EAD
LIBRAS
TEMA 1
PRIMEIROS PASSOS
EM PROL DOS SURDOS
CRÉDITOS
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Pró-Reitora de Graduação e Extensão
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Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
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Pró-Reitor Administrativo
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Pró-Reitora Adjunta de Graduação e Extensão
Mara Regina Rösler (In Memoriam)
Diretor Acadêmico
Gustavo Duarte Mendes
Coordenadores do EAD
Abigail Malavasi (Pedagogia)
Adamaris Izaura Cavalcanti (Administração)
Gerson Tenório dos Santos (Letras)
Marcelo Rabelo Henrique (Cursos Superiores de Tecnologia)
Coordenadores de Polo
Mariangela Camba (Santos)
Paulo Cristiano de Oliveira (São Paulo)
Paulo Roberto Marcatto (Descalvado)
Professor(as) Autor(as)
Camilla Alves Gonçalves de Souza
Daniela Silva Klemp
Revisora
Maria Ivone de Ávila Oliveira
Equipe do Núcleo de Educação a Distância - NEaD
Coordenação Geral
Magali Polozzi
Supervisor de Design
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Web Designer
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Suporte técnico
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autorais, de acordo com a licença Creative Commons.
SUMÁRIO
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
TEMA 1: PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
1.1 - Primeios passos em prol dos surdos_______________________________________
13
1.2 - Educação surda_______________________________________________________
15
SUMÁRIO
DESTAQUES
Durante o texto, você encontrará algumas informações em destaque. Preste atenção:
SAIBA MAIS:
Serve para apresentar
conteúdos, explicações
e observações a fim de
que você compreenda
melhor o tema estudado.
IMPORTANTE:
Indica conceitos ou explicações que merecem
destaque. Fique atento!
ANOTAÇÕES:
Espaço destinado para
suas anotações a respeito do tema estudado.
REFLITA:
São questionamentos
acerca de aspectos
centrais do texto.
OBJETIVOS:
Indicam os conhecimentos a serem desenvolvidos por você
durante o estudo
de cada tema.
A IMPORTÂNCIA DA COM
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
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TEMA 1
TEMA 1
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
Iniciando nosso diálogo
Prezado aluno,
No tema 1 da disciplina Linguagem Brasileira de Sinais ,trouxcemos a vocês uma breve
retrospectiva histórica dos Surdos no mundo e Brasil, colocando em pauta a necessidade de investigar as metodologias educacionais na educação dos Surdos aplicadas no passado e no presente,e
de se analisar as consequencias por buscarmos os fundamentos sociologicos e históricos.
OBJETIVOS
Esperamos que por meio da leitura , você possa:
• Aproximar-se do mundo dos surdos,por meio da sua história.
• Identificar o papel da lingua de sinais na educação para Surdos.
Vamos iniciar nosso aprendizado!
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A IMPORTÂNCIA DA COM
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
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TEMA 1
TEMA 1
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
1.1 - PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
SAIBA MAIS
•
Monges Beneditinos:
Consulte os sites http://www.
mosteiro.org.br/
e
http://
pt.wikipedia.org/wiki/Beneditino para ter acesso a outras
informações
interessantes
sobre os monges beneditinos.
• Pedro Ponce de Leon: O
espanhol Pedro Ponce de
León (1520 - 1584) foi um
monge beneditino conhecido
como o primeiro professor
para surdos. Ele fundou uma
escola para surdos e ensinava os filhos de aristocratas
ricos a escrever e a usar
gestos.
•
Girolano Cardano: O
Quer saber as contribuições
dadas para a educação dos
surdos pelo matemático, filósofo e médico italiano Girolano Cardano? Acesse o
site http://www.santarita.g12.
br/matematicos/gm1/girolamo_cardano.htm
A voz dos surdos está nas mãos. Talvez você ache estranha
essa afirmação Talvez você se pergunte: “Como pode?” Veja, caro aluno, é isso que acontece quando se fala da comunicação desenvolvida
pelos surdos, a gesto-visual. É comum vermos pessoas gesticulando
umas para as outras, mas poucos pensam sobre a importância que os
gestos têm para os surdos.
