Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integrado de Pragas Florestais
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MÉTODOS DE CONTROLE USADOS NO MIP
9.1. MÉTODO LEGISLATIVO
É um método de controle que se baseia em leis, decretos e portarias, dos diferentes níveis
institucionais, que obrigam o cumprimento de medidas de controle como:
a) Serviço quarentenário: previne a entrada de pragas exóticas e impede a disseminação das
nativas. Este serviço é executado pelo Serviço de Defesa Sanitária Vegetal, órgão do Ministério da
Agricultura, cujos técnicos inspecionam portos, aeroportos e fronteiras, procurando tratar, destruir
ou impedir a entrada de vegetais e animais at acados, através da quarentena. Este serviço atua,
também, em casos de exportação de produtos agrícolas e florestais contendo pragas. Ex:
Regulação do transito de madeira não processada da região Sul para as demais regiões do Brasil;
exigência de Laudo Fitossanitário para exportação de toras de eucalipto para a Europa.
b) Medidas obrigatórias: são leis que obrigam o controle de determinadas pragas consideradas
importantes para os povoamentos florestais. Ex: No Rio Grande do Sul, existe a lei no 2869 de
25/06/56, que obriga a coleta e queima de galhos de acácia negra para diminuir a infestação do
serrador Oncideres impluviata (Coleoptera: Cerambycidae).
c) Lei dos agrotóxicos: O uso de agrotóxicos e afins é regulado pela lei no 7802/89, regulamentada
pelo decreto 4.074/02. Ela tem por finalidade controlar a fabricação, formulação, comércio e uso
adequado, em termos de toxicidade, segurança, eficiência e idoneidade dos inseticidas,
recolhimento de embalagens, entre outros, além de obrigar o uso do Receituário Agronômico (RA)
para qualquer atividade envolvendo o uso destes produtos. O RA é um parecer técnico sobre a
situação fitossanitária do reflorestamento e que tem a finalidade de instituir o uso adequado dos
agrotóxicos. Tem por objetivo maximizar a eficiência no controle com o uso mais racional de
inseticidas. O RA é obrigatório para a aquisição e aplicação de produtos fitossanitários e é de
competência exclusiva de Engenheiros e Técnicos Florestais e Agrônomos.
9.2. MÉTODO MECÂNICO
Consiste na utilização de medidas de controle que causem a destruição direta dos insetos
ou que impeçam seus danos através do uso de barreiras ou armadilhas. Os principais são:
a) catação manual: baseia-se na coleta manual e na destruição direta dos insetos-alvo, mas é
recomendada em pequenas áreas e quando a mão-de-obra é barata. Ex: coleta de besouros
Costalimaita ferruginea vulgata (Coleoptera: Chrysomelidae) em viveiros e jardim clonal. Catação
manual de lagarta-rosca em viveiros e de Lampetis spp. (Coleoptera: Buprestidae) em áreas de
implantação de Eucalyptus spp. Escavação de formigueiros iniciais, para matar a rainha. O
rendimento desta operação gira em torno de 1 ha/homem/dia.
b) barreiras: consistem no uso de qualquer prática que impeça ou dificulte o acesso dos insetos à
planta. Usada para proteger árvores isoladas, áreas experimentais, viveiros etc. Ex: uso de casade-vegetação para a produção de mudas; uso de sombrite em viveiros; uso de cones invertidos
nos troncos das árvores; uso de tintas ou vernizes; uso de embalagens etc..
c) armadilhas: os dispositivos de captura de insetos das armadilhas são considerados métodos
mecânicos de controle, mas na maioria dos casos, elas são associadas a outros métodos.
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Existem armadilhas luminosas e adesivas (métodos mecânico e físico); armadilhas de feromônio
(métodos mecânico e etológico), etc.
9.3. MÉTODO FÍSICO
Este método consiste na aplicação de métodos de origem física para o controle de insetos,
tais como:
a) Fogo: utilizado na limpeza de áreas exploradas ou em implantação para facilitar a localização e
tratamento de sauveiros e quenquenzeiros. Também foi utilizado com sucesso para o controle de
Sarsina violascens (Lepidoptera: Lymantriidae), uma vez que as lagartas das mesmas se
aglomeram durante o dia no tronco das árvores atacadas. O uso do fogo no controle de pragas
está cada vez menos freqüente;
b) Temperatura: consiste na manipulação da temperatura do ambiente, tornando-a letal aos insetos.
