organominerais que resultam na formação de partículas secundárias de diversos tamanhos e formas.
Em decorrência de a quantidade e a qualidade da matéria orgânica do solo ser resultante da
quantidade e da qualidade do material orgânico aportado ao solo, infere-se que as espécies
vegetais integrantes dos sistemas agrícolas produtivos constituem fator primordial responsável
pelo desenvolvimento da fertilidade integral do solo. Portanto, o carbono orgânico aportado ao
solo, oriundo da fitomassa da parte aérea e das raízes das plantas, de mucilagens e de exsudatos
radiculares e da biomassa microbiana do solo, potencializa essa interação, formando e estabilizando agregados. A formação de agregados, por sua vez, diminui a ação dos microrganismos
decompositores, contribuindo para o acúmulo de compostos orgânicos no solo, seqüestro de
carbono, principalmente em solos não mobilizados.
A magnitude do fluxo de material orgânico aportado pelo modelo de produção aplicado ao
sistema agrícola produtivo, bem como a qualidade da fonte de carbono adicionado, determinam
a intensidade da atividade biológica no solo, a quantidade e a qualidade de compostos orgânicos
secundários derivados e, conseqüentemente, influem nas propriedades do solo emergentes do
ciclo do carbono, como conteúdo de matéria orgânica, agregação, porosidade, aeração, infiltração de água, retenção de água, capacidade de troca de cátions, balanço de nitrogênio etc. Em
síntese, o modelo de produção aplicado ao sistema agrícola produtivo, que confere qualidade,
quantidade e periodicidade ao aporte de carbono ao solo, associado ao modo de manejo dos
resíduos culturais, que interfere na taxa de mineralização do material orgânico adicionado, é
que, em essência, promove ou degrada a fertilidade integral do solo.
Degradação estrutural do solo – adensamento e/ou compactação
É postulado que o arado e a grade de discos, operando de modo intensivo e continuamente
na mesma profundidade de trabalho, são responsáveis pela degradação estrutural do solo e pelo
conseqüente aumento de suscetibilidade à erosão, ao transformarem o horizonte superficial do
solo em duas camadas com características e propriedades completamente distintas: uma superficial dispersa, com estrutura de grãos simples, aproximadamente de 0 a 6 cm de profundidade, e
outra subsuperficial adensada/compactada, com estrutura maciça, aproximadamente de 6 a 20
cm de profundidade (Tabela 1). É compreensível que as operações de preparo de solo, efetuadas
com esses implementos agrícolas, não tenham o efeito de uma coqueteleira, para promover,
de forma exclusivamente mecânica, esse grau de transformação estrutural na matriz sólida do
solo. Pode-se afirmar que a ação mecânica de mobilização do solo atua apenas como agente
desencadeador desse processo de transformação estrutural e não como agente causal direto do
fenômeno. A partir das mobilizações intensas de solo, que se processam, sistematicamente, ao
longo das safras agrícolas, sucedem-se, em série no solo, complexas ações e reações biológicas,
químicas e físicas, determinando que as alterações da matriz sólida não são resultantes de uma
relação única entre uma causa e um efeito.
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Biologicamente, esse processo de transformação estrutural do solo é condicionado pela
mineralização da matéria orgânica fresca (fitomassa da parte aérea e das raízes das plantas,
mucilagens, exsudatos radiculares e biomassa microbiana do solo) e da matéria orgânica estável
(compostos orgânicos de cadeias estruturais longas). A ação mecânica de mobilização do solo,
ao incorporar corretivos, fertilizantes e resíduos vegetais à camada arável, oxigena o solo e disponibiliza nutrientes aos microorganismos, incrementando, conseqüentemente, de forma intensiva, a atividade biológica, que passa a acelerar a mineralização do material orgânico incorporado
e, em seqüência, a própria matéria orgânica estável do solo.
Os compostos orgânicos, reconhecidamente como agentes cimentantes ativos de macroagregados, quando mineralizados, promovem a desestabilização dos macroagregados, os quais,
associados a contínuas operações de mobilização de solo, passam a ser fracionados, culminando
com a dispersão do solo em microagregados e/ou em partículas unitárias.
Tabela 1. Densidade do solo e agregados estáveis em água, em frações da camada de 0 a 30 cm de profundidade, de um Latossolo Vermelho, submetido, por três e sete anos consecutivos, a preparo exclusivo com
grade de discos.
Gleba sob 3 anos de uso
Camada
(cm)
0-6
6 - 14
14 - 23
23 - 30
Gleba sob 7 anos de uso
Densidade
do solo
(g cm-3)
Agregado
> 4,76 mm
(%)
Densidade
do solo
(g cm-3)
Agregado
> 4,76 mm
(%)
*
78
79
78
*
1,43
1,40
1,25
*
48
58
56
1,20
1,20
1,18
*
* Ausência de agregado ou solo com estrutura de grãos simples.
Quimicamente, o processo de transformação estrutural do solo é condicionado pela adição
de corretivos e de fertilizantes, demandados pelo sistema agrícola produtivo, mas que possuem
potencialidades para desencadear reações promotoras de alteração no estado de agregação
e de estruturação do solo. Em parte, esse fenômeno pode ser desencadeado pelo calcário,
corretivo normalmente aplicado em doses elevadas na camada arável do solo. Efeitos diretos
dos carbonatos de cálcio e de magnésio na dispersão do solo são resultantes do aumento de
cargas elétricas negativas e da conseqüente redução da atração entre as partículas coloidais,
especialmente dos óxidos de ferro e de alumínio. A calagem propicia a substituição dos cátions
H+ e Al+++, que têm ação estabilizante da estrutura do solo, pelos cátions Ca++ e/ou Mg++,
que, na faixa de pH abaixo de 7,0, têm ação dispersante, culminando, à semelhança da reação
biológica, com a desestruturação de macro e microagregados, bem como com a dispersão do
solo em partículas unitárias.
A ação positiva da calagem na agregação de solos ácidos, relatada por numerosos autores,
certamente é atribuída a efeitos indiretos, como favorecimento ao aumento de produção de
fitomassa, primordialmente, em decorrência da elevação do pH, resultando em acúmulo de
substâncias húmicas agregadoras do solo. Com base em tal assertiva, essa ação positiva da calagem pode ser esperada em sistemas agrícolas que produzem elevadas quantidades de biomassa,
desde que associadas a condições climáticas e a técnicas de manejo de solo desfavoráveis à
mineralização intensiva dos resíduos vegetais.
161
De modo genérico, portanto, é possível afirmar que os principais modelos de produção
implementados nos sistemas agrícolas produtores de grãos, no âmbito dos latossolos brasileiros,
não reúnem as condições necessárias para a calagem promover melhorias estruturais no solo.
As condições climáticas, tropicais e subtropicais do Brasil, aliadas ao preparo intensivo do solo,
determinam intensidade de mineralização de tal ordem que, além da decomposição da matéria
vegetal fresca aportada pelo modelo de produção, a própria matéria orgânica estável do solo
passa a ser decomposta, não permitindo acúmulo de húmus. Conseqüentemente, em detrimento da estabilidade de agregados, a dispersão do solo é favorecida.
Finalmente, as reações físicas, complementares do processo de transformação estrutural
do solo, resumem-se à ação da água de percolação, que promove a eluviação dos minerais de
argila dispersos na camada superficial do solo, e ao rearranjo “errático” dessas partículas na
zona de deposição, alterando drasticamente a matriz sólida original do solo. A porosidade natural do solo na camada subsuperficial passa a ser obstruída pelos minerais de argila iluviados,
elevando a densidade do solo pela concentração de massa de solo por unidade de volume.
Esse fenômeno de migração e de sedimentação de minerais de argila é que desenvolve na
subsuperfície do solo a camada adensada/compactada, com estrutura maciça e estabilizada por
ligações eletrostáticas originadas dos minerais de argila iluviados, à semelhança do processo de
desenvolvimento do horizonte B argílico. Em contrapartida, a perda de estabilidade dos macroagregados e seu fracionamento em microagregados e/ou em partículas unitárias e a conseqüente
eluviação de parte dos minerais de argila é que desenvolve a camada superficial dispersa, com
estrutura de grãos simples.
De modo paralelo e concomitantemente a esses processos, ocorre também o fenômeno
típico e exclusivo de compactação do solo. Esse é resultante de forças mecânicas, oriundas do
tráfego de máquinas agrícolas e do pisoteio de animais sobre o solo, que aproximam os microagregados e/ou as partículas unitárias dispersas, mediante expulsão do ar e/ou da água que os
mantêm afastados, elevando a densidade do solo pela redução do volume total do solo às custas
da redução da porosidade.
Não obstante os inegáveis benefícios creditados ao sistema plantio direto, é perceptível
que expressiva parcela dos atuais modelos de produção implementados nos sistemas agrícolas
anuais produtores de grãos no Brasil têm aportado fitomassa, tanto pela parte aérea da planta
como pelas raízes, em quantidade inferior ao potencial de mineralização determinado pelas condições climáticas. Sistemas de rotação de culturas em que a produção de fitomassa apresenta-se
quantitativa e qualitativamente insuficiente, associados à calagem concentrada na superfície
do solo, certamente desencadeiam o processo de mineralização intensiva da matéria orgânica
fresca aportada e, conseqüentemente, restringem a formação de matéria orgânica estável, responsável pela organização e estabilização da estrutura do solo. Nesse contexto, possivelmente a
recuperação e/ou a manutenção da estrutura dos latossolos ácidos do Brasil requererá a implementação de ajustes nos modelos de produção, com a finalidade de propiciar taxas permanentes
de aportes de resíduos vegetais e de raízes em quantidade e qualidade que permitam superar a
taxa de mineralização.
Com base neste exercício de construção de hipóteses no entorno do complexo de causas
e efeitos da transformação dos padrões de qualidade da fertilidade integral do solo, conclui-se
que o sistema plantio direto, à luz do atual estado do conhecimento, é o sistema de manejo mais
eficaz para expressar o potencial genético das espécies cultivadas, ao minimizar a degradação
dos recursos naturais e ao maximizar o potencial do fator clima e, principalmente, do fator
162
solo, atuando como um mecanismo de transformação, de reorganização e de sustentação do
agronegócio.
Agricultura conservacionista
A agricultura conservacionista, por muito tempo, restringiu-se a um enfoque reducionista,
estando associada, única e exclusivamente, ao grau de redução da intensidade de mobilização do solo em relação ao preparo convencional. Em decorrência, surgiram expressões para
caracterizar sistemas de manejo conservacionista de solo, tais como preparo mínimo ou preparo reduzido (minimum-tillage), sem preparo, plantio direto, semeadura direta (zero-tillage,
no-tillage) etc., que passaram a receber diversificadas interpretações/conceituações, em razão
de particularidades regionais relativas ao tipo e à intensidade de uso de equipamentos agrícolas
para mobilização de solo.
Na atualidade, agricultura conservacionista, no âmbito de sistemas agrícolas produtivos,
é conceituada como um complexo de processos tecnológicos de enfoque holístico, que objetiva
preservar, melhorar e otimizar os recursos naturais, mediante o manejo integrado do solo, da
água e da biodiversidade, compatibilizado com o uso de insumos externos. Esse complexo de
processos tecnológicos é considerado um dos mais notáveis fatores responsáveis por avanços
no desenvolvimento agrícola da última década, fundamentalmente, por envolver, concomitantemente com a disponibilização de tecnologias para diferentes estratos fundiários:
- redução ou eliminação de mobilizações de solo;
- preservação de resíduos culturais na superfície do solo;
- manutenção de cobertura permanente do solo;
- ampliação da biodiversidade, mediante cultivo de múltiplas espécies, em rotação de culturas
ou em consórcio de culturas, e uso de adubos verdes ou de culturas de cobertura de solo;
- diversificação e complexação de sistemas agrícolas produtivos, como sistemas agropastoris,
agroflorestais e agrossilvipastoris;
- manejo integrado de pragas, de doenças e de plantas daninhas;
- controle de tráfego de máquinas e de equipamentos;
- uso preciso de insumos agrícolas;
- emprego de práticas complementares para controle integral da erosão;
- abreviação do interstício entre colheita e semeadura, pela implementação do processo colher-semear etc.
Diante dessa ampliação conceitual, a agricultura conservacionista, por preconizar implementação holística desse complexo de processos tecnológicos, apresenta estrutura sistêmica. A
adoção parcial desses processos, indubitavelmente, remete a agricultura conservacionista ao
cenário passado, em que a visão reducionista era predominante.
A agricultura conservacionista, sob essa abrangência conceitual, constitui sustentação de
sistemas agrícolas produtivos, conservando o solo, a água, o ar e a biota, bem como, prevenindo
a poluição e a degradação dos sistemas do entorno. Em outras palavras, agricultura conservacionista passa a ser interpretada como agricultura eficiente ou efetiva no uso dos recursos
disponíveis.
163
No Brasil, a atual abordagem da agricultura conservacionista vem sendo amplamente
contextualizada no âmbito do sistema plantio direto, o qual é interpretado como ferramenta
da agricultura conservacionista para imprimir caráter de sustentabilidade ao desenvolvimento
agrícola. Nesse sentido, sistema plantio direto é conceituado como um complexo de processos
tecnológicos destinado à exploração de sistemas agrícolas produtivos, contemplando diversificação de espécies, via rotação e/ou consorciação de culturas, mobilização de solo apenas na
linha/cova de semeadura, manutenção permanente da cobertura do solo e minimização do
interstício entre colheita e semeadura, pela implementação do processo colher-semear. Sob esse
enfoque, portanto, o conceito de sistema plantio direto não pode ser confundido com o simples
ato de semear/plantar sem prévio preparo de solo, mas ser interpretado como um complexo
tecnológico capaz de viabilizar a perenização desse processo.
À semelhança da atual base conceitual de agricultura conservacionista, o sistema plantio
direto, ao contemplar integralmente esse complexo de processos tecnológicos, submete o sistema agrícola produtivo a um menor grau de perturbação ou de desordem, quando comparado
a outras formas de manejo, por requerer menor infra-estrutura de máquinas e de equipamentos, demandar menor força de trabalho e menos energia fóssil, favorecer o controle biológico
de pragas, de doenças e de plantas daninhas, minimizar a erosão, aumentar os processos de
floculação e de agregação do solo, desenvolver a estrutura do solo, diminuir a taxa de mineralização da matéria orgânica e desacelerar as taxas de ciclagem e reciclagem de nutrientes,
estabelecendo sincronismo com a taxa de crescimento das formas de vida presentes. Portanto,
o sistema plantio direto, comparativamente a outras formas de manejo, potencializa a obtenção
do equilíbrio dinâmico do agroecossistema, disciplinando os fluxos de entrada e de saída de
energia e de matéria do sistema, e conserva o respectivo potencial biológico, reservando-lhe
maior capacidade de auto-reorganização. Ao refletir esse conceito, a adoção do sistema plantio
direto objetiva expressar o potencial genético das espécies cultivadas, pela maximização do
fator ambiente e do fator solo, sem degradar os recursos naturais, permitindo-lhes atuar como
mecanismos de transformação, de reorganização e de sustentação de agroecossistemas. O respeito à vida, mediante a incessante expectativa de alcance de uma agricultura irrepreensível,
credencia a agricultura conservacionista e o sistema plantio direto como reais possibilidades de
atendimento a esse paradigma.
Nesse cenário de transformação, de reorganização e de sustentação de agroecossistemas,
catalisado pelos fundamentos que norteiam o sistema plantio direto, destaca-se a proposição de
minimização do intervalo entre colheita e semeadura – processo colher-semear –, que demanda
inovações tecnológicas para expressar o potencial de benefícios que reserva. É esse processo
que melhor reproduz, no sistema agrícola produtivo, os fluxos de aporte e de mineralização
de material orgânico observados em ecossistemas naturais, ou seja, o comportamento dos ciclos que representam vida em ecossistemas naturais – ciclo do carbono, ciclo do nitrogênio
etc. Em ecossistemas naturais, os fluxos de adição e de mineralização de material orgânico,
embora variem sazonalmente em intensidade, podem ser considerados permanentes e simultâneos, mantendo as entradas e as saídas de matéria e de energia em equilíbrio dinâmico. Em
contraste, observa-se que, em agroecossistemas estruturados em sistemas agrícolas produtivos,
constituídos por modelos de produção que contemplem espécies anuais, os fluxos de adição e
de mineralização de material orgânico nem sempre são contínuos e simultâneos. No período
do ciclo vegetativo das espécies cultivadas, ambos os fluxos, adição e mineralização, ocorrem
simultaneamente. Nessa situação, os elementos mineralizados podem ser repostos e absorvidos
pelas plantas vivas, evitando perdas no sistema. Entretanto, no período de entressafra, em decorrência da ausência de plantas vivas, a mineralização, que passa a ser o fluxo predominante
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ou exclusivo, libera carbono e nutrientes para o sistema, sem as respectivas reposição e absorção. Nessa situação, o sistema torna-se vulnerável a perdas pela quebra do equilíbrio dinâmico
preconizado para a sustentabilidade agrícola.
Otimização de sistemas agrícolas produtivos
Do exposto, é possível inferir que a sustentabilidade de agroecossistemas é totalmente
dependente da qualidade de gestão dedicada aos sistemas agrícolas produtivos, fundamentalmente, aos aspectos relativos ao quanto os modelos de produção são eficazes em reproduzir o
equilíbrio dinâmico dos fluxos de aporte e de mineralização de material orgânico observados nos
ecossistemas naturais. Em decorrência, está reservado à estruturação dos modelos de produção
o grau de relacionamento entre a atividade agrícola e a ambiência, parâmetro que vem sendo
submetido gradativamente a avaliações cada vez mais rigorosas por exigência de forças sociais.
Portanto, a viabilização técnica do complexo tecnológico contemplado pela agricultura conservacionista está, essencialmente, associada às características estruturais e comportamentais das
espécies cultivadas. O processo colher-semear, que objetiva reduzir ou suprimir o período de
entressafra dos sistemas agrícolas produtivos, depende do melhoramento genético de plantas
orientado à ampliação da sazonalidade das espécies cultivadas, isto é, da criação de cultivares
adaptadas para cultivo em diferentes épocas do ano agrícola e com variados ciclos. Essa diversidade de características comportamentais, tanto em espécies comerciais como em espécies
destinadas à promoção da fertilidade integral do solo, propicia flexibilidade ao planejamento de
modelos de produção, minimização ou supressão dos períodos de entressafra e otimização do
uso da terra, por viabilizar maior número de safras por ano agrícola.
Um dos exemplos mais expressivos de sucesso alcançado pelo melhoramento genético na
introdução desse comportamento sazonal em espécies cultivadas é observado na cultura de milho. Atualmente, na região de clima subtropical do Brasil, essa espécie pode ser considerada uma
cultura, com híbridos e/ou cultivares, de natureza multissazonal, pois é cultivada, com sucesso,
no período de julho a março, ou seja, em todas as estações do ano e com ciclos que variam
de superprecoce a tardio. Outro exemplo dessa natureza, de elevada repercussão econômica e
ambiental, proporcionado pelo melhoramento genético vegetal pode ser observado na região
do Cerrado brasileiro. A redução do ciclo da cultura de soja, em mais de 30 dias, associada a
similar abreviamento de ciclo das culturas de milho e de trigo, propiciou mudanças radicais nos
modelos de produção estruturados em sistemas agrícolas produtivos conduzidos sob sistema
plantio direto, que eram alicerçados na monocultura de soja ou na sucessão de culturas soja
comercial/milheto (Pennisetum americanum) para cobertura de solo. Essa característica comportamental, geneticamente introduzida nessas espécies, induziu a implementação do binômio
safra-safrinha nessa região do país, ou seja, duplicação de safras com espécies comerciais por
ano agrícola, viabilização da diversificação de espécies cultivadas e complexação de sistemas
agrícolas produtivos, como a integração agricultura/pecuária. A imagem expressa na Figura 2,
amplamente difundida via Internet, no último ano, que retrata um sistema agrícola produtivo
de grãos na região do Cerrado brasileiro, embora encerre múltiplas interpretações relativas ao
agronegócio brasileiro – exuberância, potencialidade, pujança... –, nenhuma é mais explícita que
o processo colher-semear. Nesse processo, é relevante enfatizar a interação observada entre o
sistema plantio direto e as espécies e as cultivares portadoras de características específicas, ao
atuarem como fatores de otimização do modelo de produção e de conferência de caráter de
sustentabilidade ao agroecossistema.
165
Figura 2. Colheita de soja, safra
principal, e semeadura de soja, safrinha,
conduzidas sob sistema plantio direto, na
região dos Cerrados brasileiro.
