CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO RIO GRANDE DO NORTE DIRETORIA DE ENSINO GERÊNCIA DE FORMAÇÃO EDUCACIONAL COORDENAÇÃO DE GEOGRAFIA CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA A (RE)PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E OS IMPACTOS SÓCIOAMBIENTAIS: EMAÚS, PARNAMIRIM-RN João Paulo Câmara da Rocha NATAL -RN 2006 2 JOÃO PAULO CÂMARA DA ROCHA A (RE)PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E OS IMPACTOS SÓCIOAMBIENTAIS: EMAÚS, PARNAMIRIM-RN Monografia apresentada como requisito à conclusão do curso de Licenciatura em Geografia, do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio grande do Norte, sob a orientação da Professora Msc. Maria Cristina Cavalcanti Araújo. NATAL – RN 2006 3 CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO RIO GRANDE DO NORTE DIRETORIA DE ENSINO GERÊNCIA DE FORMAÇÃO EDUCACIONAL COORDENAÇÃO DE GEOGRAFIA CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA FOLHA DE APROVAÇÃO A monografia A (re)produção do espaço urbano e os impactos sócio-ambientais: Emaús, Parnamirim – RN, apresentada por João Paulo Câmara da Rocha, foi aprovada e aceita como requisito para obtenção do título de graduado em Geografia, com habilitação em Licenciatura. BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________ Prof. Ms. Maria Cristina Cavalcanti Araújo Orientadora ______________________________________________________ Prof. Ms. Levi Rodrigues de Miranda Examinador ______________________________________________________ Prof. Ms. Severino Ramos dos Santos Maia Examinador Natal,____/____/____. 4 Dedico este trabalho a minha família, razão do meu viver, em especial a Pedrinho, meu sobrinho, que veio para iluminar a minha vida e o meu lar. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar a Deus, por ter me dado o privilégio de estar vivo e de continuar com saúde neste desafio, que pelo que vejo, só está começando. Em seguida aos meus pais e toda minha família, pelo amor, dedicação, acolhimento e motivação dedicados a mim em toda a minha vida. A tia Corrinha pela imensa ajuda que me proporcionou durante toda a minha vida escolar, sem ela, muita coisa teria sido diferente para mim. A todos os meus amigos que, direta ou indiretamente, me ajudaram nesta caminhada, seja com apoio, motivações, carinho, amizade mesmo. Alguns em especial: Fabiana, Sandra e Madson, pelo grupo amigo e competente que formamos no decorrer do curso; Suzana pelo empréstimo de livros e pelo apoio que sempre me proporcionou; Beto por sempre ter acreditado em mim e ter me estimulado mesmo antes de eu entrar na faculdade; Marcelo pela elaboração dos gráficos e algumas dicas técnicas e Josenildo pela tradução do resumo para o inglês. A todos os meus professores que me motivaram bastante a nunca desistir nessa busca pelo conhecimento, em especial a Maria Cristina, pela imensa ajuda na realização deste trabalho e, principalmente, por ter acreditado em mim, me motivando nas horas difíceis a não desistir e a seguir em frente. A todos muito obrigado e recebam meus sinceros agradecimentos. João Paulo. 6 ROCHA, João Paulo Câmara da. A (re)produção do espaço urbano e os impactos sócio-ambientais: Emaús, Parnamirim – RN. 70 f. Monografia (licenciatura em Geografia), CEFET-RN, Natal, 2006. RESUMO O presente trabalho tem por finalidade realizar uma análise sobre os processos urbanos e os impactos sócio-ambientais vivenciados atualmente em Emaús, bairro do município de Parnamirim-RN, região metropolitana de Natal. Esses processos envolvem relações dinâmicas e complexas, baseadas nas rápidas transformações orientadas pelo mercado e que hoje atingem os espaços urbanos. Desta forma, a área onde está situado o bairro Emaús é uma área de expansão, onde a concentração populacional e das atividades comerciais de destaque passam a sofrer uma difusão espacial. Neste trabalho, são comentados os principais aspectos decorrentes dessa reprodução espacial, os agentes sociais envolvidos, bem como, os impactos sócioambientais resultantes deste processo. Faz-se também uma análise da população quanto aos anseios e perspectivas referentes ao crescimento do bairro, que em muitas áreas, não está se dando de forma planejada, com a infra-estrutura necessária. As considerações finais vêm afirmar um crescimento significativo, tanto da população, como do próprio espaço urbano, resultante da dinâmica do capital, mas sem o devido planejamento, proporcionando os impactos sociais e os impactos ambientais no referido local. PALAVRAS-CHAVE: expansão urbana, reprodução espacial e impactos sócioambientais. 7 ROCHA, João Paulo Câmara da. A (re)produção do espaço urbano e os impactos sócio-ambientais: Emaús, Parnamirim – RN. 70 f. Monografia (licenciatura em Geografia), CEFET-RN, Natal, 2006. ABSTRACT This study aim´s realize an analysis about the urban process and the socioenvironment impact lived nowadays in Parnamirim-RN, suburb of Natal and, more specific, in the Emaús district. This processes involv complexes and dinamic relations, based in the rapid transformations oriented by the merchant and nowadays the urban spaces. This way, the área where this district is placed, the district of Emaús is expanding itself. Where the populational concentration and the important merchant activities is goind to a spacial diffusion. In this study are comented the principal aspect according this spacial reproduction, the social actors involved, like the sócio-environmental impacts resulted by this processes. It´s done a population analysis by the perspective and desires about the growing of this district, which in many áreas, it´s not occuring with planed form, with the necessary infrastructure. The last considerations come to confirm na important growing, as the population, as the own urban space, resultant of the money dinamic, but without planing, causing the social impacts and the environment impacts in this district. Key-Words: Urban expantion, spacial reproduction and socio-environment impacts. 8 LISTA DE FIGURAS Páginas 1 Aeroporto Internacional Augusto Severo – 1950 e 2000 .......................... 28 2 Convento para freiras da congregação “Irmãs do Amor Divino”............... 44 3 Fixos e fluxos: trecho da BR-101 em Emaús .......................................... 45 4 Corredores de serviços localizados em Emaús ........................................ 47 5 Espaços do aprender: escolas estadual e municipal de Emaús................... 49 6 A Lógica do caos: ruas alagadas em Emaús ........................................... 59 7 Percursos alterados: ruas deterioradas em Emaús.........................................60 9 LISTA DE GRÁFICOS Páginas 1 Evolução da população e taxa média de crescimento anual (1970 – 2000) em Parnamirim......................................................................................................... 33 2 Você percebe a presença de favelas ou ocupação irregular em seu bairro? ..... 41 3 Os produtos e/ou serviços existentes em seu bairro lhe é suficiente? ............... 48 4 Grau de instrução dos entrevistados .................................................................. 49 5 Tempo em que reside no bairro ......................................................................... 53 6 Onde trabalha e/ou estuda .................................................................................. 54 7 Em qual destes lugares morava anteriormente?................................................. 55 8 Por que escolheu morar em Emaús? .................................................................. 56 9 Possui casa própria? ........................................................................................... 57 10 Aponte um benefício de se morar em Emaús .................................................... 58 11 Como se dá a destinação do lixo em seu bairro? .............................................. 61 12 Acredita que os investimentos municipais são bem distribuídos em seu bairro? ................................................................................................................ 62 10 LISTA DE TABELAS Páginas 1 Bairros de Parnamirim e os números dos seus habitantes – 2000 ..................... 31 2 Indústrias localizadas em Emaús – 2005 ........................................................... 37 11 LISTA DE SIGLAS BNH – Banco Nacional da Habitação COHAB – Cooperativa de Habitação COSERN – Companhia Energética do Rio Grande do Norte FIERN – Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços INFRAERO – Aeroportos Brasileiros IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados IPVA – Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores RN – Rio Grande do Norte 12 SUMÁRIO Apresentando o trabalho.......................................................................................... 13 1. Produzir, consumir, habitar ou viver: Parnamirim e sua (re)produção espacial . 17 1.1. O Espaço geográfico: uma reflexão teórica sobre o que é e como se reproduz ................................................................................................................................. 18 1.2. Um Breve resgate histórico: o surgimento do “Trampolim da Vitória” .......... 23 1.3. Uma Pequena radiografia da realidade sócio-espacial de Parnamirim ............ 29 2. A (re)produção do espaço urbano de Emaús....................................................... 35 2.1. Quem produz o espaço urbano? ....................................................................... 36 2.2. Caracterização sócio-espacial do bairro Emaús .............................................. 43 3. Os Impactos sócio-ambientais em Emaús ........................................................... 51 3.1. A Voz e a vez dos moradores: o que pensa a população do bairro? ................ 52 Considerações Finais ............................................................................................... 63 Referências .............................................................................................................. 66 Anexos ..................................................................................................................... 