Ex. uso do calor em fábricas de processamento de produtos florestais para eliminar insetos
existentes nas madeiras, uso de câmaras refrigeradas para proteger sementes etc;
c) Luminosidade : utilização de uma faixa de radiação luminosa (300 a 770 nm) para atrair e capturar
insetos adultos de hábito noturno. Ex.: armadilhas luminosas para capturar insetos; uso de
armadilhas adesivas coloridas, etc.
d) Som: utilização de ondas sonoras de diferentes freqüências (hertz) para matar os insetos por
aqueceimento ou afetar o seu comportamento. Entretanto, esse método é restrito a ambientes
fechados ou pequenos espaços, devido ao seu alto custo.
e) Radiação ionizante: utilização de energia radioativa para esterelizar os insetos presentes em
num ambiente fechado (pragas de grãos armazendados ou em alimentos) ou utilizar a técnica do
macho estéril, que consiste em esterizar pupas de machos de uma espécie e liberar os adultos
estéreis para competir com os férteis no ambiente, reduzindo as populações futuras.
9.4. MÉTODO ETOLÓGICO OU COMPORTAMENTAL
É um método que se baseia no estudo fisiológico e comportamental dos insetos visando ao
seu controle através do seu hábito ou comportamento. Existem dois tipos de controle etológico:
a) Com hormônios da metamorfose: hormônios da metamorforse são substâncias produzidas por
glândulas internas dos insetos e atuam internamente nos mesmos durante os processos de
metamorfose. Os principais hormônios são ecdizonio, hormeonio juvenil ou neotenin e os hormônios
da síntese de quitina. Com base neles, foram desenvolvindas substancias sintéticas análogas ou
antagônicas que são usadas no controle de pragas como: juvenóides (análogos ao neotenin) (Ex.:
buprofezin); precocenos (análogos ao ecdizonio) (Ex.: hidroprene, methoprene); inibidores da síntese
de quitina (Ex.: diflubenzuron (Dimilin) e triflumuron (Alsistin), etc.). Uma grande limitação desses
produtos é a sua baixa estabilidade ambiental. Por isso, eles são mais efetivos em ambientes
fechados como galpões e esgotos. Além disso, necessitam ser aplicados no início da fase jovem do
insetos para ter efeito desejado.
b) Com semioquímicos: são substâncias produzidas por glândulas internas ou externas e lançadas
externamente ao corpo dos insetos para provocar reações específicas em outro indivíduo. São usadas
na comunicação entre indivíduos. Os semioquímicos dividem-se em:
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b1) Feromônios: servem para a comunicação entre indivíduos da mesma espécie. Podem ser
usados no MIP para: detecção (verificação da presença de pragas em determinados locais);
monitoramento (estimar a densidade da população de pragas e acompanhar sua flutuação ao longo
do tempo), e controle (controlar a praga). O controle pode ser feito através da:
- coleta massal: consiste em se colocar grande quantidade de armadilhas para coletar
grande núm ero de indivíduos, reduzindo a população da praga. É eficiente em baixas
populações da praga;
- confundimento: consiste em saturar a área com feromônio, visando a reduzir os
acasalamentos, pela desorientação do receptor. Muito usado em pomares;
- cultura armadilha: consiste em se aplicar o feromônio em faixas de cultura ou em pontos
específicos para atrair os insetos para aquele local, onde se pode aplicar um produto
químico para eliminá-los. O feromônio de agregação é o mais usado neste processo.
Os feromônios têm sido usados em florestas para o monitoramento e detecção de pragas.
Seu uso no controle é dificultado pelo tamanho das áreas florestais. Frontalin, Pheroprax e Linoprax
são usados para monitorar escolitídeos na Europa. No caso desses feromônios, as distâncias entre
armadilhas devem ser de 30 a 100 m, instaladas a um metro do solo, numa densidade de 1 a 3/ha.
Ainda não são usados no Brasil.
b2) Aleloquímicos: servem para a comunicação entre indivíduos de espécies diferentes. São
divididos em:
- cairomônios: a comunicação beneficia o receptor da mensagem, isto é, são atraentes.
Ex. iscas formicidas;
- alomônios: a comunicação beneficia o emissor da mensagem, isto é, são repelentes.
Não tem uso prático em florestas.