Nas regiões de clima temperado e subtropical do país, em que a distribuição anual de
chuvas permite o uso agrícola da terra em todos os meses do ano, há períodos de entressafra
muito longos com potencial para aumentar o número de safras agrícolas comerciais ou intensificar o cultivo de espécies promotoras da fertilidade integral do solo, na tentativa de reduzir
perdas promovidas pela mineralização dos resíduos culturais e de reproduzir no agroecossistema o equilíbrio dinâmico observado no ecossistema. A viabilização dessas opções está gerando
demandas para a pesquisa pertinente ao melhoramento genético vegetal, fundamentalmente
orientada à criação de cultivares de espécies destinadas à promoção da fertilidade integral do
solo com características de cultura de inserção, ou seja, diversidade de cultivares para variadas
épocas de semeadura e ciclo, com potencial para integrar modelos de produção nos períodos
de entressafra das espécies comerciais. Um cenário para essa demanda é a carência de espécies/
cultivares adaptadas para ocupar os períodos entre a colheita de milho, em fevereiro-março, e a
semeadura de trigo, em maio-julho, e a colheita de soja, em março, e a semeadura de trigo, em
junho-julho. Atualmente, há indicações técnicas para a semeadura da cultura de nabo forrageiro
(Raphunus sativus) nesse período, praticamente suprimindo o tempo de entressafra, mas sem a
disponibilidade de cultivares melhoradas para especificidades que permitam otimizar o modelo
de produção. Sementes dessa espécie, ofertadas no mercado sem nenhuma distinção varietal,
são, indiscriminadamente, indicadas tanto para ser semeadas nesse período de 60 a 90 dias
– março a junho –, como para ser semeadas como cultura opcional de inverno – abril a julho;
abril a agosto; abril a setembro; e abril a outubro. Indubitavelmente, tanto os cereais de inverno
como a soja, o milho, o sorgo etc., poderão ser altamente beneficiados por espécies melhoradas,
para especificidades desejadas, e cultivadas nas entressafras como culturas precursoras, sem
prejudicar o calendário agrícola das espécies comerciais. Nesse sentido, a cultura de nabo forrageiro, mesmo sem melhoramento genético, tem assumido certa relevância no sistema agrícola
produtivo pela ponte de nitrogênio que forma entre a safra de verão e a safra de inverno ou
mesmo entre duas safras de verão em seqüência. Resumidamente, essa ponte de nitrogênio
corresponde ao processo de a cultura de nabo forrageiro incorporar na fitomassa o nitrogênio
mineralizado dos restos culturais das culturas de verão e disponibilizá-lo, em taxa adequada, aos
cereais de inverno cultivados em seqüência ou mesmo à subseqüente cultura de verão.
Mais uma demanda para o melhoramento genético de plantas é ilustrada pelas tradicionais espécies utilizadas como adubos verdes: mucuna preta (Mucuna aterrina), crotalária juncea (Crotalaria juncea), guandu (Cajanus cajan), lab-lab (Dolichos lab lab) entre outras. Essas
espécies, de indiscutível potencial para a promoção da fertilidade integral do solo, são culturas
típicas de verão, com época de semeadura restrita aos meses de setembro a janeiro. Esse comportamento relativo à época de semeadura, indubitavelmente, tem limitado a utilização dessas
166
espécies como adubo verde ou como plantas de cobertura, pois esse período ideal de cultivo é
preferencialmente destinado às espécies comerciais. A indução de comportamento multissazonal a essas espécies, transformando-as em culturas de inserção mediante a criação de cultivares
adaptadas para semeadura nas entressafras das culturas comerciais, representaria uma tecnologia de potencial inestimável para a otimização de sistemas agrícolas produtivos.
A cultura do milheto, por suas características de rusticidade e de elevada produção de
fitomassa, tanto da parte aérea como de raízes, mesmo sem melhoramento genético orientado,
viabilizou a adoção e a expansão do sistema plantio direto na região do Cerrado brasileiro.
Na atualidade, cultivares de Brachiaria, implantadas em semeadura simultânea ou em sobressemeadura à cultura de soja e de milho, estão substituindo o milheto, nessa região do país. A
vantagem substitutiva está reservada à característica da Brachiaria em sobreviver ao período
sem chuvas – maio a setembro –, dispensando nova semeadura, como requerida pela cultura do
milheto e, fundamentalmente, suprimindo os períodos de entressafra.
É inquestionável que a flexibilização de modelos de produção, a otimização de sistemas
agrícolas produtivos e a sustentabilidade de agroecossistemas são diretrizes, fundamentalmente,
dependentes de tecnologia de produto gerada pelo melhoramento genético vegetal com enfoque de abrangência holística e sistêmica, muito além da tradicional individualização de espécie
trabalhada. As crescentes demandas pelos produtos gerados pela agricultura não permitem os
longos períodos de pousio das terras praticado no passado, com o objetivo de a vegetação
espontânea recuperar a fertilidade integral do solo. O melhoramento genético vegetal, além de
criar cultivares de espécies comerciais com maior flexibilidade à época de cultivo, apresenta potencial para criar cultivares de espécies de inserção, possivelmente, mais ativas que a vegetação
espontânea, ocorrente nos pousios de longa duração, na promoção da fertilidade integral do
solo. Esse direcionamento da pesquisa em melhoramento genético de plantas, de forma similar
ao novo enfoque abordado pela agricultura conservacionista, poderá se constituir, no âmbito
da relação agricultura/ambiência, como mais um notável progresso do desenvolvimento e da
modernização da agricultura. Embora os exemplos explicitados demonstrem resultados revolucionários ao agronegócio e à ambiência, e, em parte, expliquem os incrementos de produção
de grãos experimentados pelo Brasil nos últimos anos, indubitavelmente, quantificar o potencial
de novas contribuições reservadas ao melhoramento genético vegetal, como ferramenta para a
otimização de sistemas agrícolas produtivos e o desenvolvimento da sustentabilidade de agroecossistemas, é inimaginável.
Orlando Pereira de Godoy Neto – CAT Pirassununga
Aí entra outro detalhe que o Fancelli também falou aqui inicialmente. Acho que é a questão da agricultura paulista ter muitos produtores refratários à tecnologia. Essa foi a palavra que
ele usou.
No primeiro plano da foto, campo do agricultor que adota tecnologia, no segundo plano,
terreno dos que não adotam. Por quê? Porque não querem. A experiência está ali do lado. Há
um rio de divisa. Conseguimos observar o lado de lá. Será que ele não consegue observar o
lado de cá? A distância é de cerca de 500 m de um lado para o outro e ali é um caminho de
diferença.
167
Vou entrar em outro detalhe que o Fancelli
disse, que é de suma importância e o Estado de
São Paulo está pecando muito nisso. Vou citar
até o Denizart, que teve uma conversa com o
Mário Bretãs, em Foz do Iguaçu. Ele cobrou naquele evento a existência de plantio direto em
São Paulo, e vocês, como pesquisadores, disseram que existe em São Paulo. A gente sabe que
existe, mas hoje, o que acontece é que existe
uma lacuna, que o Fancelli também citou, que é
a extensão rural.
Essa é uma opinião particular minha, quem
leva a tecnologia gerada pelos pesquisadores
para o campo, normalmente, são os consultores
ou então são eventos como a Federação faz,
como o Encontro Nacional de Plantio Direto,
como a APDC faz no Centro-Oeste, em seus
encontros, divulgando a tecnologia; são os produtores que vão atrás desses encontros e, mesmo assim, a possibilidade de conhecimento que
eles têm naqueles momentos é pequena. Em
eventos como esses, quanto de assunto vai ficar
sem ser debatido? Quanto tempo teríamos para
ficar aqui? Quantos dias poderíamos sentar e
debater sobre física de solos, qualidade química
de solos, sobre máquina? Quanto o Afonso poderia falar para a gente sobre máquinas agrícolas?
Só para pensar nisso também.
Eu tirei a foto a seguir quando eu tive a minha parte de formação acadêmica na ESALQ,
com o Fancelli. Naquela época, falávamos de regulagem de máquinas nesse sistema ainda.
Pensava-se em adequação de população através de furo de disco naquela época.
Isso faz quanto tempo? Mais ou menos 10 anos talvez. Acho que era uma J2, se não me
engano.
Quando me formei, fui para casa e tinha
uma 20/40, que era uma J2S adaptada para
fazer plantio direto, ou uma coisa assim.
Depois, eles inventaram outra máquina
que era para semiplantio direto. Quer dizer, ou
é plantio direto ou não é!
Na época, a gente batia muito nisso.
Depois, tivemos uma evolução. Já tínhamos
uma opção de mudar apenas a engrenagem
para mudar tanto a dosagem de semente como
a de adubo. Daquele sistema evoluiu para o da
figura seguinte.
168
Você não precisa mais ficar selecionando.
Hoje, temos os câmbios que são mais práticos
ainda, por facilidade de movimentação. O que
é que eu quis mostrar com essas três últimas
fotos?
Como o Fancelli também disse num primeiro momento aqui, tecnologia de máquina
existe! O problema é como adequar isso e o
produtor ter acesso a tudo isso.
O Afonso falou sobre máquinas aqui e o
que ele mais enfatizou foram semeadoras. Outro
dia, conversando lá no CAT em Pirassununga fui falar sobre máquinas com eles e também fiquei
pensando. Qual é a grande diferença entre máquinas de PD e convencional?
O diferencial é semeadora. E o pior é que, muitas vezes, a diferença é o disco de corte ou
o facão. Quer dizer, a máquina é isso.
Hoje, no Estado de São Paulo, a gente tem incentivado para que as pessoas façam aquisição de semeadora. Mas o que acontece? O produtor faz a aquisição de uma semeadora para
o plantio direto, faz um projeto para o plantio direto, e depois tira a parte da frente e vai fazer
convencional. Por quê? Porque, muitas vezes, ele não tem alguém no campo fazendo extensão
e dizendo-lhe o que utilizar, como utilizar.
Eu acredito que em máquinas a gente tem bastante coisa a desenvolver, mas existe tecnologia bem desenvolvida. O que precisa, talvez, como o Afonso falou, é validar muita coisa e
levá-la para o campo.
Conversando com o Denardin, ele falou do programa de poder fazer um grande treinamento para o pessoal que faz extensão. Uma tristeza da minha parte é que aqui nós temos pelo
menos três grandes centros de grande excelência de ensino no Estado de São Paulo. Temos aqui
o Fancelli, da ESALQ, dois da UNESP, temos o Magalhães da UNICAMP e temos todo o pessoal do IAC, aqui juntos. Mas, e a extensão? Nós não temos ninguém da extensão aqui. Salvo
eu, que faço o meio de campo e acabo sendo, por trabalhar num CAT e trabalhar também na
coordenadoria, mas sou conveniado (um assunto bem complexo). Efetivamente, da diretoria da
CATI a gente não tem ninguém aqui. Quer dizer, a extensão não está participando desse evento.
Está certo que aqui nós estamos discutindo a tecnologia e a pesquisa, mas se ninguém estiver
participando disso, não vamos conseguir levar isso para a frente, o que é muito importante.
O Denardin falou do treinamento de extensionistas para que essas pessoas que vão até o
campo levem a informação que possa ser absorvida na pesquisa. E que depois, tragam, num
outro momento, o que de fato foi implantado.
O Denardin falou agora do sistema radicular da planta. Já foi bastante falado; o Fancelli
falou de material para cultivo, o Carlos disse bastante da braquiária e a Elaine alertou para
tomar cuidado a fim de não virar um monocultivo. Mas eu acho que, infelizmente, o produtor
não tem muito acesso a material que possui, efetivamente, potencial para o campo, ou não
tem conhecimento para isso. Ele pode até ter a tecnologia, mas não tem conhecimento. Se não
tivermos estudos ou trabalhos falando disso, vamos cair com certeza na braquiária e ficar na
braquiária como um monocultivo.
169
É sabido, também, que a parte mais sensível do produtor, com certeza, é o bolso. Isso
estamos cansados de escutar em palestras. Se o produtor não tiver tecnologia e material viável
para que possa desenvolver, ele não vai adotar o plantio direto e o deixará de lado.
Há outra coisa: a adubação. Eu vou me atrever a falar alguma coisa.
Outro dia, apareceu alguém lá em nossa propriedade querendo falar sobre adubação de
sistema. Uma empresa foi falar de adubação de sistema e aqui isso foi bastante comentado.
Quando vamos fazer o plantio, a implantação, existe na verdade esse grande revolvimento das hastes. O pessoal do IAPAR fez um trabalho com vários tipos de hastes e chegou à
conclusão de uma haste que foi a melhor. Mas isso não veio para o produtor. Na hora que vem
alguém falando em adubação de sistema a gente passa a querer acreditar, porque no momento
do plantio o mais importante é colocar a semente no solo. A adubação acaba até sendo certo
entrave, porque o volume é maior e o movimento de solo é maior, com certeza. Depois da
haste sempre vem a semente e ela pega sempre o solo movimentado. Muitas vezes, você pega
diferença de profundidade, diferença de deposição da semente, semente com adubo, tudo em
função daquela adubação que teve que carregar lá na frente.
Então, se chega alguém falando de adubação de sistema e não temos informação sobre
isso, estamos muito suscetíveis a aceitar. Por quê? Porque é uma tecnologia que uma empresa
está mostrando.
Se o produtor não tiver contato com informações que vocês tenham do sistema, de como
adubá-los, o produtor pode acabar cedendo a esse lado que é o mais fácil da história, ou que,
pelo menos para ele, é o mais viável.
Já escutei umas duas outras palestras do Afonso. Tive essa grata satisfação e ele fala
bastante de qualidade de plantio, qualidade da implantação. Eu acho que isso é fundamental;
acho que o ponto é fazer o plantio direto com qualidade. Mas se o produtor não tiver quem o
ajude a fazê-lo, ele não o fará.
Os CATs (Clubes Amigos da Terra) hoje, assim como nós temos no Sul os “Clubes da
Minhoca”, na verdade tentam fazer um pouquinho desse trabalho de extensão. Não é nossa
função e nem queremos tomar a posição de fazer a extensão, mas o CAT acaba entrando nesse
campo para tentar levar um pouco de tecnologia.
Volto a falar que não é uma função do CAT. É uma função da CATI no Estado de São
Paulo, mais especificamente.
Acho que uma das propostas que, eventualmente, poderia ter esse grupo é esse trabalho
de extensão, de pegar essas tecnologias que nós temos e levar para o campo. Isto é, treinar
pessoas para levá-las ao campo. Acho que isso para o plantio direto é fundamental. O nosso
CAT trabalha em cima disso.
É numa frase do Nonô, que nessa revista do “O Agronômico” está citada também, que o
nosso CAT acredita hoje. Temos a satisfação de acreditar que o plantio direto já deixou de ser
uma aventura. Que hoje fazer o plantio direto é ser coerente e estar consciente com a agricultura. A gente sempre está finalizando com isso, porque acredita no bom plantio direto. O correto
plantio direto para a agricultura paulista é viável e o mais interessante. Senão, a gente vai acabar
de certa forma virando um mar de cana, porque os agricultores na situação em que se acham,
estão cada dia mais desestimulados a trabalhar com cereais. Se não houver tecnologia e gente
170
no campo mostrando-lhes viabilidade, com certeza, vão novamente pender ao lado mais fácil,
que é arrendar e vir para a cidade.
Discussão da Mesa Redonda
Ciro Antonio Rosolem – UNESP/Botucatu
Ouvimos algumas coisas sobre raízes. Queria levantar algumas coisas que percebi e que
para mim ficaram um pouco mancas, mas que reputo como assuntos que estão muito pouco
explorados na literatura que a gente tem.
Um deles é o estudo das raízes e me chamou muito a atenção e concordo com o que o
Denardin colocou. Essas raízes de nabo são maravilhosas, inclusive chego até a imaginá-las
picadinhas com azeite em cima e com sal. Mas é o tal negócio, o que elas significam em termos
de agricultura? Eu acredito que muito pouco.
Temos desenvolvido algumas coisas com raízes em Botucatu e o que me motivou a trabalhar com raízes foram dois trabalhos: um de 1979, se não me engano; e outro bem antigo
também. O primeiro é justamente a evidência de que uma raiz poder atuar como subsolador
biológico. Isso é de um trabalho feito com Lupinus. Bastante interessante, um trabalho feito na
Austrália, já há quase 30 anos. E outro trabalho, não sei a citação agora, mas posso até achar
para quem tiver interesse, que diz o seguinte: você precisa ter pelo menos 600 poros por metro
quadrado para que haja algum efeito significativo. Eu não sei quem mediu isso e nem como
mediu. Deve ser um trabalho de presidiário você medir número de poros causado por raízes no
subsolo! Foi semeado um trigo e depois disso, só havia resposta do trigo a partir desse número
mágico: 600 furos por metro quadrado.
O nabo nunca vai dar isso. Aliás, nenhuma dicotiledônea vai dar isso.
Então, nós temos aqui algumas coisas interessantes e esses trabalhos estão na literatura
brasileira. Se você pegar o próprio nabo, pegar o guandu, as crotalárias. O quebra-pedra é o
melhor deles e “quebra-pedra” mesmo. Um trabalho feito em Viçosa mostra uma capacidade
incrível de penetração em camadas compactadas.
E a população de raízes? Normalmente, é muito baixa, considerando a concentração de
raízes por centímetro cúbico ou metro quadrado de solo. Acho que acabam sendo muito mais
importantes, mesmo do ponto de vista da compactação, as gramíneas. Por quê? Porque, mesmo
sendo mais sensíveis à compactação, elas conseguem colocar lá um número muito maior de
raízes. Inclusive, a última fotografia do Denardin mostrou isso com sorgo, com milheto etc.
Acho que a gente deveria conhecer melhor o efeito dessas raízes na agregação. Já comentei
a respeito dos resultados que a gente está tendo com triticale. Penso que deveríamos ir embora
com isso na cabeça.
Outra coisa que está ligada a raízes também, uma linha que a gente está começando
a explorar, difícil de trabalhar, são as relações de limite hídrico ótimo. É um conceito que já
vem sendo trabalhado há algum tempo no exterior. No Brasil, conheço dois grupos que estão
171
trabalhando com isso, o do Álvaro, em Piracicaba, e o do Tormena, em Maringá. Nós estamos
começando a fazer alguma coisa.
Estou levantando esse assunto porque tivemos aqui uma seção de física do solo e ninguém
falou do tal do limite hídrico ótimo, que, na verdade, integra conhecimentos que têm a ver com
carbono, com retenção de água e com compactação. Acho que é um assunto que temos que
explorar melhor.
Gostaria de deixar um recado, mais com o Peche. Gente! Isso nós conhecemos desde
1939. Foi o primeiro trabalho que eu vi a respeito, dizendo que você não deve colocar adubo
embaixo da semente. Aí, vem o Peche, o Ralich e outros e dizem: Olhe! Tem que mobilizar o
menos possível. Eu já ouvi do agricultor: “prefiro colocar o adubo embaixo do que mobilizar
muito a terra”.
Eu tenho essa dúvida. O que é que compensa, botar o adubo lá embaixo e ter uma planta detonada como aquela? Lógico que não é todo o ano, mas é um processo que acontece.
Ou é melhor mobilizar um pouquinho mais e ter uma planta com vigor maior? Essa dúvida
eu tenho. Acho que é uma coisa que a gente precisa responder. Se souber responder agora,
melhor, maravilha!
Afonso Peche Filho – IAC
A questão ligada com posicionamento do fertilizante e rompimento de solo é muito fácil de
resolver, se tiver fidelidade com essa diretriz de anos atrás. Ou seja, abaixo e ao lado.
Não há necessidade de aprofundar o rompedor de solo a 15-20 cm, para colocar abaixo e
ao lado. A semente é normalmente colocada a 3 e a 5 cm. Fugir da zona de evaporação do solo,
isso é a coisa importante. Depois, o fertilizante é colocado 5 cm abaixo e ao lado. Nós podemos
colocar o fertilizante numa camada humificada de solo e que é na faixa de 6 cm, no máximo 10
cm. Está muito bom para a planta.
O que acontece é que mesmo o pessoal de máquina e o agricultor insistem em fazer uma
banalidade, que é romper solo e não colocar o adubo abaixo e ao lado. E há colegas nossos que
acham que isso não é importante.
Eu até brinco com o pessoal: “não precisa acreditar em mim”.
Um carrinho você regula do jeito que o “Afonsão” fala. É raso, pondo a 8‑10 cm, e o resto
você faz do seu jeito. Aí nasce, e a diferença é incrível de uma planta para a outra. Mas, essa
dificuldade é ainda imensa.
Denizart Bolonhezi – Apta/Ribeirão Preto
O Palhares apresentou ontem aquele sistema de correntão e durante o café eu perguntei
quanto custava aquele correntão. É em torno de R$25.000,00 a R$30.000,00, 80 metros daquele equipamento. Quer dizer, é uma prática simples, só é questão de custo de semeadora.
