R. Periodontia - Dezembro 2009 - Volume 19 - Número 04 TRAUMA OCLUSAL X TECIDOS PERIODONTAIS: AÇÃO DA OSTEOPONTINA E DO RECEPTOR ATIVADOR DO FATOR NUCLEAR KAPPA B Occlusal trauma x periodontal tissue: action of the osteopontin and receptor activator of nuclear factor Kappa B ligand Sheila Pestana Passos1, Sandra Costa Zamboni1, Fernando Eidi Takahashi2, Nelson Luiz de Macedo3 RESUMO O trauma oclusal é causado pela força oclusal excessiva e muitas vezes está associado com a perda do osso alveolar. Na presença de trauma oclusal, periodontites provocadas por biofilme estão sujeitas a ter uma evolução mais rápida que periodontites onde o trauma oclusal não está associado. Nesta revisão foi detalhada a atuação de duas proteínas (osteopontina e RANKL) que podem estar envolvidas neste processo. Sabe-se que a osteopontina é uma proteína produzida sob carga mecânica e induz a migração dos osteoclastos para o local da reabsorção. O receptor ativador do fator nuclear Kappa B (RANKL) é um importante fator na diferenciação, ativação e sobrevivência dos osteoclastos, e participa da indução in vitro da osteopontina intracelular. Entretanto, o envolvimento do RANKL na reabsorção óssea inflamatória, com ou sem trauma oclusal, e o papel da osteopontina nas células ainda não está claro. No presente estudo, uma revisão de literatura foi realizada com o objetivo de elucidar a imunohistoquímica do trauma oclusal associado aos tecidos periodontais, enfatizando a atuação da osteopontina e do RANKL, assim como a relação entre o trauma oclusal e os tecidos periodontais. Com base no que existe atualmente na literatura, o mecanismo preciso de degradação periodontal sob excessiva carga oclusal ainda não está bem estabelecido em virtude da complexa ação das referidas proteínas. UNITERMOS: Trauma, osteopontina, periodontite. R Periodontia 2009; 19:75-81. 1 Doutorandas em Prótese Dentária da UNESP 2 Professor de Prótese Fixa da UNESP 3 Professor de Periodontia da UNESP Recebimento: 30/09/08 - Correção: 15/05/09 - Aceite: 28/09/09 INTRODUÇÃO As primeiras teorias descritas na literatura diziam que o trauma oclusal era causa de doença periodontal. Posteriormente, estudos (Lindhe & Svanberg, 1974; Gher, 1998; McCulloch et al., 2000) realizados afirmaram que a doença periodontal tem como etiologia a infecção bacteriana e o trauma atua somente como fator coadjuvante da perda dos tecidos de sustentação dos dentes. O ligamento periodontal está sempre exposto às forças oclusais. Quando uma força oclusal excede a capacidade adaptativa dos tecidos, estes sofrem injúrias induzindo mudanças estruturais microscópicas dentro e ao redor do ligamento periodontal. Tem sido relatado que uma força mecânica excessiva está associada com a perda óssea alveolar em periodontite severa (Jin & Cao, 1992). A reabsorção óssea pode ser consequência da evolução de um trauma oclusal que isolado induz reabsorção óssea reversível, mas não causa periodontite (Lindhe & Svanberg, 1974). A partir de uma inflamação induzida pelo biofilme, a carga oclusal excessiva é geralmente um dos maiores fatores etiológicos da destruição do tecido periodontal (Gher, 1998; McCulloch et al., 2000). Muitos estudos têm demonstrado o efeito da excessiva força 75 periodez2009 01-02-10.pmd 75 6/8/2010, 10:19 AM R. Periodontia - 19(4):75-81 oclusal no ligamento periodontal em relação a periodontite induzida pelo biofilme (Lindhe & Svanberg, 1974), fluxo sanguíneo (Kvinnsland et al., 1992) e terminações de Ruffini (Kvinnsland & Heyeraas, 1992). Tem-se discutido que certos traços morfológicos da má oclusão predispõem ao desenvolvimento da doença periodontal. Estudos (Alexander & Tipnis, 1970) buscaram estabelecer a associação entre má oclusão e a doença periodontal, porém resultados conflitantes têm sido demonstrados. Uma associação entre acúmulo de biofilme, cálculo, gengivite e bolsa periodontal e a má oclusão, segundo a classificação de Angle, foi sugerida. Entretanto, essa