VARIABILIDADE DA LINHA DE COSTA E VULNERABILIDADE À EROSÃO DA PRAIA DE SÃO JOSÉ DA COROA GRANDE, LITORAL SUL DE PERNAMBUCO, BRASIL. Variability of the Coast Line and Vulnerability to Erosion of Beach São José da Coroa Grande South Coast of Pernambuco, Brazil. Carlos Fabrício Assunção da Silva¹ Eduardo Paes Barreto² Maria das Neves Gregório³ Valdir do Amaral Vaz Manso³ Ana Lúcia Bezerra Candeias³ ¹ Universidade Federal de Pernambuco Centro de Tecnologia e Geociências - CTG Departamento de Engenharia Cartográfica - DECart Av. Prof. Moraes Rego, 1235 – Cidade Universitária, Recife – PE – CEP: 50670-901 [email protected] ² ³Universidade Federal de Pernambuco Centro de Tecnologia e Geociências - CTG Departamento de Geologia - DGEO Av. Acadêmico Hélio Ramos s/n– Cidade Universitária, Recife – PE – CEP: 50740-530 [email protected], [email protected] ³³Universidade Federal de Pernambuco Centro de Tecnologia e Geociências - CTG Departamento de Engenharia Cartográfica - DECart Av. Prof. Moraes Rego, 1235 – Cidade Universitária, Recife – PE – CEP: 50670-901 [email protected], [email protected] RESUMO A praia de São José da Coroa Grande localiza-se a 123 km da cidade do Recife, no município de São José da Coroa Grande, no litoral sul de Pernambuco. Esta área foi escolhida por apresentar atividades turísticas que geraram um rápido crescimento urbano ao longo de sua orla. Nesta área os processos erosivos estão associados não apenas às condições hidrodinâmicas, mas também às ações antrópicas, mais especificamente, à ocupação desordenada do litoral. Este trabalho apresenta a evolução multi-temporal e espacial da linha de costa do município de São José da Coroa Grande, Litoral sul de Pernambuco, no período de 53 anos. Utiliza-se o cálculo da variação de sua progradação e retroação, e análise àvulnerabilidade a erosão costeira. Foi realizado o levantamento da linha de costa de 2013 e o georreferenciamento de aerofotocartas de 1960 e 1970. A linha de costa de 2013, foi realizada através de caminhamento, com o uso de equipamentos (Global PositioningSystm) geodésicos (GPS Trimble R3), no modo relativo cinemático. Utilizou-se a técnica de posicionamento relativo à estação SAT 93110 que representa um dos vértices da RBMC (Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo). As aerofotocartas foram digitalizadas, utilizando-se técnicas e ferramentas de geoprocessamento. A área foi dividida em três setores: setor 1, localizado ao norte da área de estudo, ao norte, setor 2 ao centro e setor 3 ao sul. Os resultados observados na taxa na evolução da linha de costa entre o período de 1960 a 2013 foi que o setor 1, localizado no extremo norte da área de estudo apresentou o maior valor negativo, sendo este na ordem de -0,54m/53anos (retroação). As médias das variações observadas setor 2 foi de +0.89 m/53 anos (progradação) e para o setor 3, foram observado um valor de +0,56 m/53 anos, (progradaçao). Entre o período de 19702013 ao longo de 43 anos, linha de costa do setor 1 também foi negativo. As médias observadas apresentaram valores de -0,69m/43anos no setor 1. Para o setor 2 obteve-se o valor de +1,02 m/43 anos, e no setor 3 +0,73 m/43 anos. Foi observado que parao intervalo de 53 anos, houve recuo da linha de costa em direção ao continente no setor 1. Isto gerou prejuízos para a população local. A partir dos resultados obtidos neste trabalho, é possível definir o estágio erosivo da praia como crítico, frente às tendências evolutivas de recuo da linha de costa deste setor. O setor 3da área, apresenta um ambiente praial desenvolvido, constituído por um ambiente de dunas frontais incipientes, pós-praia e a face da praia desenvolvida. O setor 2, corresponde a parte central da área de estudo também não foi observado um grande processo erosivo, apenas em alguns trecho pontuais, onde as construções se localizam sobre o ambiente praial. Também neste trabalho