LEILA DEL CASTILLO SAAD Surtos de Febre Amarela no Estado de São Paulo, 2000 a 2010 Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. São Paulo 2015 1 LEILA DEL CASTILLO SAAD Surtos de Febre Amarela no Estado de São Paulo, 2000 a 2010 Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de concentração: Programas serviços no âmbito da política de saúde e Orientadora: Profª. Drª. Rita Barradas Barata São Paulo 2015 2 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Saad, Leila del Castillo Surtos de febre amarela ano estado de São Paulo, 2000 a 2010./ Leila del Castillo Saad. São Paulo, 2015. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Área de Concentração: Programas e Serviços no Âmbito da Política de Saúde Orientadora: Rita de Cássia Barradas Barata 1. Febre amarela 2. Epidemiologia 3. Zoonoses 4. Surto de doenças/veterinária 5. Epidemias 6. Vigilância epidemiológica BC-FCMSCSP/40-15 3 Agradecimentos À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Á minha orientadora, Prof. Dra. Rita Barradas Barata, por me ensinar, orientar, estimular a aprender e principalmente por servir de exemplo e inspiração. Ao Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac” da Coordenadoria de Controle de Doenças / Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, em especial aos técnicos da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores e Zoonoses, pela oportunidade de realização deste projeto. Aos meus colegas e principalmente amigos, Jadher, Sátiro e Renata, da sétima turma do Episus-SP pela amizade e parceria, sem vocês eu não teria conseguido. 4 Saad. LDC. Surtos de Febre Amarela no Estado de São Paulo, 2000-2010. [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; 2015. Resumo Introdução: A partir do ano 2000, a febre amarela, que tinha sua circulação restrita às regiões Norte e Centro-Oeste, passou a ser detectada fora da área considerada endêmica do país. Foi possível observar uma expansão da circulação do vírus, no sentido leste-sul, e sua presença foi detectada em áreas silenciosas há décadas. O estado de São Paulo, que havia registrado o último caso de febre amarela silvestre em 1953, detectou em 2000, dois casos autóctones da doença. Desde então, o vírus foi isolado em vetores, macacos e humanos. A doença continuou a expandir sua área de abrangência, sendo registrada em áreas onde a vacinação não era recomendada, evidenciando a reintrodução do vírus no estado. Objetivos: Descrever e caracterizar segundo tempo, lugar e pessoa, os surtos de febre amarela no estado de São Paulo, de 2000 a 2010, bem como caracterizar os municípios com comprovada circulação viral, segundo variáveis demográficas, socioeconômicas e ecológicas, a fim de analisar a tendência da expansão da circulação do vírus, assim como determinar fatores que propiciam o surgimento de casos humanos em áreas consideradas indenes. Métodos: Para descrever os surtos de febre amarela, foram utilizados dados das investigações realizadas pela Divisão de Zoonoses e Imunização do Centro de Vigilância Epidemiológica “Professor Alexandre Vranjac”, da Secretaria de Estado da Saúde, São Paulo, SP (CVE/SES-SP). Os dados foram analisados utilizando-se o Microsoft Office Excel® e o pacote estatístico Epi Info™ versão 3.5.3. Para comparar os municípios, foram selecionados três grupos de comparação: municípios com circulação viral, municípios adjacentes aos com circulação viral e municípios do GVE de Bauru. Para cada município dos grupos de estudo foi construída uma série histórica das variáveis analisadas, antes e após a circulação do vírus. Os resultados foram analisados utilizando o programa STATA 13.2 Resultados: Ocorreram três surtos de febre amarela autóctone no estado com 32 casos e letalidade de 46,8%. Apenas duas variáveis das estudadas foram estatisticamente significantes diferenciando os três grupos de comparação. Nos três surtos registrados no estado, de 2000 a 2010, a maioria dos casos era do sexo masculino, com mediana de idade de 32 anos. Todos os casos eram não vacinados e tiveram como local provável de infecção a zona rural, sendo resultado da exposição ao ciclo silvestre da doença. Ao comparar os municípios, não foi possível, com o estudo proposto, identificar 5 fatores que indicassem o porque da circulação do vírus em uma região e não em outra, a não ser a cobertura vacinal, a taxa de evapotranspiração e a direção dos ventos.Conclusão: De 2000 a 2010 foram registrados três surtos de febre amarela no estado de São Paulo, com trinta e dois casos. A quase totalidade dos casos confirmados ocorreram em indivíduos não vacinados e nenhum caso foi observado em indivíduo comprovadamente vacinado. As condições sócio demográficas e ecológicas não parecem ser suficientemente diferentes entre os municípios com e sem circulação viral, para ter utilidade no monitoramento da reintrodução da transmissão da febre amarela no estado de São Paulo. Apenas as taxas de cobertura vacinal demonstraram ser importantes na probabilidade de ocorrência de casos esporádicos ou surtos com circulação viral mais importante. Embora casos de reação adversa possam ser associados a vacina, esta ainda se mostra como a melhor forma de prevenir a doença e a circulação viral. Descritores: Febre Amarela, epidemiologia, Surtos de febre amarela, Zoonoses, Epizootias, Vigilância Epidemiológica. 6 Saad. LDC. Surtos de Febre Amarela no Estado de São Paulo, 2000-2010. [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; 2015. Abstract Introduction: Since 2000, yellow fever, which had a limited circulation to the North and Midwest, came to be detected outside the endemic area in the country. It was possible to observe a virus circulation expansion in the east-south direction, and its presence was detected in areas that have been silent for decades. The State of São Paulo, where the last case of yellow fever was detected in 1953, identified, in 2000, two autochthonous cases of the disease. Since then, the virus was isolated in vectors, monkeys and humans. The disease continued to expand its circulation area, being recorded in areas where vaccination was not recommended, showing the reintroduction of the virus in the state. Objectives: To describe and characterize the yellow fever outbreaks in the State of São Paulo, from 2000 to 2010, and to characterize the municipalities with proven viral circulation, according to demographic, socio-economic and ecological variables in order to analyze the trend of virus circulation, as well as determining factors that favor the emergence of human cases in areas considered harmless. Methods: To describe the yellow fever outbreaks, the research data were performed by Division of Zoonoses and Immunization of the Epidemiological Surveillance Center "Professor Alexandre Vranjac," the State Department of Health, São Paulo, SP (DVZOO / CVE / SES SP). Data were analyzed using Microsoft Office Excel and the statistical package EpiInfo ™ version 3.5.3. To compare cities, we selected three comparison groups: municipalities with viral circulation, adjacent municipalities without viral circulation and municipalities of Bauru´s GVE. For each municipality of the study groups, was built a time series of variables before and after the circulation of the virus. The results were analyzed using the program STATA 13.2. Results: There were three indigenous yellow fever outbreaks in the state with 32 cases and fatality of 46.8%. Only two variables studied were statistically significant, differentiating the three comparison groups. In the three outbreaks registered in the State, from 2000 to 2010, most of the cases were male, with a median age of 32 years. All cases were not vaccinated and have been exposed in rural area to the wild cycle of the disease. Comparing the cities, it was not possible to identify factors that would indicate why the virus circulation occurred in a region and not in another. Conclusion: From 2000 to 2010 were recorded three outbreaks of yellow fever in the State of São Paulo, with thirty-two cases. 7 Almost all confirmed cases occurred in unvaccinated individuals and no cases were observed in individual proven vaccinated. Socio demographic and ecological conditions do not appear to be sufficiently different between municipalities with and without virus circulation, to be useful in monitoring the reintroduction of yellow fever transmission in the state of São Paulo. Only vaccination coverage rates were important in the probability of occurrence of sporadic cases or outbreaks more important viral circulation. Although adverse reaction cases can be associated with the vaccine, this still shows how the best way to prevent disease and viral circulation. Descriptors: Yellow Fever, epidemiology, outbreaks of yellow fever, Zoonoses, Epizooties, Epidemiological Surveillance. 8 SUMÁRIO 1. Introdução ......................................................................................................................11 1.1 A febre amarela no mundo.........................................................................11 1.2 A febre amarela no Brasil...........................................................................15 1.3 História no Brasil e no estado de São Paulo...............................................17 1.4 Sistema de Vigilância da febre amarela ....................................................19 1.5 Vacina ........................................................................................................24 1.6 Eventos adversos relacionados a vacina.....................................................35 1.7 Surtos recentes no Brasil e estado de São Paulo........................................29 2. Justificativa ..................................................................................................................31 3. Objetivo .......................................................................................................................32 3.1 Geral .....................................................................................................32 3.2 Específico .............................................................................................32 4. Material e métodos ......................................................................................................33 4.1 Tipo de estudo ...........................................................................................33 4.2 Local do estudo .........................................................................................33 4.3 Caracterização dos surtos ..........................................................................33 4.4 Grupos de Estudo ......................................................................................34 4.5Características socioeconômicas e demográficas dos municípios........................................................................................................36 4.6 Características ecológicas dos municípios.................................................36 4.7Aspectos éticos............................................................................................40 5. Resultados.....................................................................................................................41 5.1 Artigo 1. Surtos de febre amarela no estado de São Paulo, 2000 a 2010.................................................................................................................42 5.2 Artigo 2: Comparação de variáveis sociais, demográficas e ecológicas de municípios com e sem circulação de Febra Amarela no Estado de São Paulo, 2000 a 2010 ...................................................................................................59 6. Conclusão..................................................................................................................85 Referências....................................................................................................................87 9 Anexo1.............................................................................................................................90 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Países com risco de transmissão da febre amarela...................................................15 Figura 2. Ciclos de transmissão da febre amarela...................................................................16 Figura 3. Fluxograma da vigilância de febre amarela no estado de São Paulo.......................20 Figura 4. Expansão das áreas de Recomendação da Vacina da febre amarela no Brasil.....22 Figura 5. Áreas de Recomendação da Vacina da febre amarela no Brasil........................23 Figura 6. Expansão das áreas de Recomendação da Vacina da febre amarela no estado de São Paulo..........................................................................................................................................30 Figura 7. Municípios escolhidos para compor o grupo de estudo........................................35 Figura 8.Metodologia de classificação de angulação do vento...........................................37 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1.Eventos adversos pós-vacinação contra febre amarela............................................28 Quadro2.Critérios para classificação do vento, segundo ângulo.............................................38 10 1. INTRODUÇÃO A febre amarela (FA) é uma doença infecciosa aguda, febril e hemorrágica não contagiosa que desde o século XVII é responsável por dizimar populações na América do Sul e África. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), acomete aproximadamente 200.000 pessoas no mundo por ano e causa em torno de 30.000 mortes, mantendo-se endêmica nestes dois continentes, causando surtos ou epidemias de impacto em saúde pública (MONATHI, 2001; REITER, 2010; OMS, 2008). Embora seja uma doença imunoprevenível, possuindo sua vacina alta eficácia, a febre amarela ainda ocorre em regiões de 33 países da África (23 destes com alto risco de epidemia) e na América do Sul (PAHO, 2002; PAHO, 2004; TAIUL, 2005). Apesar das maciças campanhas de vacinação (desde 1940) nestes dois continentes, o cenário epidemiológico que vem se apresentando nos últimos 20 anos indica que a doença vem ressurgindo e se espalhando por locais no mundo, de onde havia desaparecido. (MASCHERETTI, 2013; BRIAND, et. al., 2009; JOHANSSON, et. al., 2012). Compreender as diferentes manifestações espaciais da febre amarela inclui ter conhecimento das características do vírus, dos reservatórios, dos vetores, do hospedeiro e do meio ambiente, não podendo ser descartada a importância da ação humana na produção e na dinâmica da dispersão complexa da doença (SIMPSON, 1996; MONATH, 2006). O vírus da febre amarela é o protótipo da família Flaviviridae, família de outros vírus responsáveis por causar doenças no homem, de impacto em saúde pública, como o vírus da Dengue, Vírus do Nilo Ocidental, Rocio e a Encefalite de Saint Louis (BRIANT, HOLMES, BARRETT, 2007; VASCONCELOS, 2003, 2010; MONATH, 1996). A família Flaviviridae atualmente contém cerca de 70 vírus, a maior parte deles transmitidos por artrópodes (VASCONCELOS, 2003; REITER, 2010). 