UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DOMÉSTICAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO LATO SENSU CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO NA PERSPECTIVA DA SEGURANÇA E SOBERANIA ALIMENTAR E DA AGROECOLOGIA ALGODÃO E ALIMENTOS CONSORCIADOS EM ROÇADOS AGROECOLÓGICOS: ALTERNATIVAS DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E GERAÇÃO DE RENDA NO SEMIÁRIDO Ricardo Menezes Blackburn Orientador: Paulo Cesar Oliveira Diniz Recife/PE Julho, 2012 Ricardo Menezes Blackburn ALGODÃO E ALIMENTOS CONSORCIADOS EM ROÇADOS AGROECOLÓGICOS: ALTERNATIVAS DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E GERAÇÃO DE RENDA NO SEMIÁRIDO Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização, Lato sensu, Convivência com o Semiárido na Perspectiva da Segurança e Soberania Alimentar e da Agroecologia, apresentado ao Departamento de Educação e ao Departamento de Ciências Domésticas da Universidade Federal Rural de Pernambuco, como requisito para obtenção do Grau de Especialista em Agroecologia, Segurança e Soberania Alimentar. BANCA EXAMINADORA _____________________________________ Prof. Paulo Cesar Oliveira Diniz, Doutor em Sociologia, professor do CDSA/UFCG (orientador) _____________________________________ Prof. Jorge Roberto Tavares de Lima, Doutor em Agroecologia, Professor do departamento de Educação, área de Educação Rural e Extensão Agrícola da UFRPE. _____________________________________ Prof. Jorge Luiz Schirmer de Mattos, Doutor em Zootecnica, Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Educação. Recife, _____ de agosto de 2012. O Curso foi realizado pelo Núcleo de Agroecologia e Campesinato - NAC, da UFRPE, e teve apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq/MCT/INSA (EDITAL 35//2010) e da Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária de Pernambuco-SARA, através da Secretaria Executiva de Agricultura Familiar-SEAF e do Instituto Agronômico de Pernambuco-IPA. ALGODÃO E ALIMENTOS CONSORCIADOS EM ROÇADOS AGROECOLÓGICOS: ALTERNATIVAS DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E GERAÇÃO DE RENDA NO SEMIÁRIDO1. Ricardo Menezes Blackburn 2 RESUMO Este trabalho foi inspirado em um processo de sistematização participativa de experiências. Apresenta o resultado de três anos de monitoramento de uma ação de produção de algodão em consórcios alimentares agroecológicos na região semiárida do Brasil. Aborda o aspecto da transição agroecológica com acesso a comércio justo e mercado orgânico. Para melhor compreensão da importância da produção dos consórcios para agricultura familiar, este trabalho aborda o contexto de inserção desta experiência, conceitua os roçados consorciados na perspectiva agroecológica, resgata uma perspectiva histórica da produção e das relações políticas econômicas e sociais que o envolveram. Esta experiência desenvolvida por agricultores familiares do semiárido assessorados pelo Projeto Dom Helder Camara, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) através da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) em colaboração com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (FIDA) e o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), apresenta resultados importantes na geração de renda para as famílias, produção de alimentos, na integração com a criação de animais, na consolidação de processos de produção em roçados mais sustentáveis e no desenvolvimento social a partir da associação e cooperação entre agricultores para certificação orgânica e acesso ao comércio justo e mercado orgânico. PALAVRAS CHAVE: consórcio agroecológico, semiárido, viabilidade econômica. 1 Artigo elaborado como Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização: Convivência com o semiárido na perspectiva da segurança e soberania alimentar e da agroecologia. 2 Médico Veterinário pela Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE; Pós Graduado em Gerenciamento de Projetos pela Faculdades Integradas Anglo-Americano, CG; Pós Graduando Convivência com o Semiárido pela Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE; Consultor do Projeto Dom Helder Camara; Email: [email protected] 1 ABSTRACT This paper was inspired by a participatory process of experiences systematization. It presents the results of three years monitoring an agroecological cotton and food intercropping system in the semiarid region of Brazil. It addresses the aspect of agroecological transition with access to fair trade and organic market. To better understand the importance of the intercropping production for family farming, this work addresses the context of this experience, conceptualizes the intercropping in agroecological perspective and rescues a historical perspective of production and its economic and social policies relations involved. This experience developed by family farmers in the semiarid supported by Dom Helder Camara Project, under the Ministry of Agrarian Development (MDA) through the Department of Territorial Development (SDT) in collaboration with the International Fund for Agricultural Development (IFAD) and the Global Environment Facility (GEF), presents important results in the income generation for families, food production, in integrating with livestock, the consolidation of a sustainable intercropping production processes, and social development from the association and cooperation among farmers for organic certification and access to fair trade and organic market. KEYWORDS: agroecological intercropping, economic viability, semiarid. 1. INTRODUÇÃO O principal objetivo deste artigo é apresentar os consórcios agroecológicos como uma alternativa de produção de alimentos e geração de renda para a agricultura familiar na região semiárida, a partir de uma transição de base agroecológica e o acesso ao comércio justo e mercado orgânico. Este artigo poderá contribuir com argumentos para o fortalecimento da agroecologia com informações que comprovem a viabilidade de sistemas produtivos familiares, no que se refere à produção de alimentos e sustentabilidade econômica. As reflexões e análises realizadas no âmbito da elaboração do artigo poderão contribuir nas várias esferas que trabalham com agricultura familiar, tais como, organizações da sociedade civil, como alternativa na estratégia para desenvolvimento 2 rural sustentável e apoio à superação da pobreza. Nos espaços governamentais, sobretudo, no âmbito Federal, onde está traçada prioridade de erradicação da pobreza extrema (PBSM)3, apresenta potencial de contribuir para os espaços criados pelo governo para gestão social de políticas públicas, e programas como o já citado PBSM. Fortalecendo os processos de produção/processamento/comercialização, assim como os espaços de gestão social, segurança e soberania alimentar. Este artigo tem como fonte inspiradora um processo de sistematização participativa de experiência ocorrido no Projeto de Assentamento Zé Marcolino (Assentamento Serrote Agudo), Prata – PB. Um grupo de famílias assentadas se reuniu para sistematizar a experiência de produção de algodão e alimentos consorciados em roçados agroecológicos. O processo de sistematização foi realizado através de reflexões participativas junto ao grupo de agricultores que desenvolve a produção de base agroecológica, e refletiu, entre outros temas, sobre as mudanças e resultados em termos de ganhos econômicos para as famílias. Estes ganhos foram enxergados pelas famílias tanto em relação à entrada de recursos financeiros, como pelo consumo de produtos e insumos gerados para outros subsistemas, que geram um “equivalente financeiro”. Desta forma, a experiência da sistematização nos estimula a fazer uma reflexão mais profunda sobre o tema da viabilidade econômica desta atividade de produção de sequeiro na região semiárida. Fig. 1: Oficina de sistematização. Fig. 2: Oficina de sistematização. A abordagem metodológica utilizada deste trabalho de sistematização teve como referência uma conceituação de sistematização participativa de experiências, onde se 3 PBSM - Plano Brasil Sem Miséria. 