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Vinte anos
dos documentos
PVM e DEIM
Uma Igreja que tem coragem de definir
sua identidade
A Church that is bold enough to define its identity
Stanley da Silva Moraes
Mestre em Ciências da Religião
Secretário-executivo nacional de Educação da Igreja Metodista
R e s u m o
O processo de formação da identidade da Igreja Metodista no Brasil é analisado neste artigo, que procura resgatar as
origens de documentos como o “Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista” (PVM) e as “Diretrizes para a
Educação na Igreja Metodista” (DEIM), entre outros. Nele são estudadas as ênfases e ações que foram sendo assumidas
pela Igreja ao longo dos últimos 20 anos, dentre elas o “Movimento Dons e Ministérios” e questiona-se como seria
possível dar unidade à ação educativa da Igreja – dividida em educação cristã, teológica e secular –, alcançando os
objetivos propostos no PVM e nas DEIM.
Unitermos: Concílios Gerais, Igreja “movimento”, identidade, Dons e Ministérios.
Synopsis
The process of identity formation of the Methodist Church in Brazil is analyzed in the present article that seeks to recover
the origins of documents such as the “Plan for the Life and Mission of the Methodist Church” (PVM) and “Guidelines for
Education in the Methodist Church” (DEIM), besides others. It studies those emphasis and actions that were assumed by
the Church during the last 20 years, the “Gifts and Ministries Movement” being among them. It also questions how it
would be possible to bring unity to the Church’s educational action – divided into Christian, Theological and secular
education – thus reaching the aims proposed in PVM and DEIMs.
Terms: General Councils, “Movement” Church, identity, Gifts and Ministries.
Resumen
El proceso de formación de la identidad de la Iglesia Metodista en Brasil se analiza en este artículo, que busca rescatar
los orígenes de documentos como “Plan para la Vida y la Misión de la Iglesia Metodista( (PVM) y “Directrices para la
Educación en la Iglesia Metodista” (DEIM), entre otros. En él, se estudian los énfasis y acciones que se fueron asumiendo
por la Iglesia a lo largo de los últimos 20 años, entre los cuales el “Movimiento Dones y Ministerios”, y se cuestiona sobre
cómo sería posible dar unidad a la acción educativa de la Iglesia –dividida en educación cristiana, teológica y secular,
para lograr los objetivos propuestos en el PVM y en las DEIM.
Términos: Concilios Generales, Iglesia “movimiento”, identidad, Dones y Ministerios.
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I. Introdução
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m primeiro lugar quero agradecer ao COGEIME pela oportunidade de compartilhar esta reflexão.
Em verdade preparei três estudos
para o 35º Concílio Regional da 5 a.
Região Eclesiástica que, a pedido do
COGEIME, no contexto da revisão das
“Diretrizes para a Educação na Igreja
Metodista” (DEIM), agora transformo
em um texto de reflexão para a Revista do COGEIME. Naquele momento (janeiro de 2002) estávamos dentro das comemorações do 20º
aniversário do “Plano para a Vida e a
Missão da Igreja Metodista” (PVM),
o documento marco do Metodismo
brasileiro contemporâneo. Certamente há pessoas muito mais bem
preparadas do que eu para realizar
esta reflexão. Todavia, cumprindo a
missão que me foi conferida, compartilharei algumas idéias que, espero,
sejam úteis para a continuidade de
nossa caminhada.
II. Retrospectiva histórica
do “Plano para a Vida e a
Missão da Igreja”
PVM: o documento
marco do Metodismo
brasileiro
contemporâneo
Como a Igreja
Metodista “do Brasil”
se move nesse
contexto da ditadura
militar?
Retrospectiva histórica do
Metodismo brasileiro
As décadas de 1960 e 1970 foram
centrais no estabelecimento da identidade do povo metodista brasileiro.
Quem fez parte deste período histórico tem em sua vida marcas que o/a
ajudam a entender melhor a identidade do Metodismo brasileiro de hoje.
Até a década de 1960, o Metodismo brasileiro era uma seqüência do
Metodismo norte-americano. O próprio nome da Igreja, estabelecido em
1
Até a década de 1960,
o Metodismo brasileiro
era uma seqüência do
Metodismo norteamericano
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sua constituição, já revelava isso. Os
Cânones de 1965 dizem: “A Igreja
Metodista do Brasil e a Igreja Metodista mantêm, como elo de ligação
entre si, um Conselho Central...” 1 .
Aqui fica claro que Igreja Metodista
é a igreja dos Estados Unidos, que
tem no Brasil uma continuadora. A
constituição da Igreja do Brasil estabelece com clareza limites para seu
Concílio Geral, a fim de que não se
afaste das normas estabelecidas pela
“Igreja Metodista”.
Nesse período histórico, o Brasil
vive o período da ditadura militar,
com alguns de seus momentos de
maior repressão. Os movimentos
populares são desmantelados pela
ditadura, que conta com o apoio dos
Estados Unidos da América. A política nacional concentra poder em
mãos do presidente, dos governadores e prefeitos interventores. Assim,
o Estado busca interferir em todos os
segmentos da vida nacional, enquanto os movimentos sociais resistem.
Como a Igreja Metodista “do Brasil” se move nesse contexto da ditadura militar? Entendo que ela se
move trazendo para dentro de si os
conflitos da sociedade. Por um lado,
ela concentra o poder nas mãos de
alguns poucos e, por outro, ela busca ser uma Igreja-comunidade. Por
um lado, ela mais se submete às normas e orientações da “Igreja
Metodista” (dos Estados Unidos da
América) e, por outro, ela busca ser
uma Igreja que assume sua identidade nacional, não mais submissa mas
parceira. O ambiente na Igreja é de
enormes tensões, com posições fortes numa e noutra direção. No contexto da “resistência”, as origens in-
Igreja Metodista. Cânones da Igreja Metodista, 1965, p. 17.
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glesas do Metodismo são buscadas,
e se estabelecem novas tensões
quanto às raízes do Metodismo.