Um dos mais antigos registros a respeito do uso de sinais é do
filósofo Sócrates, em 368 a.C, quando, em conversa com seus discípulos, disse: “Suponhamos que nós, os seres humanos, quando não
falávamos e queríamos indicar objetos uns para os outros o fazíamos
como fazem os surdos-mudos: sinais com as mãos, cabeça e demais
membros do corpo.” (PLATÃO apud BURKE, 1997).
Observe que, para Sócrates, os sinais constituem um meio de
comunicação diferente da mímica. Esta passou a ser utilizado mais à
frente, em 536 d.C., na Itália, pelos Monges Beneditinos para que pudessem cumprir o voto de silêncio. Infelizmente pouquíssima informação foi registrada a respeito do sistema de sinais utilizado pelos beneditinos na época.
Somente no século XVI, vemos o registro da importância de se
fazer algo em prol dos surdos. Até essa época, eles representavam um
grupo marginalizado, considerado incapaz de aprender, pois se pensava que a inteligência estava ligada à fala. Devido a essa concepção
errônea, eles eram impedidos de se casar, de adquirir bens e de receber
herança, caso fossem filhos de famílias abastadas.
Nessa época, como não havia nenhuma instituição para acolhê-los e nenhum método para ensiná-los, o monge beneditino espanhol,
Pedro Ponce de Leon, passou a se utilizar de sinais e da linguagem
escrita para instruir crianças surdas de famílias ricas, observando resultados positivos nessa educação. Ponce de Leon usava sinais para
que o surdo aprendesse a leitura labial. Ele acreditava que isso o faria
aprender a usar a própria voz. Os surdos atendidos por Ponce de Leon
faziam parte da corte espanhola e essas aulas lhes garantiam o direito
de receber seus bens e de usufruí-los.
No século XVI, temos o registro de outra importante contribuição
para a educação dos surdos realizada por Girolano Cardano, médico e
matemático. Ao observar seu próprio filho surdo e outros deficientes au-
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A IMPORTÂNCIA DA COM
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
ditivos, Cardano constatou que a surdez não comprometia o desenvolvimento da inteligência. Além disso, verificou que o raciocínio de pessoas
surdas pode ser expresso por meio da escrita e não somente pela fala.
A partir dessa constatação, iniciou-se uma nova fase na educação dos
surdos: o ensino de sinais para chegar à escrita.
Muitos outros tentaram educar os surdos: alguns pelo “método
da escrita”, como o de Cardano; outros pelo “método combinado”, como
o de Leon. Apesar desses avanços, os surdos continuavam a ser incompreendidos. Esse cenário só começou a mudar com a criação do
Instituto L’Épée e com o Congresso de Milão.
No século XVII, o abade Charles Michel de L’Épée praticava
ações de caridade para ajudar o surdo marginalizado e incompreendido
pelo meio social. A partir do agrupamento desses indivíduos, foi possível
a criação da primeira Escola Pública para Surdos em Paris, em 1760.
Os ideais franceses de uma burguesia capaz de exigir seus diretos contribuíram para que o surdo fosse visto como um cidadão.
TEMA 1
SAIBA MAIS
•
Charles
Michel
de
L’Épée: Charles-Michel de
L’Épée nasceu numa família abastada, em Versailles.
Estudou Direito e voltou sua
atenção para a educação
dos surdos. Fundou a primeira escola para surdos aberta
ao público. Sua metodologia
centrava-se na comunicação
gestual.
•
Professor
Huet:
Edu-
ard Huet nasceu em Paris,
França, em 1822. Sua família pertencia à nobreza.
