Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP
.
CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA
www.criticadaeconomia.com.br
EDIÇÃO Nº1248/49 – Ano 29; 1 ª e 2ª Semanas de Julho 2015.
Para Não Dizer Que Não Falei De Flores
.
As coisas inteligentes que esporadicamente aparecem nos planos políticos
da protoburguesia brasileira sempre se chocam com os planos
imperialistas globais. É por isso que a atenta observação das atuais
movimentações do capital internacional no país pode explicar melhor a
complexa relação entre sua economia e a política.
JOSÉ MARTINS
Luiz Trabuco, presidente do Bradesco, o maior banco privado do país, declarou
nesta sexta-feira, 07, que “a crise é grave e vamos ter que consertar o avião em
pleno voo, não dá para esperar a aterrissagem”. É importante ver o maior
banqueiro do país confessar publicamente que a crise é grave. Estamos de
acordo. Mas temos imensas dúvidas se o avião poderá ser consertado no ar antes
de se esborrachar em mil pedaços no chão da realidade econômica.
Trabuco, patrão do atual ministro da Fazenda, é um capitalista com ideias
truncadas sobre as causas e remédios da crise econômica. Segue a mesma
doutrina de Joaquim Levy, seu funcionário do Bradesco emprestado ao governo
Dilma para ser ministro da Fazenda e realizar a mais desastrada e equivocada
política econômica possível: aumentar juros, secar o crédito, cortar emprego,
salários, despesas sociais, desvalorizar a moeda e outras atrocidades em curso.
E quanto ao futuro, depois de o Bradesco aumentar ainda mais seus lucros com
a irresponsável política atual de elevação da taxa básica de juros e abocanhar
pelo menos a Caixa Seguradora, a joia da coroa das privatizações, assalto a ser
executado pelo seu funcionário Joaquim? Trabuco responde, com toda certeza do
mundo, que a recuperação da economia ocorrerá a partir de Junho do ano que
vem. Que grande previsão! O problema do nosso oráculo da Avenida Paulista, a
Wall Street da burguesia brasileira, é que ele não dá a mínima explicação de
como chegou a essa fantástica data.
Está falando bobagem, é claro. Além desse brilhantíssimo cenário de
quando a economia vai retomar o crescimento, Trabuco informa também como
se dará esta retomada. Repete, com ar de elevada sapiência, a nauseante mantra
dos keynesianos bastardos de que “a volta do crescimento será puxada por
1
investimentos em projetos de infraestrutura”. Não é uma frase bonita? O
problema é que é totalmente vazia. Alguém deveria avisá-lo que os chineses não
param de fazer isso desde 2009 e a economia continua patinando e deslizando
para o precipício. Mas, como veremos mais abaixo, o problema maior dos
investimentos brasileiros em grandes obras e grandes empreiteiras é mais
premente que na China: tornou-se importante detonador da atual crise política na
maior economia da América do Sul.
Voltando à Avenida Paulista, o que mais se comentava nesta semana nos
corredores da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), núcleo duro da
burguesia brasileira, na Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) e no
apartamento de refinado morador da rua Maranhão, cidade de São Paulo, é que a
presidente Rousseff deve renunciar o mais breve possível, com a garantia dos
representantes dos donos do Brasil – embaixada dos EUA, Fiesp, Febraban,
imprensa livre... – dela não ser presa posteriormente. Pelo mesmo acordo, o
cidadão Lula da Silva – fiel capitão do mato da burguesia e outros parasitas do
sistema – aceita não se candidatar mais à presidência da República. Claro, com a
garantia dos seus pais de criação da Fiesp de também não ser preso pelos órgãos
competentes. Atualmente, a chave da cadeia é a moeda de troca mais valiosa na
política do país: as principais lideranças políticas (e das grandes empreiteiras)
procuram escapar a qualquer custo da desembestada metralhadora giratória da
polícia federal, ministério público, justiça federal e outras ensandecidas
instituições republicanas.
Segundo ato: assume o vice-presidente Michel Temer, com senador José
Serra a tiracolo como novo ministro da Fazenda. Este último seria candidato do
PSDB/PMDB na próxima eleição presidencial, repetindo trajetória de
FHC/Itamar. Rifariam assim o beócio Aécio, totalmente inexperiente para a
árdua tarefa burguesa de se contornar a perigosa ingovernabilidade do regime.
Essa proposta Temer/Serra desta semana é imaginada pela burguesia industrial
paulista (liberalmente protecionista) e banqueiros nacionais. É inteligente, pois o
bloco parlamentar PMDB/PSDB/DEM seria imbatível no Congresso, e traria de
volta, depois de Guido Mantega, um ministro da Economia que também entende
de economia e de Brasil, além de articulação com os interesses do imperialismo.
O que pode atrapalhar tão engenhosa fórmula? É que nem tudo que é
inteligente nos planos nacionais da protoburguesia brasileira atende aos planos
imperialistas globais. Aliás, isso quase nunca acontece. E ela sempre capitula aos
patrões do Norte. Portanto, a atenta observação das atuais movimentações do
capital e dos interesses imperialistas na economia brasileira pode explicar melhor
essa complexa relação entre a economia e a crise política brasileira. Observemos,
2
por exemplo, os movimentos sobre as modalidades tradicionais de exploração
imperialista no país: matérias primas, transportes, energia, agronegócio, etc.. A
esses setores somam-se naturalmente grandes obras de infraestrutura e
correspondentes licitações/encomendas governamentais de portos, rodovias,
ferrovias, metrôs, usinas de geração de energia elétrica, nuclear, etc. Uma
liberalização aprofundada nessas atividades primárias e de infraestrutura é uma
das atuais exigências imperialistas que corresponde, mais do que nunca, a um
governo absolutamente despojado de qualquer veleidade centralizadora ou
protecionista. Uma repetição do Plano de Aceleração de Crescimento (PAC) de
Dilma Rousseff, como é receitado levianamente pelo presidente do Bradesco, só
poderia ocorrer sem governo Dilma, sem BNDES e, principalmente, sem os
Odebrecht, os Camargo Correa, os Andrades Gutierrez e outras importantes
famílias da camorra-burguesia nacional.
