SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 1 ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO 2 FUNDAMENTAL ORGANIZADO POR CICLOS DE FORMAÇÃO HUMANA 3 4 A organização das orientações curriculares pressupõe uma ação 5 política de caráter epistemológico que leva em consideração a idéia de que o 6 currículo é uma produção que resulta de uma construção mediada no contexto 7 das relações. Daí a importância desta ação dialógica entre Seduc, cefapros, 8 assessorias pedagógicas, escolas, universidade e comunidade na construção 9 coletiva deste documento. 10 11 As Orientações Curriculares configuram-se, assim, um documento 12 que possa suscitar novos diálogos e reelaborações tornando-as instrumento 13 cada vez mais fundamentado, e mais compreensível para orientar os 14 profissionais do 1º, 2º e 3º ciclo na elaboração da proposta política pedagógica, 15 bem como, no planejamento das ações pedagógicas e curriculares, no contexto 16 da unidade escolar. 17 A partir da concepção de uma educação fundamentada na e para a 18 formação humana, no âmbito das relações socioculturais, estas Orientações 19 Curriculares, 20 aprendizagem e desenvolvimento dos educadores e educandos envolvidos no 21 espaço educativo. buscam Nesta 22 a ressignificação perspectiva a dos organização tempos é e pensada espaços e de proposta 23 contextualizando as Áreas de Conhecimentos e seus respectivos componentes 24 curriculares a partir dos eixos estruturantes: conhecimento, trabalho1 cultura, 25 visando a formação de sujeitos cujas capacidades produtivas se articulam às 26 suas capacidades de pensar, de relacionar-se, de estudar, desenvolverem a 27 afetividade. 28 1 Trabalho é compreendido, na afirmação de Kuenzer, ‘como práxis humana e não apenas como prática produtiva, mas, como uma das ações, materiais e espirituais, que os serem humanos, individual e coletivamente desenvolvem, para construir suas condições de existência’. 1 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 29 30 As Áreas de Conhecimento consideram as características inerentes 31 a cada ciclo vital humano: infância (6 a 8 anos), pré adolescência ( 9 a 11 32 anos), adolescência ( 12 a 14 anos)2; o contexto das vivências dos educadores 33 e educandos; a necessidade de repensar a prática pedagógica cotidiana, de 34 modo que os conhecimentos específicos de cada componente curricular, 35 articulado ao contexto da Área de Conhecimento, e entre elas, possibilitem a 36 construção e/ou apropriação dos significados 37 elaborados e favoreçam, aos sujeitos envolvidos no processo, a ampliação da 38 visão de si, de sua família, da escola, do bairro onde mora, da sociedade e 39 cultura em que vive, e busque transformações. Neste 40 sentido, as orientações sócio-histórico – culturais curriculares para o Ensino 41 Fundamental, uma das etapas da educação básica, objetivam em cada Área: a 42 construção de conhecimentos, a formação cidadã mediante a interação ativa, 43 crítica e reflexiva com o meio físico e sociocultural, de modo que os educandos 44 desenvolvam a autonomia para o tratamento da informação e para expressar- 45 se socialmente utilizando as múltiplas formas de linguagens e recursos 46 tecnológicos. 47 Estes pressupostos serão sustentados em suas interpretações, 48 pelos atores educativos no contexto da escola, visando o planejamento de 49 trabalho coletivo orientado a partir dos eixos articuladores sugeridos em cada 50 Área de conhecimento.Estes foram pensados considerando que as crianças, os 51 pré-adolescentes e os adolescentes, possuem “identidades de classe, raça, 52 etnia, gênero, território, campo, cidade, periferia [....]”3 53 constituídas 54 vivências e experiências mediadas pela linguagem nas relações estabelecidas 55 socioculturalmente. as quais são por valores e conhecimentos produzidos nos contextos de 56 Esses eixos articuladores, em cada área de Conhecimento, e entre 57 elas, tendem a ser discutidos e reorganizados/reelaborados ou adaptados de 2 Elvira Lima, 2006 3 Arroyo, 2006 2 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 58 acordo com a realidade local, de modo a assegurar que os saberes 59 contextualizados, problematizados e ampliados possibilitem o desenvolvimento 60 das capacidades - cognitivas, procedimentais e atitudinais- pelos educandos 61 na interação com o conhecimento, com seus pares e com os educadores4, no 62 processo de ensino e aprendizagem. 63 A opção por desenvolvimento das capacidades ocorreu no sentido 64 de que o termo é amplo e pode ser definido, na perspectiva vygotskiana, como 65 ações teórico-práticas que usamos para estabelecer relações com e entre 66 sujeitos e os objetos do conhecimento (situações, fatos, fenômenos), através 67 da linguagem. 68 cognitivas) 69 historicamente Pois, as funções cerebrais (psicológicas e mentais ou são constituídas determinados mediante e a internalização culturalmente organizados dos modos de operar 5 70 informações . Portanto capacidades referem-se ao conhecimento e aplicação 71 de estratégias e técnicas apropriadas, relacionadas aos conteúdos aprendidos, 72 que o aluno busca, em suas experiências anteriores, para analisar e resolver 73 novos problemas. 74 As capacidades, portanto não são inatas, nem transmitidas. Na vida 75 e nos processos de ensino e aprendizagem estas são construídas pelo (a) 76 aluno (a), e também pelos(as) educadores(as) nas relações que estabelecem 77 entre si, com seus pares, com outros, com o conhecimento e com o contexto 78 cultural e social. 79 80 81 82 83 84 85 As capacidades cognitivas, socioculturalmente construídas, estão relacionadas aos processos ou operações mentais quando o ser humano constrói o conhecimento, tais como: a abstração, a análise, a síntese, a correlação, a percepção, a identificação, a aplicação, a fruição, entre outras, os quais são fundamentais nos processos intelectuais de elaboração de conceitos para operar com símbolos, idéias, imagens e representações que permitem organizar a realidade. 86 87 88 89 Capacidades atitudinais, dizem respeito à convicções e modos de ser, sentir e se posicionar mediante situações concretas. Por exemplo: capaz de conviver bem com as pessoas de diferentes etnias, grupos sociais, religiões e posições políticas, lidar com divergências de opiniões, e de preferências (time 4 Educadores compreende todos que atuam no ambiente escolar, Conforme a Lei 9394/96 5 Vygotsky apud Rego, 1995 3 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 90 91 92 93 94 de futebol, tipo de música, moda, pertencimento, tribo) reconhecer e valorizar a igualdade de direitos entre as pessoas, inclusive aquelas que apresentam alguma necessidade educativa especial, ser responsável pelos próprios atos, compreender a importância de zelar pelos bens e espaços públicos e de preservar o meio ambiente entre outras.6. 95 96 97 98 99 100 As capacidades procedimentais estão relacionadas à ser, saber, fazer e saber fazer determinadas coisas. Por exemplo: saber interagir com o outro usando o gênero textual adequado à situação e objetivo pretendido; saber comportar-se em diferentes situações, tais como, participar de discussões em diferentes espaços e momentos de atividades na escola (aula, recreio, eventos e outros). 101 Ressaltamos, ainda, as capacidades cognitivas, procedimentais e 102 atitudinais (que envolvem valores e comportamentos) são recorrentes nos três 103 ciclos. Elas devem ser introduzidas no 1º ciclo, retomadas e trabalhadas 104 sistematicamente nos três anos do 2º Ciclo, mas algumas delas devem 105 continuar sendo focalizadas no 3º Ciclo. A distinção entre um ciclo e outro 106 dependerá do tratamento dado a essas capacidades, especialmente quanto ao 107 grau de complexidade dos conhecimentos explorados para desenvolvê-las. Entende-se, portanto, que o tratamento deverá ganhar mais 108 109 abrangência e aprofundamento, de acordo com a faixa etária, o 110 desenvolvimento cognitivo, o processo de aprendizagem e a autonomia 111 conquistada pelos educandos. Isso significa que o desenvolvimento dessas 112 capacidades ocorrerá progressivamente, ou seja, uma capacidade pode ser 113 trabalhada e consolidada no 1º e/ou no 2º. Ciclo e retomada no 3º. Ciclo para 114 ser trabalhada e consolidada novamente, de forma mais abrangente e 115 aprofundada. A princípio, no 1º ciclo o desenvolvimento das capacidades é 116 117 mediado pela ação do (a) professor (a) que indica, delimita e atribui 118 significados à realidade, a partir das constantes interações entre os pares e 119 com o conhecimento- articulado com o meio físico e social- introduzido, 120 trabalhado, consolidado e retomado. No 2º e 3º ciclo, o(a) professorr (a) 121 continua atuando como mediador(a) quando introduz novos conhecimentos a 6 Rede Mun. de Educação de Belo Horizonte- Proposições curriculares do 1º ciclo 4 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 122 serem trabalhados e consolidados ou caso o (a) aluno(a) ainda não tenha 123 concluído os processos de construção. 124 No sentido de acompanhar o processo de desenvolvimento e 125 aprendizagem dos educandos do 1º, 2º e 3º ciclo, as orientações curriculares 126 trazem, em cada Área de Conhecimento, os descritores aqui definidos como 127 evidências da construção de capacidades do (a)\no(a) aluno(a). Seu 128 conjunto compõe o perfil em desenvolvimento, ou perfil de saída em cada ciclo. 129 Os descritores, portanto, traduzem o diagnóstico da realidade no 130 decorrer do processo de desenvolvimento e aprendizagem, subsidiando o (a) 131 professor(a) com dados fundamentais para o planejamento de atividades 132 interventivas para atender necessidades que o educando apresente para 133 completar o processo de construção do saber ou para superação de 134 dificuldades no processo de desenvolvimento e aprendizagem. 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 5 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 149 150 Alfabetização/Letramento no processo de desenvolvimento e 151 Aprendizagem nos ciclos de formação humana. 152 153 A relação da criança no mundo da escrita ocorre tanto pela 154 aquisição do sistema de escrita – a alfabetização – quanto pelo 155 desenvolvimento das capacidades de uso desse sistema em práticas sociais 156 utilizando a leitura e a escrita – o letramento. Neste sentido, é papel da escola 157 tanto possibilitar o domínio da tecnologia do ler e do escrever (com suas 158 convenções e regras) quanto propiciar condições para que os (as) alunos(as) 159 saibam fazer uso dessa tecnologia 160 interesses, em diferentes contextos sociais: na escola, na família, no trabalho, 161 no lazer . em função de diferentes objetivos e 162 O processo de apropriação do sistema alfabético e ortográfico da 163 escrita é condição básica para que a criança, no 1º ciclo, consiga ler e escrever 164 com autonomia7 compreendendo como as relações sociais são representadas 165 na e por meio da escrita8, ou seja, o processo de alfabetização é uma opção 166 política articulada às capacidades, tais como: compreender as diferenças entre 167 a escrita e outros sistemas de representação; dominar as convenções gráficas 168 do sistema de escrita (direção e alinhamento da escrita, segmentação das 169 palavras); compreender a natureza do sistema alfabético de escrita, dominando 170 as relações entre grafemas e fonemas; entender as normas e convenções que 171 determinam a escrita das palavras; dentre outras. 172 Entretanto, dominar a tecnologia da escrita não é suficiente para que 173 a criança leia, escreva e raciocine com autonomia. Ou seja, não basta apenas 174 saber ler e escrever para se inserir na cultura escrita. É preciso conhecer seus 175 usos e funções sociais, desenvolver as capacidades necessárias para utilizá- 176 las e valorizá-las dentro e fora da escola. 7 Magda Soares, 2006 8 Paulo Freire apud Maciel e Lúcio, 2008 6 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS Nas palavras de Magda Soares (1996: 85)9: 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 (...) do ponto de vista individual, o aprender a ler e escrever alfabetizar-se, deixar de ser analfabeto, tornar-se alfabetizado, adquirir a “tecnologia” do ler e escrever e envolver-se nas práticas sociais de leitura e de escrita – tem conseqüências sobre o indivíduo, e altera seu estado ou condição em aspectos sociais, psíquicos, culturais, políticos, cognitivos, lingüísticos e até mesmo econômicos; do ponto de vista social, a introdução da escrita em um grupo até então ágrafo tem sobre esse grupo efeitos de natureza social, cultural, política, econômica, lingüística. (...) É esse, pois, o sentido que tem letramento (...) (...) Letramento é, pois, o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita.” 193 194 Nesse pressuposto, a organização curricular, no 1º. Ciclo concebe a 195 alfabetização e o letramento como eixos fundantes do trabalho formativo, visto 196 que, são processos interdependentes e indissociáveis10, pois, alfabetizar 197 letrando além de permitir a entrada da criança no mundo grafocêntrico e 198 tecnológico, possibilita sua interação através da leitura, da escrita e da 199 oralidade construindo e/ou ampliando conhecimentos. 200 Nessa perspectiva, o 1° ciclo é compreendido como o momento da 201 alfabetização. Este processo ocorre considerando os saberes relacionados às 202 Linguagens, Ciências Humanas, Ciências Naturais e Matemática, Áreas de 203 Conhecimento que são trabalhadas de forma integrada ou globalizada, 204 possibilitando que os (as) alunos(as) sejam capazes de ler, escrever, 205 compreender significados, mediados pelos diversos suportes tecnológicos. 9 SOARES, Magda Becker. Letramento/alfabetismo. Presença Pedagógica, v.2, n..10, jul./ago. 1996. p.83-89. 10 Soares (2001), 7 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 206 Esses saberes também contribuem na formação de estruturas 207 complexas que são a base para o desenvolvimento do raciocínio, do 208 pensamento lógico, do senso crítico e dos aspectos socioafetivos11. 209 É necessário, ainda, reconhecer na criança o aspecto da ludicidade, 210 viés de construção de conhecimento nas relações que ela estabelece 211 culturalmente com o outro, com os objetos e consigo mesma. Através da 212 ludicidade a criança é impulsionada a conquistar novas possibilidades de 213 compreensão e de ação sobre o mundo12. 214 Atentos à formação humana devemos compreender que a criança 215 de seis a oito anos encontra-se no estágio das operações concretas e 216 apresenta diferentes tempos de aprendizagem. Neste período pensa de forma 217 lógica e é capaz de compreender o pensamento de outra criança, ou 218 adolescente, ou adulto com quem interage expondo também o seu pensamento 219 e sentir suas argumentações aceitas é uma necessidade iminente. 