Ficou surdo aos 12 anos em
No dia a dia com os deficientes auditivos, L’Épée observou que,
para o surdo, os sinais eram como a fala para os ouvintes. Dessa forma,
percebeu que a língua de sinais teria a função de ajudar os alunos com
deficiência auditiva a aprender a ler e escrever. Por tentar colocar-se no
lugar de um sujeito surdo, ele conseguiu perceber a importância que a
língua gesto-visual tem para esse grupo de pessoas.
consequência de sarampo.
Embora já falasse francês,
alemão e português, após
tornar-se surdo, aprendeu
espanhol. Estudou no Instituto Nacional de Surdos de
Paris, onde se formou professor. No Brasil, em 1855,
REFLITA
Nós, educadores, conseguimos considerar as necessidades
de nossos alunos surdos? Será possível ajudá-los se não
mostrarmos empatia?
O método empregado pelo Instituto L`Épée foi tão positivo que
vários outros países enviaram professores para observarem a prática
das aulas. Esse instituto também passou a formar professores surdos a
fim de enviá-los para outros países. No caso do Brasil, nosso primeiro
instrutor surdo foi o francês Prof. Huet a convite do Imperador D. Pedro
ll para trabalhar na educação de surdos. Esse educador nos trouxe o
alfabeto em francês e a língua de sinais francesa, que no dia a dia da
primeira Escola para Surdos, fundada em 26 de setembro de 1857, o
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fundou a Escola do Rio de
Janeiro para a educação de
Surdos, onde atuou como diretor e professor.
TEMA 1
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
SAIBA MAIS
•
Instituto Nacional de
Educação
para
Surdos:
Conheça a primeira escola
no Brasil de educação para
Surdos acesse http://www.
ines.gov.br/default.aspx
• Gallaudet: Thomas Hopkins Gallaudet (1787-1851)
Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro, atual Instituto Nacional
de Educação para Surdos (INES), os surdos brasileiros criaram a nossa língua brasileira de sinais (LIBRAS).
O desejo de se comunicar representa uma forte necessidade da
alma humana, capacitando-nos para vencer qualquer obstáculo aparente. Verificamos que a postura de escolas como o Instituto L’Épée em
defender o uso da língua de sinais surtiu ótimo resultado, influenciando o trabalho de vários pesquisadores da comunicação surda, como
Gallaudet e Graham Bell, entre outros, que foram a esse Instituto observar os métodos empregados e seus resultados em sala de aula.
nasceu na Filadélfia. Foi um
educador pioneiro no ensino para surdos. Em 1805,
iniciou seus estudos universitários em Yale, mas, após
um encontro casual com
uma menina surda, decidiu
dedicar-se ao ensino dos de-
Outra importante contribuição para a educação dos surdos foi o
Congresso de Milão, que ocorreu em 1880, na cidade de Milão, Itália.
Esse acontecimento representa o primeiro congresso de âmbito mundial para discutir a maneira de se educar o surdo. Estiveram presentes
muitos professores ouvintes e surdos. No evento, discutiu-se qual o melhor método de ensino: língua de sinais; oralista (oral); ou misto, o qual
envolve os dois métodos anteriormente citados.
ficientes auditivos.
• Graham Bell: Historicamente, Alexander Graham
Bell (1847-1922) é conhecido como o inventor do telefone. Ele foi um cientista,
inventor e fundador da companhia telefônica Bell. Além
disso, ofereceu várias contribuições para a educação
dos surdos.
Os temas propostos foram: vantagens e desvantagens do internato, tempo de instrução, número de alunos por classe, trabalhos mais
apropriados aos surdos, enfermidades, medidas curativas e preventivas, etc. Apesar da variedade de temas, as discussões voltaram-se para
as questões do oralismo e da língua de sinais (BORNE, 2002, p. 51).
Para essa discussão, compareceram cento e oitenta e dois ouvintes provenientes de várias partes da Europa. Nessa ocasião, ficou
claro que o surdo era minoria linguística, pois a sua opinião de nada
valeu, prevalecendo o oralismo.
Após o congresso, a maioria dos países adotou rapidamente o
método oral nas escolas para surdos, proibindo oficialmente a língua de
sinais. Começou ali uma longa e sofrida batalha para defender o direito
linguístico dos surdos.
