Tempo, Maputo, no.364, 25 de Setembro de 1977, pág.62-64
Foi ccrpturqdo um ogenle do exército
rodesiono enviodo poro o nosso poís
com o missão de fornecer informoções
Altt:ttstt ()ot.oí, recrutatlo
-:.
'nu Áfrico
tros rodesiqnos pcrro um otoque de
gronde envergcrdurq contro cl Repútrlico Populor de Moçombique.
rl.o Su.l lNrT'u s(l
ttgett.le rlo
r:rér'<:it.o rorLesiutro.
t 1i
i:: N,
Chanra.seAf onso Joane Cotoi;
2I anos d,e idadel' rnoçarnbicano,
nascido em Zavala.
i
Ern Novembro cie 19?4,na'tn{ha
de c:arvfro sul africana onde eìe
traÌ:alha há uma greve dos minei'
ros para melhoria das condições
de trabzrlho e de vicia. trm vez
de se aliar aos trabalÌradores Afon
so Cotoi colabora corn os patroes
indicando a PolÍcia os nomes dos
principais dirigentes da greve.
( Foi esseprovavelmente o primei.
ro indÍcio de que ele era um agen
te em potência para as forças que
na África do Sul e na Rodésia se
preparavam para organizar toda
a máquina de agressão contra o
nosso paÍs).
TEt'tFO N." 3õ4 -
pâ9, 62
2í1'{'l
?7
Dias rnais tarde dá-se o pritnei.
ro contacto. Urn sul africano, fa.
ìanclo etn portttgttês, convicla
'Afonso Cotoi e alguns amigos a
trabalharem para ele. Fazem alguns serviços cle litnpeza num ar
mazém mas dias clepois são leva
clos para a Rodésia.O percurso é
feito cle carro e atravessam a
fnrnteira com faciliclacte porque
rucìo tinha sicio planeacio com os
rodesianos. Chegam finaimente a
um campo de treino tnilitar. Mais
um traicìor engrossava as fileiras
dos agentes a serem infiltrados na
Iìepúbìica Popular de Moçambi'
que.
TREINO MILITAR,
aUrna vez chegados,eÌes dera,m.
.Ílos comida e uma cama para 0ormir, disseram que começaríamos
a treinar no dia seguinteu,diz Oo.
roi a Informação Moçambtcana.
Esse treirro inclui 5 ÌnesesseÌrì
rìÌ'lna, exerciciclsfisicus e cloutri
naçfÌo.
Nos três meses seguintestreino
com cÌiversos tipos de arma, d-a'
do por militares rodesianos, st"iì.
-africanos, portugueses e de outras nacionalidades. Cotoi con.
tinua: rrEra treino muito duro que
durava o dia inteiro só com intervalos para nos darem lições. De
manhã subia a bandeira, era a
Í. 1
' bandeira da Rodésia do Sul. De; poiS tínhamos treino com armas;
metralhadoras FN, G-3 e outras.
Além dos üreinos e das liçoes, nós
podÍamos ir à cidade. Em redor
do quartel havia mulheres para
nós, mulheres chegadas de Portugal, da África do Sul, rodesianas
e algumas de Moçambique. Toclos
os meses recebíamos o nosso di.
nheiro e podíamos gastá lo ali n
IrÁFRICA LIVREI
E JORGE JARDIM.
re s g o s ta ra m da nranel ra coÌ-Ììo
C o to i p ro c e di a e chamaraÌïr.no
p a ra o u tro , ti po de nri ssi to: sel '
a g e n te d e re conÌreci nrento, sel es
p i ã o . E n ti l o coÌneçou urÌì tl ei no
ttrtti to p Ì' t-' ci so, h' ei no esso cìacl ct
por técnicos imperialistas alta.
m e n te e s p e c i al i zados.
tTDISSER,AIVI-NOS QUtr
IiSTAVA TI.IDO PREPARADO PARA
SE R L AN Ç A D O
U M A TA QU E
C ON T R A M O Ç A MtsIQU E I
ra manci arrnos todas as i nfc llr na.