As semeadoras que a gente tem visto aqui em São Paulo foram desenhadas para uma
condição de palha de pouca densidade. Para viabilizar a semeadura em palha de cana, que é
uma situação sui generis, o produtor é que tem que fazer os ajustes, porque as empresas não
172
estão dando suporte de pós-venda. Por mais que se consiga regular, talvez tenha que ter design
de máquina mais ajustado para essa condição de grande volume de palha.
O Afonso pode me ajudar nessa questão. Você regula a pressão para afundar mais e o que
acontece? Se tiver pouca resistência de palha, a semente fica muito funda, vai emergir com falha
na linha. Se colocar pouca pressão, o adubo fica muito próximo da semente e você tem queima
da semente por efeito salino, ou fica “envelopada”.
Quem trabalha com mecanização tem que sugerir para as empresas se preocuparem mais.
Elas estão meio que deitadas em berço esplêndido e o produtor é que tem que correr atrás dos
ajustes. E custa muito! Uma máquina semeadora de sete linhas, em média, para fazer em condição de palha, é em torno de 80 mil reais para cima. Então, eu acho que para médio e pequeno
produtor está fora.
Carlos A. Costa Crusciol ����������������
– UNESP/Botucatu
Queria perguntar para o Afonso. Qual o respaldo que você tem das empresas nesses
ensaios e qual a receptividade delas com relação aos seus resultados? Porque dá a entender isso
que o Denizart falou. Cada um está para um lado. Não existe retorno para lado nenhum.
Afonso Peche Filho – IAC
Vou responder à primeira pergunta, depois eu respondo a do Denizart. Eu vejo assim essa
questão das empresas, como eu brinquei com vocês. Tanto o setor de fertilidade, quanto o de
máquinas conjugam o verbo “tuchar”. Isso é demais. Ele não consegue preparar o agricultor
para usar a tecnologia adequadamente. Nós temos máquinas como aquela que o Orlando mostrou. Podemos fazer grandes áreas de plantio direto com uma máquina extremamente simples.
Não precisa ter máquina de última geração para fazer áreas boas. Precisa, sim, entender de
utilizar adequadamente as máquinas.
Da mesma forma é a questão do solo. Hoje, não acredito que exista terra ruim, existe terra
mal manejada. São pontos importantes que a gente precisa trabalhar e quando a gente vai debater com o pessoal de máquinas e com o pessoal de fertilizantes, principalmente. O de sementes
evoluiu um pouco no meu conceito. Ele não quer saber se existe fadiga. Mas, a questão é crucial.
Alguém aqui fez teste de mola? Sabe o que é teste de mola? Fadiga de mola? Ninguém sabe! O
agricultor também não. Mas uma semeadora é um conjunto de molas. Fadiga de rolamento? São
pontos importantes que não são colocados para o agricultor.
Depois de uma lavoura altamente produtiva de milho e de soja, se produz também uma
máquina com “X horas” de uso. Então, um hectare de milho plantado produz 150 sacas de
milho, mas produz uma máquina com uma hora de uso. Não é?
O setor está meio folgado. Esse é o problema. Não é que eu seja contra o setor. Não!
Nós trabalhamos juntos, com uma dificuldade muito grande nessas questões: discutir com as
empresas, as revendas, com os fornecedores de máquinas. Só que no Brasil, hoje, a questão
financeira dá poder. Eu tenho dinheiro e ele compra. Você pode ver, o setor de máquinas vive de
modernização da frota, de máquina nova. Uma revenda só vive de máquina nova. Ela não vive
de soluções para o agricultor, de peças e serviços. Ela só quer saber de vender máquina nova.
Mas a realidade não é essa. São pontos importantes.
173
Com relação ao correntão, acho que isso é uma tecnologia adaptada no Centro-Oeste.
Estive lá com o Márcio Scalea e fui ver essas questões. Realmente, é interessante pegar uma
cultura como o milheto, que é espetacular e tratar com correntão é amenizar a dor do parto
de fazer uma semeadura melhor do que faz. Acho que falta tecnologia para a gente semear
sementes extremamente miúdas, como, por exemplo, as do gergelim. O caso que para nós tem
problemas, como o milheto, que é pequenininho. Acho que não é a solução para São Paulo. É
muito melhor a gente trabalhar com semeadoras múltiplas. Eu sei que é caro, mas é uma solução
tecnológica para quem tem poder aquisitivo para adquiri-las. Para quem não tem, podemos
fazer alguns sistemas de arraste, é até melhor.
Não é só pensar na máquina para semear bem, porque podemos ter alguma estratégia de
manejo, na qual a semente pode ser coberta pelas próprias folhas, como é o caso da soja. Como
é o de palhada. Associar isso com colheita.
Antonio Luiz Fancelli – Esalq/USP
A primeira coisa que eu queria lembrar é aquilo que o Denardin levantou aqui, que é fundamental em termos da matéria orgânica em decomposição contínua, promovendo a agregação
de solo e evitando essa desagregação e dispersão. Isso é extremamente importante, principalmente quando aliado à rotação de culturas. Nós podemos acelerar demasiadamente a taxa de
decomposição quando não fazemos rotação de culturas. E a gente vê muito isso no Cerrado,
principalmente em áreas de soja em que não se faz rotação, em que a taxa de decomposição
é muito acentuada. Por quê? Porque nós selecionamos microrganismos especializados em decompor palha de soja. Então, quando não se faz uma rotação de culturas, a coisa fica bastante
séria.
Outra coisa que aqui foi sempre lembrada em termos de plantio direto em São Paulo, é
que a gente não consegue verificar aquele plantio direto bonito, didático, como o do Paraná. Em
termos da palhada estar o tempo todo no solo, como no Rio Grande do Sul. Na minha opinião,
não há razão para se ter isso. O que nós precisamos é, continuamente, promover a deposição
de resíduos no solo, porque as estratégias que a natureza utiliza para manter um ambiente e um
sistema produtivo, são cobertura morta e cobertura viva. Quando o solo estivesse na fase inicial
de desenvolvimento das plantas, aí nós deveríamos ter a cobertura morta. Mas depois que a
planta protegeu o solo, muda completamente. Aí nós vamos ter uma condição de microclima.
Não vejo muita preocupação de ficar estressando-se com coisas do tipo: tem que ter cobertura
morta permanente. Em algumas situações isso pode até atrapalhar, porque vai dificultar o trabalho do Afonso, com relação à máquina para ficar cortando aquela palhada o tempo todo.
Outro fato também que o Ciro levantou, com relação à colocação do adubo próximo das
sementes, já está bastante batido. Uma alternativa para amenizar esse efeito, como o Neto levantou, é exatamente a adubação de sistemas. É preciso começar a pôr uma quantidade menor
de nutrientes para aquela cultura específica e trabalhar com adubação de sistemas de maneira
geral. Acho que aumenta a eficiência de utilização do nutriente, além de amenizar todos esse
problemas do efeito salino, de sulco de semeadura.
Com relação a esse treinamento da extensão rural, acho que isso é fundamental.
Principalmente aqui no Estado de São Paulo, onde a extensão rural deixa muito a desejar.
Inclusive vou transcrever uma conversa que ouvi em uma das Casas de Agricultura do Estado de
São Paulo. Eu estava lá para ver uma coisa em relação a gado, vacinação, uma outra coisa par-
174
ticular. Conversando com o veterinário, chegou um produtor para conversar com o engenheiro
agrônomo da Casa da Agricultura, dizendo-lhe: “Estou querendo começar o plantio direto. Você
pode me dar uma mão?”. O agrônomo falou: “não entra nessa que é bucha”.
Quer dizer, aí fica complicado. Eu tenho certeza que ele sabe que aquilo não é uma coisa
ruim, mas ele não conhece. E quando a gente não conhece uma coisa, a primeira coisa que tem
que ter é distância dela.
Isabella Clerici De Maria – IAC
Convidamos para estar aqui, hoje, só que não deu certo a agenda, o pessoal que trabalha
no programa de microbacias da CATI, que tem incentivado e feito bastante treinamento de
agrônomos da CATI na questão do plantio direto. Pelo menos, o programa de microbacias está
prevendo uma série de treinamentos e o pessoal está fazendo esses treinamentos.
José Eloir Denardin – Embrapa Trigo
Eu falei ontem que o Brasil Central já passou a perna no Sul (clima temperado do Brasil).
É com esse processo que eu vou chamar de “colher/semear”. No plantio direto já em evolução
de qualidade podemos pensar em não mais ter entressafras. A idéia é, sempre que possível, já
ter semeado antes de colher. Aí você não teria essa interrupção no processo de mineralização
e adição de carbono ao solo. Temos que pensar nisso de forma bastante intensa e aí, vem a
genética nos ajudar nesse processo: criar plantas que permitam você mudar épocas de plantio,
para poder ter esse tipo de ação.
O verbo “tuchar”, para mim, é uma conseqüência da falta de demanda ou da falta de
visão. Quer dizer, se não há cobrança, ninguém vai melhorar nada. O Peche tem uma demanda.
Ele sabe, é claro, ele mede e avalia esse tipo de coisa. Mas, o agricultor?
Para o professor Graziano, minha pergunta é a seguinte: tenho uma convicção de um
aspecto de roda larga e roda estreita, mas a gente não faz esse tipo de pesquisa, porque não tem
nem equipamento para fazer esse tipo de avaliação. Em Latossolos, o impacto que uma roda
larga provoca em termos de mudança estrutural no solo, e veja que é um pequeno peso. Mas
uma roda dessas pode provocar um dano que já prejudica a cultura, está certo?
Será que realmente temos que trabalhar com rodas largas, ou com roda muito estreita, que
provoca um grande dano, mas apenas num determinado ponto do solo? Você imagina aquelas
rodas somando ali quando você passa. É quase 80-70% da área que é passada com as rodas
por cima. Imagine se tivéssemos rodas mais estreitas, provocando um grande dano, mas recuperável, porque é muito estreito. Essa é uma questão que coloco, porque já vi essa discussão e a
deixo no ar. Talvez valha até um tema de pesquisa. Qual é o maior dano que poderia ocorrer?
Paulo Sérgio Graziano Magalhães – Feagri/UNICAMP
Bom, essa é uma discussão longa e que poderia se estender por bastante tempo aqui.
Acho que o que a gente precisa fazer é mudar um pouco os paradigmas. Por que é desse jeito há
40-50 anos, 100 anos? Talvez, se a gente tivesse máquinas que compactassem menos, ou que
compactassem mais em apenas um lugar e passasse menos vezes sobre aquelas linhas, o sistema
fosse mais eficiente. Aquilo que você mesmo falou. Eu compacto mais num lugarzinho, mas é
175
um lugar específico. À medida que compacto mais, melhoro outro aspecto da máquina, que é a
eficiência de tração, o rendimento da máquina. Mas prejudico pouca porcentagem da área total
com uma máquina mais pesada. Nós precisamos mudar esse sistema.
Quando falei agora que há 50 anos as máquinas são as mesmas, o Orlando mostrou
algumas fotografias de alguma evolução. Mas olhando aquelas fotos, é a mesma máquina que
foi mudando. Possui mais engrenagem, mas é o mesmo sistema. Não há evolução, não há tecnologia aplicada nas nossas máquinas agrícolas e a gente precisa disso. Acho que é preciso quebrar
paradigmas e inventar soluções diferentes. E tecnologia passa pela pesquisa, para conseguir
chegar nesse lugar.
Ricardo Ralisch – UEL
Eu gostaria de abordar alguns temas que foram colocados. Começando pelo sulcador
e adubador que o Ciro tocou no assunto. Na minha visão, as semeadoras, de forma geral,
evoluíram recentemente em alguns aspectos e muito disso aconteceu por mobilização e por
motivação dos produtores. Não foi por motivação da indústria. O Denardin tocou nisso agora.
Há um trabalho muito interessante que o IAPAR conduziu no Paraná, do qual participei, que foi
fazer “Dias de Campo” para orientar os produtores sobre como escolher uma máquina. Aí os
fabricantes começaram a se sensibilizar para alguns aspectos e evoluíram algumas coisas. Por
exemplo, toda essa discussão de sulcador. O que está acontecendo aí dentro é uma preocupação que tem sido muito freqüente, a da demanda de potência e mobilização de solo. Só que da
deposição de adubo ninguém fala nada. Se nós olharmos isso, a maioria das máquinas nem
deposita no lugar. Elas jogam no sulco inteiro, no perfil todo do sulco e há muito pouca gente
preocupando-se com isso, com mecanismos de deposição específica. Onde é que o sulcador vai
aplicar o adubo propriamente dito? Isso é um aspecto interessante.
Eu queria acrescentar também uma sugestão de linhas de pesquisa, que acabei não abordando na apresentação, por esquecimento. Dentro da área que apresentei, que me foi solicitada,
um aspecto interessante para o Estado do Paraná, seria alguma coisa com mapas de risco de
compactação, desse efeito do sistema de produção. É importante um reconhecimento do solo,
mas não só pedológico, mas do comportamento e da reação do solo. Como é que ele reage às
diferentes circunstâncias? Justamente para poder prever e auxiliar na tomada de decisão dos
efeitos que serão causados. Como controlar os efeitos causados por determinadas operações
realizadas em condições pouco adequadas?
Rudimar Molin – Fundação ABC
Só quero registrar aqui uma manifestação de preocupação. O Paulo Magalhães tocou nesse assunto. Mais linhas foram incluídas nas semeadoras e as plataformas aumentaram de largura
nos últimos anos. Isso, naqueles solos de topografia ondulada que trabalhamos, principalmente,
temos notado que o produtor está adequando o solo à máquina e não a máquina ao tipo de
solo, ao tipo de necessidade. Em boa parte, ele simplesmente tirou terraço para mecanizar e
isso trouxe um prejuízo. Coisa que tinha sido conquistada em controle de erosão, em parte,
perdeu-se essa conquista. Só para deixar registrada essa preocupação dentro da questão de
mecanização principalmente.
176
Afonso Peche Filho – IAC
As revendas, principalmente de fertilizantes, máquinas, venenos e outras, têm o poder
na mão, o da assistência técnica. Isso é uma coisa importante. No momento, o que existe hoje
não dá para atender à demanda do plantio direto. Não é o técnico nosso que é ruim, ele é mal
preparado e há a dificuldade do Estado, com esse modelo que nós temos, para poder fazer uma
extensão adequada. Acho que a gente tem que discutir essas questões. Mas é muito importante
que as revendas assumam seu papel, com a assistência técnica. Isso é outro ponto, porque hoje o
agricultor é visto como alvo. Esse é o grande problema. Muitas vezes é o comprometimento dele
com os custos, a imobilização de capital é muito alta e não justifica a tecnologia que ele paga.
São pontos importantes que a gente tem que discutir. Amanhã, temos que ter um modelo de
revendas diferente do que é hoje. Se hoje a gente enxerga o agricultor como alvo para “tuchar”
uma máquina, amanhã, necessariamente, tem que enxergá-lo como um parceiro, o agricultor
como um gestor de negócios agrícolas, do qual a revenda faz parte. É um negócio lucrativo
porque uma parte daquele dinheiro, necessariamente, vai para comprar veneno, semente e
máquina. Há que se fazer algo mais nisso. Eu volto naquela história. Nós não podemos fazer
apologia à tecnologia que o revendedor está vendendo, mas apologia às soluções. A revenda tem
que ser boa. Isso é muito importante, porque a tecnologia que ele vende tem muito retorno se o
agricultor usar adequadamente, mas o problema é que não usa. Esses pontos são importantes.
Neste fórum a gente pôde discutir algumas diretrizes de fomento, pôde evoluir e buscar algum
caminho no entorno de revendas e também das questões das microbacias e das grandes bacias
do Estado de São Paulo. Os modelos de sistema de produção podem estar muito ajustados
àqueles grandes ambientes, como o Denardin colocou. Fechar com a questão do solo produtivo,
que é fundamental a gente trabalhar. Ficou claro aqui, que o agricultor produz solo produtivo.
Não podemos fechá-lo como um agricultor que produz soja, milho, ou pasto necessariamente.
Temos que trabalhar, porque hoje isso pode ser romântico e idealista, mas amanhã não vai ser!
São Paulo está mostrando isso pelo uso intenso dos solos. Ande na Rodovia Castelo Branco
para ver a dificuldade que tem de solos degradados. Essas questões vão chegar no Cerrado e
em outros ambientes.
Fernando Penteado Cardoso – Fundação AGRISUS
Ouvi uma frase do Denardin que pode ter um significado capital no desenvolvimento
do plantio direto, principalmente nos climas de inverno seco. Nos climas de inverno úmido as
soluções são mais simples.
Disse o Denardin: “semear antes de colher”. Peço a todos os pesquisadores que plantem
essa frase. Ela se completa com exposições que tivemos aqui do “Sistema Santa Fé”, de plantar
a soja junto com o milho.
Tenho um testemunho particular, de uma conversa de plantar a braquiária junto com a
soja, dentro desse princípio que o Denardin fixou. Eu acho que deve merecer a atenção de todos
nós: “semear antes de colher”. Gravem bem isso e façam pesquisa nesse sentido. Eu ofereço a
Fundação para poder financiar pesquisas de “semear antes de colher”.
177
José Eloir Denardin – Embrapa Trigo
Associando o que o Dr. Cardoso comentou com o negócio de mecanização. Peche e
Magalhães, vejam bem que a agricultura de semear antes de colher sempre existiu. Foi a mecanização que retirou isso do processo. Os consórcios, os cultivos múltiplos que vêm na história do
homem sempre existiram. O problema é que com a mecanização nós simplificamos e tiramos a
complexidade do sistema. É somente esse fato. A mecanização é uma das responsáveis por isso,
principalmente a das colheitas. Não das semeaduras, mas das colheitas.
Ricardo Ralisch – UEL
Dando ênfase também ao que o Molin falou: adaptar a máquina ao sistema e não o sistema à máquina. Esse advento da retirada das curvas de nível é simbólico, mas é um negócio
grave que está acontecendo no Paraná e no Rio Grande do Sul. Precisamos interromper esse
processo.
Opinião dos participantes
• Compactação do solo (gênese, danos, prevenção e remediação); condições de superfície (palha, umidade, pedregosidade, textura, declividade); qualidade de equipamentos (corte
de palha, rompimento do solo, deposição de fertilizante e de semente, cobertura de semente);
qualidade de material orgânico e taxa de decomposição (mineralização) versus estruturação ou
reestruturação do solo; qualidade de colhedora (distribuição de palha); amostragem de solo,
considerando camadas ou zonas com morfologia semelhante ou homogênea; qualidade de
pulverizadores (herbicidas fundamentalmente).
• Estimular a organização dos produtores em associações para concentrar as demandas;
capacitar produtores e técnicos ao emprego adequado dos equipamentos agrícolas; desenvolver
estudos para compreender as reações dos diversos solos à mecanização, mapa de riscos; difundir os conceitos de compactação, desagregação, sistemas de produção adequados e monitorar
tais aspectos da região.
• Limitações: falta da visão de sistema na recomendação e adoção de sistemas de produção; pouca difusão no uso adequado da tecnologia de mecanização; setor privado (revendas)
não tem cumprido sua missão na assistência técnica.
• Necessidades: fomentar pesquisas participativas; fomentar formação de rede de agricultores experimentadores; fomentar pesquisa nas áreas de eficiência e confiabilidade.
• As frações da MOS contribuem realmente no incremento da agregação; a utilização de
mulchings verticais pode também ser aplicável no Estado de São Paulo; interação maior entre a
área de mecanização e a segregação física e química de fertilizantes e corretivos.
• Física: estudo do carbono por tamanho de agregado separado em peneiras e também
interagregados, verificando a contribuição do carbono lábil para a estrutura. Verificar relações
de agregação entre a fase mais recalcitrante (C-HU) e a agregação.
• Fazer uso da biologia do solo para solucionar problemas de compactação, utilizando
práticas de rotação de culturas. Necessidade de olhar o solo como um ser vivo, e não apenas
como um substrato.
• Dar maior ênfase à mecanização no sistema PD, pois pode-se observar que esse item é
178
fundamental. Em relação à qualidade física, estudar agregação de partículas do solo no SPD.
• Qualidade das máquinas; dinâmica de “compactação de solo” e racionalização dos
equipamentos e do rendimento das máquinas.
• Redimensionamento de terraços em SPD e difusão. Capacitação de operadores.
• Qualidade do plantio e das semeadoras; disposição do adubo no plantio; manejo do
sistema PD para evitar a compactação e/ou minimizar seus efeitos.
• Avaliação e homologação de máquinas para PD; métodos ou práticas de prevenção
de compactação de solo; estudos de diferentes tipos de raízes na contribuição de fertilidade,
distribuição, reciclagem de nutrientes e na estabilidade de agregados.