11 Seu genoma é constituído de RNA de fita simples não segmentado, de polaridade positiva e com aproximadamente 11 kb de comprimento. O genoma completo possui 10.862 nucleotídeos que codificam 3.411 aminoácidos (RICE et. al 1985; VASCONCELOS 2003; WANG et. al 1996; CHAMBERS et. al 1990; ZANOTTO et. al 1996). O vírion mede cerca de 25-40nm de diâmetro e é envolvido pelo envoltório bilaminar de natureza lipoprotéica, conhecido como envelope e que é originário da célula hospedeira (VASCONCELOS 2003). A partícula íntegra mede cerca de 4050nm (CHAMBERS et al 1990; RICE et al 1985). A região ORF do RNA viral expressa a síntese de três proteínas estruturais (prM, E e C) e sete não estruturais (NS1, NS2A, NS2B, NS3, NS4A, NS4B e NS5) (VASCONCELOS 2003). As proteínas estruturais codificam a formação da estrutura básica da partícula viral; a proteína prM codifica o precursor da proteína da membrana (M), a proteína E dá origem ao envelope, enquanto a proteína C codifica a formação do capsídeo viral. São a essas proteínas que o organismo humano responde durante uma infecção, com a produção dos anticorpos inibidores da hemaglutinação (IH) contra as glicoproteínas do envelope e neutralizantes (N) contra a proteína C do capsídeo (ZANOTTO et. al 1996). Por outro lado, as proteínas não estruturais são responsáveis pelas atividades reguladoras e de expressão do vírus, incluindo replicação, virulência e patogenicidade (CHAMBERS et. al 1990; VASCONCELOS 2003). Embora apenas um sorotipo do vírus amarílico seja reconhecido, estudos de epidemiologia molecular revelaram que cepas do vírus da febre amarela isoladas na África e América do Sul são geneticamente distintas e estão associadas a diferentes regiões geográficas. Na África, cinco genótipos foram identificados: Oeste da África I, Oeste da África II, Leste da África, Centro e Leste da África, Angola (CHANG et al., 1995; WANG et al., 1996; MUTEBI et al., 2001). Na América do Sul dois genótipos foram encontrados: América do Sul I, que compreende cepas recuperadas do Brasil, Panamá, Colômbia, Equador, Venezuela e Trinidade e América do Sul II, encontrado em vírus isolados no Peru (WANG et al., 1996; BRYANT & BARRET, 2003). As pequenas alterações genéticas entre as cepas da América e da África permitem caracterizar dois e cinco genótipos, respectivamente, não se sabendo se um é mais 12 patogênico que o outro (BRIANT, HOLMES, BARRETT, 2007; VASCONCELOS, 2003, 2010; MONATH, 1996). A infecção pelo vírus da febre amarela pode produzir formas clínicas variando entre formas leves, com sintomas inespecíficos ou até mesmo inaparentes, e formas graves caracterizadas por infecção sistêmica, com comprometimento e lesões em órgãos alvos (fígado e encéfalo). Nas formas graves a letalidade da doença pode chegar a 46% (VERONEZI 1996). No homem, após a introdução na circulação pela picada do vetor, o vírus atinge os linfonodos regionais em poucas horas e desaparece da circulação nas 24 horas seguintes. Nos linfonodos, o vírus amarílico infecta preferencialmente células linfoides e macrófagos, realizando o ciclo replicativo (VERONEZI 1996). Posteriormente, as partículas virais liberadas pelas células linfóides são levadas pelos vasos linfáticos à corrente sanguínea, iniciando o período de viremia, e por essa mesma via atinge o fígado. A lesão nos hepatócitos é caracterizada principalmente por necrose de coagulação hialina, com pouco processo inflamatório (VERONEZI 1996). Algumas vezes não se encontram células inflamatórias, especialmente nas áreas onde a apoptose mostra-se mais evidente (MONATH 2001). O quadro hepático típico, com corpúsculos de Councilman-Rocha Lima e necrose médio-zonal, constitui-se em evento tardio, tornando-se evidente nas 24 a 48 h que antecedem o óbito. (VASCONCELOS 2003). A apresentação clínica varia de acordo com a viremia, esta pode ser de algumas horas até dois dias nas formas frustras e leves, e de cinco a sete dias nas formas mais graves (VERONEZI 1996). A duração da viremia coincide com o início do período prodrômico da enfermidade, quando ocorre principalmente a febre, e constitui a fase em que o sangue humano torna-se infectante para os vetores (MONATH 2001; VASCONCELOS 2001, VERONEZI 1996). O quadro clínico típico é caracterizado por manifestações de insuficiência hepática e renal, tendo em geral apresentação bifásica, com um período inicial prodrômico (infecção) e um toxêmico que surge após uma aparente remissão e, em muitos casos, evolui para óbito em aproximadamente uma semana (VERONEZI 1996; MONATH 2001, MINISTÉRIO DA SAÚDE 2005). 13 O período de infecção dura cerca de três dias, tem início súbito e sintomas gerais como febre, calafrios, cefaleia, lombalgia, mialgias generalizadas, prostração, náuseas e vômitos. Após os primeiros sintomas, a doença pode ter um período de remissão, que caracteriza-se pelo restabelecimento da temperatura normal e diminuição dos sintomas, provocando uma sensação de melhora no paciente. Dura poucas horas ou no máximo um a dois dias (FIGUEIREDO 2006, VERONEZI 1996). Após a aparente melhora do paciente, ocorre o período toxêmico da doença, onde reaparecem a febre, a diarreia e os vômitos com aspecto de borra de café. É nessa fase onde ocorre a insuficiência hepato-renal, caracterizada pela icterícia, oligúria, anúria e albuminúria, acompanhada de manifestações hemorrágicas (gengivorragias, epistaxes, otorragias, hematêmese, melena, hematúria, sangramentos em locais de punção venosa) e prostração intensa, além de comprometimento do sistema nervoso central, com obnubilação mental e torpor, evoluindo para o coma e morte. O pulso torna-se mais lento, apesar da temperatura elevada. Essa dissociação pulso-temperatura é conhecida como sinal de Faget, sinal clássico da doença (MONATH 2001; VASCONCELOS 2003; BARRET & HIGGS 2007; FIGUEIREDO 2006, VERONEZI 1996). 1.1 A febre amarela no mundo A forma silvestre é endêmica em regiões tropicais da África e das Américas. Casos da enfermidade tem sido reportados entre os paralelos 12°N e 12°S (VASCONCELOS,2003; BRIAND, 2010). Mais de 46 países localizados nestes dois continentes possuem áreas de risco de transmissão da doença (VASCONCELOS et. al., 1999; BRASIL, 2010). É no continente africano onde se localizam mais de 90% dos casos notificados anualmente a OMS (MONATH, 2001, 2006). Nas Américas, entre os anos de 1970 e 2001, foram notificados 4.543 casos de febre amarela, na América do Sul, todos da forma silvestre. O Peru, com 2.341 casos (51,5%) e a Bolívia com 912 casos (20,1%) 14 são os dois países que mais reportaram casos. O Brasil ocupa o terceiro lugar com 849 casos (18,7%) notificados no período (PAHO, 2002, 2004; CDC 2000; BRASIL, 2010) Fonte: OMS, 2008. Figura1. Países com risco de transmissão da febre amarela no mundo, OMS 2008. 1.2 A febre amarela no Brasil São descritos dois padrões epidemiológicos distintos de transmissão da febre amarela no Brasil: o padrão silvestre ou da mata e o ciclo de transmissão urbana pelo Aedes aegypti (SIMPSON, 1996; VASCONCELLOS, 2010). O Brasil possui uma extensa área enzoótica para febre amarela silvestre, onde anualmente ocorrem casos da doença em indivíduos não vacinados que entram em contato com o ciclo natural de transmissão da doença (VASCONCELOS, 2003; BRASIL, 2010). Muitas epidemias são precedidas de epizootias em macacos, fato que frequentemente ocorre de maneira despercebida. Assim, a infecção do ser humano nãoimunizado ocorre de forma acidental, ao entrar em contato com este ciclo natural nas 15 áreas endêmicas com circulação viral (VASCONCELLOS, 2010; SARAIVA, et al., 2013). O ciclo silvestre se caracteriza pelos primatas não humanos (PNH) (macacos) atuando como fontes de infecção e hospedeiros habituais e o homem como hospedeiro acidental (MONATH, 1988; BRASIL, 2010). O ciclo silvestre se mantém entre primatas não humanos e mosquitos silvestres principalmente os pertencentes aos gêneros Haemagogus e Sabethes (BRASIL; 2014), que habitam as copas das árvores. Já no ciclo urbano o principal transmissor do vírus são os mosquitos do gênero Aedes e o homem atua como única fonte de infecção para estes vetores (TAUIL, 2005). Fonte: SVS, 2009. Figura 2. Ciclos de transmissão da febre amarela. Em intervalos cíclicos de cinco a sete anos, a febre amarela silvestre pode aparecer em surtos, consequentes a epizootias em macacos. Nestes animais, a doença distribui-se periodicamente em intervalos suficientes para o surgimento de novas populações suscetíveis (BRASIL, 1999, 2014; VASCONCELOS, 2003). 16 Embora ainda não se tenha clareza sobre a importância epidemiológica, existem evidências de que outros animais, como marsupiais arboreais, possam agir como hospedeiros durante ou após grandes epizootias que esgotem a população símia suscetível (BRASIL, 2014; VAN ROOSMALEN, 2002). No Brasil, a doença atinge mais frequentemente os indivíduos do sexo masculino, principalmente os maiores de 15 anos, sendo este o grupo de maior exposição profissional relacionada à penetração em ambientes silvestres das áreas endêmicas e de transição. Assim, a doença é observada com maior frequência nos meses de janeiro a abril, quando se observam elevados índices pluviométricos e de densidade vetorial, coincidindo com a época de maior atividade agrícola do país (VASCONCELOS, 2003; BRASIL, 2005). 1.3 Histórico no Brasil e no estado de São Paulo Entre as últimas décadas do século XIX e os primeiros anos do século XX, a febre amarela foi o agravo de maior importância e impacto para a saúde pública do país (LÖWY, 2006). É, em 1685, no Recife, de onde provêm os primeiros relatos confiáveis de uma doença que causava febre e o enfermo “botava ferrugem pela boca”. Nesta época, houve epidemias em Recife e outras cidades do Pernambuco, e a hipótese mais plausível é a de que um barco procedente de São Tomé, na África, com escala em São Domingos, nas Antilhas, onde grassava a enfermidade, tenha introduzido a doença no Brasil (BENCHIMOL, 1999; FRANCO, 1976). No ano seguinte foram relatados casos da doença na Bahia. Não existem mais evidências de ocorrência de epidemias no período colonial. Em 1849 a doença voltou a assolar a Bahia, onde casos foram registrados em diversas regiões litorâneas, transformando-se em enorme preocupação para as autoridades portuárias (BENCHIMOL, 1999; FRANCO, 1976). 17 No Brasil, nos anos de 1849 a 1861 a doença se propagou de norte a sul do País, eclodindo em quase todas as províncias do Império. A primeira grande a epidemia a atingir o sudeste do país foi registrada em 1849 no Rio de janeiro (BENCHIMOL, 1999; FRANCO, 1976). No estado de São Paulo o primeiro relato de surto da doença foi na cidade de Santos, provavelmente introduzida pelo porto da cidade. Então, a partir de 1850, a cidade foi constantemente atingida por surtos. Em todos os verões, a cidade sofria com “a reintrodução da doença trazida pelos tripulantes dos navios recém chegados" (TEIXEIRA, 2001; FRANCO, 1976). No ano de 1889, uma grande epidemia se instalou na cidade, seguindo em direção ao oeste do Estado, alcançando a cidade de Campinas, que sofreu com sucessivas epidemias em 1889, 1890, 1892, 1896 e 1897 (RIBEIRO, 1993). A partir dai a doença avançou sobre o interior do Estado, sendo registrados surtos em Araraquara (1895-1898) e em diversas cidades do oeste paulista (1898-1904) (TEIXEIRA, 2001; RIBEIRO, 1993). Em janeiro de 1901 Emílio Ribas deu início em Sorocaba, a primeira campanha contra o mosquito transmissor. Tinha como objetivo evitar a volta da doença que havia causado uma epidemia de dezembro de 1899 a junho de 1900 (FRANCO, 1976; LÖWY, 2006). Em 1942 foi registrado o último caso de febre amarela urbana no Brasil, no município de Sena Madureira no Acre (MONATH, 1988; LÖWY, 2006). Desde então a febre amarela silvestre permaneceu endêmica na Região Norte do país, registrando epidemias/epizootias em intervalos cíclicos de cinco a sete anos, e, esporadicamente na região centro-oeste e mais raramente na região Sudeste (BRASIL, 2005). Porém, desde 1998a doença voltou a ser registrada fora da área endêmica (RIBEIRO, 2009; BRASIL, 2009). Foi possível observar um aumento progressivo da área de circulação do vírus, com expansão da área de ocorrência de casos além da área enzoótica, de fronteira, de circulação viral. Assim, regiões não tradicionais de ocorrência da doença, confirmaram a ocorrência de casos, como os estados do Rio Grande do Sul, Paraná (BRASIL, 2005) e Minas Gerais (FILIPPIS et. al., 2002). 18 Após aproximadamente cinquenta anos sem registrar casos autóctones da doença (em 1953 havia sido relatado o último caso de febre amarela silvestre no Estado), no ano 2000 foram detectados dois casos autóctones de febre amarela silvestre na região de fronteira com o Mato Grosso do Sul, nos municípios de Santa Albertina e Ouroeste. Em 2003 foi registrada suspeita de epizootia por febre amarela em Miguelópolis, porém, esta não teve seu diagnostico esclarecido, pois quando as carcaças de primatas foram encontradas, já estavam em avançado estado de decomposição, impossibilitando o diagnóstico etiológico (TEIXEIRA, 2001; BRASIL, 2008; BRASIL, 2009; MASCHERETTI, 2013; ROCCO, 2003). 1.4 Sistema de vigilância da febre amarela no Brasil e no estado de São Paulo Até 1999 a vigilância da febre amarela era baseada exclusivamente na ocorrência de casos humanos. A partir daquele ano, com a observação da ocorrência de epizootias em vários municípios de Tocantins e Goiás e com o subsequente aparecimento da doença nas populações humanas, tais eventos passaram a ser considerados como sinalizadores de um potencial risco (evento sentinela) de febre amarela silvestre (BRASIL, 2005). Com o intuito de ampliar a eficiência da vigilância dos casos de febre amarela bem como das epizootias, foi implantado o sistema de notificação e investigação das epizootias de primatas não humanos, visando à detecção precoce da circulação do vírus e possibilitando uma eficiente resposta dos órgãos de saúde pública (BRASIL, 2014; BRASIL, 2005). Este sistema tem se mostrado eficiente, detectando a circulação do vírus amarilico antes mesmo da ocorrência de casos humanos. Todos os anos são notificadas epizootias (notificadas pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde), possibilitando assim adoção de medidas que vem evitando a ocorrência de surtos da doença na população humana (BRASIL, 2008; BRASIL, 2014). 19 Caso humano Caso de PNH suspeito Vigilância laboratorial ¹ suspeito Vigilância Epidemiológica ² Caso confirmado Avaliação Eco- Inquérito epidemiológica¹,²,³ Entomológico ³ Definição do Local Provável de Infecção Controle de Vetores Urbanos ³ Definição dos municípios com Recomendação de vacinação contra , , ,4 FA ¹ ² ³ Bloqueio Vacinal casa-casa4 Campanha de vacinação4 * Figura 3. Fluxograma da vigilância de febre amarela no estado de São Paulo, 2014. *Quando a cobertura vacinal da população do município for menor do que 100% (1 – Instituto Adolfo Lutz (IAL); 2 – Divisão de Zoonoses / Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”(CVE), Vigilância Epidemiológica Macroregional e Municipal; 3 –Superintendência de Controle de Endemias – SUCEN; 4 – Divisão de Imunizações (CVE).) 