3 resume que a sistematização é aquela interpretação crítica de uma ou várias experiências que, a partir de seu ordenamento e reconstrução, descobre ou explicita a lógica do processo vivido, os fatores que intervieram no dito processo, como se relacionaram entre si e porque o fizeram desse modo (HOLLIDAY, 2006). Segundo Oscar Hara Holliday (2006), esta afirmação básica, contém sinteticamente várias afirmações particulares: define a sistematização como interpretação crítica, quer dizer, como o resultado de todo um esforço para compreender o sentido das experiências, tomando distância delas. Assinala ainda que essa interpretação só é possível se previamente se ordenou e reconstruiu o processo vivido nas experiências. É uma interpretação, portanto, que se caracteriza por descobrir a lógica que conduz o processo, quais os fatores que intervêm nele e as relações entre eles. A partir dessas afirmações centrais, Oscar Hara Holliday (2006) acrescenta que outras características importantes da sistematização: a sistematização de uma experiência produz um novo conhecimento, um primeiro nível de conceptualização a partir da prática concreta que, uma vez que possibilita sua compreensão, leva a transcendê-la, a ir mais além dela mesma. Nesse sentido, permite-nos abstrair o que estamos fazendo em cada caso particular e encontrar um terreno fértil onde a generalização é possível. Ao reconstruir o processo da prática, a sistematização identifica seus elementos, além de classificá-los e reordená-los, faz-nos objetivar o vivido, “fazer uma parada para tomar distância” do que experimentamos vivencialmente e converter assim a própria experiência em objeto de estudo e interpretação teórica e, ao mesmo tempo, em objeto de transformação. A sistematização põe em ordem conhecimentos desordenados e percepções dispersas que surgiram no transcorrer da experiência. Assim, explicita intuições, intenções e vivências acumuladas ao longo do processo. Ao sistematizar, as pessoas recuperam de maneira ordenada o que já sabem sobre sua experiência, descobrem o que ainda não sabem sobre ela, mas também se revela o que “ainda não sabiam que já sabiam”. Enfim, ao sistematizar não só se atenta aos acontecimentos, seu comportamento e evolução, como também às interpretações que os sujeitos têm sobre eles, criando-se assim um espaço para que essas interpretações sejam discutidas, compartilhadas e confrontadas. O processo de sistematização trouxe para o artigo, reflexões importantes sobre as relações e fluxos dentro dos sistemas da agricultura familiar. Demonstrou que um 4 processo de sistematização baseado em dados concretos e números produzem debates calorosos, com grande participação e entusiasmo das famílias. O exercício de organizar as informações da experiência de forma participativa com os agricultores ajudou as famílias refletir sobre sua caminhada e usar este aprendizado para melhorar o futuro. Muitas das reflexões trazidas para este artigo são desdobramentos dos debates da sistematização, portanto, além de fonte inspiradora, trouxe elementos concretos para as reflexões feitas neste texto. 2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA A agricultura familiar no Brasil tem um papel importante na produção da alimentação básica consumida pela população, com mais 4,3 milhões de estabelecimentos e ocupando 24% da área total destinada a agricultura no país, com valor bruto da produção correspondendo a 38% do gerado pela agricultura em uma renda de R$ 515,00/ha/ano; em termos de mão de obra, ocupa 74,4% dos trabalhadores na agricultura. Na região Nordeste 50% dos estabelecimentos agrícolas são familiares e ocupam 35% da área destinada à agricultura (MDA, 2009). Pesquisas divulgadas afirmam que há superioridade produtiva da agricultura camponesa em relação à agricultura convencional como demonstra estudo realizado na Itália, divulgado por Ploeg (2008), onde agricultores camponeses produziam em 1971 33% mais do que a agricultura empresarial, e em 1999 esta diferença subiu para 55%, tendo as demais condições mantidas iguais. Ressalte-se que é a agricultura camponesa a grande responsável pela produção de alimentos no mundo. Na região semiárida do Brasil o roçado, plantado na época das chuvas, é uma estratégia importante de produção de alimentos para as famílias e se integra com a criação de animais, que é a principal atividade produtiva na região, através da produção de grãos e forragem. Nesse sentido, os roçados no semiárido têm características que se assemelham a uma forma de agricultura ecológica, na qual a produção animal deve ser integrada a produção vegetal. Idealmente, os animais devem ser compatíveis com o tipo e a quantidade de produtos vegetais que podem ser produzidos na propriedade para sua alimentação. Com isso, evita-se a maioria dos riscos ambientais e o desperdício de energia (KHATOUNIAN, 2001). 5 Dentro do subsistema roçado, até os anos 80, o algodão desempenhava um papel muito importante de geração de renda através da venda, em caroço4 para as empresas que iniciavam o beneficiamento desta produção. Esta fonte de renda deixou de ser viável depois da chegada do Bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) e com as progressivas mudanças nas condições de mercado para este produto, e até hoje o agricultor familiar não encontra substituto à altura com esta função de geração de renda dentro do subsistema roçado. Por outro lado, os roçados sempre foram espaços de policultivos onde se associava o cultivo do algodão, como fonte de renda, à produção de alimentos como milho, feijão, jerimum, dentre outros. Segundo Bursztyn (1984) depois da colheita dos alimentos e do algodão, o roçado fornecia palha e restos culturais para alimentação do rebanho animal. Além da diversificação, o roçado sempre foi um espaço de pouco uso de insumos químicos e sempre se utilizou, prioritariamente, da mão de obra familiar. Este subsistema roçado traz em suas práticas produtivas integradas e conhecimentos tradicionais acumulados, uma grande contribuição para construção coletiva do conhecimento no processo de formação e transição agroecológica. As práticas utilizadas pela agricultura familiar de base agroecológica que fazem rotação de culturas com plantas leguminosas aplicam composto orgânico e diversificação de culturas, incluindo adubação verde, cultivam em faixas e usam misturas na alimentação animal, geram sistemas que conservam energia, protegem o solo e imprimem o mínimo impacto ecológico (ALTIERI & NICHOLLS, 2003). Quando se evolui neste sistema, pela adoção de esquemas diversificados com produção animal e vegetal, se incrementam sinergismos assegurando a fertilidade do solo, a regulação natural das pragas e produtividade das culturas. As técnicas e estratégias tem diferentes efeitos na produtividade, estabilidade e resiliência dentro dos sistemas de produção, dependendo das condições locais, limitações de recursos e, em muitos casos, do mercado (ALTIERI & NICHOLLS, 2003). O presente artigo trata da experiência do “Algodão em Consórcios Alimentares Agroecológicos” (fig. 3 e 4), Incentivada e apoiada pelo Projeto Dom Helder Camara (PDHC), ação piloto da Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do 4 Algodão em caroço se refere ao algodão colhido no campo sem nenhum beneficiamento. 