É com esse ambiente de grande
tensão que a Igreja chega ao Concílio Geral Extraordinário de 1968,
quando se confirma o fechamento da
Faculdade de Teologia. Aqueles que
apoiaram a decisão pensam com
isso ter “sepultado” a Igreja-comunidade, a Igreja que busca sua própria identidade nacional. Todavia, o
que acontece após esse Concílio
mostra que a Igreja, sob a unção do
Espírito Santo, estava com os seus
olhos voltados para outro lado. Os
delegados e delegadas eleitos para
o Concílio seguinte têm uma postura mais semelhante às propostas
que foram derrotadas no Concílio
Extraordinário de 1968.
O 10 o. Concílio Geral de 1970 e
1971 marca o momento radical da
sua definição organizacional. Nesse concílio, a Igreja muda seu nome
a passa a se chamar de “Igreja
Metodista”. Nessa mudança, ela
afirma concretamente ser parte do
Metodismo universal, com direito
de estabelecer seus paradigmas,
em comunhão com o Metodismo
universal. Nesse concílio, ela modifica sua constituição, dando a si
mesma uma nova mobilidade. Nele,
ela suprime a existência do Conselho Central, órgão paritário de brasileiros e norte-americanos. Nele
ela suprime as Juntas Gerais e estabelece secretários/as executivos/as nacionais para as áreas de
ação. Nele, ela cria o Conselho Geral, composto de presbíteros e leigos, como órgão maior de sua administração. Eu diria que aqui se
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completa o período do estabelecimento da autonomia.
Passado esse Concílio, com todas
as suas decisões, inicia-se o período
no qual a Igreja vai tecer os elementos constitutivos de sua identidade
em âmbito nacional e suas conexões
com o Metodismo universal. Esse foi
um período de muitos conflitos na
vida da Igreja, pois mesmo que ela
tivesse se definido como uma “Igreja-comunidade”, nela mesma e na
sociedade ainda existiam muitas pessoas que acreditavam numa Igreja em
que as decisões viessem de cima para
baixo. Como sair desse impasse?
O Conselho Geral e o Colégio Episcopal começaram a desenvolver um
programa para estabelecer os eixos
básicos do programa nacional (a
identidade da Igreja). Esse processo
gerou o primeiro Plano Quadrienal,
que foi aprovado pelo 11 o. Concílio
Geral (1974). O tema definido foi “Missão e Ministério”.
Com a definição do tema, a Igreja
passou a trabalhar o conceito de
“missão”. Definiu assim: “O propósito de Deus é libertar o ser humano
de todas as coisas que o escravizam,
concedendo-lhe uma nova vida à imagem de Jesus Cristo, através da ação
e poder do Espírito Santo, a fim de
que, como Igreja, constitua neste
mundo e neste momento histórico,
sinais concretos do Reino de Deus. A
missão da Igreja é participar da ação
de Deus neste seu propósito”2 . Com
o conceito estabelecido, o documento explicita o mesmo em relação ao
Deus trino, à Igreja, à salvação, à segurança pessoal, ao testemunho, ao
mundo, aos meios (de comunicação)
e ao Reino de Deus.
Um período de muitos
conflitos na vida da
Igreja
O 10o. Concílio Geral:
aqui se completa o
período do
estabelecimento da
autonomia
A Igreja passou a
trabalhar o conceito
de “missão”
Idem. Plano Quadrienal 1975-1978, 1974, p. 9.
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No final do
quadriênio a Igreja
deveria ter 100 mil
membros.
Em seqüência, esse documento
explicita os fundamentos doutrinais da
Igreja e parte para a definição do “ministério da Igreja”. Ele diz: “A Igreja
Metodista reconhece que todos os
seus membros, pelo fato de pertencerem ao povo de Deus, são ministros do
evangelho. Isto é, são chamados por
Deus, preparados pela Igreja para, sob
a ação do Espírito Santo, cumprirem a
Missão, testemunhando a nova vida e
servindo em todas as áreas da existência”3. Com esse conceito, o documento vai trabalhar a especificidade do
ministério diaconal e pastoral, para
então entrar na nova organização da
Igreja, com suas áreas de ação.
O estabelecimento e o desenvolvimento desse plano de ação enfrentaram reações na comunidade
metodista, mas o que mais se fez presente foi uma nova esperança no povo
metodista brasileiro. Assim, o Concílio Geral seguinte, realizado em 1978,
ocorreu num clima de uma certa euforia. Esse foi o primeiro Concílio que
iniciou com o estudo e aprovação do
Plano Quadrienal, para só depois tratar da legislação, já à luz do Plano
aprovado. Na Igreja estava presente a
visão de que ela tinha encontrado seu
caminho, e de que os frutos “agora”
começariam a aparecer. Com esse clima, o Concílio estabeleceu como tema
“Unidos pelo Espírito, Metodistas
Evangelizam”, que veio acompanhado
do objetivo geral do plano: “Orientar
o povo metodista na sua vivência cristã, sob a dinâmica do Espírito Santo
que em unidade, crescimento e serviço, promove a evangelização, em meio
à realidade concreta do mundo”. E ele
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teve também a meta de que no final
do quadriênio a Igreja deveria ter 100
mil membros.
O quadriênio que se seguiu colocou a Igreja dentro de novos impasses.
O grande esforço de evangelização
não conseguiu levar a Igreja a crescer.
A unidade alcançada nos documentos
e colegiados maiores não conseguiu
mover a base da Igreja. Tornou-se evidente a existência de problemas ainda não superados. Isto levou o Colégio Episcopal e o Conselho Geral a
chamarem para 1981 uma grande consulta nacional sobre a Vida e Missão
da Igreja. É essa consulta que gerará
o documento “Plano para a Vida e a
Missão da Igreja”.
O documento vai
trabalhar a
especificidade do
ministério diaconal e
pastoral
Geração do “Plano para a Vida e
a Missão da Igreja”
O Concílio Geral
realizado em 1978
ocorreu num clima de
uma certa euforia
A Igreja reunida em consulta nacional em 1981 colocou sobre a mesa
algumas questões básicas:
- “O metodismo brasileiro está saindo da profunda crise de identidade
que abalou nossa Igreja na primeira metade da década de sessenta.”4
- “A Igreja necessita de um plano
geral, que inspire sua vida e programação, e que não será dentro
do curto espaço de um quadriênio
que corrigiremos os antigos vícios
que nos impedem de caminhar.” 5
- A consulta Vida e Missão propõe
ao Concílio “não mais um programa de ação para o quadriênio, mas
linhas gerais que deverão orientar
toda a ação da Igreja nos próximos
anos, enquanto necessário, devendo ser avaliado periodicamente” 6 .
