1 CAFÉ FILOSOCIOLÓGICO: PRÁTICA DE ENSINO DA FILOSOFIA E DA SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO. Luiz Aparecido Alves de Souza, IFPR [email protected] 1- Introdução As Diretrizes Curriculares de Filosofia e de Sociologia do estado do Paraná apresentam como opção por um currículo disciplinar e entende que os sujeitos da educação básica em geral são oriundos das classes assalariadas e que devem ter acesso ao conhecimento produzido pela humanidade e, que na escola, este conteúdo é sistematizado através das disciplinas escolares. Teóricos como Bakhtin (2006), Ciavata (2004), Frigotto (2004), Gadotti (2004), Kosik (2002), Kuenzer (199), Mèszáros (2007), Nosella 1992), Ramos (2004) e Vazquez (1997) sustentam a concepção de sujeito, ensino, conhecimento, currículo e prática pedagógica assumidas num constructo coletivo pelos professores da educação básica dos estado do Paraná. Este texto tem por objetivo compartilhar experiências de prática de ensino na educação básica, na etapa do Ensino Médio, diante dos desafios da escola pública do estado do Paraná. O tema versa sobre o processo de legitimação do ensino dessas duas áreas do conhecimento, considerando a Lei 1.684/2008 que institui a inclusão da Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias no currículo do Ensino Médio. O presente texto define-se como relato de experiência, desenvolvido entre o ano de 2009 a 2012 tendo como público-alvo alunos/as do ensino médio da escola pública. A intenção central é apresentar experiências exitosas que ensejam desafios tanto no âmbito das políticas públicas educacionais, quanto de fatores da prática do ensinar. O estudo encontra-se organizado em três partes, a saber: 1) apresenta uma abordagem sobre a concepção do Ensino de Filosofia e de Sociologia que as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná trazem em seu bojo; 2) relata a experiência desenvolvida pelos alunos, professores e educadores do ensino médio do Café Filosociológico e 3) explicita os desafios que estão presentes no ensino da Filosofia e da Sociologia diante da realidade da escola pública e das políticas que a ela assistem. 2- A concepção de Ensino de Filosofia e de Sociologia nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná Compreendemos que toda produção documental no âmbito da esfera governamental traz 2 impactos em seus destinatários e, mais especificamente, no campo educacional, considerando as relações de complexidade que neste estão estabelecidas. Para compreender o processo de produção da Diretriz Curricular de Educação de Filosofia e Sociologia do estado do Paraná, procuramos trazer uma concepção de Escola e do papel do Estado neste processo produtivo e, na sequencia, apresentarmos as concepções que estão explícitas no texto da DCE de Filosofia e Sociologia nas dimensões de sujeito, conhecimento e currículo. A escola na contemporaneidade passa a ser alvo de discussão pelos vários setores da sociedade. Neves (2006) assegura uma apropriação do conceito de escola, quando afirma em seu texto que a: (...) escola é uma construção social, historicamente efetuada pelos sujeitos nela envolvidos. Conscientes ou não deste processo, são eles que dão encaminhamento às práticas educativas no cotidiano escolar, segundo suas próprias concepções de mundo, de ser humano, de educação, de relação ensino-aprendizagem. As atividades desenvolvidas por professores e alunos configuram formas peculiares de apropriação e articulação das normas sociais dominantes, favorecendo o aparecimento de outras determinações, impregnadas ou não por elas. (p.92) Se considerarmos também, uma análise da escola no contexto da esfera capitalista e da interferência do estado em suas formulações políticas ideológicas e na expansão o organização da rede escolar, devemos estar atentos em perceber que esta trajetória organizacional também está submetida ao Estado. Machado (1987) aponta para o papel do Estado na formação, expansão e organização da Escola, afirmando que A dimensão política é fundamental na forma de expansão e organização escolar. Local de condensação material de relações de forças entre as classes e de exercício de poder, o Estado expande suas funções de atuação e intervenção. Na organização monopolista da produção, o Estado assume a forma intervencionista. Ele se