6 Desenvolvimento Agrário do Brasil (SDT/MDA) em colaboração com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (FIDA) e o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF). Fig. 3: Cultivo da terra com tração animal. Fig. 4: Roçado agroecológico com curva de nível. Inicialmente foram estabelecidas parcerias com a Embrapa Algodão e o ESPLAR5, entidades de maior acúmulo de conhecimento com o tema do algodão orgânico no Nordeste brasileiro. Além destas, foram estabelecidas parcerias com o Governo do Estado do Ceará, através da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) e EMATERCE; com a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN); com a EMBRAPA Cenargen; com a EMBRAPA Caprinos e Ovinos; com a Universidade Federal do Ceará (UFC) e também parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Segundo Sidesrky et al. (2010), a parceria desenvolvida com o ESPLAR e a Embrapa Algodão para implementação desta ação, levando em conta a estrutura de Assessoria Técnica Permanente do Projeto Dom Helder Camara, oferece um arranjo que suporta um sistema complexo de formação pela experimentação6, acompanhamento técnico e fortalecimento da gestão social para as famílias que aderiram a esta ação de revitalização do algodão consorciado com alimentos e produzido em roçados agroecológicos. Para superar as distâncias culturais entre os técnicos e agricultores da cultura do algodão e dos roçados agroecológicos, trabalhou-se um processo de formação em que o 5 ONG com sede em Fortaleza/CE iniciou o processo de resgate da cultura do algodão nos anos noventa, através do plantio consorciado com culturas alimentares em roçados agroecológicos. 6 Formação através da prática. 7 roçado foi utilizado para as práticas da experimentação7. Segundo Petersen (2007), a incorporação do agroecossistema como unidade para organização do conhecimento, em particular, cria novas perspectivas para que os técnicos possam apreender as racionalidades e estratégias dos grupos de agricultores assessorados. Entre outras razões, permite a superação do enfoque metodológico centrado em tecnologias pontuais, passando a abordá-las a partir de uma perspectiva sistêmica, ou seja, pelas suas funções como mediadoras de relações ecológicas e socioeconômicas nos agroecossistemas. Um importante instrumento de monitoramento e avaliação dos consórcios foi a criação de um Banco de Dados. Criado em cada um dos territórios envolvidos nesta ação, ele é atualizado mensalmente com participação de agricultores e técnicos e sua gestão é realizada pela organização dos agricultores, e contêm informações de área, estimativa de produção, pluviometria, práticas adotadas no cultivo, características de relevo, manejo de pragas, entre outras, referentes a cada família cadastrada. O PDHC junta as informações de todos os territórios, faz um resumo do cenário produtivo dos territórios, e compartilha com os compradores e com a rede de algodão agroecológico do semiárido nordestino. Muitas análises aqui terão como referência exatamente as informações geradas por esse banco de dados. 3. CONCEITUANDO ROÇADOS AGROECOLÓGICOS NA AGRICULTURA FAMILIAR Para maior compreensão da proposta de produção do “Algodão em Consórcios Alimentares Agroecológicos”, apresenta-se um conceito de Agroecologia desenvolvido por Sevilla Guzman (2006): a Agroecologia promove o “manejo ecológico” dos recursos naturais através de formas de ação social coletiva, que apresentam alternativas à atual crise de modernidade, mediante propostas de desenvolvimento participativo, desde os âmbitos da produção e da circulação alternativa de seus produtos, pretendendo estabelecer formas de produção e de consumo que contribuam para encarar a crise ecológica e social e, deste modo, restaurar o curso alterado da coevolução social e ecológica. Sua estratégia tem uma natureza sistêmica, ao considerar a propriedade, a organização comunitária, e o resto dos marcos de relação das sociedades rurais 7 A formação pela experimentação é uma ferramenta metodológica da ação do PDHC, onde a geração participativa de conhecimentos acontece na prática, em campos experimentais. 8 articulados em torno à dimensão local, onde se encontram os sistemas de conhecimento (local, agricultor familiar e/ou indígena) portadores do potencial endógeno que permitem incrementar a biodiversidade ecológica e sociocultural. No contexto do consórcio agroecológico é fundamental o entendimento do conceito que envolve a agrobiodiversidade e a importância da mesma na agricultura camponesa. Para compreendermos melhor o conceito da agrobiodiversidade precisamos pensar que ela é construída ao longo do tempo; é o resultado de processos históricos que se referem ao tempo e espaço e, de uma forma ou de outra, a atividade humana pode, manter ou perturbar a agrobiodiversidade. Ao longo dos últimos 10 a 12 mil anos, os agricultores foram responsáveis, em grande parte, pela enorme diversidade de plantas cultivadas, de animais domesticados e de agroecossistemas “desenhados”. Através da observação, seleção, troca e melhoramento com práticas de manejo, cultivo e cria, foi alcançado o aumento da diversidade genética, e também a introdução de espécies silvestres e seus genes para dentro do acervo de plantas cultivadas e animais de cria, gerando o que chamamos hoje de agrobiodiversidade. Portanto, a agrobiodiversidade é a base biológica para a segurança alimentar, afetando diretamente o sustento dos camponeses, que ao longo dos anos são considerados os guardiões da agrobiodiversidade. Aguiar (2010) ressalta que o conjunto da família camponesa composta por homens e mulheres conserva e valoriza diferentes espécies e agroecossistemas. Outro entendimento importante para a Agroecologia é em relação aos solos. Em sua concepção agroecológica o solo é enfocado como um organismo, cuja vida exige alimentação e proteção. A alimentação se faz com a biomassa e oxigênio, para a nutrição dos microrganismos e, sobretudo da mesofauna8. A proteção se refere especialmente à incidência direta do sol e da chuva, visando à proteção contra erosão, à manutenção da umidade, da temperatura e da porosidade propícias ao desenvolvimento dos organismos do solo (KHATOUNIAN, 2001). 