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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL
DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL: QUE TEMPO É ESTE?
UMA ABORDAGEM NA CIDADE DE IJUÍ – RS
JANAÍNA GZERGORCZICK DE CARVALHO LECZINSKI
Ijuí – RS
2014
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JANAÍNA GZERGORCZICK DE CARVALHO LECZINSKI
ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL: QUE TEMPO É ESTE?
UMA ABORDAGEM NA CIDADE DE IJUÍ – RS
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Graduação em
Pedagogia e Licenciatura Plena –
Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul.
Orientadora: Profª Eulalia Beschorner Marin
Ijuí – RS
2014
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 3
1 O QUE DIZEM OS ESTUDIOSOS E AS LEIS .......................................................... 5
1.1 BASE LEGAL: LEGISLAÇÃO QUE AMPARA A EXPERIÊNCIA EM ESTUDO ..... 5
1.2 O QUE DIZEM OS ESTUDIOSOS ......................................................................... 6
1.2.1 Espaço Físico .................................................................................................... 6
1.2.2 Organização Curricular ..................................................................................... 6
1.3 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INTEGRAL NO BRASIL ............................................ 7
1.3.1 A Proposta Inicial .............................................................................................. 7
1.3.2 A Criação dos Centros Integrados de Educação Pública .............................. 8
2 OLHANDO PARA O CONTEXTO .......................................................................... 11
2.1 A INSTITUIÇÃO EM SEU CONTEXTO ................................................................ 11
2.1.1 Equipe Diretiva da Escola............................................................................... 11
2.1.2 Das Competências e Atribuições da Equipe Diretiva – 2014....................... 11
2.1.2.1 Da Diretora ..................................................................................................... 11
2.1.2.2 Da Vice-Direção ............................................................................................. 12
2.1.2.3 Coordenação Pedagógica .............................................................................. 12
2.2 HISTÓRICO DA ESCOLA .................................................................................... 12
2.3 FILOSOFIA E OBJETIVOS DA ESCOLA ............................................................. 13
2.3.1 Da Educação Infantil ....................................................................................... 14
2.3.2 Do Ensino Fundamental ................................................................................. 14
2.3.3 Do Tempo Integral ........................................................................................... 15
2.3.4 Da Gestão do Centro ....................................................................................... 15
2.3.5 Dos Órgãos e Serviços de Apoio ................................................................... 15
2.3.5.1 A Biblioteca .................................................................................................... 15
2.3.5.2 A Secretaria.................................................................................................... 16
2.3.5.3 Do Círculo de Pais e Mestres ......................................................................... 16
2.3.5.4 Do Clube de Mães .......................................................................................... 16
2.3.5.5 Do Grêmio Estudantil ..................................................................................... 16
2.3.5.6 Espaço Físico da Escola ................................................................................ 17
3 O QUE DIZEM OS SUJEITOS ................................................................................ 18
3.1 O PROJETO NA VISÃO DOS PROFESSORES .................................................. 18
3.2 O PROJETO NA VISÃO DAS CRIANÇAS ........................................................... 23
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 29
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 30
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INTRODUÇÃO
O documento apresentado a seguir teve como intuito principal responder
através de uma pesquisa de campo, qual é a organização curricular que as escolas
que ofertam o turno integral têm; o que os profissionais que ali trabalham pensam a
respeito do currículo da escola; e em relação aos alunos qual a situação destes, o
que pensam a respeito da escola e porque seus responsáveis optaram por uma
instituição de turno inverso.
Em seu início apresenta em um breve relato a história da educação integral
no Brasil, quem foram os primeiros defensores desta ideia, abrindo caminho assim
para maiores questionamentos a respeito deste ensino hoje, descobrindo assim
como seus primórdios contribuíram para a organização curricular deste modelo de
ensino nos dias de hoje.
Será possível identificar qual a realidade atual deste ensino; como os
sujeitos que fazem parte desta instituição e maiores atingidos veem este modelo de
ensino; o que os órgãos legisladores do ensino estão fazendo pelo projeto. São
apresentados resultados de estudos da proposta da escola escolhida para
aprofundamento da base teórica do trabalho, abordando sua estrutura física e
pedagógica, conhecendo quais as metodologias de ensino que formam o currículo
da escola e como acontece a integralização deste currículo.
A seguir o documento engloba uma metodologia de pesquisa que analisa
bibliograficamente os registros históricos e um currículo de uma instituição hoje. A
mesma se dará de campo para apresentar os dados relatados pelos próprios
indivíduos (professores e alunos), de forma clara e atualizada, utilizando
depoimentos de professores e alunos, fotos e desenhos, de forma dinâmica e
flexível, adequando-se às situações encontradas. A pesquisa se realizara em uma
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escola do município de Ijuí, com alunos de pré-escolar ao 5º ano, frequentadores do
turno integral da escola.
A divulgação de um trabalho educativo e social, a qual as escolas que
fornecem o ensino integral possuem, pois afinal muitas instituições que ofertam o
turno integral não pensam somente na ampliação dos saberes transmitidos, mas
também no preenchimento do tempo vago das crianças, filhos de pais que trabalham
e não tem com quem deixá-las. Para isto como será exposto a seguir, as mesmas
tem a incumbência de serem além de instituição de ensino, suprir necessidades dos
alunos, como fornecer alimentos e subsídios para permanecer na escola.
Diante da importância da troca de saberes nesta idade, muitas escolas
ampliaram o período de permanência dos seus alunos na escola. Baseadas em um
projeto do governo de tornar as escolas públicas em escolas de turno integral, este
rótulo pode ser novo, mas a ideia já acontece há muito tempo em outros programas
como a escola aberta que há pouco tempo eram praticados em algumas escolas
públicas. Busca-se com a escola integral aumentar o tempo de convivência escolar,
explorando múltiplas áreas de conhecimento por intermédio de oficinas, em algumas
escolas públicas há outro objetivo social de extrema importância, o de garantir a
segurança e alimentação destes alunos durante este período maior de tempo. Para
isso priorizam-se as vagas para filhos de trabalhadores que não tem aonde deixar
seus filhos no turno inverso ao regular, tirando estes da rua e os dando a
oportunidade de estarem aprendendo mais, explorando mais os tipos de culturas,
artes e esportes.