9.5. MÉTODO DE RESISTÊNCIA DE PLANTAS A INSETOS
Consiste na seleção e utilização de essências florestais que, devido a suas características
genéticas, são menos danificadas que outras em igualdade de condições. É uma alternativa muito
promissora para o controle de pragas em florestas.
a) Graus de resistência
- imunidade: planta que não sofre danos;
- resistência: planta que, devido a suas características genéticas, sofre um dano menor que
o dano médio de outras em igualdade de condições; e
- suscetibilidade: planta que sofre um dano maior que o dano médio de outras em igualdade
de condições.
b) Tipos de Resistência
- antixenose ou não-preferência: as plantas são menos preferidas para a alimentação, abrigo
ou oviposição pelas pragas, mas elas não afetam a bilogia dos insetos caso sejam atacadas.
- antibiose: as plantas afetam a biologia da praga, devido principalmente a preseça de
substancias tóxicas aos insetos.
- tolerância: a planta suporta o ataque da praga sem afetar sua produção, nem a biologia da
praga.
- pseudo-resistência: resistência não transmitida hereditariamente. Pode ocorrer devido a
fatores ambientais ou de manejo como a adubação. Existe a possibilidade de induzir a
resistência em determinada planta ao aplicar produtos que a beneficiam temporariamente.
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9.6. MÉTODO CULTURAL
Consiste no emprego de certas práticas silviculturais, normalmente utilizadas para o cultivo
das plantas, visando ao controle de pragas.
a) Época de plantio: objetiva dessincronizar a fase suscetível da cultura com o pico de ocorrência
da praga. Ex: plantio no início da época chuvosa reduz os danos de cupins e formigas.
b) Poda: embora a poda não seja uma prática muito comum em florestas, ela pode ser utilizada
para controlar pragas. Ex: poda de galhos baixos de eucalipto e incorporação dos restos com
grade ou rolo-faca para controlar lagartas desfolhadoras; poda e queima de galhos atacados por
serradores etc.
c) Preparo de solo: a aração e gradagem promovem um ressecamento da camada superficial do
solo, matando algumas pragas que passam algum estádio no solo. Ex: gradagem para matar
pupas de Psorocampa denticulata em eucalipto.
d) Adubação: planta bem nutrida é mais resistente ao ataque de pragas. Ex. adubação fosfatada
reduz o corte de mudas por formigas.
e) Plantio direto: favorece os inimigos naturais das pragas; entretanto, favorecem algumas pragas
de solo, como formigas cortadeiras.
9.7. MÉTODO BIOLÓGICO
Consiste na regulação do tamanho das populações das pragas por meio dos seus inimigos
naturais (parasitóides, predadores, patógenos e competidores) O controle biológico pode ser de 2
tipos:
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Natural: consiste na ação dos inimigos naturais das pragas sem a intervenção do
homem.
Aplicado: consiste na introdução e manipulação direta ou indireta dos inimigos naturais
pelo homem. Em florestas cultivadas, a ocorrência de inimigos naturais é restrita, em
conseqüência da pequena diversidade ecológica e estabilidade biológica desses locais.
a) Estratégias do controle biológico em florestas
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Controle Biológico por Conservação: consiste em manter ou manipular adequadamente as
condições do ambiente, para favorecer a reprodução, abrigo e alimentação dos inimigos naturais.
Ex: uso de faixas de vegetação nativa entre os talhões reflorestados; aumentar a diversidade de
espécies plantadas; manter o subbosque diversificado; restringir o fogo, a caça, agrotóxico etc. O
planejamento da distribuição das reservas de vegetação natural e a manutenção do subbosque
das florestas homogêneas são fatores imprescindíveis no manejo ambiental. A retirada do
subbosque ou a impossibilidade de seu desenvolvimento acentuam mais ainda o problema da
simplificação do ambiente, o que pode promover o desaparecimento dos inimigos naturais que
necessitam do subbosque como local de abrigo, alimentação ou reprodução. Tanto a distribuição
racional das reservas de vegetação natural como a manutenção de subbosques é fator de vital
importância no controle integrado de pragas em florestas implantadas.
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Controle Biológico por Incremento: consiste na criação e liberação de inimigos naturais
nativos da região, para o controle de insetos-praga. Isso é feito quando a população de inimigos
naturais não é suficiente para controlar as pragas ou quando não é possível melhorar as condições
ambientais. Para tal, é necessário um bom programa de seleção dos IN, estudos de biologia da
praga e do seu IN, estudos da relação praga-IN, desenvolvimento de técnicas de criação massal e
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acompanhamento de sua ação após a liberação. Ex: uso de percevejo predador Podisus spp no
controle de lagartas desfolhadoras.
