O ENSINO DE FILOSOFIA COMO PRÁTICA DE PESQUISA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA A PARTIR DO TEATRO, CINEMA E LEITURA E ESCRITA Ana Lucia Bighelini de Oliveira Átila Macedo Maia Everton Renan Cherubini Fernanda Veiverberg Jâneo Manoel Venturini Jerônimo Teixeira Lorena Miranda de Miranda Luciele da Silva Robson Barcelos 1 Saulo E. Ribeiro2 Tatiana Ribeiro3 Elisete M. Tomazetti4 EIXO TEMÁTICO: Políticas e vivências no espaço escolar O presente trabalho trata-se de um relato referente à experiência do subprojeto relativo ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência subprojeto, da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM/RS. O mesmo vem sendo coordenado pela Profª Drª. Elisete M. Tomazetti, vinculada ao Departamento de Metodologia do Ensino (MEN), do Centro de Educação e responsável pelas disciplinas de Pesquisa para o Ensino de Filosofia, Didática em Filosofia e Estágio Curricular Supervisionado, do curso de Licenciatura em Filosofia da UFSM, tendo como colaboradores os orientandos de doutorado e mestrado do Programa de Pós Graduação em Educação dessa instituição. O objetivo do trabalho é relatar a maneira como vêm sendo organizadas as atividades desde o início do projeto, bem como metodologia e referencial teórico que o grupo tem elegido para desenvolver seu trabalho nas escolas. O projeto teve início em março de 2010 com a seleção de bolsistas, seguida de reuniões semanais para 1 Bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID, da CAPES – Brasil na Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. 2 Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Educação – UFSM. 3 Mestranda e bolsista REUNI pelo Programa de Pós-Graduação em Educação – UFSM. 4 Professora orientadora Subprojeto Filosofia - PIBID/UFSM. 1 apresentação do projeto, apresentação das escolas participantes e planejamento de atividades. O grupo de vinte bolsistas dividiu-se entre as duas escolas, subdivididos em três grupos de trabalhos, quais sejam: Leitura & Escrita, Cinema e Teatro e Filosofia. Esses três eixos caracterizam-se como diferentes ferramentas pedagógicas para o ensino de filosofia no ensino médio, devido à necessidade de abordagens outras na construção desse conhecimento. Os grupos de trabalho reuniam-se semanalmente entre si para o estudo e desenvolvimento das pesquisas bibliográficas relativas a cada temática e quinzenalmente com o grande grupo para apresentarem os resultados de suas pesquisas e relatarem como vinham desenvolvendo as atividades nas escolas, dificuldades e alternativas para solucioná-las. A partir desse momento, deter-no-emos em relatar o modo de organização de cada grupo de trabalho. Leitura e escrita O grupo decidiu levar para a escola o trabalho com textos clássicos de filosofia, já que o texto é o principal instrumento de trabalho quando nos remetemos ao ensino de filosofia, mas na maioria das vezes ele não é apresentado aos alunos ou estes só se deparam com um exemplar durante o breve tempo de aula, enquanto as bibliotecas escolares permanecem fechadas. Esse fato foi comprovado mediante pesquisa de campo nas duas escolas vinculadas ao projeto, através de conversas informais com os alunos e de questionários mistos, que visavam à obtenção de um diagnóstico da relação dos alunos com textos filosóficos e não filosóficos. Assim, com o apoio das professoras titulares, planejamos oficinas com o objetivo de minimizar os problemas em relação à leitura e escrita dos alunos e de instrumentalizá-los para que eles viessem a ter maior familiaridade com a filosofia. Desde então foram realizadas dezenove oficinas. Essas atividades se constituem como uma oficina filosófica onde os alunos são apresentados ao texto, em que aprendendo a reconhecer os conceitos e a estrutura argumentativa do texto filosófico aprendem também a utilizá-los na produção de seus próprios textos. Neste sentido, partindo da concepção de PORTA (2002), acreditamos que a filosofia procede basicamente por problemas e que a leitura de um texto filosófico deve ser minuciosa e detalhada. Isso exigirá o reconhecimento de argumentos, de conceitos, 2 da tese, de palavras-chave, das principais noções, que possibilitam ao aluno acessar o texto e, por conseguinte, a refletir sobre o que um filósofo pensou acerca de determinados temas e problemas que podem ser, direta ou indiretamente, de interesse para o aluno-leitor. Seguindo a proposta metodológica de SILVIO GALLO (2007, p.174 – 196), o qual considera que a aula de filosofia é como uma espécie de oficina de conceitos, um ambiente onde os alunos são chamados a criar e experimentar conceitos, foram desenvolvidas oficinas seguindo um planejamento composto por quatro momentos, a saber: sensibilização, problematização, investigação e conceituação. Foram usados como base fragmentos das obras: A política e Ética a Nicomaco, de Aristóteles, As Meditações Metafísicas de René Descartes, Leviatã de Thomas Hobbes, O Capital de Marx e Ideologia Alemã do mesmo autor com Engels. As atividades iniciam com uma sensibilização, que pode acontecer de diversas formas, vídeos, exposição de informações histórico-filosóficas, charges, imagens, visando uma aproximação do aluno para com o tema que será abordado. Em seguida o problema presente no texto (de forma implícita ou explicita) é abordado, gerando a investigação onde é feita uma leitura orientada, frisando aspectos gramaticais e a análise do que o autor escreveu sobre o tema. A última etapa é direcionada para o estudo dos conceitos abordados