• O conceito de compactação do solo precisa ser mais bem definido, uma vez que esse
argumento tem sido utilizado para a descontinuidade do SPD. A maior resistência do solo no
SPD pode ser recuperada através da rotação sem prejuízo do sistema.
• Introdução de tecnologia nas máquinas e implementos agrícolas de modo a atender às
necessidades das culturas, quebra de paradigmas. Gerenciamento melhor da área.
• Faltam informações sobre dinâmica de água e sua absorção pelas plantas.
• Influência da “compactação” do solo devida ao manejo adotado pelo produtor e, se
necessário, formas de manejar o solo sem revolvê-lo.
• Influência do cálcio na estruturação do solo; tecnologia de aplicação de calcário e fertilizantes. Recomenda-se a realização de estudos de longo prazo em SPD.
• Matéria orgânica ativa e propriedades físicas; espécies de plantas eficientes para melhorar as propriedades físicas do solo; desenvolvimento (aprimoramento de equipamentos para
semeadura/adubação em sistemas com palha); qualidade das operações mecanizadas, desenvolvimento de indicadores.
• Eficiência de implementos. Geral: gostaria de sugerir à Agrisus a formação a partir
deste workshop, de um grupo de estudos em SPD, pois fica evidente que é preciso conhecer o
sistema como um todo. Nada caminha sozinho, palha, ervas daninhas, pragas, química e fertilidade, física e mecanização são áreas totalmente dependentes. Precisamos estudar o sistema em
mutidisciplinaridade.
• Adequação de plantadeiras para o plantio direto; adequação do terreno para início
do plantio direto.
• Estudo de plantas melhoradoras/estruturadoras do solo e o reflexo no intervalo
hídrico ótimo.
• Principalmente trabalhos na área de mecanização e testes de máquinas e implementos;
pesquisas, soluções para diferentes condições encontradas em campo e repassá-las ao agricultor.
• Amostragem para propriedades físicas sem possibilidade de amostras compostas: precisa ser mais bem estudada. Por que não uma plantadeira que use “agulhas” para introduzir
sementes e adubos?
• Acredito que o desenvolvimento de indicadores de qualidade física do solo será tão
importante quanto saber que são gastas 10 t de terra para proteger 1 t de soja; indicadores que
não fiquem onerosos ainda mais para os produtores.
• Máquinas para aplicação de fertilizantes em área com muita palha. Matéria orgânica e
estruturação do solo.
• Pesquisar coberturas que sejam resistentes à seca e com sistema radicular volumoso e
profundo.
• Armazenamento de água no solo; qualidade das máquinas; agregação/compactação/
raízes/palha; o papel da matéria orgânica.
179
• Efeito das raízes sobre camada adensada. Minimizar a perturbação do solo pelo
facão.
• As máquinas, muitas vezes, não estão adaptadas às condições locais. Estão sendo resolvidas suas limitações, alterando o manejo de culturas e não as máquinas.
• Indicadores de compactação no sistema plantio direto; contribuição das raízes para
reestruturação do solo.
• Também nesse quesito, os conhecimentos são relativamente abundantes. No caso dos
plantios diretos com deficiência de cobertura morta ou para a produção de silagem, existe a
necessidade de pesquisa sobre a descompactação mecânica do posto com equipamentos diferenciados. Particularmente, para o Estado de São Paulo, com características diferenciadas na
cultura dos produtos e sistemas fundiários. É fundamental rever o modelo de transferência da
tecnologia. Os conhecimentos existem.
• Implementar estudos de distribuição radicular (raízes finas), sobretudo de plantas de
cobertura em condições ambiente, em solos de texturas diferentes e em épocas distintas de semeadura de plantas de cobertura, em condições agroecológicas distintas; distribuição espacial
da fitomassa (verde ou seca); estudos de agregação e infiltração de água; máquinas com eficiência no corte ou tombamento de plantas de cobertura (verde ou seca) em condições distintas.
•Identificação de compartimentos de carbono do solo que podem ser indicadores de
benefícios físicos e químicos do solo no SPD. Estudos envolvendo parâmetros morfológicos de
raiz, bem como fisiológicos (exsudação) e relação com a estruturação do solo.
• Em relação à qualidade física, a necessidade de quantificar ou avaliar a importância
das gramíneas na descompactação do solo.
• Fomentar rede de validação de rotações culturais nos diversos agro-ecossistemas brasileiros. Baseado nessas validações que são obrigatoriamente multidisciplinares, todos os gargalos para desenvolvimento do SPD podem ser estudados e comparados, gerando um banco
de dados que pode ser gerenciado pela Fundação Agrisus e seus parceiros. Em nossa opinião,
o fundamental para o desenvolvimento de vários sistemas de plantio direto, de acordo com
cada região, é a integração e relação dos vários tipos de manejo de palhada que já existem, de
forma a validar a melhor estratégia que atenda às expectativas dos produtores rurais. Entendo
que o conhecimento para coberturas geradoras do aspecto chave para o sistema que é a palha,
já existe. Apenas precisamos consolidar um sistema de rotação de culturas que proporcione o
incremento gradual e a manutenção da qualidade da matéria orgânica dos solos. O mercado
tem sido o maior vilão, fazendo com que o produtor, com visão de curto prazo, não valorize a
rotação de culturas. Plantio direto tornou-se uma excelente ferramenta para, com poucos recursos materiais e humanos, desenvolver o plantio da soja. E ante o monocultivo dessa oleaginosa
em todas as regiões produtoras, as rotações de culturas já conhecidas nas diversas instituições
que se dedicaram a testá-las nos últimos anos, não tiveram a oportunidade de agregar valor
aos solos pela mentalidade imediatista. Entendo que as demandas pragmáticas de pesquisa vão
acontecer naturalmente na medida em que nos propusermos a difundir os resultados dessa rede
de informações.
• Estudos que aperfeiçoem o disco de corte para efetuar-se uma fenda de corte e não
sulcamento. Em geral, os estudos deveriam ser integrados em áreas pilotos, que acompanhem
longo tempo estudos, que possam ser correlacionados entre as diversas disciplinas. É um desafio que teremos que enfrentar, mais cedo ou mais tarde.
180
Mesa Redonda V
Rumos da pesquisa em Sistema de
Plantio Direto
Moderador
Fernando Penteado Cardoso
Fundação Agrisus
Participantes
Denizart Bolonhezi
APTA – Ribeirão Preto (SP)
Elaine Bahia Wutke
Instituto Agronômico – IAC
Bernardo van Raij
Instituto Agronômico – IAC
Isabella Clerici De Maria
Instituto Agronômico – IAC
181
Fernando Penteado Cardoso (Fundação AGRISUS):
Esta fase final de nosso workshop destina-se a ouvir, dos moderadores, comentários sobre
os temas tratados nas sessões que tiveram a oportunidade de conduzir. Ao final, haverá discussão aberta daqueles que quiserem, não só sobre algum assunto que foi omitido, mas sobre a
eficiência, as finalidades e o resultado do workshop, além de sugestões a respeito de futuros.
O primeiro tema foi a mesa redonda sobre alternativas para a formação de palha e quem
a coordenou foi o Denizart Bolonhezi.
Denizart Bolonhezi – Apta/Ribeirão Preto
Eu vou dividir os 15 minutos em três partes: na primeira, uma tentativa de sintetizar e não
ficar repetindo o já comentado; na segunda apresentarei uma análise pessoal como pesquisador,
o que eu vejo quanto ao tema e, na terceira, listarei algumas propostas que vislumbrei a partir
da discussão e que podem ser discutidas e submetidas à plenária.
Síntese das apresentações: Acho que ninguém discorda de que a palha é imprescindível. Vou lembrar o tema do Congresso de Solos que os colegas de Botucatu coordenaram em
Ribeirão Preto, em 2001: “O alicerce do sistema de produção”. A palha é o alicerce do sistema
plantio direto. Essa é uma condição que todos os apresentadores mencionaram.
Há muitas opções de espécies, muitas viáveis e muitos modismos. Isso foi apresentado
também com muita propriedade pelo Fancelli e destacado por outros colegas.
Ouvi de muitos que produzir palha em São Paulo é fácil e o nosso foco principal aqui é o
Estado de São Paulo, num primeiro momento, não é? Eu não sei se é fácil. Depois, na segunda
etapa, vou apresentar o meu argumento do porquê não é fácil produzir palha.
Misturar espécies no sentido de coquetel foi mencionado também. Mais adiante, acho que
essa é uma das propostas a serem estudadas.
O sorgo foi apresentado com mais aspectos negativos, relativos à alelopatia, do que a
viabilidade da sua rebrota. Acho que é uma vantagem que ficou pouco destacada.
Durabilidade e quantidade de palha: Esses são aspectos importantes, não só a quantidade,
mas a sua recalcitrância. Quanto tempo demorará para a palha decompor-se? Qual é sua resistência? Está diretamente relacionada com a relação C/N?
A gente sempre escutou falar do uso de braquiárias. Para mim, foi um aprendizado ter a
oportunidade de aprender melhor como é que funciona. Foi muito salutar e temos que avaliar
isso para São Paulo.
O emprego do Tifton foi uma das observações feitas pelo Ricardo Merola. É uma tentativa
de uso de forrageira permanente que vai conviver com a cultura de cereais.
O uso de resíduo de planta daninha foi apresentado também por um dos colegas. Quer
dizer, aproveitar a vegetação espontânea da área como produtora de resíduo, de palhada, de
cobertura de solo.
O custo de adoção de plantas de cobertura foi muito bem abordado pelo colega Molin,
que mostrou quanto custa um hectare de aveia. Isso, às vezes, pode ser considerado como um
entrave na adoção em muitas regiões em que se quer viabilizar o plantio direto.
182
Falou-se de aspectos econômicos em algumas apresentações, e até com destaque, que não
é essa a missão do experimentador num primeiro momento. Uma análise de custo não pode ser
derivada de um experimento de parcela. Temos que ter toda uma ciência por trás, e essa é uma
atribuição de outros colegas. Nós não devemos perder o foco da questão. Devemos levar em
conta, mas não extrapolar a partir dos experimentos.
Falta de extensão rural e, conseqüentemente, falta convencimento para o produtor de São
Paulo. A gente está mais na linha de frente, em contato com algumas regiões produtoras. Veja!
Guaíra é exemplo da falta de convencimento. Fez-se um trabalho antigo lá. Hoje, o produtor
que tinha construído o plantio direto, por não visualizar aquela palhada que vê nas revistas do
tema e nos eventos, acha que não está fazendo plantio direto. Aí, acha melhor meter grade. Falta
convencimento! Falta extensão rural!
Plantio direto no sistema de produção da cana foi um dos temas também abordados e que
eu vou tentar depois dar uma contribuição nesse sentido.
Nesta segunda etapa, vou dar uma opinião, tentar elucidar um pouco esses temas que
foram apresentados, dizendo um pouco do que penso.
Há um trabalho da década de 80, publicado na revista “Soil and Tillage Research” que listou 14 itens importantes para estudar no plantio direto. Deve ter sido derivado de um workshop.
Não me lembro da íntegra do trabalho. O primeiro item, uma prioridade, é manejo de resíduo.
Vamos interpretar isso como palhada, manejo de palha. Esse é um aspecto importante também
fora do País, em regiões onde a manutenção de resíduo na superfície é muito mais fácil, em
vista do clima temperado. E depois, outros: rotação de culturas, máquinas... Muitos deles foram
abordados dentro deste workshop, para mostrar que já há discussões na literatura mencionando
essa importância.
Pouco comentado com relação aos solos paulistas. Não vamos conseguir chegar a nenhuma conclusão, nem quanto à alternativa mais viável, se não considerarmos que existe uma
variabilidade de solo. Grosso modo, se traçarmos uma linha imaginária no mapa do Estado
de São Paulo, teremos grande concentração dos Latossolos na região Nordeste do Estado e, a
partir de uma linha divisória passando por Monte Alto em diante, uma concentração grande de
material oriundo do arenito. Mais para o Oeste do Estado tem-se uma grande concentração de
solos suscetíveis à erosão, com B textural, cujo manejo, inclusive para a produção de palha, deve
ser diferenciado. Até alguns resultados que eu vi e que eu escutei aqui nessa manhã, são muito
pontuais. Tem-se que levar em consideração que esse resultado foi obtido em um Latossolo
Vermelho eutroférrico ou distroférrico; outro foi em Areias Quartzozas; outro ainda foi num solo
que tem B textural. Quer dizer, a gente não pode desconsiderar a unidade de classificação do
solo para poder interpretar os resultados.
Relacionemos agora o que foi falado com o clima. Por que eu acho que é difícil fazer palha
no Estado de São Paulo? A resposta pode ser vista no balanço hídrico de Ribeirão Preto, de
40 anos da nossa Estação Experimental. Há uma grande incidência de períodos de deficiência
hídrica. Lá nós temos um outono-inverno muito seco, com raras exceções, como neste ano,
quando choveu em julho. A deficiência hídrica em números chega a 32 mm em setembro.
Então, fica difícil ter cultura de inverno e sem ser irrigada. Mas, mesmo assim, em Guaíra, com
deficiência hídrica em janeiro. O Heitor mencionou, hoje, que num daqueles resultados chegou a
ter deficiência hídrica em janeiro. Então, não é fácil! É muito fácil para algumas condições como
183
em área irrigada, mas a grande maioria dos produtores é de áreas de sequeiro, e há dificuldade
de produzir, justamente, por essa razão climática. Não existe água no inverno.
As plantas de cobertura foram também muito mencionadas, às vezes, usando a terminologia de adubação verde. Hoje, no conceito de plantio direto, “planta de cobertura” é bem diferente do conceito de adubação verde. Preconizava-se a incorporação para obter os resultados
benéficos do adubo verde.
A planta de cobertura vai ser mantida em superfície com critérios importantes para a
escolha, os quais listo aqui. Nós não vamos ter uma espécie com todos esses benefícios: alta
relação C/N, que fixa nitrogênio, boa durabilidade, resistência a nematóide. Para cada região,
vamos ter que, lembrando o Fancelli (não vamos ter receita de bolo), ajustar a espécie de planta
de cobertura mais interessante para aquele sistema.
Vou destacar algo que ocorre com semeadura mecanizada. Não adianta dizer ao agricultor
que ele vai ter que fazer a lanço e depois passar a grade. Estaremos começando errado. É preciso viabilizar a semeadura mecanizada dessas espécies, ou usar o subterfúgio dos correntões e
outras técnicas, que não seriam muito interessantes para São Paulo.
Vou entrar um pouquinho na parte de fitossanidade também. E que é bem o seguinte: o
plantio direto é solução? Só se tiver rotação.
Temos como certo que a monocultura é um ambiente pouco complexo. O que nós vamos
ter é número grande de espécies e pragas e potencial de inóculo alto. Só vamos conseguir
viabilidade ao longo do tempo numa área em plantio direto, se houver diversidade no sistema.
Aí a rotação de culturas stricto sensu tem que ser aplicada.
Eu vou citar um exemplo para a gente entender como é difícil fazer palha. Em Ribeirão
Preto, num ensaio de um orientado do Heitor, semeamos a aveia-preta em 1999, fizemos quatro
irrigações. Em abril, chegamos a produzir quase 6.000 kg de matéria seca. Rolamos a aveia com
rolo-faca e entramos semeando milho, que seria depois objeto de estudo de aplicação de N15.
Havia todo um projeto em cima disso. Quando semeamos o milho, em início de novembro, a
matéria seca, que era de 6 t, já estava com 4,5. Essa mesma matéria seca da aveia, na maturidade fisiológica do milho, tinha 2,6t. E nesse período, a relação C/N diminuiu de 56 para 22. A
produção de matéria seca do milho, com a adubação antecipada e cobertura do nitrogênio, e
a matéria seca do sistema radicular do milho. É mais para ilustrar que a aveia está descartada.
Não vamos importar modelos para condições onde não se adaptam. Não adianta, a aveia não
dá certo para região muito quente.
As outras opções: o sorgo. Comentou-se muito do sorgo como apresentando efeito alelopático. Existe o sorgo-de-guiné, com o qual o Crusciol teve um orientado que trabalhou bastante
e nós temos uma vivência prática com ele em campos de produção de semente básica. É um
material com semeadura em setembro/outubro (início das águas). No final (novembro/dezembro), manejou-se o volume de massa com roçadora de arrasto. Fundimos o motor de um trator
nesse dia, com aquele pólen do sorgo-de-guiné. Mas é muito interessante, uma palhada que vai
ter durabilidade grande na área.
Vejamos o caso do sorgo-granífero em março de 2000. Semeamos o sorgo com uma
quantidade de chuvas que não passou de 180 mm no período. Produção média de 14 híbridos
de sorgo, 3.000 kg por hectare. Qual é a produção de milho safrinha, em São Paulo, Fancelli?
Sua média passa de 1.200 kg por hectare. O sorgo tem potencial muito grande de ser usado no
184
nordeste do Estado de São Paulo e é realidade. É feito, mas poderia ser estimulado a se produzir
mais desse cereal.
Após a colheita do sorgo em outubro, o pasto começou a rebrotar. E ficamos com o pasto
seco em julho. Começou a chover: temos o pasto e o sorgo rebrotando. O milho não dá rebrota!
A quanto chegou essa rebrota? Mais de 4t de matéria seca por hectare, viabilizando a semeadura
do algodão em cima da palhada do sorgo. Em campo de sementes do IAC 23 mostramos que
o sorgo tem potencial, com o dobro de raízes finas em relação ao milho. Possui todos os mecanismos fisiológicos para conseguir tolerar o período de seca. É uma cultura que dá lucro na
safrinha e palha para o plantio direto. Acho que deve ser estimulado em São Paulo. Há alguns
outros materiais que avaliamos inclusive com resultados de análise estatística. Alguns materiais
passam de 10.000 kg por hectare, se somar a produção de resíduos deixada após a colheita mais
a rebrota. Dez toneladas por hectare de matéria seca do sorgo.
Em área de Ribeirão Preto, fizemos onze anos de plantio direto contínuo, dos quais, nos
últimos três, temos um ensaio de rotação. Entra uma proposta: o produtor que não conseguiu
semear o milho no início das águas, para não semeá-lo em dezembro, que é o pior desastre,
faz uma crotalária em novembro, e vai semear uma safrinha, favorecida em cima da crotalária
rolada. Vimos exemplo de palha de crotalária de três anos seguidos. Estamos tendo acúmulo da
crotalária, rolada em novembro do ano passado e, com o milho, um estande excelente.
É um dos tratamentos que a gente estava avaliando numa área que está há onze anos em
plantio direto.
Essas são, talvez, algumas opções, só com comentários gerais.
Ou vamos tentar fazer palha em condição de sequeiro, ou vamos nos deparar com as duas
fronteiras agrícolas de São Paulo: palha de cana-de-açúcar, que é uma realidade e pastagem no
Oeste do Estado.
Consórcio. Temos o caso de amendoim convivendo com a cana. Nos primeiros 60 dias,
aumenta 30% a matéria seca da cana. Por que não pensar em fazer Crotalaria juncea em consórcio, semeando a crotalária antes do plantio da cana?
Pastagem. Pasto em rebrota, para ver o quanto há numa área em que se faz renovação
de pasto com o convencional. No início do ano seguinte, só há guanxuma saindo na área e, no
direto, o banco de sementes superficiais dá 4 t de matéria seca no início das águas.
Falando um pouco de plantio direto em cima de cana, bom resultado com o amendoim
em cima de palhada de cana, vinte dias sem chuva, amendoim superficial. Lembro aqui o
problema de ajuste de semeadora. Aplicou-se o plantio convencional, porque o direto não tinha
nem saído. Noventa dias depois, temos o resíduo da palha da cana, no meio do amendoim em
pleno desenvolvimento. Dessa forma, pode ser arrancado mecanicamente com arrancador. Vai
revolver solo? Vai, um pouco. Mas eu acho que é um sistema conservacionista, que a gente tem
que investigar e aprender mais para estimular o produtor. Bom resultado com o amendoim no
meio da palhada da cana.
Demandas de pesquisas: Ensaios de longa duração são imprescindíveis. Comecei a fazer
minha lição de casa em Ribeirão Preto nos últimos dez anos. Acho que todas as Unidades de
Pesquisa da Secretaria deveriam ter essas áreas para ajudar no convencimento regional do
produtor. Ensaios permanentes, de longa duração. Rede paulista de avaliação de plantas de
cobertura, de avaliação de ensaios, com variação no tempo e no espaço, que seja mecanizado,
multidisciplinar e padronizado.
185
Sistemas radiculares. Avaliar a contribuição, quantificar e avaliar a distribuição no campo.
Ensaio em vasos ajuda muito, mas não traduz a realidade.
Avaliação de rebrota de sorgo. Acho que é uma demanda ajustar o modelo Santa Fé às
condições paulistas.
