DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA REVISÃO E REDAÇÃO SESSÃO: 162.1.54.O DATA: 22/06/11 TURNO: Vespertino TIPO DA SESSÃO: Ordinária - CD LOCAL: Plenário Principal - CD INÍCIO: 14h TÉRMINO: 17h27min DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR PARA REVISÃO Hora Obs.: Fase Orador CÂMARA DOS DEPUTADOS Ata da 162ª Sessão, em 22 de junho de 2011 Presidência dos Srs. ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ÀS 14 HORAS COMPARECEM À CASA OS SRS.: Marco Maia Rose de Freitas Eduardo da Fonte Eduardo Gomes Jorge Tadeu Mudalen Inocêncio Oliveira Júlio Delgado Geraldo Resende Manato Carlos Eduardo Cadoca Sérgio Moraes CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 I - ABERTURA DA SESSÃO O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Havendo número regimental, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos trabalhos. O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da sessão anterior. II - LEITURA DA ATA O SR. SEBASTIÃO BALA ROCHA, servindo como 2° Secretário, procede à leitura da ata da sessão antecedente, a qual é, sem observações, aprovada. O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Passa-se à leitura do expediente. O SR. ..........................................................., servindo como 1° Secretário, procede à leitura do seguinte III - EXPEDIENTE Não há expediente a ser lido 3 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Passa-se ao IV - PEQUENO EXPEDIENTE Concedo a palavra ao primeiro orador do Pequeno Expediente, o Deputado Sebastião Bala Rocha, do PDT do Amapá. 4 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. SEBASTIÃO BALA ROCHA (PDT-AP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, na próxima sexta-feira, dia 24, acompanharei Deputados da Assembleia Legislativa do meu Estado a uma viagem ao Oiapoque para tratar de assuntos de interesse transfronteiriço do Amapá e da Guiana Francesa. Espero que a cooperação entre Brasil e França seja cada vez mais produtiva para o desenvolvimento da região. Ali, Sr. Presidente, há muitos problemas: garimpos, principalmente, e entrada irregular de brasileiros no território da Guiana Francesa. Esse quadro só será revertido quando Brasil e França se unirem e estruturarem para o Oiapoque um projeto de desenvolvimento. Temos trabalhado nesse sentido. Sou autor de projeto de lei cria área de livre comércio do Oiapoque, clara reivindicação daquele povo, para que, num futuro próximo, ali possam surgir novas iniciativas na área econômica, uma vez que a economia do ouro está em decadência, haja vista a grande repressão promovida pelo Governo francês nos garimpos ilegais na Guiana Francesa. Temos, então, de ter opções econômicas, e uma delas é a área de livre comércio. Temos outras, entre as quais a pesca e a transformação do Oiapoque em cidade universitária. Devemos investir em conhecimento e implantar na região do Oiapoque uma economia do conhecimento. A ponte que liga o Brasil à Guiana já está construída; faltam apenas algumas estruturas para sua inauguração, como posto de fronteira. 5 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Portanto, Sr. Presidente, espero que esse evento da próxima sexta-feira, patrocinado pela Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Legislativa do Amapá, seja um sucesso para o desenvolvimento do Oiapoque. 6 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 A SRA. JÔ MORAES (Bloco/PCdoB-MG. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, caros Deputados, queridas Deputadas, esta semana presenciamos acontecimento muito doloroso na vida cotidiana de Belo Horizonte. O motorista José Góes dos Santos foi assassinado numa circunstância verdadeiramente absurda. Motorista, ele conduzia passageiros do Bairro Jardim Leblon, e dois marginais entraram no ônibus e solicitaram que ele parasse o veículo fora do ponto estabelecido. José disse que não poderia fazê-lo, porque seria multado. De pronto, os dois marginais deram um tiro na cabeça dele. Revoltado, o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Belo Horizonte fez seu protesto. Quero solidarizar-me com os familiares de José Góes dos Santos, na esperança de que venhamos a aplicar uma legislação mais adequada para esses crimes. Não tenho dúvida de que a segurança pública exige atuação mais efetiva, mas devemos também compreender que a proteção aos direitos dos trabalhadores em transportes terrestres é um desafio e um compromisso que deve ser realizado por esta Casa. Por isso, na Frente Parlamentar em Defesa dos Trabalhadores em Transportes Terrestres, estamos solicitando a aprovação do Estatuto do Motorista, para que, além da proteção ao trabalho cotidiano por eles realizados, possa esse profissional ter garantida proteção à sua segurança e aos seus direitos. Sr. Presidente, dou como lida essa questão. O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Parabéns, Deputada Jô Moraes. Realmente, trata-se de um caso grave acontecido no Estado de V.Exa. A Mesa se solidariza com a família do motorista e também com todos os trabalhadores em transportes coletivos de Belo Horizonte. 7 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELA ORADORA Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero registrar minhas condolências e solidariedade aos familiares do motorista José Góes dos Santos, assassinado nesta semana em minha Belo Horizonte. Essa solidariedade se estende aos seus colegas de trabalho, que estão de braços cruzados em protesto contra a violência a que estão expostos no dia a dia. A paralisação das atividades provocou verdadeiro caos nesta manhã em Venda Nova, em especial a Estação BHbus da região, que atende a 60 mil passageiros diariamente. Venda Nova é um dos dois distritos de Belo Horizonte — o outro é o Barreiro —, mas, tal como o Barreiro, já se incorporou à cidade e tem uma população estimada em mais de 300 pessoas.Não há um dia sequer que não nos confrontemos com uma cena, uma notícia, uma imagem de violência extrema dizimando trabalhadores, estudantes, famílias, fragilizando o elo social. Em Venda Nova, o assassinato de José Góes dos Santos, quando dirigia um coletivo da Linha 640, Bairro Jardim Leblon, foi por um motivo fútil. Dois assaltantes em fuga pegaram o ônibus e pediram para o motorista parar num local que não o ponto instituído pela empresa de transporte e pelo Departamento de Trânsito da cidade. O motorista disse que não o faria, pois poderia ser multado e perder o emprego, já que o ônibus é monitorado. Foi o bastante para que atirassem contra ele, que chegou a ser levado ao hospital Risoleta Neves, na região, mas não resistiu aos ferimentos. Revoltados, e com razão, pois perderam mais um companheiro de forma bárbara, os motoristas paralisaram as atividades. Muitos usuários de coletivos, que precisam do ônibus para ir ao trabalho, à escola, enfim, para se deslocarem, não 8 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 entendem o movimento, pois também são afetados de forma drástica e se indignam pelos prejuízos sofridos. Os ânimos estão acirrados e há registros até de tentativas de agressão física entre as partes. Senhoras e senhores, precisamos repensar as relações de convivência, a segurança pública, a criação de nossas crianças. Um dos assassinos tem apenas 14 anos; o outro, 19 anos. Não podemos mais conviver com crianças e jovens sem nenhum parâmetro de fraternidade, de civilidade. Não podemos mais ficar expostos a assaltos, tiros e mortes até no interior de ônibus. Não dá mais para flexibilizar nossa paciência. Não dá mais para fechar os olhos ao caos instalado. Não mesmo! Durante o discurso da Sra. Jô Moraes, o Sr. Luiz Couto, § 2º do art. 18 do Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Sebastião Bala Rocha, § 2º do art. 18 do Regimento Interno. 