foi efetuado o mapeamento de toda a orla identificando os trechos em cinco células: A, B, C, D e E. Foram atribuídos índices de vulnerabilidade, definidos como: alto, médio, baixo. As células B e D indicaram alta susceptibilidade à erosão, onde a pós-praia foi totalmente ocupada restando apenas estruturas de proteção. Foi atribuído índice moderado para as células C e E, pois nestes trechos existe uma pós-praia mais desenvolvida com certa tendência a progradação. Finalmente, foi atribuída a célula A, um índice de baixo grau de vulnerabilidade, caracterizada pela baixa ocupação da orla neste setor. Como resultados tem-se que a identificação de setores por meio de índices quantitativos e semi-qualitativos mostrou-se como uma importante ferramenta, sendo mais um subsídio ao gerenciamento costeiro. Palavras Chave: São José da Coroa Grande, Progradação, Vulnerabilidade, população, litoral, periodo . ABSTRACT São José da Coroa Grande is a beach located 123 km far from Recife city, in the city of São José da Coroa Grande, south coast of Pernambuco. This area was chosen because it shows a touristic activity that generated a rapid urban growth along its coast. The erosion process in this area is associated not only to the hydrodynamic conditions, but also to the human actions, more specifically to the disorderly occupation of the coast. This work presents a multi-temporal evolution of the coast in the city of São José da Coroa Grande, south coast of Pernambuco, over a period of 53 years. It is used the variation calculus of its progradation and retroaction and the erosion vulnerability analisys. The line coast from 2013 was performed and the georeferencing of aerofotocartas from 1960 and 1970. The line coast from 2013 was performed by walking, using geodetic equipments (Global Positioningsystem, GPS Trimble R3), in the kinematic mode on. It was used the relative positioning technique to the station SAT 93110, which represents one of the RBMC’s vertex (Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo). The aerofotocartas were scanned by the geoprocessing techniques and tools. The area was divided by 3 sectors: sector 1 at North, sector 2 at center and sector 3 at South. The results observed in the coast line evolution taxes between the years of 1960 and 2013 concluded that the sector 1, located at the northern end of the area, presented the highest negative rate, represented by -0,54m/53 years (retroaction). The average rate observed in the sector 2 was +0.89m/53 years (progradation), and for the sector 3 was observed a rate of +0.56m/53 years (progradation). Between 1970 and 2013, over the 43 years, the sector 1’s coast line was negative. The average rate of the variations presented -0.69m/43 years in the sector 1. For the sectors 2 and 3 the evolution of the coast line was positive. The sector 2 presented +1.02m/43 years, and the sector 3 presented +0.73/43 years. It was observed that over the 53 years, the coast line retreated in direction to the continent in the sector 1. This resulted in loss for the local population. From this work’s results it is possible to define the beach’s erosive stage as critical, front of the evolutionary trends of the line coast’s retreat in this sector. The sector 3 presents a developed beach environment, constituted by incipient foredunes, backshore and facing a developed beach. The sector 2 corresponds to the center of the studied area, which also did not present a big erosion process, only in a few occasional parts where the constructions are located on the beach environment. In this work was also performed the mapping of the entire coast, identifying parts and dividing them in 5 cells: A, B, C, D and E. Vulnerability indices were assigned, defined as: high, medium and low. The cells B and D present high susceptibility to erosion, where the backshore was fully occupied, remains just protection structures. The cells C and E present a moderate content, because in this part exists a more developed backshore, which tends to progradation. Lastly, to the cell A presented a low vulnerability, characterized by the low coast occupation in the sector. As results we have that the sectors indentification through the quantitative and a semi-qualitative rate presents an important tool, being a further support to the coastal management. Keywords: São José da Coroa Grande, Progradation, Vulnerability, population, coast, period. 