Idem. Plano Quadrienal 1975-1978, 1974, p. 16.
Idem. “Plano para a Vida e a Missão da Igreja”, ANO, p. 9.
Idem, ibidem, p. 9.
Idem, ibidem, p. 9.
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O documento que é encaminhado ao 13 o. Concílio Geral, composto pelo “Plano para a Vida e a Missão da Igreja” (PVM), pelo “Plano
para as Áreas de Vida e Trabalho” e
pelas “Diretrizes para a Educação
na Igreja Metodista” (DEIM), vai
com essas premissas. Recebido
pelo Concílio, ele é debatido calorosamente para, finalmente, ser
aprovado com o voto favorável da
grande maioria dos conciliares. Ele
é aprovado dentro das premissas
estabelecidas pela consulta Vida e
Missão, e entra para os Cânones da
Igreja em sua parte geral. Torna-se,
assim, um documento normativo
para a Igreja. Ele é aprovado como
documento orientador de todo programa de ação da Igreja a ser estabelecido para os anos seguintes.
A premissa estabelecida no primeiro Plano Quadrienal de que tudo
na Igreja se oriente para a missão é
confirmada, e “a Igreja deverá experimentar de modo cada vez mais claro que sua principal tarefa é repartir
fora dos limites do templo o que de
graça ela recebe do seu Senhor”7 .
Agora, a Igreja tem um documento com diretrizes gerais que ultrapassam os programas quadrienais
ou qüinqüenais. São diretrizes aprovadas para existire até o momento
que a Igreja, por meio de um processo avaliativo, considere necessário revisá-las. O documento, que
é gerado em íntima conexão com os
dois Planos Quadrienais anteriores,
convida a Igreja a uma prática de
santificação tipicamente wesleyana, pelo que se impõe revisar suas
práticas de piedade pessoal e atos
de misericórdia.
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Dons e Ministérios
A Igreja constata
possuir uma estrutura
organizacional
pesada,
A premissa de que
tudo na Igreja se
oriente para a missão
é confirmada
O 14o. Concílio Geral
aprovará uma
estrutura
organizacional com
maior flexibilidade e
mobilidade
Desencadeando esse processo de
revisão da vida da Igreja à luz do PVM
aprovado, a Igreja constata possuir
uma estrutura organizacional pesada,
de mobilidade muito restrita, que não
responde ao novo modo de ser Igreja
estabelecido no novo Plano. A vida e
missão da igreja não encontra respaldo em sua estrutura organizacional,
com cargos pré-estabelecidos, que
precisam ser preenchidos independentemente da vocação das pessoas
e das necessidades do “mundo” onde
a Igreja tem de cumprir a missão.
Esse fato acaba gerando um novo
momento de profunda tensão dentro
da Igreja, pois agora ela já definiu sua
missão, sua identidade está explicitada, mas ela não tem os instrumentos adequados para cumpri-las. Sua
estrutura organizacional impede sua
ação. A Igreja já definiu um novo
modo de ser Igreja, mas ainda não
está reorganizada.
É nesse contexto que, durante o
qüinqüênio 1983-1987, vai ser gerado
o “Movimento Dons e Ministérios”, que
orientará a nova forma organizacional
que a Igreja estabelecerá para desenvolver as diretrizes estabelecidas no
PVM. O 14o. Concílio Geral aprovará
uma estrutura organizacional com
maior flexibilidade e mobilidade para
com ele desenvolver suas diretrizes,
tornando-se uma Igreja missionária
relevante para a realidade brasileira.
O “Movimento Dons e Ministérios” nasce com as riquezas do “novo”
e com a fragilidade de uma Igreja que
desaprendeu ser “movimento”. O
Metodismo nasceu na Inglaterra
como um movimento, mas acabou se
institucionalizando, assumindo for-
Idem, ibidem, p. 10.
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mas tão rígidas a ponto de limitar
todo movimento dentro de si. Agora
a Igreja decide manter sua institucionalidade, mas assumindo os riscos de um movimento.
Conclusão
O PVM tem em cada período eclesiástico nacional um Plano de Ação,
no qual se estabelecem as prioridades daquele período. O PVM é sempre o referencial primeiro. O “Movimento Dons e Ministérios” vai
recebendo a cada período novas orientações, que buscam levar a Igreja
a uma experiência de unidade, em
que cada ministério tem sua
especificidade e se soma aos demais
– unidade e diversidade. Na própria
caminhada vão se fazendo as necessárias correções.
O PVM tem em cada
período eclesiástico
nacional um Plano de
Ação
II. O “Plano para Vida e a
Missão da Igreja” e as
“Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista”
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bates. Por isso, em sua formulação
final ele pôde ser aprovado com voto
favorável da grande maioria dos
membros do Concílio Geral, sem
deixar de ter afirmações que sofrem
forte contestação. Todavia, sua redação não deixa dúvidas quanto aos
seus objetivos.
Quero agora fazer uma abordagem
do que é o documento em si mesmo.
No próximo trecho desejo verificar a
sua presença na vida da Igreja nesses
seus 20 anos de existência, com ênfase na questão dos agentes da missão.
Quero afirmar de antemão que a Igreja Metodista passou por profundas
transformações após sua aprovação.
Faço isso buscando comunicar dados
que sejam acessíveis àqueles/as que
não participaram de sua formulação
e nem têm gastado muito tempo estudando-o, não ignorando que há muitos irmãos e irmãs que participaram
de todo o processo de preparo,
implementação e avaliação do PVM
até aqui. Busco somar com eles e elas.