9 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Dando prosseguimento aos trabalhos, convido o Deputado Luiz Couto a usar a tribuna. V.Exa. tem a palavra, Deputado Luiz Couto. O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é importante que possamos aprovar o projeto que trata da Comissão da Verdade e Memória e, eu diria, também da justiça. Consideramos importante que seja dada à documentação que ainda está sob sigilo a devida publicidade. Queremos parabenizar a Presidenta Dilma, que, mesmo sofrendo pressões, considerou importante a publicação desses documentos, principalmente aqueles em que está presente a violação de direitos humanos, para que a população brasileira tome conhecimento do que aconteceu no período da ditadura e aprenda a lição. E que nunca mais aconteça ao que ocorreu naquele período em que a liberdades democráticas foram abolidas. Então, nesse aspecto, achamos importante continuar o debate. Ninguém quer revanchismo. Queremos que a população brasileira saiba o que aconteceu, tome conhecimento dos fatos e que os responsáveis por aquelas atrocidades possam, pelo menos, pedir desculpas à Nação brasileira pela tortura, pelo desaparecimento e morte de muitas pessoas. Parabenizo o Governo por sua posição. É preciso que a verdade apareça, porque a verdade nos liberta. O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Deputado Luiz Couto, a Mesa também apoia o seu pronunciamento e agradece a V.Exa. sua participação nesta sessão. 10 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Convido para fazer uso da palavra o Deputado Marllos Sampaio, do PMDB do Piauí. O SR. MARLLOS SAMPAIO (PMDB-PI. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho a esta tribuna para tornar pública uma audiência importante que tive ontem com a Ministra dos Direitos Humanos, a Deputada Federal Maria do Rosário, quando tratamos mais uma vez da problemática dos golpes dos empréstimos consignados contra os nossos idosos, contra uma população que hoje gira em torno de 20 milhões de brasileiros. Solicitamos que na Conferência Nacional dos Direitos dos Idosos, que vai acontecer em novembro, seja incluída na pauta das discussões a problemática dos empréstimos consignados. É preciso convocar a FEBRABAN para participar dessas reuniões, para que cheguemos a um consenso e possamos juntos, unidos com a Secretaria dos Direitos Humanos, o Ministério da Previdência e a FEBRABAN, tornar viável uma campanha publicitária de âmbito nacional, para alertar os idosos quanto às armadilhas que podem ser realizadas por pessoas inescrupulosas, que usam o empréstimo consignado para enriquecer ilicitamente. Isso já foi devidamente comprovado num dossiê que apresentamos na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, numa grande audiência pública realizada na semana passada, que foi muito proveitosa e serviu para mostrar para esta Casa, para os brasileiros e brasileiras que o empréstimo consignado hoje gera mais de 100 bilhões na economia brasileira. Mais de 40 milhões de contratos circularam desde o ano passado até agora. Então, são números estratosféricos que geram uma preocupação muito grande. São números astronômicos, muito superiores até ao que eu imaginava. 11 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Precisamos nos ater a essa preocupação e tornar o assunto público. Que esta Casa tome as devidas providências, que outros Deputados se unam a esta causa nobre e a favor dos aposentados no Brasil. O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Muito obrigado, Deputado Marllos pela participação de V.Exa. 12 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Convido para fazer uso da palavra o Deputado Fernando Marroni, do PT do Rio Grande do Sul. V.Exa. tem a palavra, Deputado. O SR. FERNANDO MARRONI (PT-RS. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, brasileiros que nos assistem pela TV Câmara, na última sexta-feira, a Presidenta Dilma Rousseff e o Ministro da Agricultura, Wagner Rossi, lançaram o Plano Safra para os anos de 2011 e 2012. Em primeiro lugar, quero destacar os 107,2 bilhões de reais que serão oferecidos em créditos para a agricultura. Um recorde, diga-se de passagem. Porém, neste pronunciamento quero me referir ao Programa Agricultura de Baixo Carbono, o ABC. Criado em 2010, os novos investimentos no ABC, anunciados por Dilma e Rossi durante a cerimônia de lançamento do Plano Safra, mostram que a agricultura sustentável tornou-se um dos principais eixos do Plano Agrícola e Pecuário brasileiro. O ABC irá incorporar todos os programas de investimentos voltados à produção eficiente com sustentabilidade. Assim, terá um investimento de 3,15 bilhões de reais no novo Plano Safra. Isso mesmo, nobres colegas, 3,15 bilhões de reais. A partir de agora o ABC irá englobar o Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas — PROPFLORA e o Programa de Estímulo à Produção Agropecuária Sustentável — PRODUSA. Segundo o Ministro Rossi, “o governo está dando passos largos para tornar a agricultura e a pecuária brasileira como uma das mais inovadoras do mundo”. Entre as novas ações do ABC, estão o plantio direto na palha, recuperação de áreas degradas, integração lavoura-pecuária-florestas, plantio 13 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 de florestas comerciais, fixação biológica de nitrogênio e tratamento de resíduos animais. E tudo isso, Sras. e Srs. Deputados, estará ao alcance do produtor, pois o acesso ao crédito ficará mais fácil. A taxa de juros do Programa ABC é de 5,5% ao ano, a menor fixada para o crédito rural destinado à agricultura empresarial. O prazo de pagamento pode chegar a 15 anos. Produtores e cooperativas poderão contratar até 1 milhão por beneficiário. A preocupação do Governo brasileiro, porém, vai além da Agricultura de Baixo Carbono. A Presidenta Dilma anunciou que também vai ampliar o limite do custeio da safra, fixado em 650 mil reais, para os produtores que adotarem práticas sustentáveis como o plantio direto na palha, o sistema de agricultura orgânica e os que já possuam ou apresentem plano de recuperação de áreas de preservação permanente (APPs) e de reserva legal. Esse valor pode ser expandido em até 45%, dependendo da quantidade de técnicas utilizadas pelo produtor. Portanto, quero deixar aqui meus sinceros parabéns a todos os envolvidos nessa grande iniciativa do Governo Federal. Nosso País já é referência no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável, e ações como o Programa Agricultura de Baixo Carbono reforçam essa imagem. Somos um País verde, da Safra Verde. Encerro este pronunciamento com uma frase da Presidenta Dilma que resume o pensamento do Governo Federal em relação a esse tema: “A eficiência só virá se a agricultura estiver de braços dados com a sustentabilidade”. Muito obrigado, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Obrigado a V.Exa. Parabéns pelo pronunciamento que acaba de fazer da tribuna desta Casa. 14 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - O Deputado Gonzaga Patriota pede a palavra por 1 minuto. S.Exa. tem a palavra. O SR. GONZAGA PATRIOTA (Bloco/PSB-PE. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, apenas para registrar a ida da nossa querida Presidente da República, Dilma Rousseff, a Caruaru hoje, o que é muito importante. Vejo o Líder Luiz Couto, da Paraíba, onde também tem o São João de Campina Grande, perto de Caruaru. Mas a Presidente fez a opção de ir hoje a Caruaru, e obviamente depois irá à Paraíba. Isso é importante para o Nordeste. Daqui a pouco vou falar no Grande Expediente sobre o Nordeste. Agradeço a nossa Presidente pela ida a Pernambuco e à Paraíba também. Com certeza, a Presidente vai atender alguma coisa do “Tratado de Tordesilhas” que vou trazer daqui a pouco. Obrigado. 15 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Dando prosseguimento ao Pequeno Expediente, concedo a palavra ao ilustre Deputado Luiz Couto, em permuta com a Deputada Jô Moraes. O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Deputada Jô Moraes pela permuta. Sr. Presidente, precisamos fazer o combate permanente às violências praticadas contra crianças, adolescentes e mulheres. Hoje, o Bom Dia Brasil divulgou um dado alarmante: a cada dia, mulheres são assassinadas, mesmo com a Lei Maria da Penha. Isso revela que a violência está enclausurada no coração, na mente, nas entranhas daqueles que não percebem que aquela pessoa, aquela mulher, imagem e semelhança de Deus, deve ser respeitada, amada e não ter sua vida ceifada por pessoas que não têm a dignidade de respeitar o ser humano. Essa violência é fortalecida e alimentada por outro fator: a impunidade. As pessoas praticam crimes, violentam mulheres, estupram mulheres, matam crianças, executam jovens e adolescentes e não são punidas. Basta verificar que em quase todos os Estados há os chamados crimes misteriosos. Há vítima, mas não há autor. Por quê? Porque, muitas vezes, o próprio inquérito não é feito. As famílias têm medo de denunciar. Às vezes, quando denuncia, o delegado diz: “É melhor não prestar o depoimento aqui, porque pode ter complicação, o seu marido é violento, então é melhor você ficar calma, porque depois ele pode agir com mais violência”. Isso ocorre, infelizmente. 16 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Mais do que isso, o próprio Estado, por meio das forças de alguns segmentos da polícia, que realiza a violência, precisa dar um basta a esse esquema de violência, que é grande em nosso País. Sr. Presidente, até abril, em São Paulo, foram sete chacinas praticadas. Na maioria, jovens foram eliminados. O pior, Deputada Jô Moraes, é que esses jovens, segundo a própria polícia, não tinham qualquer registro policial, não tinham qualquer entrada na polícia; nem uma denúncia ou termo havia contra essas pessoas. Isso mostra que é uma violência praticada por organizações criminosas que ganham dinheiro matando pelo prazer de matar, de executar. Às vezes, porque o jovem fez uma piada com alguém, deve ser morto; ou porque o jovem, numa festa, brigou com o fulano, deve ser morto. Que conversa é essa? Não se respeita o ser humano? Nesse aspecto, precisamos dar um basta a essa violência. Ela só terá de fato um combate efetivo quando também enfrentarmos a corrupção, que é onde ela se fortalece; a propina, a extorsão e a impunidade. A Deputada Jô Moraes, em seu pronunciamento, fala de um trabalhador que foi executado. Não podemos mais aceitar que pessoas sejam executadas sumariamente, o que traz sofrimento para a família e para todos aqueles que estão associados àquela pessoa. É preciso dar um basta. É isso que todos queremos. Existe, Sr. Presidente, um projeto de minha iniciativa, o PL nº 370/2007, que está há muito tempo para ser aprovado, mas sempre encontra resistência. Trata-se do projeto que tipifica o crime de extermínio. Esse crime é uma violação aos direitos humanos. Caso esse projeto seja aprovado, a investigação, a denúncia e o julgamento desses crimes passarão para a esfera da União. Também esses crimes 17 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 serão considerados contra o Estado Democrático de Direito. E a punição também. Se o crime é praticado por um gestor público ou por um servidor público, ele tem a sua pena aumentada. O projeto já esteve em pauta para ser votado, mas soubemos que há pressão de segmentos para que não seja aprovado. Esperamos, sim, que seja colocado em pauta novamente e que possamos dar um basta nesta criminalidade praticada por grupos de extermínio, por esquadrões da morte e por pistolagem. Muito obrigado, Sr. Presidente, pelo acréscimo de tempo que V.Exa. me concedeu. O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Deputado Luiz Couto, a Mesa apoia o pronunciamento de V.Exa. Ressalta que V.Exa. é um dos Deputados mais dedicados à causa dos direitos humanos aqui na Câmara dos Deputados, e por isso manifestamos também a nossa preocupação com relação a esse assunto trazido à tribuna por V.Exa., tanto no que diz respeito à violência urbana, quanto à violência rural. Infelizmente ainda temos que conviver com essas chagas no Brasil de hoje. V.Exa. ainda precisa complementar o discurso? O SR. LUIZ COUTO - Muito obrigado. Só para agradecer a V.Exa. as referências. O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Obrigado, Deputado Luiz Couto. 18 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - É com satisfação que convido para usar a tribuna, pela ordem, a Deputada de Minas Gerais, Jô Moraes, do Bloco PCdoB. S.Exa. disporá de até 5 minutos. A SRA. JÔ MORAES (Bloco/PCdoB-MG. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente, Deputado Sebastião Bala Rocha. Nós estamos neste momento na Casa discutindo a Lei de Diretrizes Orçamentárias. E qual a importância desse debate? É que devemos, ao aprovar essa lei, definir quais seriam as prioridades que teremos para o Orçamento a ser apreciado no final do ano. E, nessas prioridades, temos que ter uma compreensão, não dos pequenos problemas de cada Estado, de cada cidade, mas dos grandes problemas que assolam este nosso País. E a primeira preocupação que eu quero colocar para os Srs. Deputados e para as Sras. Deputadas é que temos que compreender a importância de liberar do contingenciamento histórico do nosso Orçamento os investimentos relativos às três Forças Armadas. A Frente Parlamentar de Defesa Nacional, recentemente instalada, levantou algumas preocupações. O Orçamento das Forças Armadas — da Marinha, do Exército e da Aeronáutica — em geral é relativamente curto. E é preciso que nesses orçamentos compreendamos que vivemos num País que aparentemente vive em paz, não tem adversários, mas a disputa pelas riquezas do mundo pode levar a que situações possam nos colocar em dificuldades. Nós temos que ter em nosso País o poder da dissuasão. Por isso, a Frente