68 13 APRESENTANDO O TRABALHO 14 APRESENTANDO O TRABALHO O espaço geográfico mundial tem sido, no decorrer dos últimos séculos, rapidamente transformado. Esta metamorfose apresenta-se como conseqüência de uma constante (re)organização espacial derivada da ação social pois, a cada dia, a sociedade busca mais adaptar o meio no qual está inserida às suas necessidades sociais, políticas e, principalmente, econômicas. Neste cenário onde as paisagens naturais são remodeladas e reorganizadas atendendo aos anseios e aos objetivos que, mesmo não sendo objetivos da coletividade, priorizam fundamentalmente o setor econômico, desencadeiam-se de forma paralela, inúmeros processos indesejáveis, implicando em problemas às vezes irreversíveis para o meio natural, os quais se apresentam, conseqüentemente, como efeitos contraditórios ao desenvolvimento almejado pela sociedade. Neste processo, encontram-se muitas cidades brasileiras, as quais vivenciam paradoxalmente esta reorganização e, por que não dizer, esta reprodução de seus espaços urbanos, transformando de uma maneira avassaladora, o que antes era o meio natural no que é agora, uma “natureza socializada”. A (re)produção do espaço é também um processo moderno, fruto da sociedade industrializada. Tal fato gera grandes problemas como a deterioração do ambiente urbano, a desorganização social, carência de habitações, desemprego, problemas de higiene e saneamento básico. Também é modificador da utilização do solo e transformador da paisagem urbana. É nesse contexto que encontra-se Emaús, bairro do município de Parnamirim-RN, situado na região metropolitana de Natal-RN, onde a concentração da população, acompanhada da expansão de sua área, configuram uma nova 15 paisagem urbana, ocasionada pelos interesses do capital, atrelada aos próprios objetivos que emanam desse processo de (re)produção espacial. Seguindo esta temática, este trabalho tem como objetivo analisar essa (re)produção do espaço urbano, mais precisamente, a que se dá no bairro Emaús, mas sem descontextualizá-lo do município de Parnamirim, buscando interpretar como e porque este processo vem ocorrendo em sua área e os impactos sócioambientais, que porventura, são conseqüências dessa (re)produção. Para tanto, foi imprescindível um levantamento bibliográfico envolvendo a temática urbana, principalmente no que se refere à questão da produção do espaço urbano. A Observação in loco se fez presente neste trabalho, através da aplicação de questionários, visto que elucida uma realidade sócio-espacial mais concreta e nos possibilita um melhor entendimento das ações, que porventura, são desencadeadas. Sendo assim, o presente trabalho está estruturado em três capítulos interconectados. No primeiro capítulo faz-se um estudo sobre as várias formas de se ocupar o espaço geográfico, mais especificamente, o do município de ParnamirimRN, buscando um referencial teórico que dê conta de alguns conceitos como cidade, espaço urbano, produção do espaço, dentre outros. Também se faz um pequeno resgate histórico de como surgiu essa localidade, seus primeiros moradores, bem como, suas primeiras conquistas. Ao final do capítulo, mostra-se uma realidade sócio-espacial do município, o número de sua população, atividades econômicas de destaque e alguns índices sociais que o destacam em relação a outros municípios norte-riograndenses. No segundo capítulo analisa-se a (re)produção que se dá no espaço urbano de Emaús, os agentes sociais envolvidos nesta produção, bem como, as novas configurações que se formam deste processo. No terceiro e último capítulo, é comentado os principais impactos sócioambientais decorrentes deste processo pelo qual o bairro vem passando e, também, a 16 população terá voz e vez, visto que é produtora e consumidora do espaço em questão, tornando-se fato primordial em sua análise, pois são eles que vivenciam e sofrem com tais modificações. É nas considerações finais que se faz uma justificativa de todo este processo, procurando associar os fatos a um processo de (re)produção de suas áreas urbanas, fato presente hoje em muitos espaços brasileiros, sobretudo em áreas metropolitanas; ao mesmo tempo em que se procura admiti-lo, mas sem esquecer de propor as prováveis soluções, o que irá contribuir para uma melhor qualidade de vida urbana dentro deste processo todo. 17 1. PRODUZIR, CONSUMIR, HABITAR OU VIVER: PARNAMIRIM E SUA (RE)PRODUÇÃO ESPACIAL 18 1 PRODUZIR, CONSUMIR, HABITAR OU VIVER: PARNAMIRIM E SUA (RE)PRODUÇÃO ESPACIAL “Os processos espaciais, elementos mediatizadores entre processos sociais e organização do espaço, constituem um conjunto de forças postas em ação por determinados atores que atuam ao longo do tempo, originando localizações, relocalizações e permanência de atividades e do homem sobre o espaço”. Roberto Lobato Corrêa 1.1 O Espaço geográfico: uma reflexão teórica sobre o que é e como se reproduz Antes de fazermos uma digressão sobre o espaço urbano de Parnamirim e, mais especificamente, do bairro Emaús, se faz necessário entendermos o significado da expressão espaço geográfico, tema bastante discutido não só entre os geógrafos, mas com todos que se interessam pela sua compreensão. O espaço geográfico é visto por Corrêa (1998, p. 25) como sendo a superfície da terra vista enquanto morada, potencial ou de fato do homem, sem o qual não poderia sequer ser pensado. O geógrafo compreende que o espaço tem dois valores: um “valor de uso”, no qual constitui-se no suporte físico sobre o qual a sociedade se organiza, e um “valor de troca”, no qual constitui-se numa mercadoria que possibilitará a obtenção de uma renda por parte daqueles que dela se apropriaram. Desta forma, Corrêa ver o espaço geográfico como sendo o “espaço-morada do homem” e que é de “natureza social”. Já Carlos (1994, p. 57) compreende que o espaço geográfico não é humano porque o homem o habita, mas porque, a cada momento histórico, o reproduz de acordo com os objetivos e necessidades da sociedade (produto do trabalho realizado a partir de uma concepção e de um projeto). 19 Desta forma, ela considera o espaço como palco da atividade humana, ou seja, o local das atividades do homem, produto de relações sociais determinantes, da qual o meio natural influencia diretamente as sociedades humanas. Em outras palavras, Carlos compreende que o homem transforma a natureza, mas esta transformação não aprece como um produto humano, mas exterior ao homem, e nesse sentido o próprio homem aparece como elemento e não como sujeito. (1994, p. 33) Trata-se, então, de uma conseqüência natural, na qual o homem modifica a natureza, transforma-a com suas ações, em variadas épocas da história, mas essa transformação não é produção humana e sim conseqüência de um processo, onde, nós humanos, somos mais elementos do que propriamente sujeitos. Milton Santos (2004), geógrafo mundialmente conhecido, frente a sua enorme contribuição a ciência geográfica, afirma simplesmente que o espaço geográfico é a natureza modificada pelo homem através do seu trabalho (p. 150), e que ao se tornar produtor, isto é, um utilizador consciente dos instrumentos de trabalho, o homem se torna ao mesmo tempo um ser social e um criador do espaço (p. 21). Para ele, a natureza modificada torna-se o espaço humano, que é o espaço social: moradia do homem, lugar de vida e de trabalho. E esse espaço será palco das relações de produção, bem como da divisão internacional e interna do trabalho. Em outras palavras, Santos define o espaço como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções (2004, p. 153). Aqui, Milton Santos ver o espaço de quatro formas distintas, porém associadas: na primeira forma o ver como um “reflexo” da sociedade, pois o espaço é um cenário onde os fatos sociais têm uma representatividade, na medida em que os 20 acontecem. Na segunda forma o ver como um “fato social”, pois o espaço torna-se um objeto social, com uma realidade objetiva para todos os indivíduos, o que possibilita a definição dos fenômenos sociais. Na terceira o ver como um “fator”, pois o espaço é passível de modificação e essas modificações são incorporadas, ao longo do tempo, ao próprio espaço. E na quarta forma o ver como uma “instância social”, pois o espaço também é uma forma durável e que não se desfaz mediante a mudança de processos. Sendo assim, quais seriam os elementos envolvidos na produção do espaço geográfico? De acordo com Carlos (1994), os elementos envolvidos são: de um lado, a articulação entre as atividades produtivas e não produtivas no conjunto da sociedade, e de outro, a materialização espacial desse processo, cujo movimento fundamenta-se nas lutas de classe, na contradição entre a produção coletiva e a apropriação privada (1994, p.25). Como podemos perceber, a produção do espaço geográfico envolve diversos elementos da sociedade, onde todos possuem uma função específica e hierarquizada, e que para a sua efetivação ou concretização, é necessária a articulação entre todos, mediante as próprias contradições que emanam do processo de reprodução. Em Parnamirim, os agentes configuradores do espaço geográfico são os mesmos citados por Carlos e estão distribuídos nas mais diversas funções sociais. Desta forma, o espaço geográfico pode ser definido como o cenário da produção de relações sociais (homem com o meio), desencadeada pelas influências do meio sobre as sociedades humanas. O espaço de Parnamirim comportou-se assim. Surgido em meio as movimentações para a construção de um campo de pouso em uma área até então, inabitada, e (re)produzido para comportar uma função urbana; o espaço, hoje, é um mister das próprias relações urbanas, cotidianas e , muitas vezes, contraditórias. E que reflete os interesses do local, bem como, do capital global. 