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Controle Biológico Clássico: consiste na introdução de inimigos naturais exóticos na área, para
o controle de insetos-pragas. Essa técnica tem sido bastante utilizada para controlar pragas
introduzidas. Devem-se tomar os mesmos cuidados tomados na multiplicação de agentes nativos,
além de verificar se o agente a ser introduzido não causará problemas com o tempo. Ex:
introdução de Bacillus thuringiensis para controlar lagartas. Introdução do nematóide Beddingia
siricidicola para controlar a vespa-da-madeira.
b) Agentes de controle biológico
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Predadores: são organismos (insetos, aves, mamíferos, aranhas etc.) de vida livre durante o seu
ciclo biológico, que mata a presa e que necessitam alimentar-se de mais de um indivíduo para
completar o seu desenvolvimento (1 predador consome várias presas). Os insetos predadores são
considerados eficientes controladores de lepidópteros desfolhadores em floresta, principalmente
os hemípteros predadores das famílias Pentatomidae e Reduviidae. É importante ressaltar que os
pássaros atuam como eficientes predadores de lagartas e adultos de muitas espécies de
lepidópteros desfolhadores. Na literatura encontram-se várias referências dos mesmos predando
principalmente a lagarta desfolhadora Thyrinteina arnobia. Muitos ácaros são entomófagos e de
grande importância na destruição de insetos. As aranhas são predadoras inespecíficas, muito
embora bastante eficientes. São encontradas grandes populações em povoamentos de Eucalyptus
spp. e principalmente em Pinus spp.
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Parasitóides: insetos que durante o seu desenvolvimento necessitam apenas de um único
hospedeiro (1 parasito consome 1 hospedeiro). Os parasitóides adultos têm vida livre e sua fonte
de alimento é diferente da usada na sua fase jovem. Normalmente, os adultos se alimentam de
pólen, néctar e exudações diversas. As diferentes fases do inseto-praga (ovo-larva-pupa-adulto)
podem ser parasitadas por diferentes espécies de parasitóides. Trichogramma soaresi
(Hymenoptera: Trichogrammatidae): parasitóide oófago. Foi feita uma criação massal deste
parasitóide em laboratório (UFMG) visando à liberação no campo na tentativa de controlar um foco
de Blera varana (Lepidoptera: Notodontidae), em 16ha de E. cloesiana.
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Patógenos: são organismos (fungos, bactérias, vírus, nematóides etc.) que provocam doenças e
a morte de insetos-praga. São classificados em:
Fungos: embora no Brasil os melhores resultados de controle biológico com o uso de fungo
tenham sido encontrados no controle de cigarrinhas e cochonilhas, é bastante comum
encontrar lagartas e pupas de desfolhadores de eucaliptos controlados por fungos dos
gêneros Beauveria, Metarhizium, Paecilomyces e outros.
Bactérias: são empregadas em pulverizações dos esporos sobre a praga, sendo altamente
eficientes. Em reflorestamentos, a bactéria Bacillus thuringiensis é considerada a mais
importante. Seus esporos, quando ingeridos pelas lagartas provocam a ruptura da parede
intestinal, levando-as à morte. Já existem no mercado muitas variedades desta bactéria, e
as marcas mais comuns no Brasil são: Dipel, Agree e Thuricide. Estes produtos já são
utilizados no Brasil há vários anos contra lepidópteros desfolhadores de eucalipto e
mostraram alta eficiência. É importante lembrar que a ação deste produto é ineficaz para as
outras fases do inseto, sendo eficiente exclusivamente na fase de lagarta.
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Vírus: são freqüentemente responsáveis pelo controle de muitos surtos de praga,
aparecendo algum tempo depois do estabelecimento do inseto. É característico em uma
lagarta contaminada por vírus paralisar sua alimentação e movimentação no final do período
de 1 a 3 dias, ficando amarronzadas e apodrecendo, permanecendo nos galhos
dependuradas, secas ou se liquefazendo. Em reflorestamentos no Brasil, tem-se o exemplo
de Sabulodes caberata, portadora de uma virose, que foi capaz de acabar com um surto
em menos de 2 meses em 300 ha de eucalipto no Vale do Rio Doce, em MG.
Nematóides: diversas espécies de nematóides atuam como parasitos obrigatórios de
insetos, podendo atacar a cavidade geral do corpo do hospedeiro, ocorrer no intestino ou
ser parasitos de órgãos reprodutores. Ex: Beddingia siricidicola parasitando a vespa-damadeira Sirex noctilio.