associação não tem se confirmado. Poulton & Aaronson (1961) afirmaram existir uma relação estatisticamente significante entre oclusão e saúde periodontal. Porém a demonstração desta correlação não comprova a existência de uma relação de causa e efeito entre os fatores envolvidos. Estudos têm sido realizados a fim de elucidar a imunohistoquímica do trauma oclusal (Takano-Yamamoto et al., 1994; Miles et al., 1998; Terai et al., 1999; Kanzaki et al., 2002; Morinobu et al., 2003; Kaku et al., 2005; Yamamoto et al., 2006; Yoshinaga et al., 2007). A osteopontina é uma proteína produzida sob carga mecânica e induz a migração dos osteoclastos para o local da reabsorção. O receptor ativador do fator nuclear Kappa B (RANKL) é um importante fator na diferenciação, ativação e sobrevivência dos osteoclastos e participa da indução in vitro da osteopontina intracelular. Entretanto, o envolvimento do RANKL na reabsorção óssea inflamatória, com ou sem trauma oclusal, e o papel da osteopontina nas células ainda não está claro. No presente estudo, uma revisão de literatura foi realizada com o objetivo de elucidar a imunohistoquímica do trauma oclusal associado aos tecidos periodontais, enfatizando a atuação de duas proteínas, a osteopontina e o RANKL, assim como a relação entre o trauma oclusal e os tecidos periodontais. Com base na literatura, o mecanismo preciso de degradação periodontal sob excessiva carga oclusal ainda não está bem estabelecido em virtude da complexa ação das referidas proteínas. REVISÃO DE LITERATURA Trauma Oclusal X Doença Periodontal O trauma oclusal, no contexto da odontologia, é definido como alterações patológicas que ocorrem no periodonto de sustentação devido às forças excessivas produzidas durante a mastigação podendo lesar os tecidos periodontais, polpa dentária, articulação temporomandibular, além dos próprios músculos da mastigação (Pillon et al., 2007). Gher (1998) relembrou que ainda há muitas dúvidas quanto a relação entre mobilidade dentária e progressão da periodontite. Os ajustes oclusais, como parte do tratamento periodontal, devem estar relacionados com avaliações clínicas, como função mastigatória e conforto do paciente, não devendo ser utilizados como procedimentos de grande valia para interromper a progressão da periodontite. Rêgo & Carmo (2000), em seus estudos, concluíram que o trauma de oclusão não produz doença periodontal. Entretanto, pode produzir reabsorções do osso alveolar acelerando a progressão desta doença. Enquanto Nunn & Harel (2001) observaram que existe forte associação entre discrepância oclusal e doença periodontal. Harrel & Nunn (2004) avaliaram uma provável relação entre forças oclusais e recessões gengivais em pacientes apresentando periodontite moderada a severa. Observou-se que as maiores perdas de tecido gengival foram encontradas entre os dentes que receberam tratamento oclusal. Embora essa perda não tenha sido estatisticamente significativa, os dentes que não apresentavam discrepâncias oclusais e os dentes com discrepâncias oclusais não tratados tiveram uma perda média de tecido gengival de 0,055 mm por ano. Os autores concluíram que não houve relação estatisticamente significante entre a presença de discrepâncias oclusais e alterações nos níveis gengivais (p = 0,481). É interessante notar também que a maior parte das publicações reflete em dados que procuram demonstrar a associação das lesões com outros fatores, como idade, gênero, presença de hábitos parafuncionais, escovação, entre outros, porém é difícil encontrar relatos que provem ou tentem provar a correlação das duas lesões. O mecanismo de remodelação óssea decorrente do movimento ortodôntico detalhado, incluindo contribuições da matriz extracelular (Waddington & Embery, 2001) e citocinas (Sandy, 1998) está relativamente bem definido, diferente dos mecanismos dedestruição do tecido periodontal devido à carga oclusal excessiva que ainda não estão estabelecidos. É considerado controverso