PERSONAGEM Carrinho do ‘Baiano’ tem buzina e fotos de santos Gustavo Cortez Os moradores de Pouso Alegre já estão acostumados com Genevaldo José Pereira, 44, mais conhecido como o “Baiano do Carrinho”, que circula pelas ruas da cidade todos os dias recolhendo lixo reciclável. Com um carrinho personalizado e chamativo, ele desperta simpatia e olhares curiosos da população. Apesar do apelido, Genevaldo nasceu em Olinda, em Pernambuco, e foi para São Paulo com a mulher e quatro filhos tentar uma vida melhor. “Lá em Olinda era ruim de serviço, precisava de mais dinheiro para sustentar a casa”, explica Baiano. Na capital paulista, trabalhou como borracheiro por 12 anos com carteira assinada, e foi lá que começou a catar lixo depois de perder o emprego. Os grandes centros urbanos não favoreceram a vida do “Baiano do Carrinho”, e mais uma vez, junto com a família, saiu pela estrada e foi parar em Cambuí, no Sul de Minas, onde continuou a recolher lixo até chegar em Pouso Alegre, seis anos atrás. “Resolvi catar lixo em cidades pequenas, por que aqui a vida é mais fácil e as pessoas me dão mais atenção”, pondera. O catador de lixo, que não perdeu totalmente o sotaque nordestino, usa tênis velho, a roupa surrada e óculos escuros. Despertando a curiosidade por onde passa com seu carrinho decorado com fotos e objetos pendurados, ele caminha diariamente pelas ruas da cidade recolhendo papelão, plástico e latinhas de alumínio. O material é vendido para um depósito perto de sua casa, no bairro São Geraldo. Essa foi a única maneira que encontrou para sustentar a família. “Tenho uma família para sustentar. Quem não vai à luta e fica esperando a ajuda dos outros, morre de fome”. Genevaldo: “Já fui para Aparecida do Norte com meu carrinho” O serviço de som é um dos principais atrativos do carrinho de Genevaldo, com o aparelho de rádio sempre sintonizado na D2-FM, sua emissora favorita. A energia que sustenta as peças eletrônicas vem de duas baterias de carro anexadas na parte inferior do carrinho. Com bom humor, ele brinca com as pessoas nas ruas, PRIMEIRA PÁGINA, Novembro de 2004 recebendo cumprimentos e elogios. Durante a entrevista ao Primeira Página, crianças que passeavam de bicicleta se manifestavam: “Aumenta o som aí, tio”. Faróis, retrovisores e até uma placa de identificação tornam o instrumento de trabalho do catador de lixo um veículo verdadeiramente seguro para circulação nas vias da cidade, onde ele respeita todas as leis de trânsito. A decoração do carrinho começou involuntariamente cinco anos atrás. Nele, Genevaldo começou a pendurar objetos que encontrava pelas ruas, tendo montado um mini-santuário na parte de trás, onde aos poucos também incluiu fotos de mulheres seminuas. “No meu carrinho tem de tudo. Quem quiser, vai ver mulher pelada; e quem quiser ver santo, também vai encontrar um monte”, brinca. De domingo a domingo, ele percorre a cidade inteira sem percurso definido e horário fixo. “Eu saio de casa sem saber para onde vou e que horas vou voltar”. Atrair atenção e possuir carisma trouxe a ele amigos em toda cidade. Mesmo sem destino certo, ele sabe que em vários bairros já tem material garantido, esperando por ele toda semana. Genevaldo se considera aventureiro e corajoso. Quando não consegue recolher lixo suficiente, ele sente a necessidade de buscar outras cidades para trabalhar, mas sempre acaba retornando a Pouso Alegre. Puxando seu veículo, ele sai pelas estradas sem rumo e sem a família. “Não tenho medo de nada, já fui para Aparecida do Norte a pé com meu carrinho, e há dois anos fui para Barretos também”, afirma Genevaldo e adianta que sua próxima viagem já tem destino certo: Itajubá. Um dos seus próximos objetivos é fazer propaganda para o comércio de Pouso Alegre, pois segundo ele uma farmácia já estaria interessada em anunciar no seu carrinho. “Se tudo der certo, vou ganhar uma quantia fixa por mês”, fala o catador de lixo, que nessas últimas eleições conseguiu faturar um dinheiro extra fazendo propaganda para alguns candidatos. 11