Recomendações para inclusão de critérios de sustentabilidade no projeto para a construção do prédio de laboratórios da ENSP no Campus Manguinhos 1. Introdução A inclusão de critérios sustentáveis em diferentes ações, seja no âmbito público ou privado, faz-se necessária e primordial devido ao comprometimento do equilíbrio ambiental em escala mundial. Fato este, de conhecimento público e exaustivamente explorado nos veículos de comunicação e, sendo ainda, objeto de estudo e pesquisa de diferentes organizações. Diante desse panorama, o Estado Brasileiro demonstra seu envolvimento através da criação de diretrizes, políticas e do incentivo à programas que envolvam a sustentabilidade. Esse direcionamento se reflete em uma extensa legislação ambiental, que envolve desde políticas, como a Política Nacional de Meio Ambiente, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos e Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia, a uma série de resoluções e normas técnicas. As instituições públicas devem estar alinhadas as diretrizes e realizar ações que concretizem as políticas governamentais. É importante a retomada do caráter indutor e regulador de ações destas instituições, devido a sua capacidade de promoção de valores junto à sociedade. Sendo a Fiocruz uma instituição de pesquisa em saúde pública, prevê em sua missão institucional a melhoria da saúde e da qualidade de vida da população brasileira. O seu comprometimento com valores socioambientais encontra-se explicitado nos valores institucionais e no Plano Quadrienal da instituição. 1 A adoção de critérios de sustentabilidade em ações institucionais demonstra a aplicabilidade desta política. Cabe ressaltar que as bases para esses objetivos encontram-se em um ambiente saudável e equilibrado. A instituição apresenta atualmente a necessidade de modernização de seus prédios em atendimento aos critérios de qualidade e biossegurança, de ampliação do seu parque de equipamentos e consequentemente da área construída. Evidentemente, isso implica em intervenções prediais e novas obras. A construção civil é um dos segmentos que mais consome recursos naturais do planeta e utiliza energia de forma intensiva, além de ser um dos grandes responsáveis pelas emissões que intensificam o efeito estufa. Assim, os novos empreendimentos devem ter o menor impacto, reduzir os custos de operação e manutenção e conservar os recursos naturais disponíveis, corroborando com o conceito de desenvolvimento sustentável (econômico, social e ambiental). A incorporação deste conceito no projeto alinha sua execução aos valores institucionais e as diretrizes governamentais. 2. Justificativa A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) instituiu em 02/01/2013 (portaria 001/2013) a Comissão de Gestão Sustentável, em revisão a portaria 017/2012 de 05/06/21012. Dentre as suas atribuições essa comissão deve articular/intermediar ações executivas junto às instâncias pertinentes internas e externas e propor ações de melhoria na área de sustentabilidade. Em reconhecimento ao papel dessa Comissão no cuidado socioambiental da ENSP, o estudo inicial do novo Prédio de laboratórios da ENSP foi apresentado pela equipe técnica da DIRAC e contou com a presença de representantes dessa Comissão em reunião ocorrida em 07/12/2012. Desde então, membros da Comissão de Gestão Sustentável da ENSP têm discutido e elaborado propostas que foram consolidadas nesse documento. As contribuições apresentadas a seguir visam recomendar ações de sustentabilidade ambiental a serem incorporadas aos estudos em andamento para elaboração do projeto do novo Prédio de Laboratórios da ENSP, em atendimento aos valores institucionais e diretrizes governamentais vigentes. 2 3. Sugestão de critérios de sustentabilidade A elaboração do projeto básico ou executivo para contratação de obras e serviços deve incluir especificações e demais exigências de forma a englobar os elementos de sustentabilidade regulamentados e tecnicamente viáveis, conforme ormativa nº 01 de 2010. 3.1 Materiais sustentáveis A especificação desses itens deve priorizar a utilização de materiais menos perigosos, duráveis, certificados, recicláveis e/ou reutilizáveis e de produção de origem local. Pode-se exemplificar como ação a utilização de: • tintas à base de água, livre de compostos orgânicos voláteis, sem pigmentos à base de metais pesados, fungicidas sintéticos ou derivados de petróleo; • materiais/produtos que não contenham amianto na sua composição; • revestimentos que favoreçam o conforto térmico e acústico e de fácil limpeza; • pisos externos que favoreçam a infiltração das chuva; • madeira certificada de origem legal e proveniente de manejo florestal responsável ou reflorestamento (edificação ou canteiro de obra); • utilização de materiais que sejam reciclados, reutilizados e biodegradáveis, e que reduzam a necessidade de manutenção; • priorizar o emprego de mão-de-obra, materiais, tecnologias e matériasprimas de origem local para execução da obra; • exigir o uso obrigatório de agregados reciclados na obra, sempre que existir a oferta de agregados reciclados, capacidade de suprimento e custo inferior em relação aos agregados naturais. 