Parlamentar de Defesa Nacional e a Frente Parlamentar Pró-Antártica, o programa de pesquisa científica realizado na Antártica, estão propondo que nos livremos do 19 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 contingenciamento, isto é, livremos daqueles recursos que são detidos para que garantamos o superávit primário em algumas áreas das Forças Armadas. No caso do Exército, estamos pedindo que seja liberado do contingenciamento o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras. Sem dúvida nenhuma, Presidente Sebastião Bala Rocha, sabemos que os 16 mil quilômetros de fronteiras secas precisam ser monitorados, porque por ali passa o tráfico de armas, por ali passa o tráfico de drogas, e a proteção dos nossos jovens começa por essas longas e extensas fronteiras. Por isso que nesse sistema não pode caber um contingenciamento, não pode caber uma restrição de investimentos. Também consideramos, apresentamos emendas e pedimos aos Deputados e Deputadas desta Casa que, na votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, possamos ter apoio. No caso da Marinha e da Aeronáutica, para retirar do contingenciamento os recursos necessários para os acordos internacionais com transferência de tecnologia. Nós temos aqui, por exemplo, investimentos na área do submarino nuclear, que será o primeiro veículo com pesquisa, com produção e estruturação realizado em nosso País. A Aeronáutica tem uma série de acordos internacionais e também precisa que esses recursos, a serem partilhados e que asseguram transferência de tecnologia, possam ser liberados do contingenciamento. Digo isso, Sr. Presidente, Sebastião Bala Rocha, caros Deputados e Deputadas, porque nossa Presidenta tem tido uma preocupação de fazer flexões na nossa política macroeconômica. Quando estávamos numa grande crise, ela fez, nesse momento, para enfrentar a ofensiva inflacionária que estava assolando nosso País, políticas, não apenas aquelas tradicionais de elevação da taxa de juros, mas 20 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 também políticas mais flexíveis que assegurem dificultar o crédito, mas que não impeçam o desenvolvimento econômico do País. A par das iniciativas que a Presidente Dilma tomou em relação à flexibilização do tratamento contra a inflação, sem dúvida nenhuma, com resultados positivos, estamos tendo vitórias na contenção do processo inflacionário. Ao mesmo tempo, estamos conseguindo que o desenvolvimento do País mantenha um certo ritmo, mesmo que não seja aquela expectativa inicial de 5%, mas de 4,5%, 4%. Sem dúvida nenhuma, as iniciativas de combate à inflação da Presidente Dilma que, ao mesmo tempo, retêm o potencial e a possibilidade do desenvolvimento econômico, merecem o apoio de todos nós, assim como as medidas tomadas para descontingenciar os recursos e investimentos das Forças Armadas. Programas como o serviço militar obrigatório e da compra de fardamento não podem ser contingenciados, porque a nossa juventude precisa sobretudo da referência de amar este País através de sua própria experiência. Muito obrigada. O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Obrigado, Deputada Jô Moraes, pelo pronunciamento. V.Exa. trouxe à tribuna dois temas altamente relevantes à Nação. Na questão da defesa nacional, V.Exa. tem toda razão e pode contar com o nosso apoio. 21 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Concedo a palavra ao Deputado Izalci, do Bloco/PR, do Distrito Federal. O SR. IZALCI (Bloco/PR-DF. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, ontem falei rapidamente aqui de um assunto e afirmei que hoje voltaria ao tema. Trata-se da medida provisória do sigilo que aprovamos aqui, Deputado Gilmar Machado. Sou contador de formação, sou auditor. A rede social hoje é muito importante, mas, muitas vezes, as pessoas criticam muito sem conhecer realmente a matéria. Acabei de postar algumas mensagens com relação a isso, e quero falar um pouquinho a respeito. E disse assim: “A polêmica sobre o sigilo das obras da Copa esquentou tanto que receio que interesses diferentes dos expostos até aqui estão por trás disso”. Acho que há muita gente interessada nesse assunto. Muita gente está despertando e usando pessoas com relação a esse tema. Eu votei pelo sigilo no momento da licitação para coibir o cartel. Há uma confusão com relação ao sigilo. O sigilo é apenas no momento da licitação, não é durante todo o processo. Acho até que a Ministra Ideli, nos jornais de hoje, foi muito feliz quando deu um exemplo. Se quero construir uma casa, não anuncio antes quanto é que eu estou disposto a pagar. Então, temo que os que consomem e que estão indignados com a aprovação do sigilo estejam sendo usados como massa de manobra, inclusive nas redes sociais. O que acontece, hoje, com relação à questão da licitação? O Governo, quando vai licitar alguma obra, a praxe, então, é ele fazer um orçamento estimativo. E hoje é público quanto é o orçamento estimativo dessas obras. Então, todo mundo toma conhecimento. E o que acontece na prática? Na prática, existem as empresas 22 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 que concorrem, e que normalmente são cartéis, combinam o preço, e você dificilmente encontrará alguma licitação cujo preço seja menor do que o estabelecido. Então, o sigilo na licitação é importante para que não haja realmente combinação de preço, o que é muito comum no Brasil. Agora, é bom ressaltar que o sigilo é restrito às empresas, às pessoas que estão concorrendo. Mas Tribunal de Contas, Ministério Público, os órgãos controladores têm acesso a isso. E até acho que o Tribunal de Contas deveria analisar os editais de licitação com antecedência, porque não se admite mais o Tribunal de Contas apenas fiscalizar depois que a obra já aconteceu — e está nos jornais de hoje que fará. O que o Tribunal de Contas tem que fazer, e os Ministérios Públicos, etc., é exatamente o preventivo, é analisar os editais. É evidente que, quando se divulga o preço com antecedência, a tendência é a manipulação dos preços, a cartelização, a combinação de preços. Essa questão do sigilo é momentânea. Terminado o processo de licitação, todo mundo toma conhecimento e aí vão aparecer, com certeza, preços menores do que aquele programado pelo Governo. Então, quanto à votação do sigilo na licitação, tecnicamente, o correto é dessa forma. Nosso Líder Vaccarezza foi muito feliz no Jornal de Brasília de hoje. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a União Europeia, já utiliza isso há muitos anos. É o correto. Agora, empresas que provavelmente serão penalizadas ou terão prejuízo com essa medida estão articulando os meios de comunicação, estão usurpando o 23 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 conhecimento público com relação a essa matéria. Muitos jovens estão colocando mensagens nas redes sociais sem conhecer o conteúdo correto desta medida. Gostaria também de reforçar o que disse ontem, Deputado Policarpo. Fiz um pedido às Lideranças dos partidos para que não votássemos mais nesta Casa nenhum projeto cujo relatório tenha sido lido naquele momento. Eu mostrei aqui ontem um projeto com mais de mil páginas. O relatório foi lido uma semana antes, um mês antes, e de repente na votação foi lido um novo relatório completamente diferente, e acabamos sendo manipulados. Fiquei indignado com a Medida Provisória nº 517, quando soube pelos jornais que houve um favorecimento aos bancos falidos — um banco nacional, inclusive, o Banco da Bahia — de quase 8 bilhões de incentivo. Isso foi posto no relatório no momento da votação. Portanto, é inadmissível. Então, gostaria de pedir oficialmente aos Líderes desta Casa que não votássemos mais nenhum projeto cujo relatório seja lido aqui, no momento. Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Obrigado, Deputado Izalci. 24 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Solicita a palavra para uma breve comunicação o Deputado Mauro Benevides. V.Exa. dispõe de um minuto, Deputado Mauro Benevides. O SR. MAURO BENEVIDES (PMDB-CE. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em longa matéria publicada, no último domingo, pela Folha de S.Paulo, vai destacado que a desigualdade entre o Nordeste e São Paulo encurtou ponderavelmente, numa correção gradativa para a qual é indispensável buscar-se a razão determinante desse fator econômico-social, até aqui sem haver sido indicado, formalmente, pelos órgãos governamentais competentes. Para nós que, ao longo do tempo, empenhamo-nos na procura de tal intenção, é significativo apontar os instrumentos utilizados que, gradualmente, mencionaram percentuais menos humilhantes. Daí registrar-se essa constatação, justificada pelo esforço de sucessivas administrações, incomodadas pela existência de dois Brasis — um exageradamente contemplado com índices de expansão e outro vivendo em panorama reconhecidamente desfavorável, conforme atestavam as estatísticas levantadas no século passado e no início deste novo milênio. Convém realçar, para explicar essa avaliação ora redesenhada, vários itens relacionados dentro de uma linha realística de fácil perceptibilidade, tanto pelo IBGE como por qualquer outro órgão qualificado para aferição dessa magnitude. Mencione-se, por oportuno, que em 1952, no Governo do Presidente Getúlio Vargas, o baiano Rômulo de Almeida inspirou a criação do Banco do Nordeste, com característica de fomento e comercialização. 25 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Em 1959, quando era titular do Poder Executivo Juscelino Kubitschek de Oliveira, despontou a SUDENE, com o encargo de planejar a superação dos entraves que distanciavam aquela área e o Sul e Sudeste do País. A CODEVASF, por seu turno, teve papel projetado no âmbito de tal desideratum. Com uma preponderância realçante, deve ser lembrada a unificação do salário mínimo, efetivada por lei de minha lavra, que foi sancionada pelo Presidente João Figueiredo e, na Constituinte, inserida como artigo da Carta Magna brasileira. Em meio a tais diretrizes, a Lei Maior, por expressiva maioria, acolheu proposta de que fui autor, com o endosso também de numerosos representantes do Norte e do Centro-Oeste. Destaque-se o Programa Bolsa Família, com o Presidente Lula, e, agora, com a Presidenta Dilma, o Brasil sem Miséria. Nesse enfoque, a tendência do Nordeste é continuar buscando alcançar padrões sociais bem menos aviltantes, numa compatibilização com os anseios de todos os habitantes do chamado Polígono das Secas. Portanto, Sr. Presidente, estamos solidários com a apreensão dos Governadores do Ceará, da Bahia, de Alagoas, de Sergipe, de Pernambuco, do Piauí, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Maranhão diante dessa perspectiva de, em uma decisão do Supremo, impedir-se a concessão dos incentivos fiscais. Esse é um pronunciamento que mostra o esforço do Nordeste para corrigir as disparidades regionais. 26 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em longa matéria publicada, no último domingo, pela Folha de S.Paulo, vai destacado que a desigualdade entre o Nordeste e São Paulo encurtou ponderavelmente, numa correção gradativa para a qual é indispensável buscar-se a razão determinante desse fator econômico-social, até aqui sem haver sido indicado, formalmente, pelos órgãos governamentais competentes. Para nós que, ao longo do tempo, empenhamo-nos na procura de tal intenção, é significativo apontar os instrumentos utilizados que foram gradualmente mencionando percentuais menos humilhantes. Daí registrar-se essa constatação, justificada pelo esforço de sucessivas administrações, incomodadas pela existência de dois Brasis — um exageradamente contemplado com índices de expansão e outro vivendo em panorama reconhecidamente desfavorável, conforme atestavam as estatísticas levantadas no século passado e no início deste novo milênio. Convém realçar, para explicar essa avaliação, ora redesenhada, variados itens relacionados dentro de uma linha realística, de fácil perceptibilidade, tanto pelo IBGE, como por qualquer outro órgão qualificado para aferição dessa magnitude. Mencione-se, por oportuno, que, em 1952, no Governo do Presidente Getúlio Vargas, o baiano Rômulo de Almeida inspirou a criação do Banco do Nordeste — com característica de fomento e comercialização, o que resultou em algo extremamente positivo para aquela faixa geográfica do País. Em 1959, quando titular do Poder Executivo da União Juscelino Kubitschek de Oliveira, despontou a SUDENE, com o encargo de planejar a superação dos entraves que distanciavam aquela área e o Sul e Sudeste. A Celso Furtado coube, 27 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 inicialmente, fazer funcionar a supracitada autarquia, de cujo conselho deliberativo integrariam Governadores de Estados, Ministros e delegados da sociedade civil, dispostos, a cada reunião mensal, a sugerir proposições capazes de reduzir o fosso existente entre nordestinos e brasileiros de outras esferas territoriais. A CODEVASF, por seu turno, teve papel projetado no âmbito de tal desideratum, contribuindo para atender a demandas que envolvessem os seus encargos institucionais. Com uma preponderância realçante, deve ser lembrada a unificação do salário mínimo, efetivada por lei de minha lavra, que foi sancionada pelo Presidente João Figueiredo, em 1985, nivelando o operário nordestino aos de outras regiões, como Sul e Sudeste. Na Constituinte, essa conquista foi alçada à qualidade de norma explícita, inserida em nossa Carta Cidadã, tendo-me como primeiro signatário e o apoio indiscrepante de quantos participaram daquele momento histórico de nossa vida pública, com a reimplantação do Estado Democrático de Direito. Em meio a tais diretrizes, a Lei Maior, por expressiva maioria, acolheu proposta de que fui autor, com o endosso também de numerosos representantes do Norte e Centro- Oeste, o que viabilizou fonte apreciável de recursos para o BNB, que tive a honra de presidir, anos antes, por escolha de Tancredo Neves e de José Sarney. Trata-se do art. 159, responsável pela aplicação, no exercício pretérito, por aquele estabelecimento creditício de importância superior a 10 bilhões de reais, favorecendo a indústria, a agricultura e o comércio nordestino. Agora, destaque-se o Programa Bolsa Família, concebido ao tempo da gestão Lula da Silva, com números bastante positivos, projeto que será agora 28 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 compartilhado pelo Brasil sem Miséria, anunciado, no mês passado, pela Presidente Dilma Rousseff, em outra programação de extraordinário alcance socioeconômico. Nesse enfoque, a tendência do Nordeste é continuar buscando alcançar padrões sociais bem menos aviltantes, numa compatibilização com os anseios de todos os habitantes do chamado Polígono das Secas. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os Governadores nordestinos debruçam-se, agora, com recente decisão do Supremo Tribunal Federal, sobre política de incentivos fiscais, assinando explicitamente prazo até 2012 para que cessem os benefícios dessa iniciativa, cujos resultados, pela implantação de indústrias ali, hão sido satisfatórios, pois motivam aprimoramento de mão de obra de alguns milhares de trabalhadores, elevando a renda de cada unidade federada. Recentemente, os Chefes do Executivo estiveram em Brasília, numa audiência com os eminentes integrantes da Suprema Corte, expondo-lhes a gravidade da decisão ora referenciada. Solidários com a apreensão dos Governadores do Ceará, da Bahia, de Alagoas, de Sergipe, de Pernambuco, do Piauí, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Maranhão compartilhamos dessa angustiante expectativa, na convicção de que se encontrará uma alternativa legal que enseje a manutenção dos incentivos com tão nobre destinação. O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Parabéns, Deputado Mauro Benevides, pelo pronunciamento de V.Exa. 29 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Sebastião Bala Rocha) - Dando prosseguimento, convido para usar a tribuna, por 5 minutos, o Deputado Gilmar Machado, do PT de Minas Gerais. O SR. GILMAR MACHADO (PT-MG. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero relatar nesta tarde uma audiência que tive ontem no Departamento Jurídico do Ministério da Saúde, acompanhado do Vereador Delfino, da cidade de Uberlândia, do Partido dos Trabalhadores, e também do Vereador Professor Neivaldo, quando tratamos de temas referentes às transferências de recursos da União para a saúde no Município de Uberlândia. Eu fico feliz, Sr. Presidente, de verificar que o Ministério da Saúde vem atendendo às demandas municipais. A cidade de Uberlândia, hoje, tem a opção de ampliar o seu Programa Saúde da Família, porque ainda há uma grande demanda no Município. O Ministério da Saúde está disposto a destinar muitos recursos para o Programa Saúde da Família, SAMU, Saúde Bucal e uma série de outros mecanismos. Além disso, Sr. Presidente, ontem fomos informados de que Uberlândia foi selecionada. O Ministério vai repassar para aquele Município recursos para a construção de 10 UBSs — Unidades Básicas de Saúde e a aquisição de equipamentos. Uberlândia tem mais de 600 mil habitantes e é a segunda maior cidade do Estado de Minas Gerais. E nós ficamos felizes. Quero agradecer ao Ministro Padilha e ao Secretário de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde, Helvécio Miranda, pela preocupação e atendimento aos nossos pleitos junto àquele órgão. 30 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Fico feliz ao ver o Presidente Marco Maia colocar como uma das prioridades… Ontem, a Ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse que uma das prioridades do Governo é colocar em votação a regulamentação da Emenda nº 29, da saúde. Sr. Presidente Izalci, é essencial tratarmos dessa matéria. A saúde hoje é um dos grandes problemas que ainda temos. O Brasil tem avançado muito. Mas na área da saúde podemos e devemos avançar mais. Apoio a iniciativa do Presidente Marco Maia e da Ministra Ideli. E tenho certeza de que esta Casa, ainda neste semestre, vai se debruçar sobre a regulamentação da Emenda nº 29, para que não tenhamos mais Estados utilizando recursos em algumas áreas dizendo que é gasto com educação. O Deputado Izalci trabalha com a área da educação e lembra daquela época em que se fazia asfalto perto, transportava-se meninos para jogo de futebol e diziase que era gasto com educação. Hoje acabou essa festa, acabou essa farra, e nós vimos como a educação melhorou. E a saúde também. Agora, com essa melhoria, com essa regulamentação, muitas coisas não poderão mais ser ditas sobre a saúde. Dessa forma, os recursos destinados à aplicação na saúde humana serão realmente aplicados. Muita gente coloca que gastou com saúde de animais, de cavalos das cavalarias das guardas dos Estados como gasto com saúde, mas na saúde animal. Nós também somos animais, mas animais racionais. Então, temos de acabar com o que eu considero desvios, para que tenhamos de fato aplicação real naquilo que é essencial para a saúde das pessoas, para diminuirmos as filas, as macas nos corredores e, acima de tudo, trabalharmos com a medicina preventiva. Por isso o Saúde da Família é fundamental e essencial. 31 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Quero saudar o Ministro Padilha e agradecer o cuidado e a atenção que tem com Uberlândia, atendendo ao nosso pleito e ao pleito do Vereador Delfino e do Vereador Professor Neivaldo, para que aquele Município continue tendo do Governo Federal toda a atenção para o atendimento à saúde da nossa população. Muito obrigado, Sr. Presidente. Durante o discurso do Sr. Gilmar Machado, o Sr. Sebastião Bala Rocha, § 2º do art. 18 do Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Izalci, § 2º do art. 18 do Regimento Interno. 32 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Com a palavra o Deputado Sebastião Bala Rocha, que vai falar em nome da Liderança do PDT, no Pequeno Expediente. V.Exa., Deputado, tem 8 minutos. O SR. SEBASTIÃO BALA ROCHA (PDT-AP e como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, vou dividir meu pronunciamento em duas partes. A primeira será para prestar uma homenagem aos idosos do Brasil através de um dos projetos mais belos que eu já pude produzir na política: a Universidade da Maturidade, no meu Estado, Amapá. Na segunda parte, quero tratar sobre a Internet, sobretudo a banda larga, para comentar a decisão da ONU de considerar a Internet como um dos direitos humanos, como um direito social do cidadão. Sr. Presidente, como disse, um dos projetos mais belos que pude produzir na minha vida pública, de aproximadamente 20 anos, foi exatamente a Universidade da Maturidade, no Estado do Amapá, um programa de extensão da Universidade Federal do Amapá voltado para os idosos. Há um ano e meio, através de emendas Parlamentares de minha autoria, a Universidade Federal do Amapá pôde lançar o primeiro vestibular para pessoas com mais de 60 anos naquele Estado, através do programa chamado Universidade da Maturidade. Quero agradecer ao nosso colega Deputado Eduardo Gomes, de Tocantins, porque foi por intermédio de S.Exa. que eu conheci, Deputado Izalci, este projeto, tão próximo de nós, em Tocantins. Quero homenagear a Universidade Federal de Tocantins por ter-me permitido conhecer o projeto e levá-lo para o Amapá, e parabenizar o Reitor José Carlos Tavares, da UNIFAP, e sua equipe, em nome do Sr. Steve, Gerson e Emanuelle, 33 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 que abraçaram o projeto e o transformaram em realidade, entusiasmando e emocionando