destaca, portanto, no controle da expansão e organização escolar e na manutenção de parte da rede escolar. Exercem-se sobre ele imposições, reivindicações e pressões políticas. (p.83). A constituição da escola como cumpridora de sua atuação na sociedade possibilita um espaço de formação de sujeitos na esfera intelectual, assim, toda a produção escolar apropriada pelos sujeitos pode inseri-los no seio da sociedade e, sobretudo, na esfera das produções materiais, ensejando um constante diálogo entre as forças de poder. Torna-se necessário entender, portanto, que da manutenção desse diálogo depende a apropriação dos sujeitos que transitam no espaço escolar, de um discurso crítico do papel do Estado e de suas funções. A Diretriz Curricular da Educação Básica de Filosofia e Sociologia no Paraná expressam as discussões efetivadas pelos professores nos espaços de interlocuções da escola, nos cursos de 3 formação continuada e nas reuniões pedagógicas promovidas pelos núcleos de educação. Embora os coletivos de professores dessas áreas alcancem pouca expressão em números de participação e isso se deve à ausência de políticas públicas na contratação de docentes, os que constam no Quadro Próprio do Magistério e os professores de contrato temporário têm contribuído para o avanço e progresso na formulação deste documento público e institucional. O documento expressa uma concepção de sujeitos da educação básica pautada na classe trabalhadora e orienta-se uma política curricular para esses sujeitos com o objetivo de construir uma sociedade justa, onde as oportunidades sejam iguais para todos. O texto do documento ainda evidencia a preocupação em: entender a escola como lugar de socialização do conhecimento, importante para os estudantes das classes menos favorecidas, que tem nela uma oportunidade, algumas vezes a única, de acesso ao mundo letrado, do conhecimento científico, da reflexão filosófica e do contato com a arte. (...) o conteúdo tratado deve ser de modo contextualizado, estabelecendose, entre eles, relações interdisciplinares e colocando sob suspeita tanto a rigidez com que tradicionalmente se apresentam quanto o estatuto de verdade atemporal dado a eles. (DCE, 2008, p.14) As DCE de Filosofia e Sociologia ainda reforçam o vínculo curricular com aspectos concernentes às subjetividades e experiências vividas pelo aluno, sobretudo do ensino médio, entendido como aluno trabalhador que segundo Sacristán (2000) “esse tipo de currículo pressupõe que os aspectos intelectuais, físicos, emocionais e sociais são importantes no desenvolvimento da vida do indivíduo (p.41)”, e que deve ser considerado na prática pedagógica da escola. O currículo passa a ser configurador da prática social ao contemplar, na composição dos conhecimentos a serem ensinados os fatores externos a ela, determinados pelo regime sóciopolítico, religião, família, trabalho quanto às características sociais e culturais do público escolar. Quanto às dimensões do conhecimento as DCE de Filosofia e Sociologia expressam princípios teóricos nas reflexões de Gramsci (1978) ao sinalizar que o estudante deverá receber uma formação necessária para o enfrentamento com vistas à transformação da realidade social, econômica e política de seu tempo. A produção científica, as manifestações artística e filosófica como dimensões para as diversas disciplinas do currículo, possibilitam um trabalho pedagógico que aponte na direção da totalidade do conhecimento e sua relação com o cotidiano. Outra característica que as DCE de Filosofia e Sociologia propõem é a que se intitula como contextualização sócia histórica, e relaciona-se, segundo o documento com o conceito de interdisciplinaridade, pois compreende-se que ambas vá além dos limites cognitivos próprios de cada disciplina. Nesse sentido, é preciso que o professor não incorra no erro do empobrecimento da 4 construção do conhecimento em nome de uma prática de contextualização. “Daí a argumentação de que o contexto seja apenas o ponto de partida da abordagem pedagógica, cujos passos seguintes permitam o desenvolvimento do pensamento abstrato e da sistematização do conhecimento.” (DCE, 2008, p.28). Segundo Ramos (2004) O processo de ensino-aprendizagem contextualizado é um importante meio de estimular a curiosidade e fortalecer a confiança do aluno. Por