20 A partir da notificação de um caso suspeito (humano ou em PNH) são ativadas: a vigilância laboratorial para diagnóstico laboratorial e confirmação do caso; investigação epidemiológica, para definição de local provável de infecção e comprovação da autoctonia do mesmo (BRASIL, 2011). Com a confirmação laboratorial do caso, são desencadeadas: a avaliação ecoepidemiológica e o inquérito entomológico para caracterização do potencial epidemiológico dos locais prováveis de infecção e delimitação da área de risco para transmissão da febre amarela silvestre (BRASIL, 2011). Assim que é confirmado um caso (humano ou em primatas não humanos), é recomendada uma avaliação da cobertura vacinal da área, além de bloqueio vacinal, casa a casa, em zona rural situada até 30 km do local provável de infecção. São realizadas também intensificação da vacinação em zonas urbanas localizadas dentro deste raio. A delimitação da área de recomendação de vacinação pode ser expandida de acordo com vulnerabilidade de populações residentes próximas mesmo que localizadas fora deste raio predefinido (BRASIL, 2011). A cobertura vacinal das áreas com recomendação de vacina amarílica preconizada pelo ministério da saúde - Programa Nacional de Imunização (PNI)- é de 100% da população. Até 2008, eram admitidas três áreas epidemiológicas de risco da febre amarela: área endêmica, área de transição (também conhecida como epizoótica ou de emergência) e área indene (COSTA et al., 2002; BRASIL, 2001; BRASIL, 2005). A área endêmica incluía as regiões Norte, Centro Oeste e o Estado do Maranhão. Essa área correspondia a mais de 2/3 do território nacional, onde vivia uma população aproximada de 30 milhões de habitantes (BRASIL, 2008; VASCONCELOS, 2003). Na área endêmica estima-se que cerca de 95% da população já tenha sido vacinada contra a febre amarela (VASCONCELOS, 2003). Estimativas similares de cobertura vacinal são observadas na área de transição. Já na área indene, a cobertura vacinal se mantém baixa ou praticamente nula (COSTA et. al., 2002; BRASIL, 2014). Com o significativo aumento na ocorrência e circulação do vírus da febre amarela, a área epizoótica aumentou, passando a incluir além da parte ocidental de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, classicamente consideradas áreas de risco, as partes ocidentais dos 21 Estados do Piauí e Bahia no Nordeste, Santa Catarina e Rio Grande do Sul na região Sul (BRASIL, 2008; BRASIL 2005). Fonte: SVS, 2009 Figura 4. Expansão das áreas de recomendação da vacina de febre amarela. Brasil, 2000 a 2009. O caráter dinâmico da doença vem exigindo análises periódicas. No final de 2008, a ocorrência da doença em locais onde a vacina não era recomendada fez com que o Ministério da Saúde realizasse uma nova avaliação, onde as áreas denominadas endêmicas, de transição e indene foram reclassificadas a partir desde ano em apenas duas áreas epidemiologicamente distintas: área com recomendação da vacina (ACRV), (com comprovada circulação do vírus) e área sem recomendação da vacina (ASRV) (BRASIL, 2009; BRASIL 2014; MASCHERTI et al., 2013). 22 Fonte : SVS, 2009 Figura 5. Distribuição das áreas com e sem recomendação da vacina de febre amarela. Brasil, 2009. Ao monitorar intensamente as áreas suspeitas o sistema visa a detecção precoce dos casos, possibilitando medidas rápidas e eficientes no controle da doença, além de ampliar o alerta de vacinação das populações sob risco (BRASIL, 2009b; BRASIL; 2014) 23 1.5 Vacina Os estudos para viabilização da vacina contra febre amarela só avançaram a partir do isolamento do seu agente etiológico, em 1927, por pesquisadores do Pasteur Institute, no Senegal e Rockefeller Comission Laboratory, na Nigéria (MONATH, 2004; LÖWY, 2006). A proteção através da vacina só se tornou possível a partir de 1930 e constitui até hoje, o método mais importante para controlar a doença (CAMACHO et al., 2004). A vacinação contra a febre amarela no continente africano foi iniciada nos anos 40, com a cepa viral da linhagem francesa. No Brasil, a vacinação foi instituída no mesmo período, porém, a cepa 17D foi a eleita para utilização(MONATH, 2004; BENCHIMOL, 1999). Durante as décadas de 1950 e 1960, dúvidas sobre a segurança da vacina produzida com a cepa francesa surgiram, pois foi detectada alta incidência de doença neurotrópicapós-vacinal em crianças imunizadas com esta variante. A produção e uso desta vacina cessaram em 1982 (MONATH, 2004). Todas as vacinas contra febre amarela utilizadas atualmente derivam da cepa do vírus da febre amarela 17D. Durante a fase inicial de sua produção nos Estados Unidos e no Brasil, duas grandes linhagens da cepa foram criadas e utilizadas para a produção da vacina (cepas 17D-204 e 17D respectivamente) (BARRETT, 2009; MONATH, 2004;BENCHIMOL, 2001). A Organização Mundial de Saúde recomenda atualmente a utilização das subcepas 17D e 17DD, que possuem pequenas variação nos controles de sequências dos nucleotídeos virais, e nos níveis de passagens em séries,através do sistema de “lote de sementes”. Este sistema foi adotado a partir da década de 1940, e buscava minimizar alterações indesejadas nas propriedades biológicas da vacina. Os anticorpos protetores induzidos pela vacina são correlacionados com resistência a infecção, e têm longa duração, possivelmente persistindo durante toda a vida (CAMACHO et al, 2004; MONATH 2004). A vacina 17D passou a ser utilizada na rotina para viajantes e residentes de zonas endêmicas, assim, mais de 540 milhões de pessoas já receberam doses do 24 imunobiológico, que foi considerado durante muitos anos como uma das vacinas mais efetivas já produzidas ( MONATH, 2004; BARRETT, 2009). Produzida no Brasil desde 1937, primeiramente pelo Instituto Oswaldo Cruz e, posteriormente, pelo instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos, a vacina de linhagem 17D é cultivada em ovos embrionados “Specific Pathogen Free” de galinha, constituída por vírus vivos atenuados, derivados de uma amostra africana do vírus selvagem, denominada Asibi (BENCHIMOL, 1994; BRASIL, 2008). A vacina 17D é efetiva contra todos os genótipos do vírus da febre amarela, sendo eficaz nos dois continentes onde a doença é endêmica. Existem sete fabricantes da vacina em todo o mundo, porém, somente três países, Brasil, França e Senegal produzem quantidades suficientes para serem utilizadas no Programa de Imunização Estendido (Expand Program Immunization- EPI), ou em vacinações de emergência (MONATH, 2008, OMS, 2008). 1.6 Eventos adversos relacionados a vacina de febre amarela Como bem sucedido controle, em vários países, de algumas doenças transmissíveis, principalmente as imunopreveníveis, baseados em exitosos programas de vacinação, uma situação delicada surge: a ocorrência de eventos adversos pósvacinação (EAPV). Complicações associadas à administração dos imunobiológicos se tornam mais evidentes, já que a percepção do risco de adoecer se torna menor (WALDMAN et al., 2011; WHO, 1997). No Brasil, o sistema de notificação de eventos adversos pós vacinação foi implantado no ano 2000, com o propósito de avaliar sistematicamente os riscos advindos da vacinação, e, sendo este sistema passivo, o número de notificações pode subestimar a incidência, principalmente para as formas não graves (BRASIL, 2008; WALDMAN et al., 2011). 25 Embora anteriormente considerada como uma das vacinas de vírus vivo atenuado mais segura a 17DD pode induzir efeitos adversos após sua administração, classificados em leve, moderado ou grave (MONATH, 2008; BRASIL 2008). Os sintomas leves, incluem dor local, inflamação, cefaleia de fraca intensidade, mialgia, dor lombar e elevação transitória de transaminases, que costumam ocorrer entre 2 e 11 dias após a vacinação. A anafilaxia secundária à vacina contra febre amarela é outro aspecto relevante, sendo usualmente atribuída à alergia ao ovo ou à gelatina utilizada em sua produção (CAMACHO ET AL, 2004; BRASIL, 2008). São descritos basicamente dois eventos adversos graves relacionados à vacina, a doença neurotrópica e a doença viscerotrópica. A primeira é descrita como a neuroinvasão do vírus atenuado, causando um quadro de encefalite grave. Já o quadro viscerotrópico causa uma infecção sistêmica, e tem curso semelhante ao da doença silvestre na sua forma grave, com taxas de 60% de letalidade (BARRET e TEWEN, 2009; BRASIL, 2008). O quadro viscerotrópico vem sendo mais estudado desde 2001, quando relatórios publicados indicaram que a vacina pode causar uma doença multissistêmica grave (YEL- AVD), muitas vezes fatal, que se assemelha à doença que a vacina deveria impedir (STEPHEN; 2014; MARTINS, 2014; ENGEL et al, 2014). O sequenciamento genético dos vírus recuperados de pessoas com YEL-AVD é idêntico ao das cepas vacinais correspondentes. Isso sugere que a YEL-AVD parece estar mais relacionada às condições do hospedeiro, que não é capaz de controlar a replicação do vírus vacinal, do que às mutações do vírus vacinal (HAYES, 2010). Grupos de risco potenciais para YEL- AVD incluem homens idosos, mulheres entre as idades de 19 e 34 anos, pessoas com uma variedade de doenças autoimunes, indivíduos que foram timectomizados por causa de timoma, lactentes e crianças ≤11 anos (BRASIL, 2008; HAYES, 2010). Cerca de 77% (49/64) dos casos conhecidos e 76% (32/42) das mortes são observados nos grupos de risco conhecidos. A taxa de letalidade global é de 66% (42/64) com uma taxa de 80% (12/15) em mulheres jovens, em contraste com 50% 26 (13/26) em homens ≥56 anos de idade (STEPHEN; 2014; MARTINS; 2014; HAYES, 2010). De acordo com os dados do sistema de notificações de eventos adversos houve 1.994 efeitos adversos à vacina contra febre amarela reportados no período de 20002008, quando 101.564.083 doses da 17DD foram aplicadas (BRASIL, 2008). Os eventos adversos à vacina ocorrem com maior frequência após a administração da primeira dose. Houve 0,023 casos de choque anafilático, 9 casos de hipersensibilidade e 0,84 episódios de YEL-AND a cada 1.000.000 de doses aplicadas. Foram identificados 26 casos de doença viscerotrópica (BRASIL 2008; OLIVEIRA et al, 2013). Em campanhas de imunização em massa, a frequência de notificações de eventos adversos pós vacinação, associadas à vacina contra febre amarela, tem sido maior do que na rotina, particularmente em áreas onde a vacina não era aplicada anteriormente. Inúmeros relatos ao Programa Nacional de Imunização e ao produtor da vacina contra febre amarela têm revelado que eventos adversos podem ser decorrentes de problemas técnicos e vacinação de indivíduos com contra indicação para a vacina, que podem expor os vacinados a um risco maior de eventos adversos (BRASIL, 2008). 27 Evento adverso pós vacinação (EAPV) Manifestações locais Manifestações gerais Descrição Dor, eritema e enduração por 1 a 2 dias Tempo entra a vacinação e o EAPV 1-2 dias Febre, mialgia e cefaléia. A partir do 3° Sintomas leves dia por 1-2 dias Urticária, sibilos laringoespasmo Hipersensibilidade edema de lábios, hipotensão e choque Encefalite Febre, meningismo, convulsões e torpor Doença Viscerotrópica Aguda Síndrome icterohemorrágica Menos de 2 horas 7-21 dias primeiros 10 dias Frequência ~4% Conduta Observação Notificar abscessos, lesões extensas ou com nãocontraindica limitação de revacinação movimentos e casos não graves Notificar e investigar <4% (menor aglomerados de Buscar casos em em casos, não contra não vacinados revacinados) indica revacinação 2/1.000.000 Notificar Revacinação contra indicada 1/22.000.000 Notificar e investigar também outras síndromes neurológicas graves Revacinação contra indicada <1/450.000 Notificação imediata e coleta urgente de amostras Revacinação contra indicada Fonte: SVS, 2008 Quadro 1. Eventos adversos pós-vacinação contra febre amarela 28 1.7 Surtos recentes no Brasil e estado de São Paulo A partir 1998 a doença voltou a eclodir pelo país. Foram detectados focos da doença em áreas até então consideradas indenes e a ocorrência de surtos nos estados do Pará, Tocantins e no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, em 2000. Desde então, há relatos de transmissão nos estados do Acre, Amazonas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Tocantins e no Distrito Federal (RIBEIRO, 2009; BRASIL, 2009). A ocorrência da febre amarela silvestre se expande entre 2008 e 2009 a vários estados e áreas do país consideradas indenes, alarmando os órgãos de saúde. Essa situação passou a ser caracterizada como uma emergência de saúde pública nacional (ESPIN), baseado no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI-2005) (BRASIL, 2009b). Na mesma época em que ocorriam epizootias em São Paulo, estes eventos também estavam ocorrendo no Rio Grande do Sul. Embora o alerta inicial para uma possível reemergência da febre amarela tenha sido dado em outubro de 2008, quando foram comunicadas e diagnosticadas as primeiras epizootias, casos humanos só aconteceram em dezembro de 2008, se estendendo até a semana epidemiológica 16 (25 de Abril), sendo os últimos casos registrados nas áreas agora consideradas de transição em São Paulo e Rio Grande do Sul (BRASIL 2008b; BRASIL 2009a). Ainda haveria mais casos confirmados, porém em regiões consideradas endêmicas, em Minas Gerais e Mato Grosso, nas semanas epidemiológicas 21(18 a 24/05/2008), 34(17 a 23/08/2008) e 37 (07 a 13/09/2008) respectivamente (BRASIL 2008a; BRASIL2009a,b; RIBEIRO, 2009). Os casos humanos autóctones de febre amarela silvestre em território paulista ocorreram preponderantemente até os primeiros anos da década de 1950. Após um longo período sem registro de casos no estado, dois casos autóctones ocorreram no ano de 2000, tendo os municípios de Santa Albertina e Ouroeste, localizados na região de Jales (Noroeste do estado), como locais prováveis de infecção (BRASIL, 2009b; ROCCO et al., 2003; MORENO et al., 2009). 29 Nas regiões noroeste e sudoeste do estado de São Paulo, a vacinação contra a febre amarela era recomendada na rotina desde 1986, já que a região faz fronteira com outros estados de comprovada circulação viral. Entretanto, a febre amarela silvestre expandiu seu território progressivamente; podendo-se observar um aumento gradual de casos próximos das fronteiras tradicionais da zona endêmica (BRASIL, 2014; ROCCO, 2003; COIMBRA T.L. 2003; MORENO E.S, 2008; MASCHERETI, 2013). Em 2003 foi implantada a vigilância passiva de óbitos de primatas não humanos no estado, em parceria com os Centros de Controle de Zoonoses municipais, Secretarias Municipais de Saúde, Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN), policia ambiental e faculdades de medicina veterinária. Entre 2004 e 2007, não foi registrada a ocorrência de morte de primatas não humanos em São Paulo (BRASIL, 2014; MORENO et al., 2009). Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Centro de Vigilância Epidemiológica “Professor Alexandre Vranjac” Divisão de doenças transmitidas por artrópodes e zoonoses/Imunização, 2009. Figura 6. Expansão da área de recomendação de vacina de febre amarela no estado de São Paulo. São Paulo, 2010. 