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UTILIZAÇÃO DE VACINAS PARA O CONTROLE DA TOXOPLASMOSE
JOÃO LUIS GARCIA1 *
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Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Centro de Ciências Agrárias,
Universidade Estadual de Londrina, CP 6001, CEP, Londrina-PR
*e-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT: GARCIA, J.L.[Vaccines for control of toxoplasmosis]. Utilização de
vacinas para o controle da toxoplasmose. Revista Brasileira de Parasitologia
Veterinária. Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Centro de Ciências
Agrárias, Universidade Estadual de Londrina, CP 6001, CEP, Londrina-PR. E- mail:
[email protected].
Toxoplasma gondii is an intracellular parasite that may infect many animal species and
human beings. Despite the parasite’s knowledge we do not have a safe vaccine for
prevention of the infection for both humans and animals. A vaccine for toxoplasmosis
will have to use different antigens expressed in all stages of the parasite associated with
adequate adjuvant and immunization route. This article reviews some aspects about
vaccination against T. gondii.
KEYWORDS: Toxoplasma gondii, vaccine.
RESUMO
Toxoplasma gondii é um parasita intracelular que pode infectar muitas espécies de
animais, inclusive, os seres humanos. O parasita é estudado mundialmente, no entanto,
nenhuma vacina segura contra a infecção encontra-se disponível. Uma vacina para
toxoplasmose deverá utilizar antígenos expressos em todos os estágios do parasita
associado com uma via e adjuvante adequado. O objetivo do presente artigo é revisar
alguns aspectos sobre o uso de vacinas para prevenir a toxoplasmose.
PALAVRAS-CHAVE: Toxoplasma gondii, vaccine.
INTRODUÇÃO
Toxoplasma gondii é um protozoário que normalmente causa uma infecção
subclínica, porém a infecção primária durante a gestação pode causar patologias fetais
bem como abortos em algumas espécies de animais como em humanos
(VERCAMMEN et al., 2000).
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O risco de adquirir a infecção através do consumo de carnes cruas ou mal
cozidas, fato comum em várias regiões no Brasil, é relatado por Navarro et al. (1992).
Inclusive, Gilbert et al. (2000) estimaram que 2/3 de todos os casos de toxoplasmose são
causados por ingestão de carne infectada. Por este motivo o controle de cistos teciduais
nas carnes de consumo, tal como, ovina, caprina e suína é importante, sendo que o
consumo de carne suína é considerado, em vários países, a principal fonte de infecção
para os seres humanos (DUBEY et al., 1994).
Acreditava-se que a imunidade para o T. gondii fosse dependente da infecção
crônica, pela persistência dos cistos teciduais e estímulo antigênico, contudo estudos
com a cepa ts-4 (não cistogênica) demonstraram imunidade estéril, sem a presença da
infecção crônica (FRENKEl, 1990), o que é estimulante para estudos com vacinas de
subunidades ou inativadas.
A imunidade para T. gondii é mediada principalmente pela imunidade celular
(SUPPLY et al., 1999), no entanto, a imunidade humoral é importante na resistência da
célula do hospedeiro, uma vez que esta pode inibir a proliferação intracelular do
parasita, bem como taquizoítos aderidos a anticorpos podem ser destruído por
macrófagos e sistema complemento (FRENKEL, 1990).
Dentre as formas de controle do parasita estão as práticas de manejo dos
animais, educação sanitária e vacinação. O controle da toxoplasmose envolve a
vacinação, dos felídeos para impedir a eliminação de oocistos e conseqüente
contaminação ambiental, dos animais de produção para diminuir o número de cistos
teciduais nos tecidos, e das fêmeas prenhas para impedir a infecção transplacentária. A
vacinação em animais tem também o objetivo de minimizar as perdas econômicas na
indústria animal (DUBEY, 1996).
Considerando que a porta de entrada natural do T. gondii é a superfície da
mucosa do intestino e que uma infecção adquirida naturalmente gera uma imunidade
protetora persistente, estes dados, apontam para a importância do desenvolvimento de
uma vacina que estimule a proteção de mucosa (BONENFANT et al., 2001).