o papel da oclusão na etiologia das doenças periodontais. Entretanto, existem na literatura muitas evidências (Lindhe & Svanberg, 1974; Kvinnsland et al., 1992; Kvinnsland & Heyeraas, 1992; Gher, 1998; McCulloch et al., 2000) sugerindo que a oclusão (ou trauma oclusal) tem correlação significativa com retração gengival, perda óssea e abfração. Seja como fator etiológico causador da doença periodontal, ou como um fator predisponente importante, a oclusão equilibrada, com os côndilos em posição harmoniosa, distribui a carga mastigatória de maneira mais fisiológica, favorecendo o con- 76 periodez2009 01-02-10.pmd 76 6/8/2010, 10:19 AM R. Periodontia - 19(4):75-81 trole e a recuperação dos problemas periodontais. Não há sentido em tratar o periodonto sem o estabelecimento de uma oclusão correta, especialmente nos pacientes que apresentam extensas restaurações, próteses e perdas dentárias. Imunohistoquímica X Trauma Oclusal X Doença Periodontal Sabe-se que a carga mecânica induz a proliferação e a diferenciação das células ósseas e a síntese da matriz extracelular através de várias macromoléculas, dentre elas a osteopontina, osteocalcina, sialoproteína óssea (Nomura & Takano-Yamamoto, 2000; Ivanovsky et al., 2001; Ehrlich & Lanyon, 2002). Quando uma força mecânica é aplicada no osso, o estresse é detectado por determinadas células, induzindo a remodelação óssea. Essas células mecano-responsáveis são em sua maioria osteoblastos e osteoclastos (Ehrlich & Lanyon, 2002). Similarmente, os osteoclastos podem ser a célula chave na destruição do tecido periodontal sob excessiva carga oclusal. Muitos estudos têm demonstrado que trauma oclusal é um fator co-destrutivo na reabsorção óssea inflamatória no periodonto (Lindhe & Svanberg, 1974; Jin & Cao, 1992; Rêgo & Carmo, 2000). No estudo in vivo de Yoshinaga et al. (2007) foi observado que existe relação entre inflamação e trauma oclusal na reabsorção óssea. De acordo com os resultados, os autores observaram que a reabsorção óssea inflamatória com trauma oclusal é mais destrutiva do que a inflamação isolada. Este dado está de acordo com outros estudos (Lindhe & Svanberg, 1974). Mudanças histológicas no ligamento periodontal sob carga oclusal excessiva, como a produção de osteopontina e do receptor ativador do fator nuclear Kappa B ligand (RANKL) pelas células do ligamento periodontal tem sido estudadas. Osteopontina Osteopontina é uma das abundantes matrizes protéicas que são produzidas durante a aplicação de carga oclusal (Rodan, 1995; Denhardt & Noda, 1998; Nomura & TakanoYamamoto, 2000; Sodek et al., 2000) e pode converter estresse mecânico através de um sinal intracelular (Carvalho et al., 1998). No tecido mineralizado, a osteopontina é expressa através dos fibroblastos (Ivanovski et al., 2001), células osteoblásticas (Merry et al., 1993) e osteoclastos (Merry et al., 1993; Dodds et al., 1995). O relacionamento entre a carga mecânica e a expressão da osteopontina tem sido estudado in vitro (Klein-Nulend et al., 1997; Carvalho et al., 1998) e in vivo (Takano-Yamamoto et al., 1994; Miles et al., 1998; Terai et al., 1999; Morinobu et al., 2003, Kaku et al., 2005). Além disso, muitos estudos in vivo (Lindhe & Svanberg, 1974; Kvinnsland et al., 1992; Kvinnsland & Heyeraas, 1992; Jin & Cao, 1992; Nunn & Harrel, 2001; Harrel & Nunn, 2004; Yoshinaga et al., 2007) têm investigado a reação do ligamento periodontal associado ao trauma oclusal. Klein-Nulend et al. (1997) observaram in vitro o efeito na expressão da osteopontina utilizando uma carga de 13 kPa. Enquanto no estudo in vivo de Miles et al. (1998) foi utilizada uma carga de 65 N a 2 Hz por 3 minutos. Clinicamente, Yoshinaga et al. (2007) observaram em ratos o efeito de uma carga oclusal excessiva que foi representada cimentando uma inlay de ouro no primeiro molar, com 1 mm a mais na superfície oclusal. Entretanto, os métodos usados em tais estudos não foram apropriados em termos de resistência