Congresso Nacional dos Farmacêuticos’2015 “Mais Saúde: O Nosso Compromisso de Sempre” = Primeiras Conclusões = Centro de Congressos de Lisboa, 31 de Outubro de 2015 1. Os farmacêuticos têm desde sempre assumido o compromisso de participar na primeira linha do desenvolvimento do sistema nacional de saúde, desempenhando funções essenciais e dando resposta, de modo insubstituível, a necessidades da população e do País; 2. São necessárias reformas estruturais na área da Saúde, e não casuísticas e administrativas, visando melhorar significativamente a produtividade e a racionalização dos recursos de saúde, quer humanos, quer materiais; 3. O sector farmacêutico foi responsável por 2/3 do esforço de redução da despesa pública em Saúde alcançada nos últimos anos. Somente no ambulatório, a despesa do Estado com medicamentos reduziu cerca de 500 milhões de Euros entre 2010 e 2015; 4. No momento em que, sob algumas incertezas, se inicia uma nova legislatura, todos esperamos que rapidamente se obtenha a estabilidade política necessária para olhar em frente e perspectivar o futuro; 5. Os governantes não poderão deixar de considerar o enorme capital de colaboração do sector farmacêutico no processo de emergência nacional que vivemos nos últimos anos; 6. E deverão aproveitar o valor que os farmacêuticos aportam ao sistema de saúde na sua globalidade e o potencial da sua intervenção; 7. O contributo anual, segundo o Estudo ontem aqui divulgado, das actividades actuais dos farmacêuticos comunitários, integradas com os cuidados de saúde primários e outras intervenções em Saúde Pública nas farmácias – sem considerar, portanto, a principal actividade de dispensa de Medicamentos –, traduz-se num Valor Económico anual, para a sociedade portuguesa, de 880 Milhões de Euros. Um valor que representa 0,5% do PIB português; 8. Tendo em conta a percentagem do PIB em causa e os mais de 8 mil farmacêuticos comunitários, cada farmacêutico contribui seis vezes mais para o PIB comparativamente à média nacional; 9. Segundo esse mesmo Estudo, sem esta intervenção os portugueses teriam que pagar em média mais 5,6% em saúde; 10. Refere ainda que a intervenção farmacêutica representa um benefício de 260 mil anos de vida com qualidade para os portugueses e um aumento, em média, de 8,3 % na qualidade de vida; 11. A intervenção Farmacêutica traduziu-se também em menos 6 milhões de actos de saúde no SNS, entre internamentos, idas às urgências e consultas; 12. O contributo anual potencial, em actividades futuras integradas com os cuidados de saúde primários e secundários, ascende a 144 Milhões de Euros; 13. É cada vez mais evidente que a eficácia e segurança das terapêuticas medicamentosas passa não só pela substância-activa, mas pela disponibilização dos serviços necessários e complementares, aplicados na perspectiva da centralização na pessoa; 14. As intervenções em farmácia comunitária já previnem hoje hospitalizações e intervenções dispendiosas. É no entanto evidente e já amplamente reconhecido por Ministérios da Saúde de outros países, que o potencial da intervenção da farmácia está ainda subaproveitado. Nesses países foram já dados passos importantes, na correcção dessa lacuna, através da publicação de legislação no sentido não só de permitir a disponibilização de serviços diversos em farmácia, como também de remunerar esses mesmos serviços pelo potencial de concretização de poupanças no sistema de saúde a jusante; 15. Importa, assim, implementar, desde já, programas de intervenção farmacêutica que permitam o eficaz acompanhamento de pessoas com diabetes, hipertensão, doenças do foro respiratório, entre outras; 16. É indispensável estruturar rastreios tendo em vista a detecção precoce de indivíduos com factores de risco, promover a vacinação, entre outras iniciativas no âmbito da saúde pública; 17. A promoção do uso responsável do medicamento traduz-se em ganhos, quer no plano clínico e humanístico, quer no plano económico, pelo que, forçosamente, este tem de constituir também um grande objectivo para o sistema de saúde português; 18. Promover o envelhecimento activo e saudável terá uma enorme implicação social e contribuirá para a sustentabilidade económica dos sistemas de segurança social e de saúde. A adesão à terapêutica e a gestão da polimedicação assumem-se como estratégias prioritárias a prosseguir; 19. A interface entre as Farmácias Comunitárias e Hospitalares, no que respeita à dispensa de medicação para doentes com VIH/sida, hepatite C, tuberculose e doentes