“Plano para a Vida e a Missão da
Igreja”
Depois de termos visto o contexto histórico dentro do qual nasce o
“Plano para a Vida e a Missão da Igreja”, agora queremos buscar os eixos
centrais desse documento que estabelece a identidade da comunidade
metodista brasileira. Tenho presente que ele foi um documento gerado
num momento específico da vida da
Igreja, pelo que tomou forma trazendo o que de melhor aquele momento soube produzir, sem deixar também de refletir as limitações do
mesmo. Como documento que estabelece o básico da identidade
metodista, o PVM reflete os acordos
alcançados em meio a grandes de-
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Para não empobrecermos nossa
abordagem do PVM, de início trazemos à memória que o que chamamos
de PVM é, na verdade, um conjunto
de quatro documentos, todos dependentes do primeiro, mas com algum
grau de autonomia. Eles é que completam 20 anos. São eles:
1. “Plano para a Vida e a Missão da
Igreja”
2. “Plano para as Áreas de Vida e Trabalho”
3. “Diretrizes para a Educação na
Igreja Metodista”
4. “Plano Diretor Missionário da Igreja Metodista”
O PVM reflete os
acordos alcançados
em meio a grandes
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O primeiro documento é o principal, e todos os demais surgem orientados por ele. O segundo documento
nasceu junto com o PVM, estabelecendo diretrizes para as áreas de ação
da Igreja a partir dele, na forma
organizacional da Igreja proposta
para aquele primeiro período (19831987). O terceiro e o quarto documentos surgiram em paralelo, e foram iluminados pelo PVM. No processo de
geração dos documentos, há aspectos que foram dos dois últimos para
o primeiro, mas via de regra é do primeiro que foram as diretrizes para
os demais. Uma vez prontos os documentos, o PVM é sempre base
para os demais, bem como para todo
o programa da Igreja, em todos os
seus níveis.
O PVM nasce numa Igreja que faz
uma autocrítica de sua vida e missão
e busca encontrar a sua razão de ser
na sociedade brasileira e no mundo
contemporâneos; uma Igreja que não
quer se considerar nem superior nem
inferior a qualquer outra denominação, mas quer, sim, ter clara qual é a
sua vocação específica; uma Igreja
que não quer imitar outras denominações nem se colocar como oposta
a elas; uma Igreja que quer corresponder à sua vocação específica.
Assim, por exemplo, ele afirma:
“A missão acontece quando a Igreja
sai de si mesma, envolve-se com a
comunidade e se torna instrumento
da novidade do Reino de Deus”8. Em
sua autocrítica, ela constata que sua
vida comunitária ainda é muito voltada para si mesma. Por isso, o PVM
também afirma: “A Igreja deverá ex-
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O PVM é o documento
principal, e todos os
demais surgem
orientados por ele
O PVM explicita os
elementos básicos
constitutivos da
“vida” da Igreja
Metodista
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perimentar de modo cada vez mais
claro que sua principal tarefa é repartir fora dos limites do templo o
que ela de graça recebe do seu Senhor. Por isso estamos sendo convidados ao desafio tipicamente
wesleyano da santificação” 9. Noutro
momento, o documento faz estas
outras afirmações: “Levando em
conta o evangelho e sua influência
sobre todos os aspectos da vida, a
ação educativa metodista trouxe
muitas contribuições positivas. Por
meio especialmente da igreja local,
muitas pessoas foram convertidas e
transformadas, modificando sua vidas e seu modo de agir... A ação
educativa da Igreja, entretanto, deu
muito maior valor às atitudes individualistas em relação à sociedade...
Em razão de suas limitações históricas e culturais a ação educativa
metodista tornou-se prejudicada em
dois pontos importantes: primeiro
porque não se identificou plenamente com a cultura brasileira; segundo
por ter apresentado pouca preocupação em descobrir soluções em
profundidade para os problemas dos
pobres e desvalidos, que são a maioria de nosso povo.” 10
O PVM explicita os elementos básicos constitutivos da “vida” da Igreja Metodista, conectando esses elementos à “missão” da Igreja. Nele, fica
muito claro que vida e missão são
aspectos que nunca podem se separar. “Devemos continuar o processo
que permitirá que tudo na Igreja se
oriente para a Missão ” 11, qual seja,
que a vida da igreja esteja a serviço
da missão, e que a vida abundante
8
Idem, ibidem, p. 17.
Idem, ibidem, p. 10.
10
Idem, ibidem, p. 41 e 42.
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Idem, ibidem, p. 10.
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alcance todos. O documento nasce
na Igreja, corpo de Cristo, definindo
as áreas prioritárias de sua vida e
missão. Por isso, em sua apresentação, afirma: “A adoção deste plano
nos levará necessariamente ao crescimento em todas as dimensões de
nossa vida de serviço e culto... Movidos por essa esperança apresentamos à Igreja o plano que Deus nos
inspirou nestes últimos anos de estudo, tentativas concretas de mudança e reexame de nossa tradição” 12.
O PVM vem dividido em oito partes, contendo a essência da doutrina, os fundamentos da missão, a leitura da realidade, as áreas nas quais
prioritariamente a Igreja Metodista
deve agir, o que se espera alcançar, o
que tem de animar a Igreja. Sendo um
documento escrito a muitas mãos,
que passou por um processo de sistematização, sua riqueza maior não
está em sua forma, mas no seu conteúdo, do qual considero importante destacar:
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Sendo um documento
escrito a muitas mãos,
sua riqueza maior não
está em sua forma,
mas no seu conteúdo
Os elementos fundamentais da
unidade metodista, trazidos de
nossa herança wesleyana, são:
Está baseado nas Sagradas Escrituras;
Aceita completa e total das doutrinas fundamentais da fé cristã promulgadas nos Concílios da Igreja
dos quatro primeiros séculos;
A vida cristã comunitária e pessoal deve ser expressão verdadeira
da experiência pessoal do crente
com Jesus Cristo;
O poder do Espírito Santo é fundamental para a vida da comunidade
de fé, tanto na piedade pessoal
como no testemunho social;
Somos parte da
igreja universal de
Jesus Cristo
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- Somente sob a orientação do Espírito Santo a Igreja se transforma em
meio de graça para atender às necessidades do mundo;
- O crescimento em santidade exige
vida de disciplina pessoal e comunitária;
- A santificação se concretiza tanto
em atos de piedade (participar da
ceia do Senhor, leitura devocional
da Bíblia, prática da oração e jejum,
participação nos cultos) como em
atos de misericórdia (solidariedade ativa junto aos pobres, necessitados e marginalizados sociais);
- A paixão evangelística leva os
metodistas a anunciar, da maneira
mais abrangente e persuasiva possível, Cristo como Senhor e Salvador;
- Demonstração de permanente
compromisso com o bem-estar da
pessoa total, não só espiritual, mas
também em seus aspectos sociais;
- Todo povo de Deus é chamado a
desempenhar um ministério na Igreja e no mundo, atendendo a necessidades do momento histórico em
que Deus vocaciona cada um/uma;
- O sistema conexional é característica fundamental e básica de sua
existência como movimento espiritual e como instituição eclesiástica;
- Somos parte da igreja universal de
Jesus Cristo. Por isso, o metodista
busca caminhos para o estabelecimento da unidade visível da igreja
de Cristo;
- A vocação do Metodismo é: “reformar a nação, particularmente a
Igreja, e espalhar a santidade bíblica sobre toda a Terra”;
- A graça divina é o fundamento de toda
a revelação e ação histórica de Deus;
Idem, ibidem, p. 10.