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1 O QUE DIZEM OS ESTUDIOSOS E AS LEIS
1.1 BASE LEGAL: LEGISLAÇÃO QUE AMPARA A EXPERIÊNCIA EM ESTUDO
A nível federal a proposta de uma educação integral se ampara na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
a qual é possível visualizar segundo o artigo 34. A permanência na escola deverá
ser ampliada progressivamente – o que consolida uma tendência da educação
brasileira ao ensino integral...
Art. 34º. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos
quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente
ampliado o período de permanência na escola.
§2º. O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo
integral, a critério dos sistemas de ensino.
O mesmo documento também ressalva a importância da educação formal
integral para a formação do ser humano...
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios
de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Recentemente o governo do Estado do Rio Grande do Sul aprovou em
assembleia legislativa um projeto de lei que aprovou o ensino integral no Estado. A
proposta prevê um tempo de dez anos para implantação total, a mesma requer que
ao fim deste prazo 50% das instituições de ensino do Estado ofertem a proposta de
ensino integral. Como se pode visualizar a seguir o projeto prima basicamente pela
formação integral do indivíduo.
A essência do projeto é a permanência da criança e do adolescente na
escola, assistindo-o integralmente em suas necessidades básicas e
educacionais, ampliando o aproveitamento escolar, resgatando a
autoestima e capacitando-o para atingir efetivamente a aprendizagem,
sendo alternativa para redução dos índices de evasão, de repetência e de
distorção idade/série (RIO GRANDE DO SUL, [s.d.]).
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1.2 O QUE DIZEM OS ESTUDIOSOS
1.2.1 Espaço Físico
“É preciso toda uma aldeia para educar uma criança” (Provérbio Africano).
O espaço físico da escola não é determinante para a oferta de educação
integral. O reconhecimento de que a escola não tem espaço físico para acolher
crianças, adolescentes e jovens nas atividades de educação integral não pode
desmobilizar. O mapeamento de espaços, tempos e oportunidades é tarefa que
deve ser feita com as famílias, os vizinhos, enfim, toda a comunidade.
1.2.2 Organização Curricular
A organização curricular contempla não só os conteúdos que são
desenvolvidos com os alunos, mas todas as intenções educativas da instituição. Diz
respeito tanto aos conhecimentos de situações formais e informais, assim como aos
conteúdos e situações que a escola propõe como vivência aos seus alunos e às
diferentes relações estabelecidas na condução desse processo (BRASIL, 2013, p.
21).
De acordo com Hoffmann (2005, p. 21-22):
O desenvolvimento do ser humano, como processo de significação do
mundo, é sempre dinâmico, de aprendizagem gradual e, portanto, de
continuidade, de evolução, de crescimento. O que pressupõe olhar para trás
e para o agora, ou seja, compreender a história de vida do aluno na família
e na escola, procurando captar as experiências vividas para projetar o futuro
das ações pedagógicas (visão prospectiva), estando sempre atento às
dimensões em que deve ser desafiado para avançar em todas as áreas do
saber.
Retomando Dewey, a estabilidade de uma instituição organizada, rica em
atividades e vivências é o que pode fazer da escola um ambiente de formação para
a democracia. Nesse modelo, o espaço escolar é o centro de referência, mesmo que
eventualmente algumas atividades sejam feitas fora dele. Os professores pertencem
à escola, da mesma forma que os alunos. Há um corpo social, há uma instituição
com identidade própria, com objetivos compartilhados e que pode se fortalecer com
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o tempo integral e com uma proposta de educação integral (CAVALIERE, 2007, p.
1031).
1.3 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INTEGRAL NO BRASIL
Para dar início à pesquisa faço um breve resgate histórico, que trás a
história dos dois primeiros projetos de educação integral lançados no Brasil, que
defendiam a ideia de um ensino múltiplo e contemplativo a todos em sua igualdade.
A história da educação brasileira vem ao longo dos anos deixando
resquícios de uma sociedade dividida. Antigamente esta divisão era mais aparente
do que nos dias de hoje, o acesso à educação era limitado aos burgueses e aos
demais restava se contentar em viver na ignorância. Ao passar dos anos fomos
conquistando alguns direitos, o ensino deixou de ser somente para quem tinha
posses e passou a contemplar a todos.
Porém, esta conquista sempre sofreu com o descaso para com o ensino dos
mais pobres. Pensando nisto Anísio Teixeira resolveu que teria que fazer algo pela
maior parte da população que se contentava com mínimos recursos, este idealizou
um projeto que assegurava um ensino diversificado em questão de múltiplos
conhecimentos e ao mesmo tempo mútuo para todos em questão de currículo, como
pode ser visto ao decorrer dos escritos.
1.3.1 A Proposta Inicial
Na década de 1950, na Bahia, Anísio Teixeira enquanto secretário da
educação da Bahia idealizou uma proposta inovadora para a educação brasileira.
Anísio propôs a implantação de um modelo inovador de educação, onde
basicamente se pensava na educação plena do homem.
O novo modelo de educação propunha que o aluno tivesse em um mesmo
local acesso ao ensino tradicional que prevalecia na época e concomitante a este
uma educação social e humanizada onde estes teriam acesso às atividades de
cunho cultural, artístico e humanístico.
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Anísio pretendia a universalização de uma nova escola, aquela proposta no
Centro Popular, comum para todos, a chamada “escola única”, aonde as
crianças de todas as posições sociais iriam “formar a inteligência, a vontade,
o caráter, os hábitos de pensar, de agir e de conviver socialmente”
(CORDEIRO, 2001).
Sua luta principal era pela implantação da universalização da educação
pública e gratuita para todos. A criação do Centro Popular de Educação Carneiro
Ribeiro mais conhecido como Escola Parque foi a consolidação inicial de sua
proposta de juntar em um só espaço, em uma só educação integral, atividades
artísticas, socializantes e de preparação para o trabalho e a cidadania, e ainda a
escola
supriria
alimentação,
necessidades
higiene
e
básicas
atendimento
daqueles
mais
necessitados,
médico-odontológico,
além
de
como:
tudo
complementavam as práticas educativas tradicionais, necessárias para formação
educacional do homem.