outro lado, sua importância está condicionada à possibilidade de ter consciência sobre seus modelos de explicação e compreensão da realidade, reconhece-los como equivocados ou limitados a determinados contextos, enfrentar o questionamento, coloca-los em cheque num processo de desconstrução de conceitos e reconstrução/ apropriação de outros. (p.02). Outro aspecto que o documento prioriza é quanto ao cuidado necessário de não cair no anacronismo, e para isso, é necessária uma sólida compreensão dos conceitos de tempo e de espaço presentes na constituição das dimensões filosóficas, científicas e artística de todas as disciplinas escolares. 3- Café Filosociológico: relato da experiência desenvolvida pelos alunos, professores e educadores do ensino médio. O Café Filosociológico tem efetivado como prática pedagógica no âmbito de legitimar o campo do conhecimento em Filosofia e Sociologia tendo em vista a Lei 1.684/2008 que institui a inclusão da Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias no currículo do Ensino Médio. Pode-se afirmar que a construção/produção deste espaço de aprendizagem tem se construído nos esforços conjunto e sincrônico da comunidade escolar, neste caso, de composição de docentes, estudantes, agentes educacionais, grêmio estudantil e técnico/a pedagógico/a. Apresentaremos na sequência o escopo estrutural do projeto de trabalho, organizado, a saber, em três partes: a) O projeto; b) o movimento de produção do evento e c) o catarse do evento. O projeto: da criatividade à criação A articulação do projeto do Café Filosociológico nas quatro edições ocorridas inicia-se com o interesse de professores da área, primeiramente, remetendo a ideia à gestão/coordenação escolar e na sequência, no convite estendido aos demais professores, como de História, Arte, Língua Portuguesa, Biologia, estudantes do Ensino Médio, agentes educacionais, pais, grêmio estudantil, que se reúnem para decidir a temática geradora (central) e a estrutura do evento. A definição do tema considera as políticas de ensino da Filosofia e da Sociologia, 5 manifestada pelas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCEs), que em suma deve contemplar os Eixos Estruturantes de cada área do conhecimento, os estudos dos clássicos e os temas que circulam na atualidade. No caso da realidade local em que está inserida a comunidade escolar, os/as estudantes do Ensino Médio, tanto do diurno quanto do noturno, manifestam interesse em prosseguir os estudos na etapa do ensino superior, e são potenciais candidatos ao ENEM e Vestibulares como da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), neste caso, são elementos considerados no processo de elaboração do projeto. Segue exemplo da estrutura do projeto: Identificação Institucional Tema: Sub-temas (tópicos): Objetivos Justificativa e fundamentação teórica Metodologia Avaliação Cronograma Recursos Referências Parecer da gestão escolar Deleuze e Guattari apud Gallo (2011 ) afirmar que pensar filosoficamente é pensar conceitualmente e o Ensino de Filosofia para os estudantes do Ensino Médio, dever considerar a prática de recorrer aos clássicos para ajudá-los a produzi-los conceitos por si próprios, como na fala abaixo: Se a filosofia é atividade de criação, é necessário convidar a fazer essa atividade, isto é, convidar a pensar filosoficamente. (…) . Assim, essa noção de Filosofia parece nos proporcionar uma perspectiva do ensino desta disciplina que não seja uma mera transmissão de informações, por um lado, mas por outro, que não seja também uma atividade esvaziada do propriamente filosófico, resolvendo aquela questão que expus anteriormente: ou um “ensino ativo” esvaziado de filosofia ou um ensino cheio de filosofia, mas enciclopédico, esvaziado de atividade. Essa noção nos dá a possibilidade de um ensino da Filosofia que não separa o produto (conceito) do processo do filosofar. Só se aprendem conceitos fazendo o movimento de produzi-los. E só se produzem conceitos se aprendemos as diferentes formas que os filósofos inventaram para o fazer.(p. 04) No pleito do Café Filosociológico, ao pensar o projeto e a estrutura do evento compartilhamos da concepção de Gallo (2011) no sentido de entender o ensino da Filosofia como prática do filosofar. 