1. INTRODUÇÃO A linha de costa é o elemento geomorfológico que apresenta alta dinâmica espacial e temporal decorrente de respostas a processos costeiros de diferentes magnitudes e frequências. Suas mudanças de posição são de natureza complexa, envolvendo diversos processos ligados à elevação do nível do mar (em curto e longo prazo), balanço de sedimentos, movimentos tectônicos e reológicos, e causas antrópicas (CAMFIELD & MORANG et al., 1996). Nessa perspectiva, os ambientes costeiros são considerados extremamente dinâmicos, neles processos terrestres, oceânicos e atmosféricos convergem simultaneamente, alterando constantemente suas características, (ÂNGULO et al., 2004). Sendo assim, a compreensão destes ambientes é de estimada importância para o homem, pois é onde a maior parte da população mundial reside, sendo estes bastante afetados pelas atividades antrópicas (TOLDO et al., 2005). O crescimento populacional e, muitas vezes, a consequente ocupação desordenada desta faixa aumentam a pressão sobre os ambientes costeiros, levando à degradação destes e de outros ecossistemas litorâneos, como recifes, estuários, restingas, campos de dunas, entre outros, que têm a função de proteger o litoral. Assim, o ambiente praial representa, sem sombra de dúvidas,aquele mais bem distribuído entre os ambientes costeiros de sedimentação, ou seja, uma região de depósitos de sedimentos costeiros que mudam em resposta às condições variáveis de erosão e deposição. Vários locais da linha de costa do estado de Pernambuco vêm sofrendo nas ultimas décadas um intenso processo de erosão marinha (MANSO et al., 2003). Na área de estudo, localizada no litoral sul do estado, vem apresentando nos últimos anos processos erosivos marinhos,sem um planejamento adequado. A orla marítima de São José da Coroa Grande passou a ser explorada não só pelas atividades turísticas, mas também pela atividade imobiliária, resultando na perda das características ambientais. Este presente estudo tem o propósito de estudar a evolução multitemporal e espacial da praia da linha de costa da praia de São José da Coroa Grande (Figura 1), ao longo de 53 anos, através do cálculo da variação de sua progradação e retroação. O fator importante para tal objetivo consta da necessidade de monitoramento da posição da linha de costa devido ao processo erosivo atuante na área. 2 – ÁREA DE ESTUDO A praia de São José da Coroa Grande está localizada a 123 km da capital Recife, no município de São José da Coroa Grande, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, limite com o Estado de Alagoas (Figura 1). A área de estudo limita-se, a norte, pelo Rio Una, onde se forma um pontal, e, a sul, pelo Rio Persinunga, possuindo, aproximadamente, 4 km de orla. O município ao qual pertence é o menor do litoral sul de Pernambuco, com 74,7 km2 de superfície, apresentando a segunda maior densidade demográfica desse segmento litorâneo – 186,91 habitantes/km-2 (IBGE, 2000). Figura 1 – Localização da área de estudo. Fonte: Autor 2- MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Levantamento de linha de costa O levantamento da linha de costa de 2013 foi realizado através de caminhamentocom o uso de equipamentos (Global PositioningSystm) geodésicos (GPS Trimble R3), Figura 2, no modo relativo cinemático (MENDONÇA et al., 2005). O qual consiste na técnica de posicionamento