Ressaltamos que, antes do Congresso de Milão, os surdos não
tinham problemas com a educação, pois sua língua natural era valorizada. Havia professores que reconheciam a importância da língua de
sinais e o desenvolvimento dos alunos surdos. Entre esses professores,
muitos também eram deficientes auditivos. O sujeito surdo dominava a
escrita e há evidências de que muitos escritores, artistas e outros sujeitos surdos tenham sido bem-sucedidos.
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A IMPORTÂNCIA DA COM
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
TEMA 1
REFLITA
Agora, pense: Se esse congresso tinha por objetivo discutir a educação dos surdos, a opinião de quem deveria prevalecer: a dos surdos ou a dos ouvintes? É
evidente que a opinião dos surdos deveria ser considerada nessa questão.
Apesar das decisões tomadas no Congresso de Milão, muitas instituições continuaram a
usar a linguagem dos sinais na educação dos surdos, mesmo sob críticas. Uma delas foi o Instituto
L’Épée.
Após esse breve histórico dos primeiros passos em prol dos surdos, veremos algumas explicações a respeito das possibilidades metodológicas e formas adaptadas de ensino para a educação
surda.
1.2 – EDUCAÇÃO SURDA
No princípio da história da educação dos surdos, esses indivíduos eram considerados incapazes de aprender, mas, quando se percebeu que eles tinham essa capacidade, surgiram pesquisas
e experimentos referentes a diferentes metodologias e formas adaptadas de ensino. Dentre essas
formas, três se destacam: oralismo, comunicação total e bilinguismo.
Oralismo
O oralismo foi o primeiro método colocado em prática na educação de surdos. Inicialmente,
usavam-se sinais para ensinar aos surdos o significado do que estava sendo dito. O oralismo passou
a ser empregado devido à dificuldade enfrentada pelo deficiente auditivo para ser aceito pela família
e pela sociedade. Assim, esse método não visava apenas atingir o desenvolvimento pleno dos surdos, mas integrá-lo aos grupos sociais.
REFLITA
Há duas perguntas que exigem reflexão: É possível que uma pessoa surda
aprenda o significado de uma palavra pelo uso da voz? E, ainda: uma pessoa
surda é igual a uma pessoa deficiente?
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TEMA 1
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
SAIBA MAIS
•
Teoria linguística gera-
tivista: A gramática generativa é uma teoria linguística elaborada por Noam
Chomsky e pelos linguistas
Para os estudiosos de teoria linguística gerativista, “não é
possível ensinar a linguagem, mas apenas dar condições para que
ela se desenvolva espontaneamente na mente a seu próprio modo”
(VIOTTI, Evanir de Carvalho, 2008, p.40). Levando isso em consideração, percebemos que os surdos não dispõem de uma situação de
ensino capaz de estimular, de forma espontânea, o desenvolvimento da
fala.
do Massachusetts Institute
of Technology entre os anos
de 1960 e 1965. N. Chomsky
REFLITA
define uma teoria capaz de
dar conta da criatividade do
Você se lembra de que maneira aprendeu a falar e a organizar suas ideias? Normalmente, a aquisição da linguagem se
dá pela convivência com o outro, a partir dos diálogos que
ouvimos. Dessa forma, não seria de se esperar que um surdo tivesse dificuldade para desenvolver a linguagem?
falante, de sua capacidade
de emitir e de compreender
frases inéditas. Para ele, a
gramática é um mecanismo
finito que permite gerar um
conjunto infinito das frases
gramaticais de uma língua,
sendo que essa gramática
constitui o saber linguístico
dos indivíduos que falam
uma língua.
As técnicas mais utilizadas no modelo oralista são:
• O treinamento auditivo: corresponde à estimulação
auditiva para reconhecimento e discriminação de ruídos,
distinguindo sons ambientais de ruídos, sons ambientais
e sons da fala.