220 No processo de construção do saber, é imprescindível que se 221 identifique como a criança se apropria do conhecimento e, particularmente, 222 quais as hipóteses levantadas por ela a partir da concepção de mundo que a 223 envolve, de modo que as intervenções pedagógicas possibilitem que esta 224 chegue ao final do 1º Ciclo alfabetizada, ou seja, com conhecimento da leitura, 225 da escrita e da interpretação – da forma como ouve e fala- e fazendo uso da 226 escrita como discurso adequado à certas situações de interação. 227 A prática de alfabetização e letramento avança para o 2º ciclo, 228 caracterizado pela transição entre a infância e a adolescência, com foco nos 229 processos cognitivos, afetivos, sócio-culturais do educando de nove a onze 230 anos. Pois, estes já construíram compreensões sobre o sistema de escrita 231 alfabética, organizam o pensamento por complexo e começam a despertar 232 interesses por temáticas e discussões próprias dessa faixa etária que geram 233 questionamentos sobre sua realidade social e devem ser integrados em seus 234 processos de aprendizagens. 11 Conceitos referendados por Piaget, Vygotsky e Wallon 12 Ângela Meyer Borba, 2006 8 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS O 2º. 235 Ciclo caracteriza-se quando o(a) aluno(a) escreve 236 alfabeticamente, bem como, decodifica e compreende textos simples. Nesse 237 estágio, já pode compreender com maior desenvoltura explicações e 238 descrições nos textos informativos que lê, ou naqueles lidos pelo professor, o 239 que representa um avanço significativo, em relação ao ciclo anterior. Desse 240 modo, o segundo Ciclo deve se definir por um trabalho mais aprofundado e 241 específico com leituras e produções de diferentes gêneros textuais. Espera-se 242 que o(a) aluno(a) tenha um desempenho mais autônomo e organizado em 243 relação àqueles conteúdos que já vinham sendo trabalhados sistematicamente 244 no 1º Ciclo. É 245 importante oportunizar situações desafiadoras para que 246 desenvolvam sua capacidade de pensar, organizar as informações que 247 recebem compreendendo o seu sentido, atribuir significados de modo 248 que ampliem o processo de letramento, bem como, os conhecimentos 249 escolares desenvolvidos anteriormente. 250 O 2º Ciclo é o período em que o(a) aluno(a) amplia processualmente 251 o conhecimento espontâneo ou cotidiano passando a ter um controle mais 252 deliberado sobre as noções já formadas e os processos mentais em 253 desenvolvimento, aproximando-se da elaboração do conhecimento científico a 254 ser construído no 3º Ciclo. 255 O processo de letramento amplia-se mais no 3º ciclo, pois o 256 educando de doze a catorze anos, dadas as condições preliminares, é capaz 257 de elaborar conceitos no plano do pensamento lógico abstrato. 258 Nesse sentido, os processos de letramento e desenvolvimento das 259 linguagens devem ser trabalhados por todas as áreas que compõem a matriz 260 curricular do 2º Ciclo, uma vez que tais processos são essenciais para a 261 aprendizagem dos conhecimentos de todos os componentes curriculares. É 262 fundamental que os(as) alunos(as) sejam capazes de ler e compreender 263 qualquer tipo de texto seja ele de ciências, de matemática, de história, de 264 geografia, ou de qualquer outra disciplina. 265 O 3º Ciclo é o momento de ser introduzido os conceitos científicos, 266 ou seja, conhecimentos sistematizados e legitimados pela sociedade letrada, 9 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 267 os quais só podem ser elaborados por meio intencional no processo ensino- 268 aprendizagem13. Portanto, a intervenção pedagógica continua sendo de 269 fundamental importância, neste ciclo, para provocar o avanços necessários que 270 não ocorreriam espontaneamente. Cabe ao (à) professor(a) criar situações 271 instigantes para que os(as) alunos(as) possam comparar informações oriundas 272 de diferentes fontes de pesquisa, observar e compreender as relações 273 socioculturais e ambientais em que estão envolvidos. 274 Neste sentido, o trabalho pedagógico, considera a organização do 275 tempo escolar na lógica dos ciclos adequando o contexto escolar ao 276 desenvolvimento biológico, social e cultural de crianças, pré-adolescentes e 277 adolescentes. 278 O planejamento das ações educativas deve partir de uma ação 279 coletiva que envolve as áreas de conhecimento, os saberes universalmente 280 construídos, as metodologias, a interação sociocultural, criando melhores 281 condições para o desenvolvimento e aprendizagens dos(as) alunos(as). O 282 trabalho coletivo permite que os(as) professores(as) acompanhem o avanço 283 dos(as) alunos(as) durante um ciclo, socializem suas dúvidas, planejem 284 soluções, enfrentem dificuldades de modo a superá-las, avaliem as ações, 285 construam um ambiente alegre e motivador onde educandos, educadores e 286 outros profissionais da educação, sintam-se incluídos como parte do processo 287 educativo. 288 289 290 291 13 Oliveira (1992) 10 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 292 293 Pressupostos Teóricos da Área de Ciências Humanas 294 Os estudos na Área de Ciências Humanas buscam fundamentação 295 na concepção do método histórico dialético com o entendimento de que o 296 conhecimento é construído sócio historicamente na relação entre homens e 297 destes com o contexto sócio-histórico-político-econômico-cultural e tecnológico 298 em constante processo de transformações e que envolve diretamente o 299 cotidiano dos professores e alunos. 300 301 Nesse entendimento, o Currículo da Área de Ciências Humanas 302 para o Ensino Fundamental - 1º, 2º e 3º ciclo de formação humana, objetiva a 303 formação 304 desenvolvendo uma compreensão ampla da realidade no processo de 305 formação ou transformação histórica das sociedades humanas. cidadã das crianças, pré-adolescentes e adolescentes, 306 307 Nesta abordagem compreendemos como categorias de estudo: 308 sociedade, tempo e espaço, trabalho, diversidades socioculturais e religiosas‘, 309 (gênero, 310 democracia, nação, paisagem espaço geográfico e território, as quais permitem 311 desenvolver o pensamento histórico e geográfico, ao longo dos anos do sexualidades, religiosidades, geracionais e etnicorraciais), Ensino Fundamental organizado por ciclos de formação humana. 312 313 Entendemos, então, que o processo de desenvolvimento e 314 315 aprendizagens considera a realidade dos alunos e professores, os 316 conhecimentos já construídos por eles, suas percepções sobre como ocorre o 317 processo de transformações históricas e geográficas no contexto em que se 318 insere, bem como suas capacidades de compreender-se como parte integrante 319 nesse processo. 320 Daí a necessidade de uma proposta curricular inovadora planejada a 321 partir do cotidiano da escola, considerando os seguintes questionamentos: 322 ensino/aprendizagem nesta área de conhecimento? O que esperam aprender? 323 11 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 324 Quais projetos podem ser construídos coletivamente? 325 Em que estes projetos poderão auxiliá-los em seu dia-a-dia? 326 Que atividades estimularão a participação no processo? 327 O que e como avaliar? 328 329 Nesta perspectiva podemos ultrapassar aquela concepção de ensino 330 que está centrada na mera transmissão de conteúdos, passando a 331 compreender e exercitar uma prática pedagógica que privilegie a investigação 332 e a construção de saberes de forma integrada entre as Áreas de Conhecimento 333 no espaço escolar e na comunidade. 334 335 12 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS Ciências Humanas e suas Tecnologias no processo de 336 337 Alfabetização e Letramento no 1º Ciclo de Formação Humana 338 339 As orientações curriculares estaduais da Área de Ciências Humanas 340 para o primeiro ciclo de formação humana têm como objeto de ensino e 341 aprendizagem o ser humano em suas relações no/com o tempo e espaço 342 social, cultural e ambiental. 343 Os conhecimentos relacionados à Educação Religiosa, História e 344 Geografia e suas Tecnologias são contextualizados na área, organizados de 345 forma integrada ou globalizada e considerados importantes na produção de 346 conhecimento, no processo de alfabetização e letramento. 347 A criança de seis a oito anos deve ser compreendida como sujeito 348 ativo e cognoscente, capaz de construir conhecimentos inteirando-se com 349 outros sujeitos na realidade sociocultural, na qual vive - na realidade concreta. 350 Nesta perspectiva a criança constrói o conhecimento pensando 351 sobre uma realidade problematizada demonstrando interesse e emoções, 352 questionando-a e atribuindo significados. Neste processo elabora noções 353 conceituais científicas, articuladas às suas experiências de vida. 354 Neste parâmetro, a ação pedagógica e curricular deve possibilitar, 355 de forma desafiadora, a ampliação das experiências vividas contribuindo para a 356 construção de compreensões do mundo e suas transformações. Pois, é na 357 construção de conhecimentos relacionados com os diversos saberes, que o ser 358 humano se reconhece enquanto sujeito histórico14. 359 As experiências infantis iniciam-se na família estendendo-se para os 360 demais espaços de convivência nas relações sociais e políticas, na interface 361 com a temporalidade e as transformações produzidas na natureza e na 362 sociedade. 14 Charllot (2000) e Freire () 13 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 363 No primeiro ciclo os temas de estudo devem corresponder à 364 realidade social concreta oportunizando aos alunos situações de convivência e 365 participação social, contato com as regras e com os costumes, próprios do seu 366 convívio. 367 Desse modo Área de Ciências Humanas proporcionará aos alunos 368 situações de aprendizagem nas quais possam construir noções conceituais 369 científicas articuladas aos eixos: trabalho, cultura e sociedade, identidade, 370 natureza e sociedade, temporalidade e espacialidade, 371 alfabetização cartográfica. paisagem e lugar, 372 Cultura é concebida, nas orientações curriculares, na interpretação 373 de Moreira e Candau (2008) como conjunto de práticas por meio das quais 374 significados são produzidos e compartilhados em grupo. Diversidade, do ponto 375 de vista cultural é explicada por Gomes (2008) como construção histórica e 376 social das diferenças. As diferenças são construções humanas no contexto 377 sociocultural e histórico. 378 Nesta dimensão, o eixo cultura e diversidade, no contexto do ciclo 379 de formação humana, se articula à construção dos processos identitários de 380 professores(as), alunos(nas) profissionais da educação, pais, mães e outras 381 pessoas da comunidade. 382 Estes seres humanos são sujeitos semelhantes, em relação ao 383 gênero e diferentes no pertencimento étnico-racial, na idade, na cultura, ou 384 seja, diferentes na forma de ser e agir ao longo da sua historicidade 385 sociocultural. 386 Partindo do pressuposto de que as orientações curriculares de Mato 387 Grosso são fundamentadas na concepção de formação de sujeitos humanos 388 de direito a aprendizagem na e pela interação sociocultural, este eixo se 389 articula entre as Áreas de Conhecimento e principalmente com os demais eixos 390 da Ciências Humanas e suas tecnologias. 391 No primeiro ciclo os conhecimentos articulados a este eixo devem 392 ser mediados num processo dialógico sobre os saberes, as relações sociais, os 14 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 393 valores e identidades, a partir da realidade concreta das crianças de seis a oito 394 anos. 395 Nas situações de ensino e aprendizagem, o (a) professor (a) ao 396 trabalhar o eixo identidade15, mediará um processo dialógico e de interação 397 permitindo que a criança desenvolva capacidade de construção da sua 398 identidade pessoal e social- tanto em sua dimensão individual quanto coletiva- 399 permitindo-lhe desenvolver noções de pertencimento a um grupo sociocultural, 400 no qual reconhece sua família, a rua, a escola, a comunidade sociocultural em 401 que vive. Neste contexto poderá também identificar e problematizar as 402 desigualdades 403 preconceituosas e discriminatórias, agir, enquanto sujeito histórico, para a 404 manutenção ou transformação social e pessoal. sociais existentes, desconstruir atitudes ou idéias 405 Os conhecimentos em relação ao tempo e espaço não devem ser 406 dissociados, sobretudo ao se considerar as características de como a criança 407 organiza o processo de construção. 408 O conceito de tempo é entendido como produção humana no 409 movimento dinâmico e histórico. Nesta dimensão a criança construirá a noção 410 de tempo a partir da sua história de vida, percepção de processos simultâneos, 411 duração de atividades, relações sobre ações realizadas ontem, hoje, amanhã, 412 passagem do dia, semana, mês, ano, relações com seu tempo de vida, 413 encadeamento de fatos, análise do contexto em diferentes épocas, como por 414 exemplo, comparando as brincadeiras infantis do seu tempo com as de seus 415 pais, quando tinham a sua idade e outras situações. 416 A construção da noção de temporalidade permite o desenvolvimento 417 de outra capacidade fundamental para os alunos do 1° ciclo, a de 418 transformação, entendimento de que a sociedade e a vida de cada um é um 419 processo no qual a mudança é o elemento central, desta forma, as 420 modificações sociais e pessoais passam a ser percebidas como fatores 421 constituintes e estruturantes do sujeito e das relações sociais. 15 Termo ligado a uma política de localização, a partir do próprio corpo, implica diferença, Pacheco ( 2005) 15 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 422 O conceito de espaço deve ser entendido como resultado de uma 423 construção sociocultural num determinado momento histórico. Nesta dimensão, 424 espaço é concebido como representação da realidade identificando o que o 425 constitui, quem e como se vive nele. 426 O desenvolvimento da noção de espaço se relaciona à noção de 427 lugar, onde estão as referências pessoais e o sistema de valores, que 428 direcionam as diferentes formas de perceber e constituir a paisagem no espaço 429 geográfico. 430 A categoria lugar traduz os espaços com os quais as pessoas têm 431 vínculos mais afetivos e subjetivos, que racionais e objetivos: uma praça, onde 432 se brinca, a janela de onde se vê a rua, o alto de uma colina, de onde se avista 433 a cidade. 