Na década de 1960, com a construção de Brasília, Anísio Teixeira foi
convidado pelo presidente Juscelino Kubitscheck a levar seu projeto de educação
integral para a capital. Para isto foram construídas na época, com o projeto
arquitetônico de Oscar Niemayer, superquadras, que contavam com quatro escolasclasse – nas quais os estudantes frequentavam as aulas da educação formal
clássica –, e uma escola parque que atendia as quatro escolas-classe e na qual
eram oferecidas atividades de cunho cultural, esportivo e artístico. Este seguia os
ideais e valores buscados por Anísio desde a década de 50.
Este modelo de educação de pioneiro na educação integral infelizmente não
teve continuidade. Com o golpe militar e a cassação de seu idealizador o projeto de
uma educação integral e gratuita foi abandonado. As instalações da Escola Parque
da Bahia sofrem com a degradação do tempo, o espaço físico sofreu algumas
reformas por volta do ano 2000, gerida pelo governo do Estado. Apesar da reforma
esta não foi mantida e atualmente resta pouco do espaço físico da instituição.
1.3.2 A Criação dos Centros Integrados de Educação Pública
Na década de 1960, com a construção de Brasília, a qual seria a capital do
Brasil, Anísio Teixeira foi convidado pelo presidente Juscelino Kubitscheck a dar
continuidade a seu projeto de educação integral, desta vez na nova capital.
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Em 1980, durante o primeiro mandato de Leonel Brizola, sob orientação de
Darcy Ribeiro, os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), invadiram com
suas estruturas pré-moldadas, idealizadas por Oscar Niemeyer, a capital e o interior
do Rio de Janeiro, foram construídos 500 CIEPs.
Recém passados vinte anos do regime militar, onde tudo o que era ensinado
nas escolas devia prestar contas anteriormente aos militares, a população ainda se
recuperava do seu estado de rendição e submissão ao que era imposto pelos
militares. Para conseguir transformar as marcas deixadas pelo regime militar e seu
ensino extremamente tradicional e severo, o governo brasileiro adotou este modelo
de escola pública que contemplaria a formação humanista, cultural e profissional dos
que ali frequentassem, num espaço totalmente voltado para a população carente,
atendendo de forma gratuita. Instituições idealizadas no Brasil para a experiência de
escolarização em tempo integral, voltadas para as crianças das classes populares,
tentando atender as suas necessidades e seus interesses.
A ideia central era de um projeto pedagógico padronizado, onde não haveria
mais diferenças entre as instituições de ensino, sua arquitetura era toda
padronizada. Sob o comando de Oscar Niemeyer a arquitetura destes centros foi
pensada para abranger o ideal de uma escola inovadora, onde sua grandiosidade
era aparente e os estimados benefícios à sociedade carente eram evidentes. Por
outro lado, o fato de se tratar de um projeto tão grandioso e que se funcionasse, iria
de certa forma diminuir a diferenciação que a sociedade aborda em relação ao
ensino público e privado. O projeto foi bombardeado com críticas de todos os lados,
as mesmas se referiam desde sua arquitetura, ao fato da falta de profissionais
devidamente capacitados para atender a demanda, os locais onde o projeto se
desenvolvia também foram motivo de crítica.
Entre 2000 e 2004, a prefeitura de São Paulo construiu e iniciou as
atividades de diversos Centros de Educação Unificada (CEUs), os quais também
participam de uma concepção de educação integral, não tanto pela extensão da
jornada escolar, mas pelo provimento de diversos níveis de ensino e atividades
curriculares e extracurriculares concentradas em um mesmo espaço.
Atualmente a cidade de São Paulo conta com 45 CEUs ativos, contemplam
a educação infantil, o ensino fundamental e o EJA – voltado para educação de
jovens e adultos. Todas as unidades são equipadas com quadra poliesportiva,
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teatro, playground, piscinas, biblioteca, telecentro e espaços para oficinas, ateliês e
reuniões. Estes espaços são abertos à comunidade, inclusive aos finais de semana.
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2 OLHANDO PARA O CONTEXTO
A escolha da Escola Municipal de Ensino Fundamental Deolinda Barufaldi
para servir de base de pesquisa de campo foi realizada levando em consideração
principalmente o tempo de existência da mesma nesta comunidade oferecendo o
turno integral para a população local, pois a instituição está em funcionamento há
mais de 22 anos no bairro.
O turno integral na escola ocorre em formato de oficinas, ofertadas em turno
inverso ao formal. Estas oficinas são oferecidas de pré-escola ao quarto ano.
Frequentam as mesmas, alunos encaminhados ao laboratório de aprendizagem e
outros matriculados pelos pais nas oficinas de artes, dança, coral, esporte e lazer,
matriculados pelos pais ou responsáveis para frequentar o turno integral devido a
não ter com quem deixar seus filhos para trabalhar. Outros matriculam conscientes
da importância destas experiências para os alunos.
2.1 A INSTITUIÇÃO EM SEU CONTEXTO
2.1.1 Equipe Diretiva da Escola
Diretora: Flavia Mirna dos Santos
Vice-Diretora: Sandra Maria Tamiozzo Savian
Coordenadora: Carla Lisiane Paz da Roz
Coordenadora do Tempo Integral: Rúbia Denise Diemer
2.1.2 Das Competências e Atribuições da Equipe Diretiva – 2014
2.1.2.1 Da Diretora
- Organizar todos os segmentos da escola.
- Formular com o grupo escolar normas e regulamentos, adotando medidas
condizentes com os objetivos e os princípios propostos.
- Representar a escola, responsabilizando-se pela sua organização e
funcionamento perante os órgãos do poder público.
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2.1.2.2 Da Vice-Direção
- Auxiliar na organização dos serviços de apoio administrativo e
pedagógico.
- Assessorar e participar do planejamento, execução e avaliação de todas
as atividades pertinentes à escola.
- Participar na elaboração, implementação e avaliação da proposta político
pedagógica (PPP) e plano de estudo do regimento escolar.