30 2. JUSTIFICATIVA Após aproximadamente meio século de silêncio epidemiológico, o Estado de São Paulo voltou a detectar casos autóctones da enfermidade. Apesar dos esforços para vacinar as populações em áreas consideradas de risco no estado, o vírus continuou a ampliar sua área de circulação. Assim, as áreas consideradas de risco, e consequentemente com recomendação da vacina, foram ampliadas na medida em que uma nova localidade era detectada com a presença do vírus da febre amarela. Nesta perspectiva, casos graves de reação à vacina, (que já fora considerada como uma das vacinas mais seguras de vírus vivo atenuado já formulada) (MONATH, 2008), surgiram, colocando em pauta a discussão do risco de adoecer por febre amarela X riscos atribuídos à vacinação. Tendo em vista a clara expansão da circulação do vírus da febre amarela no estado de São Paulo este estudo pretende descrever o comportamento da doença desde a sua reintrodução no estado, no ano 2000, assim como discutir formas de monitoramento da disseminação de infecção que permitam ao Sistema de Vigilância Epidemiológica uma atuação mais oportuna, sem necessariamente ampliar a área recomendada de vacinação no estado. 31 3. OBJETIVOS 3.1 Geral Estudar as condições que possibilitaram a ocorrência de novos surtos de febre amarela silvestre no estado de São Paulo no período de 2000 a 2010. 3.2 Específico Descrever e caracterizar os surtos humanos de febre amarela no estado de São Paulo no período de 2000 a 2010. Analisar a tendência das variáveis socioeconômicas e demográficas de interesse para a ocorrência de febre amarela nos municípios com circulação viral comprovada. Analisar a tendência das variáveis ecológicas relacionadas ao risco de circulação viral. Comparar as tendências observadas para as variáveis socioeconômicas, demográficas e ecológicas entre municípios com e sem circulação viral. 32 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Tipo de estudo Estudo descritivo utilizando dados secundários. 4.2 Local do estudo O estado de São Paulo possui 645 municípios distribuídos em uma área territorial de 248.209,3 km², o que representa 2,91% do território brasileiro. Detém a maior população do país, estimada em 44.035.304 habitantes (2014), dos quais 95,94% vivem em áreas urbanas. A densidade demográfica é de 166,23 habitantes por km² (IBGE 2014). 4.3 Caracterização dos surtos Fonte de Dados: As informações para o estudo foram obtidas por meio dos dados existentes referentes às investigações epidemiológicas dos casos e epizootias confirmados de febre amarela no estado de São Paulo, que estão disponíveis na Divisão de Zoonoses e Imunização do Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”, dados do Programa Nacional de Controle de Febre Amarela do Ministério da Saúde, dados de Vigilância Entomológica da Superintendência de Controle de Endemias do Estado de São Paulo (SUCEN). Os surtos foram descritos conforme ano de ocorrência, número de casos autóctones, letalidade, distribuição dos casos por sexo, faixa etária, condições da exposição ao vírus, critério de confirmação diagnóstica, local provável de infecção, situação vacinal, hospitalização, presença de epizootias de primatas não humanos e isolamento do vírus em vetores. 33 4.4 Grupos de estudo Para analisar as características demográficas, socioeconômicas e ambientais que poderiam estar associadas à circulação viral foram constituídos três grupos de municípios: Grupo 1-Municípios com comprovada circulação viral no Estado de São Paulo entre 2000 e 2010:Avaré, Bady Bassitt, Buri, Itapetininga, Itatinga, LuísAntônio, Mendonça, Nova Aliança, Ouroeste, Piraju, Santa Albertina, Sarutaiá, São Carlos, Tejupá e Urupês. Grupo 2-Municípios adjacentes aos municípios com comprovada circulação do vírus da febre amarela e que não apresentaram evidência de circulação viral: Angatuba, Arandu, Campina do Monte Alegre, Cerqueira César, Cravinhos, Fartura, Guatapará, Ibirá, Irapuã, Itaí, José Bonifácio, Mesópolis, Novo Horizonte, Paranapanema, Populina, Potirendaba, Sales, Santa Rita do Passa Quatro e Timburi. A seleção desses municípios seguiu metodologia adotada por Moreno e Barata (12) em estudo anterior. Grupo 3-Municípios localizados em área de recomendação da vacina, porém sem circulação do vírus da febra amarela na mesma região do Estado:Foram selecionados para fazer parte deste estudo municípios localizados no Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) XV- Bauru, pois esse se encontra entre quatro GVE´S com comprovada circulação viral (Ribeirão Preto e Araraquara em 2008, Botucatu e Itapeva em 2009), é área de recomendação de vacina, porém a cobertura vacinal nestas áreas manteve-se baixa a partir de 2000, e, apesar destas características, a área não possui registro de circulação do vírus:Arealva, Bocaina, Duartina, Guaiçara, Getulina, Itapuí, Iacanga, Jaú, Mineiros do Tietê, Piratininga e Torrinha. 34 Figura 7. Composição dos três grupos de estudo 35 4.5. Características socioeconômicas e demográficas dos municípios Fonte: Os dados sócio demográficos foram obtidos de fontes oficiais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Fundação SEADE. Variáveis: - População Masculina Rural economicamente ativa - Índice de desenvolvimento humano municipal (idhm) - Taxa de urbanização Análise: análise de variância ANOVA oneway segundo os grupos de municípios e os anos para as quais as informações eram disponíveis, com a correção de Bonferroni. As análises foram realizadas no programa STATA 13.2 4.6 Características ambientais dos municípios Escolha das Variáveis As variáveis foram selecionadas a partir dos resultados do estudo realizado por Moreno e Barata (2012) adaptadas a este estudo. Foram consideradas apenas as variáveis que nesse estudo anterior apresentaram significância estatística na comparação entre municípios com e sem circulação viral: distância para unidade de conservação, direção dos ventos dominantes, proporção de mata ciliar, distância para rota de tráfico de animais silvestres e umidade. Distância para Unidade de Conservação: Para cada município dos grupos de análise foi calculada, em quilômetros, à distância para a Unidade de Conservação da Biodiversidade do estado de São Paulo mais próxima. A medição de distancias foi realizada utilizando o software livre Terraview. Fonte de dados: Instituto Florestal de São Paulo – Base de dados georreferenciada do estado de São Paulo. Disponível na internet através do site: http://iflorestal.sp.gov.br 36 Direção dos ventos dominantes: Esta caracterização foi baseada na classificação dos ventos predominantes da região como oriunda ou não de local com registro de circulação do vírus da febre amarela. Estes dados foram categorizados em relação a sua direção. Assim, os municípios foram classificados em três níveis de acordo com angulação de seu ponto centróide em relação aos ventos predominantes oriundos dos três municípios mais próximos com comprovada circulação do vírus da febre amarela. Para cada angulação foi atribuída uma pontuação de 0 a 2que foi somada ao final e constituiu o escore final para classificação da variável. A figura ilustra a metodologia de classificação por angulação e o quadro 2 apresenta a pontuação: Figura 8. Metodologia de classificação de angulação do vento 37 Angulação Pontuação 60°-120° 2 0°-60°/121°-180° 1 >180 0 Pontuação Classificação 1-2 3-4 5-6 Pouca influência dos ventos Média influência dos ventos Alta influência dos ventos Quadro 2.Critérios para classificação do vento, segundo ângulo: Fonte de dados: Atlas do Potencial Eólico Brasileiro produzido pelo Centro de Referencia para Energia Solar e Eólico Sérgio de Salvo Brito (CRESESB) disponível através do site: http://www.cresesb.cepel.br/index.php?link=/atlas_eolico_brasil/atlas.htm Altitude: Para cada município dos grupos de análise foi pesquisada, em metros, a altitude máxima. Fonte de dados: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível na internet através do site: http://www.cidades.ibge.gov.br/ Proporção de mata preservada no município: Para cada município dos grupos de análise foi calculada, em hectares, a proporção de mata preservada no município. Foram utilizados os dados dos censos agropecuários de 1996 e 2006. Para poder realizar a comparação entre os dois censos, foi necessário padronizar algumas variáveis. No ano de 1996 a única variável existente era: “Mata Nativa e Plantada”, assim, foi necessário agrupar no censo de 2006 as seguintes variáveis: “Matas e/ou florestas naturais destinadas à preservação permanente ou 38 reserva legal”, “Matas e/ou florestas naturais (inclusive área de preservação permanente e as em sistemas agroflorestais)” e “Florestas plantadas com essências florestais”. Fonte de dados: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censos agropecuários 1996- 2006. Site: http://www.ibge.gov.br Distância para rota de tráfico de animais silvestres Para cada município dos grupos de análises foi calculada, em quilômetros, à distância para as rotas de tráfico de animais silvestres do estado de São Paulo. A medição de distancias foi realizada utilizando o software livre Terraview. Fonte de dados: foram utilizados dados referentes às principais rotas de trafego de animais de acordo com dados disponibilizados pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS). Site: http://www.renctas.org.br/ Umidade Foi criado indicador de umidade baseado na precipitação pluviométrica/evapotranspiraçãoreal (ETR). Foi construída uma série histórica da média da evapotranspiraçãoreal, entre os meses de novembro e maio (período de sazonalidade da doença) para cada município, referente a um período de 10 anos anteriores ao primeiro registro de circulação do vírus da febre amarela ou inclusão do mesmo em área com recomendação de vacinação contra febre amarela. A média referente a estes 10anos foi dividida pela media de precipitação pluviométrica. Fonte de Dados: Centro Integrado de Informações Meteorológicas do estado de São Paulo (CIIAGRO-SP). Site: http://www.ciiagro.sp.gov.br/sr_agromet.html. Análise estatística: a comparação entre os grupos foi feita através da análise de variância ANOVA oneway segundo os anos para as quais as informações eram disponíveis, com a correção de Bonferroni. As análises foram realizadas no programa STATA 13.2 39 4.7 Aspectos Éticos O projeto foi analisado e obteve parecer positivo da comissão científica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, não tendo sido submetido ao comitê de ética, considerando que serão utilizados apenas dados secundários e sem identificação dos indivíduos afetados. 40 5. RESULTADOS Artigo 1 : Surtos de febre amarela do Estado de São Paulo, 2000 a 2010 Artigo 2: Comparação de variáveis sociais, demográficas e ecológicas de municípios com e sem circulação comprovada de febra amarela no estado de São Paulo, 2000 a 2010. 41 Surtos de febre amarela no Estado de São Paulo, 2000 a 2010 Leila del CastilloSaad1,2 e Rita Barradas Barata2 1 – Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos serviços do Sistema Único de Saúde do estado de São Paulo (EPISUS-SP) / Mestrado Profissional em Saúde Coletiva – Faculdade de Ciências Medicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP). 2 – Departamento de Medicina Social - Faculdade de Ciências Medicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP). Resumo Introdução: Após aproximadamente cinquenta anos de silêncio epidemiológico o vírus da febre amarela foi novamente detectado e reemergiu no estado de São Paulo no ano 2000. Métodos: Estudo descritivo dos surtos de casos humanos, epizootias de primatas não humanos e isolamento de vírus em vetor de febre amarela no estado de São Paulo de 2000 a 2010. Resultados: Foram registrados três surtos de febre amarela silvestre no estado de São Paulo com 32 casos humanos e 15 óbitos. Todos os casos ocorreram em indivíduos não vacinados e que se expuseram a forma silvestre de transmissão da doença. Uma epizootia foi confirmada antes da circulação do vírus em humanos na Região de São José do Rio Preto e foi possível isolar o vírus duas vezes em vetores nos surtos registrados. Conclusões: Ocorreram três surtos de febre amarela silvestre no estado de São Paulo de 2000 a 2010, dois deles em área de transição e outro em área considerada indene. A vacinação e a manutenção de altas coberturas vacinais ainda parecem ser a forma mais eficaz de se prevenir a doença e a circulação viral. Descritores: Febre Amarela, epidemiologia, Surtos de Febre Amarela, Zoonoses, Epizootias, Vigilância Epidemiológica. Introduction: After about fifty years of epidemiological silence the yellow fever virus was detected again and re-emerged in São Paulo on the year 2000. Methods: A descriptive study of human cases, epidemics of non-human primates and isolation of yellow fever virus in some vectors in the State of São Paulo from 2000 to 2010. Results: We recorded three yellow fever outbreaks in the state of São Paulo with 32 human cases and 15 deaths. All cases occurred in unvaccinated individuals and that 42 exposed the wild form of disease transmission. An outbreak was confirmed before the circulation of the virus in humans in the region of São José do Rio Preto and it was possible to isolate the virus twice on the vectors in recorded outbreaks. Conclusions: There were three yellow fever outbreaks in the State of São Paulo from 2000 to 2010, two of them in the transition area and the other in an area considered harmless. Vaccination and maintaining high vaccination coverage still seem to be the most effective way to prevent disease and viral circulation. Descriptors: Yellow Fever, epidemiology, outbreaks of Yellow Fever, Zoonoses, Epizooties, Epidemiological Surveillance Introdução A Febre Amarela (FA) é uma doença infecciosa aguda, febril e hemorrágica não contagiosa que desde o século XVII é responsável por dizimar populações na América do Sul e África1,2. São descritos dois padrões epidemiológicos distintos de transmissão: o padrão silvestre ou da mata e o ciclo de transmissão urbana pelo Aedes aegypti2. O Brasil possui uma extensa área enzoótica para febre amarela silvestre, onde anualmente ocorrem casos da doença em indivíduos não vacinados que entram em contato com vetores e fontes de infecção do ciclo silvestre da doença3. O ciclo silvestre se mantém entre primatas não humanos e mosquitos silvestres, principalmente os pertencentes aos gêneros Haemagogus e Sabethes que habitam as copas das árvores3,4. Já no ciclo urbano o principal transmissor do vírus são os mosquitos do gênero Aedes e o homem atua como única fonte de infecção para estes vetores5. Atualmente, estima-se que em intervalos cíclicos de três a sete anos, a febre amarela silvestre pode aparecer em surtos, consequentes a epizootias em macacos. Nestes animais, a doença distribui-se periodicamente em intervalos suficientes para o surgimento de novas populações suscetíveis3. Após aproximadamente meio século de silêncio epidemiológico, o estado de São