1685 X Salão de Iniciação Científica PUCRS A oposição federalista na Assembléia dos Representantes: análise de algumas lideranças políticas Eduardo Rouston Junior1, André Fertig1 (orientador) 1 Universidade Federal de Santa Maria Resumo Este projeto objetiva analisar as idéias políticas que fundamentavam os discursos produzidos pelos representantes federalistas na Assembléia dos Representantes do Rio Grande do Sul no contexto histórico da Primeira República (1889-1930). O modelo político construído pela Constituição estadual de 1891 desenvolveria um processo de elaboração legislativa externo à Assembléia dos Representantes salvo em questões de orçamento e tributação, fazendo do executivo o elemento chave do castilhismo, ou seja, da vertente gaúcha do positivismo político. De 1891, ano que marca o funcionamento da 1ª legislatura no parlamento estadual até 1912, quando o Partido Federalista elege seu primeiro representante, o alegretense Jorge Pinto, a composição política da Assembléia dos Representantes será constituída apenas por membros do Partido Republicano Rio-Grandense. No entanto, embora fosse atribuído à Assembléia dos Representantes um papel meramente orçamentário, notaremos, ao longo de seu funcionamento, também a formação de uma oposição ao governo castilhista-borgista. Se as primeiras manifestações da oposição federalista, no âmbito da Assembléia, só irão acontecer em 1912, através da participação do deputado Jorge Pinto é, sobretudo, a partir da 8ª legislatura que o confronto entre federalistas e republicanos castilhistas começa a se cristalizar, no plano parlamentar, com a eleição de três novos combativos representantes da oposição: o advogado Gaspar Saldanha (Alegrete), José Alves Valença (Júlio de Castilhos) e Carlos Catharino Azambuja (Tupaciretã). Compreender e comparar a atuação e os discursos destas lideranças e de outras que se opunham ao governo republicano no parlamento estadual bem como resgatar os principais debates políticos em pauta durante tal legislatura é nosso objetivo maior. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 1686 Introdução A proclamação da República em 1889 significou, no Rio Grande do Sul, a quebra do projeto liberal. Com o novo regime instalado, o poder político passaria para o Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) que, através de seu líder máximo, Júlio de Castilhos, organizaria um aparelho de estado voltado à manutenção dos republicanos no governo e ao afastamento sistemático de elementos ligados a outros grupos políticos. A constituição riograndense, promulgada em 14 de julho de 1891, passaria a ser o suporte de poder ao PRR e a forma de institucionalizar a visão particular de república embasada num modelo autoritário e conservador que o castilhismo veiculava. No entanto, a mudança de regime político não iria banir do estado a defesa que os liberais, liderados por Silveira Martins, desde o regime monárquico, faziam da sua forma de governo. Com a ascensão dos republicanos ao poder, o Partido Liberal não desaparece, por ser um partido consistente e representar os interesses dos grandes criadores e latifundiários, passando a se chamar, anos mais tarde, de Partido Federalista. No decorrer da Primeira República, essa oposição oriunda do antigo Partido Liberal criaria também um espaço político para a sua atuação obtendo condições favoráveis para o reconhecimento de sua existência política. Exemplo disso é o que ocorre nas instituições representativas do sistema político, em especial, no parlamento estadual. Embora a Constituição castilhista atribuísse à Assembléia dos Representantes uma função meramente orçamentária, ela servirá também como espaço político ativo para o confronto entre republicanos castilhistas e federalistas durante o contexto da Primeira República. Dessa forma, nosso foco de investigação está centrado na análise dos discursos e das críticas produzidas pela oposição federalista ao governo republicano na Assembléia dos Representantes, enfatizando, principalmente, o contexto da 8ª legislatura (1917-1920), quando o estilo da participação parlamentar oposicionista torna-se mais agressivo com a eleição de três novos parlamentares federalistas: Gaspar Saldanha, José Alves Valença e Carlos Catharino Azambuja. Metodologia Entendemos a metodologia como a forma de diálogo que o historiador estabelece com as fontes e a estratégia que ele percorre, através da pesquisa empírica e da relação que se constrói entre objetivos, referencial teórico e fontes, no intuito de realizar a produção do conhecimento histórico. Os Anais da Assembléia estadual vem sendo nossa principal fonte para a realização de tal pesquisa, pois nossa pretensão principal consiste em recuperar os X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 1687 debates que estavam na pauta política do parlamento estadual, com destaque para a conjuntura política da 8ª legislatura (1917-1920). Nosso intuito central consiste, nesse sentido, em identificar como atuavam os deputados oposicionistas, verificando que questões e idéias os mobilizavam. Composta por 48 membros eleitos de forma direta para um mandato de quatro anos, a Assembléia dos Representantes não possuía atribuição legislativa, sua função majoritária era a votação do orçamento do governo estadual. Sendo assim, nossa estratégia metodológica vem sendo caracterizada também pelo estudo da trajetória política dos representantes da oposição federalista no plano parlamentar ao longo da Primeira República. Resultados (ou Resultados e Discussão) A partir das fontes e da documentação pesquisada, estamos identificando que os representantes da oposição federalista, sobretudo, a partir da 8ª legislatura, desempenharam um papel ativo na confecção dos debates no âmbito da Assembléia estadual. Denúncias com relação ao limitado papel político da Assembléia dos Representantes bem como à ausência de liberdade de ação e de pensamento sob o governo de Borges de Medeiros apareceram com bastante freqüência nos Anais da Assembléia estadual. Estamos percebendo também que a discussão do orçamento, de fato, consistia numa das principais questões levantadas por tais deputados. No entanto, tal discussão, na maioria das vezes, vinha intercalada com as intervenções da oposição em sua crítica às instituições políticas castilhistas, à ditadura de Borges de Medeiros e à política econômica levada a cabo pelo governo. Conclusão Portanto, observa-se que o nível do debate político, apesar das restrições formais impostas pela Constituição rio-grandense, torna-se mais amplo a partir da 7ª legislatura (1913-1916), quando o Partido Federalista elege seu primeiro representante no parlamento estadual e, sobretudo, com a 8ª legislatura, quando a bancada oposicionista se amplia a partir da eleição de três novos deputados. Percebe-se, nesse sentido, que é, especialmente, durante o contexto de tal legislatura que a discussão na Assembléia dos Representantes torna-se mais intensa entre os representantes da oposição e os deputados republicanos. Referências FERREIRA, Marieta de Moraes. A nova “velha história”: o retorno da história política. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, Vol. 5, N° 10 (1992), pp. 265-271. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 1688 JULLIARD, Jacques. A política. In: LE GOFF, Jacques e NORA, Pierre (org.) História: novas abordagens. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. KUHN, Fábio. 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