5.3 Guião de uma vista de estudo ao Parlamento português A – Panorâmica da Assembleia da República (o Parlamento português) NTEHA11CP © Porto Editora Panorâmica da Assembleia da República B – Notícia histórico-artística 1 O primeiro Parlamento Em 1820, na sequência da Revolução Liberal, ocorrida a 24 de agosto no Porto, os portugueses despertaram para a vida política. De súbditos de um rei absoluto viram-se, de repente, homens livres e iguais, com direito à participação na governação. Descobriram-se cidadãos de um país onde a Nação, e não Deus, outorgava o poder a um rei que, doravante, governava segundo as regras da Constituição! A concretização do Liberalismo não foi tarefa fácil. Para além da resistência das forças do Antigo Regime, havia que acionar os mecanismos que permitissem aos cidadãos e à Nação o exercício da soberania. Eleições, sufrágio, Cortes, Câmaras fizeram parte do vocabulário dos portugueses que, prontamente, iniciaram a sua aprendizagem política. De facto, as primeiras eleições decorreram logo em dezembro de 1820. Destinaram-se a escolher os deputados às Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, que se mantiveram em funções de Janeiro de 1821 a Novembro de 1822. As Cortes reuniram-se na biblioteca do então Convento de N.ª S.ª das Necessidades (atual Palácio das Necessidades) e foram palco dos mais calorosos debates políticos que marcaram a estreia dos portugueses na vida parlamentar. Elaboraram a nossa primeira Constituição (que o rei D. João VI jurou a 1 de outubro de 1822); extinguiram a Inquisição e a censura prévia; instituíram a liberdade de imprensa e de ensino; fundaram o primeiro banco português (o Banco de Lisboa); suprimiram privilégios do clero e da nobreza; e, até, proibiram o ingresso nos conventos e mosteiros! Entre os seus deputados, notabilizou-se a figura de Manuel Fernandes Tomás. 52 Guião de uma vista de estudo ao Parlamento português Sessão das Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa (pintura de Veloso Salgado existente na Sala das Sessões da Assembleia da República). O orador, que está junto da mesa da presidência, é Manuel Fernandes Tomás. 2 Uma nova casa Foi em agosto de 1834 que o Parlamento português (as Cortes como se chamava) conheceu a sua atual casa. Acabara de terminar a guerra civil entre liberais e absolutistas (1832-1834), o Liberalismo triunfara e, por decreto de D. Pedro (IV), as Cortes tinham sido transferidas para o Convento de S. Bento da Saúde – um convento quinhentista agora vago pela extinção das ordens religiosas. NTEHA11CP © Porto Editora Ao arquiteto Possidónio da Silva deveram-se as obras de adaptação do espaço conventual. A Câmara dos Pares ficou instalada na Sala do Capítulo, enquanto a Câmara dos Deputados mereceu uma cons trução de raiz [lembremos que a Carta Constitucional de 1826 insti tuíra um funcionamento parlamentar bicameral, o que não aconte cera com a Constituição de 1822]. Vista da Câmara dos Pares do período da Monarquia Constitucional. Com a 1.ª República tomou a designação de Sala do Senado e, sob o Estado Novo, foi o lugar da Câmara Corporativa. Na atualidade, é usada para sessões solenes, conferências e reuniões internacionais. O incêndio, em 1895, da Câmara dos Deputados motivou a maior interven ção artística no Parlamento. Ventura Terra foi o autor do projeto da nova Câmara dos Deputados, da sua antecâmara (Sala dos Passos Perdidos), da Escadaria Nobre, da nova Biblioteca Parlamentar, do Salão Nobre, bem como da remodelação das fachadas. As obras prolongaram-se durante a 1.ª República e Estado Novo, períodos em que o Parlamento abandonou a designação de Cortes e passou a chamar-se Congresso da República e Assembleia Nacional, respetivamente. Vista da atual Sala das Sessões da Assembleia da República. Nela se reúne o Parlamento propriamente dito do pós-25 de abril. Também no Estado Novo, em que o Parlamento era apenas unicameral, nela se reuniam os deputados da Assembleia Nacional. Já durante a Monarquia Constitucional e a 1.