• O desenvolvimento da fala: ocorre por meio de exercícios para mobilidade e tonicidade dos órgãos envolvidos
na fonação (lábio, mandíbula, língua, etc.), bem como de
exercícios de respiração e relaxamento.
• A leitura labial: representa o treino para a identificação
da palavra falada por meio da decodificação dos movimentos orais do emissor.
Comunicação Total
Nos anos 60s, surgiu o modelo misto, denominado Comunicação Total, o qual compreende o uso da língua de sinais associado à
oralização. Esse modelo reacendeu a discussão sobre a importância da
língua gesto-visual para o sujeito surdo. Apesar disso, a ideia do oralismo persiste até hoje. Um exemplo é o implante coclear, que tem por
objetivo restabelecer a faculdade auditiva.
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A IMPORTÂNCIA DA COM
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
TEMA 1
O segundo método empregado no ensino dos surdos em resposta à insatisfação com o oralismo foi o ensino dos sinais junto com a fala. Essa foi uma maneira encontrada pelos educadores de
não quebrar o vínculo familiar com pais ouvintes que não sabiam a língua de sinais, possibilitando-lhes acompanhar o desenvolvimento de seus filhos e opinar sobre sua formação.
Para essa minoria linguística, não foi nada fácil se adaptar a essa situação. Na escola, usavam sinais com amigos surdos; já com professores e pais, utilizavam a língua oral. Muitas vezes,
como resultado da voz estranha produzida, negavam-se a falar por temerem tornar-se motivo de
chacota.
Um grave problema da comunicação total é que ela, apesar de compreender a língua de sinais e a língua oral, não representa nem uma nem outra. Vários autores dizem que o problema é a
mistura de duas línguas, isto é, da Língua Portuguesa e da língua de sinais, resultando numa terceira
modalidade: o “português sinalizado”. Essa prática, que também recebe o nome de “bimodalismo”, encoraja o uso inadequado da língua de sinais, já que ela possui uma gramática diferente
daquela empregada na Língua Portuguesa.
Para o surdo em fase escolar, isso é algo muito sério. Em escolas de comunicação total,
levam-se dois anos para cada série. Mesmo assim, perde-se muita informação, pois se criam recursos artificiais para explicar ”ideias”, “conceitos” e “palavras” próprios da língua oral, os quais fazem
parte da cultura ouvinte e não da cultura surda.
Bilinguismo
O bilinguismo constitui a filosofia de ensino defendida por todos na comunidade surda. Essa filosofia
representa o uso da língua materna e a aprendizagem da segunda língua.
IMPORTANTE
Este método possibilita ao surdo ser surdo sem imposição de uma cultura que
não é a sua, o que lhe permite ver-se e expressar-se como surdo. Isso tem
acontecido por dois motivos: em primeiro lugar, a língua de sinais passou a ser
utilizada em sala de aula; por outro lado, os pais aprenderam a usá-la e começaram a empregá-la em casa.
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TEMA 1
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
SAIBA MAIS
• Susan Dupor: Susan Dupor, artista americana nascida surda.
• Suaíli: O Suaíli é a língua
nativa de diversos grupos
que habitaram ou habitam
uma faixa de 250 km da costa leste da África..
Quando a criança surda é privada do acesso a uma língua que
lhe possibilite a interação com familiares e amigos, essa criança não
constrói vínculos, importantes para seu desenvolvimento. Para sua
compreensão reflita na representação feita em cores e imagens da artista surda americana Susan Dupor, que nos mostra uma família ouvinte
e sua relação com a criança surda deitada aos pés dos ouvintes, numa
posição semelhante a de um cachorro.
Quando os pais têm acesso à língua de sinais, a criança surda
tem acesso às tradições e à vida social, tão importante para o desenvolvimento dela, como para o de uma criança ouvinte. Para uma pessoa
surda, a conversa na língua oral é restrita, mesmo nas conversas mais
simples do dia a dia quando há mais de uma pessoa falando. Assim,
a plena compreensão dos assuntos falados na maioria das conversas
com objetivo social, que estabelece e mantém as relações entre familiares e amigos em jantares, piqueniques e festas, está fora do alcance de
um surdo.