Não basta mais privatizar formalmente grandes empresas e fontes primárias da
economia. Não sobrou muita coisa altamente rentável depois de Fernando
Henrique Cardoso e sua cavalaria neoliberal. Se ainda houver mais alguma coisa,
entra no saco, claro. Mas aquela fase mais grosseira da globalização e do livre
comércio já foi realizada em grande extensão nos anos 1990 e 2000. Trata-se
agora de aprofundar aquelas privatizações formais para o modo concessão. Saem
as privatizações, entram as concessões. Mas antes tem que limpar os cartórios da
camorra-burguesia nacional. Aumenta-se agora o poder de choque e de polícia do
livre comércio imperialista: destruição de qualquer estrutura de concorrência
privada protegida por relações privilegiadas e corrompidas com o poder
governamental – grandes construtoras, empreiteiras, empresas de engenharia,
bancos de investimento, concessões de empresas de energia, transporte, petróleo,
minerais, etc. O problema do velho governo em agonia não é nem estatização
nem a popular corrupção de seus funcionários e dirigentes. É a manutenção de
arraigados monopólios privados nacionais. Ocorre que esta é a base material
deste velho governo. É neste sentido que os editoriais da imprensa imperialista
denominam de estatizantes os últimos governos brasileiros – tão dóceis e
colaboracionistas aos interesses imperialistas no Brasil, em geral, mas tão
resistentes na defesa de privilégios de grandes cartéis privados nacionais.
É hora da caça aos cartórios encravados em Brasília e alhures. Grandes grupos
multinacionais norte-americanos, europeus, japoneses e, em menor medida,
chineses, estão muito ativos para ocupar o vazio deixado pela iminente
desestruturação da Petrobras, Odebrecht, Camargo Correa, BNDES, Andrade
Gutierrez, Eletronuclear, etc. Estão todos falidos. A causa é uma nova onda de
concentração e centralização internacional do capital com poder altamente
3
destruidor também nessa esfera tradicional da exploração imperialista da
periferia. Mas nada disso poderia ser neutro politicamente (ou mesmo
geopoliticamente), pois esse movimento de acumulação do capital imperialista
tem elevado poder dissolvente de grandes estruturas corporativas (Estatais ou
privadas) e respectivas classes proprietárias nacionais a longo tempo
estabelecidas. Esses fortes movimentos de centralização do capital originam-se
na totalidade do mercado mundial e exigem adequadas reformas políticas dos
Estados nacionais dominados na ordem imperialista e seus respectivos governos.
Além desta esfera primária da economia, existem diversas outras esferas
econômicas (indústria, finanças, comércio, etc.) onde também se observa a
pressão dissolvente de velhas superestruturas. Faz parte do movimento de luta do
capital global contra a tendência à queda da taxa de lucro e das crises periódicas.
Trataremos dessas outras esferas em outros boletins. Mas já se pode antecipar
importante problema que as classes dominantes brasileiras devem enfrentar para
se adaptar aos novos tempos imperiais.
Qual a nova forma de governo (democrático, certamente) que se adapta a
essa imposição imperialista de inaudito aprofundamento do livre-comércio no
Brasil? O que o Estado capitalista nacional estabelecerá, de acordo com as regras
imperialistas, como novo regime político na sequência das ineficientes ditaduras
militares em geral, do inseguro neoliberalismo dos anos 1990 e do
destrambelhado neopeleguismo dos anos 2000 e 2010? Não perguntem aos
formuladores daquela engenhosa, porém anacrônica proposta Temer/Serra
imaginada pelos capitalistas industriais. Muito menos aos inúteis agiotas da
Febraban, onde se sobressai a mente viciada do líder Luiz Trabuco, que na
referida entrevista resolveu filosofar que “a crise brasileira atual é mais política
do que econômica”. É o limite desses espertos comerciantes, para quem a
economia é o ato de comprar barato e vender caro e a política, bem separada,
apenas uma organização pública para ser corrompida pelos seus interesses
privados. Ficam assim sem saber nem o que é uma coisa nem a outra; e menos
ainda a relação entre elas.
Incapazes de formular a verdadeira questão, que ameaça de extinção grande
parte de suas propriedades privadas e respectivas famílias, a protoburguesia
nacional propõe apenas a repetição de uma velha e trágica forma de governo que
agora não poderia funcionar mais nem como farsa. Não leva em conta que,
embora gozando de grande autonomia, as superestruturas políticas são
determinadas em última instância pelas transformações da base material. A
economia determina a política. E o que caracteriza a situação brasileira atual é
que a tênue autonomia das superestruturas nacionais que existia até três anos
4
atrás, aproximadamente, já foi totalmente consumida pela violência das novas
imposições materiais da totalidade capitalista. Para a infelicidade dos moradores
da Avenida Paulista, à qual não lamentamos nem um pouco, nem tudo são flores
no reino do capital e do imperialismo.
Em 2015, estamos completando 28 ANOS DE VIDA.
Vinte e oito anos informando e educando a classe trabalhadora!
ASSINE AGORA A CRÍTICA ENTRE EM CONTATO CONOSCO NO NOSSO
SITE www.criticadaeconomia.com.br e saiba as condições para a assinatura!
5
Download

Para Não Dizer Que Não Falei De Flores.