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- A fé é uma experiência pessoal e
comunitária;
- A Igreja é, antes de tudo, um organismo vivo, uma comunidade de
Cristo;
- Valoriza a prática e a experiência
da fé cristã;
- O Cristianismo prático tem
como fonte de conhecimento de
Deus: a natureza, a razão, a tradição, a experiência cristã e a
vivência na comunidade da fé,
sempre confrontados pelo testemunho bíblico.
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Cristo, em oposição à morte e a
todas as força que a produzem.
A fé é uma
experiência pessoal e
comunitária
•
Necessidades e oportunidades
visualizadas são:
Há necessidade de estar em comunhão com Deus;
Há necessidade de conhecer a Igreja em tudo que ela é;
Há necessidade de conhecer o
bairro, a cidade, o campo, o país,
o mundo;
Há necessidade de apoiar todas as
iniciativas que preservem e valorizem a vida humana;
Há necessidade de denunciar tudo
que oprime e destrói a vida humana;
Há necessidade de entender e unir
no trabalho, de modo positivo, as
igrejas locais, a Igreja e as demais
Igrejas cristãs;
Há necessidade de entender e superar tensões existentes na Igrejas,
para que todos se unam num trabalho participativo na Missão;
•
A seguir o documento explicita
o “como participar na Missão de
Deus?”:
Produzindo atos de piedade e
obras de misericórdia;
Cultuando Deus;
Aprendendo em comunidade;
Trabalhando;
Usando ferramentas e métodos
adequados;
Promovendo a vida.
-
-
Entendendo a vontade de Deus,
o PVM afirma:
A missão de Deus no mundo é estabelecer o Seu Reino;
Participar da construção do Reino
de Deus em nosso mundo, pelo Espírito Santo, constitui-se na tarefa
evangelizante da Igreja;
O Reino de Deus é o alvo do Deus
trino e significa o surgimento do
novo mundo, da nova vida, do
perfeito amor, da justiça plena,
da autêntica liberdade e da completa paz;
O propósito de Deus é reconciliar
consigo mesmo o ser humano;
A missão é de Deus – Pai, Filho e Espírito Santo. “Ele trabalha até agora”;
Em Jesus, Deus revela sua ação
salvadora a favor das pessoas e do
mundo;
As pessoas, comunidades e instituições sofrem com o domínio das
forças satânicas e do pecado, impedindo a vida abundante e contrariando a vontade de Deus;
É de Jesus que vem o poder para se
participar da construção do futuro
que Ele nos oferece já no presente;
Neste tempo, fazemos uma escolha
clara pela vida, manifesta em Jesus
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Como participar na
Missão de Deus?
•
Esperança e vitória na Missão de
Deus:
- Ainda que as forças do mal e da
morte lutem para dominar nosso
mundo, nossa esperança reside naquele que as venceu, Jesus Cristo.
- Perseveramos na caminhada, orando: “Venha o Teu Reino”.
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“Plano para as Áreas de Vida e
Trabalho”
Já olhando para a Igreja como
uma comunidade de dons e ministérios, mas sem ainda ter estabelecido
esse modo de ser Igreja, esse documento estabelece diretrizes para sete
áreas de vida e trabalho, sendo que
a área de educação é subdividida em
três (educação cristã, educação teológica e educação secular).
Como colocamos no início deste
artigo, ao estabelecer o PVM a Igreja
tinha ainda uma estrutura que não a
permitia ter a mobilidade necessária.
Isso, todavia, não a impediu de
visualizar uma Igreja trabalhando por
áreas. As diretrizes para cada uma
das áreas se mantêm nos Cânones até
hoje, embora a Igreja denomine essas áreas de ministérios, e não mantenha uma estrutura em que cada
uma dessas áreas tenha de existir
como ministério. A forma organizacional se modificou, mas os princípios orientadores se mantêm. Aqui já
está estabelecida uma Igreja que passa a trabalhar por projetos, na qual
as áreas específicas têm de se apoiar
mutuamente. Por ele, a Igreja supera
tanto uma estrutura rígida préestabelecida, como uma organização
espontaneísta, com um espiritualismo indisciplinado. Começam a se
estabelecer canais comunicativos
para que os projetos de Deus e da
Igreja se desenvolvam.
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Igreja é conhecida mundo afora pelo
seu projeto educacional.
No contexto de uma Igreja brasileira que buscou fixar sua identidade e missão, seu projeto educacional
passou por uma profunda avaliação
objetivando estabelecer as diretrizes
que deveriam orientar sua ação
educativa nas suas três subáreas de
ação.
O primeiro Plano Quadrienal coloca sua preocupação quando define:
“que se estabeleça uma Filosofia Educacional, segundo os princípios e tradições metodistas, visando a nortear
a ação educativa secular da Igreja”13.
Ele mesmo enfatiza: “Que uma filosofia cristã de Educação seja o critério
efetivo e prático da vida e ação da
Escola, através da qual se encontre
o meio de fazer da Escola a agência
efetiva da missão, em todas as suas
áreas de ação” 14.