anteriormente, é onde o aluno apresenta a sua compreensão do problema através da escrita. Cinema e filosofia Para garantir a viabilidade de uma aula de Filosofia não podemos ignorar o fato de que o texto pode parecer, por vezes, inerte e pouco atrativo, por isso se torna necessário adotar uma perspectiva metodológica que leve em conta os mais variados meios de acesso para o filosofar. O cinema, dentre outros meios (artísticos em geral) potencializa justamente o uso do texto filosófico, porque passa a funcionar em sintonia com a linguagem escrita, abrindo uma senda maior de possibilidades de elucidação de conceitos e problemáticas inerentes à Filosofia. Acreditamos que o cinema nos oferece algumas características muito próprias e essenciais que favorecem e aperfeiçoam a sua utilização enquanto recurso didático. O que se deve principalmente ao fato de o cinema proporcionar aos seus espectadores uma incrível impressão de realidade, desencadeando um processo perceptivo e efetivo de “participação”. O cinema pode ser considerado filosófico se for possível analisar os 3 filmes do ponto de vista conceitual, considerando-os como sucessões de conceitos mostrados ou conceitos vistos. (CABRERA, 2006, p.45) Os primeiros passos foram organizar o grupo de trabalho, conhecer as escolas e elaborar um projeto inicial. Diante da necessidade de trazer os alunos para o projeto “Filosofia e Cinema na Escola”, optamos por produzir um vídeo de sensibilização para a nossa apresentação. Com o vídeo, que tem 35 minutos, buscamos esclarecer de maneira simples o que é a Filosofia, como ela surgiu e quais são os seus fundamentos. Da mesma maneira abordamos a história do cinema desde as primeiras animações até alguns dos grandes clássicos do cinema mundial. O vídeo foi exibido em todas as turmas do ensino médio nas duas escolas e também utilizamos como recurso neste processo inicial um questionário com o intuito de obter um diagnóstico mínimo sobre os limites de possibilidades do que poderíamos vir a fazer. Ao que se refere a exibições de filmes propriamente ditas, além de discutirmos opiniões sobre os filmes, solicitamos que os alunos apontassem assuntos que considerassem de interesse às reflexões filosóficas, elaborando comentários, destacando palavras, conceitos e cenas que considerassem essenciais para a compreensão da trama. Os filmes exibidos nas duas escolas contabilizaram a soma de quatorze longas metragem. Teatro e Filosofia O teatro é utilizado pelo grupo como uma ferramenta, isto é, um recurso pedagógico de ensino e aprendizagem da filosofia no ensino médio. Nosso trabalho fora, desde sempre, pautado por três esferas de ação que, de alguma forma, precisavam funcionar em harmonia: filosofia, teatro e educação. O grande desafio é tornar a filosofia mais palpável em relação aos jovens do ensino médio através da linguagem cênica e, a partir desta, estimular saberes e debates filosóficos, senso crítico e criatividade, com temáticas que se relacionam com o quotidiano dos estudantes e com os conteúdos da disciplina de filosofia. Dentro desta perspectiva, chegamos à conclusão de que o caminho mais apropriado para obtermos resultados seria trabalhar estruturando oficinas filosóficas, pautadas pela lógica dos jogos teatrais. O inicio de nossas atividades é baseada em uma introdução ao teatro, onde trabalhamos jogos teatrais com o intuito de fazer com que os estudantes conhecessem seus próprios corpos, possibilidades e limitações, para depois mais tarde fazermos a relação do teatro com a filosofia, propriamente dita. 4 Os momentos das oficinas que realizamos com os estudantes baseiam-se em etapas: primeiro junto com os estudantes há a formulação de um problema para ser debatido, partimos para uma encenação de onde e como este problema é visto, depois realizamos um debate acerca das possibilidades de soluções da problemática, para por fim fazermos a encenação de uma possível solução para o problema. No projeto temos alguns referenciais teóricos que guiam nosso trabalho: “Teatro do Oprimido” do teatrólogo Augusto Boal (1975), “Pedagogia do Oprimido” de Paulo Freire (1987) e “Pedagogia do Conceito”, de Silvio Gallo (2005). Por fim, com o projeto buscamos desenvolver uma proposta pedagógica que dê conta de um trabalho didático que envolve texto filosófico, teatro e cinema como instrumentos para a reflexão filosófica. Essa proposta preconiza outras linguagens e ferramentas pedagógicas, que promovem novos sentidos e objetivos para o ensino de filosofia. Assim, com a participação dos professores de filosofia das escolas envolvidas, foi possível construir ferramentas didático-pedagógicas importantes para a produção das oficinas. Essas ferramentas poderam ser gradativamente assumidas pelos alunos para que problematizassem suas vidas. Referências: CABRERA, Julio. O cinema pensa: uma introdução à filosofia através dos filmes. Rio de Janeiro: Rocco, 2006. FOLSCHEID, Dominique; WUNENBURGER, filosófica.São Paulo:Martins Fontes,2006. Jean-Jacques. Metodologia GALLO, S; KOHAN, W. Crítica de alguns lugares-comuns ao se pensar a filosofia no ensino médio. In: GALLO, S; KOHAN, W (Org.). Filosofia no ensino médio. 2ª ed. Petropólis: Vozes, p.174 – 196. METZ, Christian. Debates: A significação no Cinema. Editora Perspectiva. 2ª edição. São Paulo. 1977. NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. Editora Contexto. 2ª edição. São Paulo. 2005. PORTA, M. A filosofia a partir de seus problemas: didática e metodologia do estudo filosófico. 3.ed. São Paulo: Loyola, 2002. 5