2.1.2.3 Coordenação Pedagógica
- Assessorar e participar dos planejamentos e das atividades docentes.
- Coordenar a elaboração da proposta político pedagógica da escola e
plano de estudo.
- Proporcionar momentos de estudo, análise, avaliação, aprofundamento
teórico, bem como socialização de ideias.
- Proporcionar e estabelecer com o grupo ambiente favorável ao trabalho
integrado, cooperativo e comprometido com a escola.
- Participar do processo de integração da comunidade escolar.
2.2 HISTÓRICO DA ESCOLA
A Escola Municipal Fundamental Deolinda Barufaldi está localizada na Rua
Euclides da Cunha, nº 229, Bairro Alvorada, em Ijuí – RS.
Em 16 de outubro de 1975 foi inaugurada a Escola Municipal denominada
“ESCOLA MUNICIPAL ALVORADA”, no terreno doado pelo Sr. Stube. Na época
havia 71 alunos, funcionava de 1ª a 3ª séries. Havia duas professoras e a diretora
era Rosina Goller. A escola foi fundada e/ou registrada pelo decreto executivo nº 645
em 22 de dezembro de 1977 com a denominação de “ESCOLA MUNICIPAL
ALVORADA”, funcionando de 1ª a 4ª séries, com 91 alunos e três professores.
Em 30 de junho de 1987 a escola passou a se chamar “ESCOLA
MUNICIPAL DE 1º GRAU INCOMPLETO DEOLINDA BARUFALDI” pela portaria de
denominação nº 1138 de 30/06/87, em homenagem a diretora que havia falecido em
24 de abril de1986, quando então estava sem direção.
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Com o passar do tempo surgia a necessidade de um espaço maior para
atender a demanda do bairro que crescia em número de habitantes. A creche que já
existia só atendia uma determinada faixa etária e em função disso uma nova
realidade se apresentava.
A proposta de turno integral foi construída com o objetivo de oferecer
melhores condições e oportunidade de aprendizagem, com acesso a atividades
diversificadas, com uma alimentação equilibrada e nutritiva, com a garantia de que
essas crianças estão na escola e não nas ruas. De acordo com a comunidade do
bairro, o poder público na gestão do prefeito Valdir Heck instituiu a escola de tempo
integral. Em 31 de dezembro de 1991 ocorreu alteração de denominação pela
portaria nº 1509 de 31/06/91 e foi autorizado através da portaria de funcionamento
nº 850 de 20 de julho de 1992 o funcionamento da escola de tempo integral.
Em 15 de novembro de 1992 foi inaugurado o Centro Municipal de Educação
Integral (CEMEI). Neste ano a Secretária Municipal de Educação era Maria Luiza
Lucchese. Em agosto deste ano, a escola de tempo integral começa a funcionar no
novo prédio, com uma carga horária de oito horas diárias, sendo oferecidos neste
período a escola formal, assistência nutricional com três refeições diárias,
assistência odontológica, contando também com o assessoramento dos acadêmicos
da UNIJUÍ da área de saúde, nutrição e psicologia. Em 1993 surgem novas
propostas de trabalho como as classes progressivas e as oficinas.
Em 2008, sob direção de Gladis Marize Berno, a escola adotou a proposta
de seriação, currículo este que continua vigorando na escola.
2.3 FILOSOFIA E OBJETIVOS DA ESCOLA
A escola em sua ação educativa tem por filosofia respeitar as diferentes
culturas, resgatando os valores éticos, sociais e morais indispensáveis à convivência
em sociedade, tendo como meta a formação de um sujeito crítico, autônomo, ético,
solidário, responsável e consciente pela busca do conhecimento como forma de
emancipação humana.
De acordo com isso, a escola tem por objetivo o desenvolvimento integral do
educando, resgatando e valorizando a construção das diversas linguagens,
compreendendo os direitos e deveres do cidadão, do Estado, da família e dos
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grupos que compõem a comunidade, respeitando o direito de igualdade e as
diversidades culturais.
Buscando a excelência da qualidade do ensino, temos em nossa PPP o
tempo integral, com o objetivo de propiciar ao educando o acesso às diferentes
atividades que promovam o pleno desenvolvimento, cooperando na aprendizagem,
na permanência e sucesso do mesmo na escola. O tempo integral está organizado
sob
forma
de
oficinas
pedagógicas,
que
proporcionam
meios
para
o
desenvolvimento individual e social do aluno, sendo que alguns por opção da família
permanecem na escola no horário do meio dia. A proposta do tempo integral é o que
diferencia esta comunidade escolar, possibilitando a interação com atividades no
turno inverso, que desenvolvem habilidades significativas para a vida e para a
aprendizagem de cada educando. Esta singularidade faz com que a escola seja
valorizada e respeitada pela comunidade que está inserida.
A essência da nossa proposta é permanência da criança e do adolescente
na escola com o propósito de uma convivência harmoniosa, buscando sempre a
aprendizagem e o convívio social do educando.
Com o trabalho que a escola vem desenvolvendo elevaram-se os resultados
do IDEB, atingindo 5,2 nos anos iniciais e 4,5 nos anos finais. Avanços significativos
que primam por uma educação de qualidade a serviço da vida, ficando o desafio
para o grupo escolar continuar este trabalho, procurando sempre novos desafios
para melhorar e ampliar mais esses resultados.
2.3.1 Da Educação Infantil
A educação infantil tem como objetivo promover a socialização através da
interação entre a criança com o meio, construindo conceitos e valores para a
formação da identidade do educando com autonomia frente aos diferentes grupos a
que pertence, proporcionando a exploração das diferentes linguagens como forma
de comunicação e integração social.
2.3.2 Do Ensino Fundamental
O ensino fundamental tem como objetivo desenvolver um processo
educativo que permita ao educando a construção do conhecimento com sucesso,
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resgatando e vivenciando valores, incentivando e desafiando o espírito de busca,
iniciativa e autonomia para a construção das diversas aprendizagens, com ênfase ao
conhecimento já adquirido.