A imunidade para o T. gondii desenvolvida por uma vacina deve associar o local
correto de imunização, bem como o uso de proteínas do parasita que promovam
proteção adequada, pois o parasita apresenta três estágios diferentes (esporozoíto,
taquizoíto e bradizoíto) que podem expressar antígenos diferentes nestes estágios
(SPEER et al., 1995; GARCIA et al., 2004).
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RESPOSTA IMUNE
A infecção por T. gondii raramente apresenta sinais clínicos no
hospedeiro, no entanto, a severidade da doença, quando esta ocorre, esta relacionada à
espécie, idade do hospedeiro, hormônios sexuais, prenhes, “status” imunológico,
condição nutricional, amostra do parasita, estágio do parasita, e infecções concomitantes
(LUFT & REMINGTON, 1992; DUBEY, 1994; DUBEY et al., 1994; LIESENFELD et
al., 2001; DUBEY et al., 2008). Os mecanismos envolvidos na proteção do hospedeiro
contra a infecção são a resposta imune humoral e celular.
Após a fase aguda, o hospedeiro desenvolve uma boa imunidade que é
duradoura e protetora para re- infecções e, nesta fase crônica, os parasitas permanecem
em cistos teciduais. Nesta fase, altos títulos de anticorpos específicos estão presentes,
estes, na presença de complemento, bem como, pela citotoxicidade celular dependente
de anticorpos, podem lisar os parasitas extracelulares, bloqueando a invasão da célula
do hospedeiro uma vez que a produção máxima de anticorpos coincide com o
desaparecimento de taquizoítos viáveis (FRENKEL, 1990; WASTUNG et al., 1995).
Isoladamente a resposta humoral não é suficiente para promover imunidade no
hospedeiro, provavelmente devido a localização intracelular do parasita e vários autores
têm demonstrado a importância da resposta celular na imunidade do agente (BUXTON
et al., 1989; FRENKEL, 1990; KHAN et al., 1991; GAZZINELLI et al., 1992;
DENKERS et al., 1993).
A principal porta de entrada do T. gondii é a via oral, sendo que nos herbívoros
oocistos são a principal via de transmissão, portanto a imunidade local via linfócitos
(principalmente linfócitos intraepitelias que apresentam atividade CD8) e IgA são de
fundamental importância na proteção contra o parasita (BOURGUIN et al. (1993);
VELGE-ROUSSEL et al., 2000).
VACINAS
Nas últimas décadas houve um grande aumento no número de tecnologias e
pesquisas imunológicas, para a produção de novas vacinas. As vacinas são separadas em
três grupos, as vivas (virulentas ou atenuadas), as de subunidades e as genéticas. As de
subunidades apresentam como vantagem serem incapazes de replicar no hospedeiro, ou
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reverter à virulência, não sendo transmissíveis para outros indivíduos. As vacinas vivas
normalmente estimulam tanto a resposta imune humoral como a celular.
As estratégias para reduzir a transmissão da toxoplasmose incluem práticas de
manejo e vacinação. A vacinação tem como objetivo reduzir os danos fetais, o número
de cistos teciduais, além de prevenir a formação de oocistos em felinos (DUBEY,
1996).
Estudos têm demonstrado que a imunidade para T. gondii envolve a imunidade
celular e humoral e que vacinas efetivas devem estimular os mecanismos de imunidade
celular e uma boa quantidade de anticorpos específicos circulantes, para juntos,
prevenirem a invasão da célula do hospedeiro e subseqüentes parasitemia (SETHI e
PIEKARSKI, 1987; BUXTON et al., 1989).
Os métodos possíveis para o controle da toxoplasmose são a proteção de animais
prenhes, vacinação que pode ser com antígeno vivo ou inativado e quimioprofilaxia.
Existe uma limitação no uso de vacinas vivas em humanos e animais prenhes, enquanto
que as vacinas de subunidade e inativadas são mais seguras e estáveis (JOHNSON,
1989).
Várias cepas do T. gondii candidatas a vacina foram testadas, tal como, as cepas
mutantes ts-4 (termosensível), S48 (perdeu a capacidade de formar cistos) e a T263 (não
produzem oocistos em felinos), bem como o uso de parasitas correlatos como
Hammondia hammondi (MUNDAY e DUBEY, 1988; DUBEY, 1996).