21 Para entendermos melhor o espaço geográfico e a reprodução que se dá sobre ele, tomemos como exemplo “a cidade”. Seja no intuito de produzir, consumir, habitar ou viver, a cidade é uma das principais formas de ocupação do espaço. De acordo com Carlos (1994, p. 56), a cidade é antes de mais nada trabalho objetivado, materializado, que aparece através da relação entre o “construído” (casas, ruas, avenidas, estradas, edificações, praças) e o “não construído” (o natural) de um lado, e do movimento, de outro, tanto no que se refere ao deslocamento de homens e mercadorias quanto (ao que diz respeito) às marcas que representam momentos históricos diferentes produzido na articulação entre o novo e o velho. Neste aspecto, Carlos compreende que a cidade não é só um lugar, é a relação do homem com a natureza, na medida em que ele a transforma e nela constrói o seu espaço. É também a relação do homem com si mesmo e é a partir dessas relações que podemos entender o significado que esta cidade tem para quem a construiu e para quem dela usufrui. Rocha e Machado (2005) afirmam que a cidade é para o homem um bem material, um esforço próprio composto de trabalho, normas, ideologias, sentimentos e contradições. É produto e resultado de suas ações, pois é um campo de lutas entre as classes, mas é também a sua expressão, o seu modo de vida (2005, p.14). Neste caso, a cidade não é só vista em função das condições da reprodução do capital, mas também, em função das condições de reprodução da vida humana, pois a medida que o homem a constrói, insere nela diversos simbolismos que a faz ser sua representatividade, transformando-a assim, em um campo de lutas. Construção humana, mas produto do capital, esta é a essência da cidade de Parnamirim e para nós, produtores no caso, consumi-la é necessário a nossa subjugação às necessidades de reprodução do próprio capital, onde estamos capturados pelas necessidades de consumo e lazer. Neste processo, a cidade de Parnamirim é vista como um local de atrativos, pois na medida em que ela cresce e se reproduz, ela atrai uma quantidade enorme de pessoas que sempre estão em busca de melhores condições ou de um sentido novo 22 para suas vidas. No mesmo ritmo que ela atrai, ela também separa, exclui, e com isso, cresce o sentimento de individualismo das pessoas (o estar sozinho na multidão), os conflitos aumentam, o preconceito se estabelece. Isso advém também da freqüente mudança que se dá no padrão arquitetônico da cidade, fator que resulta na expulsão do cidadão de um determinado local e a sua instalação em áreas que, muitas vezes, não possuem uma infra-estrutura básica à qualidade de vida urbana. Este fato pode ser percebido em algumas áreas de Emaús, onde a falta de uma infraestrutura básica acarreta problemas para a população do bairro1. Portanto, o ritmo que se verifica na cidade e, mais especificamente, no próprio bairro Emaús, é agitado (circulação de pessoas e de automóveis, construções de casas...) e o seu rumo não depende de fatores ambientais. Esse tempo que se verifica na cidade, de acordo com CARLOS (2003, p. 18), “passa a mediar a vida das pessoas, do seu relacionamento com o outro, uma relação ‘coisificada’, medida pelo dinheiro e pela necessidade de ganhá-lo”. É a partir daí que passamos a observar e a respeitar os outros pelo que eles têm, e esse “valor” é imposto pela sociedade urbana. Em outras palavras, a cidade aparece como produto apropriado diferencialmente pelos cidadãos e essa apropriação se refere às formas mais amplas da vida na cidade; e nesse contexto se coloca a cidade como o palco privilegiado das lutas de classes, pois o motor do processo é determinado pelo conflito decorrente das contradições inerentes às diferentes necessidades e pontos de vista de uma sociedade de classes. (CARLOS, 2003, p. 23). E é neste ritmo que Parnamirim se reproduz, ocasionando desta forma, as desigualdades espaciais, que por sinal, é resultado das desigualdades sociais. E nesse contexto, o homem é um ser social agente da vida econômica e da produção do espaço, que tendo por base as relações sociais, realiza profundas modificações no quadro econômico, político e social. Sendo assim, conforme Carlos (2003), a cidade hoje 1 Este fato será mais bem explicado no capítulo 3 deste trabalho. 23 é a expressão mais contundente do processo de produção da humanidade sob a égide das relações desencadeadas pela formação econômica e social capitalista. Na cidade, a separação homem-natureza, a atomização das relações e as desigualdades sociais se mostram de forma eloqüente. Mas ao analisá-la, torna-se importante o resgate das emoções e sentimentos. (...) A cidade é um modo de viver, pensar, mas também sentir. O modo de vida urbano produz idéias, comportamentos, valores, conhecimentos, formas de lazer, e também, cultura (CARLOS, 2003, p.26). Então podemos concluir que a cidade é, sem nenhuma dúvida, a forma mais representativa do modo de vida urbano, pois o mesmo se produz enquanto condição geral do trabalho da sociedade, com todos os seus valores, comportamentos, idéias e cultura; produto do capital global, fruto de contradições, mas também produção humana. E é assim que Parnamirim cresce e reproduz-se, marcado pelo modo de vida emergente de sua população no sentido de produzir, consumir, habitar ou viver o seu espaço. 1.2 Um breve resgate histórico: o surgimento do “Trampolim da Vitória” Para remontarmos à origem do município de Parnamirim, torna-se imprescindível fazermos um breve passeio na história do Rio Grande do Norte e do Brasil, mais precisamente a partir do período colonial brasileiro, quando se deu o processo de formação do que mais tarde seria, o estado do Rio Grande do Norte. A ocupação das terras potiguares seguiu o mesmo modelo implantado pela Coroa Portuguesa para o restante da colônia brasileira. As terras eram distribuídas aos fidalgos como um favor, e em troca, os mesmos teriam que participar do processo de colonização destas áreas. Para isto, teriam que dispor de capital próprio e suficiente para promover o desenvolvimento e a ocupação das terras recebidas, as quais ficaram conhecidas na história do Brasil como “sesmarias”. Por outro lado, essa exigência na prática não funcionava, pois como afirma Peixoto (2003): o objetivo da coroa era colonizar as novas terras com interesses puramente mercantis para a produção de cana-de-açúcar, mercadoria de alto valor na Europa. Esse tipo de cultura exigia grandes faixas de terra. 24 Requeria também muito trabalho, esforços e investimentos dos colonos, que chegavam desejosos de enriquecer rápido para voltarem ao Reino (p. 26). Porém nem todas as terras eram apropriadas para o cultivo de cana-deaçúcar e nem para a criação de gado e assim, muitas delas eram abandonadas por seus colonos que alegavam improdutividade. Isso trazia prejuízo para os colonos, uma vez que deixavam de produzir e, consequentemente, lucrar. Assim, as terras deixavam de ser ocupadas, o que traria futuras conseqüências para a localidade. Tal fato levou à Coroa a redistribuir novamente as terras até que os novos colonos beneficiados conseguissem estabelecer certa prosperidade de desenvolvimento nas terras recebidas. Dois desses novos beneficiados foram os capitães-mor João Rodrigues Colaço e Jerônimo de Albuquerque, que entre os anos de 1600 e 1633, fizeram grandes doações de terras nas faixas que hoje pertencem ao município de Parnamirim. Estas doações estão registradas nas “Cartas de Datas e Sesmarias da Capitania do Rio Grande”, documento antigo que registra a repartição e posse de terras no Rio Grande do Norte. A área banhada pelo rio Pitimbu era uma dessas faixas. Compreendia parte do território onde hoje está localizada a Zona Oeste de Natal, toda a Zona Sul natalense e o Vale do Pium. Tratava-se de um latifúndio inabitado, onde não existia proveito, nem benfeitorias. A exceção era o vale do Pium, onde existiam algumas terras férteis. Estas terras passaram a pertencer ao Conselho da Cidade do Natal em 1605 (PEIXOTO, 2003) e foi ali que moraram as primeiras famílias de Parnamirim, alojadas, ainda, em seus sítios. Durante muito tempo as terras de Parnamirim permaneceram assim, pouco habitadas e os seus poucos moradores, em nada faziam para colonizá-las ou mesmo desenvolvê-las. Viviam em seus sítios e sua única fonte de renda era a agricultura de subsistência. Mas, era do céu que viria a urbanização de Parnamirim. Seu primeiro núcleo urbano originou-se em meio à chegada dos pioneiros da aviação francesa. Paul Vachet, piloto da companhia francesa Aéropostale, foi quem escolheu o local para a criação do campo de aviação para vôos de carga na 25 área próxima ao Rio Pitimbu, mas precisamente na Planície Tabuleiro de Parnamirim, por volta de 1927. A doação das terras de Parnamirim para a construção do campo foi feita pelo português Manuel Machado em favor do piloto francês Paul Vachet. Manuel Machado era um comerciante rico, dono de muitas fazendas, sítios, engenhos e terras férteis em tabuleiros e vales em Parnamirim e em outras áreas próximas a Natal. A construção do campo possibilitou a aparição dos primeiros interessados em ocupar aquelas áreas. Eram operários, vendedores e prestadores de serviços, oriundos do interior do Rio Grande do Norte e de outros estados, que, juntamente com os franceses e seduzidos pela possibilidade de arranjar emprego com a criação do campo, instalaram-se perto do mesmo, na intenção de trabalhar em suas obras e terminaram por fixar residência. Com a instalação dos franceses da Compagnie Generale Aéropostale na Planície Tabuleiro de Parnamirim, logo apareceram investimentos por parte do governo estadual. A primeira obra a ser realizada foi a construção de uma estrada de rodagem, ligando Natal ao campo de aviação. Em 1929, dois anos depois do início das construções, Parnamirim já era um dos melhores e mais bem equipado campo de pouso da companhia francesa no Brasil. Quatro anos depois (1935), já existia uma concentração populacional considerável nos arredores do campo, o que possibilitou o aparecimento de empreendedores, principalmente comerciantes, que viram naquele novo local, perspectivas de desenvolvimento e de lucros. Em 1940, a Europa se encontrava em guerra e, a companhia francesa, que nessa época se chamava Air France, se retirou da localidade. Porém os trabalhos continuaram no campo, desta vez sob o comando dos italianos com a companhia aérea Alas Litottoria. Os italianos também realizaram construções no campo e conseguiram operar por mais dois anos, mas também, tiveram que se retirar, pelo fato do Brasil ter se aliado na guerra contra o seu país. No ano de 1942 é a vez dos americanos se instalarem na localidade para a construção de Parnamirim Field: a maior base de operações