relativo à estação SAT 93110 que representa um dos vértices da RBMC (Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo). A B Figura 2 – (A) Marco geodésico de referência localizado na cidade de Japaratinga/AL (B) Rover. Fonte: Autor. O ponto inicial foi gerado com técnica de posicionamento estático (20 mm), e a linha de costa foi obtida com técnica de posicionamento relativo dinâmico, com uma taxa de gravação de 5s, para garantir a obtenção dos pontos das coordenadas, em função da velocidade do deslocamento (caminhada). O caminhamento foi realizado através de segmentos, segundo as características naturais ou antrópica da praia. Entre as características naturais foi levado em consideração, praias abertas ou protegidas, presença de beachrocks, cordões rochosos, presença e largura da pós-praia, bem como a largura da praia. Entre as características antrópicas, está o grau de ocupação, a localização da ocupação, a presença de obras de contenção erosiva. 2.2 Georeferenciamento das fotografias aéreas: Para determinar a evolução da linha de costa, foram utilizadas fotografias áreas dos anos de 1960, 1970 e a linha de costa 2013, totalizando um estudo de 53 anos.As fotografias áreas dos anos de 1960 em escala 1:6000 e 1970 em escala 1:2000, foram obtidas junto a Fundação de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife (FIDEM), em formato digital. Para georreferenciar, foi utilizada a ferramenta georeferencingdo ArcGis,que é um software de Sistema de Informações Geográficas (SIG). 2.3 Traçado da linha de costa e cálculo do deslocamento: Após o georeferenciamento das fotografias aéreas foi traçada a linha de costa para cada ano, conforme descrito anteriormente. A integração dos dados georreferenciados, através dosoftware ArcGis10.0, proporcionou o cálculo das taxas de progradação e retroação da linha de costa. Foi calculada a média das taxas de mudança para uma série temporal dos dados vetoriais para os períodos entre 1960-2013, 1970-2013. Os dados de entrada da extensão do DSAS foram gerados dentro de um geodatabase, que também serve como local de armazenamento para a classe de recurso do software gerando transectos e Tabelas relacionadas com os resultados estatísticos. As taxas de deslocamento da linha de costa, foram calculadas com o uso da extensão DSAS 4.2 para ArcGis® 10.0. ODigital ShorelineAnalysis System – DSAS 4.2é uma extensão que permite automatizar grande parte das tarefas relacionadas à análise quantitativa da evolução das tendências de erosão e deposição, através de uma série estatística de tempo e espaço, no caso, posições múltiplas da linha de costa. Entre os métodos estatísticos disponíveis para tanto, foi escolhido o EPR (End Point Rate), o qual faz os cálculos de variação, dividindo a distância do movimento pelo tempo decorrido entre duas linhas de costa: a mais antiga e a mais atual. A determinação das taxas de variação do município foipor meio de transectos perpendiculares a linha de costa, com espaçamento de 5 metros, perfazendo um total de 886 transectos. Levando-se em consideração as características naturais da praia e as atividades humanas ali desenvolvidas, foi realizado um inventário das feições naturais e a relação destas atividades estabelecendo-se três índices de vulnerabilidade definidos como: alto (ausência de pós-praia, faixa do estirâncio reduzida, e estrutura de proteção e/ou contenção); médio (ligeira tendência erosiva ou leve instabilidade, com setores de pós-praia e estirâncio pouco desenvolvidos, e poucas obras de fixação); baixo (tendência à progradação da pós-praia e do estirâncio, com perfil praial bem desenvolvido, sem presença de obras de contenção. Neste estudo, a vulnerabilidade à erosão costeira está conceituada como apropensão de uma determinada área a sofrer danos devido à ação de agentes naturais ou antrópicos, esta pode ser determinada em função da estabilidade e das