Para as crianças surdas, os movimentos da boca não representam a língua falada. Para muitos ouvintes, pensar que a tentativa de
se fazer entender pela gesticulação labial não atinge o seu objetivo é
estranha, mas imagine-se aprendendo uma língua estrangeira como o
Suaíli. Você sabem quais populações falam Suaíli? Essa é uma língua
com base cultural africana. Agora imagine aprender essa língua somente pela leitura labial, não tendo nenhum conhecimento prévio sobre seu
som e as combinações dos fonemas. Essa é uma missão quase impossível, mas um adulto ouvinte pode até conseguir decifrar alguma informação nesse idioma. Agora, imagine uma criança surda que não tenha
nenhum conhecimento preexistente sobre os sons da fala resultante do
uso dos músculos da face fazer isso. Com certeza, essa é uma missão
impossível.
Agora imagine a missão da proposta de educação bilíngue para
surdos, que é a proposta de ensinar ao surdo a língua oral de seu país
na modalidade escrita, entre as várias teorias e modelos propostos para
o processo de leitura, você perceberá que em todas elas há uma ferramenta em comum fundamental para o sucesso, o funcionamento pleno
da primeira língua (L1) na criança, seja ouvinte ou surda. Ao ser estimulada a leitura, ambas usarão sua primeira língua para encontrar o
sentido das palavras reveladas na leitura do texto, usando seus conhecimentos preexistentes para o sucesso como futuros leitores.
No uso da língua de sinais com alunos surdos em sala de aula,
muitos educadores perceberam que ela é rica para explicar conceitos
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A IMPORTÂNCIA DA COM
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
TEMA 1
concretos e abstratos, pois, por usar um quadro semântico visual, que, na língua gesto-visual, corresponde a descrever situações e pessoas, o assunto em questão torna-se compreensível até para
quem não conhece os sinais.
Não há correspondência direta para todas as palavras em língua de sinais, e o contrário também acontece. Muitas vezes, encontramos um sinal que corresponde a uma frase ou uma sentença
na língua escrita. Com a língua de sinais como primeira língua, o surdo tem um feedback constante
para a sua fala. Ele compreende o que está sendo dito, visto que tem sua língua materna como referência.
Considerando que o aluno surdo é um individuo sociocultural interativo e que se constitui nas
relações sociais por meio da língua de sinais, encontraremos na sala de aula um professor bilíngue.
Consequentemente, a relação professor-aluno será constituída por um grupo social, instituído por
valores e culturas de uma sociedade envolvente. Quem é esse educador bilíngue? “Que concepção
do homem, de mundo, de história, de escola, de aprendizagem, de desenvolvimento, de deficiência temos nós? Que escola queremos? Que inserção queremos? Que exclusão queremos? Que
exclusão não queremos? Por quê?” Esses são alguns dos importantes questionamentos a serem
respondidos para que aconteça a verdadeira prática educativa possibilitando a inserção sociocultural
dos alunos, como citado por Padilha (2006), em suas pesquisas quando cita a importância de um
profissional com visão crítica do mundo e em busca de respostas.
E este profissional juntamente com a escola criará condições para a inovação, para a autoconstrução do conhecimento para o aluno surdo, entre a língua materna e a segunda língua no
processo de alfabetização.
Algumas prefeituras têm articulado medidas para garantir ao aluno surdo o acesso à educação por meio da língua de sinais no ambiente escolar. Exemplo disso é a Secretária da Educação
da cidade de São Paulo que, no dia 10 de novembro de 2011, assinou o decreto 52.785 , criando as
Escolas Municipais de Educação Bilíngues para Surdos (EMEBS), nessa cidade.
Neste ponto, finalizamos este importante Tema! Não deixe de realizar as leituras complementares indicadas ao longo do texto. Vamos em frente! Ainda existem muitos aspectos a serem estudados sobre a Educação Surda.