434 Dessa forma, a noção de “lugar” desenvolve-se na criança a partir 435 das experiências proporcionadas nos lugares de vivência e das comparações 436 estabelecidas com outros lugares. Daí a necessidade de abordar os locais de 437 moradia, a escola, a rua, estimulando as relações de afetividade e a educação 438 do olhar, para que a criança aprenda a caracterizar, relacionar, sistematizar as 439 informações e a vislumbrar possibilidades de transformações. 440 O termo “paisagem”, como categoria geográfica, está relacionado à 441 categoria “lugar”. A paisagem geográfica expressa as formas pelas quais os 442 diferentes grupos sociais se relacionam com os “lugares”. Berque (1998) afirma 443 que a paisagem geográfica existe na sua relação com um sujeito coletivo: a 444 sociedade que a produziu, que a reproduz e a transforma em função de certa 445 lógica. Segundo este autor, a paisagem é uma marca, pois expressa uma 446 civilização, mas também é uma matriz porque participa dos esquemas de 447 percepção, de concepção e de ação que simbolizam a relação de uma 448 sociedade com o espaço físico e social. 449 A sistematização da noção de espaço é construída mediante a ação 450 corporal da criança, a partir de ações concretas. O desenvolvimento da noção 451 espacial envolve gradativamente as ações de viver, perceber e conceber o 452 espaço. 16 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 453 O espaço físico é apreendido no movimento e deslocamento que 454 oportunizam percorrer e experimentá-lo. Através dos jogos e brincadeiras a 455 criança identifica, delimita e organiza-o, de acordo com os interesses e regras 456 estabelecidas, daí a relevância dos exercícios rítmicos e psicomotores, como 457 por exemplo: lançar objetos em diferentes distâncias e intensidade, passar 458 sobre, sob, à direita, à esquerda, perto, longe ou entre determinados objetos. 459 A vivência do espaço permite sua percepção e assimilação através 460 da observação, de modo que a criança de seis a oito anos socializa suas 461 percepções ao descrever trajetos que percorre de sua casa a outros locais, que 462 freqüenta continuamente, identificando os elementos paisagísticos, as 463 construções, ruas, praças, e outros. Através da observação de imagens 464 consegue localizar objetos (o jogo dos sete erros, por exemplo), deduzir 465 distâncias (perto, longe, aqui, acolá...). 466 Para apreensão dos diferentes tipos de localização e da linguagem 467 cartográfica, há um longo caminho a ser percorrido pela criança. Ao entrar na 468 educação formal, com seis anos, ela já dispõe de conhecimentos sobre 469 localização espacial. O papel da escola, nesse momento, é criar situações 470 através das quais possa ampliar e aprofundar essas noções, sempre a partir de 471 experiências concretas, possibilitando o desenvolvimento das relações 472 espaciais denominadas topológicas elementares, considerando determinados 473 pontos de referência provenientes de uma perspectiva política. 474 Quando a criança utiliza noções de “dentro”, “fora”, interior, etc. para 475 localizar pessoas e objetos, ela desenvolve as relações topológicas 476 elementares, estabelecidas no espaço próximo desconsiderando as distâncias, 477 as retas e os ângulos. Estas são relevantes, pois antecedem relações mais 478 complexas como a percepção espacial, por volta de seis a sete anos, quando a 479 criança estabelece relações de vizinhança, separação, ordem, envolvimento, 480 continuidade. Através deste processo, a criança localiza objetos ou 481 informações descentralizando as referências de si para utilizar outros 482 referenciais. 17 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 483 Ao utilizar as dimensões: em cima, embaixo, na frente, atrás, à 484 direita, à esquerda, a criança já está fazendo uso de outro tipo de relação que 485 varia conforme o ponto de vista do observador ou das referências adotadas. 486 São as relações projetivas. 487 Quando a criança descreve um espaço percorrido, do ponto de 488 saída ao ponto de chegada, enumerando os elementos constituintes, como no 489 esquema abaixo, ao retornar observa que altera a ordem, pois, mudou a 490 direção de sua observação, o seu ponto de vista. 491 casa – portão- sorveteria – parquinho – escola 492 493 494 Neste processo a criança, entre sete e oito anos, desenvolve noções 495 de conservação da posição dos elementos destacados um em relação ao 496 outro, correspondendo às relações espaciais projetivas, as quais permitem ao 497 aluno mapear o espaço com o qual se relaciona. Estas se constituem noções 498 importantes para que a criança compreenda e construa a representação ou 499 imagem do espaço em que se situa. 500 Nas localizações projetivas iniciais, o ponto de referência é a própria 501 criança; aos poucos, esse ponto de referência se desloca para outras pessoas 502 e objetos e ela consegue situar uns em relação aos outros. Uma das noções 503 fundamentais do espaço projetivo é a noção de direita e esquerda, que no seu 504 desenvolvimento dos cinco aos oito anos, aproximadamente, a criança 505 considera a direita e a esquerda apenas do seu ponto de vista( 506 PAGANELLI,1982). 507 Antes de representar, a criança percebe o seu espaço de ação e ao 508 representá-lo utiliza simbolos para codificá-lo16. Portanto, neste ciclo, é 509 imprescindível oportunizar atividades de orientação e localização utilizando o 510 corpo e outros elementos constituintes do espaço, que a criança vivencia, 16 Almeida e Passini (2006) 18 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 511 como ponto de referência, coordenação de ponto de vista, proporcionalidade, 512 conservação de forma e comprimento17. 513 Assim, um trabalho com mapa na sala de aula deve ser precedido 514 de um período em que a representação mental se forma, ou seja, em que 515 ocorre a dissociação entre o objeto e sua representação, e em que se 516 constroem, gradativamente, as relações espaciais e a própria consciência do 517 mundo físico e social. 518 No primeiro ciclo o aluno deve ser considerado como um mapeador, 519 ou seja, ele próprio escolhe e convenciona os símbolos através dos quais 520 representará a realidade física ou social. Nesse caso, ele é, também, um 521 codificador. Só depois desta etapa, o aluno pode tornar-se um usuário, aquele 522 que lê e interpreta mapas elaborados por outros, passando a ser, também, um 523 decodificador. 524 Em conjunto com as técnicas de alfabetização cartográfica, existem 525 múltiplas estratégias de ensino que contribuem para tornar a aprendizagem de 526 geografia mais prazerosa. As atividades fora da sala de aula são fundamentais 527 para que os alunos possam perceber por meio da observação, coleta, análise e 528 registro das informações, as configurações do espaço geográfico. O estudo do 529 meio é um procedimento de pesquisa muito rico e importante para o processo 530 de aprendizagem, porque permite ampliar o conhecimento da realidade física, 531 social e cultural, levando o aluno a observar desde o seu local de vivência até 532 locais espacial e temporalmente distantes. 533 O trabalho com a educação religiosa permeia as demais áreas do 534 conhecimento, uma vez que a religiosidade é considerada um fenômeno 535 essencialmente humano, que se traduz por crenças, atitudes e costumes 536 característicos, nos quais podem-se observar tanto o acontecimento, quanto 537 sua significação, que serão traduzidas em manifestações culturais e refletidas 538 pelo simbólico de uma sociedade ou comunidade. 539 Para realização de um trabalho exitoso, três etapas são 540 importantes: o planejamento, a realização do estudo ou pesquisa do aluno no 17 Almeida e Passini (2006) 19 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 541 meio sociocultural e ambiental e as atividades pós-estudo ou pesquisa. No 542 planejamento é estabelecido o lugar e os objetivos do estudo ou pesquisa e 543 levantadas todas as informações bibliográficas sobre o local/tema em estudo. 544 Nesse momento, é possível criar roteiros de observação e entrevista. Na fase 545 de realização, as informações serão coletadas e, na sequência, na fase de pós- 546 estudo do meio, as informações serão organizadas, debatidas, analisadas e, de 547 preferência, socializadas. 548 Os textos literários de diversos gêneros, a música e obras de arte 549 constituem um caminho interessante para viabilizar a articulação dos conceitos 550 das ciências humanas e a arte na construção do conhecimento. A partir do 551 experimento de um conjunto de atividades enfocadas nas noções básicas 552 conceituais e sua percepção, é possível ampliar a capacidade de apreensão 553 da espacialidade e temporalidade, paisagem geográfica, 554 conhecimento das manifestações culturais locais, nacionais e internacionais. bem como o 555 O jornal também é um instrumento fundamental para se trabalhar os 556 conhecimentos históricos, geográficos, bem como a diversidade cultural e 557 religiosa. Os alunos devem procurar trazer para a aula recortes de jornais ou 558 revistas com notícias sobre o tema em estudo, previamente trabalhado pelo 559 professor para que o grupo tenha um referencial e possa selecionar melhor as 560 notícias. A coleção de notícias deve ser lida buscando-se analisar os pontos 561 contraditórios e exercitar, oralmente, a defesa ou a crítica dos fatos, sempre 562 apontando alternativas de solução. O trabalho com imagens de vídeo, de filme 563 e da televisão pode ser muito rico se o professor souber aproveitá-lo para 564 proporcionar a aprendizagem dos alunos ao produzir vários tipos de textos, 565 gerados pelos vídeos - poesias, narrativas, relatórios, e outros. 566 Em síntese, são múltiplas as possibilidades para construir o 567 conhecimento utilizando as múltiplas linguagens: gestual, corporal, oral, escrita, 568 gráfica, musical; textos narrativos, poéticos, informativos, mapas, fotos, 569 imagens de satélite, gravuras, documentos de época, desenhos, gráficos e 570 tabelas etc., transformando a aula em momentos lúdicos e prazerosos. 571 20 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 572 573 Considerando os aspectos imprescindíveis a cada componente 574 curricular o objetivo da Área das Ciências Humanas e suas tecnologias 575 consiste em possibilitar condições para que ao final do ciclo o aluno tenha 576 desenvolvido capacidades de: • Perceber que os seres humanos se organizam em diferentes 577 578 grupos sociais; 579 • Reconhecer as diversas identidades e organizações (família, 580 turma, escola, comunidade, bairro, município, estados e países), percebendo 581 semelhanças e diferenças; 582 • Identificar e contextualizar o espaço geográfico (lugar e paisagem) 583 e o tempo social (duração e sucessão ou ordenação), tomando a si próprio 584 como referência; • Perceber as características específicas e os hábitos cotidianos 585 586 como elementos constitutivos de uma determinada cultura. • Identificar e entender as transformações sociais, espaciais, 587 588 culturais e históricas, constituídas a partir da ação do ser humano; • Reconhecer 589 590 em seu cotidiano referenciais espaciais de localização, orientação e distância, de modo a deslocar-se com autonomia; • Representar os lugares onde vive e se relaciona – elementos 591 592 constitutivos da manifestação da realidade, importantes 593 alfabetização cartográfica. • Compreender 594 e respeitar os diferentes na construção da significados da 595 religiosidade, traduzido por crenças, atitudes e costumes, manifestados 596 culturalmente e refletidas simbolicamente por diferentes grupos sociais. 21 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS Eixos Articuladores Capacidades Descritores Reconhecer as formas e regras de convívio social nos diiferentes grupos culturais e religiosos que compõe a sociedade Compreender as manifestações culturais como elementos de construção da identidade Cultura e Diversidade Desenvolver/construir de ética e cidadania noções Compreender a organização política da sociedade a partir de referenciais do contexto em que se insere. Compreender as manifestações culturais e religiosas como conjunto de significado produzido pela ação do grupo social Estabelecer relação comparando semelhanças e diferenças entre os sujeitos do seu grupo social de convívio, valorizando a identidade cultural e social; Reconhecer e respeitar a diversidade de hábitos culturais vivenciados por sua turma; Identificar em imagens populações tradicionais e elementos de sua cultura e conhecimento; Perceber semelhanças e diferenças culturais entre sua comunidade e outras comunidades, reconhecendo e valorizando a identidade cultural e social; Reconhecer e respeitar diferentes formas de organização das famílias; Identificar bens materiais do patrimônio histórico-cultural, de sua cultura e de outros grupos; Identificar, em imagens, pela forma de vestir e de se alimentar, diferenças culturais em cotidianos de crianças.religião, e demonstrar interesse em conhecer outras formas de religiosidade; Demonstrar atitudes de respeito à expressão e à diversidade cultural religiosa no município e no Estado de Mato Grosso; Interpretar diferentes manifestações culturais e religiosas por meio da leitura de: textos narrativos, poéticos, informativos, mapas, fotos, gravuras, obras de arte, música, cinema, desenhos, gráficos e tabelas entre outros; Respeitar e valorizar as diferenças culturais do povo brasileiro, 22 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS principalmente as herdadas dos africanos e dos indígenas, em comentários e desenhos; Construir Identidade identidade conceitos e desenvolvendo grupo de social, noções de Identificar as brincadeiras preferidas e comparar com as brincadeiras de seus pais e familiares, fazendo a representação gráfica; Estabelecer relação comparando semelhanças e diferenças entre os demais sujeitos sociais de convívio, expressando-se por meio da linguagem musical, gestual, corporal e oral; respeito às diferenças sócioculturais e religiosas. Compreender o tempo como construção sociocultural Temporalidade e espacialidade Estabelecer relações entre tempo, espaço geográfico e modos de vida Estabelecer relações temporais buscando referenciar no tempo os acontecimentos individuais e Descrever situações que envolvem as relações espaço- temporais vivenciadas no cotidiano estabelecendo idéias de ordem e sucessão; Identificar modos de organização social observando o tempo e espaço em que ocorrem; Estabelecer aproximações entre as experiências vivenciadas e as experiências semelhantes, em outros tempos, em outros espaços e em outras culturas, Representar oralmente ou por imagens os conhecimentos que tem sobre o lugar em que vive, sobre outros lugares e a relação entre eles;. coletivos Reconhecer instrumentos de marcação e datação do tempo, tais como calendários, relógio, linhas do tempo, e outros Registrar acontecimentos Observar em sua própria comunidade as permanência e mudança no cotidiano: ontem, hoje, amanhã, percebendo a duração das atividades rotineiras e reconhecendo os agentes dessas mudanças; Relacionar-se com nomenclaturas próprias e com diferentes formas de marcação temporal, compreendendo outras dimensões culturais como tempo virtual e a idéia de simultaneidade. 