características da praia, resultando, assim, em uma classificação em setores (células), com maior ou menor tendência à erosão, a partir da seleção de alguns parâmetrosacima citados(variáveis). O significado ambiental da atribuição dos graus de vulnerabilidade, caracterizados como (1) Alta, (2) Moderada e (3) Baixa, é descrito a seguir: (1) Vulnerabilidade Alta – ausência de pós-praia eestirâncioreduzido; praia com tendência erosiva, presença de estruturas artificiais de proteção e alta concentração de ocupação urbana; (2) Vulnerabilidade Moderada - praia com frágil estabilidade ou ligeira tendência erosiva; setores de pós-praia e estirânciopouco desenvolvidos; presença de obras de contenção e média concentração urbana; (3) Vulnerabilidade Baixa –praia com tendência à progradação; pós-praia e estirâncio bem desenvolvidos; ausência de obras de contenção; desenvolvimento urbano incipiente. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Variações da Linha de Costa Entre os Anos de 1960 e 2013 O Setor 1apresentou o maior valor nas taxas de retroação da linha de costa, no extremo norte da área, entre 1960-2013/53 anos, todos os valores médios das taxas de evolução da linha de costa deste setor foram negativos (retroação). As médias das variações observadas apresentam para o Setor 1o valorna ordem de -0,54m/53anos, Setor 2 +0.89 m/53 anos, Setor 3 +0,56 m/53 anos (1960-2013). Quanto ao valor máximo positivos nas taxas de evolução (progradação) entre 1960-2013 (1,77 m/53 anos)para o Setor2 e valor mínimo 1960-2013 (-1.30 m/53 anos) para o Setor 1(Tabelas 1). O deslocamento da linha de costa ao longo da área de estudo pode ser visualizado na Figura 6. TABELA 1 – RESULTADOS DAS TAXAS DE EVOLUÇÃO DA LINHA DE COSTA DOS SETORES 1, 2 E 3, PARA O ANO DE 1960 E 2013. SETOR/ANO Setor 1 1960 - 2013 Setor 2 1960 - 2013 Setor 3 1960 - 2013 Nº Transectos 237 388 208 Média Mínimo Máximo Desvio Padrão -0,54 0,89 0,56 -1,30 0,23 0,17 0,81 1,77 1,27 0,60 0,31 0,24 Os maiores valores nas distâncias dos transectos (Tabela 2, Figura 3) observados no Setor 1 (ao norte da área de estudo), em relação à retroação para o referido setor entre 1960-2013 (-28,52)/53 anos, e para o Setor 2 (na porção central da área de estudo) e o Setor 3 (ao sul da área de estudo) apresentou taxas positivas (+47,24) e (+29,67 m) respectivamente. TABELA 2 - RESULTADOS ESTATÍSTICOS DAS DISTÂNCIAS NOS TRANSECTOS DOS SETORES 1, 2 E 3, PARA O ANO DE 1960 E 2013. SETOR/ANO SETOR 1 1960 - 2013 SETOR 2 1960 - 2013 SETOR 3 1960 - 2013 DISTÂNCIAS Transectos Média Mínimo Máximo 237 388 208 -28,52 47,24 29,67 -68,83 12,25 8,75 42,93 93,79 67,06 Desvio Padrão 31,80 16,45 12,59 3.2 Variações da Linha de Costa Entre os Anos de 1970 e 2013 Entre os anos de 1970 e 2013/43 anos identificou-se que a praia de São José da Coroa Grande passou por processos de retroação da linha de costa na extremidade norte (Setor 1), onde está localizado nas proximidades da desembocadura do rio Una. O Setor 1 teve um recuo de -29,74m em um trecho em aproximadamente 350 m de extensão. As médias de variação da linha de costa em metros/ano para o Setor 1 foi de -0,69m (Tabela 3). TABELA 3 – RESULTADOS DAS TAXAS DE EVOLUÇÃO DA LINHA DE COSTA DOS SETORES 1, 2 E 3, PARA O ANO DE 1970 E 2013. SETOR/ANO Setor 1 1970 - 2013 Setor 2 1970 - 2013 Setor 3 1970 - 2013 Nº Transectos 237 388 210 Média Mínimo Máximo Desvio Padrão -0,69 1,02 0,73 -1,63 0,40 0,08 0,93 2,14 1,71 0,76 0,39 0,35 Os Setores 2 e 3 da praia apresentaram uma progradação da ordem de +43,96 m a + 31,39 m. Quanto às médias das variações (Tabelas 3 e 4) observadas para o Setor 2 foram de +1,02m/43anos e Setor 3 +0,73 m/43 anos. Portanto, houve áreas com tendências a deposição ao longo da costa na porção central e sul (Setores 2 e 3), com área de acresção. TABELA 4 - RESULTADOS ESTATÍSTICOS DAS DISTÂNCIAS NOS TRANSECTOS DOS SETORES 1, 2 E 3, PARA O ANO DE 1970 E 