Vacinas para felinos
Embora sejam considerados a chave para o controle da toxoplasmose
poucos estudos com o objetivo de produção de uma vacina para esses animais têm sido
feito. Uma vacina nesta espécie deveria evitar ou diminuir a eliminação de oocistos
pelas fezes.
Uma vacina viva mutante T-263 (não forma oocistos em gatos) foi testada e
preveniu a eliminação de oocistos em mais de 84% dos gatos testados (FRENKEL et al.,
1991; FREYRE et al., 1993). Uma desvantagem dessa vacina é que ela utiliza
bradizoítos vivos, o que apresenta problemas de criopreservação, bem como, problemas
de contaminação (DUBEY, 1995).
Taquizoítos irradiados com Co60 bem como vacina de DNA foram avaliadas,
porém, não reduziram totalmente a eliminação de oocistos (OMATA et al., 1996;
MISHIMA et al., 2002)
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Mais recentemente, Garcia et al. (2007) avaliaram uma vacina pela via nasal
com proteínas de roptrias incorporadas ao Quil- A no controle da eliminação de oocistos.
Os autores verificaram uma proteção de 65% naqueles animais vacinados quando
comparados ao grupo controle.
Vacinas para ovinos e caprinos
As principais estratégias para uma vacina contra a toxoplasmose nestas espécies
seriam impedir a infecção congênita e a formação de cistos teciduais. T. gondii é
considerado o principal agente causal de abortos em caprinos e ovinos, bem como, estas
espécies podem atuar como via de transmissão para os seres humanos através do
consumo de carne crua ou mal cozida (BUXTON, 1998).
Os únicos dois estudos para prevenir a toxoplasmose clínica e abortos em
caprinos utilizaram um protozoário Apicomplexa heterólogo o Hammondia hammondi
não patogênico para caprinos (DUBEY, 1981a, DUBEY, 1981b).
A cepa incompleta S48 foi testada por Wilkins et al. (1988) em ovinos, para
avaliar a capacidade de diminuir a transmissão vertical e reduzir as perdas com aborto,
sendo observado uma significante proteção contra os efeitos do desafio experimental e
das taxas de infecção congênita. A partir deste e outros estudos desenvolveu-se uma
vacina comercial para ser utilizada em ovinos, atualmente a única vacina comercial
existente contra a toxoplasmose, esta contém taquizoítos vivos da cepa S48. No entanto,
esta vacina um risco potencial para o manipulador, apresenta um período de validade
curto, é cara, pode causar lesões no local da aplicação, pode reverter a virulência, bem
como, a imunização de ovelhas não impede a infecção fetal após desafio com cepa
virulenta (Buxton et al., 1991; Boophale, 2003; Stanley et al., 2004) .
Buxton et al. (1989) testaram uma vacina com proteínas de membrana (peso
moleculares de 50 KDa, 44KDa, 32KDa e 20 KDa) incorporadas ao ISCOM, em
ovelhas antes e durante a gestação, o desafio foi realizado com 91 dias de gestação com
oocistos de T. gondii. Não observaram diferença estatística na mortalidade de cordeiros
nos grupos vacinados e não vacinados e, embora o grupo vacinado tenha apresentado
altos títulos de anticorpos esses animais apresentaram-se febris entre os dias seis e nove
após o desafio.
Supply et al. (1999) produziram uma vacina com proteína recombinante de
grânulo denso (GRA1) produzida e associada pelo BCG (Mycobacterium bovis) e a
testaram em camundongos e ovinos. Em camundongos a BCG falhou em produzir
resposta imune celular e humoral, mas em ovinos houve uma resposta celular mediata
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específica para GRA1, proliferação de células mononucleares periférica e INF -γ e os
resultados da avaliação clínica revelaram proteção parcial para o desafio.
Vacinas para suínos
Cistos teciduais em suínos podem persistir por mais de dois anos, além disso, a
carne suína é considerada uma das principais vias de transmissão para os seres humanos
(DUBEY et al., 1991; DUBEY et al., 1998). Por isso, vacinas desenvolvidas para esta
espécie devem impedir a formação de cistos teciduais.