23 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS Compreender os registros como instrumentos fundamentais na socialização da memória social e das diversas experiências humanas no tempo Iniciar-se na produção de registros de conteúdo histórico, em suas variadas formas, como textos escritos, desenhos, mapas, roteiros, fotografia etc Conhecer diferentes fontes históricas, de naturezas diversas e que se apresentem por meio de linguagens e mídias variadas, iniciando-se em sua leitura e interpretação. Utilizar o próprio corpo como ponto ao explorar conceitos como longe, perto, entre, ao lado, em cima, em baixo. Reconhecer as relações existentes entre o mundo urbano, rural e rurbano, e as interações que a sua coletividade estabelece com coletividades de outros lugares; Paisagem e Lugar Construir noções sobre o conceito de paisagem e lugar como elementos constituintes da identidade cultural (local e regional) Reconhecer sua cidade e identificar seus traçados: ruas, viadutos, esquinas, avenidas, bairros, centro, sinais de trânsito, meios de transporte urbano; Saber seu endereço e reconhecer a importância social da moradia; Identificar imagens do campo e da cidade; Descrever elementos de paisagens urbanas, rurais e rurbano; Valorizar e respeitar a cultura urbana, rural e rurbana; Representar oralmente ou por imagens os conhecimentos que tem sobre o lugar em que vive, sobre outros lugares e a relação entre eles; Compreender as transformações ocorridas ao longo do tempo no meio ambiente, como ação tanto do homem, como da natureza Identificar elementos constituinte da paisagem local 24 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS e regional: relevo, hidrografia, vegetação, fauna, população, outros. Conhecer as relações sociais municipais existentes entre o mundo urbano, rural e rurbano. Estabelecer relações topológicas elementares, localizando elementos no espaço geográfico a partir de diferentes pontos de referência. Alfabetização cartográfica Desenvolver noções de escala de mapa, lateralidade e localização no espaço geográfico. Demonstrar noções espaciais topológicas, projetivas e euclidianas. utilizar desenhos (espaço bidimensional) ao representar conceitos como longe, perto, entre, ao lado, em cima, em baixo; Utilizar referenciais espaciais: ao lado de esquerda, direita, sobre, sob, atrás, à frente, ao lado, entre, etc. estabelecendo relações a partir do próprio corpo; Observar o espaço real, olhando as pessoas, e objetos, imagem tridimensional; explorando a Explorar a imagem do espaço bidimensional, através do desenho, recorte e composição; 25 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS SUGESTÕES PARA LEITURA ALMEIDA, Rosângela Doin de. (org) Cartografia Escolar. São Paulo: Contexto, 2007. ALMEIDA, Rosângela Doin de. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. São Paulo, Contexto, 2001. ALMEIDA, Rosângela Doin de e PASSINI, Elza. O Espaço Geográfico Ensino e Representação. São Paulo: Contexto, 1994. BRASIL. Decreto Lei 10.639/03. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Brasília:Ministério da educação, 2003. CARLOS, Ana Fani A. (Org.). Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999. CASTROGIOVANNI, A. C. (Org.). Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000. CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e práticas de ensino. Goiânia. Editora Alternativa, 2002. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e africana. Brasília: ministério da Educação, 2004. GOODSON, Ivor F. Currículo: teoria e história. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. São Paulo: DP&A, 1987. PAGANELLI Tomoko Iyda et al. Para ensinar e aprender geografia. São Paulo: Cortez, 2007. Artigos eletrônicos http://br.geocities.com/revistatamoios/tam_resum_0501.html#item2 – Artigo de autoria de Carmen Lúcia Vidal Pérez, intitulado “Ler o Espaço para Compreender o Mundo: algumas notas sobre a função alfabetizadora da Geografia”. 26 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Rosangela D de. PASSINI, Elza Y.O espaço Geográfico Ensino e Representação. SP, 15ª Ed.2006 BATISTA, Antônio Augusto Gomes, et al. Coleção Instrumentos da Alfabetização. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005. BELO HORIZONTE (MG). Secretaria Municipal de Educação. Proposição Curricular - Ensino Fundamental – 1º. Ciclo 2008. 184p. (Texto Preliminar). Disponível em: http://portal1.pbh.gov.br/pbh/pgVisualizaNoticias.html?query=noticia.cod_noticia=7846 BELO HORIZONTE (MG). Secretaria Municipal de Educação. Proposição Curricular – Ensino Fundamental – 2º. Ciclo, 2008. 198p. (Texto Preliminar). Disponível em: http://portal1.pbh.gov.br/pbh/pgVisualizaNoticias.html?query=noticia.cod_noticia=7846 BRASIL. FORUM Permanente do Ensino Religioso. Parâmetros Curriculares Nacionais- Ensino Religioso. SP. 8ª Ed. 2006 MATO GROSSO, Secretaria de Estado de Educação. Escola ciclada de Mato Grosso: novos tempos e espaços para ensinar – aprender a sentir, ser e fazer. Cuiabá: Seduc, 2001. 2ª. Ed. MATO GROSSO, Secretaria de Estado de Educação. Ciclo básico de alfabetizaçõ, Cuiabá: Seduc, 1998. PACHECO, José A. Escritos curricularess.São Paulo: Cortez, 2005 SOARES, Magda Becker. Letramento/alfabetismo. Pedagógica, v.2, n..10, jul./ago. 1996. p.83-89. Presença 27 1 2 Ciências Humanas e suas Tecnologias no processo de 3 letramento no 2º Ciclo de Formação Humana 4 5 A Área de Ciências Humanas tem como objeto de ensino o ser 6 humano em suas relações no/com tempo e no espaço, considerando os 7 conhecimentos relacionados à Educação Religiosa, História e Geografia e suas 8 Tecnologias articulados ao processo de alfabetização e letramento. No 2º ciclo 9 a área é contextualizada observando as características do educando pré- 10 adolescente que já apresenta possibilidades para desenvolver noções sobre 11 conceitos científicos, assim pretende-se que compreenda e reflita sobre 12 situações, temas, problemas e objetos de estudo que transcendam seu 13 cotidiano imediato, por meio da comparação entre diferentes tempos históricos 14 e espaços geográficos materializados em paisagens, lugares, regiões e 15 territórios. 16 Os pré-adolescentes experimentam situações da infância ainda 17 presentes, que vão, aos poucos, dando lugar a outras indagações, pois, este é 18 um período em que os interesses modificam ampliando-se e os educandos já 19 apresentam estratégias diferenciadas para lidar com as situações de vida. Com 20 maior autonomia em relação à leitura e à escrita, as possibilidades de 21 aprendizagem dos alunos ampliam-se permitindo o uso crescente dos 22 procedimentos de observação, descrição, explicação e representação, 23 construindo compreensões mais complexas e realizando analogias e sínteses 24 mais elaboradas18. Dessa forma, essa área amplia os horizontes e 25 conhecimentos do educando tomando como referência o contexto em que está 26 inserido para a ampliação da compreensão das relações sociais e ambientais. Os 27 conhecimentos históricos e geográficos devem ser 28 compreendidos em diferentes escalas geográficas: regional - Estado de Mato 29 Grosso - nacional e global e em diferentes temporalidades, promovendo a 18 Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), 28 30 compreensão ampla e crítica sobre a realidade, instigando posicionamentos 31 propositivos perante questões relativas a condição de vida da coletividade, ao 32 meio ambiente, as noções de ética e cidadania. 33 Assim, os estudos sobre o processo histórico, contemporâneo e do 34 passado, vividos por diferentes coletividades em suas interferências na 35 natureza, suas manifestações culturais, seus costumes, suas formas de 36 organização político-administrativa, modos de produção e de uso de 37 tecnologias tornam-se objeto de estudo possibilitando a construção e 38 reconstrução de conhecimentos construídos de forma processual ao longo do 39 ensino fundamental, desta forma é necessário dar prosseguimento de 40 discussões problematizando situações que se articulam na esfera do município, 41 da região e do Estado, nas quais os alunos se integram. 42 O conhecimento de diferentes grupos sociais em diferentes tempos, 43 tendo como realidade espacial a cidade, a região e o estado; possibilita a 44 percepção de que o ambiente pode influenciar o modo de vida das pessoas e 45 que a cidade, a região e o estado têm sua identidade construída 46 historicamente; além de permitir a reflexão das manifestações culturais 47 regionais, e o conhecimento sobre a história e cultura afro-descendentes (Lei 48 10.639/03) e a história da cultura indígena brasileira (Lei 11.645/08). 49 Compreender como se organiza o espaço geográfico significa 50 aprender a pensar este espaço. Mas o que é pensar o espaço? Pressupõe 51 entendê-lo como uma rede de relações sociais, econômicas, políticas e 52 culturais, aparentemente invisíveis, buscando compreender a dinâmica e 53 complexidade da vida em sociedade. O espaço urbano, rural e rurbano 54 19 deve ser compreendido no 55 contexto das interações mato-grossenses com o país e o mundo. As interações 56 destes espaços não se resumem apenas no conjunto de atividades 57 agropecuárias e agroindustriais, suas dimensões são sociais, culturais e 58 ambientais. O meio rural, à semelhança do que ocorre em outras partes do 19 . O conceito de “rurbano” compreende as áreas rurais que não estão totalmente urbanizadas, apresentando características tanto urbanas quanto rurais (SILVA, 2000). 29 59 Brasil e do mundo, mostra uma crescente diversificação de atividades agrícolas 60 e não agrícolas, como a prestação de serviços (pessoais, de lazer ou auxiliares 61 das atividades econômicas), o comércio e a indústria, que vem respondendo 62 cada vez mais pela nova dinâmica populacional. Estes espaços devem enfocados de modo que o aluno perceba a si, 63 64 sua família na dinâmica dos múltiplos modos de vida dos grupos sociais: 65 moradores das periferias e dos condomínios de luxo; latifundiários e 66 assalariados do meio rural, quilombolas, indígenas, populações ribeirinhas, 67 entre outros. Nesse sentido, a análise da temática deve focar as dinâmicas das 68 transformações caracterizadas pelas interações de fatores naturais, sociais, 69 econômicos e políticos e seus impactos positivos e/ou negativos no meio 70 ambiente. 71 Quando o aluno observa e analisa a organização de uma rua, de 72 uma cidade ou de uma região, ele vai compreendendo que nesses espaços 73 está presente, concretamente, a própria vida social. Uma rede de relações 74 sociais, econômicas, políticas e culturais, aparentemente invisível, aparece 75 através da organização dos espaços. 76 Assim, saber pensar o espaço é saber identificar essa rede de 77 relações; é a percepção de que um espaço está sujeito a relações locais, 78 regionais, nacionais e internacionais, podendo situar-se nelas de forma 79 centralizada ou marginalizada. É também, situá-lo dentro de uma totalidade 80 físico-territorial, ou, em outras palavras, é saber inserir espaços menores em 81 espaços cada vez maiores. Dessa forma, analisar a organização do espaço 82 geográfico produzido pelos seres humanos em sociedade é identificar as 83 relações sociais que estruturaram este espaço (RUA, 1993). 84 O estudo sobre a representação do espaço e a alfabetização 85 cartográfica, segue avançando no desenvolvimento das capacidades, assim, se 86 no primeiro ciclo o aluno vivencia atividades como mapeador (elaborando e 87 criando seus próprios mapas), entre 8 e 11 anos, aproximadamente, o aluno já 88 consegue considerar o ponto de vista do outro, colocado à sua frente e entre 89 11 aos 12 anos, aproximadamente, já percebe que os objetos estão à direita e 30 90 à esquerda uns dos outros, ao mesmo tempo em que estão posicionados em 91 relação às pessoas (PAGANELLI,1982). 92 Quando a criança localiza objetos ou pessoas, considerando um 93 sistema de referência fixo e usando medidas de distância, ela está aplicando 94 outro tipo de relações espaciais: são as relações euclidianas. A construção de 95 um sistema de coordenadas vertical e horizontal corresponde ao ponto de 96 chegada da construção psicológica do espaço euclidiano e é atingida 97 geralmente pelas crianças entre 9 e 11 anos de idade. Por isso, sugere-se não 98 ensinar “pontos cardeais” no primeiro ciclo, pois no máximo vai ocorrer a 99 memorização e não o entendimento dessas noções. 100 No processo de alfabetização cartográfica no segundo ciclo, o aluno 101 passa a ser decodificador, ou seja, passa a trabalhar com mapas elaborados 102 por outros. Pois, já desenvolve as noções espaciais, ou seja: o entendimento 103 das direções cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste); a leitura de mapas; a 104 compreensão das coordenadas geográficas; dos fusos horários; da escala de 105 mapas, e outros. 106 Esta atividade contribui para o desenvolvimento das operações 107 lógicas do pensamento, pois, através dela, tem-se a possibilidade de: identificar 108 a posição de lugares, áreas e direções, calcular distâncias; analisar a 109 distribuição de dados físico-territoriais, populacionais, socioeconômicos, etc. 110 A leitura de mapas constitui instrumental importante para o 111 conhecimento das relações humanas no/com o espaço físico, que devem ser 112 mediadas considerando a subjetividade pessoal nas análises e interpretações 113 dos fenômenos e relações sociais, ultrapassando as técnicas de enumeração 114 ou descrição de fatos, fenômenos e acontecimentos desarticulados que se 115 esgotam em si mesmos. 116 A alfabetização cartográfica, deve oportunizar experiências nas 117 quais o aluno possa , ele próprio, representar a realidade através da 118 construção de maquetes que permitem a visualização tridimensional dos 119 fenômenos, e proporcionam a compreensão de conceitos que exigem maior 120 abstração e raciocino e possibilita a aprendizagem para além da memorização. 31 121 O professor deve possibilitar situações para que o aluno desenvolva 122 a capacidade de analisar criticamente os fatos da natureza e da sociedade, 123 estabelecer relações, analogias, generalizações, enfim, realizar análises com 124 argumentações, próprias da sua idade, priorizando as relações sociais e uma 125 leitura crítica do mundo vivido, construindo conhecimentos. 