e/ou tipo de carga. Nestes estudos in vivo, o efeito da carga mecânica no ligamento periodontal foi estudado sob carga oclusal constante, representando o movimento fisiológico do dente, enquanto que a força intermitente representa a carga oclusal excessiva. Os osteócitos representam a maioria das células produtoras de osteopontina durante o movimento fisiológico do dente (Takano-Yamamoto et al., 1994; Miles et al., 1998; Terai et al., 1999). Alguns estudos relatam a produção in vivo sobre a produção de osteopontina em osteócitos sob carga mecânica (Takano-Yamamoto et al., 1994; Miles et al., 1998; Terai et al., 1999; Morinobu et al., 2003). No estudo de Kaku et al. (2005), os autores verificaram que a produção de osteopontina pelos osteócitos foi baixa e não aumentou uniformemente com a aplicação excessiva de carga oclusal, havendo uma maior destruição e extensa mudança no ligamento periodontal. Segundo Miyauchi et al., em 1991, osteopontina é a chave no desenvolvimento e migração dos osteoclastos . No estudo de Kaku et al. (2005) foi detectado osteopontinapositivo nos osteoclastos e fibroblastos no ligamento periodontal adjacente à área de compressão. Isto pode suportar a hipótese de que a osteopontina expressada através dos osteoblastos e fibroblastos pode induzir a migração dos osteoclastos para o local da reabsorção. Entretanto, a produção de osteopontina por essas células foi quase simultânea com a reabsorção óssea. A forma intracelular da osteopontina promove a formação de osteoclasto (Suzuki et al., 2002). Por isso, a osteopontina tem sido relatada como promotora da formação de matriz óssea bem como da reabsorção óssea (Butler, 1989). Receptor Ativador do Fator Nuclear Kappa B Ligante - RANKL A osteoclastogênese é um evento biológico controlado principalmente por duas citocinas, o receptor ativador do fator 77 periodez2009 01-02-10.pmd 77 6/8/2010, 10:19 AM R. Periodontia - 19(4):75-81 nuclear Kappa B (RANKL) e o fator estimulador de colônia de macrófago (Udagawa et al., 1999). O RANKL é um dos fatores essenciais para maturação dos osteoclastos; ativa a diferenciação, simula a ativação e aumenta a sobrevivência dos osteoclastos (Yasuda et al., 1998; Aubin & Bonnelye, 2000). Estudos prévios têm mostrado que o RANKL é produzido pelos osteoblastos, células do ligamento periodontal, células T, células B e células endoteliais, e que isto suporta a osteoclastogênese in vitro (Udagawa et al., 1999; Wada et al., 2004; Kobayashi-Sakamoto et al., 2004; Han et al., 2006). O RANKL foi detectado ao redor dos osteoclastos e osteoblastos durante o processo de reabsorção óssea. É secretado dos osteoblastos e diferencia osteoclastos precursores dentro de osteoclastos maduros (Miyamoto & Suda, 2003). Tem sido mostrado in vivo que o número de osteoclastos aumenta com o aumento da expressão do RANKL em lesões periapicais (Zhang & Peng, 2005). Mudanças na expressão do RANKL corresponderam a mudanças no número de osteoclastos no estudo de Yoshinaga et al. (2007). Isso demonstra claramente que a expressão do RANKL nas células endoteliais, células inflamatórias e células do ligamento periodontal está envolvida na reabsorção óssea inflamatória, afetando a osteoclastogênese, com ou sem trauma oclusal. Porém, essa expressão é potencializada pelo trauma oclusal (Yoshinaga et al., 2007) O trauma oclusal promove a reabsorção óssea através da regulação da expressão do RANKL, portanto influencia a expressão do RANKL. O trauma oclusal pode causar estresse mecânico em componentes do periodonto que induz a produção de citocinas inflamatórias e induz diretamente a expressão do RANKL nas células do ligamento periodontal in vitro (Kanzaki et al., 2002; Yamamoto et al., 2006). Estudos têm relatado que a expressão do mRNA para RANKL é mais alta na gengiva com periodontite avançada do que em gengivites ou na gengiva saudável (Crotti et al., 2003; Liu et al., 2003), e sugerem que a regulação da expressão do RANKL deve estar