Suscetibilidade de espécies de plantas de cobertura aos herbicidas dessecantes. Eu falo isso
por experiência. Já tentamos oito litros de glifosato e não matamos feijão-de-porco. Crotalária,
depois que floresceu, não morre com glifosato. Vamos fazer um ensaio, uma coisa simples,
mas que ajude a viabilizar algumas dessas espécies. Manejo da fitomassa, usando herbicidas
naturais.
A gente está testando o óleo fúsel, que é um derivado da destilação/fabricação do álcool,
um subproduto da usina e que tem efeito herbicida não sistêmico, mas de contato.
Práticas mecânicas: Falou-se muito pouco sobre o rolo-faca, um instrumento imprescindível para viabilizar plantio direto.
Destruição de soqueira de cana com o uso de Crotalaria juncea. Não vai dar tempo para
falar, mas há gente tentando semear em alta densidade e matar a soqueira da cana abafando.
Isso pode viabilizar o plantio direto na cana orgânica.
Plantio direto de cana utilizando sulco raso para não ter aquele estrago que se vê com
sulco de 40-50 cm de largura, que revolve o solo. Há, hoje, equipamento que viabiliza sulco que
a gente nem vê onde plantou a cana. Precisa ser avaliado.
Consorciação da crotalária com a cana.
Semeadura da forrageira é difícil para fazer no plantio direto, em linha. Por isso, que muita
gente opta pelo correntão e suas grades da vida.
Nós estamos atrás de muitos papéis e trocando pouca informação. Esse evento ajuda a
tirar os papéis de cima da mesa para a gente conversar mais.
Havia uns slides da parte de cana que o colega, professor da Unicamp, fez alguns questionamentos. Tenho os argumentos do porquê é difícil não ter compactação em área de cana. Não
há jeito de não conviver com isso. Agora, pneu de alta flutuação é a saída?
Por outro lado, evitar fazer a colheita com solo úmido é impossível.
Muito obrigado.
Fernando Penteado Cardoso – Fundação AGRISUS
Minha impressão é que, além de se preocupar com a diferenciação do solo, devemos preocupar-nos com as diferenciações de clima no Estado de São Paulo, em cujo território ocorrem
sensíveis diferenças.
O segundo resumo dos trabalhos está a cargo da Elaine e refere-se às plantas daninhas e
sua correlação e relações com a palha.
Elaine Bahia Wutke – IAC
Vou fazer uma apresentação contínua e integrada, pois, na realidade, não só os nossos
apresentadores e debatedores, como todos aqueles que participaram da discussão, são autores
186
desse resumo que procurei fazer dos pontos apresentados, inserindo alguma coisa. Fui muita
citada por causa da braquiária, então coloco alguma coisa exatamente para fomentar essa discussão. Todos nós somos colaboradores do tema.
Alguns pontos que fui destacando com relação à fitossanidade e plantas daninhas daquilo
que foi comentado. Não vamos poder colocar todos os exemplos mostrados, mas vocês vão se
reconhecer em muitas das colocações.
A premissa de aumento da incidência de doenças ou não, que o Álvaro citou, tem ainda
muitas dúvidas. Acho que se conhece bem a parte de fitossanidade. Mas no sistema plantio direto é preciso estudar bem para poder definir aquelas culturas que podemos colocar no sistema de
produção em condições distintas. Tanto no tema solo e clima, como é que essas relações se dão
em termos de controle, quais doenças ou quais plantas daninhas que aquela cultura propicia, favorece ou não? Algumas condições no plantio direto, como maior umidade, para ver patógenos,
maior severidade de microrganismos etc. Algumas coisas que já são resultados efetivos, como é
que a gente pode traduzir na validação?
Alguns aspectos também da menor severidade de sucessões em plantio direto. Dos vários
exemplos citados, tanto pelo Álvaro, como por outros colegas, a gente vê diferenças entre espécies, inclusive de patógenos controlados ou não. A preocupação de haver uma repetibilidade
dessa tendência foi colocada pelo Fancelli. Às vezes, a gente recebe alguns trabalhos de resultados conclusivos sobre plantio direto de um ano, de dois anos. Imagina a gente lidando com fatores bióticos, um ou dois anos. É muito difícil ter uma conclusão com apenas uma observação.
Será que há repetibilidade? Conhecer melhor essas interações.
A severidade. Eu reforço a parte de clima, porque a gente avaliou durante oito anos
alguns estudos de epidemiologia, além de rendimento para feijão, e vimos que isso é um
fator muito grande. Às vezes, as coisas não se repetem todo o ano e a gente tem resultados
surpreendentes.
Cito apenas algumas condições arroladas pelos colegas. Em algumas condições particulares, onde há menos doença no sistema plantio direto, ou em condição de seca, de menor
precipitação, ou com menor distribuição espacial de estruturas. Explorar também a presença
de antagônicos para determinados fungos, para aproveitar essa informação em nosso sistema
de produção. A gente deve lembrar que, em cada região do Estado de São Paulo, vamos ter
condições de clima e chuvas bem diferenciadas.
Qual a condição boa ou ideal de palha? Embora se fale ainda naquele número mágico
de 7 t, há muita dúvida nos diversos sistemas. Vamos fixar em 7 t, ou temos que estudar
mais isso?
Discutiu-se bastante que, em condições de muita palha, tanto podemos ter dificuldade no
controle de infestantes, com mais prejuízos, quanto ter menor porcentagem de plantas infestantes. A semeadura da cultura subseqüente, como é que ela fica? Favorece ou é dificultada? O
controle efetivo de infestantes pelas diferentes coberturas ou por diferentes quantidades?
A manutenção da biodiversidade foi algo que apareceu em várias das opiniões. Isso é um
consenso em termos dessa manutenção no local e a sustentabilidade no plantio direto. Todavia,
com uma preocupação para que se mantenha a redução de custos, ocupação da área o ano
todo, com controle fitossanitário, visando à lucratividade. Porque, se eu sou produtora, o que
me interessa também é dinheiro no bolso. Eu não vou plantar só para apreciar a natureza,
preciso viver daquilo. Essa sustentabilidade tem que permitir que haja lucratividade. O aspecto
187
de preservação ambiental também é algo que tem que ser levado em consideração, para que a
gente não destrua os próprios recursos de produção.
Como estratégias, o Álvaro vai reconhecer-se aí porque é uma coisa interessante. Rotação
de Culturas em maiúsculo, porque é consenso para a manutenção de biodiversidade. E para que
isso ocorra, o Denizart já mencionou, é preciso a escolha acertada de espécies.
A gente tem muitas dúvidas e é para isso que estamos aqui reunidos, para definir coisas.
Milho, milheto, braquiária. Eu coloquei braquiária lá, porque foi citada. Não é que eu seja
inimiga de braquiária. Foi uma coisa para chamar a atenção. Para evitar que fique só um modelo proposto, ou algo como a única saída. Acho que a gente tem que explorar e aproveitar os
benefícios do Sistema Santa Fé, mas há muitas opções também a se estudar.
O Denizart mostrou aquela área do Estado de São Paulo, onde temos uma fronteira com
cana e uma com pastagem. Para não deixar o Afonso bravo, a gente tem que lembrar do
Cristalino, que é uma região produtora de grãos. Há a área de fruticultura e a de hortaliças.
Existem muitas outras situações de sistemas de produção. Por isso, estou fazendo essa ressalva
da braquiária, para trazer essa discussão também.
Uma coisa muito interessante é a época adequada de semeadura. No Estado de São
Paulo, em determinadas regiões, particularmente onde o Denizart está trabalhando, a gente
tem condições de deficiência hídrica e de temperatura que, às vezes, limitam a escolha de algumas espécies, no caso, de leguminosas de verão. Mas há várias outras coisas que a gente
pode adequar, entrando não só no aspecto de zoneamento, mas puxando também o pessoal
do melhoramento. Está faltando muita coisa de melhoramento de espécies de cobertura para
aproveitar o sistema radicular. Há coisa muito interessante para a gente estudar.
A questão de sementes sadias também foi lembrada. Não adianta a gente falar tudo no
papel, e começar, em termos de fitossanidade, usando sementes não sadias.
Aspectos de supressividade de patógenos, principalmente radiculares.
Os aspectos de alelopatia, não como alguma coisa muito específica, mas de um modo
genérico.
A eliminação de substâncias e a sobrevivência do patógeno, para controle também de
pragas e nematóides.
O manejo e o preparo do solo. Várias das situações que foram novamente mencionadas
em outras seções.
A resistência genética também acho que falta. Precisa de gente trabalhando em melhoramento. Muitas das leguminosas, adubos verdes, não têm problemas de pragas e doenças, porque não são culturas comercialmente estabelecidas. A partir do momento que a gente começa a
usá-las, começam a aparecer também os problemas.
O controle químico ou biológico como estratégias dentro dessa área de fitossanidade e
infestantes.
Como muitas coisas são linhas de pesquisa e são demandas, não separei. Fui colocando
na medida em que os assuntos se aproximavam.
Além de avaliar na rotação de culturas, não só a produtividade, mas sua economicidade.
Avaliar os efeitos positivos, principalmente no solo, que a gente não visualiza prontamente, como
supressividade, relação de antagonismo, explorando aspectos de coquetel. Conhecer melhor a
sobrevivência diferenciada nos coquetéis, porque há muita dificuldade de ter uma manutenção
188
de uma ou outra espécie em determinados coquetéis numa quantidade necessária. Nessa área,
os estudos vão ser distribuição e qualidade da palha e seu manejo.
Eu cobro muito do Afonso a adaptação de máquinas, principalmente no caso de leguminosas, no manejo da fitomassa verde. É algo que a gente tem muito que trabalhar.
Redução de doenças por espécies de inverno. Ainda falta muita informação, principalmente aqui em nossas condições.
Avaliar essa repetibilidade de tendência no controle de doenças. Ver se isso se comprova
ao longo do tempo. Concordo com o Denizart, que é preciso fazer ensaios de longa duração. Os
ensaios em rede são muito bons porque a gente pode explorar uma região maior.
Medidas de controle integrado. Conhecer melhor o que a gente tem de novo para doenças
e pragas. Hoje em dia, um pessoal de Jaboticabal está desenvolvendo uma linha de aproveitamento de pólen de algumas leguminosas para o controle biológico, para alimentação de insetos
predadores. Conhecer essas possibilidades de controle, das quais, talvez, a gente não saiba
muita coisa. Há muito campo para estudar!
Entendimento da alelopatia, como diz o Fancelli, de uma forma genérica. Temos uma
visão muito simplista ou reduzida.
Das limitações fitossanitárias. Um maior entendimento desses processos e das observações
no campo. Precisamos ir ao campo verificar o que está acontecendo. Às vezes a gente pode até
prever o que vai acontecer, mas indo lá a gente sente muito mais de perto.
Os estudos da dessecação antecipada. Não temos muita certeza sobre determinadas culturas, por isso a gente deveria estudar um pouco mais.
Os estudos microbiológicos e bioquímicos não são fáceis. Sabemos que há uma carência
muito grande, até de pessoal, nessa área de microbiologia, mas são coisas muito interessantes.
É preciso estabelecer relações, particularmente no caso de leguminosas, de rizóbios e de gramíneas, para que a gente possa entender cada vez mais os processos.
O estudo dos compostos químicos sinalizadores. Uma contribuição do professor Ciro. Isso
aqui na literatura é uma coisa a ser bastante explorada, existe um campo bastante amplo para
isso no controle de sanidade e de plantas daninhas.
As ações para manejo de restos de culturas e daquela grande quantidade. Houve o
exemplo da cana. Como é que a gente vai conseguir manejar uma grande quantidade?
Estudos sobre causas de redução da produtividade, particularmente alguns itens que já
foram falados. De maneira integrada, aproveitar nossos experimentos para conseguir tirar
uma ou várias informações?
Produção de palha em determinadas condições. Nós temos essa condição do NorteNoroeste do Estado de São Paulo, com um problema de produção de palha. Um fator às vezes
limitante. Chegar num estudo que defina qual é a quantidade de palha que se consegue fazer.
A parte de produção orgânica em plantio direto. Há uma demanda nesse setor aqui de
hortaliças, de grãos e também de fruticultura, ou perenes, com um campo grande de trabalho
de como manejar mais adequadamente na área de fruticultura, para não haver problemas.
Mais algumas demandas faladas por uma ou mais pessoas. Como a reunião de hoje é um
fórum nacional, é interessante que a gente se encontre e que seja discutida a definição de prioridades das linhas de pesquisa, com correção de rumos. A discussão de práticas e resultados,
189
aproveitando experiências diferentes, reavaliando conceitos dentro do contexto da agropecuária
nacional.
Trabalhos integrados: acho que isso é muito eficiente e positivo. Parceria para mim nunca foi algo muito novo. A gente sempre trabalhou com o agricultor, com colegas da Casa da
Agricultura, com cooperativas. Acho isso muito salutar e muito gostoso.
Uma demanda para as agências de fomento de considerar as prioridades, as pesquisas
complementares e interativas. Dependendo da época em que a gente está, existe uma linha
de pesquisa que vira modismo. Ou é genoma, ou é sistema de produção. Se você não está ali
encaixado, você dá um jeitinho no projeto, porque não sai financiamento se não está dentro da
palavra da moda.
Treinamento de agricultores. Treinamento nosso e de colegas da extensão, no nosso caso
em São Paulo, Secretaria de Agricultura.
As unidades demonstrativas, os dias de campo, são muito interessantes. Acho que a gente
aprende mais do que ficar com o agricultor apresentando alguma coisa na sala, mostrando
uma foto. No campo é algo que dá muito retorno. Eles gostam de ver, pegar e sentir que dá
resultado.
Temos um problema sério e que a gente acompanhou o início, o meio e não sei se já está
no fim: o da municipalização das Casas de Agricultura em São Paulo. Foi muito ruim, porque
os colegas tinham dificuldade de ser liberados para acompanhar em campo, tal como vinham
fazendo.
Estabelecer o calendário agrícola regional. Hoje, a gente vê muito no Estado de São Paulo,
de repente, há soja o ano inteiro. A soja plantada o ano inteiro traz o problema da manutenção
da mosca-branca, que pode trazer outros problemas, como a virose, ou necrose da haste, que
está aparecendo em feijão e era uma doença em soja. Você começa a ter a ferrugem-asiática
que, além da parte de clima, você mantém o hospedeiro.
Estabelecendo um calendário, a gente consegue, inclusive visando à fitossanidade,
fazer com que a época não coincida com aquela que favorece o desenvolvimento dos
microrganismos.
Política de preços. A não-extrapolação de algum parecer para outra região. Se você tem
uma região fronteiriça de São Paulo com o Paraná, às vezes, até consegue extrapolar. Não
generalizar.
Essa é a última.
Algumas coisas coloquei lá, mas a maior parte foi contribuição de todo o grupo. Visando
ao aspecto de fitossanidade, ainda bem que há muita coisa para estudar, porque senão não
estaríamos aqui.
Fernando Penteado Cardoso – Fundação AGRISUS
Chamou minha atenção, e acredito que a de outros companheiros, o foco que você deu à
sustentabilidade do plantio direto. É preciso que as medidas desse plantio visem sempre que ele
seja permanente e sustentável.
Você mencionou a palavra da moda. Acho que a menção de biodiversidade ligada ao
plantio direto é mais uma palavra da moda do que outra coisa.
190
Vamos ouvir, agora, o resumo daquilo que foi dito na Mesa Redonda Qualidade Química
do Solo, que foi coordenada pelo Bernardo van Raij.
Bernardo van Raij – IAC
Eu tentei pinçar alguma coisa, não na ordem da apresentação, mas por assunto. Vários
apresentadores trataram do mesmo assunto, mas não repetiram, porque é tão complexo, que
sempre há maneiras diferentes de apresentar.
O primeiro ponto em que se fala muito em plantio direto: acúmulo de matéria orgânica no
solo. Eu gostaria de frisar a qualidade de solo. Nós estamos pensando no solo para abaixo da
palha. Palha para a gente não é solo.
A turma da fitotecnia que trate de providenciar as plantinhas bem adequadas, que nós
vamos ver o que aconteceu. Sob esse aspecto, acho que é extremamente importante a gente ter
curvas como aquela que o Júlio apresentou para a soja. São informações fantásticas, que em
pouquíssimos lugares há. Aquela curva de 22 anos, mostrando o acúmulo de carbono: subiu até
800 kg por hectare, por ano e, depois, eu acho que não estabilizou, mas chegou até 200 kg por
hectare. Acho extremamente importante a gente obter esse tipo de curva, mesmo que seja nas
áreas de produtores. Fixar uma área e ir todo ano tirar uma amostra. Em várias áreas do Brasil,
talvez, sem fazer experimento. Ter a área convencional do lado também e a gente colecionar
essas curvas. Acho que isso seria extremamente importante.
E aí eu chamaria a atenção! Na hora em que vocês forem fazer esse tipo de estudo não
usar matéria orgânica de laboratório de rotina. Façam matéria orgânica bem feitinha, métodos
da pedologia. Tirem a densidade do solo para poder calcular em quilogramas por hectare (kg/
ha) e façam o nitrogênio total. Podem usar o velho método de determinação de Kjeldahl, o que
também é extremamente importante.
Fala-se só em seqüestro de carbono. O pessoal do seqüestro de carbono está-se aproximando do plantio direto. Logo, vamos precisar de informação de como se tira amostra, como se
mede e as perspectivas. Vamos ter que preparar isso.
Para cada 10 kg de carbono, é preciso 1 kg de nitrogênio. Isso é pouco falado. Fala-se em
seqüestro de carbono, como se o carbono para entrar na planta não dependesse de mais nada.
E depende de elementos que custam dinheiro, custam caro. Acho que esse é um ponto crítico
de a gente obter informações.
Experimentos seriam ótimos, como aqueles do Centro da Soja, mas se não houver experimentos em áreas bem georeferrenciadas de produtores. Nós podemos fazer esse acompanhamento com o passar dos anos, inclusive, para subsidiar, se alguém quiser ganhar um dinheirinho
vendendo cotas de seqüestro de carbono.
Outra coisa extremamente importante é avaliar acúmulo de matéria orgânica no solo por
essas diferentes coberturas. Temos que saber o que elas estão colocando lá dentro do solo. O Dr.
Cardoso adora braquiária e eu fiquei fascinado com a quantidade, o aumento de carbono que
a braquiária proporcionou. É extremamente interessante aquele resultado. A matéria orgânica
existe no solo em profundidade. Como é que ela entrou lá? Provavelmente, a maior parte foi raiz
mesmo, pensar que há milhares de anos acumulando.
Então, é isso aí com relação à matéria orgânica.
191
Com relação ao nitrogênio, acho extremamente valiosos os resultados apresentados
pelo Heitor, que mostram que a época de aplicação é importante. A gente precisa de muito
cuidado com isso, porque tem sido divulgado que se pode aplicar antes ou depois. Isso vai
depender de clima.
Outra coisa importante. Plantio direto perde mais nitrato do que plantio convencional,
pelo simples fato que percola mais água, pelo menos a literatura fala isso. Nos primeiros anos de
plantio direto, tem-se que pôr mais nitrogênio do que no convencional e depois, com o tempo,
equilibra. Com soja tudo muda. Mas no começo tem muito mais chance de perder nitrato e
herbicida também. É o conceito da gente: a água lá é para escorrer, então, leva mais coisa. Não
tem jeito!
É extremamente importante separar hipótese de realidade, e separar dúvidas que nós
tenhamos para não misturar com hipóteses. Muitas hipóteses são tão repetidas nas reuniões de
plantio direto, que viram fatos. Precisamos de um cuidado grande nisso.
O nitrogênio é elemento chave de produção agrícola, o que mais usa e o que mais
movimenta.
Perdas por lixiviação. Acho que precisamos entender isso melhor.
Já falei que, no plantio direto, percola mais; se não houver, porém, raízes no subsolo, o nitrato vai embora e aí nós temos o problema de contaminação de água subterrânea. Principalmente
em região de pecuária intensiva junto com plantio direto.
Perdas com uréia na palha. O Heitor mostrou que é problema crítico do nitrogênio. Uréia,
sem dúvida, é o adubo preferido hoje da indústria, o mais econômico de fabricar. É, porém, extremamente complicada sua colocação no plantio direto. Esse é um negócio que requer estudo.
Precisamos reduzir e minimizar perdas.
O nitrato de amônio não sei se vai continuar. O presidente americano queria eliminálo, porque dá para fazer bomba. E é um adubo interessante. Imagine, a gente quase nem
consegue comprar! Aliás, consegue comprar saco de adubo e não consegue comprar vidro
de laboratório.
Com relação ao nitrogênio, uma outra coisa que acho que não foi mencionada, mas que
precisaria cuidar, é a perda por desnitrificação. Na literatura, é uma grande causa de perda de
nitrogênio no solo e, havendo palha no solo e energia para os microrganismos, ela ocorre mais
depressa. Em qualquer período de chuva intensa que o nitrato fique lá, com redução, pode
haver perdas. Precisava dimensionar essa questão.