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Competidores: são organismos que competem com as pragas por abrigo, alimentação, locais de
oviposição, etc. Os próprios insetos são os maiores competidores dos insetos-praga. Num
ambiente natural, a diversidade de organismos regula o tamanho das populacional de determinada
espécie de inseto, mantendo-a em equilíbrio com as demais espécies. Quando o ambiente é
simplificado para o cultivo, algumas espécies são favorescidas e tornam-se abundantes, podendo
causar danos à esse cultivo, por isso, a manipulação dos competidores das pragas pode reduzir
os seus danos. Ex: competição entre Atta spp. e Acromyrmex spp.
9.8. MÉTODO QUÍMICO
Consiste na utilização de compostos químicos, que aplicados direta ou indiretamente sobre
os insetos, em concentrações adequadas, provocam a sua morte. Constitui o método mais utilizado
no controle de pragas florestais devido a rapidez na preparação do combate, eficiência imediata,
compatibilidade com as operações silviculturais e baixo custo inicial, porém, apresentam a
desvantagem de não serem específicos, alto custo a longo prazo, além de serem tóxicos ao homem
e a outros animais.
Os inseticidas do grupo dos fosforados e dos piretróides são os mais empregados no
controle de pragas florestais. Dentre eles destacam-se os formicidas deltametrina e clorpirifós; os
lagarticidas deltametrina e fenitrotion e o cupinicida fention. Os inseticidas à base de sulfluramida são
os mais utilizados no controle de formigas cortadeiras. Os inseticidas biológicos à base de Bacillus
thuringiensis também têm sido bastante usados em florestas como lagarticidas. Os inseticidas do
grupo das fenil pirazonas são os mais recentes lançamentos no controle de pragas florestais. O
fipronil é o principio ativo de isca formicida e de cupinicida.
a) Formulação dos inseticidas
É a arte de transformar um produto técnico numa forma apropriada de uso chamada de
produto comercial. Ele divide-se em:
- Produto técnico: substância que realmente mata o inseto. Contém uma porcentagem definida
de ingrediente ativo (i.a.).
- Inerte: talco, caulim etc.
- Adjuvante: estabilizante, agente molhante, dispersante, espalhante etc.
b) Tipos de formulação de inseticidas
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Pó Seco (P): inseticida adsorvido em argila + pó inerte (1 a 10% de i.a.). Ex: K-Othrine 2P.
Pó Molhável (PM): inseticida + inerte + agente molhante (20 a 80% de i.a.). Ex: Dipel PM.
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c)
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Pó Solúvel (PS, TS): inseticida puro em pó (50 a 90% de i.a.).
Granulados (G, GR): inseticida + solvente + inerte (1 a 10% de i.a.). Ex: Mirex-S.
Concentrados Emulsionáveis (CE): inseticida + solvente + emulsionante (5 a 100% de i.a.).
Ex: Lebaycid 500 CE.
Soluções Concentradas (ED, UBV): inseticida + solvente (ED = eletrodinâmica, UBV =
ultrabaixo volume). Ex: Sumithion UBV.
Suspensão Concentrada (SC): inseticida líquido puro. Ex: Carbaril SC.
Gasosos: inseticida líquido ou sólido que gaseifica em contato com o ar. Ex: Bromex.
Aerossóis: inseticida + gás propulsor + base oleosa + solvente auxiliar + ativador + perfume.
Pasta (PF): inseticida pastoso. Ex: Gastoxin.
Suspensão líquida (GrDA ou WG): inseticida disperso em partículas sólidas micronizadas em
meio liquido. Ex: Tuit NA.
Classificação dos inseticidas
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quanto a finalidade: aficidas (pulgões); formicidas (formigas); cupinicidas, etc;
quanto a forma de ação: contato (cutícula); ingestão (oral); fumigação (respiração);
quanto a forma de translocação no hospedeiro: sistêmicos (circula na seiva da planta);
profundidade (ação translaminar);
quanto a toxicidade: altamente tóxico (tarja vermelha); medianamente tóxico (tarja amarela);
pouco tóxico (tarja azul) e praticamente atóxico (tarja verde).
quanto a origem:
- inorgânicos: enxofre, arsênio, mercúrio etc;
- de origem vegetal: nicotina, piretro, rotenona, óleo de soja etc.
- sintéticos: clorados, clorofosforados, fosforados, carbamatos, piretróides, reguladores
de crescimento, microbianos e fumigantes inorgânicos.
d) Características dos grupos dos inseticidas
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Clorados: todos proibidos para o uso em florestas; compõem-se de átomos de Cl, C, H e
eventualmente O; alta persistência no ambiente; pouco voláteis; baixa solubilidade;
lipossolúveis; bioacumulativos (aumentam a concentração nos tecidos com o aumento de
peso); biomagnificativos (aumentam a concentração ao longo da cadeia trófica); são
carcinogênicos (provocam câncer); alto espectro de ação (não são específicos); e outros. Ex.