militares e o maior 26 campo de aviação que o governo americano viria a ter fora do seu território. O financiamento, bem como, a direção do projeto ficou por conta do próprio governo americano. Tratava-se, no entanto, de um acordo entre os Estados Unidos e o Brasil, para incluir Parnamirim na estratégia bélica comanda pelos americanos. Também era a declaração de guerra do governo brasileiro, ministrado por Getúlio Vargas, aos países do eixo: Alemanha, Itália e Japão. De acordo com Peixoto (2003, p. 63), o objetivo do empreendimento era montar, equipar e preparar uma base de operações que pudesse receber unidades táticas de combate de grande envergadura, o suficiente para enfrentar qualquer ameaça do hemisfério Ocidental, servindo de apoio para uma rota aérea cobrindo toda a vastidão do atlântico sul até a África, oferecendo proteção aos comboios de navios para a Europa e criando um corredor de transporte para o sul da Europa. O projeto consistia na criação de duas bases: uma do lado oeste e outra do lado leste. A base leste seria a parte dos brasileiros, onde se instalou a Base Aérea de Natal, aproveitando-se, um pouco, da estrutura deixada pelos franceses. Já o oeste seria dos norte-americanos para a instalação de Parnamirim Field. Foi aí, que mais migrantes potiguares e de outros estados, atraídos pelas promessas de empregos e pelos dólares americanos em circulação, resolveram se instalar próximo a base oeste (a base norte-americana) e criaram novos núcleos populacionais, possibilitando a expansão e a delimitação do território. Construída e em pleno desenvolvimento, Parnamirim Field foi, em termos táticos, uma base de apoio às ações de guerra no Atlântico e no norte da África, com um trânsito ininterrupto de homens, armas e equipamentos. A média de aviões que desciam e subiam da base norte-americana chegou a ser de 600 aeronaves/dia. Em termos estratégicos, foi a base de um triângulo que apontava para o teatro de operações (o norte da África e o sul da Europa), onde a sorte dos aliados contra os nazistas estava sendo lançada. Este triângulo era identificado como Trampoline of 27 Victory. E foi com essa denominação (de cidade Trampolim da Vitória) que Parnamirim Field recebeu citações e referências em documentos e elogios futuros. Dentre outras transformações realizadas pelos americanos no local, destacase a reforma e ampliação da antiga estrada ligando Natal à Parnamirim, visando um transporte melhor e mais rápido das cargas que saíam da base para o porto da capital. Antigamente este trajeto era feito em três horas, o qual, agora, passava a ser feito em vinte minutos. Outras mudanças são verificadas no setor do comércio e no setor imobiliário. Em decorrência do grande número de americanos presentes no Estado e também do aumento significativo da população, cresce-se o número de estabelecimentos comerciais, principalmente os voltados para o lazer e alimentação. Também os empreendimentos imobiliários começam a florescer em busca de moradores para os arredores da base americana. Mudanças como essas, marcaram profundamente o local e possibilitaram que Parnamirim, em 1943, pudesse ser elevada à categoria de vila, passando a se chamar Vila de Parnamirim de Natal, tornando-se parte da capital norteriograndense. Dezessete meses depois da criação de Parnamirim Field, a base oeste foi entregue a Força Aérea Brasileira que prosseguiu com as atividades, desta vez com outros interesses. A expansão do território e o crescimento populacional, movido pela construção e instalação da base americana, começavam a dar sinais de prosperidade. A pequena vila já nascera com movimentos intensos devidos aos constantes trabalhos realizados pela Base Aérea de Natal, que aproveitando-se das construções dos americanos, instalou em 1° de outubro de 1946 a primeira Estação de Passageiros da Base Aérea de Natal, colocando a capital nas rotas aeroviárias comerciais e domésticas do país. Mais tarde, na década de 1950, após algumas reformas, a estação se transformou no Aeroporto Internacional Augusto Severo (ver Figura 01), colocando Natal agora nas rotas internacionais da aviação. No ano de 2000, o Aeroporto passou por sua última reforma, obedecendo a um programa da 28 INFRAERO de reformar os principais aeroportos do Brasil, o qual ganhou instalações modernas e novos equipamentos. Figura 01: Aeroporto Internacional Augusto Severo – 1950 e 2000 FONTE: PEIXOTO, 2003, p. 86 FONTE: http://www.3bpm.rn.gov.br/postosfts.htm. Acesso em 05/05/06 29 Daí para a criação do município de Parnamirim foi só uma questão de tempo. Criado por incentivos políticos, como afirma Peixoto (2003, p. 134), foi uma conquista acertada nos gabinetes do palácio do governo entre a elite de lideranças locais, o deputado Gastão Mariz e a equipe de auxiliares do governador Dinarte Mariz. Desse modo, a autonomia da cidade surgiu em meio aos interesses da Assembléia Legislativa e do próprio governo para acomodar as lideranças dos diversos grupos políticos em áreas de influência. Sendo assim, a pequena vila tornase independente em 17 de dezembro de 1958, através da lei 2.325, desmembrandose de Natal e passando a ser um novo município da Unidade federativa do Rio Grande do Norte. Por outro lado, a população parnamiriense não manifestou nenhum interesse quanto a emancipação, pois se sentiam mais ligadas aos destinos da Base Aérea do que aos interesses da capital do Estado, não fazendo nenhum movimento popular em defesa da autonomia política e administrativa. E foi desta forma que o município de Parnamirim cresceu e se consolidou: um município que sempre esteve ligado com a capital, justamente por sua proximidade, mas que não o impediu de crescer, desenvolver-se e, sobretudo, marcar o seu território, conforme veremos a seguir. 1.3 Uma pequena radiografia da realidade sócio-espacial de Parnamirim O município de Parnamirim, também conhecido como “Trampolim da Vitória”2, é um dos 167 municípios que compõe o estado do Rio Grande do Norte. Localizado no litoral oriental do Estado e estando a 5°54′56′′ de latitude sul e 35°15′46′′ de longitude oeste de Greenwich, o município limita-se ao norte com a capital Natal, a oeste com Macaíba, ao sul com São José de Mipibu e Nísia Floresta 2 Recebeu este título por sua posição estratégica utilizados pelos aliados durante a Segunda Guerra Mundial, conforme já citado nas páginas 26 e 27. 30 e ao leste com o Oceano Atlântico. Sede de um importante parque industrial, além de comportar o principal aeroporto do Estado, a Barreira do Inferno – pioneira no lançamento de foguetes na América do Sul – e possuir algumas das mais belas praias do litoral potiguar, onde está inserido o maior cajueiro do mundo; Parnamirim destaca-se como uma das cidades mais importantes e visitadas do Rio Grande do Norte. Juntamente com mais sete cidades potiguares (Ceará-Mirim, Extremoz, São Gonçalo do Amarante, Natal, Macaíba, São José de Mipibu e Nísia Floresta), Parnamirim integra a Região Metropolitana de Natal3. Tal Região foi criada em 16 de janeiro de 1997, através da Lei Complementar n° 152 e publicada no Diário Oficial de 06 de fevereiro do mesmo ano (ver mapa 01). MAPA 01: Parnamirim e os municípios da Região Metropolitana de Natal FONTE: Secretaria Municipal de Planejamento – SEMPLA – 2005. 3 Recentemente, a Lei Complementar n° 315 de 30/11/05 adicionou o município de Monte Alegre à Região Metropolitana de Natal. 31 Ocupando uma área de 2.511,80 Km², o que representa 4,7% do território estadual, a Região Metropolitana de Natal apresenta características tipicamente urbanas, com destaque para as atividades ligadas a indústria, ao turismo e a prestação de serviços, além de centralizar as atividades político-administrativas, por incluir, em sua área, a capital do Estado. A população, de acordo com as estimativas do IBGE (2005), está em torno de 1.240.734 habitantes. Com uma área de 126,10 Km², o que representa 5,02% da Região Metropolitana de Natal e 0,24% do total do Estado, o município de Parnamirim tem sua área espacial recortada em 15 bairros (ver tabela 01) e 03 distritos. Estes são formados pelas praias de Pium, Cotovelo e Pirangi do Norte, que com suas belas paisagens, de mar azul e águas quentes, atraem, principalmente, nos meses da chamada alta estação, turistas e veranistas locais e nacionais, contribuindo em grande parte para a economia local e estadual. TABELA 01: Bairros de Parnamirim e os números dos seus habitantes – 2000 BAIRROS Boa Esperança Centro Cohabinal Emaús Jardim Planalto Liberdade Monte Castelo Parque de Exposições Parque do Pitimbu Parque dos Eucaliptos Passagem de Areia Rosa dos Ventos Santa Tereza Santos Reis Vale do Sol HABITANTES 5.471 5.378 3.890 11.749 4.872 4.150 8.469 3.815 10.589 14.363 10.952 8.871 4.267 7.857 4.446 FONTE: Adaptação de Peixoto, 2003, p. 37. 32 A tabela nos revela que os bairros de Parque dos Eucaliptos, Emaús, Parque do Pitimbu e Passagem de Areia são os mais populosos, pois ultrapassam a marca de 10.000 moradores cada um, tornando-se relevante para a contabilização geral da população urbana do município. Com exceção de passagem de Areia, os outros três bairros mencionados fazem fronteira com Natal (ver mapa 02), o que possibilita uma estreita relação com a capital, visto que suas malhas viárias urbanas se fundem, caracterizado por uma ocupação, predominantemente, residencial. Daí seus moradores, quer por motivos de lazer, trabalho, estudos ou negócios, manterem relações de afinidades com a capital, caracterizando a localidade como cidade dormitório, onde os moradores de dia migram para Natal para realizar o seu trabalho ou estudo e, à noite, retornam para suas residências, no município de Parnamirim. Vale ressaltar também, que os distritos de Parnamirim, as praias de Pium, Cotovelo e Pirangi do Norte; também integram a população do município, mas não foi possível catalogar o número da população residente nesses respectivos locais, pois não estavam disponíveis. MAPA 02: O Trampolim da Vitória – divisão dos bairros FONTE: Prefeitura de Parnamirim – 2005. 