associada com a ativação da destruição óssea pela periodontite. Células endoteliais, inflamatórias e do ligamento periodontal expressaram RANKL na reabsorção óssea inflamatória in vivo (Yoshinaga et al., 2007). A expressão foi potencializada pelo trauma oclusal e, portanto, essa expressão do RANKL nessas células relaciona a osteoclastogênese com a reabsorção óssea alveolar inflamatória, com ou sem trauma oclusal in vivo. Os resultados do estudo de Yoshinaga et al. (2007) sugerem que a expressão do RANKL nessas células está envolvida com o aumento da população dos osteoclastos induzida pelo trauma oclusal. Portanto, pouco se sabe sobre o envolvimento do RANKL na reabsorção óssea quando existe inflamação com ou sem trauma oclusal. Os tipos de células que produzem RANKL não têm sido claramente associados com reabsorção óssea inflamatória com ou sem trauma oclusal. RANKL x Osteopontina Cultura de osteoclastos in vitro estimulou, através da expressão do RANKL, osteopontina intracelular em osteoclastos (Takeshita et al., 2000). Isto sugere a possibilidade do envolvimento de RANKL na produção de osteopontina intracelular em osteoclastos. No estudo de Kaku et al. (2005), RANKL foi obser vado em ambos osteoclastos osteopontina-positivo e osteopontina-negativo, indicando que a produção de osteopontina intracelular nos osteoclastos in vivo pode não ser induzida diretamente pelo RANKL, mas através de um diferente mecanismo de estresse. Muitos estudos têm demonstrado que osteoclastos produzem osteopontina (Merry et al., 1993; Dodds et al., 1995; Zhu et al., 2004), entretanto ainda permanecem controvérsias (Dodds et al., 1995; McKee & Nanci, 1996). No estudo de Kaku et al. (2005) osteopontina é produzida por osteoclastos no ligamento periodontal, mas em uma região distante do osso alveolar sob carga mecânica. Estes autores não verificaram correlação entre a distribuição do RANKL e a produção de osteopontina nos osteoclastos. Entretanto, o mecanismo preciso de degradação do tecido periodontal sob excessiva carga oclusal ainda não está claro, visto que carece de um apropriado estudo experimental in vivo. DISCUSSÃO As mudanças histológicas do ligamento periodontal sob carga oclusal excessiva, mediante a produção de osteopontina e RANKL pelas células do ligamento periodontal, têm sido estudadas. De acordo com Kaku et al. (2005) muitos estudos têm avaliado a degeneração periodontal in vivo. Entretanto, os métodos utilizados não são adequados em termos de resistência e/ou tipo de carga. Na maioria dos casos o efeito da carga mecânica sobre o ligamento periodontal foi avaliado sob carga mecânica constante. Clinicamente, tem sido apresentado que a carga oclusal excessiva que pode causar trauma oclusal é na maioria dos casos intermitente. Portanto, o estabelecimento de um modelo experimental adequado em que a carga é intermitente e alta o suficiente é indispensável e permite investigação detalhada da degeneração do ligamento periodontal sob carga mecânica. No estudo de Kaku et al. (2005) foram demonstradas maior destruição e extensa alteração do ligamento periodontal. Os autores atribuem os resultados obtidos ao adequado modelo experimental utilizado. 78 periodez2009 01-02-10.pmd 78 6/8/2010, 10:19 AM R. Periodontia - 19(4):75-81 Relatos in vivo afirmam que a osteopontina é produzida pelos osteócitos sob carga mecânica (Takano-Yamamoto et al., 1998; Miles et al., 1998; Morinobu et al., 2003). Considera-se que a forma intracelular da osteopontina é para promover a formação de osteoclastos (Susuki et al., 2002). No estudo de Kaku et al. (2005), a osteopontina intracelular foi claramente detectada em osteoclastos adjacentes a uma região de compressão do ligamento periodontal. Muitos estudos têm demonstrado que osteoclastos produzem osteopontina (Merry et al., 1993; Dodds et al., 1995; Zhu et al., 2004; Kaku et al., 2005), porém alguns estudos contradizem estes achados (Dodds et al., 1995; McKee and Nanci, 1996). De