Angra dos Reis. Monumentos e História
Angra dos Reis
Monumentos e história.
Francimar Pinheiro
1a Edição
Janeiro de 2001
2a Edição
Março de 2012
Ed. Eletrônica revisada
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Angra dos Reis. Monumentos e História
PÁGINA DEIXADA EM BRANCO PROPOSITADAMENTE
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Angra dos Reis. Monumentos e História
© 2001 by Francimar Pinheiro
Projeto Gráfico e Textos
Francimar Pinheiro
Gravuras
Sueli Messias
Revisão
Prof . Cida Moreti
a
Impressão
Gráfica Freitas
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Angra dos Reis. Monumentos e História
Agradeço a Deus por ter conhecido a Cida.
Agradeço à Cida por ter conhecido a Renata.
Agradeço ao amigo Freitas por
Ter acreditado nesse sonho.
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Angra dos Reis. Monumentos e História
Este sonho foi acalentado durante anos, a ideia original
era fotografar alguns monumentos e apresentá-los com textos
de nossa história. Quando voltei a Angra, em maio de 1993,
após morar em vários lugares do Brasil, constatei que nossa
cidade era mais conhecida pela beleza de suas ilhas e não pelo
seu passado histórico, algumas ilhas já tinham outros nomes.
Nos lugares onde morei sempre me preocupei em conhecer
suas histórias, seus personagens e as datas mais importantes.
Aprendi com os gaúchos a guardar viva a chama de nossas
tradições, a riqueza de nossa história e a beleza de nossos
monumentos. Esses conhecimentos acordaram-me e resolvi
transformar o sonho em projeto.
No início de 1994, ganhei de um amigo um álbum da Sueli
Messias, lançado em dezembro de 2002. Eu não a conhecia
pessoalmente, mas fiquei encantado com aquela obra. Mudei a
ideia original para usar seus desenhos, que são maravilhosos.
Ela carinhosamente aceitou e fez todas as gravuras desta obra.
Reiniciei as pesquisas, as leituras dos livros do historiador
Alípio Mendes, do Dr. Camil Capaz e muitos outros. Ouvi
histórias interessantes, vi fotografias, desenhos antigos e
aprendi muito sobre Angra dos Reis.
Fiquei triste em alguns momentos ao constatar que
algumas pessoas sabiam os nomes dos proprietários das
mansões à beira-mar, das ilhas e praias mais badaladas da
nossa costa, mas desconheciam detalhes da história da nossa
cidade e de nossa gente.
Tentei colocar os relatos deste livro em uma linguagem
simples, com a intenção de atingir todas as pessoas
interessadas em conhecer um pouco da história de Angra.
Este livro não tem a pretensão de ser a verdade e eu não
tinha a pretensão de ser historiador quando o escrevi.
Mas quero que você viaje no tempo e sonhe... Como eu
sonhei!
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Angra dos Reis. Monumentos e História
“A história angrense é de difícil concatenação, dada a
falta de documentos, pois os manuscritos e mais papéis
eclesiásticos, oficiais e particulares, foram quase
totalmente destruídos pela ignorância dos homens, a
inclemência do tempo e a voracidade dos térmitas.”
(Alípio Mendes)
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Angra dos Reis. Monumentos e História
Partimos de Lisboa em junho de 1501. Depois de Cabral,
esta era a primeira expedição à nova terra. Após vários dias de
tormentas e calmarias avistamos terra, estávamos há 67 dias
no mar. Nosso comandante, Gonçalo Coelho, autorizou o
desembarque de alguns homens e neste ponto da costa
assistimos ao espetáculo mais horripilante de nossas vidas.
Três dos nossos foram atacados, mortos e devorados pelos
silvícolas. Ficamos estarrecidos, mas não os atacamos,
levantamos âncoras e zarpamos rumo ao sul.
Aportamos em vários lugares da costa, até que em janeiro
de 1502 encontramos uma majestosa baía, à qual chamamos
angra dos Reis. Navegamos neste mar de águas serenas sem a
violência dos oceanos, observando que, em alguns pontos, a
floresta confundia-se com o mar, apenas o verde e o azul
modificavam-se em tons harmoniosos, salpicados de estrelas
pelo reflexo da luz do sol. Estávamos extasiados pela
quantidade de ilhas que se multiplicavam à nossa frente,
obrigando-nos às mais extraordinárias manobras. Parecia que
algum artista do reino tinha preparado esta paisagem.
Lançamos âncoras em uma pequena enseada neste mar
de tranquilidade. Desembarcamos. Os índios pareciam mais
amistosos que os outros e neste lugar passaríamos alguns dias.
Quando a frota partiu, aqui fiquei. Estava encantado com
a beleza do lugar e sobrevivi a todos estes anos na imaginação
deste povo que ao contar a sua história, mistura nela algumas
lendas. É compreensível que entre a história e a fantasia
existam grandes diferenças, mas o que seria da verdadeira
história sem a poesia da imaginação?
Contarei, com fantasia e poesia, partes da vida deste lugar
e de alguns de seus monumentos. Não pretendo causar
polêmicas, o que é próprio da história, mas aguçar a sua
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Angra dos Reis. Monumentos e História
curiosidade para que você visite alguns destes monumentos e
perceba a importância de Angra dos Reis na história.
O Descobrimento
Andava pelas praias do lugar, quando conheci o Capitão
Manuel Antunes. Era um homem rude, dono de muitas roças e
escravos. Chegou por estas bandas em 1586 e construiu sua
fazenda na ilha da Gipóia. Pelas dificuldades de locomoção na
região, ele acreditava ser o primeiro morador, mesmo sabendo
que algumas terras já tinham sido doadas a outros
desbravadores.
Em 1595, iniciou a formação do povoado de Nossa
Senhora da Conceição em um sítio no continente, defronte a
ilha. Além das terras de Manuel Antunes, algumas casas
delineavam o contorno da pequena vila; o pároco local era
Padre Luiz dos Santos Figueira, responsável em dirigir os
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Angra dos Reis. Monumentos e História
ofícios religiosos na pequena igreja do povoado, cujo altar era
dedicado aos Santos Reis Magos.
O local, privilegiado pela beleza da mata e a visão
magnífica da ilha da Gipóia, era separado do continente apenas
por um canal de águas cristalinas. Alguns diziam ter sido ali a
aldeia de Cunhambebe, o maior chefe indígena da região,
muito temido não só por nós portugueses, como também por
outras tribos. Era um mito, chamado de "o grande rei
selvagem"...