126 Dentre as diferentes formas de expressão na relação sócio-cultural 127 entre os seres humanos e destes com o mundo configura-se a religião20, meio 128 pelo qual os seres humanos dão sentido à sua existencia e relacionam-se 129 continuamente com o transcedental. É necessário que o aluno do 2º ciclo 130 compreenda a religiosidade como um fenômeno essencialmente humano que 131 se traduz por atitudes e costumes caracteristicos, nos quais podem-se observar 132 tanto o acontecimento, quanto sua significação, que serão traduzidas em 133 manifestações culturais e refletidas pelo simbólico de uma sociedade ou 134 comunidade. A Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias tem como 135 136 objetivos: 137 • Reconhecer e respeitar os grupos sociais do Brasil como 138 pluriétnicos e multiculturais, bem como compreender as contribuições das 139 diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro. • Analisar 140 141 conteúdos regionais em diferentes escalas, compreendendo as relações entre o local e o global. • Ccompreender o papel da sociedade e da natureza na construção 142 143 os de diversas paisagens, compreendendo as relações entre o local e o global. • Ampliar 144 a visão de senso comum de mundo para o 145 desenvolvimento de uma observação atenta do seu entorno, identificando as 146 relações sociais, econômicas, políticas e culturais em dimensões múltiplas e 147 diferenciadas. 20 sistema comum de crenças e práticas relativas a seres sobrehumanos dentro de universos históricos e culturais 32 148 • Compreender as relações do passado como base para entender o 149 presente e abrir perspectivas futuras, reconhecendo as semelhanças e 150 diferenças nos modos como os diferentes grupos sociais se apropriam e 151 transformam a natureza, por meio das relações de trabalho, dos hábitos 152 cotidianos, das formas de se expressar e do lazer. • Saber 153 utilizar os procedimentos básicos de observação, 154 descrição, registro, comparação, análise e síntese na coleta e tratamento de 155 informações de diferentes fontes. • Perceber e entender os processos de transformação de si próprio 156 157 e do seu entorno social e demais espaços físicos e sociais. 158 • Compreender o papel das tecnologias, da informação, da 159 comunicação e dos transportes, na configuração das paisagens e na 160 estruturação da vida em sociedade. 161 • Dominar a linguagem gráfica para representar e interpretar 162 informações em linguagem cartográfica, observando a necessidade de 163 indicações de direção, distância, orientação e proporção para garantir a 164 legibilidade da informação. 165 166 • Promover um espírito de fraternidade e tolerância, de respeito ao outro e às diferentes culturas religiosas. 33 167 168 SUGESTÕES DE LEITURA 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 ALMEIDA, Rosângela Doin de. (org) Cartografia Escolar. São Paulo: Contexto, 2007. ALMEIDA, Rosângela Doin de. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. São Paulo, Contexto, 2001. ALMEIDA, Rosângela Doin de e PASSINI, Elza. O Espaço Geográfico Ensino e Representação. São Paulo: Contexto, 1994. BRASIL. Decreto Lei 10.639/03. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Brasília:Ministério da educação, 2003. CARLOS, Ana Fani A. (Org.). Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999. CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos et al (orgs). Geografia em sala de aula. Práticas e reflexões. PortoAlegre: Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Porto Alegre, 1998. CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, Escola e construção de conhecimentos. Campinas, SP:Papirus. 1998. CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e práticas de ensino. Goiânia. Editora Alternativa, 2002. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e africana. Brasília: ministério da Educação, 2004. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo: Peirópolis, 2002. GEERTZ, Cliford. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. GOODSON, Ivor F. Currículo: teoria e história. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. 34 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. São Paulo: DP&A, 1987. MARTINELLI, Marcello. Mapas da Geografia e Cartografia Temática. São Paulo: Contexto, 2003. HELENE,M.Elisa M.;BICUDO, Marcelo B.Sociedades sustentáveis.São Paulo: Scipione,1994. MISSÃO TERRA. O resgate do planeta. São Paulo: Editora Melhoramentos. 1994. PACHAMAMA: Missão Terra 2. Ações para salvar o planeta. São Paulo: Melhoramentos. 2001. PAGANELLI Tomoko Iyda et al. Para ensinar e aprender geografia. São Paulo: Cortez, 2007. PETTY, Kate e WOOD, Jakki. Viajando em um balão. Mapas e caminhos. São Paulo: Editora Callis. PETTY, Kate e WOOD, Jakki. Nosso globo, nosso mundo. São Paulo: Editora Callis. PIETROCOLLA, Luci Gati. Sociedade de consumo. 2ª. Ed. São Paulo: Global, 1996. RICCI, Cláudia. Pesquisa como ensino; textos de apoio, propostas de trabalho. Belo Horizonte:Autêntica, 2007. SCHÄFFER, Neiva Otero et al. Um globo em suas mãos. Práticas para a sala de aula. Porto Alegre:Editora da UFRGS, 2. ed. 2005. . SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. 4.ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2002. SIMIELLI, Maria Elena. Primeiros Mapas: como entender e construir. 8 volumes.São Paulo: Ática, 1996. Artigos eletrônicos http://br.geocities.com/revistatamoios/tam_resum_0501.html#item2 – Artigo de autoria de Carmen Lúcia Vidal Pérez, intitulado “Ler o Espaço para Compreender o Mundo: algumas notas sobre a função alfabetizadora da Geografia”. 35 Eixos Articuladores Capacidades Descritores Construir conceitos de identidade e grupo desenvolvendo atitudes de respeito às diferenças; social, Reconhecer as características identitárias dos diversos grupos – cidade, região, estado – percebendo semelhanças e diferenças; Identidade Reconhecer-se como sujeito de pertencimento histórico e sociocultural que interage e intervem em diferentes grupos. Reconhecer a si e ao grupo de convívio como sujeitos da História, além do reconhecimento de outros grupos em sua historicidade; Identificar as características dos diversos grupos sociais, nos diferentes tempos e espaços – hábitos, costumes, manifestações artísticas e sociais; Reconhecer as formas e regras de convívio social nos diversos grupos, culturais e religiosos, que compõe a sociedade; Identificar e localizar a distribuição das populações tradicionais no território matogrossense e brasileiro, reconhecendo seus direitos de cidadania; Reconhecer as práticas culturais das populações tradicionais (quilombolas, indígenas, caiçaras, entre outros); Compreender o fenômeno religioso na construção da identidade do ser humano no contexto sócio-histórico e cultural mato-grossense e brasileiro. Compreender a historicidade presente em aspectos diversos 36 da vida social, promovendo o processo de desnaturalização do mundo à sua volta; Temporalidades e espacialidades Reconhecer lugares e tempos de vivencias, suas representações no processo de formação e organização nos aspectos (culturais, políticos, econômicos, éticos e religiosos) em diversos âmbitos regionais (município, Estado, pais). Compreender o tempo cronológico, utilizando instrumentos de marcação e datação do tempo passado, presente, futuro, sucessão, simultaneidade, mudanças, permanências, semelhanças e diferenças; Compreender o tempo como construção social e a temporalidade histórica em suas várias dimensões: cronológica, de durações e de diferentes ritmos de tempo vivenciados socialmente; reconhecendo outras dimensões culturais como, por exemplo, o tempo virtual; Desenvolver a compreensão do significado do fenômeno religioso na construção da identidade do ser humano no contexto sócio-histórico e cultural mato-grossense e brasileiro. Trabalho, Cultura e sociedade Estabelecer e compreender as relações entre trabalho e a produção da cultura e transformação da sociedade, em seu processo de manifestação humana. Distinguir práticas sociais e bens culturais como construções coletivas, que resultam das experiências de diferentes grupos sociais espacialmente situados, por meio dos tempos; Analisar a historicidade presente em aspectos diversos da vida social, promovendo o processo de desnaturalização do mundo à sua volta; Demonstrar compreensões de que o saber histórico é um processo de construção permeado de conflitos, relações de poder, abordagens e pontos de vista diferenciados e envolve os sujeitos em suas temporalidades; Compreender a luta das populações tradicionais em defesa de seus direitos e de da própria de sua cultura; Demonstrar atitudes de respeito à expressão e à diversidade cultural religiosa na cidade, no Estado de Mato Grosso, no 37 Brasil e no proselitismo; Analisar e compreender os processos históricos e espaciais de ocupação, formação e transformação do território mato-grossense, tendo em vista as relações de trabalho, a incorporação de tecnologias e a qualidade de vida da população. Natureza e sociedade: Compreender as interações entre ação humana com o meio natural, para que o aluno possa perceber-se como sujeito nesse processo com responsabilidade em relação ao meio ambiente. mundo, vedadas quaisquer formas de Reconhecer, valorizar e respeitar a sociodiversidade como patrimônio cultural dos seres humanos; Identificar as paisagens dos domínios morfoclimáticos brasileiros, reconhecendo sua tropicalidade e a forma de territorialização da natureza pelas culturas locais; Compreender os processos de interação dos seres humanos e meio ambiente, conhecendo os impactos ambientais que resultam desta interação, desenvolvendo atitudes com consciência ecológica Identificar a ação da sociedade e da natureza na construção das diferentes paisagens; Entender a problemática socioambiental como decorrência das relações entre sociedade e natureza, e das relações entre as pessoas, sob determinadas formas de organização socioespacial; A construção do espaço geográfico, histórico e cultural de Mato Grosso Identificar e comparar características de seu entorno local: o clima, as características da superfície e as atividades exercidas por seus habitantes que envolvam relações espaciais e ambientais; Participar de discussões e ações acerca dos limites de uso dos bens naturais pela sociedade; Processos de formação histórico- Compreender os processos de formação socioeconômica, cultural e Compreender a relação entre o crescimento urbano e as mudanças na vida da cidade e do campo; 38 social e econômica das regiões brasileiras territorial do Brasil e sua regionalização Relacionar diferentes tipos de atividades humanas em sua cidade, em regiões rurais e associá-las com outros lugares; Identificar os problemas ambientais relacionados à formação histórica do município, da região, do Estado Identificar a relação existente entre a cultura e ações sociais presente em uma formação socioeconômica; Descrever as relações campo e cidade, tendo como referência o lugar em que vive e o espaço brasileiro; Compreender que os produtos agropecuários ou industrializados e outros são provenientes de diferentes regiões e que chegam ao nosso cotidiano pela interligação dos lugares através da rede de transportes; Comparar diferentes lugares do planeta Terra, em textos e em imagens, tendo como referência o seu lugar no mundo; Comparar diferentes modelos de ocupação urbana e rural; Interpretar, nas paisagens rurais e urbanas, a espacialidade socialmente construída e as múltiplas temporalidades que elas contêm; Conhecer as relações existentes entre o mundo urbano, rural e rurbano e as interações que a sua coletividade estabelece com coletividades de outros lugares. Identificar as atividades econômicas envolvidas nos produtos de seu cotidiano: comercialização, indústria, agricultura, pecuária e serviços; Problematizar e arguir sobre práticas relacionadas ao acondicionamento e transporte de produtos, ao reaproveitamento de materiais e à coleta seletiva de lixo; 39 Argumentar sobre os impactos que o estilo de vida e os hábitos de consumo exercem sobre os ecossistemas naturais, demonstrando proposições de ações de interventivas; Conhecer e discutir a interdependência entre os elementos naturais; Identificar nas paisagens da cidade e do campo os arranjos que explicam o lugar, o território e o tempo em relação à qualidade de vida e à justiça social; Problematizar os valores que têm norteado os padrões de produção e de consumo na sociedade atual; Problematizar a sociedade de consumo e o esbanjamento dos recursos naturais, estabelecendo relação entre consumismo e desperdício; Relacionar os atuais padrões de produção e consumo insustentáveis com os tipos de poluição (ar, água, solo), o aquecimento do planeta (efeito estufa), o lixo e as desigualdades sociais; Compreender a dimensão social da relação entre sociedade e natureza e os problemas socioambientais decorrentes do uso/abuso dos bens naturais pela sociedade urbanoindustrial. Propor projetos de intervenção na realidade socioespacial que envolvam ações de conservação das paisagens urbanas e rurais. Propor atitudes conservacionistas em relação aos resíduos sólidos, ao saneamento básico, ao abastecimento de água, 40 à produção de alimentos, às áreas de lazer e aos bens públicos do patrimônio comum; Participar de discussões e ações acerca dos limites de uso dos bens naturais pela sociedade; Alfabetização cartográfica Compreender e representar códigos e símbolos expressos em mapas, gráficos, textos, imagens, esquemas, croquis, tabelas e diagramas. Usar a construção de maquetes para representar diferentes fenômenos da dinâmica terrestre e das realidades socioespaciais. Ler mapas temáticos a partir de indicadores econômicos e Sociais, em mapas temáticos; 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Rosangela D de. PASSINI, Elza Y.O espaço Geográfico Ensino e Representação. SP, 15ª Ed.2006 BATISTA, Antônio Augusto Gomes, et al. Coleção Instrumentos da Alfabetização. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005. BELO HORIZONTE (MG). Secretaria Municipal de Educação. Proposição Curricular - Ensino Fundamental – 1º. Ciclo 2008. 184p. (Texto Preliminar). Disponível em: http://portal1.pbh.gov.br/pbh/pgVisualizaNoticias.html?query=noticia.cod_noticia=7846 BELO HORIZONTE (MG). Secretaria Municipal de Educação. Proposição Curricular – Ensino Fundamental – 2º. Ciclo, 2008. 198p. (Texto Preliminar). Disponível em: http://portal1.pbh.gov.br/pbh/pgVisualizaNoticias.html?query=noticia.cod_noticia=7846 BRASIL. FORUM Permanente do Ensino Religioso. Parâmetros Curriculares Nacionais- Ensino Religioso. SP. 8ª Ed. 2006 MATO GROSSO, Secretaria de Estado de Educação. Escola ciclada de Mato Grosso: novos tempos e espaços para ensinar – aprender a sentir, ser e fazer. Cuiabá: Seduc, 2001. 