SOCIEDADE & AMBIENTE Site: www.aipan.org.br Fone: (55) 3333-0256 A perereca do presidente A nossa cultura é formada também pelos valores que cultivamos, defendemos e cultuamos. Os valores se definem através de nossas atitudes e de nossas palavras. As palavras ditas, verbais ou escritas, com muita sutileza, frequentemente e normalmente, manifestam nossa ideologia, ou com muita simplicidade, um pouco de nossa cultura. Em um artigo do jornal Zero Hora do dia 18 de abril de 2013, há na capa uma matéria com a manchete "O sapo que parou a usina - espécie rara de anfíbio descoberta em Arvorezinha atrapalha obras de hidrelétrica". No interior do jornal, a matéria continua: "Sapo no caminho - animal raro emperra construção de usina". Mais adiante coloca que "um animal que cabe na palma da mão de uma criança ameaça a construção de uma hidrelétrica". A matéria ainda cita um outro fato parecido no Rio Grande do Sul, ocorrido próximo a obra de construção de um túnel na duplicação da BR 101 em 2010, quando a obra ficou paralisada por seis meses, pois foi identificado por ambientalistas a presença de outro anfíbio em extinção nas proximidades, o sapo-narigudo-de-barriga-vermelha. O Presidente da República na época, Luiz Inácio Lula da Silva, em visita ao Estado, debochou, dizendo "que o país não pode ficar a serviço de uma perereca. Nós sabemos a importância da perereca, mas não pode parar a obra". Afora seu tom irônico e ridicularizante, a matéria mostra sua ideologia ao usar os termos "atrapalha, emperra, ameaça". A natureza, com toda sua complexidade de relações, suas teias e cadeias alimentares e ciclos biogeoquímicos, envolvidos em permanente trocas de energia, simbolizada pela figura do minúsculo sapo, "atrapalha, emperra e ameaça" o progresso, deixando investimento de milhões parados. Como se dinheiro tivesse alguma relação com natureza. Como se milhões de reais em uma mala tivessem algum valor em uma ilha deserta. O sapo é tratado como uma terrível ameaça, um "demônio", com seus "demoninhos" ambientalistas. O presidente da república, em seu discurso, deu o recado dos "representantes do progresso". A ideologia do progresso sem limites não "suporta" a natureza, porque não a entende, não consegue compreender sua importância, desde a manutenção da vida até os alicerces de equilíbrio climático. Não consegue entender que estes sapos e pererecas representam uma biodiversidade de cadeias e teias alimentares extremamente interligadas e conectadas, que mantém um equilíbrio alimentar e energético. Sua pouca sensibilidade não consegue entender que a terra é um organismo vivo, nosso planeta gaia, que vem, há 4 bilhões de anos se transformando, e que há somente 200 mil anos conhece a espécie humana. Os defensores do progresso agem como pedreiros que querem fazer as paredes da casa, utilizando os tijolos da fundação, sem saber que sem os tijolos da fundação a casa vai cair. Agem como seres donos deste planeta e única espécie importante, onde as outras só "atrapalham, emperram e ameaçam." Diego da Silva Coimbra Associado da AIPAN