Com a serra muito próxima ao mar e alguns manguezais
em volta, a área onde se podia construir o povoado era
pequena. Além disso, o acesso por terra era difícil,
preocupando-o demasiadamente.
Por isso o Capitão Manuel Antunes recebeu, em 1598,
ordens do Sr. Jorge Correia, Capitão-mor de São Vicente, para
iniciar a transferência do povoado para um local mais amplo.
Novo Povoado de Nossa Senhora da Conceição
O capitão escolheu uma área para a nova sede do
povoado, andava-se cerca de uma légua por trilhas traçadas
entre o mar e a floresta até chegar às margens do pequeno rio
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Angra dos Reis. Monumentos e História
que cortava toda a extensão do local, cruzavam-se as terras
doadas aos padres beneditinos e seguia-se pela praia. A areia
branca contornava toda a frente do povoado recebendo a
espuma borbulhante derramada por mansas ondas. A praia
não tinha as ondas fortes do mar bravio, protegida pela
natureza que salpicou seu mar com centenas de ilhas.
As matas que limitavam o novo povoado eram ricas em
madeiras nobres, protegidas por montanhas íngremes.
Algumas fontes próximas forneciam água pura e fresca em
abundância.
A construção dos padres carmelitas era o limite extremo
da área do novo povoado, daí em diante a vegetação nativa e
uma pequena enseada completavam a beleza do lugar.
Os padres carmelitas chegaram ao Brasil em 1580 e
estabeleceram-se em Olinda, no interior da Capitania de
Pernambuco. De lá partiram para disseminar a Ordem,
construindo igrejas e conventos nas novas terras. O
planejamento das construções foi dado a Frei Pedro Viana, que
veio para o Brasil especialmente cumprir esta missão.
Frei Pedro Viana iniciou a construção da Casa Missionária
em 1593. Como os padres carmelitas necessitavam expandir a
Ordem em nossa região receberam, em outubro de 1604, uma
gleba de terras como doação do Sr. Manuel de Oliveira Gago.
O Convento de Nossa Senhora do Carmo da Ilha Grande ficou
pronto em 1617 e seu primeiro Superior foi Frei Constantino da
Cruz.
Nesta época o povoado já estava com sua formação
adiantada e outros desbravadores chegavam para morar na
nova povoação, o capitão Manuel Antunes continuava com a
missão de distribuir terras e assentar os novos. Ele sabia que
era um trabalho árduo, mas gratificante, poderia render-lhe
mais tarde cargos ou favores especiais junto ao governo da
Capitania.
Porém, pelos mistérios da vida e as surpresas do destino,
neste mesmo ano de 1617, o capitão assassinou o Padre Luiz
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Angra dos Reis. Monumentos e História
dos Santos Figueira. Este lamentável incidente deixou o
povoado vários anos sem poder realizar os ofícios religiosos. A
única maneira encontrada pelas autoridades da igreja para
indicarem um novo pároco foi a transferência definitiva da
sede do povoado para o novo local. Afetado por este episódio
o capitão Manuel Antunes abandonou suas terras e mudou-se
do povoado...
A paróquia do antigo povoado foi abandonada, até que
em dezembro de 1623, dona Custódia Moreira, viúva do Sr.
Antônio de Oliveira Gago, doou uma parte de suas terras aos
padres carmelitas e ajudou-os na construção de uma igreja,
com a condição de nela ser sepultada sob os degraus do altar
colateral.
As funções de pároco do povoado passaram a ser
exercidas por Frei Constantino da Cruz, até a chegada do novo
vigário.
Convento de Nossa Senhora do Carmo da Ilha Grande
Quando o Capitão-mor João de Moura Fogaça, em 1624,
completou definitivamente a transferência do povoado para o
novo local, já era possível perceber o traçado das primeiras
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Angra dos Reis. Monumentos e História
ruas. As duas principais, alinhadas ao mar, acompanhavam
suas curvas; as transversais partiam do mar rumo às
montanhas.
Novos moradores continuavam chegando e já se fazia
necessário a construção de uma Igreja Matriz. Em fevereiro de
1626, benzeu-se o chão e lançou-se a primeira pedra da nova
igreja, em cujo altar-mor ficariam as imagens dos Santos Reis
Magos, trazidas da igreja antiga.
Neste mesmo ano, na sesmaria que receberam do capitão
Manuel Antunes em 1598, os padres beneditinos inauguraram
sua casa monacal.
Com o intuito de formar novas povoações nesta região o
Capitão-mor João Pimenta de Carvalho doou, em 1630,
algumas terras às margens do rio Paratiguaçu a sua filha Maria
Jácome de Melo. Naquele local ela iniciou a formação de uma
povoação com o nome de Vila de Nossa Senhora dos
Remédios de Paraty. Trinta anos mais tarde esta vila seria
desmembrada de nossa área territorial.
...Naquele tempo era comum a construção de igrejas por
algumas famílias abastadas, que além de exprimirem o
sentimento religioso mostravam o poder e a riqueza da família.
Os artistas também adoravam estas construções, pois tinham
a oportunidade de mostrarem seus talentos.
Na vila, em 1632, a família Verenável de Oliveira para
cumprir uma promessa, contratou a construção de uma igreja
sob a invocação de Santa Luzia. Esta igreja serviu durante
muito tempo como igreja matriz do povoado, foi erguida na
rua Direita, esquina com a rua que ia para a serra da banda
norte e inaugurada em dezembro daquele ano.
Todas as principais cerimônias religiosas passaram a ser
realizadas na nova igreja, tendo à frente dos ofícios religiosos
o vigário Padre Pedro Homem da Costa. No final do ano de
1633 ele decidiu ir embora, o que representaria grande perda à
comunidade, pois era ele quem mais incentivava o povo a
ajudar na construção da igreja matriz. Felizmente ele atendeu
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Angra dos Reis. Monumentos e História
aos pedidos dos vereadores e do povo, resolvendo voltar atrás
em sua decisão.
Igreja de Santa Luzia
Uma imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição,
destinada à vila de Conceição de Itanhaém, ficou no povoado
alguns dias para ser vista e adorada pelos fiéis. Findo este
período, a embarcação zarpou rumo ao sul, mas não conseguiu
sair da baía devido ao mau tempo. Três tentativas foram feitas
e todas fracassaram, o barco era obrigado a retornar ao porto
da vila. Então o povo se reuniu e considerou aquele incidente
como uma mensagem divina, exigindo que a imagem ficasse
na vila. O altar-mor da nova Igreja Matriz seria, a partir de
então, dedicado a Nossa Senhora da Imaculada Conceição.