Com essas orientações básicas, o
Conselho Geral chamou uma reunião
com o Conselho Geral das Instituições Metodistas de Ensino e o Conselho Geral de Educação Teológica a
fim de se elaborar um documento
para esse fim. Dessa reunião, nasceu
a constituição de quatro grupos de
trabalho responsáveis por gerar quatro documentos:
1. Bases Bíblico-Teológicas;
2. Fundamentos para o estabelecimento de uma Filosofia da Educação;
3. Política e Objetivos para o sistema educacional metodista brasileiro – área secular;
4. Política para o sistema educacional metodista na área teológica.15
Esse documento
estabelece diretrizes
para sete áreas de
vida e trabalho
Fazer da Escola a
agência efetiva da
missão
“Diretrizes para a Educação na
Igreja Metodista”
O Metodismo historicamente tem
na educação uma área muito forte. A
13
AUTOR. “Fundamentos, Diretrizes, Políticas e Objetivos para o Sistema Educacional Metodista”, 1980, página de apresentação.
Idem, ibidem, página de apresentação.
15
Idem, ibidem, página de apresentação.
14
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Cada um desses quatro grupos
gerou uma tese que foi levada a um
seminário realizado no Rio de Janeiro. Desse seminário saiu um documento intitulado: “Fundamentos, Diretrizes, Políticas e Objetivos para o
Sistema Educacional Metodista”.
Esse documento vai ser encaminhado pelo Conselho Geral para um grande debate em toda Igreja, envolvendo as instituições de ensino seculares
e as instituições de educação teológica. Esse documento propõe novos
fundamentos e diretrizes, por entender que “o processo educacional desenvolvido por meio da Igreja
Metodista passou a ser mero
reprodutor da educação oficial, esvaziando-se e perdendo sua identidade
confessional, desvinculando-se do
seu compromisso com o Evangelho
de Jesus Cristo”.16
Paralelamente a isso, “a Secretaria
Executiva de Educação Cristã do Conselho Geral promovia, a mando deste, a busca de um posicionamento
acerca da Educação Cristã”17. “Tendo
em vista as colocações alcançadas, o
Conselho Geral determinou que elas
fossem consideradas quando da revisão final dos ‘Fundamentos, Diretrizes, Políticas e Objetivos para o Sistema Educacional Metodista’”18.
Assim, em janeiro de 1982 reuniuse no Rio de Janeiro o Seminário Diretrizes para um Plano Nacional de Educação. Nele foram acolhidas e
discutidas as teses, as contribuições
dos 5 (cinco) grupos anteriormente
constituídos. Constando-se a impossibilidade de, nesse seminário, se dar
uma redação final ao documento, se
16
17
18
19
Idem,
Igreja
Idem,
Idem,
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constituiu um grupo que redigiu as
“Diretrizes para a Educação na Igreja
Metodista”, entregando seu trabalho
ao Conselho Geral, que o encaminhou
ao Concílio Geral de 1982, que o aprovou. Assim, o documento foi aprovado em plena conexão com o “Plano
para a Vida e a Missão da Igreja”, no
mesmo Concílio Geral, em momento
posterior à aprovação do PVM.
As DEIM são um documento que
produziu profundas mudanças no sistema metodista de educação. Elas
fazem uma análise crítica da ação
educativa da Igreja Metodista no Brasil, valorizando as novidades que ela
estabeleceu, mas também explicita
as limitações que o projeto educacional teve.
Para estabelecer as novas diretrizes para o sistema educacional, o
documento começa fazendo uma
análise da realidade, ilumina-a com a
Bíblia, traz à memória elementos da
nossa história educacional no Brasil.
Com esses pressupostos, as DEIM
estabelecem as diretrizes para o que
devemos fazer em cada uma das três
áreas de ação educativa da Igreja.
Nelas, aparece a definição do Sistema de Educação e não mais do Sistema de Ensino. Elas vêm com uma
concepção de educação que ultrapassa a visão do mero ensino, e trazem para dentro de si toda uma visão de processo.
Do conteúdo das DEIM, considero
importante destacar estas afirmações:
• “Toda a ação educativa se baseia
numa filosofia, isto é, numa visão a respeito do mundo e das
pessoas” 19 ;
O documento foi
aprovado em plena
conexão com o “Plano
para a Vida e a Missão
da Igreja”
Em janeiro de 1982
reuniu-se no Rio de
Janeiro o Seminário
Diretrizes para um
Plano Nacional de
Educação
ibidem, p. 1.
Metodista. Cânones da Igreja Metodista, 2002, p.112.
ibidem, p. 112.
ibidem, p. 118.
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“Até o momento [1982] nossa
ação educativa tem sido influenciada pela filosofia liberal”20;
• “A educação na perspectiva cristã é o processo que visa a oferecer à pessoa e à comunidade uma
compreensão da vida e da sociedade, comprometida com uma
prática libertadora, recriando a
vida e a sociedade segundo o modelo de Jesus Cristo e questionando os sistemas de dominação
e morte à luz do Reino de Deus”21;
• “A Igreja desenvolverá sua prática educativa de tal modo que
os indivíduos e grupos:
- Desenvolvam consciência crítica
da realidade;
- Compreendam que o interesse social
é mais importante que o individual;
- Exercitem a prática da justiça e da
solidariedade;
- Alcancem sua realização como fruto do esforço comum;
- Tomem consciência de que todos
têm direito de participar de modo
justo dos frutos do trabalho;
- Reconheçam que, dentro de uma
perspectiva cristã, útil é aquilo que
tem valor social” 22.
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Conclusão
A aprovação do conjunto de documentos que formam o “Plano para
a Vida e a Missão da Igreja” fecha um
ciclo de sua história, dentro do qual
a Igreja estabeleceu os fundamentos
de sua vida e missão, com diretrizes
que orientarão não só sua prática,
mas também sua reestruturação
organizacional.
O PVM é o marco referencial para
tudo que se estabelecerá na Igreja a
partir de então. Por isso, não se pode
imaginar um metodista que não o
compreenda em profundidade e o assuma como seu princípio pessoal e
comunitário. Depois da Bíblia, ele é
o grande documento do povo
metodista brasileiro.
O PVM é o marco
referencial para tudo
que se estabelecerá
na Igreja a partir de
então
IV. A Igreja Metodista a
partir do PVM – um novo
modo de ser Igreja
Como esse documento foi gerado
no mesmo contexto, faço uma rápida incursão.
Idem,
Idem.
Idem.
Idem,
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Assim, esse documento estabelece
os critérios que devem ser seguidos
para que a Igreja estabeleça projeto
missionário em algum lugar onde ainda não esteja, a partir dos conceitos
do PVM.