6 A estrutura do Café Filosociológico A estrutura do evento aproxima do que propõe as Diretrizes Curriculares do ensino de Filosofia e Sociologia (DCEs) e as metodologias de ensino que Gallo (2011) sugere como prática pedagógica. No âmbito da Diretriz Curricular de Sociologia, o documento propõe um trabalho pedagógico que contemple a postura indagativa do professor, de um ensino que contemple situações de iniciação à pesquisa social, mediante as técnicas do inquérito social e da entrevista ( DCE, 2008, p. 93-95). Na Diretriz Curricular de Filosofia o trabalho com os conteúdos dar-se-á em quatro momentos, a saber: a mobilização para o conhecimento, a problematização, a investigação e a criação de conceitos (DCE, 2008, p.59-60), que são apresentados também por Gallo. Nas duas metodologias de ensino defendidas por Gallo (2011) a primeira, contempla cinco etapas, sendo elas: 1) a prática da sensibilização do/a estudante pelo tema, 2) da sensibilização encaminha-se para a problematização do tema; 3) com a problematização, busca-se refazer o caminho da produção conceitual feita por um determinado filósofo como processo de investigação e 4) da investigação chega-se a conceituação, pelo processo de apropriação do conceito do filósofo estudado ou pelo processo próprio de criação conceitual pelo estudante. A segunda metodologia adota o “método regressivo”: inicia-se do conceito para chegar ao problema: “(...) como um problema filosófico nunca é claro em um texto filosófico, a atividade seria a de estudar o texto, apreender o/s conceito/s criados pelo filósofo, para a partir deles investigar qual teria sido o problema ou conjunto de problemas que levaram o filósofo a criá-los.” ( p. 06). A estrutura do Café Filosociológico constitui-se em duas etapas: na primeira etapa, pensa-se a constituição das equipes de trabalho em três comissões, e na segunda etapa, a programação do evento. Para a primeira etapa, desenvolvemos a Comissão de Organização e, equipes, a saber: Primeira comissão- secretaria e tesouraria: compete a produção de registro de reuniões, organização e fluxo das informações entre todos os membros da Comissão de Organização, controle de doações oriundas das parcerias com o comércio e instituições colaboradores locais ( universidades, prefeitura, supermercados, panificadoras, floricultura, lojas, etc), produção de material como ficha de inscrição, recolhimento, controle e prestação de contas da arrecadação de taxas de inscrição dos participação, confecção de faixas, banners, programação impressa, convites, material para os participantes (pastas). Segunda comissão- científica: de competência dos docentes da área de Filosofia e de Sociologia, com atribuições de buscar parcerias com as Universidades e Instituições Escolares para convite a palestrantes, investigadores e docentes que possam contribuir no espaço das mesas de debates e nas palestras das salas temáticas. Cabe a essa comissão toda a organização da 7 sistematização e produção do conhecimento do evento, como coordenação de debates e desenvolvimento das palestras junto aos estudantes. Terceira comissão- cerimonial: a esta equipe compete a organização logística do espaço do evento, da disponibilização do espaço da abertura do evento, do espaço destinado à confraternização (coquetel e café) e do espaço das salas temáticas. Cabe a essa comissão a elaboração do cardápio do coquetel e do café, da organização e receptividade dos palestrantes e participantes, da exposição artística ( obras de artes, teatro) no local do evento, e da divulgação do evento na comunidade escolar. Cabe salientar que todas as comissões trabalham sincronicamente e se envolvem conjuntamente na busca de parcerias e colaboradores para que o Café Filosociológico alcance os objetivos postos no projeto do evento. Para isso, as reuniões durante o curso da produção do evento são necessárias que ocorram. Arquivo do Dossiê II Café Filosociológico 2010. Disponível em : https://picasaweb.google.com/AbrahamLincoln1959/CafeFilosofico Para a segunda etapa, apresentamos a programação do evento em dois momentos: O primeiro momento sempre ocorre na sexta-feira, no período noturno, com a solenidade de abertura do evento, composta pela Mesa de Debates- constituída por convidados palestrantes, especialistas no tema central do Café Filosociológico e mediado por um docente da instituição anfitriã. O segundo momento ocorre no sábado, pela manhã, com o trabalho nas salas temáticas, em que os participantes, no ato da inscrição, já inscrevem, previamente nas salas temáticas. Segue o exemplo da ficha de inscrição: IV CAFÉ FILOSOCIOLÓGICO: “MAS EU, QUEM SOU EU? INDIVÍDUO, SUJEITO, CONSCIÊNCIA DE SI”. 