Paulo voltou a detectar casos autóctones da enfermidade6. Apesar dos esforços para vacinar as populações em áreas consideradas de risco no estado, o vírus continuou a 43 ampliar sua área de circulação7. Assim, as áreas consideradas de risco, e consequentemente com recomendação da vacina, foram ampliadas na medida em que uma nova localidade era detectada com a presença do vírus da febre amarela. Tendo em vista a clara expansão da circulação do vírus da febre amarela no estado de São Paulo este estudo pretende descrever o comportamento da doença desde a sua reintrodução e detecção no estado de São Paulo, no ano 2000. Métodos Estudo descritivo com dados secundários realizados no estado de São Paulo. O estado de São Paulo possui 645 municípios distribuídos em uma área territorial de 248.209,3 km², o que representa 2,91% do território brasileiro. Para as ações de vigilância, o território do estado de São Paulo está dividido em 27 Grupos de Vigilância Epidemiológica. Para efeito da vigilância epidemiológica da febre amarela no estado, a ocorrência de um único caso autóctone da doença já é caracterizada como surto, desencadeando as medidas de contenção preconizadas, isto é, avaliação ecoepidemiológica e avaliação entomológica. As informações para o estudo foram obtidas por meio dos dados existentes referentes às investigações epidemiológicas, realizadas pelos técnicos das vigilâncias estaduais e municipais, dos casos humanos e epizootias confirmados de febre amarela no estado de São Paulo, que estão disponíveis na Divisão de Zoonoses e Imunização do Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”. Resultados: De 2000 a 2010 o estado de São Paulo registrou três surtos de febre amarela silvestre autóctone. Foram registrados 32 casos, com letalidade global de 46,6 % (tabela 1 e 2). A doença acometeu preponderantemente homens com idade entre 15 a 59 anos, 44 todos os casos ocorreram em não vacinados e que se expuseram à forma silvestre de transmissão da doença (tabela 1 e 2). Tabela 1. Distribuição dos Surtos de febre amarela, segundo ano de ocorrência, número de casos, óbitos e letalidade. Estado de São Paulo, 2000 a 2010. Casos Óbitos Letalidade n(%) n (%) (%) 2000 2 (6,2) 2 (13,3) 100,0 2008 2 (6,2) 2 (13,3) 100,0 2009 28 (87,5) 11 (73,3) 39,3 Total 32 (100) 15 (100) 46,8 Ano de ocorrência dos surtos Em março do ano 2000 a Secretaria Estadual de Saúde recebeu notificações de febre amarela de transmissão silvestre na região noroeste do Estado nos municípios de Santa Albertina e Ouroeste, localizados às margens do Rio Grande, duas destas, com provável transmissão autóctone. Os pacientes, com idades de 43 e 44 anos eram do sexo masculino e residiam em Dolcinópolis e Ribeirão Preto respectivamente. Os dois indivíduos eram não vacinados e desenvolveram a forma grave da doença, evoluindo ao óbito 10 e 5 dias respectivamente após o início dos sintomas. O critério de confirmação da doença foi o laboratorial, com positividade na avaliação pelo exame imunohistoquímico realizados pelo laboratório de referência do estado, o Instituto Adolfo Lutz (IAL) (tabela 2). Uma investigação epidemiológica foi realizada nos locais prováveis de infecção, e foi observado que nos dois casos existiam relatos de pescaria às margens do Rio Grande, na divisa com os estados de Minas Gerais e Goiás. Foi realizado inquérito sorológico das populações ribeirinhas em 13 municípios localizados às margens do Rio Grande. A avaliação entomológica foi realizada através da captura de mosquitos, no município de Santa Albertina. Não foram encontrados 45 primatas não humanos mortos ou doentes na região. Seis amostras tiverem resposta monotípica para o vírus da febre amarela e não foi possível isolar o vírus a partir de vetores7 (tabela 2 e mapa 1). Mapa 1. Detecção de circulação do vírus da febre amarela no estado de São Paulo, 2000 a 2010. O estado ampliou as áreas de recomendação da vacina após a reintrodução do vírus nesses dois municípios. A partir de 2001, 277 municípios entraram na área de recomendação, abrangendo 9GVE´s (mapa 2). Em 2003 foi implantada em parceria com os Centros de Controle de Zoonoses Municipais, Secretarias Municipais de Saúde, Superintendência de Controle de Endemias, Polícia Ambiental e Faculdades de Medicina Veterinária, a vigilância passiva de óbitos de primatas não-humanos (PNH) na área considerada de transição para risco de transmissão de febre amarela no estado. 46 Entre 2004 e 2007, não foi registrada a ocorrência de morte de primatas nãohumanos no estado. Em 2008, no período de janeiro a junho, foi registrada, em área de transição para febre amarela, a morte de 140 macacos, e foi possível realizar investigação laboratorial em 96 (68,6%) amostras no IAL. A positividade nas amostras de macacos provenientes dos municípios de Mendonça, Nova Aliança e Urupês (14/01/2008; 18/02/2008e 18/02/2008 respectivamente), confirmou por critério laboratorial, a ocorrência de epizootia pelo vírus da febre amarela na região de São José do Rio Preto8,9. Além destas epizootias, foi confirmado, por critério clinicoepidemiológico, caso de morte de primata não humano, por febre amarela, em Bady Bassitt, outro município localizado na mesma região8,9,10. Após a confirmação do diagnóstico etiológico, foram delimitados, a partir de um raio de 30 quilômetros de onde foram encontradas as carcaças dos primatas, 13 municípios prioritários para as ações de prevenção e controle da doença. Além da intensificação da vacinação, já que os municípios que registraram as epizootias estavam dentro da área de recomendação da vacina desde 2001, (após a reintrodução do vírus no Estado), foram desenvolvidas ações em três fases: vacinação e busca de sintomáticos casa a casa, em áreas rurais e urbanas, ampliação da área de recomendação da vacina para 16 municípios, com inclusão de São José do Rio Preto e avaliação da cobertura vacinal dos demais municípios do Grupo de Vigilância Epidemiológica8,9,10. Essas ações aparentemente foram capazes de evitar a ocorrência de casos humanos neste período mostrando a importância da vigilância de epizootias. Em abril e maio de 2008 dois casos humanos autóctones da doença foram notificados na região de Ribeirão Preto. Residentes em Cravinhos e Luís Antônio, os dois casos eram do sexo masculino, tinham 39 anos, não vacinados e haviam se exposto a atividades de risco (pescaria). Os dois pacientes apresentaram a forma grave da doença, evoluindo ao óbito 5 e 4 dias respectivamente após o início dos sintomas9. O primeiro a apresentar sintomas foi o residente em Cravinhos, que teve como local provável de infecção a estação ecológica de Jataí, no município de Luís Antônio. Iniciou os sintomas em 22/04/2008 e foi a óbito em 26/04/2008. Residente no município de São Carlos, o segundo caso iniciou os sintomas em 23/05/2008 e evoluiu a óbito em 26/05/2008. Assim como o primeiro caso, este também esteve na área rural de São Carlos, divisa com o município de Rincão, próximo ao rio Mogi-Guaçu e à Reserva 47 Ecológica Estadual de Jataí. O critério de confirmação da doença foi o laboratorial, sendo os dois casos positivos no exame imunohistoquímico realizado pelo laboratório de referência do Estado, o Instituto Adolfo Lutz (tabela 2). A positividade das amostras laboratoriais confirmou a circulação do vírus, e desencadeou uma investigação epidemiológica, onde foram coletadas amostras de humanos, macacos e vetores (Tabela 3). Durante as investigações, um inquérito sorológico foi realizado com 128 amostras humanas, provenientes dos municípios de São Carlos, Rincão e Ribeirão Preto, (próximas aos locais prováveis de infecção) e mais 10 amostras de comunicantes dos pacientes. Três amostras foram positivas para pesquisa de anticorpos para o vírus da febre amarela, quatro macacos testados tiveram diagnóstico positivo e foi possível isolar o vírus de mosquitos provenientes de Urupês. (tabela 3 e mapa 1)8,9,10. Essa expansão da circulação viral resultou na ampliação das áreas com recomendação de vacinação para residentes e viajantes. Em 2008, o Estado incluiu mais 62 municípios na área de recomendação da vacina, nos GVES de Araraquara e Bauru9,11,12(mapa 2). No ano de 2009 a doença apresentou caráter epidêmico, de fevereiro a abril foram notificados 138 casos humanos suspeitos na região de Botucatu, este evento foi considerado com uma Emergência de Saúde Pública de importância Internacional (ESPIN), de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI2005). Dos casos investigados, 110 foram descartados e 28 confirmados em cinco municípios da região (Sarutaiá, Piraju, Avaré, Buri e Tejupá), todos localizados fora da área de recomendação de vacina11,13,14. Dos casos registrados, 11 evoluíram para óbito, com mediana de 7 dias entre a data de início de sintomas e o óbito (letalidade 39,3%). Os locais prováveis de infecção dos casos confirmados foram áreas rurais dos municípios de Sarutaiá, Piraju, Tejupá, Avaré e Buri. Dez casos ocorreram em trabalhadores rurais que desempenhavam atividades em mata e 18 em indivíduos que realizaram atividades de lazer. Entre os 28 casos confirmados, 18 (64,3%) eram do sexo masculino. A idade variou entre três dias de vida e 52 anos 11,13. 48 O critério de confirmação dos 28 casos está descrito na tabela 2. Em apenas um caso não foi possível realizar os exames, sendo confirmado por critério clínicoepidemiológico11. Os casos confirmados apresentaram sintomatologia leve, moderada ou grave; dos casos confirmados, 50,0% preenchiam o critério de febre, icterícia e/ou hemorragia, e 71% foram hospitalizados. A epidemia foi acompanhada pela identificação de 90 eventos envolvendo morte de primatas não humanos no período, totalizando 147 animais. Amostras de dois animais, provenientes dos municípios de Buri e Itapetininga, foram confirmadas laboratorialmente para febre amarela. Além dos animais, foi possível isolar o vírus em vetores provenientes do município de Buri11, 13,14,15,16. A comprovação da circulação do vírus da febre amarela em Avaré, Buri, Itapetiniga, Piraju, Sarutaiá e Tejupá no estado de São Paulo resultou, mais uma vez, na ampliação da área de recomendação de vacinação no Estado. A partir deste ano foram incluídos mais 49 municípios com recomendação da vacina, englobando mais 5GVE´s (mapa 2)11,12,14,16. As ações de vacinação tiveram início imediatamente após a confirmação do primeiro caso em Sarutaiá e foram ampliadas para áreas de provável circulação viral. Um total de 1.018.705 doses de vacina foi aplicado, atingindo cobertura vacinal de 86,8% de março a abril. Durante esta campanha de vacinação, foram confirmados três casos de doença neurotrópica aguda, um caso de hipersensibilidade imediata, todos com evolução para cura, e cinco casos de doença viscerotrópica aguda que evoluíram para óbito, aproximadamente 1 óbito para cada 200 mil doses e 1 caso para cada 113 mil doses aplicadas11. 49 Tabela 2. Distribuição dos casos de febre amarela segundo sexo, faixa etária, critério de confirmação, situação vacinal, hospitalização, número de óbitos. estado de São Paulo, 2000 a 2010. Masculino Feminino Total n % n % n % <14 anos 2 6,2 1 3,1 3 9,3 15 a 59 anos 20 62,5 9 28,1 29 90,6 Laboratorial 21 65,6 10 31,25 31 96,9 Clínico epidemiológico 1 3,125 − − 1 3,1 Não vacinado 21 65,6 10 32,2 31 96,9 Ignorado 1 3,125 − − 1 3,1 Internado 18 56,3 7 21,9 25 78,1 Não internado 4 12,5 3 9,4 7 21,9 Óbito 11 34,4 4 12,5 15 46,9 Total 22 68,8 10 31,2 32 100 Variáveis Faixa Etária Critério de confirmação Situação Vacinal Hospitalização * Alguns casos podem apresentar mais de um método diagnóstico 50 Tabela 3. Distribuição dos surtos de febre amarela segundo ano de ocorrência e resultados das investigações ecoepidemiológicas realizadas. Estado de São Paulo, 2000 a 2010. Amostras de humanos Amostras de Primatas não humanos Coletado Positivo Coletado Positivo Coletado Positivo 2000 630 6(0,95%) − − 1100 − 2008 577 3(0,52%) 108 4(3,70%) 3049 1(0,03%) 2009 86 − 56 2(3,57%) 1782 1(0,05%) Total 1293 9(0,70%) 164 6(3,66%) 5931 2(0,03%) Amostras de vetores Surtos Mapa 2. Expansão das áreas de recomendação da vacina de febre amarela. Estado de São Paulo, 2000 a 2010. 51 Discussão Embora o vírus tenha reemergido no estado de São Paulo após décadas sem sua ocorrência, a doença continua a atingir em sua maioria homens, na faixa economicamente ativa da população, trabalhadores rurais e pessoas que se expõem a atividades consideradas de risco (pesca, caça, ecoturismo entre outros) nos meses mais quentes do ano, com elevados índices de pluviosidade e consequentemente, com maior densidade vetorial. Anteriormente considerada doença ocupacional, atualmente é identificada essa nova classe de risco, pessoas que se expõem, não imunizadas, a atividades de ecoturismo em beira de rios ou em áreas com fragmentos de mata preservada4. Historicamente, os surtos e epizootias têm sido relatados no Brasil (e em outros países endêmicos) de tempos em tempos. Semelhante ao o que ocorre no Brasil, após várias décadas de relativa calma, surtos de febre amarela ressurgiram na África, o que representa um risco imediato para as populações afetadas em todo o continente17. O aumento da migração, acelerando a urbanização e melhoria da infraestrutura de viagens são as tendências globais que aumentam o risco da doença circular em partes do mundo onde havia desaparecido17,18. Alguns especialistas têm teorizado que as epidemias se repetem no leste da África, porque a sua savana é relativamente seca, por isso, a densidade populacional de mosquitos é menor do que nas savanas mais úmidas da África Central. Assim, a população humana pode ser exposta ao vírus menos regularmente do que a população da África Central, e um grande número de jovens suscetíveis, suficientes para manter um surto, pode acumular-se durante os anos entre as epidemias. Estudos epidemiológicos, ao contrário, sugerem que a persistente "transmissão silenciosa" (sem surtos de doenças detectáveis) pode ocorrer entre os habitantes das savanas mais úmidas da África Central, gerando um tipo de imunidade de rebanho 17, 18, 19. Em 1940, o vírus da febre amarela passou a ser registrado fora do Centro-Oeste do Brasil (Mato Grosso) e expandiu sua área de ocorrência em direção ao litoral 20 . A doença passou a ser relatada no Nordeste (Estado da Bahia), Sudeste (estados de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo), e no Sul do país. Na região amazônica e em outras 52 áreas endêmicas do Brasil, os surtos e epizootias foram relatados a cada 5-7 anos. Esta periodicidade é provavelmente devida à renovação das populações de primatas não humanos, essenciais para a amplificação viral, o que não ocorre com a população de vetores, mesmo considerando a possibilidade de transmissão transovariana ou vertical4,5,20. Assim como nos surtos recentes registrados em diferentes regiões do país, Minas Gerais21e Rio Grande do Sul22, os homens continuam a representar o sexo mais acometido pela doença. No estado de São Paulo a incidência da doença para os homens foi duas vezes maior do que para as mulheres. Tal evento pode ser explicado pela maior