8 A mesofauna do solo compreende os organismos, como ácaros, colêmbolos, alguns grupos de miriápodes, aracnídeos e diversas ordens de insetos, alguns oligoquetos e crustáceos. Esse conjunto de organismos, apesar de extremamente dependentes da umidade do solo, é caracteristicamente terrestre (SWIFT et al., 1979). As atividades tróficas desses animais incluem tanto o consumo de microrganismos e da microfauna, como a fragmentação de material vegetal em decomposição (CORREIA & ANDRADE, 1999). 9 Ainda segundo Khantounian (2001), na agricultura convencional há uma compreensão que o solo é um corpo de natureza mineral, e uma vez que o solo seja compreendido como mineral, e lhe sejam aplicados tratos químicos e mecânicos, ele se tornará um corpo preponderantemente mineral, perdendo aquelas características dependentes da atividade biológica. O solo vai morrendo, se "mineralizando", restando como corpos vivos no seu interior apenas as raízes das culturas e os organismos que lhe são associados. À medida que o solo vai morrendo, observa-se uma queda no rendimento das culturas e/ou na sua resposta à própria adubação mineral. Para compensar a perda progressiva na resposta à adubação mineral, doses cada vez maiores de agroquímicos vão se tornando necessárias. A velocidade da queda no rendimento das culturas devido ao decréscimo da atividade biológica no solo depende das características mineralógicas do terreno. Onde as características mineralógicas do terreno são excepcionalmente boas, como nas terras roxas, a queda no rendimento poderá levar de uma a duas décadas. Em terrenos como os do semiárido nordestino, a queda é observada em poucas safras (KHATOUNIAN, 2001). Diante disso, o trabalho de apoio e desenvolvimento da experiência com “Algodão em Consórcios Alimentares Agroecológicos” buscou unir as condições de desenvolvimento social e ecológico através de processos participativos de construção e gestão, formação pela experimentação para uma transição agroecológica, com valorização dos conhecimentos científicos e tradicionais, da agrobiodiversidade e da conservação dos solos. Assim busca gerar desenvolvimento social, econômico, de forma mais sustentável com minimização dos problemas de erosão dos solos e dos riscos de perdas de safra devido às frequentes irregularidades na distribuição das chuvas no semiárido nordestino (LIMA, 2008). Esta forma de produção aplicada aos roçados agroecológicos tem ganhado força inclusive dentre as instituições de pesquisa como a Embrapa Algodão que tem publicado em favor da Agroecologia reafirmando ser fundamental que a produção seja em bases agroecológicas, conservando os solos e demais recursos naturais, eliminando o uso de agrotóxicos e organismos geneticamente modificados, não fazer usos de adubos 10 químicos e outros tipos de insumos prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente (BELTRÃO et al. 2009). Guimarães Duque (2004), um dos principais estudiosos do semiárido tendo sua primeira grande obra “Solo e Água no Polígono das Secas” publicada em 1949, já falava bem de como o plantio consorciado, associado a práticas de conservação pode ser uma boa forma de se preservar o solo, que tem sido bastante degradado pela substituição das matas por áreas agrícolas ou de pastagens na região semiárida do Brasil. Onde a utilização de plantações mistas ou intercaladas, formando camadas vegetativas em sequência, de diferentes espécies se sucedendo em curto período de exploração, é o segredo de conseguir melhor produção agrícola com a melhor conservação do solo. Sobre o tema da biodiversidade e modelos de produção agrícola, Caporal (2009) menciona que a aposta num modelo de monocultivos tem sido responsável pela perda de biodiversidade em todos os nossos biomas. Menciona também que a simplificação resulta, num crescente desequilíbrio ecológico, no rompimento de cadeias tróficas, na artificialização extrema das áreas de produção, com necessidade de permanentes subsídios externos. Parte-se do pressuposto que esta forma de produção em policultivos, utilizando sementes que são reproduzidas pelos próprios agricultores, dialoga com os princípios da agroecologia e preservação da biodiversidade. Aliás, sobre os policultivos encontramos várias referências que destacam as vantagens de se trabalhar neste sistema. A principal delas trata da possibilidade de se produzir mais em uma área semeada em sistema de policultivo do que em área equivalente semeada com uma monocultura (ALTIERI, 2012). Esse aumento da eficiência do uso da terra é particularmente importante em áreas cujas propriedades são pequenas, nas quais os agricultores possuem condições socioeconômicas precárias e onde a produção agrícola é limitada pela quantidade de área que pode ser preparada e capinada manualmente, num espaço de tempo limitado (ALTIERI, 2012), bem como, onde os regimes pluviométricos são irregulares. Outras vantagens como estabilidade na produtividade e uso mais eficientes dos recursos 11 naturais são levantadas por Altieri (2012) em relação aos sistemas de policultivos semelhantes aos roçados no semiárido. 4. OS ROÇADOS SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA Desde a interiorização do Brasil, o roçado tem acompanhado a sociedade rural com um importante papel na produção de alimentos para as famílias camponesas, assim como, produzindo alimentos para o gado que é uma das principais atividades econômicas na Região Semiárida do Brasil. O processo de interiorização no semiárido brasileiro se deu através dos criadores de gado e o estabelecimento das grandes fazendas. Na Paraíba, por exemplo, a penetração do gado para o interior seguiu duas vias: a primeira de sentido Leste-Oeste seguiu o curso do rio Paraíba e a segunda procedente da Bahia adentrou o território de Pernambuco e na sequência o da Paraíba. Essa última via foi, de fato, a principal corrente de povoamento das regiões dos rios Piranhas e Piancó no sertão paraibano (MOREIRA & TARGINO, 1997). Originou-se uma sociedade agrária que se manteve com os produtos extrativos, a pecuária e os roçados, que mudavam de lugar na procura das terras virgens. Adveio uma tradição de lavoura pouco cuidada, extensiva, com o mínimo de trabalho (DUQUE, 2004). Ao passar do tempo com a diminuição do tamanho e o aumento das cercas das propriedades, com o aumento da população rural, o roçado passou a exercer uma função mais importante, e essa lavoura pouca cuidada, passou a ser mais bem cuidada e mais intensificada com produtos (policultivo) e mão de obra. Ou seja, essa lavoura de roçado passou a ser estratégica para uma grande parcela da população agrícola. No século XX, as subdivisões contínuas das grandes propriedades advindas das sesmarias, a reprodução dos rebanhos, o aumento da população e a ampliação dos roçados reduziram muito a área do pastoreio por animal sem o acréscimo da quantidade de forragem produzida por hectare. Chegamos ao meado do século XX com mais bocas humanas para alimentar. O suprimento forrageiro, nativo, insuficiente para o número de cabeças dos rebanhos resultou, em muitos lugares, na terra nua exposta à insolação, aos ventos e à enxurrada com a destruição do topsoil provedor de humo e microrganismos alimentadores de nutrientes para as raízes das plantas (DUQUE, 2004). 