26 E 27 DE OUTUBRO. PROGRAMAÇÃO Dia 26 de Outubro (Sexta-feira) 19h 30 min- Abertura- Peça teatral 20h- Mesa Redonda Especial: Mas eu, quem sou eu? Indivíduo, sujeito, consciência de si. 21h 30 min- Intervalo- Exposição Arte 21h 50min- Debate 22h 20 min.- Encerramento do primeiro dia. Dia 27 de Outubro (Sábado) 8h- Salas Temáticas (Primeiro Tempo) 8 9h- 30 min – intervalo. 10h – Salas Temáticas(Segundo Tempo) SALAS TEMÁTICAS S.T. 1: As relações étnico-raciais e indígena e seu enfrentamento na escola- Profº Neuton Damasio SEED-PR/ S.T. 2: Sobre a Verdade e a Mentira no sentido extra-moral de Friedrich Nietzsche- Profº Me. Reginaldo Polesi SEED-PR S.T. 3: Meditações sobre a Filosofia Primeira nas quais são demonstradas a existência de Deus e a distinção real entre a alma e o corpo do homem, Primeira e Segunda Meditação, em Renè Descartes- Profº Doutorando Rui Valese SEEDPR/NESEF/UFPR S.T. 4: Gênero e Diversidade Sexual na escola: um debate necessário- Profº Marise Felix SEED-PR S.T. 5: Os Clássicos da Política: a sociedade e o poder em Montesquieu – Profº Leandro OebedK SEED-PR/NRE NORTE S. T. 6: Os Clássicos da Política: a liberdade, o indivíduo e a república em Kant- Profº Jorge V. C. da Conceição SEEDPR/PUC-PR -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FICHA DE INSCRIÇÃO NOME: ______________________________________ SÉRIE: __________ TURMA: _______ ESCOLHA 2 SALAS TEMÁTICAS PARA PARTICIPAR 1º TEMPO SALA TEMÁTICA Nº ______________ 2º TEMPO SALA TEMÁTICA Nº ______________ VALOR: R$7,00 (Preço por pessoa) Fonte: Dossiê do IV Café Filosociológico. 26. out.2013. Destaca-se que tanto no primeiro momento (sexta-feira) quanto para o segundo momento (sábado) todos os docentes/palestrantes devem entregar, previamente, um resumo do trabalho que irão, posteriormente, desenvolver no espaço do evento, que irá compor o material entregue aos participantes, conforme segue um modelo, a título de ilustração: O ESTADO REPUBLICANO E O PROGRESSO DO GÊNERO HUMANO PARA O MELHOR Jorge Vanderlei Costa da Conceição Mestre em Filosofia [email protected] O presente minicurso será dividido em duas partes. Na primeira, analisaremos os requisitos de um estado republicano em Kant. Defenderei que os princípios regentes de um estado republicano devem ser determinados a priori. Isto significa que, o estado republicano é regido por dois princípios: o primeiro, a limitação da liberdade de cada indivíduo, assim criando as condições de possibilidade para a coexistência pacífica entre os seres racionais finitos; o segundo, estes apenas seguirão as leis que ajudem a manter o estado de paz e aperfeiçoar o estado republicano. Ainda de acordo com Kant, a república pode acontecer tanto num estado monárquico quanto num estado democrático, pois ela é a forma de governo ideal. Todavia, a organização republicana deve respeitar os dois princípios já elencados. Na segunda parte, examinaremos a seguinte interrogação kantiana: o gênero humano progride para o melhor? Esta se encontra na obra O Conflito das faculdades e, conforme Kant, o progresso do gênero humano para o melhor não pode ser analisado pelo prisma da moral, mas somente pelo do direito, devido haver dois modos de determinação da vontade, a saber, o interno e o externo. Este é a norma jurídica que obriga ao ser racional finito obedecê-la e aquele é a manifestação da lei moral e da autonomia do agente, que elege o princípio determinante da sua máxima. Deste modo, o progresso do gênero humano para o melhor pode ser ilustrado pelo aperfeiçoamento das normas jurídicas, por exemplo, a redação dos direitos humanos. A história do progresso do gênero humano para o melhor é composta de sinais históricos, que podem demonstrar esta tendência. Esses sinais são símbolos rememorativos que causam entusiasmo nos agentes históricos. Kant utilizou a revolução francesa como exemplo de um símbolo rememorativo do progresso jurídico do gênero humano para o melhor, este acontecimento mobilizou os indivíduos que a assistiam. No hodierno, o exemplo de um símbolo rememorativo é a primavera árabe, ela reivindica a melhoria das constituições dos países do oriente médio e causa entusiasmo no expectador. Palavras-chaves: república, progresso, sinal rememorativo e norma jurídica. Fonte: Dossiê do IV Café Filosociológico. 