exposição a atividades de risco. Além destas razões, as mulheres estão mais habituadas a frequentar salas de vacina e, portanto, tem maior acesso a informação e a imunização, ainda que em alguns municípios com comprovada circulação viral a vacinação não fosse recomendada. A faixa etária mais atingida foi a economicamente ativa da população, semelhante ao padrão já descrito no Brasil4. No maior surto registrado, ocorrido em 2009, a faixa etária atingida variou, foram registrados 3 casos em menores de 14 anos, e uma situação inusitada ocorreu: um caso de transmissão perinatal foi diagnosticado23. A letalidade pode ser considerada como um indicador de sensibilidade da vigilância em detectar novos casos bem como da gravidade da doença. A letalidade esperada na doença em todas as suas formas é de 5 a 10%, e valores acima deste indicam baixa capacidade da vigilância em detectar casos leves24. Nos três surtos aqui explicitados, a vigilância realizou a busca ativa de oligoassintomáticos e assintomáticos. Nos nove casos detectados nas pesquisas sorológicas, não foi possível concluir pela autoctonia dos mesmos. Embora a letalidade registrada neste estudo tenha sido menor (46,%) do que a média registrada no Brasil de 1980 a 2003 (51, 1%)25, a alta letalidade pode indicar falhas em detectar formas leves ou mesmo em comprovar a autoctonia dos casos. No surto ocorrido em 2009, a vigilância utilizou uma definição de caso mais sensível, sendo possível detectar algumas formas leves da doença, assim a letalidade apresentada foi menor. Apesar de vigilância de epizootias de primatas não humanos ter sido implantada no Estado em 2003, a ocorrência destes eventos já era vista como sentinela de surtos de 53 febre amarela no país. Entre os anos de 1999 e 2000, após período de elevada transmissão de febre amarela silvestre no Centro-oeste brasileiro, envolvendo o registro de casos humanos e morte de macacos em período concomitante, o Brasil passou a registrar a mortandade de primatas como alerta para o risco de febre amarela e, consequente, para a adoção rápida das medidas de prevenção de casos humanos e controle de transmissão1. É certo que apenas nas epizootias ocorridas em 2008, na região de São José do Rio Preto, esse instrumento foi eficiente, talvez, pela área já ser considerada de risco para transmissão da virose,a vigilância destes eventos estar fortalecida e os profissionais sensibilizados, além da população humana estar vacinada. Assim, foi possível adotar medidas de prevenção e controle antes que o vírus circulasse na população humana, ou mesmo atingisse áreas urbanas, com elevada densidade populacional e infestadas pelo Aedes aegypti, e com risco de reurbanização da doença, como aconteceu em 2008 na região metropolitana de Assunção, Paraguai26. O surto foi rapidamente controlado, através de vacinação de aproximadamente um milhão de pessoas e atividades de controle vetorial19,26,27. Este foi o primeiro surto de febre amarela urbana documentada na América do Sul desde 1942 e levantou preocupações acerca do potencial de propagação do vírus para áreas não endêmicas, sem cobertura vacinal e com vetores capazes de transmissão do vírus, como o Caribe, América Central e América do Norte19,27. Embora tenham sido confirmados três surtos no período estudado, apenas quando o vírus deparou-se com uma população sem imunidade prévia, foi capaz de infectar um grande número de pessoas. São descritos cinco fatores fundamentais para a epidemiologia das doenças transmitidas por vetores: a ecologia e comportamento do hospedeiro, a ecologia e comportamento dos vetores, e o grau de imunidade da população28. Nos dois primeiros surtos foram registrados apenas dois casos, provavelmente introduzidos pela presença de fontes de infecção humanas ou não humanas e vetores nos locais prováveis de infecção. A cobertura vacinal alta deve ter atuado através da imunidade de rebanho para limitar o risco para o restante da população. No último surto ocorrido em 2009, mesmo com o início precoce da vacinação após a identificação do primeiro caso autóctone, o fato da população não estar previamente imunizada propiciou o surgimento de 28 casos. Fica claro, que a 54 barreira imposta pela vacina, e contínuas e altas taxas de cobertura vacinal, constituem até hoje, o método mais importante para prevenir e controlar a doença em áreas nas quais as condições ecológicas são favoráveis ao estabelecimento do ciclo de transmissão. No continente africano, duas situações distintas são relatadas: as campanhas de vacinação em massa, que foram realizadas em vários países do Oeste Africano, resultaram no desaparecimento rápido da doença ao longo dos 40 anos seguintes. Países como a Nigéria, que não implementaram a vacina de rotina sofreram com grandes surtos da doença na década de 1980, enquanto os países que haviam realizado a vacinação notificaram casos esporádicos em comunidades rurais e isoladas que não haviam recebido a vacina. Esses dados parecem confirmar a importância da vacina no controle da endemia29,30. A reintrodução do vírus no estado de São Paulo, fez com que a área de recomendação da vacina fosse ampliada a cada nova identificação dos indícios de circulação viral. O estado passou de 277 municípios, abrangendo nove GVE´s em 2001, para429 municípios e 15 GVE´s com recomendação de vacina em 2010. Embora anteriormente considerada como uma das vacinas de vírus vivo atenuado mais segura, a vacina de febre amarela pode induzir efeitos adversos após sua administração, classificados entre leve, moderado ou grave1, 31. O registro cada vez mais frequente desses eventos tem levado as autoridades sanitárias a analisarem com maior cuidado as propostas de extensão da cobertura vacinal, tentando estabelecer um equilíbrio favorável entre o risco de adquirir a infecção natural e o risco de desenvolver quadros clínicos graves após a exposição ao vírus vacinal. Campanhas de vacinação em massa tem sido associadas ao aumento da detecção de eventos adversos pós imunização31,32. Durante as campanhas de vacinação em massa, o histórico das pessoas pode não ser bem investigado, além disto, a vacinação de adultos sem imunidade prévia pode aumentar as taxas de eventos graves, uma vez que o risco é maior na primeira imunização e parece aumentar com a idade31,32,33,34. Nesse sentido, realizar campanhas após a detecção de casos pode representar uma opção que comporta maior risco do que a ampliação prévia da área de cobertura vacinal. 55 Os surtos ocorridos no Brasil entre 2008 e 2009 foram os primeiros no Brasil a identificar taxas de doença neurotrópica associada à vacina semelhantes aos relatados nos Estados Unidos (0,8 por 100.000 doses administradas), sugerindo que o aumento da vigilância e testes de laboratório mais sensíveis (especificamente, PCR em tempo real para a detecção de RNA do vírus da febre amarela no fluido cerebrospinal) colaboraram para a detecção destes eventos31,33,34. Conclusão De 2000 a 2010 foram registrados três surtos de febre amarela no Estado de São Paulo, com trinta e dois casos. A quase totalidade dos casos confirmados ocorreram em indivíduos não vacinados e nenhum caso foi observado em indivíduo comprovadamente vacinado. Embora casos de reação adversa possam ser associados a vacina, esta ainda se mostra como a melhor forma de prevenir a doença e a circulação viral. Referências 1. Monath, TP. Yellow Fever: an update. Lancet InfectDisease2001; 1: 11-20. 2. Reiter P. Yellow Fever and Dengue: a threat to Europe? Euro Surveill. 2010; 15(10):pii=19509. 3. SimpsonDH.Arboviruses.In: Cook G, ed. Manson’s Tropical Diseases. London: Saunders 1996 p. 55-63. 4.Vasconcelos PFC. Febre amarela. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2003; 36(2):275-293. 5. Vasconcelos PFC. Yellow Fever in Brazil:thoughts and hypotheses on the emergence in previously free areas. Rev. Saúde Pública. 2010; 44 (6): 1144-1149. 6. TauilPL.Aspectos críticos do controle da febre amarela no Brasil. Revista de Saúde Pública 2010; 44(3):555-558. 7. Rocco, I.M. Katz, G. e Tubaki, R. M. Febre amarela silvestre no Estado de São Paulo, Brasil: casos humanos autóctones. Rev. Inst. Adolfo Lutz. 2003; 62(3):201-206. 8. 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Tendo em vista o registro de eventos adversos após a expansão da vacinação no estado, considerou-se a possibilidade de identificar aspectos sócio demográficos ou ambientais que pudessem ser monitorados no sentido de prever novos surtos para orientar as ações de vigilância ao invés de expandir ainda mais a área de recomendação da vacina. Métodos: Comparação de características socioeconômicas, demográficas e ambientais de municípios com e sem circulação comprovada do vírus da febre amarela no estado de São Paulo de 2000 a 2010, utilizando dados secundários a partir da década de 90, período anterior à reintrodução da doença no estado. Resultados: Entre as variáveis analisadas, apenas evapotranspiraçãoreal e direção dos ventos dominantes, dentre as características ecológicas apresentaram diferenças significantes entre os três grupos de municípios estudados, além da cobertura vacinal prévia à ocorrência de casos em humanos. Conclusão: As condições sócio demográficas e ecológicas não parecem ser suficientemente diferentes entre os municípios com e sem circulação viral, no período analisado, para ter utilidade no monitoramento da reintrodução da transmissão. Apenas as taxas de cobertura vacinal demonstraram ser importantes na probabilidade de ocorrência de casos esporádicos ou surtos com circulação viral mais importante. Descritores: Febre Amarela, epidemiologia, Surtos de Febre Amarela, Zoonoses, Epizootias, Vigilância Epidemiológica. 59 Introduction: After decades without the occurrence of yellow fever, the State of São Paulo once again registered cases. Given the record of adverse events after vaccination expansion in the State, it was considered the possibility to identify demographic or socio-environmental aspects that could be monitored to provide for new outbreaks to guide surveillance activities rather than further expand the recommendation area of the vaccine. Methods: Comparison of socioeconomic, demographic and environmental characteristics of cities with and without circulation of the yellow fever virus in São Paulo from 2000 to 2010, using secondary data from the 90's, the period before the reappearance of the disease in the state. Results: Among the variables analyzed, only evapotranspiration and direction of prevailing winds, from the ecological characteristics differ between the three groups of cities studied, in addition to vaccination coverage, previous to the occurrence of human cases. Conclusion: The socio demographic and ecological conditions do not appear to be sufficiently different between municipalities with and without viral circulation during the period analyzed, to be useful in monitoring the reintroduction of transmission. Only vaccination coverage rates were important in the probability of occurrence of sporadic cases or outbreaks with more important viral circulation Descriptors: Yellow Fever, epidemiology, outbreaks of Yellow Fever, Zoonoses, Epizooties, Epidemiological Surveillance. Introdução A febre amarela é uma doença infecciosa não contagiosa que se mantém endêmica ou enzoótica nas florestas tropicais da América e África causando periodicamente surtos isolados ou epidemias de maior ou menor impacto em saúde pública. É transmitida ao homem mediante a picada de insetos hematófagos da família Culicidae, em especial dos gêneros Aedes e Haemagogus¹,2. No Brasil a febre amarela é considerada endêmica na região norte, onde anualmente são registrados casos da doença, e, esporadicamente a doença foi registrada fora da tradicional zona de ocorrência, na forma de surtos. A partir de 1999, a febre 60 amarela ampliou sua área de circulação e a doença passou a ser registrada com mais frequência na chamada área de transição entre a área endêmica e a área indene. Até 2008, eram admitidas, pelo programa de controle da doença, três áreas epidemiológicas de risco da febre amarela: área endêmica, área de transição (também conhecida como epizoótica ou de emergência) e área indene2,3,4. Com o significativo aumento na ocorrência e circulação do vírus da febre amarela, a área epizoótica aumentou, passando a incluir além da parte ocidental de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, classicamente consideradas áreas de transição, as partes ocidentais dos estados do Piauí e Bahia no Nordeste, Santa Catarina e Rio Grande do Sul na região Sul3,4. O caráter dinâmico da doença exige análises e readequações periódicas, e no final de 2008, a ocorrência da doença em locais onde a vacina não era recomendada fez com que o Ministério da Saúde realiza-se uma nova classificação das áreas de risco em apenas duas áreas epidemiologicamente distintas: área com recomendação da vacina (ACRV), (com comprovada circulação do vírus) e área sem recomendação da vacina (ASRV)3, 5,6. No estado de São Paulo, a doença voltou a ser registrada no ano 2000 após décadas de silêncio epidemiológico. De 2000 a 2010, foram registrados 3 surtos em 14 municípios do estado, com 32 casos humanos, além de identificação de epizootias em primatas não humanos e isolamento de vírus em vetores silvestres demonstrando assim a circulação viral. No ano 2000 o estado apresentava 42 municípios com recomendação de vacina e em 2010 esse número foi ampliado para 429 municípios, o que representa um crescimento de aproximadamente 60% do território paulista com recomendação da vacina, em decorrência da expansão da área de circulação do vírus. Entretanto, com o aumento das coberturas vacinais, um novo problema no controle da doença surgiu: a notificação de eventos adversos graves relacionados à vacina de febra amarela. Este estudo teve como objetivo analisar a tendência de algumas variáveis socioeconômicas e demográficas de interesse para a ocorrência de febre amarela nos municípios com e sem circulação viral comprovada, analisar variáveis ecológicas relacionadas ao risco de circulação viral e comparar as variáveis socioeconômicas, 61 demográficas e ecológicas entre municípios com e sem circulação viral, visando identificar possíveis variáveis de monitoramento no estado. Métodos Este estudo foi realizado no estado de São Paulo, formado por 645 municípios, com uma área de aproximadamente 250,000 kms² e uma população estimada de 44 milhões de pessoas7. Pela classificação adotada pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo desde 2009, existem 429 municípios na área com recomendação de vacina e 216 municípios fora da área de recomendação da vacina, incluindo o município de São Paulo, capital do estado. Para a formação dos grupos de estudo foram utilizados municípios com comprovada circulação de febre amarela no estado de São Paulo de 2000 a 2010, e municípios adjacentes a eles sem circulação viral conforme a metodologia utilizada por Moreno e Barata (2012)8 em estudo anterior. Foram selecionados ainda como controles, municípios localizados no Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) XV- Bauru, pois esse se encontra geograficamente entre quatro GVE´s com comprovada circulação viral (Ribeirão Preto e Araraquara em 2008, Botucatu e Itapeva em 2009), é área de recomendação de vacina, porém a cobertura vacinal nestas áreas manteve-se baixa a partir do ano 2000, e, apesar destas características, a área não registrou a circulação do vírus. Os dados sócio demográficos foram obtidos de fontes oficiais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Fundação SEADE, sendo utilizadas as variáveis: população masculina rural economicamente ativa, Índice de Desenvolvimento Humano municipal (idhm)e taxa de urbanização. Os dados de cobertura vacinal foram fornecidos pela Divisão de Imunizações do Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac” da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo. 62 As variáveis ecológicas foram selecionadas a partir dos resultados do estudo realizado por Moreno e Barata (2012)8 adaptadas a este estudo. Foram consideradas apenas as variáveis que nesse estudo anterior apresentaram significância estatística na comparação entre municípios com e sem circulação viral: distância para unidade de conservação, direção dos ventos dominantes, proporção de mata preservada, distância para rota de tráfico de animais silvestres e umidade. Além destas, foi incluída a variável altitude. Para cada município dos grupos de estudo foi construída uma série histórica das variáveis: população masculina rural economicamente ativa, Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, taxa de urbanização (http://produtos.seade.gov.br/produtos/imp/), matas naturais preservadas (http://www.ibge.gov.br), distância média para unidades de conservação (http://iflorestal.sp.gov.br/) e evapotranspiraçãoreal (utilizando as medidas de novembro a maio, meses com maior registro de ocorrência da doença) (http://www.ciiagro.sp.gov.br/), com dados secundários disponíveis na internet. Foi coletada a informação antes da circulação do vírus no estado, e depois da confirmação da circulação do vírus no estado. Para as variáveis: distância para rotas de tráfico de animais silvestres (http://www.renctas.org.br/),altitude(http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php)e direção dos ventos dominantes (http://www.cresesb.cepel.br/index.php?section=publicacoes&task=livro&cid=1), foi utilizada apenas uma medida, não havendo informações para o período anterior. Para cálculo de distâncias foi utilizado o software livre TERRAVIEW 3.31. Para a análise estatística de comparação entre os grupos foi usada a análise de variância (ANOVA) oneway segundo os grupos de municípios e os anos para as quais as informações estavam disponíveis, com a correção de Bonferroni. As análises foram realizadas no programa STATA 13.2 63 Figura 1. Municípios selecionados para compor os grupos de estudo. Resultados: Os dados utilizados para realizar a análise de variância entre os municípios com circulação viral, municípios adjacentes aos com circulação viral e municípios sem circulação viral do GVE de Bauru estão descritas nas tabelas 1,2 e 3. A exceção do padrão que foi registrado no estado, os municípios de Avaré, Itapetininga, Itaí e Getulina, apresentaram um crescimento de sua população masculina economicamente ativa rural. O município de Getulina, localizado na região de Bauru, foi o município que registrou o maior crescimento em sua população masculina rural, chegando a apresentar, em 2000, 38% de sua população como sendo do sexo masculino, rural e na faixa etária dos 15 aos 59 anos (tabela 1). 64 Todos os municípios apresentaram um aumento em suas taxas de urbanização, assim como o registrado para o estado no mesmo período. O município que apresentou a maior mudança em sua taxa de urbanização foi o de Tejupá, na Região de Botucatu, que teve um crescimento de aproximadamente 50%. Em 1990 apenas 15% de sua população vivia nas cidades, ao passo que 20 anos depois, 67% de sua população já habitava o ambiente urbano do município (tabela 1). Embora na análise de variância esta variável não tenha apresentado diferença significante entre os três grupos estudados, em 1996, a área de matas naturais preservadas nos municípios que confirmaram a circulação do vírus foi maior do que a apresentada pelos outros dois grupos de comparação. Ainda em relação a esta variável, em período de análise posterior (2006), o grupo de municípios que registrou a presença do vírus foi o único que apresentou diminuição do tamanho de suas matas naturais preservadas. Embora os outros grupos tenham registrado um crescimento em suas matas naturais preservadas em 10 anos, este ainda se mantém inferior ao registrado no grupo com presença do vírus (tabela 2). A análise de variância oneway segundo os grupos de municípios comparados revelou que apenas as variáveis evapotranpiraçãoreal e direção dos ventos dominantes apresentaram significância estatística (p<0,05), distinguindo o grupo de municípios com circulação viral dos outros dois grupos de municípios controles. As análises de variância entre os três grupos estão apresentadas na tabela 4. Os dados referentes a cobertura vacinal dos municípios com circulação viral estão descritos na tabela 5. É necessário frisar, que alguns municípios que apresentam altas taxas de cobertura vacinal no ano de detecção da circulação viral, realizaram as campanhas de vacinação após a detecção do vírus, sendo importante considerar a cobertura imediatamente anterior. 65 Tabela 1. Características sócio demográficas, dos municípios dos grupos de comparação. Estado de São Paulo, 1990 a 2010. Municípios População População População com Taxa de Taxa de Taxa de masculina masculina masculina comprovada IDHM1990 IDHM2000 IDHM2010 Urbanização Urbanização Urbanização rural em rural em rural em circulação em 1990 em 2000 em 2010 1990 (%) 2000 (%) 2010 (%) viral Estado de São Paulo 7,85 6,93 4,54 0,58 0,70 0,78 88,02 90,52 95,88 Avaré 10,32 11,18 12,94 0,54 0,68 0,77 92,03 94,66 95,73 Bady Bassitt 3,82 3,78 3,46 0,53 0,69 0,75 68,79 88,95 93,54 Buri 11,16 11,20 12,13 0,38 0,54 0,67 61,84 77,47 80,77 Itapetininga 13,48 14,70 14,60 0,53 0,66 0,76 86,18 89,31 90,77 Luís Antônio 9,02 1,59 1,33 0,48 0,67 0,73 64,96 91,59 96,58 Mendonça 3,56 2,85 2,76 0,49 0,67 0,74 53,92 73,54 81,74 Nova Aliança 3,30 3,18 3,45 0,56 0,67 0,74 63,02 75,89 82,86 Ouroeste - 4,51 2,98 0,50 0,67 0,77 - 74,11 89,78 Piraju 9,97 9,90 9,61 0,52 0,67 0,76 81,34 87,09 89,92 Santa 4,12 3,31 3,09 0,47 0,66 0,73 69,19 79,35 85,46 66 Albertina São Carlos 6,79 5,36 4,29 0,62 0,74 0,81 93,78 95,04 95,99 Sarutaiá 2,27 2,52 2,29 0,43 0,53 0,69 62,42 75,62 81,65 Tejupá 14,25 12,06 9,04 0,34 0,54 0,69 15,87 51,03 64,88 Urupês 6,96 6,11 5,22 0,519 0,686 0,745 70,48 82,71 88,99 Arandu 5,39 5,09 4,58 0,40 0,58 0,69 52,14 66,32 75,36 Campina do Monte Alegre - 2,43 2,34 0,36 0,59 0,72 - 80,25 84,60 Cerqueira César 6,00 5,52 5,37 0,49 0,63 0,73 77,79 86,22 89,64 Cravinhos 376 3,23 2,25 0,52 0,67 0,76 91,18 95,68 97,51 Fartura 10,49 9,76 8,91 0,48 0,63 0,73 64,36 75,81 79,89 Guatapará - 5,83 5,34 0,52 0,65 0,74 NA 65,04 73,44 Ibirá 3,73 2,93 2,37 0,50 0,65 0,74 79,58 87,89 92,19 Municípios Adjacentes aos com circulação viral 67 Irapuã 3,65 3,41 2,27 0,46 0,62 0,71 70,07 81,54 89,20 Itaí 11,05 11,11 22,62 0,44 0,58 0,71 68,70 80,34 78,53 José Bonifácio 11,33 9,53 9,46 0,54 0,68 0,78 79,09 87,13 90,60 Mesópolis - 1,95 1,22 0,43 0,63 0,72 - 63,08 77,84 Novo Horizonte 10,45 9,70 7,24 0,55 0,68 0,75 83,93 89,16 93,05 Paranapanema 11,09 10,04 9,95 0,45 0,61 0,72 56,06 75,23 81,30 Potirendaba 6,84 5,30 4,57 0,52 0,67 0,75 71,60 85,56 89,87 Sales 2,79 2,67 1,55 0,48 0,65 0,75 64,18 78,00 90,02 Santa Rita do Passa Quatro 10,65 9,01 7,69 0,58 0,72 0,78 76,55 86,06 89,51 Timburi 2,79 2,50 2,27 0,40 0,59 0,71 53,90 66,36 72,72 68 Municípios do GVE de Bauru Arealva 10,51 9,71 8,16 0,48 0,66 0,74 60,89 72,40 78,76 Bocaina 4,53 4,45 4,16 0,54 0,68 0,74 83,33 90,51 92,14 Duartina 11,05 8,22 6,27 0,53 0,64 0,75 74,59 86,44 89,77 Getulina 32,68 38,42 37,51 0,48 0,62 0,72 69,01 72,66 77,42 Guaiçara 6,03 5,50 4,92 0,50 0,62 0,74 72,70 87,61 90,85 Iacanga 5,89 5,87 8,70 0,53 0,67 0,75 79,55 85,41 87,15 Itapuí 5,22 3,84 2,89 0,48 0,62 0,73 82,13 92,45 95,54 Jaú 8,24 4,61 3,44 0,58 0,71 0,78 92,15 95,62 96,87 Mineiros do Tietê 2,42 2,16 2,74 0,49 0,64 0,73 91,98 96,08 95,53 Piratininga 10,11 8,37 9,00 0,57 0,68 0,78 69,94 83,68 85,75 Torrinha 7,11 7,97 7,29 0,55 0,67 0,74 74,93 82,48 85,10 *Os municípios de Ouroeste, Campina do Monte Alegre e Mesópolis foram criados após 1990 69 Tabela 2. Características ambientais dos municípios dos grupos de comparação. Estado de São Paulo, 1996 a 2000. Matas Matas Distância Média Distância Média Municípios com naturais naturais para Unidades para Unidades comprovada circulação preservadas preservadas de Conservação de Conservação viral em 2006 em 1996 (He) até 2000 (kms) após 2000 (kms) (He) Avaré 17477,00 21333,00 239,99 236,58 Bady Bassitt 375,00 208,00 365,65 361,87 Buri 33611,00 22630,00 205,46 210,89 Itapetininga 15321,00 16577,00 266,13 262,07 Luís Antônio 12789,00 15080,00 248,87 255,48 Mendonça 1160,00 500,00 352,98 347,62 Nova Aliança 1519,00 1285,00 360,06 355,96 Ouroeste - 2070,00 492,95 484,47 Piraju 4357,00 5000,00 263,53 260,65 Santa Albertina 827,00 3117,00 522,38 509,67 São Carlos 12409,00 10923,00 223,55 228,45 Sarutaiá 1138,00 1608,00 268,55 265,71 Tejupá 2388,00 3358,00 263,56 258,43 Urupês 889,00 1592,00 335,26 332,14 Arandu 1480,00 2013,00 241,34 233,40 Campina do Monte Alegre 1412,00 862,00 204,90 202,18 Cerqueira César 3964,00 6163,00 248,47 240,02 Cravinhos 959,00 2047,00 263,25 266,88 Municípios Adjacentes aos com circulação viral 70 Fartura 2242,00 1926,00 269,06 256,69 Guatapará 378,00 759,00 257,03 258,38 Ibirá 446,00 2468,00 339,27 331,04 Irapuã 1131,00 1219,00 348,17 349,24 Itaí 8790,00 6877,00 243,19 233,03 José Bonifácio 3417,00 3104,00 366,78 354,44 Mesópolis 325,00 561,00 508,53 489,57 Novo Horizonte 10004,00 7175,00 310,46 302,44 Paranapanema 10323,00 17023,00 223,04 216,92 Potirendaba 1521,00 3273,00 349,97 340,26 Sales 3274,00 1711,00 337,11 326,26 Santa Rita do Passa Quatro 8154,00 6558,00 235,00 238,32 Timburi 1123,00 3436,00 278,80 266,06 Arealva 4187,00 4417,00 251,42 250,33 Bocaina 3175,00 2357,00 230,77 230,82 Duartina 1402,00 1670,00 268,52 264,30 Getulina 3584,00 725,00 265,64 265,64 Guaiçara 7689,00 6730,00 328,28 326,12 Iacanga 2426,00 159,00 235,50 233,74 Itapuí 110,00 4184,00 264,75 264,01 Jaú 1135,00 2973,00 224,88 223,88 Mineiros do Tietê 864,00 905,00 215,74 214,92 Piratininga 3323,00 9917,00 249,72 245,81 Torrinha 3460,00 1271,00 204,49 205,16 Municípios do GVE de Bauru 71 Tabela 3. Características ambientais dos municípios dos grupos de comparação. Estado de São Paulo, 2000 a 2010. Distância média Municípios com para rotas de Direção dos Evapotranspiração Altitude comprovada circulação tráfico de ventos média (m) viral animais silvestres dominantes (kms) Avaré 211,81 23,24 780 2 Bady Bassitt 285,48 24,72 520 1 Buri 217,42 19,77 590 6 Itapetininga 238,44 22,57 635 5 Luís Antônio 212,84 22,17 673 5 Mendonça 276,74 23,21 483 6 Nova Aliança 281,32 23,22 463 6 Ouroeste 390,11 24,8 495 1 Piraju 232,76 22,17 560 2 Santa Albertina 407,03 24,8 420 2 São Carlos 190,78 22,17 830 5 Sarutaiá 240,46 20,67 770 2 Tejupá 236,43 21,65 760 4 Urupês 262,86 23,21 437 5 Arandu 239,62 23,24 640 1 Campina do Monte Alegre 222,63 19,77 610 1 Cerqueira César 242,08 23,24 760 2 Cravinhos 247,03 18,15 797 2 Municípios Adjacentes aos com circulação viral 72 Fartura 270,52 21,16 520 3 Guatapará 238,63 23,00 510 3 Ibirá 293,10 23,21 440 2 Irapuã 293,07 23,21 438 2 Itaí 247,54 21,65 630 1 José Bonifácio 335,98 24,50 447 2 Mesópolis 449,34 24,80 400 1 Novo Horizonte 272,93 23,21 446 3 Paranapanema 229,54 20,21 600 1 Potirendaba 300,45 24,72 470 3 Sales 292,20 23,21 440 6 Santa Rita do Passa Quatro 226,00 22,17 760 3 Timburi 269,91 20,67 760,00 2 Arealva 239,06 24,40 447 1 Bocaina 222,56 24,40 600 2 Duartina 254,56 25,80 520 1 Getulina 256,58 22,32 479 2 Guaiçara 298,74 22,32 467 1 Iacanga 226,73 24,40 420 1 Itapuí 247,75 24,40 460 2 Jaú 220,13 24,40 523 2 Mineiros do Tietê 214,42 24,40 660 3 Piratininga 240,71 23,66 520 3 Torrinha 233,70 23,03 820 2 Municípios do GVE de Bauru 73 Tabela 4. Análise de variância entre os grupos de estudo para as variáveis selecionadas Grupos IC (95%) Adjacentes aos com comprovada circulação do VFA 7,62 2,65- 8,95 População masculina rural 2000 6,59 População masculina rural 2010 Variáveis Com comprovada circulação do VFA (%) IC (95%) Municípios GVE Bauru IC (95%) Valor de P (comparação entre os 3 grupos) População masculina rural 1990 6,67 3,87- 7,89 9,44 5,43- 12,75 0,39 3,24- 10,95 5,88 4,34- 7,43 9,01 5,10- 13,08 0,34 6,23 3,70-12,51 5,88 3,41-8,35 8,64 4,84- 13,34 0,47 IDHM 1990 0,49 0,45- 0,53 0,48 0,45- 0,53 0,52 0,45-0,51 0,18 IDHM 2000 0,65 0,61- 0,68 0,64 0,61-0,66 0,65 0,62-0,66 0,65 IDHM 2010 0,74 0,72- 0,76 0,73 0,72-0,76 0,74 0,72- 0,75 0,63 Taxa de 67,98 57,14-78,83 70,65 65,13-76,18 77,38 71,69- 83,07 0,20 74 Urbanização 1990 Taxa de Urbanização 2000 81,16 74,88-87,46 79,39 74,83-83,95 85,94 81,21- 90,67 0,22 Taxa de Urbanização 2010 90,74 82,45- 91,64 85,02 81,40-88,63 88,63 84,76- 92,49 0,48 Matas Naturais Preservadas até 1996 8020,00 2.623,8113.416,19 3467,24 1.788,405.146,07 2850,45 1.623,424.077,49 0,42 Matas Naturais Preservadas após 2006 7520,07 3.113,2811.926,86 3951,47 2.033,945.869,00 3209,82 1.461,844.957,79 0,22 Distância média para Unidades de conservação até 2000 314,92 262,41-367,44 295,55 260,18330,92 249,07 229,13-269,00 0,09 Distância média para Unidades de conservação após 2000 312,14 261,88-362,40 288,54 254,71-322,36 247,70 228,14267,26 0,09 Distância média para Rotas de tráfico de animais silvestres 263,18 228,44-297,92 274,74 248,66300,82 241,36 227,44255,28 0,27 75 Evapotranspiração 22,74 21,93- 23,55 22,36 21,48- 23,24 23,96 23,34- 24,57 0,04 Altitude 601,14 524,74- 677,56 568,61 503,88633,53 537,82 468,92606,72 0,55 Direção dos ventos dominantes 3,70 2,55- 4,66 2,23 1,64- 2,82 1,80 1,36- 2,24 0,01 76 Tabela 5. Dados de cobertura vacinal dos municípios em que houve circulação viral, de 1998 a 2010 Não Recomendação Recomendação Circulação viral Município Período Cobertura Ano Cobertura Ano Cobertura Ouroeste 1998-1999 18,52 – 42,86 2000 17,78 2000 17,78 Santa Albertina 1998-2000 0,00 – 73,85 2001 100,00 2000 73,85 BadyBassit 1998-1999 0,00 2000 51,79 2008 100,00 LuisAntonio 1998-2000 0,00 – 19,76 2001 26,87 2008 100,00 Mendonça 1998-2000 0,00 – 100,00 2001 100,00 2008 100,00 Nova Aliança 1998-2000 0,00 – 100,00 2001 100,00 2008 100,00 São Carlos 1998-2007 0,10 – 39,57 2008 76,91 2008 76,91 Urupês 1998-2000 0,00 – 93,46 2001 100,00 2008 100,00 Avaré 1998-2008 0,23 - 2,17 2009 100,00 2009 100,00 Buri 1998-2008 0,00 2009 68,82 2009 68,82 0,04 - 1,37 2009 100,00 2009 100,00 Itapetininga 1998-2008 Sarutaiá 1998-2008 0,00 2009 100,00 2009 100,00 Tejupá 1998-2008 0,00 2009 91,55 2009 91,55 Discussão À medida que a industrialização e a urbanização se intensificam, mudanças