A fixação de nitrogênio por gramíneas é um campo fascinante e o pessoal da microbiologia tem um trabalho muito confiável. Não dá para justificar a cana que é colhida hoje com
todo o nitrogênio que se coloca. Está faltando nitrogênio. Só que o pesquisador Segundo, do
Rio de Janeiro, garantiu que é muito mais difícil do que Rhizobium. O mecanismo é muito mais
complexo. Não são aquelas batatinhas que ficam do lado de fora da raiz jogando nitrogênio para
dentro. O microrganismo está mais integrado com a planta.
Agora, quando você não tem controle, é difícil saber quanto e onde vai ocorrer. Talvez a
gente tenha que estudar isso também.
Aí vem a questão de amostragem de solos. Acho que é preciso muito cuidado e também,
manter a nossa referência. Em qualquer laboratório do Brasil a referência é 0 a 20 cm. Se a
gente quiser, pode ter simpatia por 0 a 10 cm, 0 a 5 cm, mas é 0 a 20 cm. Quem fizer pesquisa
192
de profundidades, pelo menos, mantenha essa referência, senão a gente perde totalmente a
comparação de resultados. E o que acontece? Você amostra uma camada mais rica, porque a
parte de 10 a 20 centímetros é mais pobre. Eu já vi trabalhos em que colocam teste do calcário
e reduzem a adubação. Acho que isso não dá para fazer assim, sem melhor estudo, principalmente com calcário.
Uma vez um pesquisador da África do Sul disse que lá, eles preconizam muito a calagem
pelo alumínio. Um pesquisador estava fazendo a apresentação, mostrando as vantagens do critério do alumínio. Outro, do meu lado, falou um palavrão e disse: “é por isso que os nossos solos
estão com uma acidificação de subsolo que nós não estamos conseguindo corrigir”. Colocar
pouco calcário vai acidificar embaixo e vai ser muito difícil corrigir. Precisamos ter muito cuidado com isso e acho que é um estudo que requer pesquisas urgentes para conceituarmos. Por
que calagem para plantio direto? Honestamente, estou confuso e há mais gente confusa por aí.
Precisamos conceituar e definir porque, se cada um parte para um lado, fazendo de um jeito,
vamos ficar perdidos.
Falar de confiabilidade de laboratórios é um problema com o qual estamos sempre lutando. Existem dois sistemas, praticamente, de métodos diferentes. Se me perguntarem direi que o
nosso é melhor. Não pergunte, então! Mas existe um pequeno problema do plantio direto que é
muito curioso: a camada dos insolúveis. Põe-se calcário no solo e aquele calcário, principalmente aquele que não presta (não reativo), vai ficar deitado lá. Mesmo o calcário bom vai depender
da acidez que entra com o nitrogênio amoniacal, através de folha de soja ou de adubo, para
dissolver. Sempre haverá uma camada de calcário deitada e de fosfatos reativos ou até não-reativos que se colocam de vez em quando. Conforme a análise que vocês fizerem, medirá coisas
a mais, principalmente fósforo.
Acho que a gente devia desenvolver métodos de laboratório para medi-las. Por exemplo,
esse calcário residual, não é difícil fazer um método para medir. O cidadão recebe o seu resultado de análise e vê uma informação: tem tanto mais de calcário que não dissolveu ainda e que
está lá. Isso é fácil de fazer e devíamos colocar isso na praça.
O que mais?
Correção de acidez. Bom, as apresentações deixam dúvidas de uma coisa: para que a
gente faz calagem?
Sempre se entendeu que com a calagem se corrige o solo para que as raízes possam se desenvolver. O que atrapalha as raízes é, principalmente, o alumínio e, dependendo de variedade,
atrapalha mais ou menos, e também a falta de cálcio, mas que não é o problema principal.
A gente fica em dúvida. O plantio direto pode sobreviver só com aquela camada de solo de
0 a 5 cm, 0 a 10 cm ou 0 a 20 cm? Ou será que a parte debaixo também interessa para a planta
se desenvolver bem? Essa é uma coisa realmente polêmica. Pelos dados que vimos aqui, a coisa
não desce muito quando o calcário é aplicado na superfície. Afeta muito pouco a camada de 10
- 20 cm. Cria uma dúvida muito grande aí.
No plantio direto, a gente tem dúvida de quanto aplicar, mas não de onde aplicar, porque
o pessoal só aplica na superfície. Eu propus um experimento em Campinas, sendo um dos
tratamentos a incorporação do calcário. O pessoal não gosta, quer bater na gente. É um tabu,
não pode mexer na coisa! E há uma diferença! Qual é?
Quando você tem o calcário deitado na superfície, ele depende da acidez entrando para
dissolver. Quando você o incorpora, ele dissolve. Ele vai dissolver, mesmo que demore tempo,
193
mas ele está lá em contato com o solo. E aí vem uma explicação. Por que grande parte dos
nossos experimentos de agricultura convencional dava um desenvolvimento radicular muito
grande? Porque todo o ano você vai lá e ara, passa a grade, arrebenta com a matéria orgânica
e solta o nitrogênio. O que está descendo é nitrato de cálcio, que é excelente para a raiz descer.
Muito melhor que gesso, porque, além de estar o cálcio, está o nitrato. A planta gosta muito mais
de nitrato do que de sulfato. Não há nem dúvida.
Essa é uma explicação. Na hora que você entra com o plantio direto, se parar com esses
processos, não desce mais nitrato.
Uma dúvida. Pelos trabalhos que vimos do Mato Grosso, a gente fica pensando naquela
calagem de formação do plantio direto. Não havendo restrição financeira, a conclusão a que se
chega, com os dados que o Leandro apresentou, é que se deve botar duas vezes mais a quantidade recomendada. Se a parte econômica não for importante, parece uma recomendação muito
boa, e daí incorporar o melhor possível.
O que nós precisamos estudar um pouco mais é o papel do nitrato na correção do subsolo.
A literatura mostra muito bem que o nitrato, descendo e sendo absorvido, deixa o resíduo alcalino. É fácil. Você pega a tabela de grau de acidificação do adubo e vê que o nitrato de cálcio é um
adubo que alcaliniza. Então, o que está descendo com o nitrato? Cálcio, magnésio, potássio. Isso
preocupa. Se não está havendo correção da acidez de subsolo, ou é porque não está lixiviando
nitrato nenhum, ou é porque a raiz não está pegando.
Em todos esses casos que tem anos de plantio de milho, ou nada de nitrato foi lá para
baixo, o que é difícil de imaginar, ou o nitrato foi e passou direto, porque a planta não absorveu.
Porque se a planta absorve, ela aumenta o pH. Acho que é outro campo fascinante de estudar.
Não deu tempo de o Caires falar do gesso, mas é outro aspecto que precisamos estudar no
contexto do plantio direto.
Alguns temas que a gente deixou aqui:
Toxicidade de alumínio para diferentes variedades.
Deficiência de cálcio.
Absorção de nitrato.
Fertilidade do subsolo é uma área em que a gente deveria pensar, para estudar toxicidade
de alumínio, deficiência de cálcio, absorção de nitrato, desenvolvimento radicular, absorção de
água em profundidade, perdas de nitrato, potássio e magnésio.
Fernando Penteado Cardoso – Fundação AGRISUS
Essa matéria orgânica ou seqüestro de carbono em função do plantio direto ou de pastagem foi muito bem estudada pelo CIRAD, em Lucas do Rio Verde. Vale a pena lembrar que
existem dados muito interessantes a esse respeito. Dados mensurados.
A respeito da dificuldade de uréia, ela tem que ser resolvida pela parte de mecanização. A
uréia é imperativa, não haverá outro adubo nitrogenado em quantidades no mundo. Então, é
engolir a uréia mesmo e achar um jeito de utilizá-la.
E, finalmente, esse assunto fascinante de fixação de nitrogênio por gramíneas. É preciso
concentrar para ver a maneira de incentivar, porque dá uma economia muito grande se nós
194
pudermos ter nitrogênio, como ocorre na cana. Nada explica o nitrogênio que a cana está
retirando, o que deve haver é uma fixação.
Para terminar a exposição dos moderadores das várias mesas redondas, a Isabella Clerici
De Maria vai analisar aquilo que se falou sobre a parte física e de mecanização.
Isabella Clerici De Maria – IAC
Como o Denardin definiu bem, a qualidade física do solo é a fertilidade deste, talvez, o seu
componente principal.
Segundo Ralisch, a compactação sempre existe no sistema plantio direto e também é
preciso considerar o problema de desagregação do solo. Não é a compactação, é a desagregação do solo e precisamos aprender a conviver com essa compactação, porque ela existe e
vai estar lá.
Em relação à qualidade física, o que foi discutido é que romper o solo não resolve, principalmente com o sulcador de adubo. E qualquer movimentação, de acordo com o Ralisch, não
é mais plantio direto. Qualquer operação que se faça de movimentação, não há mais o sistema
plantio direto.
Na verdade, não tenho certeza se concordo com isso, uma vez que o próprio Ralisch tinha
dito na sua apresentação, o plantio direto nada mais é do que revolver o solo o menos possível,
preparando aquela cama para a semente.
Ainda existem, porém, muitas dúvidas a respeito de níveis de compactação e produtividade. O que a gente mede como compactação do solo e que mostra valores elevados de densidade
ou de resistência, não se traduz em diferenças de produtividade. Essa é uma questão que ainda
existe na física do solo em relação à compactação.
No tocante às máquinas e, obviamente, da semeadora, o destaque é que é preciso que a
máquina faça um bom contato semente-solo, que é a coisa mais importante, até mais importante
que a cobertura. Mais importante do que ter todo o solo coberto ou voltar a pôr palha em cima
do sulco, é fazer esse sulco bem feito, para garantir contato com a semente.
Colocar a semente e o fertilizante no lugar certo. O facão não é escarificador nem
deve ser.
Destacou-se, também, como problema na questão de máquinas. As próprias empresas
fabricantes precisariam ter mais engenharia mecânica na concepção da máquina para o plantio
direto e mais atenção ao agricultor que a está comprando.
O Afonso destacou-nos a eficiência operacional bastante baixa. Nesses trabalhos que ele
faz, sempre verifica isso. E levantou dois problemas: a falta de indicadores de qualidade operacional, que precisam ser trabalhados, e o problema de extensão, de o agricultor entender que
essa eficiência operacional é muito importante para conseguir produtividade.
Como chaves para o sistema, como destacou o Denardin: Carbono, raiz e rotação de
culturas, naquela apresentação bem clara que ele nos fez.
Precisamos de mais fitomassa do que aquilo que mineraliza. Esse talvez seja o limite de
quanto de palha a gente precisa. E, principalmente, conhecer o processo. O papel da pesquisa,
pelo que a gente conversou, é conhecer o processo. E no fim, quem faz as adaptações e o
dia-a-dia é a assistência técnica com o produtor. O papel da pesquisa está mais em entender e
195
conhecer o processo, principalmente em relação à rotação de culturas, o que casa um pouco
com o que a Elaine tinha resumido da parte do problema de doenças e pragas.
Ficou ainda a questão levantada rapidamente pelo Denardin, da amostragem para a
qualidade física. Ele levantou o problema de como avaliar a qualidade física do solo. Falou
rapidamente, acho que como uma crítica para muitos de nós, sobre trabalhos que já foram feitos
há muito tempo com o sistema plantio direto, comparando sistema plantio direto com o convencional. São trabalhos que continuam sendo feitos e a que gente também recebe para publicação,
amostrando densidade a 0-10, 10-20, 20-30, 30-40 cm. São resultados que a gente já conhece
e sabe, de aumento de densidade. Essa é uma questão que precisa evoluir ainda.
Resumos para área de pesquisa:
Na questão de máquinas: discos e mecanismos. O Afonso destacou o problema da concepção do disco, da maneira como é feito, da distância entre furos, o material, dos mecanismos
das máquinas; da relação solo-máquina, de como é que se faz para reduzir compactação do
solo, já que o solo vai compactar mesmo.
Questão de pesquisa em raízes de plantas que conseguem descompactar. Uma questão
importante, que foi bem levantada aqui, e a gente já tinha comentado no café. A gente vê o
nabo e fala: “esse negócio faz um buraco no solo, então, vai descompactar”. Só que a gente está
vendo que não é bem assim. Acho que precisa ser mais estudada a importância de outras raízes
na descompactação.
Os indicadores de qualidade do solo. Voltando à questão que o Denardin falara, de ficar
medindo densidade de 0 a 10 cm 10 a 20 cm. Estudar a morfologia do solo e evoluir a pesquisa
ou os indicadores nessa área de física do solo. O que vamos medir? Precisamos evoluir um
pouco mais.
Indicadores de qualidade operacional, como tinha destacado o Afonso.
Mapas de risco. Acho que o Ralisch comentou a importância de mapas de risco. Mas, na
verdade, o que a gente precisa é conhecer o processo, para estabelecer tais mapas.
O Afonso destacou a geração participativa de tecnologia como um ponto bastante importante. A gente entender e conhecer o problema para poder resolvê-lo.
Procedimentos estatísticos na física do solo, que talvez precisem ser mais difundidos e que
podem ser usados, além da estatística normalmente utilizada.
O progresso do sistema plantio direto na física do solo e nas máquinas, pelo que a gente
discutiu aqui, passa principalmente por extensão e treinamento. Pareceu-nos que o problema
maior até o momento não é a pesquisa, mas, principalmente, extensão e treinamento.
Existem problemas com o modelo de assistência técnica atual. Nós temos dias de campo
e treinamento, mas da maneira como estão sendo feitos, parece-me que não estão funcionando
adequadamente. Precisaria mudar isso de alguma forma. Surgiram até algumas propostas para
essa extensão e treinamento na física do solo e nas máquinas e que são extensivas a todo o
sistema plantio direto.
O Denardin comentou conosco uma experiência sua no Rio Grande do Sul, de formação
de grupos de assistência técnica para fazer treinamento, com tarefas e tal. O Afonso sempre
vem destacando a importância de agricultores-parceiros, que estão relacionados com a geração
participativa de tecnologia. Eles ajudam tanto na questão de uma pesquisa necessária quanto
para difundir mais o progresso do sistema plantio direto.
196
O sistema plantio direto precisa muito da visão multidisciplinar. Nós vimos alguns pontos
que foram levantados quando se falou da questão de máquinas e física do solo, que envolvem
as outras coisas que discutimos aqui.
Adubação do sistema e não da cultura. Isso tem a ver com máquina e com adubação. Essa
pesquisa multidisciplinar é muito importante. É preciso entender o problema do agricultor, para
saber porque é vantagem para ele fazer adubação do sistema e não da cultura. Entender todo
esse processo é muito importante.
Semear antes de colher. Temos que conhecer as dificuldades que o agricultor vai ter de
colocar a semente quando a outra cultura já está lá. O que a máquina tem de fazer? Se é a lanço,
como é que isso vai ser feito?
O terraceamento. Foi levantado porque o agricultor tirou o terraço. Porque tinha uma
dificuldade de mecanização dentro de uma nova realidade. A gente tem que entender isso para
poder achar uma solução.
Para terminar, vou explicar o que é SP Direto.
O Afonso criou o SP Direto, porque queríamos fazer um Simpósio Paulista do Plantio
Direto. Hoje chamamos nosso grupo de pesquisa da Secretaria de Agricultura como SP Direto,
que é o Sistema Plantio Direto em São Paulo. Esse grupo de pesquisa tem-se reunido com regularidade. Uma das coisas importantes que temos feito é tirar os papéis da nossa frente e sentar
para conversar, entender o que o outro está fazendo. Fomos a Votuporanga, o Waldo mostrou
seu ensaio e discutimos. Pessoas de diferentes áreas, com diferentes culturas, com diferentes
formações vão lá e discutem, em cima do ensaio, o que pode ser feito e o que não pode ser feito.
Isso tem sido muito enriquecedor.
Fernando Penteado Cardoso – Fundação AGRISUS
No resumo feito pela Isabella, chamou-me a atenção o assunto das raízes das plantas para
vencer a camada adensada encontrada no subsolo a 15-20 cm. Confesso que não vi nenhuma
fotografia de raízes atravessando essa camada e eu acho que gostaria de receber; ou é um
desejo meu, ou existe de fato.
Também me chamou a atenção a necessidade de estabelecer parâmetros de densidade
que se relacionam com a fertilidade e produtividade. Quais são os parâmetros que indicam
quando a densidade é prejudicial?
Não vi nenhuma menção nesse nosso workshop, da maneira de fazer medição da parte
física. Temos o penetrômetro e o permeâmetro, que não foram mencionados, e acredito que
temos que criar a rotina de medir algumas características físicas. Uma preocupação é tirar uma
amostrinha e mandar para o laboratório e depois ter a sensação de que é um farmacêutico a
indicar o melhor remédio. A física ficou mais ou menos renegada, o que é uma pena.
A assistência técnica é da maior importância, mas não era objetivo deste workshop quando
o concebemos. Temos que chegar a pontos comuns sobre o que dizer ao lavrador, porque se
complicarmos muito a explicação, ele fica tímido. Estamos tentando resolver a parte agronômica, de dizer ao agricultor o que dá certo.
197
Está aberta a palavra para quem quiser fazer comentários gerais, sejam técnicos, dos
pontos que chamaram mais a atenção, ou sobre a maneira como conduzimos esse workshop e
como poderemos aproveitá-lo numa rede no futuro, discutindo a parte técnica.
Evidentemente, poderemos ter eventos para discutir como levar os conhecimentos e as
melhores práticas ao lavrador. Mas seriam outros tipos de trabalhos.
Discussão da Mesa Redonda
Ivo Mello – Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP)
Como não sou pesquisador minhas sugestões são mais de ordem de organização institucional, daquilo que estamos fazendo aqui hoje. A minha sugestão é que essa iniciativa tenha
continuidade. A gente oferece a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FBPDP), que
é uma instituição guarda-chuva, com outras instituições interessadas no sistema, associações
de produtores, instituições de ensino e pesquisa, empresas do agronegócio, para que a FBPDP
possa ser a catalisadora de toda a iniciativa. Essa é a proposta da Federação e nos colocamos
à disposição para, em parceria com a Fundação AGRISUS, sermos catalisadores de energias. A
gente entende que, por tudo que foi falado aqui hoje e mostrado nas várias experiências dos que
foram convidados, que, de alguma maneira, estamos desconectados. Há outros tantos pesquisadores que não estão aqui hoje e que têm experiências tão boas quanto, ou até um pouco mais
detalhadas do que as desse time que está aqui dentro, mas estamos desconectados.
A gente sabe, e não poderia ser outro o resultado, que a cobertura de solo e resíduos é o
fator chave/fundamental. Nós não vamos inventar a roda. Quem inventou e defende o plantio
direto, defende-o há bastante tempo. A forma como isso vai se tornar a melhor estratégia de
ocupação dos espaços rurais será mostrada pelo desenvolvimento e aprimoramento dos sistemas em uso e aqui mostrados.
Ciro Antonio Rosolem – UNESP/Botucatu
Então, vamos fazer de fato o SP Direto.
A brincadeira vem ao encontro de uma coisa que eu estava pensando. Acho que pensaria
mais no nome da Sonia para isso. Por que não sonhar com um grande projeto paulista de plantio
direto? Acho que isso aqui é um embrião fantástico e que a Sonia seria uma pessoa espetacular
para organizar essas coisas. Dei o troco da fitopatologia.
E, rapidamente, uma sugestão. Não sei se há no IAC alguém com facilidade para mexer
com isso. Poderia começar com um site e a gente disponibilizaria todas as teses que temos,
trabalhos publicados etc., que pudessem começar essa rede de informação.
198
Isabella Clerici De Maria – IAC
Deixe-me só responder para o Ciro. A gente está começando com algo pequeno, mas a
idéia é ter todo o mundo. A idéia de um site de informações também já tinha sido levantada pelo
grupo. Apesar de que eu ainda tenho dúvida se o pessoal vai abrir e ler só pelo fato de as teses
estarem lá. Parece-me que tem sido mais eficiente a gente se encontrar e conversar. De qualquer
forma, acho que essa idéia de um site de informações já obtidas seria bastante útil.
Jamil Constantin – Universidade Estadual de Maringá
Todos nós chegamos à conclusão de que tem que produzir palhada, mas não chegamos à
conclusão de sua quantidade. O Ciro fala que quanto mais, melhor. Eu discordo e acho que isso
precisa ser muito bem medido, porque se a gente fizer um raciocínio simples e trocar quantidade
por durabilidade fica mais fácil. O compromisso de eu ter que produzir uma quantidade muito
grande de palhada é muito pesado. Se eu tiver uma palhada com durabilidade, posso produzir
menos, com efeito muito bom. A gente podia trabalhar no sistema de uma cultura passando o
bastão para outra: “essa cultura vai até aqui e daqui para frente, a outra pega”. Acho que ficaria
muito mais leve para o sistema.