Durante a construção da igreja era comum, nós que não
trabalhávamos na obra, pararmos por perto e darmos alguns
palpites ou fazermos comentários sobre os serviços. Em 1633,
o Senado da Câmara aprovou uma lei que obrigava a polícia a
colocar as pessoas que ficavam à volta, prejudicando o
andamento da obra, a ajudar na construção.
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Angra dos Reis. Monumentos e História
Com o crescimento da região, o povoado foi elevado à
categoria de vila, com o nome oficial de Vila da Ilha Grande.
Nesta época apenas uma parte da população morava no
centro da vila, onde existiam muitas chácaras sem
construções.
Este fato levou o Senado da Câmara a determinar que
seus proprietários construíssem suas residências em um prazo
de seis meses, sob pena de receberem multas de altíssimos
valores. Parte do dinheiro arrecadado com as multas, seria
repassado às obras da Igreja Matriz e da Casa da Câmara.
Era o Poder Público procurando meios de arrecadar
fundos para as obras. Até a Coroa Portuguesa ajudou, em 1704,
enviou uma carta ao Provedor da Fazenda da Vila de Santos
doando anualmente uma quantia em dinheiro...
O vigário da paróquia em 1730 era Frei Luiz Nogueira
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição
Travassos, ele acelerou a construção da igreja, conseguindo
concluí-la parcialmente. Os últimos ornamentos necessários à
conclusão da obra foram solicitados ao Rei D. João V e
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Angra dos Reis. Monumentos e História
finalmente a igreja foi inaugurada em fevereiro de 1750, com a
entronização de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, cuja
imagem era guardada na Igreja de Santa Luzia, desde 1632.
A construção da Igreja Matriz durou quase 125 anos, foi
uma tarefa árdua, morosa e cheia de contratempos. Frei Luiz
Nogueira Travassos faleceu em abril de 1745, sem ver
terminada a obra pela qual dedicou anos de sua vida.
Com a criação do Conselho Ultramarino pela Coroa
Portuguesa tomavam importância nas vilas os Senados das
Câmaras. Seus membros conhecidos como Vereadores ou
Camaristas eram responsáveis pela criação e cumprimento das
leis, exercendo em algumas vilas o Poder Executivo, todos os
seus atos eram registrados no Livro das Vereanças. Aqui, o
Senado da Câmara era formado por um Presidente, um
Procurador, um Escrivão e quatro ou cinco Vereadores.
Com a necessidade de um local próprio para suas
reuniões, os Vereadores resolveram construir a Casa da
Câmara ao mesmo tempo em que edificavam a Igreja Matriz.
Na parte superior do prédio ficaram as salas destinadas ao
Senado da Câmara e na parte inferior foi construída a Cadeia
Pública. Decidiram, os Vereadores, separar a metade de todos
os impostos e multas para estas construções.
Evidentemente, os Vereadores gozavam de alguns
privilégios, enquanto os cidadãos comuns eram multados
pelos mais diversos motivos. Estes abusos causavam revolta e
indignação à população que protestava espalhando cartazes
pela vila. Um destes protestos aconteceu no Natal de 1635,
após uma sessão na Câmara, os Vereadores seguiram para a
Igreja de Santa Luzia, onde assistiriam à Missa do Galo;
encontraram pregado à porta um cartaz ofendendo-os de
modo grosseiro pelos atrasos na construção da Igreja Matriz.
O povo não concordava com a morosidade dos trabalhos, pois
era ele quem pagava parte da construção. Os Vereadores
ofenderam-se e durante algumas sessões, o assunto era
encontrar os responsáveis pelo cartaz e aplicar-lhes uma
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Angra dos Reis. Monumentos e História
punição exemplar. Nunca conseguiram identificar o
responsável e esqueceram o assunto.
Em fevereiro de 1657, os Vereadores presididos pelo
Capitão Jerônimo de Souza pagaram, do próprio bolso, as
despesas das cerimônias pelo falecimento do Rei D. João V, na
Igreja de Santa Luzia. Estavam presentes, as autoridades
locais, as congregações religiosas, algumas famílias da vila, os
Vereadores e o Capitão-mor e Ouvidor, Sr. Simão Dias de
Moura.
Câmara Municipal
A vida na vila continuava pacata até que em 1698, chegounos a notícia da descoberta de ouro nos sertões das Gerais.
Esta nova causou um alvoroço em nossa povoação. Alguns,
mais aventureiros, quiseram partir para enriquecerem com a
mineração. Outros, já estabelecidos, vislumbraram o
crescimento da vila com o aquecimento do comércio entre o
litoral e a região mineradora.
Como nesta época alguns fatos sucederam-se
simultaneamente, é preciso dar algumas voltas no tempo para
contá-los com clareza, sem prejuízo da narrativa.
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Angra dos Reis. Monumentos e História
O Capitão Manuel da Cunha Carvalho, em 1652, recebeu e
hospedou em sua casa os primeiros frades franciscanos em
nossa vila. Com a decisão de edificar um convento aqui, o
capitão doou as terras necessárias aos frades e construiu-lhes
uma morada ao lado da Igreja de Santa Luzia. O primeiro
convento foi construído no local conhecido por Cachoeira,
sendo inaugurado em fevereiro de 1659. Frei Inácio de Jesus
foi designado para ser o guardião do Convento de São
Bernardino de Sena da Vila da Ilha Grande.
Após uma tentativa fracassada, em agosto de 1710, de
atacar a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, um dos
navios da esquadra do Capitão Jean François Du Clerc,
bombardeou a vila por dois dias consecutivos. Os Conventos
de Nossa Senhora do Carmo e de São Bernardino sofreram
vários estragos. Uma das bombas caiu aos pés do altar de São
Bernardino, mas não explodiu. Os fiéis que refugiaram-se no
Convento, juraram que a imagem encheu-se de vida, desceu do
altar e apagou o fogo com as mãos. Era mais um dos muitos
milagres atribuídos ao santo...
Estamos em 1752, dois anos após a inauguração da Igreja
Matriz. A extração de ouro nos sertões da Gerais está no auge,
com a crescente criação de vilas e povoados em torno das
regiões auríferas.