a sociedade amapaense com a formatura da primeira turma, há mais ou menos 10 dias, durante baile realizado no último sábado. Da turma de 100 alunos matriculados, todos com mais de 60 anos — alguns acima dos 70 —, apenas cinco não puderam concluir o curso. Uma das alunas faleceu, está hoje no plano espiritual; e quatro, por motivo de mudanças e outros problemas, não puderam terminar o curso de extensão da Universidade da Maturidade — UMAP. Como se vê, houve baixíssima evasão. Eu fico de fato emocionado, porque as pessoas, sobretudo as mais humildes, quando alcançam os 60 anos, em geral perdem a esperança e acham que a vida está acabando ou que os problemas vão-se acumulando e a saúde se comprometendo. A tendência é caminharem para o abandono, muitas vezes, pois a própria família as rejeita ou deixa de cuidar delas com a devida atenção. Quando se ingressa num programa de extensão numa universidade como a Universidade da Maturidade, os sonhos renascem, a expectativa de vida aumenta. A pessoa volta a perceber que é útil, que é líder e pode, com um curso universitário mesmo de extensão, tornar-se referência para a sua comunidade nas políticas públicas para os idosos. É isso que as pessoas aprendem numa universidade como esta. Faço questão de prestar essa homenagem porque quero que este projeto avance em todo o Brasil. As universidades públicas, federais ou estaduais, que ainda não o implantaram têm a oportunidade de oferecer vida de qualidade para os idosos acima de 60 anos. As pessoas vão aprender nessa universidade a envelhecer de forma saudável, compreendendo que o envelhecimento é um 34 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 processo biológico natural e, ao mesmo tempo, que se pode preservar a saúde e avançar na aprendizagem mesmo aos 60 anos ou acima dos 60. Parabéns, portanto, à Universidade da Maturidade. Em outra oportunidade, virei à tribuna registrar nos Anais da Casa a relação dos 95 formandos que abrilhantaram a sociedade amapaense e a Universidade Federal do Amapá nessa belíssima, extraordinária, fantástica formatura do último sábado. Sr. Presidente, o segundo assunto que trago à tribuna diz respeito à definição da ONU de que a Internet deve ser vista por todos os países e por todas as autoridades do mundo como direito humano e social importante para a vida dos cidadãos e das cidadãs nos dias de hoje, bem como o direito à livre expressão, à liberdade e à comunicação. No Brasil, ainda temos alguns Estados e algumas regiões sem acesso à banda larga por fibra ótica, como o meu Amapá, onde infelizmente ainda não temos esse recurso, porque não dispomos de linha de transmissão que permita do Centro-Sul ao Amapá o uso da Internet de alta velocidade. Agora, temos pelo menos dois caminhos para, em breve, alcançarmos a Internet de banda larga por fibra ótica. Um dos meios é o Linhão do Tucuruí, projeto por que luto no Congresso Nacional desde 1995, quando iniciei minha vida política no Senado da República. Infelizmente, não conseguimos no Governo Fernando Henrique Cardoso avançar no Linhão de Tucuruí, com a travessia do Rio Amazonas, para levar para a margem esquerda do Amazonas energia de qualidade e Internet de banda larga. 35 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Com o Governo Lula, o projeto saiu da gaveta, e temos a perspectiva de em 2013 estarmos interligados com o resto do País por meio do Linhão de Tucuruí e, assim, termos acesso à Internet de banda larga. Gostaria de falar sobre um outro projeto, que provém da Guiana Francesa, que recebe Internet de banda larga por fibra óptica da Venezuela através de cabo submarino. Com isso, quando interligarmos o Oiapoque ao restante do Estado, poderemos ter acesso à banda larga no futuro. Eu apresentei uma emenda à Constituição, aprovada recentemente na Comissão de Constituição e Justiça, e agora deveremos constituir Comissão Especial para tratar exatamente deste assunto. Aproveito a chegada do Deputado Delegado Protógenes Queiroz ao plenário. S.Exa. ajudou a aprovar a proposta de emenda à Constituição que garante a Internet e a banda larga de alta velocidade como direito fundamental do cidadão. Muito obrigado ao Deputado Delegado Protógenes e a todos os outros Deputados da Comissão de Constituição e Justiça que aprovaram esse projeto. Agora cabe a nós, Deputados e Senadores, ao Congresso brasileiro como um todo, aprová-lo para que a Internet, da mesma forma que a alimentação, a saúde, a educação e a habitação, seja direito fundamental do cidadão e da cidadã brasileira. Muito obrigado, Sr. Presidente. 36 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra ao Deputado Roberto de Lucena, do Bloco/PV de São Paulo. O SR. ROBERTO DE LUCENA (Bloco/PV-SP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o assunto que me traz de volta a esta tribuna é a polêmica e questionável decisão do Supremo Tribunal Federal pela não extradição de Cesare Battisti e as reações a essa decisão no Brasil, na Itália e em outros países. Não é segredo para ninguém que a Itália pretende ir às últimas consequências contra o Brasil por não ter extraditado Cesare Battisti. A primeira reação do Governo italiano veio dois dias depois do julgamento do Supremo Tribunal Federal, quando o Ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, convocou o retorno do seu embaixador em Brasília, Gherardo La Francesca, a Roma. Registro que, além das manifestações do Governo da Itália, que já afirmou que vai acionar o Brasil no Tribunal Internacional de Haia, outras autoridades também estão protestando. Como exemplo, cito que uma Prefeitura da Itália rompeu convênio com uma cidade de Santa Catarina. A confirmação da não extradição de Battisti para a Itália alcançou o campo esportivo. Autoridades do país europeu já cogitaram a hipótese de a seleção italiana boicotar a Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil. Houve outro fato na área esportiva. O Ministro da Defesa da Itália, Ignazio La Russa, disse no último dia 20 de junho que, devido ao caso de Cesare Battisti, está analisando a participação dos oficiais do país nos Jogos Mundiais Militares, que vão ocorrer no Rio de Janeiro. “Estou verificando a eventual participação dos nossos 37 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 militares no evento que acontecerá em breve, o campeonato mundial militar”, disse o Ministro, que definiu a libertação de Battisti como “inaceitável e inconcebível”. Mas é bom que se registre, Sr. Presidente, que o povo italiano nas ruas também se manifesta contrário à decisão do Brasil. A plateia que assistia a uma partida do Campeonato Mundial de Vôlei de Praia resolveu protestar jogando laranjas na dupla brasileira Emanuel e Alison, que jogava contra os dinamarqueses Soderberg e Hoyer em uma partida em Roma. Entre todas as retaliações já protagonizadas por autoridades italianas contra o Brasil, a mais grave até agora veio do Ministério de Infraestrutura e Transportes daquele país. O Vice-Ministro daquela Pasta, Roberto Castelli, afirmou nos últimos dias que não vai assinar um acordo no setor de transporte aéreo com o Brasil. “O Brasil não terá nunca a minha assinatura”, disse Castelli, ao participar de reunião do Conselho de Ministros de Transportes da União Europeia. Segundo ele, o gesto “é um pequeno, mas significativo, exemplo de protesto contra um país que demonstrou não ter nenhum respeito pela Itália”. Castelli explicou que já conversou com o Ministro da Pasta, Altero Matteoli, e com Franco Frattini, Chanceler italiano, sobre sua decisão. Agora, cabe ao Governo italiano e ao Ministério das Relações Exteriores decidir sobre a validação do acordo aéreo. Sr. Presidente, tudo isso poderia ter sido evitado. O Governo italiano já tinha avisado e sinalizado seu descontentamento com a decisão do Presidente Lula em negar a extradição. E perguntou: “Por que o Supremo insistiu em manter esta situação?” Mas é bom que se lembre que a decisão da Suprema Corte não foi unânime — três Ministros votaram a favor da extradição. 