2013. SETOR/ANO Setor 1 1970 - 2013 Setor 2 1970 - 2013 Setor 3 1970 - 2013 DISTÂNCIAS Transectos Média Mínimo Máximo 237 -29,74 -69,99 39,93 388 43,96 17,39 92,01 210 31,39 3,38 73,63 Desvio Padrão 32,73 16,81 14,98 Figura 3 – Mapeamento da linha de costa dos anos de 1960, 1970 e 2013 após a vetorização das mesmas. Fonte: Autor. A mudança da linha de costa em médio prazo está relacionada à variabilidade do nível do mar, que resulta no reajustamento do perfil transversal com o novo nível da água(MILLER & DEAN et al., 2004). A orla marítima corresponde a um ambiente de contato e limite entre o continente e as águas oceânicas, sendo, portanto vulneráveisas mudanças que ocorrem nos ambientes terrestres e marinhos. O ambiente praial está vulnerável a efeitos erosivos e construcionais que afetam a linha de costa (MUEHE et al., 2001). São vários os fatores que influenciam na variação da linha de costa, além dos fatores naturais, como a mudança do nível médio do mar, mudanças climáticas, a falta de suprimento de sedimentos, os fatores antrópicos também influenciam no processo erosivo ou destrutivo destes ambientes, como a ocupação irregular do ambiente litorâneo, barragens, construção de avenidas, portos entre outros. Estudos anteriores desenvolvidos por (MALLNAMM et al., 2008)sobre mudança de linha de costa na praia de São Jose da Coroa Grande, entre os anos de 1961 e 2006, o qual também foi dividido em três setores. Foi observado em relação à evolução da linha de costapara o Setor 1, uma costa erosiva, com um média de deslocamento para este segmento de –63,9 m e os valores extremos negativo e positivo, de –151,7 m e +50,3 m, respectivamente e a taxa anual para o período foi de –1,42 m/ano. Já para o Setor 2 o deslocamento médio nesta praia foi de -35,85m. Todos os transectos apresentaram valores negativos, situados entre -79,13m e -6,48m, a taxa media foi igual a -0,80m/ano. O Setor 3, apresentou um deslocamento compreendido entre -96,1m e +58,8m, o valor médio e taxa de deslocamento foram iguais a -64,8m e -1,44m/ano respectivamente. Os resultados citados acima corroboram os resultados observados na presente pesquisa para o Setor 1. Entretanto os mesmos não correspondem ao observados nos Setores 2 e 3 o qual não foram observados valores médios negativos nas distancias dos transectos. Ressalvando que os resultados positivos do deslocamento da linha de costa no presente estudo destes setores se referem ao período entre 1970 a 2013. A área em estudo apresentou valores negativos em relação às taxasde evolução da linha de costa e nas distâncias dos transectos no Setor 1, para todo o período analisado. E valores positivos nos Setores 2 e 3. Isso significa que a mesma apresenta um processo erosivo apenas no Setor 1 para o período entre 1970 a 2013. Os demais setores não experimentam um processo erosivo, conforme observado em outros trechos ao longo do litoral de Pernambuco. A aplicação da metodologia descrita anteriormente resultou na tabela a seguir (Tabela 4), cujos resultados também podem ser vistos graficamente no mapa de vulnerabilidade produzido para a área (Figura 5). TABELA 5. CLASSIFICAÇÃO DA VULNERABILIDADE À EROSÃO COSTEIRA POR MEIO DOS PARÂMETROS E CLASSES. Parâmetros/Pesos Soma dos Pesos Células = I II III IV Vulnerabilidade A 2 0 2 0 4 B 3 0 3 1 7 C 2 0 3 0 5 D 3 1 3 1 8 E 2 0 3 1 6 Figura 4. Divisão da orla por células indicando o grau de vulnerabilidade à erosão ao longo da costa. Figura 5 .A-D. No setor sul da praia de São José da Coroa Grande-PE, a pós-praia nativa é (A) pouco desenvolvida; (B) Estrutura de proteção; (C) contenção; (B-C); (D) Barracas construídas na pós-praia. O segmento “A”apresenta baixo grau de vulnerabilidade devido à baixa concentração urbana em relação aos trechos anteriores da orla. Também protegida por estruturas naturais, este setor fica próximo a um banco de areia em direção offshoreque mantém