DDT, BHC, Aldrin, endossulfan, dodecacloro.
Fosforados: compõem -se de derivados do ácido fosfórico; alta toxicidade aguda a mamíferos;
não são bioacumulativos; alta volatilidade; são inibidores da acetilcolinesterase. Ex.
clorpirifós, fention, fenitrotion, sumition.
Carbamatos: compõem-se de derivados do ácido carbâmico; alta volatilidade; não são
bioacumulativos; baixa persistência no ambiente; inibidores da acetilcolinesterase. Ex.
carbufuran, carbossulfan, carbaril.
Piretróides: compõem -se de derivados dos ácidos crisantêmico e pirétrico; fotoestáveis;
baixa toxicidade a mamíferos; repelentes às pragas; induzem resistência rapidamente; baixa
estabilidade no solo; alta toxicidade a peixes; alta potência; pouco voláteis; interferem no
fluxo de íons através das células nervosas. Ex. deltametrina, permetrina, cipermetrina.
Inibidores de síntese de quitina: inibem a formação da cutícula do inset o; baixa estabilidade à
luz ultravioleta; seletivos. Ex. diflubenzuron, ciromazina, buprofezina.
Juvenóides e Precocenos: afetam o crescimento dos insetos; seletivos; baixa toxicidade a
mamíferos; baixa estabilidade à luz e temperatura. Ex. metopreno, hidropreno, quinopreno.
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Microbianos: compõem-se de bactérias, vírus, fungos, ou seus produtos; alta especificidade;
não contaminam o ambiente; baixa estabilidade no ambiente; baixa toxicidade a mamíferos.
Ex. Bacillus thuringiensis, Baculovirus sp., Metarhizium sp, Beauveria sp, Nomurae sp.
e) Mecanismo de ação dos inseticidas
A maioria dos inseticidas possui mecanismo de ação relacionado à transmissão de
impulsos nervosos. No axônio, o impulso é transmitido por meio de cargas elétricas via variação do
potencial elétrico resultante da movimentação de íons K+ e Na+ através da membrana dos axônios.
Em repouso a membrana do axônio é permeável aos íons K+ e impermeável aos íons Na+ .
Assim, existe uma maior concentração de K+ no interior do axônio e de Na+ no exterior, gerando uma
diferença de potencial elétrico (DDP) de -60 mV (potencial de repouso) entre o interior e o exterior do
axônio.
Devido a um estímulo (ex. um toque no tegumento) a membrana do axônio torna-se
permeável aos íons Na+ (abertura do canal de Na+ ). Com a entrada dos íons Na+ , ocorre uma saída
de íons K+ por repelência de cargas, ficando o interior do axônio com maior concentração de Na+ e o
exterior com maior concentração de K+ . Isso gera uma diferença de potencial elétrico de +40 mV
(potencial de ação) entre o interior e o exterior do axônio. A abertura dos canais de Na+ dura cerca de
0,002 a 0,003 segundo e a membrana torna-se, novamente, impermeável aos íons Na + (fechamento do
canal de Na+ ). Este processo é passivo, ou seja, sem o gasto de energia (ATP).
Para restabelecer o repouso, a membrana do axônio torna-se permeável aos íons K+ (abertura
do canal de K+ ) e força a entrada de K+ para o interior do axônio através do consumo de ATP que é
chamado de BOMBA NA + -K + . Este processo é ativo, ou seja, ocorre gasto de energia (ATP). No
interior do axônio a enzima ATP-ase quebra a ligação ATP-K +, liberando K + e ATP.
Quando o impulso elétrico chega na porção final do axônio, a membrana próxima à sinápse
torna-se permeável a íons Ca++ (abertura do canal de Ca++ ), que ficam no exterior das fendas
sinápticas. Estes íons ativam as vesículas secretoras de substâncias neurotransmissoras
(acetilcolina, principalmente), liberando esta substância na fenda sináptica. A substância
neurotransmissora acopla-se ao receptor sináptico da membrana pós -sináptica do outro axônio,
transmitindo o impulso elétrico. A membrana se torna impermeável ao Ca ++ (fechamento do canal de
Ca++ ), que volta para o exterior do axônio.