2ª. Ed. MATO GROSSO, Secretaria de Estado de Educação. Ciclo básico de alfabetizaçõ, Cuiabá: Seduc, 1998. PACHECO, José A. Escritos curricularess.São Paulo: Cortez, 2005 SOARES, Magda Becker. Letramento/alfabetismo. Pedagógica, v.2, n..10, jul./ago. 1996. p.83-89. Presença 42 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS Ciências Humanas e suas Tecnologias no 3º ciclo 1 2 3 No 3º ciclo, a área de Ciências Humanas busca construir 4 coletivamente instrumentos para o entendimento e a intervenção na realidade 5 social. Por meio dela, é possível compreender como as sociedades interagem 6 com a natureza na construção das territorialidades e do espaço geográfico 7 assim como perceber as relações do passado com o presente, nos diferentes 8 momentos históricos. 9 O adolescente do 3º ciclo de formação já têm as condições 10 cognitivas para expandir o grau de complexidade de suas inferências, 11 conjecturas e análises, elaborando pontos de vista próprios sobre a realidade 12 que o cerca. É chegado o momento, portanto, de acentuar as ações 13 pedagógicas voltadas para o exercício da crítica, da reflexão e da formulação 14 de juízos autônomos. 15 Às ciências humanas cabe a abordagem dos fenômenos sociais de 16 forma a articulá-los em suas generalidades e singularidades, numa perspectiva 17 histórica e espacial sem, contudo, perder de vista a realidade em que o aluno 18 vive. Neste sentido, os aspectos relacionados às identidades geopolíticas 19 brasileiras e internacionais, juntamente com o processo de globalização, 20 tornam-se objetos de estudo fundamentais para que o aluno possa 21 compreender o mundo contemporâneo. 22 Da mesma forma, são objetos de estudo a presença e as influências 23 ocasionadas pelo atual desenvolvimento tecnológico sobre a natureza, a 24 produção de bens e de comportamentos na esfera privada e social, 25 especialmente suas consequências no âmbito da economia, da política, do 26 ambiente natural e dos valores sociais e pessoais. 27 Compete ainda às ciências humanas oportunizar e aprofundar 28 discussões sobre a dimensão ética e democrática do exercício da cidadania e 29 de outras formas de participação política, sobre o respeito à diversidade das 30 manifestações culturais e sobre os modos de vida e de convivência humanos. A utilização de múltiplas estratégias pedagógicas possibilita aulas 31 32 mais interessantes, indo ao encontro das necessidades do mundo 43 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 33 contemporâneo, no qual o apelo às imagens e à mídia é constante. Assim, 34 sugere-se o estímulo às habilidades de leitura de diferentes tipos de 35 linguagens, tais como a fotografia, o cinema, os grafismos, as imagens da 36 televisão e a própria observação direta. 37 A diversificação dos procedimentos didáticos, aliados a abordagens 38 que incitem o entendimento de um conteúdo sob diferentes pontos de vista, 39 permitem o confronto de idéias, interesses, valores socioculturais, estéticos e 40 econômicos e a construção de um referencial argumentativo consciente e 41 crítico. 42 São objetivos da área de ciências humanas para o terceiro ciclo: 43 • Reconhecer as diferentes manifestações sociais, políticas, 44 econômicas e artísticas favorecendo o exercício do multiculturalismo; • Perceber as múltiplas formas de constituição cultural, nos 45 46 processos de negociação e conflito entre diferentes grupos. • Desenvolver o senso crítico a partir de análises sobre o cotidiano 47 48 local/global/local ; 49 • Compreender as relações entre a dinâmica da natureza e as 50 dinâmicas sociais como processo de permanente construção histórica, 51 geográfica e cultural; • Compreender as múltiplas formas de conhecer e interpretar a 52 53 realidade. • Identificar e avaliar o desenvolvimento tecnológico e seus 54 55 impactos sociais e ambientais em diferentes espaços e tempos. • Valorizar o patrimônio natural e cultural, local e planetário 56 57 garantindo seu acesso pelas futuras gerações. • Construir a noção de simultaneidade do tempo histórico, 58 59 continuidade e descontinuidade no tempo histórico. • Compreender os processos da dinâmica espacial, reconhecendo- 60 61 se como agente social capaz de agir e intervir no lugar em que vive; • Reconhecer as características identitárias dos diversos grupos do 62 63 de país e do mundo, percebendo semelhanças e diferenças. 44 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 64 • Compreender o papel da sociedade organizada no processo de 65 produção do espaço geográfico, na participação política e no exercício da 66 cidadania. • Demonstrar capacidade de diagnosticar, interpretar e propor 67 68 soluções 69 contemporânea. os problemas sociais e ambientais da sociedade • Dominar os conceitos/categorias da área de conhecimento 70 71 para pertinentes ao terceiro ciclo. 72 73 Recursos e Estratégias Metodológicas para o 3º ciclo 74 Dentre as estratégias metodológicas que favorecem o ensino de 75 História, Geografia e Educação Religiosa em uma abordagem interdisciplinar e 76 transdisciplinar do currículo, destacam-se: Projetos de Pesquisa e Estudo do 77 Meio. 78 Os 79 Projetos de pesquisa possibilitam a organização dos 80 conhecimentos escolares em relação ao tratamento da informação; à resolução 81 de problemas; ao desafio de encontrar soluções para uma situação; à 82 elaboração de diagnósticos sobre causas e conseqüências, levantamento de 83 hipóteses e transformação da informação procedente dos diferentes saberes 84 disciplinares em novo conhecimento. 85 Para organizar um projeto de pesquisa é necessário criar um fio 86 condutor que tenha como ponto de partida a definição de um conceito, um 87 problema geral ou particular, um conjunto de perguntas interrelacionadas, ou 88 uma temática que desperte a curiosidade e o interesse do grupo para a 89 necessidade da pesquisa. 90 A informação necessária para construir os projetos não está 91 determinada de antemão, nem depende do educador e do livro texto, mas é 92 construída em função do que cada aluno já sabe sobre um tema e da 93 informação com a qual possa se relacionar dentro ou fora da escola. Além das técnicas de ensino sugeridas, é possível utilizar a leitura e 94 95 a interpretação de diferentes linguagens: textos narrativos, poéticos, 45 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 96 informativos, mapas, fotos, gravuras, música, cinema, desenhos, gráficos, 97 tabelas e demais recursos à escolha do professor, que proporcionem a 98 construção do conhecimento de forma lúdica e prazerosa. 99 Estudo do meio: A partir de um projeto de pesquisa ou de 100 problemáticas levantadas nas aulas, o professor pode desenvolver um trabalho 101 que envolva o contexto dos alunos, no qual as observações, registros e 102 análises são fundamentais para a construção de outras percepções sobre as 103 realidades vivenciadas. 104 Em um estudo do meio, o aluno depara-se com o todo cultural, o 105 presente e o passado, o particular e o geral, a diversidade e as generalizações, 106 as contradições e o que se pode estabelecer de comum no diferente (BRASIL, 107 2001). 108 Nesse momento da vida dos alunos, é importante que o estudo de 109 meio seja realizado nas proximidades da escola e/ou comunidade: bairro, 110 cidade, 111 preservação, bibliotecas, prédios públicos, praças, fazendas, parques, 112 nascentes de rios. A elaboração de um roteiro de observação incitado nas 113 aulas propiciará ao aluno perceber seu entorno como um espaço social vivido e 114 construído, a partir das várias relações sociais (históricas, políticas, culturais) 115 intrínsecas a essa produção. E esse olhar em construção pode ser utilizado 116 pelo aluno em outros momentos de sua prática cotidiana, para além das aulas 117 de estudo do meio, como base para novas representações sociais e territoriais 118 acerca de suas circunvizinhanças. museus, fábricas, monumentos, unidades de conservação e 119 Para realizar um estudo do meio, três etapas são importantes: 120 planejamento, realização propriamente dita e atividades pós-estudo do meio. 121 No planejamento deve ser estabelecido o lugar, quais os objetivos da visita e 122 levantadas todas as informações bibliográficas sobre o local/tema em estudo. 123 Nesse momento, é possível criar roteiros de observação e entrevista. Na fase 124 de realização, as informações serão coletadas e na seqüência, na fase pós- 125 estudo do meio, serão organizadas, debatidas, analisadas e socializadas em 126 sala de aula ou em mostras culturais e comunicações dentro e fora da 127 comunidade escolar. 46 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 128 129 130 A História enquanto uma disciplina escolar surge no século XIX e as 131 práticas pedagógicas e as metodologias de ensino eram fortemente dominadas 132 pelo positivismo histórico. Nesta concepção, o ensino da História se 133 fundamenta nos agentes históricos individuais, nos grandes heróis, nos “vultos” 134 políticos e religiosos ou mesmo na nação. Estes atores eram apresentados 135 como os construtores e condutores do processo histórico, vistos a partir da 136 perspectiva teleológica e linear baseada no ideário do progresso da 137 humanidade. História 138 Este ideário pode ser percebido claramente quando analisamos a 139 questão da periodização da História, que está dividida em grandes etapas 140 cronológicas do desenvolvimento da humanidade a partir de um recorte 141 eminentemente eurocêntrico tratado e entendido como universal e que, 142 portanto, não contemplava a possibilidade de desenvolvimentos diferenciados 143 das sociedades no devir histórico. 144 O princípio educacional constitutivo do Ensino da História na 145 perspectiva do positivismo histórico era a memorização. Em outras palavras, 146 dentro desta concepção, o ofício do professor de História era fazer com que 147 seus alunos decorassem acontecimentos e suas respectivas datas e nomes de 148 personagens históricos. 149 Dentro desta perspectiva, aprender história era entendido como a 150 capacidade de memorizar fatos, datas e personagens. A metodologia 151 empregada para o desenvolvimento dessa capacidade estava baseada em 152 exercícios de caráter mnenônico, cujo objetivo era desenvolver a memorização, 153 necessária para se obter a aprovação na disciplina, ou seja, o “sucesso 154 escolar”. 155 É mais do que evidente que as críticas a essa metodologia de 156 Ensino da História foram inevitáveis e contundentes diante das imitações do 157 método. Porém, devemos ressaltar que a memorização e, portanto, a 158 metodologia mnenônica possui um lugar, uma função no Ensino de História. Na 159 verdade, o que devemos abandonar é a memorização mecânica e não o 160 desenvolvimento da capacidade cognitiva da memória. 47 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 161 Nesse sentido, consideramos importante que o aluno compreenda 162 os fatos e os processos históricos, para que deste modo possa referenciá-los 163 espacialmente e temporalmente, possibilitando novas e diversas relações de 164 aprendizagem. 165 Na organização curricular do Ensino Fundamental por ciclos de 166 Formação Humana, os alunos do terceiro ciclo (dos 12 aos 14 anos) já vivem 167 uma nova realidade e, por serem adolescentes, requerem um olhar sobre essa 168 especificidade, dando continuidade aos conceitos apreendidos no primeiro e 169 segundo ciclo. 170 procedimentos que integram a construção do conhecimento histórico como: 171 observar, descrever, representar/ler mapas históricos e imagens; construir 172 hipóteses, fazer analogias, elaborar análises e explicações. No terceiro ciclo, os alunos passam a dominar os 173 As leituras desses alunos adquirem agora um caráter político, 174 possibilitando a percepção dos conflitos e a compreensão da vida pelo domínio 175 de novos códigos. A formação no espaço escolar, desse modo, precisa incluir a 176 reflexão sobre o comportamento da humanidade; sobre as relações com o 177 local, regional, nacional e mundial; sobre o exercício da cidadania e a 178 compreensão das relações de poder que marcam a historicidade. 179 Embora predominem hoje as preocupações do mundo globalizado, a 180 compreensão e o estudo da história brasileira devem ter prioridade por sua 181 especificidade. Estudar o local e o regional é fundamental, pois possibilita que 182 aluno entenda a história a partir do seu cotidiano, das suas relações sociais, 183 dos seus hábitos e costumes, das memórias construídas culturalmente, de 184 maneira que ele contextualize a dinamicidade das organizações sociais, 185 econômicas, políticas, nacionais e mundiais. 186 O ensino de História, diante da realidade apresentada na 187 contemporaneidade, requer a elaboração de propostas a partir de conceitos 188 próprios, sendo estes fundamentais por aguçar o questionamento e a 189 identificação das contradições presentes na sociedade, para que se possa 190 superar e compreender alguns dos pressupostos da modernidade, como por 191 exemplo, a promoção do individualismo possessivo, articulado com a cultura 192 consumista, que valoriza o ter em detrimento do ser. Sendo assim, observa-se 48 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 193 a necessidade de trazer para discussão, dentro e fora da sala de aula, 194 questões sobre o humanismo, que possibilitem uma nova relação dos 195 compromissos individuais e sociais com toda a humanidade. 196 A formação educacional do ser humano, do qual o processo de 197 ensino-aprendizagem escolar é apenas um dos aspectos, a partir da segunda 198 metade do século passado, tornou-se cada vez mais amplo e complexo em 199 decorrência das transformações de todas as ordens que as sociedades 200 experimentaram neste período. Este quadro que se configurou passa a exigir 201 da escola uma participação cada vez mais ativa e efetiva na educação das 202 crianças, dos adolescentes e mesmo dos adultos. 203 Nas sociedades em que estamos inseridos, marcadas pelo intenso 204 desenvolvimento das tecnologias da informação, há situações que desafiam e 205 exigem dos professores uma nova postura diante do conhecimento e suas 206 formas de mediação. Desta forma, os professores estão imersos numa 207 realidade que aponta para desafios que questionam a própria função social do 208 professor e da escola. Para enfrentar esses desafios e marcar seu lugar nesta 209 sociedade do conhecimento, o professor necessariamente precisa refletir sobre 210 suas práticas, no sentido de propor e apontar os caminhos a serem trilhados. 