çc1esu.D epoi s el e conta que t odo
tl rnateri al j á estava prepanr cÌ o:
avi fi es, (;arros cl e assal to, ÌrelÍ ct ip
ter< l s, bonrÌtat' rl ei ros, cttnri i les, ar .
lÌìÍ.ìs e rnttniçÕes. 'I.trcio coÌÌì a ajur
da do exérci to sul .afri cano ( r cÌ e
outros paÍses.
Finalnrente no princilti<l <Ìcstt,
ttrt:s C otoi é l l rrgacl o tl e hel i c: ir plc
Ì' o cl Ìr Moçti ni l ri cl rrt (' oÌìì rrri iis <: t 'n
to e qui i tro agentes cÌe rer:ct nhr : r : i
- r t e t t t o .I i l e c : o r r t l o s c l t r t r t r o 1 ' < l r a t r r
l al gaci os ni ì zonrr cl e Ml rl .l i ri. O Ì r t '
l i cóptero vol turi Ír uns cl i as c lelt or s
pÍìra o ÌevaI' , (' ()rìl o t' stA va c: ot - t - t bi
Afonso Ccltoi cliz agorrÌ o que
É durante as lições que os mili
e
s
ta v a p o r cÌetr' ás cÌa sua rni ssuo
tares rodesianos e outros expli.
d
e
e s p i o n a g ern: r< A s i ndi caçÕes r l t t ( i O .
cam aos agentes recrutados por
que
nos cirrram forarn nrtrit.o yrre
que é que estáo ali. Falam sobre
r:i
s
a
s
. I)i s s u l arÌì.nos rl rte ersta erÍì f.ARI.]ITA 1)Ii] I N I.'I I,'I'ÌÌ ADO
a aÁfrica Livrel mais conhecicÌa
entre nós por rrVoz da Quizumbar; a rn e l h o r a l tura para at,acarrttos,
< rC heguei a regi l i o cl e M upar
que estarra tudo preparado para
e "qlam sobre o capitalista Jorcorn
outros qrrat,r'o sc>lcÌucìos.
IÌles
ser
lançacìo
um
contra
ataque
g- Jardim que está ligado a mui.
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verÍamos
paÍs.
p a ra e s tu c i a r bem a si tuaçi ro e pa
mi ssores. E u estava vesti cÌo cle ci
Diz Cotoi: aFalavârÌ'Íros muitas
v€
do Jorge Jardim, que ele era
c rsso chefe e futuro presidente,
que ele ei'a quem nos iria conduzir à vitóriau.
- QuaI vitória?
nEles diziam que, da mesma ma
neira que a FRELIMO tinha ex.
pulso os colonialistas portugue'
ses com as suas armas, também
nós poderíamos expulsar a F RE.
LIMO se treinássemos muitou
O que Afonso Cotoi diz em seguida dá uma ideia do tipo de
aliciamento que é caracterÍstico
em todos os recrutamentos de ca.
t'ácter mercenário: aDiziam-nos
que Jorge Jardim nos havia de
conduzir para expulsar a FRELI.
MO e que dessa maneira nós po
d -rmos vir a ser muito ricos,
ocl'- 'ì,r os lugares dos ministros,
dos irectores, poderÍamos vir a
ser os doços das fábricas, das machambas e tudo mais. Diziam.nos ,.
q'
quando conquistáSsemos o :
por-rerem Moçambique já não te' i
ríamos que trabalhar mais porque r
o povo trabalharia para nós. Pa'
ra isso tínhamos gue lutar contra
a IB,ELIMOI.
A primeira missáo' de Afonso
Cotoi é fazer parte de um contin
gente de tropas rodesianas que
ategam Mapai. O helicóptero onde ele está náo pode aterrar por
causa do fogo intenso das FPLM
e assim tem que voltar à Rodésia.
nìlittnex
tytt, ttttx ttcitlu?tíInL ere,ttt ,rtttlesitrìtt4i,
Mas duranüe o ataque Cotoi os
s t t l r t l , r . t t : t t t t t , ; ; l, ) , , t . 1 1 ! l ì t t ; , t , : i
ttutrtts qtte. l'ltlutttttn uáríus
lítt11ttttstt.
outros que o acompanhavam lan'
çaram bombas incendiárias sobre
pessoes que fugiam. Os instruto'
TEMPO N." 364 ;-- pág. 63
,,
i
v"
ì
pelas tropas rodesianas. A popu.
lação vive esta situação e já co.
nhece muitas das tácticas do inimigo. Portanto, üffi desconhecido
pode passar despercebido duran.
te certo tempo mas chega sempre um momento que alguém des.