Aqui, os homens pardos da vila, reunidos no Convento de
Nossa Senhora do Carmo, comemoraram o primeiro
aniversário de fundação da Irmandade de Nossa Senhora da
Boa Morte, cuja imagem ficava em um dos altares laterais da
igreja. Os sepultamentos dos Irmãos eram feitos no claustro
do Convento e as assembléias da Irmandade eram realizadas
na Igreja do Convento.
Neste mesmo ano, retribuindo uma graça alcançada, o
Capitão Baltazar Mendes de Araújo contratou a construção de
uma igreja. Dedicou o altar mais nobre à Nossa Senhora da
Lapa.
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Angra dos Reis. Monumentos e História
Igreja de Nossa Senhora da Lapa
Após percorrer vários lugares na vila, escolheu um à beiramar, numa pequena elevação rochosa que avançava pelo mar,
dando-nos a impressão de ser uma ilhota. Neste local ele
passava horas sob o céu límpido, divinamente estrelado. As
ondas contavam uma eterna história, sem início e sem final.
Tudo tão tranqüilo, simples, eram momentos de paz.
O Capitão Baltazar Mendes de Araújo tinha fortes laços de
ligação com os frades franciscanos, ele exercia no Convento de
São Bernardino a função de Síndico Apostólico, além de ser um
dos doadores de várias porções de terra aos frades.
Em uma reunião geral da Ordem, os franciscanos
concluíram que era necessário construir um novo Convento. O
atual estava mal conservado e era pequeno para abrigar todos
os irmãos. Além disso, o local era muito úmido e infestado de
sapos e cobras.
Em julho de 1758, em uma solenidade especial foi colocada
a pedra fundamental do novo Convento. Foram cinco anos de
obra, até que Frei Inácio de Jesus abençoou a nova edificação.
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Angra dos Reis. Monumentos e História
Os frades organizaram uma procissão solene para conduzirem
as imagens dos santos venerados ao novo local.
Com o convento em pleno funcionamento realizavam-se
magníficas festas religiosas na igreja. As mais concorridas eram
em homenagem a São Bernardino, Santo Antônio e São
Benedito.
A festa de São Benedito era preparada e organizada pela
Irmandade que levava seu nome, fundada no tempo do antigo
Convento. A data da realização desta festa tinha uma história
curiosa.
Os grandes proprietários de engenhos da região
passavam a maior parte do tempo em suas propriedades no
interior, mas possuíam residências no centro da vila, para onde
vinham resolver algum assunto importante ou na época de
alguma festa religiosa. Durante a Semana Santa, as famílias
Convento de São Bernardino de Sena
deslocavam-se para a vila, podendo assim acompanhar as
procissões e assistir às solenidades que aconteciam de sexta18
Angra dos Reis. Monumentos e História
feira a domingo. Alguns escravos acompanhavam seus
senhores nessas viagens para cuidarem dos afazeres
domésticos e não podiam participar das solenidades desse
período. Com a autorização dos seus senhores passaram a
festejar São Benedito, seu santo protetor, após o término das
festas da Semana Santa. Assim passou-se a realizar a festa em
louvor a São Benedito na segunda-feira de Páscoa.
O Convento de São Bernardino de Sena da Vila da Ilha
Grande, desde a sua fundação, tornou-se um marco
importante em nossa história, marcando com sua presença
vários acontecimentos de nossas vidas.
Já era visível o progresso da região. No interior, estavam
instaladas as grandes propriedades com seus engenhos
fabricando açúcar e aguardente em larga escala, algumas
propriedades possuíam até 200 escravos.
No centro da vila, a construção de casas e sobrados
ocupava toda a mão-de-obra disponível. O número de ruas
aumentava e novas praças eram construídas. Os Vereadores
discutiam como arregimentar recursos para o calçamento dos
logradouros públicos, o que seria um imenso passo para
incrementar ainda mais o progresso.
No mar, a pesca da baleia era a atividade mais lucrativa,
empregava muitos escravos e da baleia eram extraídos vários
produtos importantes, além do óleo para a iluminação e da
carne. Com o crescimento da cidade do Rio de Janeiro, nossas
manufaturas prosperavam e comercializar nossos produtos
ficou mais fácil.
Com o avanço da agricultura na região do planalto
paulista, alguns novos caminhos foram abertos até o mar ou
até encontrar outros existentes, facilitando o escoamento
dessa produção e o trânsito de pessoas. Às margens desses
caminhos cresciam novas povoações, interessando à Igreja
que podia ampliar as paróquias existentes. As nossas
freguesias também se desenvolveram nesta época. Algumas
como Mambucaba, Bracuí e Jacuecanga viveram intensamente
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Angra dos Reis. Monumentos e História
o apogeu angrense. Com a chegada de novos moradores,
edificavam-se novos sobrados, escolas e reformavam-se as
construções existentes.
Sobrados da Rua do Comércio
Nas esquinas, o povo discutia o movimento revolucionário
descoberto nas Gerais, exatamente em Vila Rica. Contavam
que todos tinham sido presos, alguns foram condenados à
prisão perpétua. Apenas um alferes de nome Joaquim José,
apelidado de Tiradentes, tinha sido condenado à pena de
morte. Era o ano de 1792...
Para os piratas, fundear em nossa baía passou a ser rotina.
Para proteger a vila de possíveis ataques, em meados de 1797,
a fortaleza do Outeiro do Carmo foi reformada e a fortificação
do morro do São Bento recebeu um quartel novo. Com essas
reformas, as autoridades da Província do Rio de Janeiro
atenderam a uma antiga reivindicação dos moradores da vila
da Ilha Grande.
Quando o Irmão da Ordem Terceira Franciscana, Joaquim
Francisco do Livramento, chegou à vila para visitar seus irmãos
de Ordem, tinha no pensamento a idéia fixa de construir um
estabelecimento de ensino na cidade do Rio de Janeiro. Seria
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Angra dos Reis. Monumentos e História
uma obra filantrópica, destinada à educação de jovens menos
afortunados.
Aqui, conheceu o Coronel Manuel da Cunha Carvalho e
contou-lhe seus projetos. O Coronel, por coincidência, tinha
idéias parecidas com as suas, porém, queria construir este
estabelecimento na freguesia de Jacuecanga, onde residia e
possuía muitas propriedades. Depois de muito insistir,
conseguiu o Coronel, convencer Irmão Joaquim a edificar o seu
seminário naquela freguesia.
Em junho de 1808, levou-o as suas propriedades para que
escolhesse o local e iniciasse as obras necessárias. Nesse
mesmo período, a Família Real Portuguesa mudava-se para o
Brasil e estabelecia a Corte na cidade do Rio de Janeiro.
