Alguns comentários ao Reajustamento do Programa de matemática do Ensino Básico Apreciação global Esta proposta: - pressupõe, um conjunto de professores em cada escola com sólida formação matemática e pedagógica, com grande disponibilidade para fazer a gestão curricular pretendida e dispondo de tempo e de recursos materiais para produzir muitos dos materiais necessários ao seu ensino e à aprendizagem dos seus alunos - esquece a mobilidade dos alunos que, ao mudarem de escola a meio de um ciclo, se podem deparar com uma situação complicada se na nova escola se tiver optado por sequências programáticas diferentes das seguidas na escola de origem. - não proporciona a todos os alunos, que vão ser sujeitos ao mesmo exame no final do Ensino Básico, uma preparação semelhante. - não ajuda os professores na medida que não dá indicação dos objectivos a atingir em cada ano. - potencia baixas expectativas dos professores relativamente ao desempenho de alunos de determinadas turmas, dado que a experiência tem mostrado que tem sido difícil gerir a heterogeneidade. - O programa encontra-se pouco focado nos conteúdos matemáticos. Enquanto os textos iniciais são bastante explicativos, o desdobramento dos temas matemáticos é apresentado sob a designação (e forma) de tópicos, não explicitando tudo o que é necessário ensinar. Os objectivos e notas, nem sempre são claros e suficientes para indicar a dimensão e profundidade do que se deve tratar. Claro que se pretende dar amplo grau de liberdade ao professor, mas, no nosso ponto de vista, esta liberdade vai criar alguma perplexidade nos professores e grandes disparidades na formação dos alunos. E nesta matéria não devem ficar dúvidas. Tópicos, objectivos específicos e notas A forma sucinta como os tópicos são apresentados não mostra claramente como o programa do 2º ciclo está excessivamente sobrecarregado, considerando as metodologias propostas e consequente tempo adicional para aprender, versus o número de horas semanais destinadas à disciplina de matemática e à forma como estas são distribuídas. Relativamente ao programa ainda em vigor, muitos tópicos transitaram do 3º ciclo para o 2º ciclo, como adiante se mostra. Assinala-se, também, a falta de síntese de certos conceitos que são importantes para a organização do conhecimento ( por ex. as transformações geométricas, vão sendo abordadas desde o 1º ao 3º ciclos sem nunca se concluir o que há de comum entre as simetrias as translações e as rotações). A introdução de algumas noções parece ser prematura sobretudo se não for devidamente definido o seu âmbito (por ex. as rotações introduzidas no 2º ciclo e nunca mais abordadas). Números e operações 2º ciclo Relativamente ao programa anterior foram introduzidos os tópicos: - Números primos e compostos - Decomposição em factores primos - Mínimo múltiplo comum e máximo divisor comum de 2 números - Critérios de divisibilidade por 3, 4, 6, 9, e 11 - Multiplicação e divisão de potências ( mesma base e mesmo expoente), não tendo sidos retirados quaisquer outros. Além disso: - Não se referem os critérios e divisibilidade por 2, 5, 10… No 1º ciclo não se exigem critérios - Não se explicita a necessidade de consolidar e ampliar a leitura e representação de números para além do milhão. No 1º ciclo só é exigível até ao milhão e os alunos, até mais tarde têm dificuldade nesta leitura. Geometria e medida 2º ciclo Relativamente ao programa anterior foram introduzidos: - Distinguir ângulos complementares e suplementares e identificar ângulos verticalmente opostos… - Compreender relações entre elementos de um triângulo e usá-las na resolução de problemas… - Identificar as propriedades da circunferência - Rotação e translação - Rosáceas e retirado “área do trapézio”. Não estão explicitadas as propriedades da circunferência nem é explícito o que se pretende ao introduzir o tema “Rosáceas” neste contexto. Tal como está, no tópico “Reflexões, rotações e translações”, parece excessivo o que se pretende. 3º ciclo Algumas observações: - Justificava-se a introdução do tópico “Isometrias” que faria a síntese do estudo das transformações. - Porquê restringir o estudo dos prismas e pirâmides apenas aos triangulares e quadrangulares e não contemplar, pelo menos, os pentagonais e hexagonais? Organização e tratamento de dados 2º ciclo Relativamente ao programa anterior foram introduzidos: - Frequências relativas - Construção de gráficos circulares - Gráficos de linha e histogramas. e eliminados: - tabelas de frequência absoluta. Gráficos de pontos, pictogramas, gráficos de barras, Moda. Álgebra 2º ciclo Relativamente ao programa anterior foram introduzidos: - Expressar relações matemáticas através de equações - Sequências e padrões – indicar lei de formação, utilizando linguagem natural e simbólica. Saliente-se a necessidade de clarificação do que se pretende com “Variação” e com “interpretar diferentes representações de uma relação e relacioná-las”. O exemplo sugerido para abordar a noção de equação é pouco pertinente para fazer sentir a necessidade de uma equação. Conclusões Pelo exposto anteriormente consideramos que: - é fundamental dar uma indicação sobre os objectivos específicos a atingir em cada ano de escolaridade e definir objectivos por ciclo. - os textos iniciais do programa necessitam de ser revistos no sentido de os tornar mais sucintos, valorizando o que é essencial.