2.3.3 Do Tempo Integral
O tempo integral tem como objetivo proporcionar ao educando o acesso às
diferentes atividades que promovam o pleno desenvolvimento, cooperação na
aprendizagem, na permanência e no sucesso do mesmo na escola.
2.3.4 Da Gestão do Centro
A equipe diretiva da escola sofreu uma adaptação devido a um problema de
saúde da diretora Flavia, a vice-diretora da escola assumiu interinamente a direção
da mesma, mesmo ficando sem o apoio de uma vice-diretora, a diretora interina
Sandra Savian realiza um trabalho administrativo com clareza, segurança e respeito
aos outros membros da escola, faz o possível para que todas as questões surgidas
dentro ou até mesmo fora do ambiente escolar, mas que dizem respeito à mesma,
sejam resolvidas.
A diretora juntamente com a coordenação da escola realiza reuniões para
discussão dos trabalhos, apresentação de propostas, formações pedagógicas e está
sempre aberta a sugestões que possam vir a contribuir na melhoria da instituição.
2.3.5 Dos Órgãos e Serviços de Apoio
2.3.5.1 A Biblioteca
A biblioteca é o espaço organizado para a guarda do material bibliográfico,
didático e pedagógico, de acesso a professores, alunos e comunidade escolar,
possibilitando a troca, a busca de informações, leituras e produções, sendo atendida
por profissionais com formação adequada, garantindo a efetivação do projeto político
pedagógico.
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Na biblioteca também fica localizado o xerox da escola que é realizado por
uma funcionária específica para isto, o serviço de xerox é aberto para a comunidade
escolar, sendo cobrado um valor diferenciado quando o serviço não tem finalidade
pedagógica.
2.3.5.2 A Secretaria
A secretaria é o serviço responsável pela escrituração e documentação da
escola, dos professores, dos funcionários e dos alunos, sendo de sua competência
expedição de documentos referentes à vida escolar do aluno.
A escola conta com uma secretaria que fica localizada em uma sub sala da
sala da direção, conta com uma secretária que além de realizar as atividades acima,
realiza algumas solicitações de professores como pesquisas e auxilia nas
programações da mesma.
2.3.5.3 Do Círculo de Pais e Mestres
Art. 84. O Círculo de Pais e Mestres tem como objetivo integrar a
comunidade, o poder público, a escola e a família, buscando o desempenho mais
eficiente e autossustentável do processo educativo.
2.3.5.4 Do Clube de Mães
O clube de mães reúne mães de educandos com o objetivo de realizar
atividades no campo social, artístico e culinário, contribuindo para o enriquecimento
pessoal de cada componente e família.
2.3.5.5 Do Grêmio Estudantil
Art. 87. O Grêmio Estudantil congrega educandos da escola e constituir-se-á
num espaço que visa o desenvolvimento de competências relativas à liderança,
autonomia, organização, responsabilidade de cunho social, cívica, cultural e
desportiva.
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2.3.5.6 Espaço Físico da Escola
Os prédios da escola estão passando por uma reforma, todos os ambientes
da escola foram reformados e pintados, o pátio da escola também foi reformado e
melhorado, com calçadas e brinquedos novos.
Basicamente a escola conta com:
- uma grande sala subdividida para direção e secretaria da escola;
- um refeitório amplo e equipado para comportar a demanda da escola que
possui turno inverso e devido a isto fornece almoço aos alunos,
professores e funcionários;
- quatro banheiros, adaptados para deficientes físicos;
- uma biblioteca;
- um auditório;
- uma sala de professores;
- uma sala de informática;
- uma sala de recursos para o AEE;
- uma sala para coordenação e almoxarifado;
- treze salas de aulas para o ensino fundamental;
- duas salas equipadas com banheiros para a pré-escola.
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3 O QUE DIZEM OS SUJEITOS
3.1 O PROJETO NA VISÃO DOS PROFESSORES
A teoria de Vygotsky (1987) enfatiza o papel da importância da linguagem
para a evolução do ser. O ser, logo quando nasce, recebe somente sensações
biológicas, seus estímulos são de dor, calor, frio entre outros. Quando deixa de
sentir somente estes estímulos o ser começa a perceber fatores externos. A partir
daí a criança passa a ver o mundo através de sua própria ótica; só então a
linguagem passa a ser fator de suma importância para adquirir conhecimento. A
troca de culturas enriquece o ser, através da linguagem o ser se comunica, leva
seus saberes aos demais e assim também adquire informações dos demais.
Sabendo que na atualidade a criança vem conquistando seu espaço e que
necessita de meios e instrumentos para uma infância sadia, feliz e repleta de
conhecimentos é importante pensar na construção de contextos educativos
complexos e participativos que sirvam como base para esta infância referida acima.
Segundo Oliveira-Formosinho, Kishimoto e Pinazza (2007, p. 15) “os
saberes pedagógicos criam-se na ambiguidade de um espaço que conhece as
fronteiras, mas não se delimita, por que sua essência está na integração”. É
necessário conhecer o núcleo social que cerca a escola, conhecer os indivíduos ali
inseridos, os espaços disponíveis, a educação não se limita somente no espaço de
sala de aula, principalmente na educação integral a criança precisa de um espaço
maior para explorar. É dever do professor buscar interdisciplinar as áreas do
conhecimento mediando conhecimentos de forma lúdica e prazerosa. Brincar não é
somente diversão, mas é conhecimento, é crescer aprendendo.
Se acreditarmos que o principal papel da escola é o desenvolvimento
integral da criança, devemos considerá-la: na dimensão afetiva/social, ou seja, nas
relações com o meio, com as outras crianças e adultos com quem convive; na
dimensão cognitiva, construindo conhecimentos por meio de trocas com parceiros
mais e menos experientes e do contato com o conhecimento historicamente
construído pela humanidade.
A importância dos professores olharem, ouvirem e sentirem as crianças
pelas quais são responsáveis, aprendendo a respeitar seus ritmos e suas cadências,
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de forma a não se deixarem levar pela voracidade de uma rotina que automatiza
ações e homogeneíza pessoas.