26. out.2013. 9 Para tanto, o Café Filosociológico apresenta, sistematicamente a seguinte estrutura de organização, conforme modelo de programação da edição 2012: PROGRAMAÇÃO 26 de outubro de 2012 (sexta-feira) Local: Auditório do Salão Paroquial Nossa Senhora do Rosário 19h- Recepção e entrega de materiais. 19h 30 min- Abertura e Peça teatral: “Quem me fez, o que fiz de mim ?” (Grêmio Estudantil) 20h- Mesa Redonda Especial: Mas eu, quem sou eu? Indivíduo, sujeito, consciência de si. Profº Esp. Celso Luís Pardinho SEED/PR, Profº Me. Francieli Manginelli SEED-PR/UFPR, Profº Me. Luiz Ap. Alves de Souza SEEDPR/IFPR, Profº Me. Jorge V. C. Da Conceição SEED-PR/PUC-PR . 21h 30 min- Intervalo- Exposição: Máscaras (Org. Profª Sandra Cavali) e Exposição: Composições com Referências aos Estilos dos Brasileiros (Org. Profª Jussara Petterle). 21h 50min- Debate 22h 20 min.- Encerramento. 27 de outubro de 2012 (sábado) Local: Colégio ( bloco antigo) 8h- Salas Temáticas ( Primeiro Tempo): S.T. 1: As relações étnico-raciais e indígena e seu enfrentamento na escola- Profº Neuton Damasio SEED-PR/ S.T. 2: Sobre a Verdade e a Mentira no sentido extra-moral de Friedrich Nietzsche- Profº Me. Reginaldo Polesi SEED-PR S.T. 3: Meditações sobre a Filosofia Primeira nas quais são demonstradas a existência de Deus e a distinção real entre a alma e o corpo do homem, Primeira e Segunda Meditação, em Renè Descartes- Profº Doutorando Rui Valese SEED-PR/NESEF/UFPR S.T. 4: Gênero e Diversidade Sexual na escola: um debate necessário- Profº Marise Felix SEED-PR S.T. 5: Os Clássicos da Política: a sociedade e o poder em Montesquieu – Profº Leandro OebedK SEED-PR/NRE NORTE S. T. 6: Os Clássicos da Política: a liberdade, o indivíduo e a república em Kant- Profº Jorge V. C. da Conceição SEED-PR/PUC-PR 9h 30 min- Intervalo Mostra Artística 10h- Salas Temáticas (Segundo Tempo): S.T. 1: As relações étnico-raciais e indígena e seu enfrentamento na escola- Profº Neuton Damasio SEED-PR/ S.T. 2: Sobre a Verdade e a Mentira no sentido extra-moral de Friedrich Nietzsche- Profº Me. Reginaldo Polesi SEED-PR . S.T. 3: Meditações sobre a Filosofia Primeira nas quais são demonstradas a existência de Deus e a distinção real entre a alma e o corpo do homem, Primeira e Segunda Meditação, em Renè Descartes- Profº Doutorando Rui Valese SEED-PR/NESEF/UFPR S.T. 4: Gênero e Diversidade Sexual: um debate necessário- Profª Marise Felix, SEEd-PR S.T. 5: Os Clássicos da Política: a sociedade e o poder em Montesquieu – Profº Leandro OebedK SEED-PR/NRE NORTE . S. T. 6: Os Clássicos da Política: a liberdade, o indivíduo e a república em Kant- Profº Jorge V. C. da Conceição SEED-PR/PUC-PR. 11h 30min- Encerramento Fonte: Dossiê do IV Café Filosociológico. 26. out.2013. Destaca-se que para o primeiro momento (sexta-feira), na Mesa de Abertura, ocorre a interlocução entre os palestrantes que ao exporem o tema, procuram problematizá-lo para que os estudantes possa interagir logo após a exposição. Quanto ao segundo momento (sábado), nas salas temáticas, a metodologia utilizada recorre-se a exposição do tema pelo docente/palestrante através da utilização de ferramentas didáticas, tais como, jornais, fragmentos de textos, trechos de filmes, letra e audição de música, etc, com interação a todo momento com os participantes. As salas temáticas em sua totalidade, compõem-se de 06 salas, resguardando duas salas para temáticas de temas que versam sobre os Desafios Contemporâneos, como uma sala com o tema “as relações 10 étnicas e raciais” e “ gênero e diversidade sexual”. As outras salas temáticas inserem-se em contemplar temáticas da Filosofia (duas salas) e da Sociologia (duas salas), como podem verificar na ilustração acima. 