Irmão Joaquim terminou a obra em fevereiro de 1809,
inaugurando a Casa Pia da Santíssima Trindade. A primeira
turma de estudantes era formada de 44 alunos.
Agora as notícias da Corte chegavam mais rápido. D. João
VI voltou para Portugal deixando seu filho, D. Pedro I, em seu
lugar. Em setembro de 1822, D. Pedro I estava em viagem pela
Província de São Paulo e impelido pelas circunstâncias rompeu
os laços políticos com Portugal. Estava declarada a
Independência do Brasil.
O Seminário, administrado pelo Padre Antônio Ferreira
Viçoso, estava sendo reformado e ampliado. Os internos
estavam sendo abrigados no Convento de São Bernardino e
retornaram de lá em 1825, quando terminaram as obras. Irmão
Joaquim faleceu quatro anos depois, estava em Marselha
buscando recursos para sua obra.
Em março de 1835, um novo acontecimento encheu de
orgulho o povo da cidade. Isso mesmo, a vila foi elevada à
categoria de cidade com o nome definitivo de Angra dos Reis.
Os Vereadores e o povo comemoraram exaustivamente este
novo fato.
No Seminário, as coisas não iam bem. Desgostoso com o
descaso das autoridades que não forneciam mais verbas,
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Angra dos Reis. Monumentos e História
Padre Antônio afastou-se da direção e voltou para sua terra. O
Seminário ficou abandonado, até que em abril de 1839, a Casa
Pia da Santíssima Trindade foi transformada em Liceu
Provincial e transferida para o centro da cidade.
Seminário da Santíssima Trindade de Jacuecanga
Contar a história da freguesia de Mambucaba, uma das
mais importantes da região, exige um retorno no tempo.
Contam os mais velhos, que neste local existiu uma aldeia
indígena destruída pelos inimigos de Cunhambebe. Em seu
lugar ele determinou a um de seus caciques a construção de
outra, mas esta nova aldeia não chegou a ser erguida.
Os primeiros colonizadores chegaram por volta de 1610,
ocupando as terras às margens do rio de mesmo nome da
freguesia. Eram terras férteis, prontas para o plantio das mais
diversas lavouras.
Em 1755, ajudada pelo Capitão Manuel da Cunha Carvalho,
a população da freguesia iniciou a construção de uma igreja,
invocando Nossa Senhora do Rosário. A duras penas
terminaram a igreja em 1770. Em fevereiro de 1802, dois anos
depois que Valério de Carvalho, herdeiro do Capitão Manuel da
Cunha Carvalho, doou a igreja ao Bispado do Rio de Janeiro, foi
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Angra dos Reis. Monumentos e História
criada a paróquia de Nossa Senhora do Rosário de
Mambucaba.
O progresso da freguesia floresceu a partir de 1810, com o
início do cultivo de café na região, na serra paulista e no sul da
Província de Minas Gerais. O porto da freguesia passou a ser a
porta de saída da produção cafeeira e talvez a porta de
entrada do mercado de escravos, grandes proprietários
instalaram seus engenhos de açúcar e aguardente nas
redondezas.
A freguesia de Mambucaba possuía boas escolas públicas
e particulares, clube recreativo, teatro e uma Loja Maçônica.
Com a igreja velha corroída pelo tempo e não
comportando mais o número de fiéis, Padre Antônio Noberto
da Fonseca, em abril de 1834, convenceu seus paroquianos da
Igreja de Nossa Senhora do Rosário
necessidade de se construir uma nova igreja. Formaram uma
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Angra dos Reis. Monumentos e História
comissão encarregada de arrecadar fundos para a obra e
iniciar a construção do novo templo.
O progresso era tanto que o Governo Imperial, em 1835,
designou no orçamento uma importância em dinheiro para
ajudar na construção de uma estrada até as cidades do sul da
Província de Minas Gerais. Esta estrada foi construída em dois
ramais um até os sertões de Cunha e o outro até encontrar a
Estrada da Cesarea, no alto da Serra da Bocaina...
Voltemos ao ano de 1840, D. Pedro II é aclamado
Imperador do Brasil.
Apesar do progresso, a água em Angra dos Reis era
vendida, de casa em casa, acondicionada em barris. Uma das
nascentes era no alto da chácara da Carioca, a água era
coletada em canos de bambu até jorrar em um poço na parte
mais baixa. A Câmara Municipal , em 1842, construiu um
chafariz para que a própria população pudesse abastecer-se de
água. Em torno desta fonte criou-se uma lenda...
"...um rapaz sonhador costumava passar parte de seu
tempo próximo à fonte ouvindo o canto triste da água,
entremeado pelo alegre trinar dos pássaros.
Certo dia, ele vê aproximar-se da fonte uma linda jovem, de
rosto angelical, acompanhada de uma mucama, que vinham
buscar água na fonte. Ele, encantado por tanta beleza,
observava-a escondido nas sombras do entardecer. Ela percebeu
que estava sendo observada. Ele aproximou-se, contemplaramse, sorriram. Sorriram com o coração... apaixonados.
Voltaram a encontrar-se, entre beijos e segredos juraram
amor eterno escondidos pela complacência da velha mucama.
Porém, os pais da jovem souberam de tais encontros e
proibiram-na de ir à fonte.
O rapaz desesperou-se não vendo mais sua amada, sua vida
ficou entre o desespero e a esperança. Partiu para o Paraguai,
alistara-se na guerra.
A jovem não viu mais o seu amado, sua vida ficou entre a
saudade e a esperança.
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Angra dos Reis. Monumentos e História
A guerra terminou, nossos soldados voltaram, menos ele.
Morreu heroicamente defendendo sua Pátria.
A jovem, apaixonada, não suportou. Faleceu!
Em frente ao chafariz o dia passa vagarosamente. Ao
anoitecer, a magia do amor desce lentamente sobre o local. Ao
som triste do canto da água, observado pelo silêncio dos
pássaros, dois vultos de branco encontram-se, apaixonados,
encobertos pelas sombras da velha paineira..."
Chafariz da Carioca
Voltando à realidade, em 1843 o Liceu Provincial voltou a
funcionar no Convento de São Bernardino. Por falta de alunos
as atividades encerraram-se antes do término do contrato
firmado entre a Ordem Franciscana e o Governo Provincial.
1846 foi um ano festivo para a cidade, o hospital da Santa
Casa de Misericórdia completou dez anos de existência,
Trazendo melhoras na assistência social à população.