“Plano Diretor Missionário da
Igreja Metodista”
21
○
“O seu objetivo foi o de estabelecer
medidas e diretrizes que visem a ordenar a ação missionária da Igreja,
nas áreas onde ainda não há trabalho metodista regular, desde uma perspectiva da Missão, tal como conceituada pelo ‘Plano para a Vida e a Missão da Igreja’.”23
A partir disso, o documento estabelece procedimentos que devem ser
desencadeados nas instituições de
educação secular e teológica e na
educação cristã.
20
○
Podemos celebrar 20 anos do
PVM porque ele se tornou, verdadei-
ibidem, p. 118.
“Plano para a Vida e a Missão da Igreja”, ANO, p. 45.
Cânones da Igreja Metodista, 2002, p. 119.
ibidem, p. 129.
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ramente, um marco para o Metodismo brasileiro. A Igreja que, por um
processo democrático, em profunda
comunhão com Deus, produziu esse
documento, vem, desde então, sensível à ação do Espírito Santo, se “reformando” no propósito de ser aquilo que se propôs em seu Plano. Como
levar a sério as diretrizes estabelecidas? Como se tornar uma Igreja em
que tudo esteja voltado para a missão? Como desafiar todos seus membros a assumirem o seu próprio ministério? Como ser solidária com o
povo que sofre?
As mudanças começaram a acontecer logo após o Concílio, quando
todo o povo metodista começou estudar o PVM, por meio de um programa estabelecido pelo próprio Concílio. O fato de o documento ter sido
introduzido nos Cânones da Igreja deu
a ele a relevância institucional que
precisava ter, e aqueles que tinham
posição contrária a ele tiveram de
reformular sua postura e assimilá-lo
com o “seu” documento maior. Até o
PVM, os Cânones tinham documentos
da raiz wesleyana, o credo social e a
legislação da Igreja. A partir de então,
os Cânones se tornaram um documento muito mais relevante, porque passaram a ter as definições maiores sobre a vida e missão da Igreja. Com isso,
a unidade da Igreja Metodista passou
a ser buscada não na sua forma (uniformidade às vezes confundida com
unidade), mas no seu conteúdo (unidade com diversidade). Nisso, também, a Igreja passou a ter muito mais
dificuldade para alcançar sua unidade, porque agora não era mais uma
questão formal, mas algo que tinha a
ver com a interioridade.
O Concílio passou a ter um novo
significado na vida da Igreja, em toRevista de Educação do Cogeime
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Como se tornar uma
Igreja em que tudo
esteja voltado para a
missão?
A Igreja passa a
buscar em seus
Concílios meios para
atender aos desafios
da missão
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dos os níveis. Os Concílios Gerais,
com base no PVM, passaram a aprovar o Planejamento Nacional, que
depois, num processo de amadurecimento, se tornou Plano Nacional. Os
Concílios passaram a ter uma agenda de movimento, em que o
institucional está a serviço da missão, qual seja, começam com a avaliação e daí partem para a aprovação
do Planejamento/Plano Nacional. O
Planejamento/Plano é feito com base
no PVM. Só depois de aprovado esse
documento básico é que o Concílio
passa a trabalhar com a legislação,
eleições e estrutura da Igreja. Essa
mudança demonstra a decisão da
Igreja de ser um movimento missionário e não uma organização que tenha fim em si mesma. Antes que manter a estrutura, a Igreja passa a buscar
em seus Concílios meios para atender aos desafios da missão. A estrutura agora tem de ser pensada a partir dos eixos missionários aprovados.
Com isso, a unidade na missão fica
garantida no fundamento.
Agora, a nova questão que surge
é: como alcançar a unidade na missão? Essa questão acabou colocando a Igreja diante de um grande
impasse. No que consistia esse
impasse? Ela até então estava organizada uniformemente, com cargos
que se repetiam em todas as igrejas
locais, Distritos, Regiões, Área Geral.
Os cargos não dependiam nem das
necessidades missionárias atuais,
nem dos dons das pessoas pertencentes às comunidades. Eles existiam e tinham de ser preenchidos e as
atividades previstas para quem exercesse aquele cargo tinham de ser
cumpridas. A organização da Igreja
era uniforme, enquanto o Plano Nacional propunha uma Igreja “moviAno
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mento” com “ministérios” que se organizassem a partir das necessidades
presentes da missão.
Foi nesse contexto que começou
a ser gerado o “Movimento Dons e
Ministérios”, um movimento com
raízes wesleyanas. Esse modo de ser
Igreja atenderia às necessidades da
nova Igreja Metodista? Para atender
a essas necessidades, que fundamentos ele deveria ter? Como a Igreja se
organizaria tendo nesse movimento
o seu novo modo de ser Igreja? Que
relação teria ele (movimento) com
cargos existentes na vida da Igreja?
Qual seria o lugar do/a pastor/a na
Igreja de Dons e Ministérios? Como
se relacionaria o “institucional” com
o “movimento”?
Num primeiro momento, em cada
lugar se criaram diferentes ministérios e a conexionalidade da Igreja ficou profundamente prejudicada. Mas
essas experiências é que foram ajudando a Igreja a discernir o seu novo
modo de ser Igreja. Isso levou a Igreja a compreender que os ministérios
deveriam existir na esfera local, pois
ali as pessoas devem ser desafiadas
a partir da realidade. A resposta ao
chamado de Deus e da Igreja é muito
mais possível de acontecer, pois as
necessidades são visíveis e as pessoas estão ali mesmo. Nas esferas regional e nacional, em que as pessoas
não vivem nessa realidade, por outro lado, elas têm de ser chamadas e
desafiadas de outra forma. Essas pessoas também têm de exercer um ministério, mas vão fazê-lo em outra
forma organizacional. Via de regra,
nas esferas regional ou nacional não
existem os ministérios, e sim as coordenações.
Assim, no primeiro quadriênio do
“Movimento Dons e Ministérios”, a
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Como se relacionaria
o “institucional” com
o “movimento”?