4- Os desafios que estão presentes no ensino da Filosofia e da Sociologia diante da realidade da escola pública. A constituição da escola como cumpridora de sua atuação na sociedade possibilita um espaço de formação de sujeitos na esfera intelectual, assim, toda a produção escolar apropriada pelos sujeitos pode inseri-los no seio da sociedade e, sobretudo, na esfera das produções materiais, ensejando um constante diálogo com as forças de poder. Torna-se necessário entender, portanto, que da manutenção desse diálogo depende a apropriação dos sujeitos que transitam no espaço escolar, de um discurso crítico do papel do Estado e de suas funções. Para o âmbito do estudo deste trabalho, torna-se relevante considerar a influência do Estado nas determinações do trabalho docente e entender a Escola como a instituição que faz a ponte intermediadora desta relação. Como explicita Machado (1987): Um estudo da “política escolar” é possível captar as modalidades concretas de atuação do Estado em várias conjunturas. Por exemplo: a constituição de um “campo de atuação” mantendo as regras próprias da estrutura do sistema escolar; as relações professor-aluno; as modalidades de inculcação e seu conteúdo, a manutenção direta e a caracterização da rede pública de escolas; a forma de contratar o corpo administrativo e professoral público, gerando ou impedindo sua autonomia frente ao aparelho de Estado. (...) interferências de articulação dos níveis de ensino, nos “objetivos educacionais”, currículos, disciplinas e programas. (p. 89) Entende-se que a Escola enquanto mediadora entre a comunidade a qual lhe serve como serviço social no âmbito do ensino com a provedora, Secretaria da Educação do Estado do Paraná (SEED-PR), deve articular as políticas de captação de recursos e apoio financeiro para que eventos dessa natureza, como o Café Filosociológico, possa acontecer, considerando, como afirma Machado (1987) os objetivos educacionais, currículo , disciplinas, programas, etc. No momento que estudos acadêmicos denunciam as fragilidades do sistema educacional brasileiro e, sobretudo, o Ensino Médio, como Ramos (2004), Ciavata e Frigotto (2004) consideramos salutar, explicitar que, para esta etapa da educação básica, ocorre pouco incentivo por parte da instituição escolar e por parte dos órgãos gestores em financiar o trabalho efetivo do ensino. Por outro lado, a manifestação do apoio e do compromisso da comunidade escolar, em especial, docentes e estudantes, para que tal espaço de aprendizagem aconteça, fica explícito diante das superações da ausência de financiamentos. As avaliações aplicadas para os participantes sinalizam os aspectos positivos do evento 11 quanto à proposta do Café, estrutura física, menu e receptividade, palestrante , cronograma, divulgação e informações, conforme modelo abaixo: Modelo de Ficha de Avaliação FICHA DE AVALIAÇÃO DO EVENTO 1- Quanto à proposta de realizar o evento no formato de café para discutir Filosofia/Sociologia foi uma ideia: ( ) Excelente ( ) Boa ( )Regular ( ) Péssima 2- Quanto à estrutura física do evento ( salão/auditório, salas, som, iluminação, espaço do coquetel/café): ( ) Excelente ( ) Boa ( ) Regular ( ) Péssima 3- Quanto ao menu do café/coquetel (sucos, pães, bolos, frios, etc) e a receptividade no evento: ( ) Excelente ( ) Boa ( ) Regular ( ) Péssima 4- Quanto aos convidados/palestrantes debate e seus respectivos trabalhos de exploração dos temas: ( ) Excelente ( ) Boa ( ) Regular ( ) Péssima 5- Quanto à data, horário e programação do evento: ( ) Excelente ( ) Boa ( ) Regular ( ) Péssima 6- Quanto à divulgação e informações do evento: ( ) Excelente ( ) Boa ( ) Regular ( ) Péssima Sugestões:--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Fonte: Dossiê do IV Café Filosociológico. 26. out.2013. O estudo demonstra que prática de ensino externa à sala de aula quando envolvidas os vários agentes do espaço escolar como alunos, professores, pedagogos, pais e comunidade em torno, promove além do enriquecimento curricular, o fortalecimento das relações humanas e o estabelecimento do amadurecimento intelectual e da autonomia dos alunos. Questões no âmbito das condições do trabalho docente, na precariedade do contrato de trabalho (Processo Seletivo Simplificado- PSS), em destaque, para as áreas de Filosofia e Sociologia, que em sua grande maioria compõem o corpo docente da instituição, sem vínculos efetivos. Neste sentido, observa-se um desinteresse desses profissionais, com esse perfil de contrato, em pouco assumir atividades deste pleito. Ressalta-se que, neste ponto, estamos afirmando a exceção e não a regra, o que nos instiga a alertar para a urgência de contratação de docentes para estas áreas, por concurso público. Outra questão remete ao estudo dos clássicos, conforme afirma Calvino (1993) “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.”