33 Distando apenas 14km da capital norte-riograndense, este município conta com uma população de 163.144 habitantes, o que a faz ser a terceira maior cidade do Estado em número de habitantes, estando somente atrás de Mossoró (227.357 habitantes) e Natal (com 778.040 habitantes), segundo estimativas do IBGE (2005). No ano de 2000, a população de Parnamirim era de 124.690 habitantes, da qual 87.5% era urbana e 12.5% rural (IBGE, 2000). Hoje essa relação apresenta-se alterada, visto que a população urbana do município só tende a crescer e a rural, necessariamente, a diminuir. Os bairros, cada vez recebem mais moradores, sejam eles oriundos da zona rural ou de outros municípios. Tudo isso influi no crescimento da população, que da década de 70 pra cá, só tem aumentado (ver gráfico 01). GRÁFICO 01 FONTE: Prefeitura de Parnamirim – 2005. O gráfico nos revela que foi entre o período de 1980 a 1991 que a população de parnamirim mais cresceu, apresentando um crescimento médio anual de 8,3%, chegando ao início dos anos 90 com 63.312 habitantes. Nos anos seguintes 34 a população continuou crescendo, mas com uma pequena queda na taxa média anual verificada no período de 1991 a 2000 (7,8%). Tal queda pode ser atribuída ao crescimento dos outros municípios da Região Metropolitana de Natal, que passaram a atrair mais migrantes para suas áreas. Mesmo assim, Parnamirim chega hoje a uma estimação de mais de 160.000 habitantes em sua delimitação espacial. O município apresenta ainda um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de 0,760 (IBGE, 2000), o que o faz ser considerado pela PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) um município de médio desenvolvimento humano, chegando a ocupar a segunda posição no estado (disponível em http://www.parnamirim.rn.gov.br, acesso em 18/05/2005), ficando atrás somente de Natal, que apresenta um IDHM de 0,787. Esse fato pode ser justificado pela proximidade com a capital do Estado, fazendo com que a população parnamiriense tenha um melhor acesso a atendimento médico-hospitalar e às escolas e Universidades, quando comparados com outros municípios norte-rio-grandenses. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é semelhante ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mas não idêntico, varia de 0 a 1, incluindo as três dimensões mencionadas (renda, longevidade e educação, com pesos iguais), mas com algumas adaptações para adequar o índice (concebido para comparar países) à unidade de análise que é, neste caso, o município. Parnamirim destaca-se também, como a terceira maior arrecadadora de impostos (ICMS, IPVA e IPI) para a economia norte-rio-grandense, por comportar em sua área geográfica a ZIP (Zona Industrial de Parnamirim), o Aeroporto Internacional de Augusto Severo, bem como, outras indústrias localizadas fora da ZIP, comércios, serviços e o turismo, oriundo das suas praias (Pium, Cotovelo e Pirangi do Norte). Sendo assim, Parnamirim possui uma relevância, não só para sua população, mas também, para todo o estado do Rio Grande do Norte, seja por motivos econômicos, sociais, políticos ou naturais; o que lhe permite novos valores e novas configurações espaciais, como veremos no próximo item. 35 2 A (RE)PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE EMAÚS 36 2 A (RE)PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE EMAÚS “O desenvolvimento das forças produtivas produz mudanças constantes e com essas a modificação do espaço urbano. Essas mudanças são hoje cada vez mais rápidas e profundas, gerando novas formas de configuração espacial, novo ritmo de vida, novo relacionamento entre as pessoas, novos valores”. Ana Fani A. Carlos 2.1 Quem produz o espaço urbano? Como já afirmado neste trabalho, a cidade é uma organização do espaço geográfico e esta organização se dá de forma fragmentada e integrada; pois o espaço ao qual ela está inserida é, de acordo com Corrêa (1995, p.15) fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas. É assim a própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais aparente, materializada nas formas espaciais. Para Corrêa, o espaço urbano “articulado” é um reflexo da sociedade, onde as ações se mostram profundamente desiguais e mutáveis. Como “condicionante da sociedade” o espaço urbano se revela como o gestor da reprodução, uma vez que cria as condições da produção. E neste processo, a cidade aparece como o palco da reprodução e das lutas sociais. E são nessas lutas que estão embutidos os desejos pela cidadania e o próprio “direito à cidade”. O espaço urbano capitalista é fruto de uma produção social, realizada por agentes sociais concretos e cujas ações derivam da dinâmica de acumulação de capital, das próprias relações de produção e dos conflitos de classe que dela 37 emanam. E ele não só se reproduz através da incorporação de novas áreas, mas também, através da verticalização e do adensamento. Em Emaús, essas ações são percebidas em muitas áreas do bairro, fato que favorece a especulação imobiliária, pois a cada dia, novas áreas são criadas ou recriadas para a construção de novas moradias: são condomínios fechados, blocos de apartamentos e conjuntos populacionais, possibilitando mudanças, não só no espaço, mas também, na paisagem urbana. E é desta forma que o espaço urbano de Emaús vai sendo (re)produzido, pois trata-se de uma reorganização do próprio espaço em função dos novos interesses da sociedade, no caso, os agentes sociais. Então, quem seriam esses agentes sociais concretos, produtores do espaço urbano? De acordo com Corrêa (1995) são cinco: os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o Estado e os agentes sociais excluídos. Os proprietários dos meios de produção têm como objetivo geral na produção do espaço urbano, proporcionar terrenos amplos e baratos para a instalação das indústrias, bem como, da posterior força de trabalho, cuja ação delimitará, não só o espaço das indústrias, mas também todo o seu envoltório. Podemos considerar estes promotores como os mais simples do processo, pois fazendo parte de uma sociedade capitalista e industrializada, é natural que boa parte do solo urbano seja ocupado pelas indústrias, marcando assim, o seu território dentro do todo. Obedecendo a essa lógica, Emaús tem em sua área, indústrias de micro, pequeno e médio porte (ver tabela 02), proporcionando aos seus moradores emprego, e, ao município e o estado, desenvolvimento e renda. TABELA 02: Indústrias localizadas em Emaús – 2005 INDÚSTRIA Britagel Artefatos de Concreto LTDA Faplast – Reciclagem de Sucatas PORTE Micro Micro PRINCIPAIS PRODUTOS Fabricação de artigos de concreto, cimento, gesso... Reciclagem de sucatas não- 38 INDÚSTRIA Não-Metálicas Free Point Sorvetes Granfort Granitos de Qualidade Micro Micro PRINCIPAIS PRODUTOS metálicas. Comércio varejista. Mármores e granitos. Imobes Indústria e Com. de Representações Micro Parque infantil de madeira. Imperial Mármore LTDA Micro Marmoraria Santa Luzia Micro Marmore Art Maxprom Ind. e Com. LTDA Panificadora Marajoara Micro Micro Micro Micro Micro Panificadora Renascer Stone line - Mármores PORTE CIC Com. e Ind. de Construção Pequena Indústria de Doces Potiguar LTDA MAC – Mesquita Andrade Construções Pequena Nordenia Plus Bag S/A Pequena Pincol – Premoldados Ind. e Com. LTDA Pequena Pequena Água Mineral Potiguar Média Brasinox S/A Média Dixie Toga Noredeste S/A Proquinor LTDA Sacoplast S/A Texita – Cia. Têxtil Tangará Média Média Média Média Comércio varejista de material de construção. Aparelhamento de placas e execução de trabalhos em mármore, granito... Mármores e granitos. Artefatos de aço inoxidável. Pães, biscoitos e bolos. Pães, biscoitos e bolos. Mármores. Fabricação de artefatos de cimento para uso na construção civil. Doces. Edificações (residenciais e comerciais). Contentores (em ráfia) para armazenagem e transporte de produtos. Estruturas pré-moldadas de concreto armado, em série ou sob encomenda. Água mineral Equipamentos de inox para cozinhas e lavanderias industriais. Embalagens plásticas. Produtos químicos. Sacos plásticos. Fios cardados de algodão. FONTE: FIERN. Disponível em www.fiern.org.br. Acesso em 22/06/2005. É no bairro Emaús, onde se concentra grande parte das indústrias de Parnamirim, ficando as de médio porte localizadas as margens da BR-101, fazendo com que o local seja reconhecido, também, como bairro industrial, reforçando mais uma vez, as estratégias dos proprietários dos meios de produção. 39 Já os proprietários fundiários têm objetivos mais ambiciosos. Eles atuam no sentido de obterem a maior renda fundiária de suas propriedades, tanto comercial como residencial, e esta renda tem que ser a mais remuneradora possível. Estão interessados também, na conversão da terra rural em terra urbana, visto que esta é mais lucrativa que a outra. E eis aqui, o objetivo geral dos promotores fundiários: o amplo interesse no “valor de troca da terra” e não no “valor de uso”. Esta transformação – terra rural em terra urbana – não é simples e para que ela aconteça é necessário haver uma combinação das partes envolvidas, como explica Corrêa: a demanda de terras e habitações depende do aparecimento de novas camadas sociais, oriundas em parte de fluxos migratórios e que detêm nível de renda que as torna capacitadas a participar do mercado de terras e habitações (1995, p. 17). Desta forma, a ocupação de determinada camada social em uma determinada porção do solo urbano, se dará de acordo com a posição social de cada camada, ou seja, as camadas populares irão ocupar as áreas periféricas e as camadas de status as áreas nobres. Em Emaús, essa estratégia dos promotores fundiários pode ser percebida constantemente, pois a cada dia, novas áreas são criadas para atender o perfil dos seus moradores. Atuando juntamente com estes, estão os promotores imobiliários. Suas funções são várias e de acordo com Almeida apud Corrêa (1995) resumem-se em: a) Incorporação: é o início do processo. O incorporador é responsável pela localização, tamanho e qualidade dos imóveis, bem como, de todo o mecanismo para a venda; b) Financiamento: aqui está a essência do negócio, pois quando junta-se os recursos financeiros provenientes de pessoas físicas e jurídicas, da-se o início da obra; c) Estudo-técnico: consiste num estudo, onde economistas e arquitetos viabilizarão toda técnica necessária para a obra; 40 d) Construção do imóvel: esta parte do processo