12 Na região do semiárido a atividade primária já esteve organizada a partir do tripé: gado, algodão, lavouras alimentares. A forma de exploração das grandes propriedades pode ser resumida da seguinte maneira: o gado era criado de forma extensiva, solto na caatinga, requerendo um pequeno número de trabalhadores para o seu trato e pertencendo, via de regra, ao proprietário. O algodão, por sua vez, era cultivado tanto nas grandes quanto nas pequenas propriedades; quando cultivado nas grandes propriedades, o seu cultivo fazia-se sob a forma de parceria (ou sistema morador, relação de trabalho bastante difundida pós escravidão) ou de arrendamento, ficando, portanto, os riscos da produção a cargo dos parceiros e arrendatários. A extração do sobre-trabalho era feita basicamente através dos mecanismos de comercialização, uma vez que a parte do produto, que cabia aos parceiros e aos arrendatários (geralmente a meia ou terça parte) deveria ser comercializada diretamente com o proprietário (MOREIRA & TARGINO, 2007). A produção de algodão arbóreo e alimentos em consórcios nos roçados acompanhou as relações de trabalho no sertão nordestino relacionadas ao período da “bovinização”9 na década de 80, um produto típico de um esquema em que os meeiros ou moradores dos latifúndios tinham o direito a cultivar o feijão, o milho e a mandioca entre os arbustos que geravam renda ao proprietário da terra durante aproximadamente quatro anos. Após a colheita, o gado do latifundiário entrava na área para se alimentar da palha e do restolho que sobrava no terreno e, desta forma, funcionava como um reciclador do arbusto do algodão, preparando-o para um novo ano agrícola (BURSZTYN, 1984). Enfim, percebe-se que historicamente tanto no Brasil, como em muitos lugares do mundo, particularmente nos países em desenvolvimento, os agricultores geralmente fazem seus plantios em combinações (policultivos ou consórcios), preferencialmente ao plantio de culturas isoladas (monoculturas, ou culturas solteiras). Até aproximadamente 20 anos, as características desejáveis dos consórcios eram ignoradas pelos pesquisadores. Recentemente, entretanto, a pesquisa com policultivos cresceu e muitos dos benefícios potenciais destes sistemas estão ficando evidentes (LIEBMAN, 1993). 9 Segundo BURSZTYN este foi o período em que o estado incentivou a expansão da bovinocultura na Região Nordeste do Brasil através do crédito barato. 13 Diante deste levantamento é possível identificar que no semiárido a agricultura, a pecuária e a vegetação nativa foram interagindo de forma a configurar sistemas de produção baseados em quatro grandes subsistemas, o subsistema de produção de pasto nativo (caatinga), o roçado, a criação de gado bovino e posteriormente o algodão (NOGUEIRA & SIMÕES, 2009). Ainda se identifica que o subsistema roçado que gerava renda e alimentos, hoje busca revitalizar esta perspectiva de geração de renda, tendo em vista que sempre teve em sua estratégia a produção de alimentos para a família assim como para os animais. A seguir, apresenta-se uma experiência que vai nessa direção. O uso do roçado, em bases agroecológicas, como componente estratégico para viabilidade econômica das famílias agricultoras e para a sustentabilidade da agricultura familiar no semiárido brasileiro dialogando com a produção de alimentos, geração de renda e integração com a produção animal. 5. ALIMENTOS E RENDA NOS ROÇADOS AGROECOLÓGICOS DO SEMIÁRIDO E NO ASSENTAMENTO ZÉ MARCOLINO O Projeto de Assentamento Zé Marcolino foi implantado na antiga Fazenda Serrote Agudo, uma das grandes fazendas da região do Cariri Paraibano, com seu declínio cantado na voz de Luiz Gonzaga com letra do poeta Zé Marcolino “... já foi um reino encantado... hoje só se vê porta fechada não reina mais alegria...”. Está localizado na divisa dos municípios de Sumé, Prata e Amparo no Estado da Paraíba. Em dezembro de 2001 foi emitida a posse para os agricultores assentados. Com uma área desapropriada de 2.356,7200 hectares, encontram-se instaladas 86 famílias, divididas em quatro agrovilas (Lajinha, Macacos, Formigueiro e Cumaru). Cada família possui um lote de 19,8 ha para a criação de animais e o plantio dos roçados e as demais terras estão destinadas a implantação das agrovilas e das reservas legais. O Projeto Dom Helder Camara iniciou sua atividade de Assessoria Técnica Permanente neste assentamento no ano de 2003, onde forneceu assessoria às famílias agricultoras e financiamentos de projetos de investimento social e produtivos. Desenvolveu ações afirmativas de gênero no apoio a estruturação do grupo de mulheres com parceria de entidades feministas da Paraíba. Ajudou a estabelecer parcerias com a 14 Universidade Federal de Campina Grande, através do projeto Universidade Camponesa com formação de lideranças políticas e experimentação participativa de produção e armazenamento de forragem, e com a Embrapa Algodão em unidades demonstrativas de produção de forragem. As famílias agricultoras do Assentamento Zé Marcolino por volta do ano de 2008 debatiam sobre as dificuldades da produção do roçado. Concluiram que “o rendimento do roçado não estava pagando a mão de obra”, utilizada pelas famílias. Foi quando no final de 2008, se iniciou a mobilização e formação de famílias agricultoras na produção do Algodão em Consórcios Agroecológicos. Inicialmente, foram sensibilizadas, mobilizadas e cadastradas 22 famílias, que passaram por formação com abordagem em práticas de conservação de solo e água, manejo cultural, Agroecologia, certificação orgânica e processos de comercialização. Após a formação e a conciliação com início do período chuvoso, apenas 11 famílias cultivaram em 2009 o roçado utilizando as culturas e as práticas dos consórcios agroecológicos. Apesar da adesão inicial de apenas 50% das famílias, esse foi o primeiro passo, e talvez o mais desafiador, para a consolidação da experiência. O “Algodão em Consórcios Alimentares Agroecológicos” desenvolvido pelas famílias agricultoras se baseia em: a) uma proposta técnica de produção agroecológica de alimentos para a família e animais, b) o algodão com função de gerar renda e alimentos para os animais, colocado em um mercado diferenciado com certificação orgânica, c) o fortalecimento da gestão social sobre a produção, certificação e comercialização. Na verdade, na busca por garantir um equilíbrio entre culturas alimentares e de geração de renda, o algodão é reinserido no sistema familiar, cultivado consorciado com outras culturas alimentares como o milho e o feijão, intercalado em faixas, e por ocasião o grupo de agricultores em um acordo político estabeleceram que o algodão10 ocupasse até o máximo de 50% da área do consórcio. Um empreendimento produtivo agrícola pressupõe que a atividade proposta seja rentável e gere emprego e ocupação produtiva para as famílias agricultoras e/ou 10 São utilizadas variedades de algodão herbáceo desenvolvidas pela Embrapa, entre elas a BRS Aroeira e 8H, que são livres de genes modificados por meio de transgenias, suas sementes produzidas nos próprios roçados são importantes para a certificação orgânica gestão da agrobiodiversidade. 