'confia. ^ vigilância popular de'
tectou Afonso Cotoi. Ele conta:
aO helicóptero viria buscar.nos
no dia seguinte e preparei-me pa.
ra passar a noite. Procurei uma
casa onde pudesse ficar e pedi pa.
ra descansar, dizendo que tinha
vindo de Maputo. Receberam-me
puseram uma esteira no cháo e
disseram que eu podia dormir Iá.
Âssim fí2, e como estava muito
cansaclo adormeci. F-ui acordado
^ CAPTUITA
algumas'horas depois por um gru.
po de combatentes da FRELIMO
Gaza é uma província em guer. que me cercavam. Perguntaram'
ïa. atacada dezenas de vezes já .mc quem eu era e donde vinha.
vil e trazia dinheiro moçambica.
no comigol. AÍ ele começa a per'
correr as estradas, caminhos e
linhas férreas, passar junto aos
quartéis das FPLM e pontos de
defesa, contar o número de sol.
dados e registar o tipo de arma
rnento. Cotoi leva consigo um pe.
queno caderno onde anota tudo
que vê. Assim, ele percorre as re'
giões de Chókwè, Barragem e Mabalane. Por fim dirige-se de novo
para Mapai. Mentindo, Cotoi vai
passando despercebido: rrEu dizia
quc ia ver a minha máe que es'
tava doente no Mapai. As pes.
soas acreditavam em mim e, en'
t,rctanto, eu ia observando tudou.
sDiziarn-'nos quc. quando conqtústússe!ìLos tt '1toÌler
em. Moçatrnbique jú. nã,o terío'rnos que trobylltor
'pare n.ós>t.
'porquc o 'poao trabalhari&
Mostrei os meus documentos'*e
disse que vinha do sul. Eles insis'
tiram e levaram.me com eles. No
caminho vi que tinha sido desco'
berto e contei tudo: disse qué ti.
nha vindo da Rodésia e que era
um agente da aÁfrica Livrel...l
O que acontecera foi que após
lhe terem dado um lugar para
dormir na povoaçáo algumas pes
soas foram imediatamente contac.
tar com as Forças Populares di'
zendo que ali estava um estranho,
que ninguém sabia quem ele era.
OS PLANOS DO INIMIGO
Para além do ataque de grande
cnvergadura que estava a ser pre
parado Afonso Cotoi conta tam.
bém que há outros planos:
- a constituiçáo de uma rede
cada vez maÍor e mais ope'
rativa de agentes e espiões
recrutados a partir da Repú.
blica da África do Sul para
acções de sabotagem e espio'
nagern no nosso país;
- o desencadeamentode acçÕes
suicidas por unidades de co.
m&ndos;
.
- a planificação de tentativas
de assassinato clos nossos di'
rigentes;
- a realizaçáo de várias acçÕes
de sabotagem destinadas a
provoca,.r' a desmobilízaçao
popular c criar um clima de
tensáo e desagrado para com
as vitórias alcanÇadas pela
Revoluçáo.
Afonso Cotoi c ulll dos muitos
agentes do regimê de Smith infil.
trados no nosso país. trle PrÓPrio
disse que com ele vieram mais
cento e quatro. Uns sáo aPanha'
dos qtter pelas poPulações,quer
pelas Forças PoPulares. Outros
conseguem Íugir e Passar Para o
lado rodesiano muitas informações nccessárias as unidades in'
vasoras inimigas. Toda'esta acti.
vidade subversiva tende a aumen'
tar nestn altura cm que o regi.
me de Snrith se encontra cada
vez mais entalado entre o fogo
dos combatentes clo ZIPA e a im
Í:ossrbilidacle de o imPerialismo
apoiá.lo qem Preocupações. Por
lanto, lnai.s do qttc nunca a Pala
vra de orclcm aVIGILANCIA> tem
hojc de sel cttmPrida com o má'
ximo de rigor. Pat'ticuiarmente
nas áreas c.irectamen[e afectadas
pela guerra.
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TEMPON.' 364 - pó9, ô4
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