(p.11). Constatamos ainda que a leitura dos clássicos é uma prática insipiente na prática do ensino de Filosofia e Sociologia pelos professores da rede pública. Verificou-se que o Café Filosociológico tem oportunizado a instituir e fortalecer as leituras e análises prévias das obras que serão contemplados no espaço de discussão so evento. 12 Considerações finais Uma das preocupações da Diretriz Curricular de Sociologia do Estado do Paraná encontra-se em propiciar ao estudante do ensino médio, os conhecimentos filosóficos e sociológicos de maneira que alcance um nível de compreensão mais elaborado, em relação às determinações históricas nas quais se situam as mudanças das politicas educacionais e sociais: seja pelo tratamento crítico dado aos conteúdos, seja pela continuidade das políticas educacionais promovidas pelo Estado. A importância da Filosofia e da Sociologia e do seu ensino encontra-se no tempo e nos recursos investidos na formação humanística e crítica do estudante e apostar que “ele será um agente mais consciente do seu papel social, não apenas com vistas à remuneração e status que possa auferir”. (DCE, 2008, p.94). Conforme expressa Sarandy (2001) “quando o aluno compreende (...) o drama concreto dos seus pares, é em grande medida resultante de uma configuração específica de seu mundo, então a Sociologia cumpriu sua finalidade pedagógica”. (p.95). Quanto aos limites das políticas educacionais do Estado do Paraná, assenta-se, conforme sinaliza Tomazi (2007) quando fala sobre o ensino da Sociologia na necessidade de se pensar que existem muitos professores que não possuem a licenciatura em Ciências Sociais, mas fizeram concursos em outras disciplinas e que estão ministrando aulas de sociologia, porque necessitam completar a sua carga horaria, o que também ocorre com professores que fizeram concursos e ministram aulas de sociologia mas precisam ministrar aulas de outras disciplinas. (p.594). Esta é uma realidade presente e persistente em relação às condições de trabalho docente que ainda persistem na realidade de muitas escolas. Souza (2008) nos alerta sobre essa questão em sua dissertação que discute o trabalho docente no cotidiano da escola pública na percepção do professor, “em que os professores cada vez mais percebem nas vivências cotidianas o recuo das condições mínimas e decentes (...) pela falta de condições e pelo cenário de precarização e intensificação a que estão submetidos” (p.85). Os desafios que se apresentam para os próximos anos, sugerem o que pauta por Silva (2007) “o papel da filosofia e da sociologia na formação dos adolescentes e dos jovens dependerá do tipo de escola, de ensino médio e de currículo que iremos definir ao longo da historia” (p. 422), observando que o currículo é vivo, é articulado e sempre deve ser alvo de debate no centro da prática pedagógica que está na escola. Referências 13 DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA. Filosofia. Curitiba: SEED/PR, 2008 DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA. Sociologia. Curitiba: SEED/PR, 2008 CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das letras, 1993. GALLO, S. Ensino de Filosofia: os principais desafios, 2011. Disponível em: http://www.anpof.org.br/spip.php?article118 . Acesso 25. Jul. 2013. MACHADO, L.Z. Estado, escola e ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1987. NEVES, V. F. Da sala de aula para a sala de aula: aprender, ensinar história na formação de professor dos anos iniciais do ensino fundamental. Curitiba: UTP, 2006. RAMOS, M. N. A contextualização no currículo de ensino médio: a necessidade da crítica na construção do saber científico. São Paulo: Mimeo, 2004. SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 2000. SARANDY, F. Reflexões acerca do sentido da sociologia no ensino médio. Revista Acadêmico. Vitória, ano 1, n.5, out. 2001. SILVA, I. F. A sociologia no ensino médio: os desafios institucionais e epistemológicos para a consolidação da disciplina. Cronos. Vol.8, jul/dez. 2007. SOUZA, L.A. A. 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