15 proporcione melhoria no nível de segurança alimentar. Neste sentido, uma das principais características dos empreendimentos produtivos é referente ao número de famílias envolvidas, o incremento do nível de ocupação, renda e alimentação destas famílias. Ou seja, o que se busca em um subsistema de roçado agroecológico, ou em outras atividades produtivas da agricultura familiar é que se desenvolvam sistemas economicamente viáveis, que sejam inclusivos e possam ser atrativos e utilizados por muitas famílias, produzindo alimentos, fortalecendo a estratégia de convivência com o semiárido, e gerando trabalho digno no ambiente rural. Dentro de uma perspectiva da agricultura familiar com base agroecológica, a viabilidade econômica de um sistema produtivo não deve ser olhada de forma isolada, mas deve levar em conta as relações sistêmicas dentro da propriedade trabalhada pela família. Estas relações dever ser representadas em números, levando em conta todos os elementos de despesas e receitas do sistema. Nesse sentido, um primeiro ponto importante para tornar possível um estudo de viabilidade econômica com olhar para um determinado sistema produtivo, foi a atribuição de valores monetários aos insumos produzidos internamente na propriedade/sistema e produtos consumidos internamente na propriedade/sistema. Para descrever estes valores monetários atribuídos aos produtos e insumos internos, utilizamos aqui o termo “equivalente monetário”. Assim, equivalente monetário significa valores atribuídos a todos os insumos produzidos internamente na propriedade/sistema e produtos consumidos internamente na propriedade/sistema. Outro fator que vale a pena destacar é que, com um sistema de policultivo ocupando uma mesma área, toda a produção é somada e contabilizada em conjunto gerando um “valor bruto da produção”. Ou seja, valor bruto da produção é a soma agregada da produção consumida (com seu equivalente monetário), e a produção comercializada. Neste trabalho foram realizados dois olhares diferentes para os consórcios. Um olhar mais geral, abordando os resultados obtidos pelas famílias envolvidas com a ação e que estão sendo acompanhadas pela assessoria e monitoradas pelo projeto. Outro olhar mais detalhado, para um consórcio em especial (uma família), com a perspectiva de uma análise mais profunda do sistema de policultivo estudado. 16 Nesta análise mais detalhada e direcionada ao subsistema produtivo do roçado agroecológico, foram levados em consideração os custos de serviços internos da família e os externos, isto é, serviços contratados, insumos internos e externos da propriedade e custo das sementes. Para se avaliar as receitas, levou-se em consideração toda a produção a partir deste espaço definido por roçado, desde os alimentos consumidos, os alimentos vendidos, o algodão comercializado, e o ganho de peso dos animais que se alimentaram exclusivamente dos restos culturais. Conforme demonstrado na tabela 1, durante os três anos do monitoramento ficou evidenciado como a variação pluviométrica interfere diretamente nos resultados da produção dos roçados de sequeiro. Embora as análises sobre a relação produçãopluviometria careça de um intervalo de tempo mais amplo, observou-se que em 2010, onde tivemos estiagem, a produtividade média foi bem menor. Além da quantidade, o fator distribuição é muito importante para este subsistema da agricultura familiar do semiárido. Observando-se, por exemplo, o ano de 2011 no qual a chuva foi mais bem distribuída, a produtividade foi bem superior a do ano de 2009 em que os índices pluviométricos foram superiores, contudo as chuvas foram mais concentradas. Outro fator que nos chama a atenção na tabela 1 é que o valor bruto da produção do roçado de sequeiro na região semiárida no ano de 2011 foi de R$ 1.506,50, correspondente ao triplo da média brasileira de R$ 515,00, dados do MDA (2008) em relação à média do valor bruto na agricultura familiar/hectare/ano (conforme citado no início desse texto). O destaque importante na tabela 1 é o crescimento progressivo do número de famílias envolvidas com a ação. Em 2011 (ano base de análise), elas já somavam 678 famílias, distribuídas pelos seis territórios envolvidos na ação11. No Assentamento de Zé Marcolino, das 22 cadastradas, 11 iniciaram a produção em 2009 e em 2011, 26 famílias se cadastraram para plantio dos consórcios agroecológicos. 11 O Projeto Dom Helder Camara (PDHC), onde a experiência do “Algodão em Consórcios Alimentares Agroecológicos” é levada a cabo, tem o propósito maior de gerar e difundir referências que orientam ações de políticas públicas de combate à pobreza e promoção do desenvolvimento rural sustentável. Para tanto, desenvolve uma ampla ação de assessoria técnica junto a mais de 15.000 famílias agricultoras, distribuídas em 77 municípios, 356 assentamentos rurais e comunidades da agricultura familiar de oito territórios, situados na porção semiárida de seis estados da região nordestina (CE, PB, PE, PI, RN, SE). 17 Tabela 1: Dados básicos dos consórcios nos anos de 2009, 2010 e 2011. Territórios Inhamuns - CE, Sertão Central - CE, Apodi - RN, Cariri - PB, Pajeú - PE, Araripe – PE. Descrição Período Evolução produtiva dos consórcios de 2009 a 2011 2009 2010 2011 Número de famílias cadastradas 138 524 678 Número de famílias que produziram 118 91 401 Área plantada (ha) 90,32 67,41 236,74 Produção de pluma de algodão (kg) 5.485,5 3.363,7 26.040,0 Produtividade média de grãos e algodão dos consórcios agroecológicos (kg/ha) 688,60 288,44 1.058,13 Valor bruto da produção médio/ ha (R$) R$ 580,96 R$ 452,46 R$ 1.506,50 Valor bruto da produção nos consórcios R$ 45.537,00 R$ 33.355,00 R$ 333.346,07 Média Pluviométrica (mm) 1.123,22 325,81 823,52 Fonte: Banco de Dados, PDHC. Um estudo de caso mais detalhado mostra um cenário bastante favorável da relação benefício-custo do subsistema roçado agroecológico. Nesta oportunidade atribuímos valor “equivalente monetário”, ao que custaria o item descrito, tendo por base o mercado local. Neste estudo de caso, para que se pudesse incluir a importante interação deste subsistema com a criação de animais, foi realizado um monitoramento de peso dos animais alcançando os seguintes resultados: foram pesados, ao entrar no dia 29 de agosto de 2011 na área do roçado para se alimentar exclusivamente dos restos culturais, 39 pequenos animais de um rebanho misto com caprinos e ovinos; 4 destes animais foram separados durante o período por motivo de doenças. Ao tomar o peso na saída da área do roçado no dia 23 de setembro de 2011 (ou seja, pouco menos de um mês), os 35 pequenos animais apresentaram um peso de 140 quilos superior ao do dia da entrada, correspondendo a uma média de 4 quilos por animal. Vale a pena destacar que alguns dados de produção não foram traduzidos em números como, por exemplo, o que foi produzido de carne e leite a partir da forragem plantada nos consórcios agroecológicos e estocada em silos. Contudo, esta estratégia de produção de forragem dentro dos roçados é realidade em quase todas as famílias agricultoras em geral. No caso das famílias envolvidas na ação, destacamos o sorgo dentre as forragens mais produzidas com a finalidade de ser estocada. O sorgo 18 desempenha um importante papel na produção de forragem, pois apresenta uma alta produtividade, produz uma silagem com ótimas características fermentativas, possui um bom nível energético, possui proteína bruta em torno de 8%, é uma