fica a cargo das firmas construtoras, pequenas e grandes empresas do ramo da construção civil, assim como, toda a mão de obra necessária para a produção dos imóveis; e) Comercialização: por último, a venda em si, ou seja, a transformação do capital-mercado em capital-dinheiro, ficando pela responsabilidade dos corretores, através das imobiliárias e os profissionais de propaganda, através das agências de publicidade. Dentro desse mercado, não podemos esquecer dos Bancos e do próprio Estado, pois eles também, atuam como promotores imobiliários, na medida em que promovem habitações de interesse popular (estas ficando mais a cargo do Estado) e habitações para variadas classes econômicas (estas de interesse dos bancos). No bairro Emaús, o Estado e a iniciativa privada se fazem presentes, na medida em que oferecem oportunidades para os cidadãos adquirirem suas casas, seja através de financiamentos em longo prazo ou através de programas sociais. Mas a alma do negócio dos promotores imobiliários é, sem dúvida, a produção de habitações com valores de uso sempre superior às antigas, no qual o preço de venda do imóvel sempre tende a aumentar, formando um ciclo tendencioso, ampliando assim, a exclusão das camadas populares. E essa atuação dos promotores é feita de modo desigual, criando e reforçando a segregação residencial que caracteriza a cidade capitalista. Para entendermos melhor o significado da segregação residencial, busquemos apoio na definição de Harvey apud Corrêa (1995): a diferenciação residencial deve ser interpretada em termos de reprodução das relações sociais dentro da sociedade capitalista. As áreas residenciais fornecem meios distintos para a interpretação social (...) Diferenciação residencial significa acesso diferenciado a recursos necessários para adquirir oportunidades de ascensão social (...) A diferenciação social produz comunidades distintas com valores próprios do grupo (...) A estabilidade de um bairro e dos seus sistemas de valores leva à reprodução e permanência de grupos sociais dentro de estruturas residenciais (...) Segregação significa diferencial de renda real (...) Se já há diferença de renda monetária, a localização residencial pode implicar diferença ainda maior no que diz respeito à renda real. (1995, p. 65). 41 O que Harvey nos explica é que a segregação residencial é uma forma de reprodução social, na qual o espaço age como um condicionante sobre a cidade, separando e fragmentando as diversas classes sociais, criando assim, formas diferenciadas da população obter sua morada e com isso, a sua posição na sociedade. Já Corrêa entende que a segregação é um meio de privilégios para a classe dominante, mas também um meio de controle e de reprodução social para o futuro (1995, p. 66). Assim, uma determinada área social pode ser ocupada por diferentes classes sociais, em diferentes épocas, através de um processo interpretado por Corrêa de “renovação urbana”. Em Emaús este problema social é visível em áreas mais afastadas do bairro, como revela seus próprios moradores (ver gráfico 02) e que lança um problema de duplo sentido: a exclusão de uma determinada camada social e a sua instalação em áreas irregulares do mesmo. GRÁFICO 02: Você percebe a presença de favelas ou ocupação irregular em seu bairro? 24% Sim 4% Não Não souberam responder 72% FONTE: Pesquisa de campo, setembro, 2005. 42 Mesmo sendo visível por apenas 24% dos entrevistados, a ocupação irregular em Emaús é um problema comum em muitas áreas urbanas e que não foge dos objetivos propostos pelos promotores imobiliários, que é, como já afirmado, a promoção de habitações com valores sempre superiores e pra quem pode pagar. O fato da maioria dos entrevistados (72%) desconhecerem a presença de favelas ou formas de ocupação irregular pode ser justificado pelo simples fato dos mesmos não possuírem um entendimento mais notável da delimitação do próprio bairro ou, até como foi o caso, de não saberem o que são formas de ocupação irregular. Um outro consumidor do espaço urbano é o Estado, consumindo-o inclusive, de diversas formas, pois além de ser um mero ocupante do espaço com suas respectivas sedes administrativas, ele também é: a) Proprietário fundiário: pois atua com os mesmo objetivos dos demais, ou seja, está preocupado com o valor que a terra tem; b) Promotor imobiliário: ao executar programas sociais como o BNH, COHAB e FGTS, viabiliza a acumulação capitalista via produção de habitações; c) Agente regulador do uso do solo: na medida em que elabora leis e normas vinculadas ao uso e ocupação do solo. Desta forma, o Estado passa a ser um agente modelador do espaço urbano capitalista, ao mesmo tempo em que assume diferentes papéis, mas com um único objetivo: a ocupação do espaço. Por último não poderíamos deixar de falar de uma grande parcela da população consumidora de espaço, os grupos sociais excluídos. Esses grupos ocupam as áreas mais periféricas da cidade e se tornam verdadeiros excluídos das habitações dignas de morar, constituindo assim, num grupo de resistência e sobrevivência às adversidades imposta pela sociedade. Suas moradias passam a ser: a casa construída pelo sistema de autoconstrução, os conjuntos habitacionais produzidos pelo Estado e as favelas. E neste processo, esses grupos irão travar uma verdadeira batalha pelo direito a moradia de qualidade, o direito a cidade. Em Emaús, como ressaltado no gráfico 02, 43 se vê uma pequena parcela desse grupo, instalados em áreas limítrofes do bairro e que sofrem por serem, justamente, os excluídos de todo o processo. Ressaltando mais uma vez, que este fator é o que caracteriza a segregação residencial, já explicado anteriormente. Portanto, existem diversas maneiras de uso e ocupação do solo urbano e que, de acordo com Carlos (2003), resultam de dois processos: primeiro, vinculado ao processo de produção e reprodução do capital e, segundo, vinculado à reprodução da sociedade, tanto da força de trabalho (enquanto exército industrial ativo, ou exército industrial de reserva), quanto da população em geral (consumidores). Tal diferenciação emergiu da construção da noção de espaço-produto. (2003, p.49). Podemos afirmar então, que o espaço urbano de Emaús vai sendo reproduzido de uma maneira avassaladora e esta ação é produto da condição geral do processo de produção da humanidade, atrelada aos interesses de reprodução do capital, transformando o espaço em um produto e incentivando-o a modificá-lo ou reorganizá-lo. 2.2 Caracterização sócio-espacial do bairro Emaús Surgido a partir da construção da BR-101, Emáus foi o segundo núcleo4 residencial a se beneficiar das facilidades de transporte e infra-estrutura promovidas pela rodovia federal. Suas primeiras casas datam do início da década de 70, quando a arquidiocese de Natal instalou, em uma área da igreja, o convento para freiras da congregação “Irmãs do Amor Divino” (ver figura 02). Dom Nivaldo Monte, o então bispo da capital, tinha terrenos particulares em Emaús e passou a desenvolver um intenso trabalho pastoral e social para a melhoria das condições de vida da comunidade. Famílias sem nenhuma posse receberam dele e da Diocese as doações dos terrenos necessários para a construção de casas. Freqüentador da comunidade, onde possuía uma granja para descanso, Dom Nivaldo Monte conseguiu, através do 4 O primeiro foi a Cohabinal. 44 seu prestígio, atrair mais alguns investimentos em infra-estrutura, o que proporcionou uma pequena transformação daquele espaço, possibilitando aos primeiros moradores da comunidade, alguns serviços básicos e necessários. FIGURA 02: Convento para freiras da congregação “Irmãs do Amor Divino” FONTE: Fotos do autor, março, 2006. Passado os anos, Emaús se consolidou como um dos 15 bairros do município de Parnamirim. Fazendo fronteira com Natal, cujo limite é o Rio Pitimbu, o bairro conta com uma população de 11.749 habitantes, o que representa 9,42% da população de Parnamirim e um rendimento médio mensal de R$ 720,20 (IBGE, 2000), o que proporciona ser o segundo maior bairro da cidade, em termos de população (perdendo somente para Parque dos Eucaliptos, com 14.363 habitantes) e o quinto a apresentar uma maior renda mensal no município5. O bairro é cortado de norte a sul pela BR-101 (ver figura 03) e de acordo com a Prefeitura do Município, divide-se ainda em: Conjunto Emaús, localizado no lado direito da BR-101 (sentido Parnamirim-Natal) e Parque Industrial, localizado no lado esquerdo da rodovia federal e que abrange, ainda, os conjuntos: Marajoara, Parque das Orquídeas, Trairi, Jardim Aeroporto e Águas Claras. 5 Os primeiros lugares são: Cohabinal (R$ 1.393,98), Parque dos Eucaliptos (R$ 1.333,25), Parque do Pitimbu (R$ 1.194,24) e Centro (R$ 975,39) (IBGE, 2000). 45 FIGURA 03: Fixos e fluxos: trecho da BR-101 em Emaús FONTE: Foto do autor, março, 2006. Ao todo, o bairro possui uma área aproximada de 225 hectares. Limita-se ao norte com o município de Natal; a leste com a BANT (Base Aérea de Natal); ao sul com a área do Aeroporto Internacional Augusto Severo e a oeste com uma área inabitada do município. O conjunto Emaús (lado direito da rodovia federal) foi o primeiro núcleo urbano a surgir. Foi lá que a prefeitura iniciou os primeiros serviços em infraestrutura urbana (calçamento, saneamento, recolhimento do lixo domiciliar, dentre outros serviços). Já os conjuntos localizados no Parque Industrial surgiram no final da década de 90 e representam, hoje, bem mais da metade da população do bairro Emaús. De acordo com a Prefeitura, os habitantes do bairro estão distribuídos em 46 5.902 domicílios, sendo 1.402 domicílios no conjunto Emáus e 4.500 no Parque Industrial (disponível em http://www.parnamirim.rn.gov.br/secretarias/emaus/, acesso em 18/05/2005). Percebe-se, no entanto, um crescimento bastante significativo no bairro, mas precisamente, no local onde se localiza o Parque Industrial. Logo, o fluxo de pessoas e de serviços neste local é bem maior, ocasionado pelas rápidas transformações no próprio espaço urbano, porém nem sempre cercado da infra-estrutura necessária para seu desenvolvimento. É necessário entender que esse fluxo de pessoas é o que caracteriza o urbano que, de um lado, é a condição geral de realização do processo de reprodução do capital, e de outro, o produto deste processo (CARLOS, 1994, p.13). E que para compreendermos, é necessário também, uma reflexão dos dados postos pela vida cotidiana a partir da elaboração de um modo de análise puramente urbano. Também a análise do urbano nos leva a um outro fator: o de produtor e o de consumidor, ou seja, essa relação entre a produção (propriedade) e o consumo (uso) do urbano, será medida pelo mercado, pois como já afirmado, o espaço urbano é reproduzido em função do capital. Seguindo esta tendência de utilizador do solo, o bairro oferece inúmeros serviços, tanto de ordem social, como econômica. É na BR-101, portal principal de entrada e saída para a capital, onde está instalado um dos principais corredores de serviços do bairro (ver figura 04). Já os conjuntos são as áreas destinadas às moradias, mas que, também, já apresentam novos corredores de serviços, ao mesmo tempo em que se consolidam, tornando-se parte essencial do bairro. 