Por nossa região era feito o escoamento da produção
cafeeira, utilizava-se como meio de transporte tropas de
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Angra dos Reis. Monumentos e História
muares conduzidas por escravos. Como essa atividade estava
em plena expansão, tornava-se necessário adquirir novos
escravos. Com a publicação em 1850 da lei Euzébio de Queirós,
o comércio negreiro sofreu um grande golpe. Porém, alguns
fazendeiros continuaram com este tipo de negócio. No final
de 1852 aconteceu, talvez, o último desembarque de escravos
em nossa terra. Os escravos desembarcaram na fazenda Santa
Rita, no Bracuí, de propriedade do irmão do Sr. José Joaquim
de Souza Breves. Dali, foram levados para a fazenda Resgaste,
em Bananal, de propriedade do Sr. Manuel de Aguiar Vallim. Os
dois foram processados pelas autoridades do Império, mas
foram absolvidos por falta de provas.
1855 foi marcado pela tristeza, uma epidemia de febre
amarela assolou a cidade. Atendendo à solicitação do Governo
Provincial a Ordem Franciscana cedeu uma ala do Convento de
São Bernardino para atender os doentes. O Padre Provincial
determinou que os mortos seriam sepultados no cemitério dos
escravos.
Novamente o Governo Provincial tentou fazer funcionar o
Liceu Provincial no Convento de São Bernardino. Em 1858
apresentou-se um orçamento para as obras de reparo do
prédio, como o custo era muito alto o Governo decidiu
extinguir definitivamente o Liceu. No ano seguinte o Convento
foi desativado, sendo condenado à ruína...
Em dezembro de 1863 a cidade enfeitou-se para receber a
visita do Imperador D. Pedro II. Após pernoitar na Ilha Grande,
Sua Majestade chegou à cidade. A população e as autoridades
locais apinharam-se à beira do cais para receber a mais ilustre
personalidade do Império. D. Pedro II visitou vários locais e
conversou com autoridades angrenses. Como era o dia da
Padroeira, Sua Majestade participou dos festejos em louvor a
Nossa Senhora da Imaculada Conceição, junto com o povo.
Talvez para marcar sua visita, sugeriu a construção de um
chafariz na rua do Cruzeiro. Destinando uma contribuição em
dinheiro para essa finalidade, a Câmara de Vereadores
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Angra dos Reis. Monumentos e História
completaria essa arrecadação e iniciaria a construção. Para
perpetuar a visita de Sua Majestade à cidade, o chafariz foi
batizado de Chafariz da Saudade.
Chafariz da Saudade
A visita de D. Pedro II a Angra dos Reis projetou a cidade
no cenário político brasileiro. Esta viagem foi destaque nos
principais jornais da cidade do Rio de Janeiro e principalmente
nos jornais daqui.
O primeiro jornal a circular na cidade foi o "A Nova
Phase", fundado em junho de 1860 pelo Sr. José Antônio das
Neves. Por ser um jornal ligado ao Partido Conservador
concorreu para a criação, dias depois, de outro jornal ligado
aos Liberais. O jornal "A Liga Constitucional" foi fundado pelos
médicos Felipe Jansen de Castro, Albuquerque Júnior e Paulino
Corrêa Vidigal. Assim nasceu a imprensa angrense, das
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Angra dos Reis. Monumentos e História
conversas nas esquinas passamos a ler nos jornais as notícias
da região e do Império.
Nos jornais lemos as notícias sobre as hostilidades entre
Brasil e Paraguai, causando-nos grandes preocupações. No
final de 1864 a guerra estava declarada com a invasão de
algumas províncias brasileiras pelas tropas paraguaias.
Assistimos ao embarque de nossos jovens rumo aos campos
de batalhas, carregando em seus corações a fé e a esperança
na manutenção de uma nação forte. Enquanto
a
guerra
acontecia no sul, uma linha marítima era inaugurada, ligando
as cidades de Angra dos Reis e Rio de Janeiro. Na verdade
atendia aos desejos dos habitantes da região do planalto
paulista, facilitando-lhes o transporte de passageiros e cargas.
O ano de 1870 chegou com boas notícias, a Guerra do
Paraguai terminou e a reforma da Igreja Matriz foi autorizada.
Aproveitando o momento, o governo aprovou também o início
das obras de melhoria da iluminação pública da cidade.
Em dezembro de 1871, a Câmara dos Vereadores, presidida
pelo Dr. Diniz Frederico de Vilhena, finalmente concluiu a
construção do Chafariz da Saudade. A água, captada na Fonte
da Saudade, jorrava límpida e fresca. Foi uma alegria para o Dr.
Diniz e um alívio para o Sr. José Pedro Gomes de Castro,
empreiteiro da obra.
Com o término das obras da Igreja Matriz, no final de 1872,
voltamos a assistir aos ofícios religiosos como nos velhos
tempos, comandados por Padre Joaquim Eugênio de Souza
Breves.
Nossos jornais publicavam notícias desanimadoras. As
lavouras de café da nossa região estavam esgotadas e,
grandes investimentos foram feitos no oeste paulista para
expandir a lavoura naquele local. Aqui, já era visível o
abandono de algumas casas e sobrados. O apogeu da
cafeicultura chegava ao fim...
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Angra dos Reis. Monumentos e História
Sendo D. Pedro II um apaixonado pela cultura, desenvolveu-se
na Corte o gosto pela literatura, música e artes plásticas. Após
os concertos líricos, a elite divertia-se nos teatros. Nós há
muito tínhamos os nossos teatros; o Ginnasio Angrense, o do
Zimblão, o do Largo da Banca e o Santa Isabel. O sobrado onde
funcionava o teatro Santa Isabel, palco de várias
apresentações dos atores João Caetano e sua mulher Estela
Sezefredo, durante uma tempestade em meados de 1874
sofreu grandes avarias em suas estruturas e foi abandonado.
A Câmara de Vereadores, em maio de 1876, inaugurou o
novo prédio do Paço Municipal. Assim o antigo prédio passou a
abrigar o Destacamento Policial na parte superior e a Cadeia
Pública continuou na parte inferior. O novo prédio era uma
construção imponente, muito bonito para os padrões
arquitetônicos da época.
Em março de 1879, os irmãos João Ildefonso e Manuel
Possidônio fundaram o jornal "A Gazeta de Angra". Entre
tantos jornais fundados em nossa cidade ele foi o mais
importante, muitos escritores consagrados de nossa terra
eram seus colaboradores, entre eles estavam Júlio Maria,
Honório Lima, Brasil dos Reis e Augusto Sá.