3.2 Arquitetura Sustentável O aproveitamento racional de recursos naturais através de soluções arquitetônicas pode representar redução nos recursos públicos investidos através 3 da minimização do impacto ambiental associado à nova construção. Várias soluções podem ser apresentadas e, como exemplo, pode ser citado: • revestimento de cor clara nas cobertura e fachadas para reflexão dos raios solares; • aproveitamento da ventilação natural, quando possível; • emprego de soluções construtivas que garantam maior flexibilização na edificação de maneira a partir fácil adaptação a mudanças evitando reformas, quando aplicável; • paisagismo privilegiando espécies nativas e quando possível, que consumam pouca quantidade de água; • telhado verde visando a redução da temperatura interior; • criação de áreas verdes de convivência; • garantir a acessibilidade para pessoas com deficiência (Norma ABNT/NBR 9050). 3.3 Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil A construção de uma nova edificação consome recursos naturais e gera resíduos durante o processo. A sustentabilidade do projeto engloba a minimização do impacto causado e a otimização do uso dos recursos empregados. Segundo Viggiano (2010), a etapa de obras e o gerenciamento do canteiro correspondem a uma importante parcela do custo final e do impacto ambiental que interferem diretamente no ciclo de vida da edificação. Esse local pode ser projetado e organizado com a inclusão de critérios sustentáveis do ponto de vista ambiental, como: • minimização do uso dos recursos naturais; • reuso de água e reaproveitamento de águas de chuva; • redução da perda de materiais; • utilização de materiais recicláveis ou reutilizáveis nas estruturas do canteiro; • reciclagem ou destinação adequada dos resíduos; 4 • redução das emissões totais de CO2 com transporte de insumos e produtos e o consumo de energia. Cabe ressaltar, que conforme a Instrução Normativa nº 01 de 2010 “o Projeto de Gerenciamento de Resíduo de Construção Civil - PGRCC, nas condições determinadas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, através da Resolução nº 307, de 5 de julho de 2002, deverá ser estruturado em conformidade com o modelo especificado pelos órgãos competentes”, desta forma, o PGRCC deverá ser previsto no edital pela proponente da construção. 3.4 Ações de eficiência energética Em uma iniciativa sustentável, o estudo desse projeto aponta para a necessidade dessa construção apresentar a certificação “Procel”, informação repassada em reunião realizada em 07/12/2012 pela equipe técnica da Dirac. Esta certificação que é especialmente voltada à Eficiência Energética das Edificações – EEE aliada ao conforto ambiental – CA adota critérios e tecnologias eficientes desde a fase de concepção do projeto. Assim, o emprego dessas tecnologias pode representar uma economia superior aos 50% em relação a outra edificação concebida sem esses critérios. Essa ação possibilita empregar conceitos de eficiência energética, agregar valor à construção e viabilizar a implementação da Lei 10.295/01 induzindo mudanças no mercado da construção civil. A concepção proposta pela certificação é extremamente ampla e envolve vários aspectos considerados da arquitetura, totalmente porém indispensáveis serão sugeridos e focados em apenas alguns tecnologias que economizam energia elétrica com, por exemplo: • automação da iluminação do prédio, projeto de iluminação, interruptores, iluminação ambiental, iluminação tarefa, uso de sensores de presença; • uso exclusivo de lâmpadas fluorescentes compactas ou tubulares de alto rendimento (preferencialmente T5) e de luminárias eficientes; • energia solar, ou outra energia limpa para aquecimento de água; 5 • inclusão de elevadores inteligentes. 3.5 Ações de uso racional da água A construção de um prédio mais econômico e de menor impacto ambiental envolve a adoção de medidas estruturais e a inclusão de equipamentos economizadores de água. A aplicação destas ações tecnológicas visa à eliminação do desperdício e redução do consumo, como recomendação pode-se citar a inclusão: • reaproveitamento de água de chuva e águas cinzas para descarga de banheiros e irrigação de jardins; • sistema individual de medição de consumo; • sistema de filtro a montante da reservação e do barrilete; • utilização de equipamentos poupadores de água. 3.6 Gestão de Resíduos O manejo dos resíduos sólidos engloba as etapas de segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final. A gestão destes resíduos