A observação para Oliveira-Formosinho, Kishimoto e Pinazza (2007) é um
processo contínuo que evidencia a singularidade de cada sujeito, já a escuta se
apresenta como colaboração da criança através da fala para o processo de
aprendizagem, a mesma deve ser significativamente evidenciada no planejamento.
Quanto à negociação esta é citada pela autora como um momento de debate entre
educador e educando onde são discutidos conteúdos, processos de aprendizagens,
etc. Este propicia a participação direta do aluno na construção dos planos de aula.
Oliveira-Formosinho, Kishimoto e Pinazza (2007) apresentam o modelo
curricular
que
prevê
tempos,
espaços,
projetos,
atividades,
avaliação
e,
principalmente, a interação com a comunidade e a família. Este modelo é
interessante no momento em que orienta e organiza todas, ou quase todas as
dimensões da escola, permitindo que o educador reflita e consiga propor objetivos
em sua prática, colaborando com a qualificação da mesma.
Os métodos de ensinos são primordiais para a evolução da criança, utilizarse de materiais alternativos que estão presentes no dia a dia do aluno influencia
diretamente no interesse do mesmo. Estamos vivendo em um mundo que está em
constante
evolução,
totalmente
globalizado,
sendo
assim,
necessitamos
acompanhar a evolução deste, não podemos trabalhar fixados na antiga forma de
ensino onde trabalhávamos de forma extremamente tradicional, mas reinventar
nossas aulas.
A avaliação proporciona tanto ao aluno quanto ao professor um momento
reflexivo, ideal para perceber cada um de nossos alunos em sua própria formação,
analisar nossos métodos e trabalhar mais do que a necessidade. A autoavaliação do
aluno faz com que ele se perceba como ser em construção e chegue a uma
conclusão sobre seus esforços, e para o professor a autoavaliação proporciona ao
professor o desejo de aprimorar seu conceito.
A documentação também é importante, pois serve para registrar o que foi
feito em aula. O registro auxilia para armazenar e analisar as aulas, cada atividade
realizada com eles tem algum intuito, após e durante a aula, assim podemos analisar
a aula de uma maneira mais limpa. Visualizando os acontecimentos e as reações
poderemos nos autoavaliar e avaliar o aprendizado dos alunos e melhorar nossa
prática.
20
Nossa sociedade moderna está em constante evolução, as informações
chegam a todo lugar a todo o momento em uma velocidade incrível, todos tem
acesso ao que está acontecendo no mundo, não há restrição de informação, isso se
resulta da globalização. Devemos como pedagogos mergulhar neste novo sistema,
trocar experiências. A troca de conceitos entre as variadas áreas de conhecimento
só vem a somar, pesquisar mais, nos comunicar mais, afinal o conhecimento está
em constante construção, a cada experiência nova aprendemos mais.
No espaço escolar o gestor tem o dever de realizar seu trabalho de forma
democrática, incluindo em todas as decisões representantes de toda a sociedade
escolar. No primeiro dia de aula decoramos a escola para que este espaço seja
agradável aos olhos de quem está a chegar, mas no momento que este dia passa e
que os alunos adentram na sala de aula, a monotonia acaba desmotivando o aluno
de permanecer nas aulas. Este começa a se sentir excluído devido a falta de voz
ativa do aluno que muitas vezes é restringido por professores que não buscam a
interação ou por falta de estímulos para que se sintam seguros a contribuir. Para que
o aluno queira participar ativamente da escola é preciso que a escola busque
alternativas para aproximá-lo do ambiente e torná-lo participativo.
Vendo toda esta reflexão acima, me coloco em meio a um questionamento
inevitável como pedagoga. Devemos estimular sempre o aluno, buscando
variedades e dinamismo em todos os trabalhos, mas quem estimula o professor?
Como este vê o seu trabalho hoje no ensino integral do aluno? Qual a situação dos
professores hoje, seus anseios e conceitos?
A equipe de professores da escola em sua maioria tem entre 11 a 22 anos
de trajetória na escola, tempo que nos proporciona ao entrevistá-los ter evidências
do quanto a troca de experiências se faz importante no dia a dia escolar.
Durante o processo de pesquisa de campo e entrevista com os pedagogos
responsáveis pelo ensino integral na escola pude perceber de início a mútua
preocupação com o bem-estar do aluno. De acordo com eles a escola está cada vez
mais se tornando um local de auxílio social, onde as famílias encontram um aparo
para seus filhos, ali eles podem ficar tranquilos que seus filhos terão todo o
atendimento necessário que vai desde alimentação à escolarização.
Mas será mesmo este o papel da escola, pedagogos somando em seu papel
de educador também o papel de família? Os anseios e preocupações dos mesmos
são para com a situação que encontram todos os dias em suas salas de aula,
21
crianças com fome, frio e carentes, não somente de condições maiores de vestuário
ou alimentação, mas de afeto e motivação.
Em comum os professores apresentam a mesma opinião em relação aos
desafios apresentados ao longo dos dias. A preocupação em resolver dificuldades
para acompanhar o desenvolvimento e os avanços cada vez mais rápidos, a falta de
preparação física da escola para atender adequadamente as necessidades é um
dos pontos levantados por elas, a falta de salas e equipamentos que possibilitem a
informatização e equiparação completa da escola faz com que os trabalhos se
limitem.
Para conseguir um trabalho interdisciplinar e dinâmico, os professores
buscam através de pesquisas e trocas de conhecimentos ampliar seus métodos de
trabalho e realizá-los de forma mais interativa e abrangente, buscando sempre trazer
o aluno para o debate e fazer com que o mesmo seja parte fundamental em seu
processo de desenvolvimento.
Em relação aos alunos, os mesmos relatam as dificuldades encontradas
para manter os alunos motivados e assíduos em meio aos contratempos e
dificuldades trazidas de casa. Para isto a escola conta com o oferecimento de
refeições enquanto o aluno está na escola. Esta pode parecer para muitos que não
convivem em uma instituição localizada em uma comunidade menos favorecida, algo
de menos importância, mas para muitos ali inseridos é algo imprescindível, pois a
falta muitas vezes do mesmo em suas casas faz com que este lanche oferecido na
escola seja de supra importância para seu desenvolvimento.