A Igreja definiu como
essenciais: ação
docente, ação social,
expansão missionária,
ação administrativa,
trabalho com crianças
e acrescentou escola
dominical
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Igreja tem apenas um/a secretário/a
geral que encaminha as decisões do
Colégio Episcopal e coordena diferentes programas na Área Nacional. No
segundo período, que é de um
sexênio, se começa da mesma forma,
mas já está evidente que a Igreja precisa de executivos para a Área Nacional e Regional. Em 1993, se criam as
Coordenações Nacionais de Ação
Missionária, Ação Administrativa e
Ação Docente. Aí, as atribuições da
Área Nacional começam a ter atendimento, e tomam nova força na vida
da Igreja. Surge a coleção Vida e Missão, que vai suprindo as necessidades doutrinárias da Igreja. Na Igreja
que também é movimento, outra
questão que se tornou aguda foi:
como estabelecer a conexão entre os
diferentes ministérios? A caminhada
também foi clareando algumas decisões que precisaram ser tomadas.
Enumero algumas delas:
1. Ficou claro que alguns ministérios são da essência do ser
metodista. Estes têm de ser definidos pela Igreja Nacional e
precisam estar em todas as igrejas locais.
- A Igreja definiu como essenciais:
ação docente (agora educação),
ação social, expansão missionária,
ação administrativa, trabalho com
crianças e, no último Concílio Geral, acrescentou escola dominical.
2. Há competências que são específicas de cada um dos níveis da
vida da Igreja. Assim, a Igreja precisa ter um fluxo que permita
uma comunicação fácil, que flua
da igreja local e Igreja Nacional.
3. Há ministérios que são específicos de um determinado local, e
que devem ser estabelecidos à
luz do PVM.
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4. O Ministério Pastoral tem a missão de coordenar todos os ministérios.
5. Cabe à Igreja capacitar os
vocacionados para o exercício
de dons e ministérios.
O PVM e as DEIM estabeleceram a
área de educação como composta de
três subáreas (educação cristã, educação teológica e educação secular).
O sistema metodista de educação passa a ser composto por essas três
subáreas. Como dar unidade à ação
educativa da Igreja, alcançando os
objetivos propostos nos documentos?
Essa questão inquietou profundamente a Igreja. Encaminhando essa questão, o Concílio Geral de 1997 criou o
Sistema Metodista de Educação, integrando as três subáreas. Pela forma
como foi criado o sistema, ele teve
dificuldades para cumprir com sua
missão. O grande bem que a decisão
trouxe foi que ela levou as três
subáreas a se reunirem sistematicamente, conhecendo-se, aproximandose, conectando-se melhor. Isso levou
à realização de um Fórum Nacional de
Educação Teológica, um Fórum Nacional de Educação, um Congresso Nacional de Escolas Dominicais, no último quadriênio. Desses eventos
nasceram propostas que, encaminhadas e aprovadas pelo último Concílio
Geral, estabelecem uma nova gestão
para a educação metodista no Brasil.
Neste momento acontece a
implementação dessas decisões. Ao
toma-las, a Igreja está se instrumentalizando para que os objetivos estabelecidos no PVM possam ser alcançados. Entre essas decisões,
pode-se destacar:
- Implementação da Coordenação
Nacional de Educação Cristã;
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Como dar unidade à
ação educativa da
Igreja, alcançando os
objetivos propostos
nos documentos?
Nasceram propostas
que estabelecem uma
nova gestão para a
educação metodista
no Brasil
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- Transformação da Coordenação
Nacional de Ação Docente em Coordenação Nacional de Educação;
- Integração da Coordenação do Sistema Metodista de Educação à Coordenação Nacional de Educação;
- Transformação da Coordenação
Regional de Ação Docente em Coordenação Regional de Educação
Cristã;
- Mudança do nome dos coordenadores das áreas para secretários
executivos das áreas de ação;
- Criação dos Departamentos Nacional e Regional de Escola Dominical;
- Estabelecimento da escola dominical como um ministério local;
- Estabelecimento da obrigatoriedade do uso das revistas produzidas
pelo Departamento Nacional de
Escola Dominical em todas escolas
dominicais;
- Determinação de que todas as congregações e pontos missionários
possuam escola dominical;
- Estabelecimento de um processo
para criação da Universidade
Metodista do Brasil;
- Transformação do COGEIME num
órgão de gestão das instituições
metodistas de educação;
- Estabelecimento de uma nova estrutura para o COGEIME;
- Definição de que cada subárea de
educação deva ser parte das outras
subáreas, garantindo-se, assim, a
conexão do sistema;
- Passagem para a jurisdição nacional de todas as instituições que ofereçam educação superior;
- Criação de um cadastro de metodistas que possam ser aproveitados na
área educacional da Igreja;
- Estabelecimento de um programa
de formação para pessoas que posAno
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sam vir a ser membros de conselhos diretores e fiscais das instituições metodistas de educação.
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Jesus Cristo. Por isso, já podemos
dialogar entre nós, com as demais
comunidades cristãs, com os demais
segmentos religiosos, com o mundo
dentro do qual existimos.
Acredito que temos, hoje, as melhores condições para poder voltar
ao documento “Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista”, revisitando-o, estabelecendo um processo
de atualização do mesmo. O PVM é
nosso documento fundamental. As
DEIM nascem dele, mas têm de responder também aos novos desafios
deste tempo.
Como Igreja-movimento, neste
momento experimentamos processos que nos ajudam a avançar na direção proposta, nos levam a avaliar
sistematicamente o que somos e fazemos, nos ajudam a visualizar novos desafios, nos desafiam a revisar
nossos fundamentos e práticas. Somos uma Igreja com identidade própria, que se sente parte do movimento metodista mundial e da Igreja de
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Referências bibliográficas
IGREJA METODISTA. Cânones da Igreja Metodista
Metodista. São Paulo: Igreja Metodista, 1965.
(Cânones de 1965)
__________________. Cânones da Igreja Metodista
Metodista. São Paulo: Igreja Metodista, 2002.
__________________. Plano Quadrienal 1975-1978
1975-1978, São Paulo: Imprensa Metodista, 1974.
Plano para a Vida e Missão da Igreja, 3ª edição.
Fundamentos, Diretrizes, Políticas e Objetivos para o Sistema Educacional Metodista,
Conselho Geral, 1980.
Revista de Educação do Cogeime
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60
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Ano
12 -
n 0 23
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dezembro /
2003
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Uma Igreja que tem coragem de definir sua identidade