...Frei João do Amor Divino caminhava lentamente
equilibrando-se nas pedras do calçamento, acompanhavam-no
o Síndico Apostólico Sr. Vitorino José Coutinho, Vice-Cônsul de
Portugal em Angra dos Reis e o Sr. João Raimundo da Câmara
Barreto. Em nenhum momento olhou para trás, seus olhos
cheios de lágrimas denunciavam sua tristeza, ele sabia que era
o último religioso a passar pelo Velho Convento. Estávamos
em setembro de 1881, o Convento de São Bernardino, que
estava muito arruinado ficou completamente abandonado.
Nossa história avança até 1886, recebemos pela segunda
vez a visita de Sua Majestade o Imperador D. Pedro II. Visitou
os locais mais importantes da cidade, acompanhado pelos
políticos locais e pelo povo. Não se esqueceu de visitar o
Chafariz da Saudade, monumento erigido em sua homenagem.
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Angra dos Reis. Monumentos e História
Neste mesmo ano, outra comitiva do governo visitou a
cidade, além dos ministros da Marinha e do Império, estava o
angrense Raul D'Ávila Pompéia, escritor, advogado e jornalista
consagrado. Apesar do abandono de algumas construções
com a queda da produção cafeeira, ele gostou do aspecto da
cidade e comparou suas construções às existentes em alguns
locais da cidade do Rio de Janeiro. Raul Pompéia não visitou a
Fazenda Jacuecanga, local onde nasceu em abril de 1863.
Fazenda Jacuecanga
Em maio de 1888 os escravocratas receberam seu golpe
derradeiro. A Princesa Isabel assinou a lei que extinguia
legalmente a escravidão no Brasil. Tanto na cidade do Rio de
Janeiro como aqui em Angra dos Reis, as manifestações foram
múltiplas. Nas sacadas dos sobrados, flores e panos coloridos
retratavam a alegria da população.
Um ano e meio depois, o Movimento Republicano,
liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca e outras
personalidades da época, depôs o Gabinete do Império,
liderado pelo Visconde de Ouro Preto. Estava proclamada a
República. A Família Imperial, partiu dias depois para o exílio.
D. Pedro II fez sua quarta e última visita à nossa região.
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Angra dos Reis. Monumentos e História
Em 1890, a cidade tinha 5 praças e 17 ruas. Suas
construções contavam com cerca de 360 casas e 80 sobrados.
Esses números foram o resultado do censo feito por Honório
Lima. Três anos mais tarde, ele visitou a Ilha Grande com o
Presidente Floriano Peixoto. O Presidente resolveu, naquela
ocasião, determinar a construção de uma Colônia Correcional
na Fazenda de Dois Rios.
...Nossos jornais estamparam em suas páginas uma
tragédia! Raul Pompéia suicidou-se com um tiro no coração,
aos 32 anos. Era Natal, do ano de 1895.
A história angrense sempre girou em torno das ordens
religiosas que se fixaram na região. Cada fato ocorrido com
elas, era comemorado ou lamentado pelo povo. Com o
abandono do Convento de São Bernardino, o Convento do
Carmo passou a receber mais atenção da população. Foi com
grande alegria que o povo participou, em abril de 1901, da
Missa Cantada pela reinauguração do Convento de Nossa
Senhora do Carmo da Ilha Grande.
No final do ano seguinte o Convento preparou uma
Casa de Cultura Brasil dos Reis
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Angra dos Reis. Monumentos e História
cerimônia solene para inaugurar oficialmente o seu Santo
Noviciado e abençoar a imagem de Nossa Senhora da
Imaculada Conceição, cujo trabalho de restauração foi feito
pelo artista angrense Heitor Costa.
Com a modernização e o aparecimento de novas
tecnologias, assistimos em 1908, à montagem da nova
iluminação da Igreja Matriz. Ernesto da Silva Pires e Otaviano
Luiz montaram um gasômetro no cemitério - com acesso
através de uma passagem pelo muro - e instalaram a
iluminação à base de gás de acetileno, no interior da igreja.
Em meados de 1910, outro fruto da tecnologia chegou à
cidade. No prédio do Teatro São José, foi inaugurado o
primeiro cinema, com o filme "O Mártir do Calvário".
Com as constantes notícias de confrontos entre os países
europeus, o governo decidiu que era necessário construir
algum tipo de proteção para a entrada da baía de Angra dos
Reis. O engenheiro Capitão Rosalvo Mariano da Silva foi
designado para construir uma fortificação no local conhecido
por Ponta do Leme. A fortificação foi inaugurada em outubro
de 1911.
Em janeiro de 1913, a Marinha de Guerra do Brasil
inaugurou um monumento em homenagem aos mortos do
encouraçado Aquidabã. Estavam presentes várias autoridades
militares e parentes das vítimas. A emoção daquele momento
transportou-nos ao início do ano de 1906, quando partiu da
cidade do Rio de Janeiro o encouraçado Aquidabã, comandado
pelo Capitão de Fragata Artur da Serra Pinto. Na tarde daquele
dia chegou à enseada de Palmas, onde ancorou e permaneceu
até o dia seguinte, junto com os cruzadores Barroso e
Tiradentes.
A missão daquele grupo era verificar e aprovar o projeto
de construção do novo Arsenal de Marinha, na baía de
Jacuecanga. O objetivo da Marinha de Guerra era mudar o
Arsenal da cidade do Rio de Janeiro para outro local menos
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Angra dos Reis. Monumentos e História
movimentado. Além de Angra dos Reis, outras cidades
estavam sendo cogitadas.
No dia seguinte, o comandante do Aquidabã recebeu
ordens para navegar até a baía de Jacuecanga, onde ancorou
próximo à Ponta do Leste. Após os trabalhos diários, a
Monumento aos mortos do Aquidabã
tripulação descansava e conversava no convés observando o
movimento do mar sob a luz do luar daquela noite. O toque de
recolher chegou aos seus ouvidos, lembrando-os que o dia
seguinte seria decisivo para os ideais da Marinha e os sonhos
de alguns oficiais.