planta forrageira que se adapta a várias condições de clima e solo. Os dados a seguir são do subsistema roçado do agricultor Anselmo residente no assentamento Zé Marcolino (município de Sumé/PB) que cultivou com roçado em base agroecológica 1,97 hectares (georreferenciado) no ano de 2011. Na tabela 2, por exemplo, percebemos um bom indicativo de que grande parte do que é investido no subsistema roçado não gera saída de recursos monetários, fator importante para a agricultura familiar. Dentro de uma perspectiva agroecológica o fato de que mais de três quartos (¾) do investimento produtivo é feito com recursos internos ao sistema, nos traz uma ideia de que é um sistema que tem bastante autonomia, possuindo baixa dependência externa e, portanto, menos susceptível a mudanças neste cenário. Neste contexto, a autonomia em relação ao investimento produtivo permite ao agricultor maior independência e segurança na implantação dos campos produtivos. Como diria Ploeg (2008), a autonomia materializa-se na criação e no desenvolvimento de uma base de recursos naturais e sociais autogerida. Ou seja, o valor atribuído de despesas ou investimentos internos ao sistema totaliza R$ 1.493,55 enquanto que o valor atribuído das despesas ou investimentos externos ao sistema totaliza R$ 430,00 pagos na contratação de serviços. Tabela 2: Despesas internas ao sistema de produção agrícola de Anselmo. Interno do Sistema Familiar Atividade/descrição Unidade Mão de obra familiar (dias) Valor Unitário (R$) Valor total Atribuído (R$) Corte da terra h/m 0 - 0,00 Preparo da terra d/h/a 0 - 50,00 Plantio d/h 3 20,00 60,00 replantio d/h 1 20,00 20,00 adubação d/h 1 20,00 20,00 Aplicação de caolim d/h 4 20,00 80,00 capina tração animal d/h 2 50,00 100,00 1ª capina d/h 8 20,00 160,00 2ª capina d/h 12 20,00 240,00 Catação de botão floral d/h 1 20,00 20,00 Colheita h/d 30 20,00 600,00 Beneficiamento h/d 2 20,00 40,00 Destruição dos restos culturais h/d 1 20,00 20,00 19 Sub Totais 1.410,00 Sementes Unidade Banco de Sementes Valor Unitário (R$) Valor total Atribuído (R$) milho kg 9,75 1 9,75 feijao kg 3 2,6 7,80 algodão kg 15 2 30,00 gergelim kg 0,5 5 2,50 sorgo kg 1 5 5,00 cunhã kg 0,5 15 7,50 Sub Totais 62,55 Interno da Propriedade Valor Unitário Valor total Atribuído Biofertilizante 1 21 21,00 Sub Totais - - 21,00 Total de despesas internas - - 1.493,55 Insumos Unidade Fonte: Banco de Dados, PDHC. Já a tabela 3 apresenta valores que correspondem à saída de recursos monetários da família para implantação e manejo do subsistema roçado. Neste caso, observa-se que não há grandes saídas de recursos do sistema, no caso de Anselmo foram gastos R$ 430,00. Este é um fator importante em se considerando que o agricultor geralmente está descapitalizado ou tem poucos recursos disponíveis quando da chegada das chuvas. Tabela 3: Despesas externas ao sistema de produção agrícola de Anselmo. Externo do Sistema Familiar Atividade/descrição Unidade Mão de obra paga (dias) Valor Unitário (R$) Valor Total Despesa (R$) Corte da terra h/m 3,5 60,00 210,00 Preparo da terra d/h/a 2,5 20,00 50,00 plantio d/h 1,5 20,00 30,00 replantio d/h - - - adubação d/h - - - Aplicação de caolim d/h - - - capina tração animal d/h 2 50,00 100,00 1ª capina d/h - - - 2ª capina d/h - - - Catação de botão floral d/h - - - Colheita h/d - - - Beneficiamento h/d - - - Destruição dos restos culturais h/d 2 20,00 40,00 Totais de despesas externas 430,00 Fonte: Banco de Dados, PDHC. 20 Na tabela 4 o primeiro destaque vai para a diversidade de produtos do roçado agroecológico. Observa-se que estão listados 8 produtos, e além destes, outros são cultivados nos roçados como maxixe, melão, melancia e fava entre outros, que não foram apresentados por que o monitoramento apresentou um valor quantitativo muito baixo destes alimentos. O fato de ter vários cultivos consorciados em uma mesma área de plantio é fundamental para o equilíbrio do sistema na relação solo/planta com a entrada de insetos polinizadores e convivência com as pragas. Pode-se ainda considerar positivo o que se observa na tabela 4, onde se verifica que uma boa parte da produção dos roçados está totalmente integrada a outros subsistemas produtivos da família, sendo consumida internamente pelo sistema. Este fluxo interno de produtos e insumos dialoga com os princípios da agroecologia, na medida em que promove o aumento do fluxo interno de energia, aumenta a autonomia da família agricultora, aumenta a integração entre os subsistemas e diminui a saída de recursos gerando sistemas produtivos mais sustentáveis. Ou seja, o valor atribuído de receitas consumidas internamente ao sistema totaliza R$ 1.620,00, que é um dinheiro que deixou de sair do sistema. Tabela 4: Receita referente à produção consumida internamente no sistema agrícola de Anselmo. Produção Consumida (kg) Valor Unitário (R$) kg - - 0,00 Algodão - Caroço kg 660 0,5 330,00 Amendoim kg 40 3 120,00 Cultura Unidade Algodão - Pluma Valor total Consumido R$ Feijão kg 120 1 120,00 Gergelim kg 200 5 1.000,00 Guandú kg 15 1 15,00 Jerimum kg 35 1 35,00 Carne kg - - 0,00 Totais de receitas “equivalente monetário” 1.620,00 Fonte: Banco de Dados, PDHC. Observem que na tabela 5 está demonstrado que a volta do algodão como componente de geração de renda dentro do roçado faz uma grande diferença na entrada de recursos monetários para a família, mas a integração com a pecuária é fundamental para a viabilidade do subsistema roçado. Neste ponto da comercialização do algodão já descaroçado no comércio justo e mercado orgânico, é necessário destacar a importância 21 da organização social para se alcançar a certificação orgânica e também volumes significativos para comercialização. De modo geral, as famílias agricultoras organizadas em grupos comunitários com interesse em produção orgânica se juntam a um grupo de igual interesse territorial, o que possibilita as mesmas a certificação orgânica da produção e colocação no comércio justo e mercado orgânico. O contrato de compra antecipada da pluma é negociado entre as famílias agricultoras e empresas com atuação no comércio justo, e também empresas com atuação no mercado orgânico, mediadas, inicialmente, por organizações de apoio e assistência técnica e extensão rural. As famílias se apropriaram das negociações com os compradores ao longo do tempo. No início, em 2009, a negociação foi realizada entre as organizações que assessoram a cadeia do algodão e a Veja Fair Trade (empresa francesa ligada ao comércio justo) compradora de toda a pluma neste primeiro ano. A partir de 2010, as famílias agricultoras sentaram-se à mesa com a empresa compradora (Veja). Apresentaram suas estimativas de produção e negociaram a venda antecipada de sua produção, esta negociação resultou em contrato com preço de R$ 6,82, mesmo que o preço de mercado caísse, como caiu no primeiro semestre do ano de 2011 quando o algodão convencional passou de R$ 5,00 para R$ 2,30 por quilo de pluma. Garantiu-se também 50% de adiantamento conforme estimativa apresentada e os 50% restantes no ato da entrega dos produtos a empresa compradora. Um aspecto importante da negociação foi à entrega da pluma sem o caroço, fundamental na estratégia do roçado integrado a alimentação animal. No ano de 