ª República, em que o Parlamento tinha um funcionamento bicameral, a atual Sala das Sessões foi a sede da Câmara dos Deputados. 53 Guião de uma vista de estudo ao Parlamento português NTEHA11CP © Porto Editora A Sala dos Passos Perdidos e alguns dos painéis de Columbano Bordalo Pinheiro que a decoram. Neles se veem vultos célebres do Liberalismo em Portugal. Entre os arquitetos, pintores e escultores que trabalharam nas referidas obras, podemos citar os nomes de Cristino da Silva, Malhoa, Acácio Lino, Teixeira Lopes e Barata Feio. Na fachada principal, que recuperou a galilé da antiga igreja conventual, surge-nos um frontão com uma alegoria à Pátria, do escultor Simões de Almeida Sobrinho. As quatro esculturas do corpo central representam a Prudência, a Justiça, a Força e a Temperança e foram criadas, respetivamente, por Raul Xavier, Maximiano Alves, Costa Mota Sobrinho e Barata Feio. Quanto à escadaria exterior, data de 1941, segundo projeto do arquiteto Cristino da Silva. A Biblioteca Parlamentar, instalada no antigo dormitório dos frades. 54 Guião de uma vista de estudo ao Parlamento português O Salão Nobre, projeto de Pardal Monteiro. Está decorado com pinturas alusivas aos Descobrimentos portugueses. Alegoria à Pátria, de Simões de Almeida Sobrinho. NTEHA11CP © Porto Editora 3 Recordar o Convento de S. Bento da Saúde Embora o Convento de S. Bento da Saúde esteja hoje irreconhecível, a sua memória preserva-se em alguns dos espaços da Assembleia da República, o Parlamento português do pós-25 de Abril, isto é, da 3.ª República. Referimos já a fachada principal que incorpora a galilé conventual. O Átrio, por sua vez, ocupa o espaço da antiga igreja com o pavimento original de mármore branco e rosa; nas capelas laterais, os santos deram lugar a bustos de parlamentares ilustres. A merecer a nossa visita encontram-se, ainda, o Claustro do antigo Convento e o Refeitório dos Frades (destinado a Museu da Assembleia da República), com um conjunto de painéis de azulejos do terceiro quartel do século XVIII, que narram episódios da vida de S. Bento. Painel de azulejo no Refeitório dos Frades. 55 Guião de uma vista de estudo ao Parlamento português 4 Outros edifícios Em zona anexa ao Palácio de S. Bento, dois outros edifícios chamam a nossa atenção. Um deles, bem recente, data de 1999, com projeto do arquiteto Fernando Távora. Nele estão instalados os gabinetes de trabalho dos grupos parlamentares, bem como serviços de apoio da Assembleia da República. O outro é o Palácio SottoMayor, adquirido nos anos 40 do século XX. Nele reside, desde então, o primeiro-ministro. NTEHA11CP © Porto Editora A residência oficial do primeiro-ministro. Fachada do novo edifício projetado pelo arquiteto Fernando Távora. C – Questionário Recordar 1. Defina Liberalismo, Constituição, Nação. 2. Distinga súbdito de cidadão. 3. Distinga sufrágio censitário de sufrágio universal. 4.Identifique as 4 designações que o Parlamento teve em Portugal, desde a Revolução de 1820. 5. Distinga Câmara dos Pares de Câmara dos Deputados. 56 Aplicar Descobrir 1. Situe no tempo a informação deste guião: 1.1. Construa uma tábua cronológica dividida em duas partes. 1.2. Localize, na linha superior, a vigências das Cortes Gerais, das Cortes instaladas em S. Bento, do Congresso da República, da Assembleia Nacional e da Assembleia da República. 1.3. Localize com diferentes cores, na linha inferior, a vigência da Monarquia Constitucional, da 1.ª República, do Estado Novo e da 3.ª República. Q uem é o parlamentar cuja estátua se encontra em frente a uma das entradas laterais da Assembleia da República? A que movimento político ficou ligado? Q uem é o monarca representado na antiga Câmara dos Pares ou Sala do Senado? O que foi a Câmara Corporativa? P or que deixaram os parlamentos de ser bicamerais? Conhece algum que ainda o seja? P orque se chama Sala dos Passos Perdidos a antecâmara da atual Sala das Sessões? Identifique figuras nela representadas.