64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 CARACTERIZAÇÃO FOTOSSINTÉTICA DE Eichhornia crassipes (Pontederiaceae) EM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE ELEMENTOS TÓXICOS 1 1 1 1 1 Fabricio J. Pereira *, Evaristo M. Castro , Marinês F. Pires , Márcio P. Pereira , Estefânia S. Ribeiro , 1 1 Vinícius E. Ribeiro , Felipe F. Corrêa 1 Universidade Federal de Lavras; *[email protected] Introdução Elementos tóxicos como o cádmio (Cd) e arsênio (As) estão presentes no ambiente de forma natural, decorrente da decomposição de rochas. Contudo, as atividades industriais e agrícolas promovem a intensificação da deposição de elementos tóxicos no ambiente levando a níveis perigosos aos organismos. A fitorrememediação pode utilizar plantas para a remoção desses contaminantes do ambiente, devendo-se conhecer detalhes da fisiologia das plantas que podem ser utilizadas para essa finalidade. O objetivo do presente trabalho foi caracterizar o perfil fotossintético das plantas de águapé (Eichhornia crassipes (Mart.) Solms. Pontederiaceae) em função de diferentes concentrações de As e Cd por meio da curva de resposta entre fotossíntese e concentração de carbono interno foliar. Metodologia Indivíduos de E. crassipes foram coletados no Sul de Minas Gerais em açudes naturais. As plantas coletadas foram cultivadas em casa de vegetação para obtenção de gerações clonais aclimatizadas e livres de As e Cd residuais. Os clones foram padronizados quanto ao tamanho e utilizados para a montagem do experimento, sendo colocados em bandejas de poliuretano contendo 4 L de solução nutritiva modificada de Hoagland e Arnon a 40% da força iônica com as seguintes concentrações de As ou Cd: 0,0 (controle); 3,5; 7,0; 14,0 e 28,0 µM em casa de vegetação. As plantas foram mantidas nessas condições por 20 dias. Ao final desse período foi realizada curva de resposta da fotossíntese em função do aumento da disponibilização do carbono interno em uma planta por concentração de metal. Essa curva foi confeccionada com o analisador de trocas gasosas no infravermelho (LI-6400XT, Li-cor, Lincoln, Nebrasca, USA) padronizando a radiação na câmara do aparelho -2 -1 em 1000 o fluxo da bomba em 500 µmol.m .s e a temperatura em 30°C. A curva foi determinada padronizando-se de forma crescente a concentração de CO2 utilizando-se o acessório para disponibilização externa de CO2 (6400-01, Li-cor, Lincoln, Nebrasca, USA) com concentrações crescentes desse gás. Foram confeccionadas curvas de resposta da fotossíntese a esse gás e calculados a limitação da fotossíntese pela carboxilação da rubisco (Vcmax), a taxa máxima de carboxilação em função da transferencia de eletróns (Jmax), a taxa de regeneração da rubulose-1,5-bifosfato (estimada por Vcmax/Jmax) e a respiração no escuro (Rd) segundo modelos propostos por [1]. Os dados da fotossíntese (A) foram plotados contra a concentração de carbono interno (Ci) e submetidos à regressão, sendo calculados os parâmetros da fotossíntese de acordo com os modelos propostos. Resultados e Discussão Os dois elementos tóxicos avaliados promoveram efeitos semelhantes nas características avaliadas nas plantas de E. crassipes. Os valores para o grupo controle foram de -2 -1 209,2 µmolCO2 m s para o Vcmax, de 143,56 µmol e m 2 -1 s para o Jmax, 0,7 para a relação Vcmax/Jmax e de 8,33 -2 -1 µmol CO2 m s para a Rd. Presença de As reduziu o Vcmax em todas as concentrações testadas, sendo que ocorreu uma máxima redução de 35% na concentração de 3,5 µM. O Cd promoveu uma redução mais acentuada e proporcional à concentração do elemento com uma redução máxima de 51,24% na concentração de 3,5 µM para o Vcmax. Contudo, o As promoveu um aumento do Jmax em 5% na concentração de 14 µM, enquanto ocorreram variações nessa característica na presença de Cd, com um aumento de 9% até a concentração de 14 µM seguido de uma pequena redução de 16,36% na maior concentração do elemento. A taxa Vcmax/Jmax aumentou nas plantas de E. crassipes na presença de As e Cd, sendo, respectivamente um máximo de 57,14% para o As (na concentração de 7 µM) e de 85,71% na concentração de 28 µM de Cd. A variável Rd também reduziu na presença de ambos os elementos tóxicos exibindo uma redução máxima de 67,95% na concentração de 14 µM de As e de 69,99% na mesma concentração de Cd. A espécie E. crassipes já demonstrou capacidade para remediar o Cd e As, inclusive demonstrando aumento na atividade fotossintética da planta na presença desse elemento [2]. As modificações observadas para as características fotossintéticas no presente trabalho demonstram que pode ter ocorrido um favorecimento do fluxo de elétrons na fase fotoquímica da fotossíntese (Jmax), bem como um aumento na taxa fotossintética em função da redução da Rd e do aumento na razão Vcmax/Jmax na presença de elementos tóxicos, apesar da redução no Vcmax que pode não ser significativo para reduzir a fotossíntese nas concentrações testadas de As e Cd. Conclusões Plantas de E. crassipes modificam as características fotossintéticas na presença de As e Cd, contudo, sem evidências de prejuízo para sua fisiologia em função desses elementos. Agradecimentos Agradecimento ao CNPq, FAPEMIG e CAPES pelo financiamento do projeto e bolsas concedidas. Referências Bibliográficas [1] Farquhar, G.D.; Von Caemmerer, S. & Berry, J.A. 1980. A Biochemical Model of Photosynthetic CO 2 Assimilation in Leaves of C 3 Species. Planta 149: 78-90. [2] Pereira, F.J.; Castro, E.M.; Oliveira, C.; Pires, M.F. & Pasqual, M. 2011. Mecanismos anatômicos e fisiológicos de plantas de aguapé para a tolerância à contaminação por Arsênio. Planta Daninha 29: 259-267.