2011 os valores e as condições de mercado foram mantidos, o debate sobre as condições contratuais foi realizado entre representantes das organizações dos agricultores com representantes das empresas em um único dia juntando todos os territórios. Vale ressaltar que pela experiência das famílias, o roçado já não cobria os custos da produção, embora elas nunca deixaram de fazer seus roçados mesmo com este fator renda não sendo mais um fator de motivação. Esta reflexão nos traz novamente a ideia de que os roçados tem uma função ampla dentro da estratégia de convivência com o semiárido para as famílias camponesas. Os resultados apresentados abaixo são representativos para agricultores que conseguiram se organizar, certificar a produção, descaroçar o algodão, negociar 22 contratos de venda antecipada com preços justos, e organizar a logística de juntar esta pluma do território para comercialização. No ano de 2011, Anselmo comercializou parte da sua produção gerando uma receita externa ao sistema que totalizou R$ 4.530,00. Tabela 5: Receita referente à produção comercializada do sistema agrícola de Anselmo. Produção Comercializada (kg) Valor Unitário (R$) Valor total Comercializado (R$) kg 440 6,00 2.640,00 Algodão - Caroço kg - - - Amendoim kg 80 3,00 240,00 Feijão kg - - - Gergelim kg 50 5,00 250,00 Guandú kg - - - Jerimum kg - - - Carne kg 140 R$ 10,00 R$ 1.400,00 Cultura Unidade Algodão - Pluma Totais de receitas monetárias R$ 4.530,00 Fonte: Banco de Dados, PDHC. A importância da produção de algodão não se resume unicamente à venda da pluma (aumentando significativamente o componente da renda familiar), mas também tem importância na medida em que deixa o caroço do algodão na comunidade para servir de alimentação para os animais (reforçando a integração entre roçado e criação animal). Como ração animal, o caroço do algodão oferece uma rica fonte de proteína para a alimentação animal, tendo em vista que é costume se observar no semiárido a compra do resíduo da industrialização do caroço do algodão (a torta do algodão) para complementação alimentar dos animais de produção de leite, que por sua vez necessitam de uma alimentação com mais de 30% de proteína. Por fim, observem que este estudo de caso apresentado demonstra, na tabela 6, um saldo bastante positivo quando se relaciona os custos e benefícios do sistema. Ainda nesta linha de análise, dividindo os R$ 4.226,45 gerados no sistema pelos 65 dias trabalhados, podemos afirmar que a remuneração do trabalho investido por Anselmo foi de R$ 65,00 reais por dia trabalhado, quando o dia pago na região tem valor atribuído de R$ 20,00. Se compararmos ainda com um salário mínimo que no segundo semestre de 2011 tinha valor de R$ 545,00, o valor gerado no sistema equivale a quase oito vezes seu valor. 23 Tabela 6: Relação benefício custo do sistema MÃO DE OBRA E INSUMOS Internos Externos R$ 1.493,55 R$ 430,00 TOTAL R$ 1.923,55 PRODUÇÃO Consumida Comercializada R$ 1.620,00 R$ 4.530,00 R$ 6.150,00 R$ 4.226,45 Fonte: Banco de Dados, PDHC. Pode-se afirmar, finalmente, que o agricultor familiar camponês trabalha com objetivo de, por um lado reproduzir, melhorar e ampliar os recursos naturais ou capital ecológico, através de cuidado com a seleção de sementes e animais, assim como com cuidado no manejo dos solos e da água. Por outro lado, por meio do uso deste recurso natural ou capital ecológico, gerar uma produção que atenda as necessidades da família, gerando também excedentes comercializáveis (PETERSEN, 2007). Neste contexto, os roçados desempenham um papel fundamental e de forma bastante intensiva (em produtos, atividades e mão de obra) garante alimentos para a família e para os animais, bem como uma produção destinada à comercialização. No caso analisado, a renda gerada através da venda dos excedentes de culturas alimentares dos consórcios, e também com a venda da pluma do algodão que é um produto não alimentar do consórcio, tem uma grande importância na estratégia do calendário agrícola, pois sua renda chega durante o período mais seco do ano, quando a criação de animais e outras atividades produtivas estão em estado de manutenção. Uma visão ampla, de toda a complexidade do sistema e não apenas o produto de uma cultura apenas é um fator importantes quando se leva em consideração a viabilidade econômica dos estabelecimentos da agricultura familiar. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta experiência demonstra desenvolvimento em diferentes campos, com destaque para a geração de renda e produção de alimentos para as famílias e alta integração com a criação de animais. A produção dos consórcios em bases agroecológicas fortalece a estratégia de convivência com o semiárido. Neste sentido os agricultores avaliaram que a produtividade e a renda gerada são melhores no sistema de produção de “Algodão em 24 Consórcios Alimentares Agroecológicos” do que em sistemas mais simples de monocultivos. Outro fator de destaque é a colocação do agricultor em contato com comércio justo e mercado orgânico e o incentivo ao associativismo e cooperação entre produtores, o que complementa uma estratégia de desenvolvimento socioeconômico e ambiental, e coloca o agricultor como sujeito ativo no seu processo de desenvolvimento. A participação das famílias nos processos de gestão coletiva tem gerado uma dinâmica muito interessante entre as organizações, pois proporciona o aparecimento de novas lideranças que se motivam pela abrangência produtiva social e ambiental da proposta. É neste campo de fortalecimento das organizações sociais de base onde se encontra o maior desafio desta ação, e é importante continuar avançando neste campo para que as famílias consigam lidar com a complexidade que envolve todos os processos da produção até a comercialização. Outro grande desafio a ser considerado é a ampliação do número de empresas para a compra da pluma orgânica, assim como a comercialização de outros produtos do consórcio como o gergelim orgânico, no sentido de permitir maior poder de negociação e maior autonomia às famílias frente às empresas. Esse desafio requer tempo no sentido de sua superação, contudo as reflexões sugeridas aqui apontam um ciclo virtuoso nesse processo. Talvez um caminho a ser percorrido, mas os primeiros passos foram dados. Por fim, dialogando com a metodologia de Assessoria Técnica Permanente desenvolvida pelo Projeto Dom Helder Camara, o “Algodão em Consórcios Alimentares Agreocológicos” só se viabiliza a partir de uma abordagem com o olhar para a organização social, a produção em base agroecológica, a comercialização e a integração entre as diversas atividades produtivas da família agricultora. O que tem se buscado é que a assessoria técnica possa trabalhar como facilitadora, onde as famílias agricultoras possam caminhar rumo à autonomia ou autogestão do capital social e ecológico, sendo protagonistas de seus processos de desenvolvimento e mudança. 25 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, M. V. Complementariedade de Gênero e o Papel das Mulheres Morroquianas para Manutenção da Agrobiodiversidade em uma Porção do Cerrado Brasileiro. In Scott, Parry, Cordeiro, Rosineide e Menezes, Marilda (org.). 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