COMUNIDADE LUSÍADA EM JOANESBURGO concedida à defesa da família e da identidade comunitária,1 que não se traduz numa postura etnicamente exclusivista, dado que se contempla a criação de laços com mulheres de outras culturas, o que constitui um sinal de que as portuguesas compreenderam a necessidade de se darem a conhecer e de fomentarem relacionamentos extra-comunitários mais profundos na nova África do Sul. A pertença ao mesmo género proporciona uma identidade abrangente passível de superar a nacionalidade e facilita o intercâmbio sociocultural, visando contribuir para um maior activismo feminino, benéfico para a sociedade sul-africana e para a comunidade. Tal como sucedeu em relação às Academias do Bacalhau, a originalidade da Liga abriu novos caminhos no associativismo luso, tanto na África do Sul como noutros países, uma vez que até à sua fundação não existia uma organização deste tipo nas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Os meritórios objectivos e entusiasmo da Liga suscitaram um enorme interesse, que se traduziu na abertura de delegações em diversas cidades sul-africanas, estando hoje dotada de estruturas provinciais e de um conselho nacional. Note-se que, em 1996, a Liga ainda não possuía uma sede própria, mas tal já se concretizara em 2000, estando localizada em Pretória. Foi nesta cidade que, em Março de 1991, se realizou o I Congresso da Liga, para permitir a discussão presencial alargada dos problemas organizacionais, o delinear das actividades e o convívio directo entre mulheres de toda a África do Sul.2 Esta forma de trabalho em conjunto, a dedicação dos seus membros e o alcance das suas actividades, elevou a Liga a um patamar de grande relevância no seio do movimento associativo luso na África do Sul, sendo hoje um dos seus principais expoentes, emergindo como a institucionalização da emancipação da mulher portuguesa, com uma lógica própria, num mundo maioritariamente masculino. Apesar de as mulheres não abundarem nos órgãos representativos da comunidade e de terem usualmente um papel menos visível nas associações, não obstante participarem nestas com dedicação, avolumam-se os casos em que se destacaram pela sua actuação. Um exemplo é a estimada Lurdes Santos, que em 1998 foi a primeira mulher a ascender à presidência de uma associação cultural portuguesa, designadamente do Núcleo de Arte e Cultura, que espelha a nova mulher lusa, tal como Eulália Salgado, a primeira advogada portuguesa a exercer esta profissão na África do Sul, em 1978, e que chegou a vice-presidente do Directório,3 organismo de contacto com o executivo sul-africano no que se referia a assuntos portugueses, analisado em capítulo posterior. Salgado resumiu 1 Ver, por exemplo, O Século de Joanesburgo de 7 de Agosto de 1989, p.3, de 18 de Junho de 1990, p.13 e O Emigrante de 5 de Abril de 1991, p.10. 2 Cf. O Século de Joanesburgo de 10 de Dezembro de 1990, p.28, de 21 de Março de 1991, p.8, de 4 de Novembro de 1996, p.6 e de 27 de Março de 2000, p.5. 3 Cf. Notícia, Ano VIII, N.º 85, Junho de 1998, p.14, O Século de Joanesburgo, Suplemento «Comunidade no Feminino», Julho de 1998, p.9 e o The Star de 28 de Maio de 1988, p.6. 101