nas forças sociais e econômicas estimularam o abandono de terras. Com a mudança do padrão das propriedades rurais no estado, coma predominância de grandes propriedades 77 mecanizadas e diminuindo as formas tradicionais de cultivo por parceria, um processo continuado de movimento migratório do campo, essencialmente em direção às cidades ocorreu. Os principais motivos que fazem com que grandes quantidades de habitantes saiam da zona rural para as grandes cidades são: busca de empregos com melhor remuneração, mecanização da produção rural, fuga de desastres naturais, e a necessidade de melhores serviços públicos oferecidos nos centros urbanos, como hospitais, escolas e melhor infraestrutura 9, 10, 11, 12,13. Apesar da tendência histórica de supressão e fragmentação das matas paulistas, alguns estudos sugerem uma reversão desse quadro em São Paulo. Fundação SOS Mata Atlântica e INPE (2008, 2009, 2010) detectaram uma consistente queda nos índices de desflorestamento da Mata Atlântica no estado11,12. Dados do Instituto Florestal indicam que, ao longo da década de 1990, 204 municípios paulistas aumentaram sua cobertura florestal, e este aumento pela primeira vez superou as perdas, e. houve um acréscimo de 2,82% na área de mata nativa no estado10,12,13,14.. Resultados do censo agropecuário 2006 e do Projeto LUPA (SAA/CATI/IEA) indicam aumento das matas naturais nas propriedades rurais. Ainda que haja pontos de discordância, os resultados desses e de outros estudos indicam que São Paulo pode estar próximo do ponto de inflexão da curva de transição florestal. Esse processo já foi observado em diversos locais e, embora tenha ocorrido mais precocemente em países ricos, há indícios de que não se trata de um fenômeno isolado10,11,12,13,15. Sabe-se que fatores climáticos como umidade e temperatura influenciam diretamente na abundancia das espécies de vetores da febre amarela silvestre, assim como a multiplicação do vírus em seus reservatóriosartrópodes16,17, 18,19.O indicador de umidade utilizado neste estudo foi evapotranspiraçãoreal. A evapotranspiraçãoreal é o processo de transferência de vapor onde o solo não esta totalmente coberto e ocorre nas condições reais dos parâmetros meteorológicos, assim sendo, além dos fatores meteorológicos que condicionam a evapotranspiracão tais como: radiação solar, vento, temperatura do ar, déficit de pressão de vapor, ela é grandemente afetada pelo tipo de cultura, porcentagem de cobertura do solo e disponibilidade de água no solo16,17. Os municípios adjacentes aos com comprovada circulação viral diferiram do grupo dos municípios do GVE de Bauru. Essa variação não explica o porque da não ocorrência da circulação do vírus, já que o esperado seria que municípios com maior 78 evapotranspiração seriam mais propensos a apresentar a doença. O agrupamento dos municípios de acordo com este indicador pode representar uma semelhança entre os mesmos em relação a características: de relevo, vegetação e ocupação do solo, não avaliadas especificamente neste estudo. Outro fator climático que demonstrou significativa diferença entre os grupos foi a direção dos ventos dominantes que chegam aos municípios. Foi possível constatar que municípios de regiões com comprovada circulação viral apresentaram fluxo de ventos dominantes oriundos de regiões afetadas em contrapartida aos municípios de regiões não afetadas. A plausibilidade biológica desta hipótese esta relacionada a possível dispersão de mosquitos vetores através dos ventos dominantes18,19 .Poucos são os estudos que avaliam a capacidade de dispersão de mosquitos vetores da febre amarela silvestre no Brasil. A dispersão de mosquitos do gênero Haemagogus e Sabethesfoi analisada no estado de Minas Gerais18. Foram encontradas capacidades de dispersão de ate 11 Km. Os autores afirmam que ambientes com pequenos resíduos florestais, pastagens e campos cultivados poderiam favorecer a expansão da febre amarela por facilitar a dispersão de mosquitos infectados pelo vírus16,19,20. Com os resultados deste estudo, não foi possível identificar fatores sociais, demográficos e ecológicos que elucidassem o porque do vírus circular em uma região e não em outra. A literatura apresenta outros argumentos, no Brasil, para a emergência e reemergência do vírus da febre amarela. Estudos de análise de tendência de ocorrência de febre amarela no Brasil de 1954 a 2008 sugerem que, o aumento do registro de surtos no sudeste (Estado de Minas Gerais) e nordeste (Bahia), pode refletir um aumento no movimento humano entre as regiões afetadas e não afetadas21. Em áreas não afetadas, o vírus da febre amarela pode ser introduzido, provavelmente, de duas maneiras: pessoas em fase de viremia, ou no período de incubação da doença, que transitam em áreas com alta densidade populacional de vetores e hospedeiros vertebrados. Uma vez que a circulação do vírus é estabelecida na área, uma grande e rápida transmissão ocorre através de vetores e entre os primatas nãohumanos, sem imunidade natural, resultando em uma eliminação quase total das populações de macacos21,22,23. Análises moleculares mostraram que o vírus da febre 79 amarela isolado da ilha de Marajó, no estado do Pará 23,24 é idêntico às cepas virais encontradas em Goiás e na Bahia. Assim, a expansão viral através de macacos é pouco provável, e somente os seres humanos virêmicos com infecções assintomáticas e/ou oligossintomáticos seriam capazes de se movimentar, por grandes áreas territoriais, tão rapidamente e com competência para transmitir e albergar o vírus21,22,23,24. Outra hipótese de introdução do vírus em áreas não afetadas seria o tráfico ilegal de animais silvestres21,22,25. Traficantes de animais são conhecidos por usar estradas ilegais ou meios que são, geralmente, de mais difícil acesso, o que pode levar à introdução do vírus em áreas onde, quando as condições são favoráveis, pode ocorrer ciclo natural e transmissão zoonótica5,21,22,23,26.Muitos são os casos de apreensões de PNH, oriundos da Amazônia ou Pantanal, seguindo o fluxo do trafico, com destino a grandes centros como a cidade de São Paulo. É comum a venda ilegal de pequenos primatas a beira de estradas, para o uso como mascotes. Animais apreendidos em trafico ilegal são muitas vezes reintroduzidos em ambientes de mata, sem avaliações ecológicas ou sanitárias adequadas, permitindo o encontro entre animais viremicos e as espécies vetoras da febre amarela silvestre22,23,24,25,26,27. Em um estudo conduzido em 2010, com 570 primatas não humanos para determinar a prevalência de anticorpos da classe IgG contra o vírus da febre amarela em soros de bugios (Alouatta caraya) da região do reservatório da Usina Hidrelétrica de Porto Primavera, SP, nenhuma amostra mostrou-se reativa para a presença de anticorpos contra o vírus. Os resultados são coerentes com a epidemiologia da febre amarela na região28, que mesmo possuindo vetores competentes e população símia vulnerável, não apresenta o ciclo enzoótico viral. Hoje o Brasil apresenta dois grandes desafios para o controle da febre amarela: reduzir a incidência de casos do ciclo silvestre, já que a doença é uma zoonose e não pode ser erradicada; e empenhar-se em manter nula a incidência de casos do ciclo urbano, para evitar reurbanização da doença23,27. Fica claro, que a imunidade das populações expostas é o grande elo da ocorrência da febre amarela no Brasil e no estado de São Paulo. Embora tenham ocorridos 3 surtos, com 32 casos e letalidade de 46,8%, o vírus só foi capaz de infectar um grande número 80 de pessoas, quando a transmissão ocorre em uma região sem recomendação de vacina, e baixíssimas ou nulas taxas de cobertura vacinal antes da circulação do vírus na região. No maior surto registrado entre 2000 e 2010 que abrangeu aregião sudoeste do estado de São Paulo, ocorrido na região de Botucatu, as avaliações, estudos e ações de prevenção e controle desencadeadas pela Secretaria de Estado da Saúde englobaram49 municípios, com população estimada de 1.174.142habitantes em 20096.Uma grande campanha de vacinação foi estabelecida para controlar o surto, onde foram aplicadas 1.018.705 doses de vacina, e registrados 5 casos de doença viscerotrópica aguda que evoluíram para óbito6.Enquanto a mortalidade pela infecção natural da doença foi de 1 óbito para 106.740 habitantes a mortalidade atribuída aos eventos adversos pós vacinação foi de um óbito para cada 203.741 doses de vacina aplicadas. Portanto, o risco de óbito por febre amarela entre os indivíduos naturalmente infectados suplanta o risco observado entre os vacinados em quase o dobro. Após a reemergência do vírus no Sul do Brasil (2005), a Argentina adotou, em 2007, a vacinação de rotina contra febre amarela para algumas províncias fronteiriças com o Brasil. Entre 1 de janeiro de 2008 e 31 de janeiro de 2009, 1.943.000 doses da mesa vacina, produzida e utilizada no Brasil foram utilizadas29. Foram identificados 35 eventos adversos pós vacinação, semelhante ao que ocorreu na última grande campanha do estado de São Paulo, na região de Botucatu em 20096,29. A frequência de eventos adversos graves após a vacinação de febre amarela tem sido cada vez mais relatados nos últimos 10 anos no Brasil, especialmente em grandes campanhas de vacinação. Estudos conduzidos após esse aumento, não demonstraram mutações no vírus da vacina que poderia explicar esses graves eventos adversos, e, relacionar os eventos adversos a fatores intrínsecos de quem as recebe, ainda parece ser a maneira mais correta de explicar tal fato30. Alguns estudos relacionam a ocorrência dos eventos adversos pós vacinação em pacientes previamente hígidos ao contato tardio com vírus, ou seja, quanto mais velho a pessoa se expuser ao vírus maiores são os riscos de ocorrer complicações30,31. Se por um lado existem fortes argumentos contra a expansão da vacinação de rotina contra a febre amarela em áreas em que o risco de eventos graves pós-vacinação é maior do que o risco de contrair a doença em si; a expansão da circulação do vírus em 81 áreas silenciosas pede uma vigilância mais sensível e ativa, embasando as decisões na forma de prevenção do risco, seja ele advindo da vacina ou da doença. Conclusão As condições sócio demográficas e ecológicas não parecem ser suficientemente diferentes entre os municípios com e sem circulação viral, no período analisado, para ter utilidade no monitoramento da reintrodução da transmissão da febre amarela no estado de São Paulo. Apenas as taxas de cobertura vacinal demonstraram ser importantes na probabilidade de ocorrência de casos esporádicos ou surtos com circulação viral mais importante. O risco de morrer por febre amarela entre os indivíduos naturalmente infectados supera o risco de óbito entre os vacinados. Referências 1.Monath TP. Yellow fever: An update. Lancet InfectiousDiseases.2001;1:11-20. 2.Vasconcelos PFC. Febre Amarela. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2003;36(2):275-93.DOI:10.1590/S0037-8682200300030001 3.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, Coordenação Geral de Doenças Transmissíveis. Áreas com recomendação de vacina contra a febre amarela no Brasil 2008 e 2009. Brasília, FUNASA:2008 e 2009b. 4.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, Coordenação Geral de Doenças Transmissíveis. 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Anteriormente considerada um problema apenas na região norte do país, (esporadicamente a doença ultrapassava estes limites), na última década a febre amarela voltou a preocupar as autoridades de saúde de todo o país. Se por um lado o estudo de surtos, com ocorrência de casos isolados demonstrados aqui, nos mostram a importância da imunização prévia e a manutenção de altas taxas de cobertura vacinal, o estudo de surtos em populações com baixa ou nenhuma cobertura vacinal demonstram que ao se deparar com uma população não imune o vírus é capaz de infectar uma grande parcela da população, e se estratégias de controle da doença, como bloqueios e (quando necessário), campanhas de vacinação não forem rapidamente adotadas, a doença pode velozmente tomar grandes proporções, e retomar velhas pautas, como o risco de reurbanização da virose, já que grande parte dos municípios paulistas e mesmo do Brasil apresentam altas taxas de infestações do mosquito transmissor. Por outro lado, desde 2001, quando o vírus começou a circular fora da tradicional zona endêmica, o Brasil iniciou programas de extensão da vacinação para áreas antes não consideradas de risco, e seguindo a tendência mundial, passou a também registrar casos de reação adversa grave pós vacinação. Neste contexto, fica explícito o papel fundamental da vigilância, que além de detectar novos casos, deveria criar novas ferramentas para detectar a presença do vírus, já que em alguns lugares, o risco advindo da vacinação poderia ser maior do que o risco de contrair a doença. Neste estudo, as condições sócio demográficas e ecológicas não parecem ser suficientemente diferentes entre os municípios com e sem circulação viral, no período analisado, para ter utilidade no monitoramento da reintrodução da transmissão da febre amarela no estado de São Paulo. E mais uma vez a vacinação despontou com o papel principal na ocorrência (ou não) da virose. 85 O monitoramento de epizootias de primatas não humanos, parece ser uma estratégia e ferramenta eficaz, e nos meses de sazonalidade da doença, esta estratégia poderia ocorrer de forma ativa, o que não é vigente hoje. Outras estratégias devem ser avaliadas e preencher lacunas no conhecimento da epidemiologia da febre amarela pode contribuir para estruturar outras ações de vigilância epidemiológica. A possibilidade de outros animais participarem do ciclo enzoótico de transmissão e manutenção do vírus na natureza deve ser investigada. Além disso, o tráfico de animais silvestres deveria ser melhor fiscalizado, e os animais apreendidos deveriam passar por um rigoroso controle sanitário antes de serem reintroduzidos aos ambientes naturais. Assim, parcerias com instituições responsáveis por questões relativas ao meio ambiente podem contribuir para estimular o desenvolvimento de pesquisas que respondam a essas questões. Outra estratégia não menos importante e usualmente não trabalhada pelos serviços de saúde é a educação em saúde. Ela deve ser abordada como uma parte importante do programa, pois a população precisa compreender a necessidade de imunização prévia, ao se deslocar para áreas de risco, e assim, mudar sua conduta em relação à prevenção. 86 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETT A. D. T; TEUWEN D. E. Yellow fever vaccine: how does it work and why do rare cases of serious adverse events take place? Current Opinion in Immunology 2009, 21:308–313. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de vigilância epidemiológica da febre amarela. Brasília, Fundação Nacional de Saúde: 1999. 60 p. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de vigilância de epizootias em primatas não humanos. Brasília, Fundação Nacional de Saúde: 2005. 58 p. 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