deve abranger inclusive as etapas de planejamento dos recursos físicos da construção, que devem ser adequados para o correto fluxo de trabalho e armazenamento do resíduo. O correto gerenciamento destes resíduos deve obedecer legislações e normas técnicas pertinentes, como a Política Nacional dos Resíduos Sólidos e a RDC ANVISA 306/04 incluindo um abrigo de resíduos adequado as necessidades e as normas técnicas, como a ABNT/NBR 12235. No que tange ao conceito de acessibilidade, segurança e logística, foi identificada a necessidade de um acesso alternativo para o abrigo de resíduos, tendo em vista que apenas um está descrito no projeto apresentado. Em adição, foi indicada também a necessidade de inclusão de mais um elevador para a retirada dos resíduos na área de laboratórios. 3.7 Saúde e Segurança do Trabalhador 6 A proposta de sustentabilidade deve englobar o conceito social que inclui a atenção com a saúde e segurança do trabalhador envolvido nas atividades e serviços utilizados pela instituição. No que tange a esse conceito, deve-se observar a inclusão no projeto do atendimento as normas trabalhistas quanto à Segurança e Medicina do Trabalho expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego e a capacitação dos trabalhadores com ênfase em saúde e segurança do trabalho. 4. Considerações A Fundação Oswaldo Cruz demonstrou seu comprometimento com as diretrizes atuais e capacidade de realizar projetos sustentáveis ao receber a certificação no Processo AQUA (Alta Qualidade Ambiental) na fase programa pelo projeto do campus Fiocruz em Fortaleza. Esse fato confirma a exequibilidade de uma nova construção com critérios sustentáveis na instituição. Os critérios de sustentabilidade apresentados, em sua maioria, são recomendações para a melhoria do processo e adequação da nova construção as diretrizes governamentais estabelecidas em prol da preservação dos recursos naturais. Entretanto, alguns pontos citados são uma exigência legal, formalizadas através de legislações, resoluções e normas técnicas pertinentes, como a apresentação do Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (Resolução CONAMA 307/2002). A Instrução Normativa nº 01 de 2010 “dispõe sobre os critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional e dá outras providências” e deve ser observada na elaboração de processos e projetos da administração pública. Cabe ressaltar as recomendações em relação ao acesso do abrigo de resíduos e a inclusão de um elevador na área de resíduos por serem pontos importantes para o gerenciamento interno dos resíduos e melhoria das condições de acessibilidade e segurança, garantindo uma maior eficiência na logística de transporte e armazenamento dos resíduos. 7 Este documento apresenta contribuições para o fortalecimento da parceria entre os grupos de trabalho envolvidos nesse projeto. O compromisso institucional com o conceito de responsabilidade socioambiental pode ser reforçado com a prática da construção sustentável do ponto de vista social, econômico e ambiental. 5. Referências Bibliográficas Brasil. Lei nº 12.305 de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasil. Lei nº 10.295, de 17 de outubro de 2001. Dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e dá outras providências. Brasil. Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasil. Instrução Normativa 01 de 19 de janeiro de 2010. Dispõe sobre os critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional e dá outras providências. Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Relatório Final do VI Congresso Interno da Fiocruz. 2010. Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental. Departamento de Cidadania e Responsabilidade Socioambiental. 2009. Agenda Ambiental da Administração Pública (A3P). Brasília. 5ª edição. 8 Brasil. Ministério da Saúde. Agência nacional de Vigilância Sanitária. Resolução de Diretoria Colegiada – RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. – Resolução 307 de 5 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Escola Nacional de Saúde Pública. Portaria GD-ENSP 001/2013. Alteração da Portaria GD-ENSP 017/2012, para constituição da Comissão de Gestão Sustentável em substituição a Comissão de Interna de Gestão Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca Fundação Vanzolini. Processo Alta Qualidade Ambiental (AQUA). Disponível em: http://www.vanzolini.org.br/hotsite-104.asp?cod_site=104. Acesso em 20/01/2013. JOHN, V. M. A construção, o meio ambiente e a reciclagem. Artigo. São Paulo:PCC-EPUSP. Disponível em <http//www.reciclagem.pcc.usp.br>. Acesso em: 23/01/2013. Karliner, Joshua & Guenther, Robin. 2011. Agenda Global Hospitais Verdes e Saudáveis. In: www.hospitaisverdes.net Viggiano, Mário Hermes Stanziona. 2010. Edifícios públicos sustentáveis. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas. 9