Algo que me chamou a atenção durante o processo de observação e
pesquisa de campo foi a quantidade de alunos frequentadores do “laboratório de
aprendizagem”, o antigo reforço, alunos com sérias dificuldades em aprender,
problema que vem se arrastando ao longo dos anos como dizem os próprios
professores. Segundo os professores da escola o ensino formal oferecido de tarde
não está sendo suficiente para que o desenvolvimento cognitivo dos alunos
aconteça, dificuldade resultante da falta de importância dada pelos alunos ao ensino.
Segundo Freire (1996, p. 96):
Neste sentido, o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o
aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim
um desafio e não uma “cantiga de ninar”. Seus alunos cansam, não
dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu
pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.
22
Sabendo da importância da preparação adequada do professor para
ministrar conhecimentos e resolver conflitos e dificuldades apresentadas ao longo de
seu desenvolvimento, acredito que a desmotivação não se apresenta sem motivos.
É preciso um olhar crítico dos professores para com suas metodologias utilizadas
para cativar os alunos, somente revendo o processo que se possibilita aprimorar e
se necessário modificar os resultados.
A criança não é uma folha vazia a ser preenchida pela escola, esta traz
consigo uma história, como nos lembra Goulart (1996, p. 41): “A criança, ao entrar
na escola já está, desde o seu nascimento, sendo constituída como sujeito”. Ainda
de acordo com a mesma a criança precisa desejar aprender, caso não se identifique
com o processo, tomará atitudes de negação, fazendo com que deixe claro sua
repulsa.
Assim como já venho falando ao longo dos escritos a pesquisa é algo que
nunca deve deixar a vida de formação continuada do professor, pois sem a mesma
nos tornamos palavras sem fundamento. Veja o que diz Freire (1996, p. 32) sobre a
pesquisa:
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se
encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino contínuo buscando,
reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me
indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo
e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar
ou anunciar a novidade.
Contudo os professores chegam em comum acordo quando o assunto se
refere a importância do turno integral na comunidade, pois este se caracteriza além
de um espaço de aprendizagem, socialização, vivências e troca de experiências,
levando também em consideração a realidade social precária da comunidade. As
crianças não teriam oportunidade de vivenciar essas atividades diferenciadas
(oficinas de recreação, artes...) em outro local, o que coloca a escola além de
espaço educativo como espaço de cultura e lazer.
No geral pude evidenciar que a gestão da escola e a equipe de professores
e funcionários da mesma são comprometidas em realizar um trabalho que contemple
as necessidades dos alunos e as carências da comunidade. A busca por aproximar
a comunidade e a família da escola se faz em promoções e eventos que reúnem
ambos tanto para confraternização e comemorações datificadas, quanto para
23
tomadas de decisões, tendo a comunidade representada por comissões como
conselho escolar e Círculo de Pais e Mestres.
O maior anseio dos professores é melhor preparação física da escola para
atender a demanda de alunos no turno inverso, mesmo tendo passado por uma
reforma recente, os espaços físicos não foram ampliados e as mesmas carências
continuaram, eles desejam espaços para fazer salas ambientes, salas equipadas
para diferentes atividades como: brinquedoteca, sala de espelhos para dança, sala
de vídeo e outras.
3.2 O PROJETO NA VISÃO DAS CRIANÇAS
O ingresso do sujeito na educação formal é um momento de angústia para
todos os sujeitos envolvidos neste processo, a acolhida deste na escola deve
ocorrer de forma harmoniosa e tranquila, é essencial que o professor considere cada
criança como única, trabalhando para que se desenvolva.
É dever da família proporcionar ao seu filho seus primeiros contatos com o
mundo exterior, ensiná-lo a se comunicar e a se locomover, enfim muni-lo com os
mecanismos básicos para seu desenvolvimento ao longo dos anos. É de
responsabilidade dos pais e responsáveis também que garantam que seus filhos
tenham acesso à educação formal.
Para isto a família pode contar com as escolas, mas a família não pode
pensar que assim estará passando toda a responsabilidade da educação de seu
filho para a escola, este trabalho deve ser feito em parceria. A escola além de
garantir um ensino completo e de qualidade, deve também em seu projeto escolar
abranger políticas que englobam a participação da família na escola, assim
conseguirá um ensino que começa na escola e se estende em casa e,
consequentemente, melhores resultados.
A família de hoje não segue mais um padrão desenhado pela burguesia da
sociedade, esta tem várias caras e várias cores. Já passamos do tempo em que
todos tinham pai e mãe, hoje o perfil familiar abrange casais de gêneros diferentes e,
às vezes, do mesmo sexo, filhos adotados ou de pais separados são cada vez mais
encontrados nas escolas, ou até mesmo aqueles criados por avós e parentes mais
distantes. Não podemos ir para a sala de aula esperando encontrar um padrão.
Mesmo com toda esta diversidade no âmbito familiar, este núcleo vem cada vez
24
mais se tornando parte importante na formação do aluno, vem se efetivando parte
da escola.
Refletindo com Freire (1991, p. 16) podemos ver que:
Não devemos chamar o povo à escola para receber instruções, postulados,
receitas, ameaças, repreensões, punições, mas para participar
coletivamente da construção de um saber que vai além do saber da pura
experiência feita.
O olhar das crianças encontrado durante a pesquisa retrata uma
tranquilidade dos mesmos em relação aos anseios dos professores, talvez por não
terem o peso de preocupações exageradas e precipitadas, visando ministrar o
máximo de informações ao mesmo tempo, elas agem com tranquilidade, em seu
tempo e nos mostram a fórmula ideal para enfrentar as dificuldades do dia a dia.
A grande surpresa da pesquisa foi constatar que ao serem indagados sobre
o que mais gostam na escola, tenham em sua maioria, deixado o brincar em
segundo plano e por incrível que pareça o lanche em primeiro, isto pode parecer
estranho ou no mínimo preocupante, mas enfim é a realidade da situação financeira
da comunidade se constatando mais uma vez. A variedade de lanche e comida e a
certeza de uma refeição completa e diária levam muitas crianças a serem assíduas
nas aulas, mesmo em dias de chuva forte, frio e mesmo até muitas vezes alguns
vêm para a aula mesmo doentes, obrigando a escola a encaminhá-los para casa
novamente, pois a mesma não pode permanecer com o aluno enfermo. O
encaminhamento destes é feito mediante a um responsável vir buscá-lo na escola.