Eduardo Fávero Caires – Universidade Estadual de Ponta Grossa
Eu concordo com o Bernardo quando ele fala da camada de 0-20 cm para o plantio direto.
Até esse momento, eu, particularmente, não estou convicto de que a amostragem devesse ser
mais superficial, tanto para a calagem como para a adubação. Quem preconiza uma amostragem de 0 a 10 cm, por exemplo, acho que não tem dados de pesquisa que comprovem que isso
deva ser feito. Eu concordo que deveria, pelo menos nesse momento, manter a profundidade de
0 a 20 cm.
O Bernardo comentou que a questão da correção da acidez e calagem está bastante confusa no plantio direto. Eu não sei se é tão confusa assim. Talvez a gente precise analisar melhor
os dados que estão publicados e fazer uma interpretação de forma mais adequada. Há diversas
formas de pesquisar o assunto.
O que a gente tem observado de forma clara é o seguinte: no plantio direto a toxicidade
do alumínio parece ser menor mesmo, e isso ocorre porque o alumínio forma complexos com
os compostos orgânicos. Só que o alumínio tem menor fitotoxicidade no plantio direto quando
há boa cobertura e boas condições de umidade e precipitação pluvial. Acho que isso precisaria
ser mais estudado. Estão generalizando ao dizer que, no plantio direto, o alumínio tem menor
toxicidade. Agora, em condições de seca, isso não é verdadeiro. A formação de complexos do
alumínio com a matéria orgânica ocorre em boas condições de umidade. Depois, parte-se de
dois ou três anos de ensaio de calagem, onde houve boa precipitação e o alumínio foi menos
tóxico, aí se conclui que não precisa aplicar calcário, porque se tem altíssima produtividade
quando ocorrem tais condições. Agora, quando começam a ocorrer períodos de seca no desenvolvimento das culturas, as respostas aparecem, porque o alumínio expressa maior toxicidade.
Acredito que valeria a pena investir e estudar mais esse assunto com relação ao plantio direto.
199
A gente não mostrou dados nesse sentido, mas o Oliveira e o Pavan observaram efeitos
de calagem superficial na correção de subsolos, assim como nós também. Correções, às vezes,
abaixo de 20 a 40 cm.
E só para aproveitar, a gente tem dados bastante interessantes com relação ao uso de
gesso em plantio direto, com especificidade das respostas das culturas ao uso do produto. Nós
temos, em várias áreas experimentais, fatos semelhantes, em que a soja não tem apresentado
resposta alguma interessante ao uso do gesso. Mas, praticamente, todas as gramíneas têm
respondido muito bem a seu uso, como é o caso de milho, trigo, cevada e, em várias áreas
experimentais, arroz.
Em várias áreas experimentais onde a gente cultivou soja e milho por exemplo, a soja não
respondeu, mas o milho, sim. Em outras áreas onde a gente cultivou soja vários anos e junto
plantou milho e trigo, as gramíneas de modo geral, responderam bem à aplicação do gesso, mas
a soja não apresentou nenhuma resposta. O maior problema que eu vejo da aplicação de gesso
é a movimentação de magnésio, mas, desde que casado com a aplicação de calcário dolomítico,
ele não tem provado problema algum. Acho que valeria a pena estudar também essa resposta
diferenciada da soja e das gramíneas ao uso de gesso, porque nós temos tido calibrações muito
boas com cálcio e com enxofre, em vista do emprego do gesso.
O milho, por exemplo, chegou a responder ao aumento da saturação por cálcio na camada
de 0 a 5 cm, até 60% e linearmente, enquanto isso não ocorreu para a soja.
A gente conseguiu estabelecer nível crítico de enxofre, por exemplo, para trigo, de 25 mg
por decímetro cúbico para uma alta produtividade. E quem está estudando enxofre hoje? E
quem está estudando seu nível crítico no solo? Eu desconheço trabalhos nessa linha. Hoje, por
exemplo, acima de 10 mg por decímetro cúbico de enxofre está bom. Mas, para que teto de
produtividade foi estabelecido esse nível crítico? A gente tem observado que a soja demanda um
teor de sulfato no solo muito menor do que as gramíneas. E o que tem sido feito nas adubações?
Tem-se adubado muito mais a soja com enxofre do que as gramíneas, por ela ser uma cultura
mais exigente em enxofre. Mas, ao mesmo tempo que é mais exigente, ela tem maior habilidade
de absorção do elemento.
Leandro Zancanaro – Fundação Mato Grosso
A gente está mais perto dos produtores e acho que dentro do plantio direto em Mato
Grosso, a rotação de culturas é uma coisa que temos que melhorar. Acho que em São Paulo,
que eu conheço pouco, a questão é cobertura do solo também.
Gostei muito da apresentação e discussão da parte física do solo, porque, em termos de
não-revolvimento do solo, lá geralmente se justifica essa interrupção do plantio direto pela necessidade de calagem e também pela suposta compactação. Acho que esta linha que o Ralisch,
o Afonso e o Denardin demonstraram, revela que não podemos tentar resolver um problema
para criar outro. Acho que, à semelhança do que ocorre em Mato Grosso, de usar dois fatores
para justificar a interrupção do plantio direto, isso pode acontecer aqui também. Creio que a
difusão de tecnologia e a parte da assistência técnica têm que trabalhar, porque lá o pessoal
tenta corrigir um problema criando outro.
Essa parte de física é muito importante e até mais do que a parte química, talvez, em
alguns momentos.
200
Bernardo van Raij – IAC
O Eduardo comentou tanta coisa a respeito da calagem que a minha conclusão é que o
assunto está confuso mesmo. Realmente, para recomendar é difícil. A gente entende que há
uma porção de fatores, mas eu queria comentar uma coisa. As raízes no subsolo têm duas coisas
importantes para buscar: água e nitrato.
Se a soja não está respondendo em Ponta Grossa, é possível que não haja problema de
água. Mas se todas as gramíneas estão respondendo, é porque, provavelmente, elas estão indo
buscar nitrato. E se o gesso está dando efeito, é sinal de que há barreira química no solo. Quer
dizer, sem o gesso, parte desse nitrato é perdido. Por que as gramíneas estão respondendo?
Acho que essa observação é muito interessante.
Ricardo Ralisch – UEL
Bernardo, eu gostaria de acrescentar mais uma função da raiz, que é a fixação do carbono
no solo. Porque quem faz de fato o seqüestro de carbono é a raiz, não é a palha, nem a cobertura. Quem leva para o solo é a raiz e quanto mais raiz e mais distribuída, melhor esse efeito.
Eu gostaria de apresentar, para a apreciação de todos, a adoção do termo palha. De fato,
parece-me que a palha leva a uma indução de que precisa ser necessariamente a cobertura
morta. Acho que poderíamos começar a pensar em ampliar isso para qualquer tipo de cobertura, principalmente para as condições que foram sugeridas, as climáticas de um inverno seco
etc. E, pensando na proposta que o Dr. Fernando Cardoso colocou, de semear antes de colher,
dar ênfase em uma alternativa à cobertura morta. Talvez, se adotarmos uma nomenclatura mais
genérica, de cobertura em vez de exclusivamente “palha”. Ponho isso como sugestão.
Tenho a impressão de que balanço econômico é uma coisa importante sempre a ser considerada. E acrescento, além do balanço econômico, o energético, porque o econômico tem
uma aplicação restrita e, o energético, é muito mais global, e tudo indica que vai ser a moeda
do futuro.
Foi manifestado algo sobre semeadura a lanço ser problemática. Eu sempre levaria em
consideração a alternativa de tal semeadura, principalmente no inverno. Em algumas circunstâncias, parece-me a melhor alternativa. É evidente que uma multissemeadora é interessante.
Mas, em algumas circunstâncias, a semeadura a lanço é importante e, a incorporação dessa
semente precisa ser analisada. O correntão é possível ou não é? Lógico que precisa ser analisado. Mas há alternativas para fazer essa movimentação da palha para incorporação da semente.
Acho que precisa ser considerada sempre essa alternativa de semeadura.
Outro aspecto é a produção de sementes das culturas de cobertura. Não é raro que haja
problemas de qualidade de tais sementes. O custo é muito alto. Acho importante motivar os
produtores para que comecem a produzi-las. É importante organizar essa capacidade e disponibilidade de sementes das espécies que forem interessantes para cada região.
O último comentário técnico é com relação às análises de compactação. Eu não comentei
propositadamente, porque nós temos visto que nenhum dos métodos de análise de compactação
é suficientemente esclarecedor. Não existe, infelizmente, um método de avaliação da compactação. Nós conseguimos avaliar densidade, porosidade e resistência à penetração, mas nenhuma
201
delas esclarece quanto à compactação. Se é ou não compactação? Quanto é? Qual é o índice
de compactação?
Temos resolvido isso com uma avaliação qualitativa, que é o perfil cultural com uma
avaliação das estruturas, assemelhado ao que o Denardin falou de uma análise morfológica.
Sem dúvida, é um pouco mais trabalhosa e mais complexa, mas é muito esclarecedora para
compreender essas estruturas. Temos utilizado as avaliações como indicadoras e avaliadoras da
uniformidade das áreas, se isso se repete nas áreas ou não, por exemplo, a penetrometria.
Paulo Sérgio Graziano Magalhães – Feagri/UNICAMP
Só um comentário sobre o que o Denizart falou.
Eu não disse que não há compactação em cana-de-açúcar. Acho que há e muita, mas acho
que é possível trabalhar o gerenciamento para reduzi-la. Para isso, precisamos de tecnologia para
alterar o sistema hoje utilizado na colheita de cana. Esse sistema foi importado da Austrália e talvez
se adapte muito bem lá. Hoje, estamos usando-o aqui por falta de alternativa. Acho que é possível
conseguir novas soluções que não sejam dependentes disso. Soluções que passam obrigatoriamente por um desenvolvimento, que envolvam não só a pesquisa, mas a indústria, os produtores
e os usineiros, que trabalham com o plantio e com a colheita de cana.
Júlio Cezar Franchini – Embrapa Soja
Acho que sobrou muita pergunta na área de fertilidade. Acho que o painel foi curto para
os problemas que existem na área hoje.
A questão da calagem. Apesar de ser uma técnica simples, hoje, no plantio direto, ela
está complicada, dada a variedade dos efeitos observados em função das culturas presentes no
sistema. Está complicado chegar a uma recomendação que sirva para qualquer situação, que
era o que acontecia antes com o plantio convencional. Talvez tenhamos que nos acostumar com
a idéia de que vamos ter que chegar a uma resposta diferenciada para cada condição, em cima
do sistema de rotação executado em cada região do País.
A questão do alumínio. A interpretação da produtividade que tem sido observada em
condições ácidas e na presença de alumínio. Há muito tempo a gente ressalta o problema da
análise que é feita hoje para identificar o alumínio tóxico. É um método que, a nosso ver, não
consegue diferenciar o alumínio livre do alumínio associado com material orgânico. Então, a
análise determina uma quantidade de alumínio que, na verdade, não tem a toxicidade. Temos
lá frações livres e frações orgânicas dentro daquela fração determinada em extratos de cloreto
de potássio. É uma limitação metódica que eu acho que deveria ser objetivo de pesquisa: obter
uma análise que consiga determinar o alumínio livre, que é o efetivamente tóxico.
Essas questões de durabilidade de resíduo, qualidade de palha, os efeitos alelopáticos, a
questão das doenças, todas passam pela composição orgânica dos resíduos vegetais e essa é
uma área em que existe pouco trabalho, porque há relações diversas. Conhecendo a composição orgânica, nós vamos poder antecipar o efeito dos resíduos, tanto na área química, quanto
na física e na fitopatológica. Como proposta de pesquisa, acho que temos que avançar nessa
área de caracterização orgânica do material vegetal e da própria matéria orgânica do solo, como
202
salientou o Heitor. Precisamos evoluir, e muito, nos indicadores de qualidade e nos indicadores
de alterações, em função da composição dos materiais.
Também concordo com o que o Ralisch falou. Para quem trabalha com rotação de culturas, dói um pouco ficar ouvindo falar de “palha”. Acho que palha é um negócio que iguala
tudo, não é? Porque toda palha teve uma origem, e vai de encontro a essa composição orgânica
que é diferenciada. Os materiais têm composições orgânicas diferentes. A gente tem que pensar
um pouco na planta que deu origem àquela palha, no que ela contribuiu antes com o sistema
radicular e todos os exsudatos de raiz. Acho que ela tem uma origem. E essa palha e essa origem
são importantes.
José Eloir Denardin – Embrapa Trigo
Espero que, a partir da criação desse SP-Direto, possa surgir um fórum, para a gente poder discutir isso, porque os eventos de plantio direto neste País têm sido sempre com agricultores
junto. Nós não temos essa oportunidade e esse momento de poder discutir coisas científicas,
porque o ambiente não permite isso. Eu já coordenei duas ações dessas, lá em Passo Fundo
e, em função dos patrocinadores do evento, sempre tivemos agricultores convidados. Porque o
público deles é o agricultor, é de onde eles tiram a renda vendendo insumos. Tomara que agora,
com esse tipo de organização, Sonia, a gente consiga criar um fórum para debater, cientificamente, esse tema que é fundamental para o País.
E pensando nisso, uma coisa importante é a questão conceitual. Do que é que nós estamos
tratando? O que é esse tal de “sistema plantio direto” que estamos tratando aqui? Isso é muito
importante, porque se você olhar a bibliografia nacional, hoje, vai ter muitos trabalhos com título
de plantio direto e que não são. Tratam apenas de uma semeadura sem preparo. Na verdade, temos que diferenciar esse tipo de coisa. Então, seria muito importante que esse arranque tivesse
uma base conceitual forte. Eu me arrisquei a escrever aqui o que nós tratamos. O sistema plantio
direto compreende um complexo de tecnologias capaz de viabilizar a perenização do processo
de semear sem preparo. Vejam só, o “sem preparo” é apenas um dos atos dentro do plantio
direto. Mas o que nós queremos aqui é perenizar esse processo, porque plantar sem preparo
uma vez, duas vezes, a gente faz. Quero ver isso continuar de forma perene. Acho que a visão
desse processo é fundamental para que todo mundo saia nesse mesmo nível de conhecimento.
Até 1985, meados da década dos 80s, vamos dizer assim, semeadura direta, plantio direto,
plantio sem preparo e semeadura sem preparo, era tudo a mesma coisa, porque o conceito não
existia. O negócio era não preparar a terra e se plantava trigo-soja, ou soja-pousio. Tudo isso
era viável. Hoje, sabemos que não é mais assim. Precisamos de um processo tecnológico para
poder viabilizá-lo. Acho que é fundamental considerarmos isso.
Outra coisa importante que estamos observando e que a Isabella se referiu: “terraceamento”. Se no plantio direto ocorrer erosão, ela é mais severa do que no convencional. Não em
termos de quantidade, mas de qualidade do que se perde. O van Raij salientou que é preciso ter
calcário em superfície, que estamos deitando fertilizantes, colocando agroquímico na superfície
do solo. A enxurrada, no plantio direto, ou a solução que sai nele, é riquíssima em nutrientes.
Por exemplo, nós temos coletado dados de sedimentos ao final de um sulco e ocorre que, numa
pendente dessas, pode ter de 200 ppm de potássio na faixa de cultura a 600 ppm de potássio lá
embaixo; de 20 mg dm-3 de fósforo, para chegar a 70 mg dm-3 de fósforo lá embaixo; matéria
203
orgânica de 2,3%, para chegar lá embaixo com mais de 7,0%. Alguém falou hoje que nem tudo
no plantio direto são as mil maravilhas. Acho que foi Peche. Porque um sedimento desses de
plantio direto, se chegar até um manancial de superfície é um grande poluidor. Temos que tomar
muito cuidado com o que estamos tratando. Então, alguém falou: “não tirem terraço”; pensem
nesse tipo de coisa. O Rio Grande do Sul tirou, Santa Catarina tirou, o Paraná tirou, e é uma
preocupação. Isso aí é uma dor de cabeça. Fazer esse pessoal voltar a seguir isso não está nada
fácil. Eu coloco essa preocupação para o grupo que vai se criar, para começar a tratar disso no
início, nesse arranque inicial, porque depois vai ser muito difícil corrigir esse processo.
Ficam essas sugestões da continuidade do evento, da base conceitual para trabalhar. E
também essas preocupações maiores que foram relegadas, achando que palha ou cobertura
morta seria suficiente para controlar a erosão.
Ricardo Ralisch – UEL
Só para acrescentar. Na verdade, o controle da erosão já está relativamente resolvido.
Nós temos é que segurar a água lá onde ela cai, lá onde chove. Não se pode é deixar a água
escorrer.
João Kluthcouski – Embrapa Arroz e Feijão
Vou usar, aqui, o princípio do colega Denardin e dizer que o sistema plantio direto pode
ser definido em produzir sob condições cada vez mais favoráveis. Porque a gente nunca soma
aquilo que vem de benefícios para a próxima safra. O mesmo acontece com a integração lavoura-pecuária.
Para iniciar, aquela questão que o Denardin também esqueceu. Acho que o “trincheirômetro” é o melhor equipamento para visualizar a física do solo. A raiz é o melhor indicador, não é?
Não podia deixar de falar isso.
Fiquei muito feliz hoje de manhã, quando os colegas se apresentaram, o Afonso e os
demais debatedores, porque eu acho que nossa agricultura é formada por duas tecnologias:
uma é a “insumos e máquinas (modelos e tipos)” e, a outra, de igual importância, é a tecnologia
“capricho”. Lá no campo, o capricho é jogado no lixo.
Outro dia enumerei vinte pontos de capricho. Por exemplo, uso de semente é um capricho.
Semente sadia. O rearranjo espacial de plantas, a eqüidistância de plantas é um capricho. Isso
pode aumentar demais o rendimento: a densidade, o espaçamento. A velocidade de semeadura
é um capricho. A época correta de aplicação de nutrientes é um capricho.
Recentemente, estão descobrindo que o potássio causa lesões às raízes, por onde estão
entrando todos os tipos de Fusarium em soja e feijão. É o capricho de nós colocarmos o adubo
naquela posição que é tão velha quanto se queira imaginar. Mas isso em campo pouco se
verifica.
Outra coisa é que, antes de entrar nesse sistema de plantio direto, eu também tinha uns
paradigmas e nós criamos o Barreirão. O Barreirão se baseava na aivecagem. Há dez anos que
não falo isso com medo de ser preso. Mas jamais vi um perfil de solo que é promovido por causa
da calagem mais profunda, matéria orgânica, do que o feito pela aivecagem.
204
Um sistema plantio direto começa bem feito, preparando um perfil para não ter que voltar
e desmanchar depois. Deve-se fazer manutenção em superfície. Essa é a minha opinião.
No ano passado, fizemos cinco avaliações de compactação em sistema plantio direto. Nos
cinco, ganhamos em rendimento e em três dos casos, significativamente, com as culturas de
soja, milho e feijão. Isso foi lá com o Ricardo, onde ele faz silagem. Porque a gente tinha certeza
que o processo de silagem era altamente compactador. Típico da colheita de cana.
Uma coisa também que eu não vou guardar na garganta é que nós estamos publicando
agora um trabalho com 50 páginas sobre antecipação do nitrogênio. Nós tivemos um problema
crônico nas várzeas, porque lá tem 5% de matéria orgânica, e descobrimos, finalmente, que a
adaptação do feijoeiro era a questão do nitrogênio. Resolvemos o problema da várzea e trouxemos para terras altas. Infelizmente, não conseguimos nenhum resultado negativo (isso é bom?),
de uns 30 experimentos, em cinco pontos diferentes, cinco condições edafoclimáticas diferentes.
Nosso nitrogênio foi todo incorporado, via uréia. Essa antecipação tem que ser revista, porque o
nitrogênio aplicado a lanço é um desperdício. É um nutriente de custo energético muito alto.
No tocante a máquinas, acho que uma grande idéia é reunir as indústrias que têm interesse
nisso e avaliar todas em um determinado momento. Porque, aí, elas começam a pensar mais
seriamente em adaptar máquinas. Que máquina é o nosso grande pepino ainda no estabelecimento do plantio direto?
Hoje cedo se discutiu um pouco da agricultura de precisão. Acho que se está investindo e
se falando muito, mas estamos precisando é de precisão na agricultura.
Antonio Luiz Fancelli – Esalq/USP
Algumas observações aqui. Primeiro, agradecer o privilégio que a Sonia me concedeu,
de participar desta reunião, que foi, pelo menos para mim, extremamente proveitosa e
gratificante.