47 FIGURA 04: Corredor de serviços localizado em Emaús FONTE: Fotos do autor, março, 2006. Nestes corredores estão instalados alguns dos principais pontos comerciais do bairro. São Mercadinhos, farmácias, panificadores, armarinhos, salões de beleza, lojas de móveis, lanchonetes, casas de jogos eletrônicos e acesso a internet, dentre outros serviços. Como o bairro vem passando por um crescimento das atividades comercias, resolvemos questionar aos moradores se a oferta desses produtos e/o serviços lhes são suficientes. Os resultados podem ser conferidos no gráfico 03. 48 GRÁFICO 03: Os produtos e/ou serviços existentes em seu bairro lhe é suficiente? 16% Sim 2% 40% Não Em partes Não soube responder 42% FONTE: Pesquisa de campo, setembro, 2005. A maioria dos entrevistados (42%) respondeu que a oferta lhe é suficiente em partes, pois não todos os serviços, quando procurados, que o bairro dispõe. Por outro lado, 40% dos entrevistados afirmaram que o bairro não atende as suas necessidades de consumo, tendo que ir em busca de tais produtos ou serviços, em outros bairros da cidade e, com mais freqüência, em Natal. Somente 16% dos moradores, afirmaram que o bairro oferece todos os serviços e/ou produtos de que necessitam. Em relação aos serviços públicos, o bairro conta com 03 postos de saúde (um no Jardim Aeroporto, um no Parque das Orquídeas e o outro no Conjunto Emaús), um ginásio poli – esportivo e uma secretaria da prefeitura, a Secretaria das Regiões Administrativas, para atender aos anseios e problemas do bairro. As escolas públicas do bairro são três, sendo duas municipais, a Escola Administrador Josafá Sisino Machado (localizada no Parque Industrial) e a Escola Maura de Morais Cruz (localizada no Conjunto Emaús) e outra estadual, a Escola Dom Nivaldo Monte, que fica nas imediações dos conjuntos Trairi e Parque das 49 Orquídeas (ver figura 05), sem contar nas inúmeras escolas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental da rede privada presente no bairro. FIGURA 05: Os Espaços do aprender: escolas estadual e municipal de Emaús FONTE: Fotos do autor, março, 2006. Questionados quanto à escolaridade, a maioria dos moradores entrevistados afirmou possuir o Ensino Médio completo. Observe o gráfico 04: GRÁFICO 04: Grau de instrução dos entrevistados 12% Ensino Médio Incompleto 4% Ensino Médio Completo Ensino Superior Incompleto 10% Ensino Superior Completo 2% FONTE: Pesquisa de campo, setembro, 2005. 72% Pós-Graduação 50 De acordo com a pesquisa, 72% dos entrevistados possuem o Ensino Médio Completo, o que nos permite compreender que boa parte da população está apta para enfrentar um curso superior, concursos públicos de nível médio, dentre outras facilidades que a conclusão do ensino proporciona. Uma outra porcentagem significativa foi com relação aos moradores que estão cursando ou que já possuem o Ensino Superior Completo, bem como, aqueles que estão tentando alguma Pósgraduação (16% ao todo). Apenas 12% dos entrevistados afirmaram não possuir o Ensino Médio Completo, mas garantiram que estão matriculados em alguma escola. Uma outra coisa que a pesquisa nos revela é que boa parte desses moradores obtiveram o diploma de conclusão do Ensino Médio na Escola Estadual Dom Nivaldo Monte, situada no bairro e falaram que, “se não fosse a instalação da escola no bairro, muitos de nós ainda estariam com o 2° grau incompleto”, diz uma das entrevistadas. Podemos afirmar que o bairro em questão é, no entanto, um bairro residencial, com uma significativa área industrial, que apresenta transformações em sua delimitação espacial, principalmente, no modo de vida urbano, cheio de conflitos e contradições, permeado por problemáticas típicas de áreas urbanas que sofre com carência de uma infra-estrutura mínima para o desenvolvimento e a reprodução da vida, conforme veremos no capítulo seguinte. 51 3. OS IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS EM EMAÚS 52 3. OS IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS EM EMAÚS “A natureza é objeto de permanente transformação por causa da atividade humana, daí porque a natureza é uma realidade social e não exclusivamente natural”. Milton Santos 3.1 A voz e a vez dos moradores: o que pensa a população do bairro? A população de Emaús é parte fundamental de todo este processo de (re)produção espacial, por isso torna-se imprescindível ouvir e comentar seus anseios, problemas e perspectivas decorrentes de suas ações, face a essa freqüente transformação que se dá em seu espaço urbano . Veja que são ações como essa que vai caracterizar o meio ambiente urbano. De acordo com Rodrigues (1997), “o meio ambiente urbano pode ser representado pela problemática ambiental que torna-se cada vez mais fundamental para pensar o presente e o futuro, pautada na análise socioespacial” (1997, p.140). Trata-se, no entanto, de um conjunto de ações exercidas no bairro, resultando da dinâmica da própria sociedade e cujos componentes envolvidos são: “o conjunto das edificações, com suas características construtivas, sua história e memória, seus espaços segregados, a infra-estrutura e os equipamentos de consumo coletivos” (RODRIGUES, 1997, p.139). É deste processo, portanto, que resulta os impactos sócio-ambientais, pelo qual vem passando e sofrendo a população de Emaús. Para entendermos melhor tal problemática, um questionário precisou ser aplicado com os moradores do bairro, 53 dividido pelos seus 05 conjuntos residências, onde a população expôs suas dificuldades e, porque não dizer, seus grandes traumas. De cada rua, foram selecionados 02 moradores, contabilizando 05 ruas por conjunto e totalizando 50 moradores do bairro (10 por cada conjunto). Iniciamos a pesquisa, procurando saber o tempo que os moradores viviam no bairro. Observe o gráfico 05: GRÁFICO 05: Tempo em que reside no bairro 12% 34% 0 a 2 anos 3 a 6 anos 7 a 10 anos 20% mais de 10 anos 34% FONTE: Pesquisa de campo, setembro, 2005. O tempo mais curto foi registrado por 12% dos entrevistados, entre 0 a 2 anos, porém houve um empate entre os moradores que dizem morar entre 3 a 6 anos e de 7 a 10 anos (68% ao todo) e 20% dos entrevistados moram a mais de 10 anos no bairro. Esses moradores que vivem no bairro de 3 a mais de 10 anos já presenciaram inúmeras alterações na configuração do espaço urbano, mas essas modificações dizem respeito mais ao crescimento das áreas habitacionais, porém pouca coisa se tem feito para resolver os problemas de infra-estrutura do bairro, que serão mais comentados adiante. 54 No intuito de sabermos algumas das relações dos moradores para com o bairro, perguntamos onde eles trabalham e, no caso de alguns, onde estudam. As respostas foram as seguintes (ver gráfico 06): GRÁFICO 06: Onde trabalha e/ou estuda 58% Parnamirim 2% 6% Natal Natal e Parnamirim Não trabalha nem estuda 34% FONTE: Pesquisa de campo, setembro, 2005. Veja que do total de entrevistados, 58% disseram trabalhar ou estudar no próprio município, 34% afirmaram que mantém tais relações com a capital, 6% disseram que trabalham ou estudam em ambas as cidades e apenas 2% disseram não trabalhar, nem estudar em nenhum destes lugares. O que a pesquisa nos revela é que a maioria da população mantém suas relações de trabalho ou estudo com Parnamirim, na medida em que a cidade e o próprio bairro são mais atrativos, pois oferecem oportunidades de emprego e estudo para os seus moradores. Mas também um número bastante considerável (34%) reafirma as relações destes para com a capital, caracterizando um fenômeno muito comum entre as áreas metropolitanas, já explicitado anteriormente aqui. Também há aqueles que mantêm relações com ambos os lugares (6%), trabalhando na capital e estudando no bairro, por exemplo. 55 No intuito de saber a origem dos moradores, perguntamos onde anteriormente eles fixavam residência. Observe o gráfico 07: GRÁFICO 07: Em qual destes lugares morava anteriormente? 10% Outro bairro de Parnamirim 4% Natal Outra cidade do Estado 14% 72% Outra cidade do país FONTE: Pesquisa de campo, setembro, 2005. Dos moradores questionados, 10% afirmaram morar anteriormente no próprio município, porém em outro bairro. 18% disseram vir de outras cidades, sejam elas do Rio Grande do Norte ou de outros estados, mas a maioria (72%) afirmou que morava em Natal antes de vir para o bairro. Isso nos faz concluir que a maioria dos moradores de Emaús fixava residência em Natal e passaram a ser ocupantes do bairro, na medida em que este se tornou área de expansão urbana, pois como já informado, limita-se com a capital e, também, pelo fato de ter atraído os olhares dos promotores imobiliários, desencadeando uma série de construções no local, com facilidades de acesso, preço dos imóveis e dos alugueis mais em conta, fato que favorece, também, a vinda de moradores do próprio município. O(s) motivo(s) que levaram tais pessoas a ocuparem o referido local, é o que foi questionado no item seguinte: 56 GRÁFICO 08: Por que escolheu morar em Emaús? 