20
TEMA 1
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
RECAPITULANDO
Ao longo das nossas articulações anteriores enfocamos em como a Lingua de Sinais é importânte para o sujeito Surdo,desde os dias dos Monges Beneditinos que já tinham por habito cumprir o voto de silêncio,se aperceberam da importância dos Sinais para o Surdos que até então eram
vistos como incapazes.
Apartir do seculo XVI, deram inicio aos registro sobre o uso da lingua de modalidade
gesto/visual e das pesquisas a respeito da comunicação e metodologias de ensino as pessoas
surdas,impulsionados pelas ações de caridade e também por interesses familiares como ocorreu
com o medico e matemático Girolano Cardano , que teve suas pesquisas embasada nas observações do seu proprio filho surdo.
O pesquisador pioneiro na educação de surdos foi abade Charles Michel de L’Èpée, que por
meio de suas pesquisas mobilizou a sociedade francesa de sua época e organizou a primeira escola
publica para Surdos de Paris, em 1760.
Nesta escola a ferramenta principal usada em sala de aula foi a lingua de sinais, e os profissionais e pesquisadores dessa instituição passaram a ser referência para educadores de diversos
paises como pr exemplo o Brasil, nosso primeiro instrutor Surdo foi o Profº Huet, ex-aluno do instituto
L’Epee.
O marco para as pesquisas da educação de Surdos foi o congresso de Milão em 1880, na
cidade de Milão na Italia, onde por voto da maioria dos presentes que eram educadores ouvintes se
decidiu a importância da reabilitação da fala desde o ambiente escolar para o aluno surdo.
Apartir de então temos registros da metodologias de ensino; oralismo, comunicação total e bilinguismo.
A metodologia de ensino do Oralismo se constitui da pratica da articulação correta de cada
som, se procurava usar de repetições em sala de aula até conseguir o resultado desejado,neste momento não se usava a lingua de sinais ferramenta de apoio, como o pasar do tempo os resultados
apresentados não foram satisfatório em resultado das novas discussões deu-se inicio a metodologia
de ensino Comunicação Total.
A Comunicação Total era o uso da lingua de sinais como apoio a reabilitação da fala e
dentro da sala de aula era também usada como ferramenta para se ensinar a escrita da lingua oral/
auditiva.
O resultado da praticva simultânea de sobrepor a estrutura da lingua oral no uso da lingua
de sinais,mais uma vez não foram satisfatórios, e até hoje os surdos contestam a mistura de duas
linguas.
De todas as metodologias a única que começou a focar a importância de se saber quem é
o sujeito surdo e sua construção subjetiva foi a do Bilinguismo, que tem por objetivo a aquisição e
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A IMPORTÂNCIA DA COM
PRIMEIROS PASSOS EM PROL DOS SURDOS
TEMA 1
desenvolvimento de uma lingua materna , sendo essa para os surdos a lingua de sinais, para depois
se dar inicio a aquisição da segunda lingua que será a de modalidade oral/auditiva, do país de origem
do Sujeito Surdo.
No proxímo tema iremos retomar as dicussões sobre a educação de surdos, mas como o foco
em saber o que é a identidade surda: cultura surda e língua de sinais, e quais são os direito garantidos trazidos pela legislação a educação de surdos.
22
REFERÊNCIAS
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PADDEN, Carol; HUMPHRIES, Tom. Deaf in America: voices from a culture. Cambridge, Massachusets e Londres: Harvard University Press, 1988.
23
23
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24
Anotações
ANOTAÇÕES
Chegou a sua vez!
Aproveite o momento para sintetizar o que foi abordado neste tema, identificando as ideias
principais. Lembre-se de que essa é uma atividade de sistematização dos conceitos compreendidos, por isso você pode desenvolvê-la aqui em Anotações, ou se preferir, em seu
Diário Reflexivo, disponível no Ambiente Virtual da Disciplina.
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Anotações
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