211 O currículo de História deve se apresentar dinâmico, considerando 212 que os alunos, neste momento, estão atentos às transformações do cotidiano e 213 aos ciclos da natureza, apropriando-se dos signos e significados da conturbada 214 vida urbana, da televisão, das diferentes mídias disponíveis, sendo seduzidos 215 por apelos consumistas da sociedade capitalista e utilizam do imaginário, 216 estabelecendo pontes com os ícones recriados a partir de diferentes 217 temporalidades. Assim, o currículo para o ensino de História, precisa apropriar- 218 se do diálogo interdisciplinar, assegurando ao aluno deste ciclo, a possibilidade 219 de abrir fronteiras, ressignificando os saberes e as práxis sociais. 220 Para tanto, é imprescindível que todos os envolvidos no sistema 221 educacional, empreendam um esforço de revisão de seus pressupostos 222 teóricos e metodológicos, que fundamentam as práticas pedagógicas 223 tradicionais, especialmente os professores que atuam no Ensino de História. 224 Esse esforço significará a utilização de outros referenciais que embasarão as 49 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 225 novas práticas pedagógicas, no sentido de consolidar a escola como um 226 espaço por excelência de inclusão tanto social quanto cultural. 227 A construção de novas propostas teóricas e metodológicas para o 228 ensino da História possui como condição essencial, entendermos a escola 229 como uma instituição, na qual se estabelecem relações sociais e políticas, bem 230 como um espaço social de (re)elaboração de saberes e valores éticos e 231 culturais. 232 Portanto, o objetivo da escola e especialmente do Ensino de 233 História, não é a aquisição acumulativa e acrítica de informações, mas sim a 234 construção de uma postura diante do conhecimento, que possibilite ao aluno, 235 reconhecer-se como um ser social, político e cultural através de sua 236 participação na ação coletiva de ensino e aprendizagem. 237 O que estamos querendo apontar é para uma redefinição dos papéis 238 e das relações estabelecidas entre professores e alunos no processo de 239 (re)construção de conhecimentos. O educador deve conhecer os métodos de 240 construção do conhecimento e os procedimentos de socialização destes. O 241 saber professor se constitui enquanto um saber plural, proveniente de diversas 242 fontes, adquiridas ao longo do tempo, nos diferentes espaços de vida e de 243 formação. 244 São, portanto, objetivos da História para o terceiro ciclo: 245 • Reconhecer as diferentes manifestações humanas nas diversas 246 temporalidades – sociais, políticas, econômicas e artísticas – como produtoras 247 de cultura; • Perceber as múltiplas formas de constituição cultural, nos 248 249 processos de negociação e conflito entre diferentes grupos; 250 • Construir a noção de simultaneidades, mudanças, permanências, 251 rupturas, continuidades, descontinuidades e transformações no tempo 252 histórico; • Discutir e analisar os processos de construção da memória social, 253 254 partindo da crítica dos diversos lugares de memória socialmente instituídos; • Identificar e contextualizar o espaço social local, regional, nacional 255 256 e mundial; 50 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 257 • Reconhecer as características identitárias dos diversos grupos, 258 compreendendo semelhanças e diferenças, de forma a perceber e entender as 259 transformações sociais, espaciais, culturais e históricas; • Compreender a diversidade cultural, destacando os diferentes 260 261 modos e as relações com o trabalho; 262 • Compreender e problematizar os atuais conhecimentos históricos 263 acerca dos processos, rupturas e as trajetórias dos diferentes modos de ser, 264 viver e pensar de homens e mulheres em diferentes tempos e espaços; • Desenvolver/construir os conceitos e categorias da História 265 266 pertinentes ao terceiro ciclo. 267 268 51 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 269 BIBLIOGRAFIA 270 271 272 ABREU, Marta e SOIHET, Rachel. 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São Paulo: Contexto, 2003 289 290 LENSKIJ, Tatiana e HELFER, Nadir Emma (org). A memória e o ensino de História. Santa Cruz do Sul: Edunisc; São Leopoldo: ANPUH/RS, 2000. 291 292 Lucini, Marizele. Tempo, narrativa e ensino de História. Porto Alegre: Mediação, 1999. 293 294 MATTOS, Marcelo Badaró (org). História. Pensar & fazer. Rio de Janeiro: Laboratório Dimensões da História, 1998. 295 296 NIKITIUK, Sônia. Repensando o ensino de História. 3ªed. São Paulo: Cortez, 2001. 297 298 ROCHA, Ubiratan. História, currículo e cotidiano escolar. São Paulo: Cortez, 2002. 299 300 SILVA, Marcos. História. O prazer em ensino e pesquisa. São Paulo: Brasiliense, 1995. 301 302 VIÑAO FRAGO, Antonio e ESCOLANO, Agustín. Currículo, espaço e subjetividade. A arquitetura como programa. 2ªed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. Ensino de História: 52 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS Geografia 303 304 305 A construção do conhecimento geográfico no terceiro ciclo aborda as 306 temáticas na escala mundial, discutindo os múltiplos contextos políticos, 307 culturais e econômicos e facilitando a compreensão dos espaços geográficos, 308 além do reconhecimento de que a sua construção é resultante da interação de 309 múltiplas e variadas culturas, povos e etnias. É importante perceber que a 310 pluralidade das culturas possibilitam a valorização das diferenças socioculturais 311 marcantes na sociedade mundial. 312 O ensino de Geografia, neste ciclo, deve priorizar o estudo do 313 território, da paisagem e do lugar em suas diferentes escalas geográficas. Tal 314 conceito, expressa as dimensões que podem ser escolhidas para o estudo do 315 espaço geográfico, ou seja, as diferentes escalas geográficas que estão 316 sempre interrelacionadas, permitindo o estabelecimento de comparações dos 317 fatos ou fenômenos, em uma relação dialética entre o local e o global, 318 ultrapassando o conhecimento imediato, o local, para outras escalas – 319 estaduais, regionais, globais e vice-versa, uma vez que o universo vivido pelos 320 alunos torna-se interconectado às múltiplas territorialidades do mundo 321 contemporâneo. 322 As categorias geográficas de região e de território estão intrínsecas 323 aos tópicos de conteúdos apresentados para o terceiro ciclo. Tais categorias 324 devem ser construídas mediante situações de aprendizagem que possibilitem 325 ao aluno a sua construção de forma processual. É importante reconhecer que 326 o conceito de região está atrelado a critérios políticos e econômicos; a 327 regionalização do Brasil em cinco regiões (segundo o IBGE) ou em três 328 complexos regionais (segundo Pedro Pinchas Geiger), ou a regionalização de 329 Mato Grosso em cinco mesorregiões e vinte e duas microrregiões (de acordo 330 com SEPLAN/MT), atende a determinadas necessidades de análise espacial, 331 nesse caso, o controle, a gestão e o planejamento do território nacional e 332 estadual. 333 O território pode ser entendido como uma base material, definida e 334 delimitada no espaço, para o exercício das relações de poder, sejam elas 53 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 335 políticas, econômicas ou culturais. Quando vai se instalar uma usina 336 hidrelétrica, por exemplo, a área e suas proximidades são apropriadas por 337 diferentes grupos: moradores locais que serão realocados, ambientalistas, 338 funcionários públicos de órgãos ligados ao meio ambiente, trabalhadores 339 temporários, grandes empresas nacionais e internacionais e demais grupos 340 que impõem sua área de domínio e influência, organizando-a. Dessa forma, o território é uma dimensão do espaço geográfico, 341 342 produzida e organizada para o atendimento de determinados interesses. 343 As categorias geográficas “região” e “território” estão inseridos no 344 espaço geográfico e, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais 345 (1998), o princípio da territorialidade dos fenômenos geográficos, definidos pelo 346 processo de apropriação da natureza pela sociedade, garante a possibilidade 347 de se estabelecerem os limites e as fronteiras desses fenômenos, sua 348 extensão e tendências espaciais. São, portanto, fenômenos localizáveis e 349 concretos. 350 A construção de categorias e conceitos geográficos é uma 351 habilidade fundamental para a vida cotidiana, uma vez que possibilita às 352 pessoas organizar a realidade, estabelecer classes de objeto, trocar 353 experiências com o outro, construir conhecimento. Tal ação tem como ponto de 354 partida o conhecimento dos alunos para construir, de forma coletiva, o saber 355 cientifico. Callai (1999) afirma que, ao construir conceitos, o aluno realmente 356 aprende, por exemplo, a entender um mapa, a compreender o relevo, o que é 357 região, nação, município. Ao conhecer, analisar e buscar explicações para 358 compreender a realidade que está sendo vivenciada no seu cotidiano, ao 359 extrapolar para outras informações e ao exercitar a crítica sobre essa 360 realidade, ele poderá abstrair essa realidade concreta, ir teorizando sobre ela e 361 ir construindo o seu conhecimento. O 362 advento das tecnologias de comunicação e informação 363 representa, de forma contundente, uma das grandes revoluções do nosso 364 tempo e vem provocando mudanças nas relações pessoais, socioculturais e 365 nas formas de se produzir e de se trabalhar. O ensino de Geografia pode 366 apropriar-se das ferramentas tecnológicas, buscando novos ambientes de 54 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 367 aprendizagem, capazes de aproveitar as inovações que fazem parte do 368 cotidiano para auxiliar no desenvolvimento/construção dos conceitos e 369 categorias da Geografia. 370 No terceiro ciclo, os alunos passam a dominar os procedimentos que 371 integram a construção do conhecimento geográfico: observar, descrever, 372 representar/ler cartograficamente, ou por imagens, os espaços; construir 373 hipóteses, fazer analogias, elaborar análises e explicações. 374 múltiplas são as estratégias de ensino, entre elas as geotecnologias (imagens 375 de satélite, fotografias aéreas e terrestres, figuras ilustrativas e animações, 376 softwares, mapas digitais, dentre outros) e os projetos de trabalho. Para tanto, 377 As geotecnologias referentes ao Sensoriamento Remoto e aos 378 Sistemas de Informações Geográficas (SIG) estão cada vez mais interligadas. 379 Suas aplicações nos diferentes campos do conhecimento têm aumentado. 380 Entretanto, o seu potencial na disciplina de Geografia não tem sido 381 suficientemente explorado, em grande parte devido à frágil formação 382 profissional dos Cursos de Licenciatura nos aspectos pertinentes à sua 383 utilização. 384 A introdução do ensino informatizado de Geografia, envolvendo a 385 Cartografia e as Geotecnologias, revela que as novas tecnologias auxiliam no 386 aprendizado, pois permitem a ampliação do conhecimento por meio da análise 387 dos dados de sensoriamento remoto e das técnicas do Sistema de Informações 388 Geográficas – SIG. O material utilizado em sala de aula está em formato digital, 389 daí a necessidade de microcomputadores; textos, imagens de satélite, 390 fotografias aéreas e terrestres, figuras ilustrativas e animações, além de 391 softwares livres e outros, como por exemplo o EduSpring21 (SPRING adaptado 392 para educação). 393 As imagens obtidas através do sensoriamento remoto proporcionam 394 uma visão de conjunto multitemporal e multiespacial de extensas áreas da 21 O EduSPRING é um programa desenvolvido a partir de uma customização do software SPRING, a fim de ser utilizado em escolas, nas atividades que enfatizam as transformações ambientais e o uso de dados atuais em aulas de Geografia, com noções de cartografia básica, cartografia temática e sensoriamento remoto. 55 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 395 superfície terrestre. Esta visão sinóptica do meio ambiente ou da paisagem 396 possibilita estudos regionais e integrados, envolvendo vários campos do 397 conhecimento. Ela mostra os ambientes e a sua transformação, destaca os 398 impactos causados por fenômenos naturais, como as inundações, a erosão do 399 solo e os impactos causados pela ação do homem, como os desmatamentos, 400 as queimadas, a expansão urbana ou outras alterações do uso e da ocupação 401 da terra. 402 São, portanto, objetivos da Geografia para o terceiro ciclo: 403 • Questionar a realidade social, política e econômica, formulando 404 problemas e buscando resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a 405 criatividade, a intuição, a capacidade de análise e a crítica; 406 • Identificar e avaliar as ações dos seres humanos e suas 407 consequências em diferentes espaços e tempos, de modo a construir 408 referenciais que possibilitem uma participação proativa na sociedade; • Compreender e analisar, em diferentes escalas, fenômenos 409 410 naturais e contextos geopolíticos; 411 • Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural de 412 outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação 413 baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de 414 etnia ou em outras características individuais e sociais; • Desenvolver/construir os conceitos e categorias da Geografia 415 416 pertinentes ao terceiro ciclo. 417 56 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 418 Referências Bibliográficas 419 420 421 422 ALMEIDA, Rosangela Doin de (org.). Cartografia Escolar. São Paulo: Contexto, 2007. 423 424 ALMEIDA, Rosangela Doin de. Do Desenho ao Mapa: Iniciação Cartográfica na Escola. Editora Contexto: São Paulo, 2001. 425 426 ALMEIDA, Rosângela; PASSINI, Elza Yasuko. O espaço geográfico: ensino e representação. SãoPaulo: Contexto, 1998. 427 428 429 430 431 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Geografia na Educação de Jovens e Adultos. In: Proposta Curricular para a Educação de Jovens e Adultos: Segundo segmento do Ensino Fundamental; 5º a 8 º séries. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília,2002,p. 181-255 432 433 434 435 436 BRASIL . Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. História na Educação de Jovens e Adultos. In: Proposta Curricular para a Educação de Jovens e Adultos: Segundo segmento do Ensino Fundamental; 5º a 8 º séries. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília,2002, p. 107-77 437 438 BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. 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Porto Alegre: Ed. UFRGS/AGB-Seção Porto Alegre, 1999. p. 57-64. 57 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 454 455 DELIZOICOV, D., ANGOTTI, J. A. e PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Ed Cortez, 2002. 456 457 458 HERNÁNDEZ, Fernando & VENTURA, Montserrat. A Organização do Currículo por Projetos de Trabalho: O Conhecimento é um Caleidoscópio. Porto Alegre; Artes Médicas,1998. 