18% Opção 8% Oportunidade de adquirir casa própria Ambiente agradável 14% 60% Outros motivos FONTE: Pesquisa de campo, setembro, 2005. A maioria afirma ter ido para o bairro em busca de um sonho muito comum entre os brasileiros: o desejo de adquirir casa própria. Essa opção foi apontada por 60% dos entrevistados, fato que o proporciona ser um bairro residencial, onde se é possível a compra ou aquisição de um imóvel, mediante as condições financeiras daquele contingente. Porém 18% dos entrevistados escolheram Emaús por simples opção para morar, 14% o considerou um ambiente agradável na hora da escolha e, apenas 8%, destacaram outros motivos. Mas a mesma pesquisa revela que não são todos os moradores que possuem casa própria. Observe o gráfico 09: 57 GRÁFICO 09: Possui casa própria? 78% 22% SIM NÃO FONTE: Pesquisa de campo, setembro, 2005. Apenas 22% dos entrevistados afirmaram não possuir casa própria e disseram ainda morar de aluguel ou em casa de parentes. Por outro lado, 78% afirmaram possuir casa própria e disseram consegui-la, na maioria dos casos, através de financiamentos por parte da Caixa Econômica Federal. Mas também a pesquisa revela que dentre essas casas próprias, muitas são feitas por recursos financeiros próprios, outras financiadas por terceiros e, outras ainda, construída sob o sistema de auto-construção. O que fica de positivo, porém, é que boa parte dos moradores já tem suas casas próprias, o que lhes proporciona uma certa garantia de vida para o futuro quanto à moradia. Esses mesmos moradores foram questionados para apontar um benefício de se morar no bairro. Os resultados podem ser conferidos no gráfico 10: 58 GRÁFICO 10: Aponte um benefício de se morar em Emaús 48% Ambiente agradável Proximidade do trabalho/escola Segurança 28% Outros motivos 2% 22% FONTE: Pesquisa de campo, setembro, 2005. O benefício apontado pela maioria dos entrevistados (48%) foi considerar o bairro um ambiente agradável para se viver, mesmo ressaltando alguns problemas com relação à infra-estrutura do mesmo. Já 22% admitiram o bairro bom para se viver, por ficar próximo do trabalho ou da escola. Apenas 2% afirmaram que o bairro é seguro e, boa parte dos entrevistados (28%), destacou outros motivos. Esses motivos envolvem, desde a presença familiar até uma mera identificação com o próprio ambiente. Por outro lado, questionados sobre quais são os principais problemas existentes no bairro, as respostas foram praticamente idênticas, o que nos revela anseios mútuos de solução para os problemas mencionados, bem como, uma melhoria no bem estar da população. Esses problemas não foram tabulados em forma de gráficos, pois cada morador podia apontar mais de um problema. Dentre todos, os mais citados foram: segurança, saneamento e calçamento, lazer, transporte, esgoto e iluminação. Quanto à segurança, os moradores reclamam da pouca presença de policiais fazendo as rondas no bairro, assim como, de alguns assaltos à mão armada em 59 alguns períodos da noite, sem contar também, nos inúmeros assaltos a vários estabelecimentos comerciais do mesmo. Mas, “assim como em todo lugar, essas coisas acontecem, não escolhendo dia e nem hora”, destaca um morador. A falta de saneamento e calçamento em grande parte do bairro foi um problema bastante comentado pelos entrevistados. E quando chega o período das chuvas, geralmente nos meses de maio e junho, esse problema torna-se aterrorizante, pois muitas ruas ficam intransitáveis, alagadas e, consequentemente, cheias de lama; revertendo-se num grave problema sócio-ambiental, ocasionado pela falta de infraestrutura, que deveria ser um serviço básico oferecido no bairro (ver figura 06). FIGURA 06: A Lógica do caos: ruas alagadas em Emaús FONTE: Fotos do autor, maio, 2006. Não muito distante desta problemática está a questão dos transportes públicos. Devido as principais vias do bairro ficarem deterioradas e intransitáveis, o percurso das vans e dos ônibus coletivos são rapidamente alterados, deixando seus usuários inconformados, pois eles não são avisados das possíveis mudanças, 60 passando a ficar horas sem saber onde os mesmos irão passar e por onde transitar (ver figura 07). FIGURA 07: Percursos alterados: ruas deterioradas em Emaús FONTE: Fotos do autor, maio, 2006. A questão do lazer também foi muito ressaltada pelos moradores, pois o bairro dispõe de pouquíssimos espaços públicos para os mesmos, onde até a iniciativa privada se faz pouco presente, obrigando os moradores a procurar outras áreas para a obtenção da diversão e do lazer. E não resta dúvida que essas são as áreas da capital. Em Emaús, existem áreas onde a iluminação torna-se precária ou, até mesmo, inexistente e isso tem se transformado num problema, pois são nesses locais onde acontecem alguns dos assaltos ocorridos no bairro. Com relação a atuação da prefeitura, na tentativa de solucionar alguns desses problemas, a população fala que a mesma vem se comportando de uma forma omissa, apesar de possuir uma secretaria no próprio local, tornando-se o único elo, no bairro, entre os moradores e a administração pública. Porém, o único ponto positivo ressaltado por eles na pesquisa foi em relação a coleta do lixo domiciliar (veja o gráfico 11): 61 GRÁFICO 11: Como se dá a destinação do lixo em seu bairro? 2% Coleta da prefeitura Terrenos baldios 98% FONTE: Pesquisa de campo, setembro, 2005. A grande maioria, ou seja, 98% dos entrevistados afirmaram que a destinação do lixo se dá através da coleta pela prefeitura, que é regularmente cumprida três vezes por semana. E somente 2% afirmaram que essa coleta se dá em terrenos baldios, o que pode deixar o bairro propício a certos problemas ambientais. Mesmo assim, os moradores afirmam que a Prefeitura tem esquecido, ou procurado esquecer, os problemas que Emaús vem passando. Tal fato pode ser retratado pelos moradores na interpretação do gráfico 12: 62 GRÁFICO 12: Acredita que os investimentos municipais são bem distribuídos em seu bairro? 2% Sim 6% Não 92% Não souberam responder FONTE: Pesquisa de campo, setembro, 2005. Veja que é quase unânime o número de moradores entrevistados (92%) que afirmam que os investimentos municipais não são bem distribuídos e, até mesmo, percebidos na comunidade de Emaús, o que só vem a comprovar a omissão do poder público para com o bairro, permitindo que os moradores sofram com tais problemas sócio-ambientais, negando-lhes, desta forma, o direito a uma infra-estrutura básica (o direito à cidade), a qual deveria ser uma garantia certa, pois todos são cidadãos, pagadores de impostos. Esses foram os principais problemas de infra-estrutura urbana que a população ressaltou, porém não são os únicos. Percebe-se, no entanto, que o bairro Emaús foi planejado urbanamente de uma forma errada, pois comporta diversos problemas, tanto de ordem social, como ambiental, não possibilitando aos seus moradores uma boa qualidade de vida, pois o mesmo é permeado por tais problemas. Já a prefeitura, como ressaltou grande parte dos moradores, em nada faz para tentar solucionar esses problemas sócio-ambientais pelo qual passou e vem passando o bairro Emaús. 63 CONSIDERAÇÕES FINAIS 64 CONSIDERAÇÃOES FINAIS Neste trabalho procuramos fazer uma análise do processo de (re)produção espacial pelo qual passou e vem passando o bairro Emaús, localizado no município de Parnamirim, Região Metropolitana de Natal. Ao longo das nossas discussões, tomamos conhecimento de como o município surgiu, quem foram seus primeiros habitantes, bem como, as primeiras modificações que se efetivaram em seu território, o que nos deu uma pequena, mas significativa, realidade sócio-espacial do local. Porém nossos olhares voltaram-se mais exclusivamente para o bairro Emaús, onde a concentração populacional e as atividades econômicas, nos propiciam uma (re)organização do seu espaço urbano, gerando, em seu contexto atual, novos postos de trabalho e o significativo aumento de renda, assim como, novos valores sociais. Atrelado a esse fenômeno de (re)produção do seu espaço urbano e como conseqüência desse processo todo estão os impactos sócio-ambientais, bastante comuns em regiões metropolitanas, onde a infra-estrutura urbana é quase inexistente, o que proporciona os referidos problemas, tais como: falta de saneamento e calçamento nas ruas, alagamentos, principais vias deterioradas e intransitáveis, falta de esgoto sanitário, iluminação precária, segurança pública deficiente, etc. Mesmo comportando todos esses graves problemas sócio-ambientais, Emaús passa, constantemente, por uma (re)produção em seu espaço urbano e essa modificação é desencadeada pelos interesses do capital global e da sociedade humana, esta última, representada pelos cinco agentes produtores do espaço urbano. Porém, a população e as autoridades precisam reverter ou tentar diminuir o quadro de problemas pelo qual o bairro vem passando. 65 A solução, idealizadas por nós, para atender as demandas da comunidade será uma mobilização dos órgãos municipais (Prefeitura, Secretaria de Obras e Infraestrutura Urbana, Secretaria de Urbanização e Meio Ambiente, COSERN), associações de bairros, centros comunitários, bem como, todos os agentes sociais envolvidos na produção do espaço urbano, para fins de elaboração de um projeto de políticas públicas, que venha atender as necessidades básicas da população, garantindo-lhes o direito a uma cidade digna para se viver, o que irá contribuir para uma conseqüente melhoria na qualidade de vida. Assim, concluímos que o nosso trabalho é significativo, na medida em que tentamos contribuir com a comunidade de Emaús na busca por soluções para os transtornos enfrentados em seu cotidiano, seja pressionando os órgãos públicos, para que os mesmos se mobilizem, seja através de uma interação com os organismos de classe, visando sempre uma política justa e igualitária para todos os seus moradores. Isso é dever do cidadão, é direito de todos nós. 66 REFERÊNCIAS CARLOS, Ana Fani Alessandri. A (Re)Produção do Espaço Urbano. São Paulo: Editora da USP, 1994. ________, Ana Fani Alessandri. A Cidade. 7°. ed. São Paulo: Contexto, 2003. (Coleção Repensando a Geografia). CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. 3° ed. São Paulo: Ática, 1995. ________, Roberto Lobato. O Espaço geográfico: algumas considerações. In: SANTOS, Milton (org.). Novos rumos da geografia brasileira. São Paulo: Hucitec, 1998. FIERN – Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte. 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