O olhar da criança a respeito da escola retrata de maneira enfatizada em
todos os relatos o quanto a escola representa grandiosidade e imponência,
representa para os mesmos um local de cobrança, de exigência de estudos e
conteúdos. Como pode-se ver na fala de um aluno, não identificado por questão de
proteger sua imagem: “Minha escola é legal, educativa e grande” e em outra “A sora
... é mais ou menos querida mas eu gosto dela e a outra profe ... ela é meio brabinha
mas muito divertida”.
Abaixo, pode-se visualizar um quadro com as preferências dos alunos:
1º lanche;
2º brincar;
3º estudar.
25
O brincar é algo considerado importante pelas crianças, é algo prazeroso,
onde eles podem interagir com seus amigos, correr, jogar e extravasar. Isso
constatam as variadas teorias que enfatizam a importância de se ensinar
ludicamente, brincando, de forma mais prazerosa. Goulart (1996, p. 27) nos ajuda a
compreender a importância desse para o aprendizado dos pequenos:
Brincar já é um ato de simbolização na criança. Já pressupõe uma
intervenção terceira, um afeito da função paterna. Em vista disso, o brincar
adquire fundamental importância numa investigação a cerca de quaisquer
transtornos observáveis na criança, seja a nível escolar ou clínico.
A criança através do brincar começa a se apropriar do seu corpo, descobrirse e descobre o outro, este brincando consegue relações entre tempo, espaço e
objeto, assim desenvolve múltiplas áreas motoras e cognitivas que somente em sala
de aula não seria possível desenvolver. Goulart (1996, p. 27-28) completa dizendo:
“Brincando, portanto, a criança se constitui nos três registros (real, imaginário e
simbólico) e é brincando que estabelecerá suas possibilidades de transformar esse
mesmo brincar em trabalho”.
Levando em consideração o panorama familiar encontrado durante a
pesquisa evidenciam-se casos de crianças com famílias grandes, com mais de três
irmãos, muitas que moram com avós e tios, e até mesmo encontrei um caso de uma
criança moradora do lar da criança de Ijuí. Este reflexo de família carente com vários
filhos e outros agregados em casa resulta na resposta das dificuldades encontradas
pelos alunos para estudar e o quanto este ensino mais contemplativo faz-se
importante para estes.
Na foto abaixo, de autoria dos alunos, podemos ver mesas grandes que
proporcionam a integração dos alunos na hora das refeições. Isto é destacado por
todos como um momento de prazer.
26
O mesmo amor se pode visualizar nas ilustrações da pracinha, espaço
designado para as brincadeiras, jogos e demais atividades recreativas, além do
recreio escolar oferecido em dias ensolarados.
Em seus desenhos, como podemos visualizar abaixo, evidenciam-se o
retrato do amor pela atenção que a escola fornece ao aluno ao oferecer lanche,
como se pode ver no retrato do refeitório, escolhido para mostrar o quanto os alunos
gostam desta hora.
Desenho feito por um aluno de 7 anos, participante do laboratório de
aprendizagem. Nesta ilustração ele retrata a pracinha.
27
Ilustração da pracinha da escola, feita por uma aluna de 8 anos, pertencente
ao turno integral.
Fotos de autoria dos alunos, que retratam os brinquedos da pracinha e a
quadra de areia, espaços utilizados para jogos e brincadeiras. Ao lado direito da
foto, fora do espaço de propriedade da escola podemos ver o ginásio do bairro, onde
os alunos realizam jogos, torneios e também onde ocorrem algumas reuniões e
festas da escola. Vale lembrar que este espaço não pertence à escola, mas sim à
comunidade.
Podemos ver também nas ilustrações o gosto pelo espaço de sala de aula,
pois é ali onde eles passam a maioria do tempo na escola. Deste espaço destaco
entre as variadas falas o gosto por novos aprendizados e pela “decoração” da sala.
28
Ilustração da sala de aula, feita por um aluno de 8 anos, pertencente ao
turno integral.
Retrato da sala de aula, feito pelos próprios alunos. Fazendo uma leitura
prévia da foto podemos perceber o espaço da sala mais usado pelo professor
durante a aula.
Nas fotos acima deixei que os alunos pegassem a máquina e tirassem eles
mesmos as fotos dos espaços que mais gostavam e mais frequentavam na escola,
assim é possível registrar a marca do próprio aluno, deixando claro seus gostos e
preferências.
29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do processo de pesquisa na escola tive a oportunidade de conviver
com crianças de uma realidade diferente a qual estava acostumada e até mesmo
acomodada no meu cotidiano escolar. Vivenciar de perto as dificuldades que estas
crianças têm no seu cotidiano me fez refletir o quão importante somos na vida
destes pequenos seres, o quanto um olhar de afeto, carinho, respeito e confiança
faz diferença na vida destes pequenos.
Julgamentos prévios que tomamos, rotulando muitas crianças como
desobedientes, se tornam fúteis e sem fundamento quando conseguimos nos
colocar no lugar deste, conhecendo sua história e sua base cultural. Ao longo do
processo de desenvolvimento das práticas procurei me aproximar ao máximo da
realidade destes, questionando, pesquisando, mas acima de tudo ouvindo o que
estes tinham para me mostrar. Procurei analisar cada relato ou ato que pudesse me
mostrar o que constitui estes seres, quais seus anseios e necessidades e, assim,
repassar para o trabalho.
Ao finalizar este trabalho levo comigo a certeza da necessidade da pesquisa,
para não somente aprimorar nossos conhecimentos, mas também para fazer novas
descobertas, encontrar novos desafios, novas experiências e novos ciclos sociais,
assim poderemos crescer como pedagogos.
Meus estudos e pesquisas não se finalizarão juntamente com este trabalho,
mas pretendo continuar pesquisando e explorando este tema, para aprimorar este
trabalho e poder me tornar uma pedagoga mais completa.
30
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