459 460 MATO GROSSO. Ciclo Básico de Aprendizagem. Proposta Curricular Geografia. SEDUC; Entrelinhas, 1998. 461 462 463 MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Escola Ciclada de Mato Grosso: novos tempos e espaços para ensinar-aprender a sentir, ser e fazer. Cuiabá: SEDUC, 2001. 464 465 SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e Interdisciplinaridade: o Currículo Integrado. Porto Alegre: Artes Médicas,1998. 466 467 SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo: Hucitec, 1994. 58 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS Educação Religiosa22 468 469 470 A discussão quanto à necessidade de Educação Religiosa no 471 currículo da Educação Brasileira têm suas origens remontadas ao período 472 imperial, relacionadas à identidade da disciplina, conteúdos e formação do 473 professor. Problemáticas que foram sendo reelaboradas no currículo de acordo 474 com as normatizações da disciplina ao longo da História. 475 Com a Constituição Brasileira de 1824, que perdurou até a 476 Proclamação da República, o catolicismo era considerado como a religião 477 oficial do Estado. Desde o período republicano, o Estado brasileiro, 478 oficialmente é laico, fato que não encerrou as discussões sobre a necessidade 479 ou não da Educação Religiosa no currículo da Educação Básica. O debate 480 sobre a laicização do Estado e a oferta da Educação Religiosa continuam 481 gerando 482 implementação no Currículo, principalmente ao se considerar as contradições 483 existentes na prática de um Estado sem religião com cidadãos que a 484 consideram indispensável na formação cidadã e moral dos brasileiros. polêmicas em movimentos favoráveis e contrários à sua 485 A Constituição Federal de 1988, ao longo do Art. 5, regulamenta a 486 liberdade de pensamento, crença e manifestação religiosa. Nessa linha, a Lei 487 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), claramente 488 estabelece a necessidade da Educação Religiosa como integrante às demais 489 áreas de conhecimento no Ensino Fundamental para a formação cidadã do 490 aluno, assegurando o respeito e a tolerância à diversidade cultural-religiosa, 491 sendo vedadas quaisquer forma de proselitismo nas práticas pedagógicas. 492 O Estado laico não adota uma postura de “anti-religiosidade” ou 493 negação das religiões: ao respeitar todos os cultos e não adotar nenhum, o 494 Estado resguarda as manifestações religiosas no que toca às suas 495 especificidades. 22 Elaborado pelo GT Ciências Humanas. Professores: Bregitte Zittlau; Fernando Rasnheski; Gerson Luiz de Souza, Israel Bernardes; Lirian Keli dos Santos, Lúcia Ida Oliveira Fortes Pereira; Luzinéia Guimarães de Alencar, Selton Evaristo de Almeida Chagas; Sonizete Miranda; Teresinha Maria da Costa. 59 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 496 No estado de Mato Grosso, adota-se a postura da oferta da 497 disciplina “Educação Religiosa”, de matrícula facultativa ao aluno. Utiliza-se 498 esta nomenclatura em contraponto à denominação “Ensino Religioso”, 499 mencionada na Lei 9394/96. O Ensino Religioso, apesar da LDB referenciá-lo 500 numa perspectiva não-proselitista, ao longo de sua história, foi desenvolvido 501 num 502 Curriculares entendem a “Educação Religiosa” fundamentada no trabalho com 503 as pluralidades culturais-religiosas em suas manifestações simbólicas, 504 significados, valores e práticas que fazem parte da cultura humana, presente 505 em todos os povos, e em todas as épocas históricas. modelo catequético cristão. Nesse sentido, essas Orientações 506 O estudo da Educação Religiosa no Ensino Fundamental propiciará 507 ao aluno a percepção de religiosidades diversas, que podem diferir de suas 508 próprias práticas religiosas, proporcionando a compreensão das religiosidades 509 como fenômenos sociais presentes em várias sociedades, como instituições de 510 socialização e de identidade dos diversos grupos humanos. 511 A mediação do professor de Educação Religiosa nesse contexto 512 oportunizará reflexões a respeito do reconhecimento da legitimidade de todas 513 as práticas religiosas como formas encontradas pelos grupos sociais humanos 514 para dar sentido à sua existência, numa relação contínua entre o ser e o 515 transcendental. 516 Ao considerar religião como “sistema comum de crenças e práticas 517 relativas a seres sobrehumanos dentro de universos históricos e culturais23”, as 518 Orientações Curriculares Estaduais para a Educação Religiosa assumem uma 519 postura da pluriculturalidade da sociedade brasileira e mato-grossense na 520 relação com o transcendental em suas práticas e perspectivas históricas, 521 culturais 522 especificidades. e políticas, sendo assim consideradas legítimas em suas 523 Dentro da área de Ciências Humanas e suas Tecnologias no 3º ciclo 524 do Ensino Fundamental, o trabalho com a Educação Religiosa define-se a 525 partir dos seguintes pressupostos: 23 SILVA, Elaine Moura da. Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação para a Cidadania. Revista de Estudos da Religião. N. 2. 2004. p. 4. Disponível em <http//:www.puctsp.br/rever/rv2_silva.pdf> [Acesso em 12/05/2010]. 60 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 526 • Compreender as religiões como fenômenos presentes em 527 diversas culturas ao longo da História, que guardam tradições vinculadas às 528 identidades dos grupos sociais diversos; 529 • Conhecer as diversas expressões de religiosidade e não- 530 religiosidade, de um modo contextualizado, comparando informação e 531 realidade, de modo que aluno e professor conheçam suas próprias crenças e 532 convicções, situando-as em relação a outras, com base no princípio do valor 533 histórico-cultural de cada um, promovendo o sentido da tolerância e do convívio 534 respeitoso com o diferente; 535 • Adotar a perspectiva da diversidade religiosa de modo articulado 536 com outras dimensões de Cidadania e, desse modo na escola, articulando 537 vários componentes curriculares: História, Geografia, Língua Portuguesa, 538 Literatura, entre outros24. 539 • Como citado anteriormente, as manifestações de religiosidade 540 perpassam a constituição da identidade sociocultural de grupos sociais. Em 541 determinados 542 expressões de religiosidade fundamentais para sua própria organização social. 543 Por exemplo, comunidades consideradas tradicionais, algumas escolas do 544 campo, quilombolas e indígenas. contextos, a comunidade atendida pela escola possui 545 • Cabe, portanto, à escola definir em seu Projeto Político- 546 Pedagógico, como será trabalhada a Educação Religiosa, desde que 547 respeitados os pressupostos destas Orientações. Mesmo considerando as 548 especificidades religiosas da comunidade, é de fundamental importância 549 trabalhar a diversidade religiosa para além das manifestas em sua realidade 550 vivenciada, no sentido de promover a tolerância religiosa como fundamento 551 essencial na política de direitos humanos, cidadania e ética democrática. 552 • Os alunos que optarem pela matrícula em Educação Religiosa, a 553 terão registrada em seu histórico escolar, sendo dispensados de resultados da 554 avaliação da aprendizagem nesta disciplina. Entretanto, o processo avaliativo, 24 Cf. SILVEIRA, Rosa Maria Godoy. Diversidade Religiosa. Disponível em: <www.redhbrasil.net%2Fdocumentos%2Fbilbioteca_on_line%2Fmodulo3%2Fmod_3_3.3.6_diver_religi osa_rosa.pdf&rct=j&q=SILVEIRA%2C+Rosa+Maria+Godoy.+Diversidade+Religiosa&ei=BffqS6rWIYuN uAevzs2sCw&usg=AFQjCNE4yjj5wb7rSqkmUp3xVsTIKQdK8Q> [Acesso em 12/05/2010]. 61 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 555 intrínseco ao processo de ensino, deve considerar as dimensões atitudinais e 556 afetivas demonstradas pelos alunos em suas relações interpessoais, práticas e 557 discursos. 558 • Para a escola efetivar o trabalho com Educação Religiosa, o 559 professor deve organizar um projeto interdisciplinar sobre alguma temática 560 relacionada às religiosidades/diversidades religiosas a ser apresentado à 561 comunidade escolar, para averiguação da demanda de alunos a serem 562 matriculados na disciplina. 563 Por fim, entende-se que a Educação Religiosa, no âmbito escolar 564 contribui de forma efetiva para a formação do cidadão em suas dimensões 565 sócioculturais e políticas. 566 62 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 567 Sugestões de Bibliografias para professores: 568 569 570 571 572 573 574 575 576 577 578 579 580 581 582 CURY, Carlos Roberto Jamil. Ensino religioso na escola pública: o retorno de uma polêmica recorrente. Revista Brasileira de Educação. N. 27. 2004. Disponível em: < www.scielo.br/pdf/rbedu/n27/n27a12.pdf> [Acesso em 12/05/2010]. OLIVEIRA, Lilian Blanck. Ensino Religioso no Ensino Fundamental. São Paulo: Cortez, 2007. PASSOS, João Décio. Como a religião se organiza. Tipos e Processos. São Paulo: Paulinas, 2006. SCHERKERKEWITZ, Iso Chaitz. O Direito de Religião no Brasil. Centro de Estudos da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo. Disponível em: <www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista2/artigo5.htm> [Acesso em 12/05/2010]. 63 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS EIXOS ARTICULADORES Froteiras e Identidades Capacidades • Construir conceitos de identidade e grupo social, desenvolvendo noções de respeito às diferenças; • Reconhecer as formas e regras de convívio social nos diversos grupos que compõe a sociedade; • Reconhecer os processos de formação das territorialidades de diferentes sociedades e Estados, analisando seus significados no processo histórico, de modo a compreender conflitos e tensões sociais, geopolíticas e culturais da atualidade; Descritores • Identificar os limites e as fronteiras que separam os territórios nacionais; • - Distinguir os variados povos e culturas existentes em diferentes espacialidades do Brasil e do mundo; • - Concluir que alguns povos do mundo não possuem soberania sobre o território em que vivem; • - Identificar e analisar a existência de movimentos nacionalistas e/ou totalitários e suas conseqüências em diversos lugares do mundo; • - Distinguir diferentes tipos de projeções cartográficas; • - Comparar e analisar as fronteiras nacionais e a configuração territorial dos países do mundo, deduzindo que estes podem sofrer alterações; • - Concluir que em diversos lugares do mundo existem conflitos em áreas de disputa por fronteiras; • - Identificar as razões históricas dos conflitos existentes na África e na Ásia • - Debater sobre a importância da ONU na geopolítica mundial; • Identificar a contribuição dos vários grupos sociais na formação sociocultural do país. • - Identificar as formas de organização das relações sociais em diversos âmbitos do Brasil reconhecendo o papel dos diferentes grupos. • - Demonstrar respeito com manifestações e práticas culturais diferentes das suas, observadas pelo professor em suas relações interpessoais com os colegas. 64 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS Trabalho, Economia e Sociedade • Reconhecer a influência do meio ambiente na formação histórica do Brasil e mundo; • Caracterizar as formas de apropriação dos territórios nos processos de produção, analisando as conseqüências políticas e culturais dos setores econômicos em relação à divisão internacional do trabalho no mundo globalizado; • Debater e refletir sobre a globalização como um processo de integração cada vez mais efetiva do espaço virtual mundial; • Refletir como o processo de globalização intensificou a desigualdade entre os países do mundo; • Entender que o trabalho está presente em todas as • atividades humanas, percebendo as diversas formas de produção e organização da vida social; • – Compreender e analisar os fenômenos geográficos em suas diferentes escalas (local, regional, nacional e global; • Produzir textos analíticos e interpretativos sobre os processos históricos compreendendo o trabalho como elemento primordial nas transformações históricas; • Analisar e julgar os apelos consumistas impostos pela sociedade moderna; • – Identificar o processo de expansão das multinacionais em escala planetária como uma característica do processo de globalização; • Debater sobre as relações de dominação, subordinação e resistência que fazem parte das construções políticas, sociais e econômicas que permeiam o mundo do trabalho; • – Deduzir que o surgimento das multinacionais alterou a participação de inúmeros países na atual Divisão internacional do Trabalho; • - Refletir e analisar que o desenvolvimento das tecnologias de informação contribuiu para intensificar o fluxo de capitais e informações em escala planetária; • – perceber que o ritmo do trabalho e duração do tempo é resultante dos fenômenos sociais e construções culturais; • – identificar e reconhecer as principais características dos Blocos Econômicos no mundo; 65 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS Natureza e Sociedade • Desenvolver a consciência ambiental; • Estabelecer a relação entre as manifestações culturais e a sociedade; • Desenvolver/construir noções de ética e cidadania; • Compreender e explicar, os modelos de desenvolvimento adotados pelo sistema capitalista e seus impactos no meio ambiente. • Entender que cada lugar da superfície terrestre possui uma paisagem com características particulares, formada pela combinação dos diferentes elementos naturais e/ou culturais, estabelecendo relações entre o espaço urbano, rurbano e rural nas dimensões econômicas, sociais, culturais e políticas • Reconhecer que o agravamento dos problemas ambientais está relacionado à intensa exploração da natureza; • Estabelecer relação entre o aumento do consumo e esgotamento dos recursos naturais do planeta; • Analisar os impactos ambientais decorrentes das atividades humanas; • Utilizar diferentes linguagens na interpretação de um fenômeno histórico e geográfico; • Debater acerca da vida social, do passado e do presente na dimensão individual, social e política, identificando a influência da mídia nesse processo; • Identificar e compreender a dinâmica da natureza como um dos responsáveis pela configuração atual (criação e recriação) da superfície terrestre; • Compreender que as sociedades humanas transformam as paisagens naturais e culturais de acordo com as condições técnicas de que dispõem; • Elencar os motivos que levam povos ou grupos à perda de sua identidade cultural a partir da incorporação de hábitos e costumes que não fazem parte de seu tradicional modo de vida; • Identificar e analisar o patrimônio cultural e ambiental do território e sua dinâmica, aprimorando atitudes e valores individuais e sociais. 66 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS 67