acordo com Kaku et al. (2005), a produção de osteopontina osteoclástica intracelular in vivo pode não ser induzida diretamente pelo RANKL, mas segue uma trajetória diferente quando submetido ao estresse mecânico. RANKL foi encontrado ao redor de osteoblastos e osteoclastos durante reabsorção óssea. RANKL é a molécula chave que regula a destruição óssea em periodontites (Teng et al., 2000; Crotti et al., 2003) e é um dos fatores essenciais para a maturação dos osteoclastos. É secretado pelos osteoblastos e os osteoclastos precursores diferenciam-se em osteoclastos maduros (Miyamoto et al., 2003). Osteopontina promove a formação de matriz óssea tão bem quanto a reabsorção óssea (Butler et al., 1989), no entanto investigações detalhadas são necessárias incluindo a possibilidade da contribuição da osteopontina na regeneração do tecido periodontal. Desta forma, se faz necessário o desenvolvimento de um experimento que nos permita avaliar a degeneração do ligamento periodontal para que possamos estabelecer o porquê da degeneração do ligamento periodontal sob carga. CONCLUSÃO Ainda existem muitas controvérsias nas implicações entre trauma oclusal e tecido periodontal. As divergências de resultados encontrados em pesquisas laboratoriais e clínicas podem ser devido à diferenças entre as metodologias aplicadas, que nem sempre são adequadas em termos de resistência e ou tipo de carga. Está comprovado que o trauma oclusal não inicia a doença periodontal, mas atua como fator de codestruição; além disso, existem matrizes protéicas que são produzidas durante a aplicação da carga oclusal e seus efeitos ainda não estão bem estabelecidos na literatura. ABSTRACT The occlusal trauma is caused by excessive occlusal loading and many times are associated with the anatomy of the osseous structures. In the presence of occlusal loading, periodontitis caused for bacterial film could be an evolution faster than periodontitis disease where the occlusal trauma is not associated. In this review, it will be emphasized the action of two proteins (osteopontin and RANKL) that can be involved in this process. The osteopontin is known to be reduced upon mechanical loading and is considered to induce migration of osteoclasts to the resorption bone. The receptor activator of nuclear factor Kappa B (RANKL) is an important factor in the differentiation, activation and survival of the osteoclasts, and participates of the induction in vitro of the intracellular osteopontin. However, the evolvement of the RANKL in the inflammatory osseous resorption, with or without oclusal loading, and the function of the osteopontin in the cells is unclear. In the present study, a literature review was carried through with the objective to elucidate the immunohistochemistry of the occlusal trauma associate to the periodontal tissues, emphasizing the action of osteopontin and RANKL, as well as the relation between the occlusal loading and periodontal tissues. On the basis of what it exists currently in literature, the necessary mechanism of the fabric periodontal under excessive occlusal loading was unclear because of the complex action of these proteins. UNITERMS: trauma, osteopontin, periodontitis. 79 periodez2009 01-02-10.pmd 79 6/8/2010, 10:19 AM R. Periodontia - 19(4):75-81 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Alexander AG; Tipnis AK. The effect of irregularity of teeth and the degree of overbite and overjet on the gingival health. Br Dental J 1970; 128: 539-544. 16- Klein-Nulend J, Roelofsen J, Semeins CM, Bronckers AL, Burger EH. Mechanical simulation of osteopontin mRNA expression and synthesis in bone cell cultures. J Cell Physiol 1997; 170: 174-181. 2- Aubin JE, Bonnelye E. Osteoprotegerin and its ligand: a new paradigm for regulation of osteoclastogenesis and bone resorption. Osteoporos Int 2000; 11: 905-913. 17- Kobayashi-Sakamoto M, Hirose K, Isogai E, Chiba I. 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