o equilíbrio do perfil praial, resultando numa pós-praia mais ampla. Os pontos mais críticos, classificados como de alto grau de vulnerabilidade, apresentam características distintas entre si descritas acima como: pós-praia nativa, estrutura de proteção, contenção, barracas construídas na pós-praias (Figura 5). No segmento “B” do mapa de vulnerabilidade, apesar de haver um índice maior de incidência de ondas, pode-se constatar que era uma área em equilíbrio, explique este era, como pode ser constatado através do trabalho de alguém, ou então apague esta citação, ou conforme fulano..... No entanto, com o avanço da ocupação sobre a pós-praia impediu a manutenção do aporte de sedimento até o estirânciopara a manutenção da estabilidade do perfil praial, resultando na necessidade da construção de uma estrutura de contenção do processo erosivo. Por sua vez, no segmento “D” encontram-se várias estruturas de proteção costeira, do tipo enrocamento, concomitante a lançamentos de efluentes na pós-praia. Os segmentos referentes às imagens C e E da Figura 5, apesar de terem sido classificadas com grau de vulnerabilidade baixo, também possuem algumas peculiaridades. O segmento C apresenta um trecho com pós-praia bem desenvolvida e, a princípio com tendência a progradação. Trata-se ainda de um trecho protegido naturalmente por estrutura rígida. Todavia, as construções presentes na pós-praia e o lançamento de efluentes vêm favorecendo a perda de sedimentos.No trecho que compreende a célula E, a pós-praia possui uma razoável faixa de areia, sobre a qual estão assentadas algumas casas de veraneio e hotéis. CONCLUSÕES Percebeu-se que, para o intervalo de 53 anos, a linha de costa recuou em direção ao continente no Setor 1, provocando prejuízos significativos para a população local e para os proprietários de comércios e casas de veraneio. A partir dos resultados obtidos, é possível definir o estágio erosivo da praia como crítico, frente às tendências evolutivas de recuo da linha de costa deste setor. O litoral apresenta-se bastante urbanizado, o qual nas últimas décadas vem sofrendo um grande processo de erosão marinha, principalmente na região na porção mais ao norte da área de estudo. Esta região da praia da São José da Coroa Grande apresenta problemas de erosão há mais de uma década. O Setor 3 da área, apresenta um ambiente praial desenvolvido, constituído por um ambiente de dunas frontais incipientes, pós-praia e a face da praia desenvolvidas. O Setor 2, corresponde a parte central da área de estudo também não foi observado um grande processo erosivo, apenas em alguns trecho pontuais, onde as construções se localizam sobre o ambiente praial. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao PIBIC/CNPq, PROPESQ e ao LGGM (Laboratório de Geologia e Geofísica Marinha) pelo incentivo e apoio dado para a realização da pesquisa. Ao meu orientador Profº Drº Valdir do Amaral Vaz Manso, a minha amiga e Pesquisadora Profª Drª Maria das Neves Gregório pela ajuda contínua e a minha Profª Drª Ana Lúcia Bezerra Candeias pela grande atenção sempra com minha pessoa. REFERÊNCIAS ÂNGULO, R. J. 2004. Aspectos físicos das dinâmicas de ambientes costeiros, seus usos e conflitos. Desenvolvimento e MeioAmbiente, 10: 175-185. CAMFIELD, F.E. & MORANG, A. 1996.Defining and interpreting shoreline change.OceanandCoastal Management, 32 (3):129-151. MALLMANN, D.L. B, 2008. Vulnerabilidade do Litoral Sul de Pernambuco à erosão.Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Tecnologia e Geociências, Pós-Graduação em Oceonografia, 125p. MANSO, V. A. V.; CORRÊA, I.C. S.; GUERRA, N.C. 2003. Morfologia e Sedimentologia da Plataforma Continental Interna entre as Praias Porto de Galinhas e Campos – Litoral Sul de Pernambuco, Brasil. Pesquisa em Geociências, Porto Alegre (RS), v. 30, n. 2, p. 17-25. MENDONÇA, F. J. 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