Faltavam quinze minutos para as vinte e três horas
quando ouvimos, ao longe, uma explosão. Corremos para a rua
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Angra dos Reis. Monumentos e História
e ouvimos os estrondos de outras explosões, no céu ficou o
colorido de um vermelho fúnebre. Em poucos minutos o
Aquidabã afundou nas águas da baía, perdemos cerca de
duzentas vidas naquele fatídico acidente. Na manhã seguinte
alguns corpos foram encontrados em vários lugares da baía, o
que nos deu uma dimensão maior da tragédia.
Os jornais noticiaram a tragédia e informaram que entre
os mortos estavam alguns angrenses: o Almirante João
Cândido Brasil, cujo corpo não foi encontrado, o Tenente
Jovino de Souza Dias e Irineu José Peixoto, conhecido como
Irineu Barbeiro. Além de assistirmos ao trágico acidente,
ruiam-se as esperanças da construção do Arsenal de Marinha
em nossa região.
Em junho de 1914, novamente a Marinha de Guerra do
Brasil entra em nossa história e inaugura, na enseada da
Tapera, a Escola Naval. Estavam presentes o Presidente
Hermes da Fonseca e sua mulher, o Almirante Alexandrino de
Alencar, então Ministro da Marinha e várias autoridades
militares e dos governos municipal e federal. Os visitantes
foram recepcionados pelo discurso emocionado de Honório
Lima.
Um mês depois, um ativista sérvio assassinou o herdeiro
do Império Austro-Húngaro. Foi o passaporte para a Primeira
Guerra Mundial.
Neste mesmo ano, o governo encomendou ao engenheiro
Capitão Rosalvo Mariano da Silva a construção de um local que
abrigasse melhor os pescadores que vinham comercializar seus
pescados no Largo da Banca, este prédio substituiu a velha
banca localizada à beira mar.
Dez anos após a tragédia do Aquidabã, outro fato trágico
abalou a cidade de Angra dos Reis, naquela manhã úmida de
primavera recebemos a notícia do falecimento de Frei Inácio
da Conceição, o Pai dos Pobres. A praça em frente ao
Convento do Carmo ficou apinhada de devotos, a multidão
necessitava ver e dar um último adeus ao venerável sacerdote.
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Angra dos Reis. Monumentos e História
Mercado Municipal
Neste ponto da história, a vida na cidade seguia com sua
lentidão, nada aconteceu de notável até o início das obras da
Estrada de Ferro Oeste de Minas, em 1920. As contratações de
trabalhadores para o trecho entre Angra dos Reis e Rio Claro
estavam em um ritmo acelerado, muita gente nova chegava à
cidade em busca de trabalho.
Em 1925, iniciaram-se as obras de aterro para a construção
do Porto. Estes acontecimentos encheram-nos de esperanças
para o futuro, era o começo de um novo ciclo de
desenvolvimento.
Estávamos proseando na praça quando um silvo forte
cortou o silêncio daquela tarde mormacenta, estamos em
princípios de 1928. A algazarra das crianças misturava-se à
nossa perplexidade, chegava à cidade a primeira locomotiva da
Oeste de Minas.
Ali permanecemos, observando o movimento dos
trabalhadores do porto em sua lida diária de carregar e
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Angra dos Reis. Monumentos e História
descarregar. No chão uma folha de jornal chamou a minha
atenção, apanhei-a e li a seguinte notícia:
"O físico inglês James Chadwick descobriu o nêutron. Com
isso completou-se o retrato do átomo. Pode-se agora dominar
o uso da energia nuclear."
Eu, olhando o balanço dos barcos no cais pensei! Quem
sabe um dia...
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Angra dos Reis. Monumentos e História
BIBLIOGRAFIA
ABREU, Capistrano. Capítulos da História Colonial. Belo Horizonte:
Itatiaia, 1988.
______. Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil. Belo Horizonte:
Itatiaia, 1989.
BUENO, Eduardo. A viagem do descobrimento. Rio de Janeiro:
Objetiva, 1998.
______. Náufrafos, Traficantes e Degredados. Rio de Janeiro:
Objetiva, 1998.
CAPAZ, Camil. Memórias de Angra dos Reis. Angra dos Reis: ASA,
1996.
CASTRO, Hebe Maria Mattos; SCHNOOR, Eduardo (Org.). Resgate:
uma janela para o oitocentos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.
LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Nobiliarquia Paulistana
Histórica e Genealógica. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.
MAIA, Tom. Paraty: história, festa, folclore, monumentos. Rio de
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MENDES, Alípio. Ouro, Incenso e Mirra. Angra dos Reis: Gazeta de
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______. O Convento de Nossa Senhora do Carmo da Ilha Grande.
Angra dos Reis: Olímpica Editora, 1980.
______. A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Angra
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______. O Velho Convento. Angra dos Reis: ASA, 1991.
SANTOS, Ana Maria et al. História do Brasil. Rio de Janeiro: LogOn
Informártica, 1998.
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Angra dos Reis. Monumentos e História
O AUTOR
Francimar Pinheiro, nasceu aos vinte dias do mês de julho de
1954, na pacata cidade de Espera Feliz, no interior da Zona da Mata
de Minas Gerais.
Nas esperança de dias melhores, Seu Francisco e dona Eliane
mudaram-se, com os dois filhos, para a cidade do Rio de Janeiro e
anos depois para Angra dos Reis. Foram residir em Jacuecanga, às
margens dos Estaleiros Verolme.
Cresceu nesse ambiente de liberdade, estudou no “velho”
Ginásio Angrense e formou-se entre as primeiras turmas do Colégio
Estadual Dr. Artur Vargas.
Aprendeu alguns passos da construção naval e seguiu na
correnteza da vida. Sem nunca esquecer as lições de casa,
aprendidas com seus pais.
Leu muito, principalmente os autores portugueses e brasileiros.
Admirador de Raul Pompéia e Manuel Bandeira, na infância
participava das brincadeiras literárias e dos teatros que aconteciam
no Clube Social e Recreativo de Jacuecanga.
Morou em vários lugares do Brasil, sempre fazendo questão de
dizer que era angrense. Sem muito alarde fazia propaganda deste
pedaço de chão, como o melhor e mais lindo lugar do mundo.
Correspondências para o autor:
e-mail: [email protected]
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Angra dos Reis. Monumentos e História
“... Algumas vezes me extasiei com os odores das árvores e das
flores e com os sabores dessas frutas e raízes, tanto que pensava
comigo estar perto do Paraíso Terrestre.
E o que direi da qualidade de pássaros, das cores das suas plumagens
e contos, quantos são e de quanta beleza?
Não quero me estender nisto, pois duvido que me deem crédito...”
(Américo Vespúcio)
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