oncológicos e respectivo acompanhamento e promoção da adesão à terapêutica, permitirá obter ganhos de produtividade, ganhos económicos e ganhos clínicos que neste momento representam um potencial desperdiçado; 20. Na linha de integração dos cuidados de saúde, deve ser fortemente promovida a prática da “Reconciliação Terapêutica”, em que farmacêuticos hospitalares e farmacêuticos comunitários ocupam uma posição privilegiada de assumir um papel-chave, assegurando a continuidade dos cuidados prestados aos doentes sempre que estes transitam entre diferentes níveis de cuidados de saúde; 21. Torna-se urgente promover ao máximo as tecnologias de informação em saúde para que os farmacêuticos possam ter acesso a dados clínicos dos utentes, mediante autorização dos mesmos, usufruindo, para tal, da nova carteira profissional dos farmacêuticos – um cartão “inteligente” que garante a autenticação dos farmacêuticos com a devida e necessária segurança; 22. É urgente concluir o processo de consagração legal da Carreira Farmacêutica no Serviço Nacional de Saúde, transversal às diferentes áreas profissionais dos farmacêuticos nos hospitais e laboratórios do Estado. As características específicas dos farmacêuticos, enquanto profissionais de saúde, e as competências atribuídas pelo Estado à Ordem dos Farmacêuticos justificam, por si só, esta individualização da intervenção farmacêutica em carreira própria e distinta, que permita a efectiva autonomia técnica e deontológica e a devida valorização das áreas de intervenção farmacêutica no SNS; 23. O modelo de desenvolvimento profissional farmacêutico deve prosseguir, assegurando a qualificação permanente dos farmacêuticos portugueses e a aquisição de competências farmacêuticas, quer específicas das diferentes áreas profissionais, quer transversais, de modo a corresponderem cada vez mais e melhor às necessidades da população e do sistema de saúde; 24. No domínio analítico é uma evidência que os farmacêuticos intervêm com impacto nos diferentes estágios da cadeia de saúde: prevenção, diagnóstico, prognóstico e acompanhamento terapêutico, e assumem um papel preponderante na integração entre a informação clínica, os resultados laboratoriais e o acompanhamento do doente, assegurando em larga medida a rede de laboratórios de proximidade em todo o País, nos sectores público e privado; 25. No actual quadro político de reestruturação da Saúde Militar deverá encontrar-se uma solução estratégica no que respeita ao enquadramento da actividade dos farmacêuticos, à educação, desenvolvimento e missão nas diversas operações militares e de interesse público, à luz do Conceito Estratégico de Defesa Nacional; 26. E importa preservar e potenciar a especificidade da actividade do farmacêutico militar. Como acontece noutros países, como Alemanha, França, Itália e Brasil deve ser preservado o importante papel do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, entidade central da logística sanitária militar, com novas atribuições adequadas à evolução das Forças Armadas, prosseguindo o caminho de excelência trilhado ao longo dos seus quase 100 anos de existência; 27. A promoção da saúde e prevenção da doença representam o compromisso dos farmacêuticos para com a saúde dos portugueses e o mérito da intervenção do farmacêutico no sistema de saúde; 28. Os desafios da saúde a nível Europeu atribuem ao farmacêutico um papel determinante nas diversas áreas profissionais; 29. Os farmacêuticos defendem a introdução de medidas estruturais que se pautem pela racionalização dos recursos usados em saúde, nomeadamente a avaliação económica sistemática das tecnologias de saúde, a contínua promoção do mercado de genéricos e a diminuição das barreiras administrativas que estes encontram à sua entrada no mercado, assim como a promoção da realização de ensaios clínicos em Portugal; 30. Registamos, na Sessão Solene de Abertura do Congresso Nacional dos Farmacêuticos’2015, e no primeiro acto oficial do novo Ministro da Saúde, o reconhecimento pelo esforço de todos os farmacêuticos no período de ajustamento e a disponibilidade para um diálogo activo e construtivo com a Ordem dos Farmacêuticos e a prioridade para desenvolver políticas de consensos; 31. Os farmacêuticos têm um papel a desempenhar para, todos juntos, enfrentarmos e vencermos os complexos desafios que temos pela frente. Os farmacêuticos estão, como sempre estiveram, disponíveis e com expectativas de um reconhecimento justo em prol da saúde pública. Lisboa, 31 de Outubro de 2015