Cada vez mais a gente verifica que, pesquisa, informações, competência, capacidade, boas
cabeças e talento, aqui no Brasil, há de sobra. Então, precisamos unir esforços e transformar
essa situação por que a agricultura passa.
Parabenizo, então, a Sonia por esse evento e também enalteço sua capacidade de conseguir reunir todo mundo aqui. Não faltou ninguém! Isso é, exatamente, carisma e prestígio! Sem
falar em autoridade também, não é?
A única coisa que me frustrou um pouquinho foi na hora dos debates. A gente comportouse muito bem, respeitou-se demais. Eu gostaria de alguma coisa mais acalorada. Talvez porque
foi um primeiro momento, a primeira reunião, mas precisaríamos discutir um pouco mais, para
valer, porque assim sairia muita coisa. É que muitas vezes pensei: “Será que o Ciro é muito
bravo? E se o Afonso sair para o braço.”
Numa segunda oportunidade, acredito que a gente vá se soltar um pouco mais e discutir
com um pouco mais de calor.
Outro aspecto que o Denizart levantou aqui. Eu queria deixar claro o seguinte, levantei o
problema da alelopatia do sorgo, mas não tenho nada contra o sorgo. Pelo contrário, acho que
é uma das alternativas extremamente importantes para o Estado de São Paulo, inclusive como
205
opção de safrinha. A gente planta milho e força demais a época de sua semeadura, colocando
em risco a estabilidade econômica do produtor, o sistema e uma série de coisas.
O problema da alelopatia do sorgo é somente quando ele está morrendo. Depois que o
sorgo foi manejado, efetivamente, acabou a brincadeira e não há mais problema relacionado
com isso.
Mais duas coisinhas. Gostaria também de me juntar ao que foi falado pelo Ralisch e pelo
Franchini a respeito de palha. Também não concordo com esse termo. Para mim, “plantio direto
na palha” é pleonasmo. Acho que a palha, cobertura morta, faz parte do sistema de plantio
direto.
Outra coisa. Acho que nós trabalhamos no sentido de reduzir/simplificar muito a terminologia. A gente fala “plantio direto”, mas deveria falar “Sistema Plantio Direto”. Essa palavrinha
é chave para a gente realmente entender qual é o processo que está envolvido na coisa. Plantio
direto vira técnica e, sistema, não. Aí é uma tecnologia, que é uma reunião de técnicas.
Gostaria de propor o seguinte: esse nosso contato não pode parar por aqui, em hipótese
alguma. Tenho certeza que é difícil nos reunirmos novamente, por uma série de afazeres, custo
etc. O site também é meio complicado para trabalhar, pois exige uma equipe muito grande, tem
que ser dinâmico, senão perde o interesse.
Uma coisa interessante e que é muito mais fácil para trabalhar é desenvolver um fórum
permanente de discussão de plantio direto, entre nós aqui, os pesquisadores, na forma de uma
Intranet. Podemos utilizar o provedor do IAC ou o provedor da ESALQ, e sempre que tiver
alguma informação nova, teria esse local para a gente acessar, com uma senha e sempre um
perguntando para o outro, conversando. Teríamos que nos comprometer a, pelo menos uma
vez por semana, entrar nesse fórum para sugerir algum assunto novo, ou para discutir, ou para
questionar uma informação apresentada. Seria uma proposta e já me coloco à disposição para
ajudar a desenvolver algo nesse sentido.
Álvaro M. R. Almeida – Embrapa Soja
Gostaria de fazer uma sugestão com a criação de uma mesa redonda, que envolvesse
fitopatologia, entomologia e microbiologia. Penso que esses três grupos podem compor, muito
bem, uma próxima mesa redonda. Inclusive, ontem, a Sonia já me deu a informação de que
os colegas foram convidados a estimular mais a participação dos microbiologistas. Eu, embora
não o seja, acho que é extremamente importante ter a participação desses colegas nesse evento.
Faço até uma pergunta: quanto do aumento do rendimento do plantio direto é devido à ação
dos microrganismos?
Com relação ao nabo-forrageiro, fiquei até meio entristecido, porque meu colega Denardin
deu uma pancada tão forte e depois foi acompanhado por outros. “Tanto faz com sal ou sem sal,
com pimentinha etc.”. Mas tenho visto que lá no Paraná existem produtores que estão fazendo
associação de nabo com aveia e estão tendo bons resultados. Então, a partir do que eles falam,
temos uma dica para tentar ver alguma coisa.
Só para terminar. Dois colegas, o Bernardo e o Ralisch, falaram sobre raiz, levando, cada
um, o efeito da raiz para o seu ponto de vista. Eu só diria a todos que estão pensando na raiz,
que vocês não teriam raízes se não fosse a fitopatologia.
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José Eloir Denardin – Embrapa Trigo
Almeida, eu não sou contra o nabo. Sou contra dizerem que nabo descompacta solo.
Só isso.
Fernando Penteado Cardoso – Fundação Agrisus
Terminada aqui a prioridade dos apresentadores dos painéis, gostaria de ouvir agora, da
nossa distinta assistência, se tem alguma manifestação. Não dá para fazer perguntas. Prefiro que
sejam manifestações bastante sucintas, porque está marcado para finalizar às 17 horas e nós
estamos chegando lá.
Peço ao Ondino para fazer o microfone correr pela assistência da maneira como quiserem,
identificando-se, por favor.
Leonardo Coda – Agricultor, presidente da Associação de Plantio Direto do Vale do Paranapanema e vice-presidente da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha:
Estou trabalhando com o plantio direto, estou na segunda gestão na Federação e com
umas três gestões na Associação. A gente trabalha no plantio direto com uma filosofia, com
conceitos. Achei muito feliz o parecer do Afonso Peche, dizendo que teríamos, como agricultor,
que produzir um solo produtivo. E solo produtivo, no meu entendimento, é tudo aquilo que a
gente produz em cima do solo.
Dentro do conceito de plantio direto, em que seguimos o tripé - tem que ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto - tudo que produzirmos em cima do
solo, seguindo esse tripé, é válido. É cana, amendoim, feijão, laranja, banana, abacaxi. Acho
que dentro desse conceito, tudo cabe dentro de plantio direto. Tudo é linha de pesquisa e vem ao
encontro do que o produtor precisa. Hoje, estamos passando por uma situação, onde qualquer
alternativa que vier e que estiver dentro desse conceito, para o agricultor vai ser bem vindo.
Sidney Rosa Vieira – IAC
Tenho duas coisas para falar, uma delas sobre amostragem, que para mim ficou bastante
confusa. Deixei escrito no papel da provinha que nós fizemos, porque percebi que houve uma
disputa: 0 a 10 cm e 0 a 20 cm entre o pessoal que trata de fertilidade do solo. Mas na parte
física, não foi definido exatamente o que fazer. O Denardin chegou a falar que variava e mostrou
uma fotografia de um pedaço de solo que tem bastante variação de estrutura. De qualquer maneira, acho que temos que fixar um lugar onde vamos amostrar, e conviver com a variabilidade,
porque ela existe. Só não vamos encontrá-la se não medirmos.
O segundo ponto é sobre o que o Dr. Fernando já falou. Sobre o permeâmetro. Acho que
é uma ferramenta que pode ser bastante útil para nós. Todo o mundo recebeu, junto com o
material, um fôlder do permeâmetro. Acho, inclusive, que pode ser uma ferramenta para avaliar
a retirada ou não de terraço e o impacto dessa retirada, porque ele permite medir a infiltração
em várias posições no perfil. Uma ferramenta fácil de ser usada para esse fim.
207
Waldo Lara-Cabezas – Apta/Votuporanga
Eu só queria pontuar uma coisa muito importante. O tempo é muito curto e é fundamental
entender que, se queremos fazer um sistema plantio direto sério também como pesquisadores,
isso significa uma nova filosofia de vida profissional.
Devemos guardar todas as nossas vaidades e algum dia entender, de uma vez por todas,
que não é fertilidade do solo, que não é máquina, que não é fitopatologia. Nós temos que ter um
sistema integrado de pesquisa, porque se não formos coerentes com um sistema que funciona
integrado, é desperdício, perda de tempo. Entender que temos que fazer um grupo compacto,
coeso, de trabalho interdisciplinar e guardar nossas vaidades, porque pesquisador foi ensinado
a competir desde a primeira prova de Mestrado. É competição, individualismo e por aí vai.
Isso tem que acabar e espero que mais cedo ou mais tarde, o sistema de grade curricular de
agronomia vá pelo chão, porque já está muito obsoleto. Por isso, está aparecendo a disciplina
de plantio direto dentro das universidades. No dia que entendermos que o sistema plantio direto
é a agronomia integrada, porque envolve maquinaria, fitopatologia, fertilidade de solo, rizosfera
e microbiologia, aí vamos progredir a passos agigantados na pesquisa.
Fernando Penteado Cardoso – Fundação Agrisus
Queria manifestar meu ponto de vista pela Fundação Agrisis.
Sentimos-nos recompensados pelo patrocínio deste evento, porque estamos discutindo as
bases técnicas e científicas de uma prática agrícola que tem como finalidade não só a lucratividade da agricultura, mas sua sustentabilidade para o futuro, protegendo, ao mesmo tempo, o
ambiente que seja favorável para o homem.
Com essas palavras de satisfação pelo desenrolar dos trabalhos, satisfação essa de nossa Fundação, pediria a Sonia, por obséquio, assumir a palavra e fazer o encerramento deste
workshop.
Sonia Carmela Falci Dechen – IAC
Gostaria de agradecer a qualidade e o cuidado da apresentação que cada um de vocês fez.
Isso significa, para mim, que não é apenas uma apresentação bonita, é uma apresentação de
conteúdo.
Da minha parte, gostaria de agradecer a condescendência e a simpatia de vocês para com
minha preocupação com o que vai acontecer depois deste workshop, que é a transcrição. Não
se irritaram com as minhas chamadas de “o nome, por favor”, à presença dos ouvintes, que,
apesar de sabermos dos seus interesses pelo tema, vieram aqui por causa disso e, de bom grado,
concordaram em participar com o modelo que foi proposto para o workshop. Na parte deles,
foram “ouvintes”.
Gostaria de agradecer, também, a comissão organizadora: o Bernardo, o Cristiano, o
Estevão, o Fernando, o Dr. Cardoso, a Isabella, o Sandro, e ao mentor intelectual deste workshop,
que é o secretário executivo da Fundação Agrisus, o Ondino, que está ali quieto, não falou nada,
mas trabalhou muito. Gostaria de agradecer ao IAC o suporte dado, à Agrisus e à Fealq.
208
Ondino Cleante Bataglia – pesquisador voluntário do IAC e secretário-executivo da Fundação Agrisus
Fui convidado pelo Dr. Cardoso, pela Agrisus, para trabalhar na secretaria executiva na
gestão dos projetos. Vindo da área de nutrição de plantas, não conhecia o público que participa
desse trabalho mais ligado à conservação de solo. Esse workshop foi uma demanda minha
perante o Dr. Cardoso e à Agrisis. Parafraseando aqui o prefeito de Campinas (Hélio de Oliveira
Santos), resolvemos começar pelos que mais precisam, que é o Estado de São Paulo. Mas
esperamos discutir com o Dr. Cardoso a possibilidade de fazer este trabalho em outras regiões,
desde que tenha uma Sonia lá para carregar o piano, como ela carregou.
Acho que o resultado desse workshop não vai se limitar à Fundação Agrisus, que foi a
financiadora. O resultado certamente terá um efeito sinergístico, porque nós já combinamos de
levar a publicação do resultado desse evento à FAPESP, ao CNPq. Nós aproveitamos a oportunidade aqui, com a presença de dois representantes da FAPESP na mesa, para que nos ajudem
a conseguir que a FAPESP se empenhe em financiar os projetos que virão dessas demandas.
Antonio Roque Dechen – Esalq/Fealq
Gostaria de deixar um agradecimento, porque a Fealq paga a conta, mas o dinheiro vem
da Agrisis, que é a financiadora real do evento. Ela é conveniada com a Fealq e, mais uma vez,
aproveitamos publicamente para agradecer a especial deferência desse convênio que temos com
a Agrisis. E, principalmente, cumprimentar o Dr. Cardoso pela iniciativa, pela sua disponibilidade e de sua família, na alocação de recursos na Fundação Agrisis, para atender exatamente aos
aspectos da agricultura sustentável.
Sidney Rosa Vieira – IAC
Também tenho que dar os parabéns para a organização, por todo o esforço do pessoal
que esteve envolvido, que trabalhou muito para que isso acontecesse. Esse evento foi essencial
para o assunto a que se destinou e concordo com o que foi dito aqui. Que a gente possa usar
os resultados que foram discutidos. Sugiro uma coisa que não sei se pode ser concretizada ou
não. Se puder sair deste workshop uma publicação para que a gente tenha as coisas que foram
faladas aqui, creio que poderíamos mais facilmente nivelar os conhecimentos. Ficaria como se
fosse o nosso guia a ser seguido.
209
Endereços dos participantes
Afonso Peche Filho
Instituto Agronômico
Centro APTA de Engenharia e Automação
Rod. D. Gabriel P. B. Couto, km 65, Caixa postal 26 – CEP 13201-970 Jundiaí, SP
( 11 4582-8155 | 11 4582-8589
* [email protected]
Álvaro Manoel Rodrigues Almeida
EMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa de Soja.
Caixa postal 231 – CEP 86001-970 Londrina, PR
( 43 3371-6000 R.6258 | 43 3371-6100
* [email protected]
Antonio Luiz Fancelli
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - Departamento de Produção Vegetal,
Caixa postal 9 – CEP 13418-900 Piracicaba, SP
( 19 3429-4185 | 19 3429-4115 | 19 3429-4375
* [email protected]
Antonio Roque Dechen
FEALQ - Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz
Av. Centenário, 1.080 – CEP 13416-000 Piracicaba, SP
( 19 3417-6615 | 19 3434-7217
* [email protected]
Bernardo van Raij
Instituto Agronômico - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais
Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP
( 19 3231-5422 | 19 3236-9119
* [email protected]
Carlos Alexandre Costa Crusciol
UNESP - Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu
Departamento de Agricultura e Melhoramento Vegetal (Fazenda Lageado),
Caixa postal 237 – CEP 18603-970 Botucatu, SP
( 14 3811-7161 | 19 3811-7211 | 14 6802-7102
* [email protected]
Ciro Antonio Rosolem
UNESP - Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu
Departamento de Produção Vegetal (Fazenda Lageado)
Caixa postal 237 CEP 18603-970 Botucatu, SP
( 14 3811-7161 | 14 9775-1083 | 14 3811-7102
* [email protected]
Cristiano Alberto de Andrade
Instituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais
Avenida Barão de Itapura, 1.482 – CEP 13020-902 Campinas, SP
( 19 3231-5422 R. 188 | 19 3236-9119
* [email protected]
Denizart Bolonhezi
APTA - Departamento de Descentralização do Desenvolvimento
Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste
Avenida Bandeirantes, 2.419 – CEP 14030-670 Ribeirão Preto, SP
( 16 3637-1091 | 16 9722-2402
* [email protected]
Domênico Vitulo
CAP - Cooperativa Agrícola de Pedrinhas
Avenida Brasil, s/nº, Caixa postal 11 – CEP 19865-000 Pedrinhas Paulista, SP
( 18 3375-9000 | 18 3375-9006
* [email protected]
Eduardo Fávero Caires
Universidade Estadual de Ponta Grossa – Setor de Ciências Agrárias e de Tecnologia,
Departamento de Ciência do Solo e Engenharia Agrícola – Laboratório de Fertilidade do Solo
Avenida General Carlos Cavalcanti, 4.748 – CEP 84013-090 Ponta Grossa, PR
( 42 3220-3091 | 42 3220-3072
* [email protected]
Elaine Bahia Wutke
Instituto Agronômico – Centro de Análise e Pesquisa do Agronegócio dos Grãos e Fibras
Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP
( 3241-5188 R. 316
* [email protected]
Estêvão Vicari Mellis
Instituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais
Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP
( 19 3231-5422 R. 188 | 19 3236-9119
* [email protected]
Fernando César Bachiega Zambrosi
Instituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais
Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP
( 19 3231-5422 R. 188 | 19 3236-9119
* [email protected]
Fernando Penteado Cardoso
Fundação Agrisus - Agricultura Sustentável
Rua da Consolação, 3.367, cj 63 – CEP 01416-001 São Paulo, SP
( 11 3064-8776
* [email protected]
Heitor Cantarella
Instituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais
Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP
( 19 3231-5422 R. 188 | 19 3236-9119
* [email protected]
Isabella Clerici De Maria
Instituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais
Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP
( 19 3241-5188 R. 302 | 3241-5188 R. 302
* [email protected]
Ivo Mello
FEBRAPDP - Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha
Rua Venâncio Aires, 359 – CEP 97541-501 Alegrete, RS
( 55 3505-4856 | 55 9145-1366
* [email protected]
Jamil Constantin
Universidade Estadual de Maringá – Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Agronomia
Avenida Colombo, 5.790 – CEP 87020-900 Maringá, PR
( 44 3261-4040
* [email protected]
João Kluthcousksi
Embrapa Arroz e Feijão
Rodovia Goiânia-Nova Veneza, km 12 Fazenda Capivara, Zona Rural, Caixa postal 179
– CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás, GO
( 62 3533-2183 | 62 3533-2110 | 62 3533-2100
* [email protected]
José Eloir Denardin
Embrapa Trigo
Rodovia BR 285, km 294 antigo km174, Caixa postal 451 – CEP 99001-970
RS
( 54 311-3444 | 54 311-3617
* [email protected]
Passo Fundo,
Julio Cezar Franchini
EMBRAPA Soja
Rodovia Carlos João Strass/Acesso Orlando Amaral - Distrito da Warta
Caixa postal 231 – CEP 86001-970 Londrina, PR
( 43 3371-6233 | 43 3371-6100
* [email protected]
Leandro Zancanaro
Fundação Mato Grosso de Rondonópolis
Rua Pernambuco, 1.267, Caixa postal 79 – CEP 78705-040 Rondonópolis, MT
( 66 3423-2041
* [email protected]
Marcos Palhares
Monsanto do Brasil Ltda.
Caixa postal 09 – CEP 13650-000 Santa Cruz das Palmeiras, SP
( 19 3672-2054 | 19 9777-3821
* [email protected]
Ondino Cleante Bataglia
Fundação Agrisus – Agricultura Sustentável, Conplant e Instituto Agronômico
Rua Francisco Andreu Aledo, 22 – CEP 13084-200 Campinas (Barão Geraldo), SP
( 19 3249-2067 | 19 9751-2743
* [email protected]
Orlando Melo de Castro
Instituto Agronômico – Diretor-Geral
Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP
( 19 3231-5422 R. 123 | 19 3231-4943
* [email protected]
Orlando Pereira de Godoy Neto
CAT Pirassununga
Rua Sílvio Tirone, 374 (Jardim Petrópolis) – CEP 13634-317 Pirassununga, SP
( 19 3561-2915 | 19 9784-2692 | 19 9227-3780
* [email protected] | [email protected]
Paulo Sérgio Graziano Magalhães
Unicamp - Universidade Estadual de Campinas – FEAGRI - Faculdade de Engenharia Agrícola
Caixa postal 6011 – CEP 13083-970 Barão Geraldo (Campinas), SP
( 19 3788-1085 | 19 3788-1010
* [email protected]
Ricardo de Castro Merola
Fazenda Santa Fé
Avenida Floriano Peixoto, 615 sala 803 – CEP 38400-106 Uberlândia, MG
( 64 3641-1391 | 34 3255-3366
* [email protected]
Ricardo Ralisch
UEL - Universidade Estadual de Londrina – Centro de Ciências Agrárias, Departamento de
Agronomia.
Caixa postal 6001 – CEP 86051970 Londrina, PR
( 43 3371-4555 | 43 3371-4463 (Pro-Grad) | 43 3371-4081 (escritório) | 43 9911-8231
43 3371-4079
* [email protected]
Rudimar Molin
Fundação ABC
Rodovia PR 151 km 288, Caixa postal 1003 – CEP 84165-980 Castro, PR
( 42 3232-2662 | 42 3232-2662
* [email protected]
Sandro Roberto Brancalião
Instituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais
Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP
( 23 3241-5188 R. 302 | 23 3241-5188 R. 302
* [email protected]
Sidney Rosa Vieira
Instituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais
Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP
( 19 3241-5188 R. 409 | 19 3241-5188 R. 302
* [email protected]
Sonia Carmela Falci Dechen
Instituto Agronômico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais
Avenida Barão de Itapura, 1.481 – CEP 13020-902 Campinas, SP
( 19 3241-5188 R. 409 | 19 3241-5188 R. 302
* [email protected]
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Impressão
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Workshop sobre o Sistema Plantio Direto no Estado de São Paulo