Dubey et al. (1991) vacinaram suínos com a cepa RH e verificaram que a mesma
não forma cistos teciduais nesta espécie. Os suínos, vacinados parentalmente com
taquizoítos da cepa RH, foram protegidos pelo desafio oral com oocistos, independente
da formação de cistos teciduais. Estes dados são animadores para o desenvolvimento de
uma vacina.
Para avaliar a imunidade para uma cepa não persistente (RH) do T. gondii em
suínos, Dubey et al. (1994) utilizaram testes de bioensaio e histológico e verificaram
que o parasita não foi recuperado dos tecidos dos animais vacinados e a imunidade
protetora permaneceu por, no mínimo, sete meses após a vacinação.
Da mesma forma, Pinckney et al. (1994) estudaram a segurança e a eficácia na
prevenção de formação de cistos teciduais através da imunização com a cepa ts-4 em
suínos jovens, nenhum dos animais dos grupos que receberam a vacina com ts-4
desenvolveram sinais clínicos ou morreram, nem se conseguiu recuperar essa cepa dos
tecidos dos animais inoculados, porém, após desafio com cepa cistogênica a ts-4 não
preveniu contra a formação de cistos teciduais, o que demonstra a necessidade de mais
estudos para avaliar a capacidade desta cepa em prevenir a formação de cistos em
suínos.
Freire et al. (2003) imunizaram suínos com uma vacina utilizando-se de um
lisado de taquizoítos do T. gondii incorporados ao ISCOM e, após o desafio verificou
que a vacina foi capaz de estimular uma forte resposta imune humoral.
Garcia et al. (2005) estudaram o uso de proteínas de roptrias do T. gondii
incorporadas ao ISCOM para proteger suínos frente a um desafio utilizando oocistos, e
verificaram uma proteção parcial do grupo vacinado, quando comparado ao grupo
controle positivo, contra a formação de cistos teciduais. Relata ainda que a imunização
sistêmica pela via sub-cutânea não foi eficaz em estimular uma proteção de mucosa
intestinal.
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Jongert et al. (2008) estudaram uma vacina com pool de plasmídeos expressando
as proteínas GRA1 e GRA7 utilizada pela via intradérmica em suínos e verificaram
altos níveis de anticorpos detectados por ELISA. Os autores relatam a possibilidade
deste tipo de vacinação proteger contra a formação de cistos teciduais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente tem-se trabalhado com a possibilidade da utilização de vacinas de
DNA para várias doenças como a malária, criptosporidiose, leishmaniose e
toxoplasmose. A primeira geração de vacinas foi aquelas que utilizaram antígenos
atenuados ou mortos, a segunda geração compreende as vacinas de subunidade
(proteínas purificadas ou recombinantes) e as vacinas de ácido nucleico são conhecidas
como de terceira geração.
Existem várias pesquisas utilizando possíveis genes do T. gondii candidatos à
vacina incorporados a vetores (plasmídeos), bem como, proteínas recombinantes do
parasita, a maioria destes estudos foi realizado em camundongos. Estes têm a finalidade
básica de avaliar a proteção contra a infecção aguda ou crônica da doença, dependendo
da variedade de camundongos utilizados. Atualmente, alguns estudos tem usado vacinas
de DNA com plasmídeos expressando multiantígenos do parasita (ZHANG et al., 2007).
A imunogenicidade das vacinas de subunidade deve ser melhorada com o uso de
adjuvantes, bem como múltiplas doses são necessárias para o desenvolvimento de uma
imunidade protetora prolongada, que normalmente estimula a resposta imune humoral e
dependendo do adjuvante podem estimular a resposta imune celular.
O uso de vacinas pela via mucosa associadas a adjuvantes apropriados podem
induzir uma resposta imune tanto local como sistêmica (VELGE-ROUSSEL et al.,
2000). Esta via tem sido utilizada com sucesso para diminuir a formação de cistos
teciduais em camundongos (IGARASHI et al., 2008) e na diminuição da eliminação de
oocistos por gatos (GARCIA et al., 2007).
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Utilização de vacinas para o controle da toxoplasmose