Após a transmissão do impulso elétrico, ocorre a liberação da enzima neurotransmissora
(acetilcolinesterase), que degrada a acetilcolina, ligada ao receptor pós-sináptico, em colina e ácido
acético, cessando a transmissão do impulso e tornando a membrana pós -sináptica livre para receber
um novo estímulo.
Desta forma, o impulso segue até um músculo específico que irá reagir (contrair, por
exemplo) e isso é chamado de ação excitatória. Para que este músculo volte à posição normal
(relaxar) o cérebro deve enviar uma nova mensagem, chamada de ação inibitória. Esta nova
mensagem é transmitida pelos axônios e pelas sinápses inibitórias, num processo semelhante ao
que ocorre nas sinápses excitatórias, porém, o neurotransmissor é o ácido δ-aminobutírico (GABA) e
o íon envolvido é o Cl- .
O mecanismo de ação dos principais grupos de inseticidas é:
- Organofosforados e Carbamatos: ligam-se a acetilcolinesterase inativando-a e impedindo
que ocorra a quebra da acetilcolina. Com isso os receptores pós-sinápticos ficam
sobrecarregados e não receberão novos estímulos. Isso faz com que não chegue estímulos
aos músculos, o que paralisará a respiração muscular, causando a morte do inseto.
- Clorados do Grupo do DDT e Piretróides: atrasam o fechamento dos canais de Na+ ,
hiperexcitando o axônio e levando à exaustão muscular.
- Clorados do Grupo do BHC, Neonicotinóides e Ciclodienos: acoplam-se ao receptor do
GABA, impedindo a abertura dos canais de Cl- , provocando hiperexcitação, convulsões,
paralisia e morte do inseto.
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Lactonas ou Avermectinas: simulam a ação do GABA, favorecendo a entrada de Cl - com
mais intensidade, provocando paralisia.
Precocenos: transformam os insetos em adultóides (insetos adultos pequenos e estéreis)
Juvenóides: induzem a permanência do inseto na fase jovem, não se transformando em
adulto.
Inibidores de síntese de quitina: impedem a deposição de quitina na cutícula, que se torna
mole e se rompe durante a muda, matando o inseto.
Inseticidas bacterianos: os esporos ingeridos pelos insetos produzem cristais tóxicos que
dão origem a toxinas letais no intestino do inseto.
Inseticidas virais: os corpos poliédricos de inclusão ingeridos pelos insetos liberam vírions
no intestino do inseto provocando infecção generalizada.
Inseticidas fúngicos: as hifas penetram pela cutícula e produzem micotoxinas letais ao
inseto.
f) Avaliação toxicológica dos Inseticidas
A toxicidade de inseticidas é expressa em Dose Letal 50 (DL50).
Toxicidade aguda: quantidade do inseticida que aplicada uma única vez em cada indivíduo de uma
população resulta em 50% de mortalidade. O inseticida pode ser aplicado topicamente e via ingestão.
Toxicidade crônica: é a quantidade do inseticida que provoca a morte de 50% dos indivíduos de
uma população-teste, quando aplicada várias vezes em cada um dos indivíduos dessa população. A
dose é determinada após várias aplicações de subdosagens e os efeitos esperados ocorrem em
longo prazo.
Tolerância: concentração máxima dos resíduos de um agrotóxico que é permitida em um alimento
por ocasião da colheita ou consumo.
Carência: é o intervalo de tempo necessário desde a aplicação do produto até a colheita.
g) Seletividade de inseticidas
De modo geral, os inseticidas disponíveis no mercado têm largo espectro de ação e, desse
modo, são ecologicamente perigosos. Uma das maiores necessidades do manejo integrado de
pragas é o desenvolvimento de inseticidas seletivos ou mesmo específicos a cada grupo de insetos praga, para poderem atuar em sinergismo com outros métodos de controle, principalmente o
biológico. Tais substâncias devem ter um espectro de ação suficiente para atuarem somente nos
insetos -alvo, preservando os demais insetos. Como poucos inseticidas disponíveis no mercado
apresentam tal vantagem, podem -se reduzir os impactos negativos dos outros inseticidas não
seletivos, utilizando-os de forma criteriosa, das seguintes maneiras:
- emprego deles quando necessário: somente quando a população do inseto estiver acima do
nível de dano econômico;
- estabelecimento de condições adequadas de aplicação: dosagens adequadas e melhores
formulações, época, métodos e locais de aplicação. Exemplos: uso de iscas tóxicas (iscas
granuladas) que atraem somente o inseto-alvo, uso de plantas armadilhas ou cultura
armadilha que são iscadas com feromônio ou com atraentes alimentares ou são precoces,
onde se aplica o inseticida somente nelas, evitando atingir toda a área; uso de inseticidas
sistêmicos que afeta somente os insetos que se alimentam da planta; aplicação em horários
específicos onde somente a praga está em atividade etc.;
- desenvolvimento de novos inseticidas e de métodos de aplicação mais específicos e de
menor impacto ambiental. Exemplos: uso de inseticidas biológicos como o Dipel e o Agree à
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base da bactéria Bacillus thuringiensis, que são seletivos para lagartas desfolhadoras de
essências florestais e não têm efeito tóxico para hemípteros predadores como o Podisus
spp., que é usado no CB dessas lagartas. Além disso, são bastante seguros para outros
animais e para o homem; uso de inseticidas fisiológicos como o Dimilin (difluobenzuron) que
é um inibidor da síntese de quitina e tem efeito tóxico somente para insetos imaturos, sendo
seletivo para grande parte dos IN dos insetos.
h) Tecnologia de aplicação
Refere-se aos conhecimentos necessários para aplicar um inseticida no alvo desejado
(praga), na concentração adequada para matá-lo, sem contaminar outras áreas. Os inseticidas
podem ser aplicados:
- via sólida
- pós: aplicado através de polvilhadeiras. Ex. controle de formigas cortadeiras;
- grânulos: aplicado pelas granulados. Ex. controle de cupins;
- via gasosa: expurgo ou fumigação. Ex. controle de formigas cortadeiras;
- via líquida
- pulverização: pulverizadores (energia hidráulica). Ex: controle de pragas de viveiros;
- atomização: atomizadores (energia pneumática). Ex: controle de lagartas;
- nebulização: termonebulizadores (neblina). Ex: controle de formigas;
- pulverização eletrodinâmica: electrodyn (carga elétrica).
Procedimentos para calibração do equipamento
Após o diagnóstico do problema é necessário periciar os equipamentos de aplicação dos
agrotóxicos, para prescrever o produto em função desse equipamento. Para calibrar o equipamento
deve-se utilizar a formula:
Q=(600.q)/V.f
em que: Q= volume de aplicação em l/ha; q= vazão do bico em l/minuto; V= velocidade de
deslocamento em km/h; f= faixa de aplicação em metros.
1o) Determinação da faixa de aplicação (f)
- medir a largura da faixa tratada por bico a cada passada do equipamento.
2o) Determinação da velocidade de deslocamento (V)
- marcar o tempo que o equipamento leva para deslocar uma distância conhecida na velocidade de
trabalho.
3o) -Determinação da vazão do bico (q)
- calcular a vazão teórica com base no volume de aplicação (Q) recomendado pelo fabricante e nos
dados de f e V calculados anteriormente, calcular “q” pela fórmula:
q = (V.f.Q)/600.
- consultar as tabelas dos fabricantes de bicos e escolher aquele que tem a vazão teórica igual à
calculada.
- acoplar tais bicos ao equipamento e calcular a vazão real;
- medir o volume aplicado por minuto, com o equipamento parado, acelerado na velocidade de
trabalho.
A diferença entre a vazão real e a teórica não deve ultrapassar 10%, caso ocorra, trocar os
bicos por novos.
4o) Determinação do volume realmente aplicado
Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integrado de Pragas Florestais
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- com base nos dados de f, V e “q real”, anteriormente calculados, calcular Q pela formula:
Q=(600.q)/V.f
5o) Determinação da quantidade de inseticida a ser adicionada ao equipamento
- após todos esses passos é possível calcular a quantidade de produto a ser adicionada ao
equipamento, usando as informações que constam na bula dos produtos.
i) Cuidados na aplicação de defensivos
-
ler atentamente as instruções no rótulo do produto;
usar todos os Equipamentos de Proteção Individual (EPI's) recomendados;
procurar informações técnicas;
não abrir embalagens em ambientes fechados;
usar água limpa para o preparo da calda;
guardar os defensivos em local adequado;
nunca fazer aplicações nos dias de ventos fortes;
afastar crianças e gestantes do local;
verificar a saúde do trabalhador;
lavar o material utilizado em local apropriado;
nunca reutilizar o vasilhame para outros fins;
tomar banho após a pulverização;
não fazer uso de bebida alcoólica e de alimentos durante a aplicação; e
respeitar o período de carência etc.;
em caso de intoxicação procurar um médico munido da embalagem do produto, para que o
especialista saiba que antídoto usar.
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