38 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Sr. Presidente, nobres Parlamentares, há tantas perguntas sendo feitas a mim nesses últimos dias para as quais não tenho resposta. Quero registrar outra preocupação. Temo que os brasileiros que estejam morando na Itália passem por constrangimentos em atos de protestos e manifestos contra a decisão do Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido, chamo a atenção desta Casa a ficar atenta a essa situação delicada, preocupante. Por fim, Sr. Presidente, termino meu pronunciamento mais uma vez manifestando minha solidariedade ao povo italiano e pedindo perdão às famílias das vítimas do assassino Cesare Battisti pela decisão do Supremo Tribunal Federal em manter em nosso território, e livre, um homem condenado pelo assassinato de quatro pessoas na Itália. Sr. Presidente, era o que eu tinha a dizer. Que Deus abençoe o Brasil! 39 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. DR. UBIALI (Bloco/PSB-SP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a proposta do SUS de fornecer acesso universal, integral e de qualidade à saúde para todos os brasileiros é conquista pétrea, meritória e precisa ser buscada diuturnamente. Não há dúvidas que desde sua implantação, consagrada na Constituição de 1988, o SUS melhorou muito e o acesso à saúde se estendeu a quase integralidade dos cidadãos brasileiros e a estrangeiros que se encontram em nosso País, mas ainda está muito longe de cumprir o preceito constitucional de atendimento a todos com qualidade. Podemos constatar essa deficiência do SUS nas longas filas de espera, no atendimento ambulatorial demorado, ineficiente e incompleto, no impedimento ou na demora das cirurgias eletivas e na limitação ou na ausência dos autorização dos exames solicitados. Precisamos resolver esses problemas urgentemente, pois na saúde a demora é inimiga da vida. Para melhorar a saúde, precisamos fazer inicialmente uma mudança no modelo de atenção. Há muito se constatou que um dos problemas do modelo atual é que a prestação de serviços de saúde está concentrada no sistema hospitalar, o que leva a custos mais altos e resolutividade apenas para os casos mais graves ou agudizados. Para haver melhor articulação dos serviços ofertados à população, temos de ter uma excelente atenção primária para coordenar toda a rede. 40 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Os hospitais, as AMEs, as UPAs e os demais serviços devem ser regionalizados e articulados e atuar de forma racionalizada, buscando a prevenção e a promoção da saúde no que se refere às doenças crônicas. O financiamento da saúde deve ter recursos habitantes/ano que permitam o atendimento extensivo a todos e eles devem ser disponibilizados tendo em vista a média internacional. Nessa quantificação, devemos considerar, para efeito comparativo, até mesmo os custos da saúde complementar, como os praticados pelas UNIMEDs que são referência neste setor. Esse custo, ou seja, o dinheiro que precisamos para dar o atendimento previsto constitucionalmente, estaria hoje em torno de 4.500 reais por habitantes/ano, valor muito longe do que hoje o SUS aplica — 750 reais habitantes/ano. O Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tem falado muito sobre a necessidade de melhor gestão, e concordamos com ele. Temos que profissionalizar a gestão, incorporar modernas ferramentas de gerenciamento, evitar a duplicação de meios, definir o que são “gastos com saúde” — o que conseguiremos com a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29 —, rediscutir o pacto federativo setorial, inovar nas estruturas e introduzir ganhos de escala. O interesse dos médicos nas especialidades de maior impacto social tem diminuído por vários fatores, entre os quais a falta de condições de realizar o seu trabalho, os baixos salários e a inexistência de uma carreira de Estado para a profissão. Temos que criar maneiras de estimular jovens médicos a se especializarem em saúde da família, pediatria, clínica geral e geriatria. 41 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 As farmácias precisam ser agentes de promoção da saúde e não meros balcões de negócios. Isso se dará com a valorização do farmacêutico, profissional subutilizado nesses estabelecimentos. Vamos lutar para que o sonho do SUS de qualidade e acessível se torne realidade para todos. O dinheiro é pouco, mas é possível fazer mais e melhor com o que temos. Uma complementação de recursos, mesmo que temporariamente pequena, que corrija a tabela SUS e permita, no mínimo, a cobertura dos custos é necessária e imediata. O SUS não é um problema sem solução, mas, sim, a solução dos problemas da saúde do povo brasileiro. Era isso. Muito obrigado, Sr. Presidente. 42 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. POLICARPO (PT-DF. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, ontem participei de duas atividades, em frente ao Palácio do Buriti, aqui no Distrito Federal. Uma delas com os servidores da saúde, que neste momento se mobilizam por melhores condições de trabalho, por reajustes salariais. Não tenho dúvida nenhuma de que o Governador Agnelo Queiroz saberá dar o tratamento adequado a essa questão, pois tem o desafio enorme de colocar a saúde do Distrito Federal nos eixos. E os servidores são fundamentais para o fortalecimento e a melhoria da saúde no Distrito Federal. Depois dessa assembleia, Sr. Presidente, conversei com o Secretário de Saúde do Governo do Distrito Federal, Dr. Rafael Barbosa, sobre as reivindicações dos servidores. O Secretário de Saúde tem toda a disposição de negociar e discutir com os servidores. É um compromisso da área da saúde. Esperamos que até o dia 27 deste mês uma solução seja dada e que os servidores não entrem em greve, já que uma greve neste momento penalizaria muito mais a população do Distrito Federal, que tanto sofre com o sistema que passa por bastante dificuldade. Também participei de uma atividade com os servidores do DER, em greve há alguns dias. Ontem mesmo conversei com o Secretário de Governo do Distrito Federal, Deputado Paulo Tadeu, e hoje vamos voltar a conversar, buscando solução para esse impasse. Quero dizer que todos os trabalhadores do serviço público que fizeram suas mobilizações nesse período e que ameaçaram ou fizeram greve por alguns dias, com o Governador Agnelo tiveram um tratamento adequado, para a solução dos impasses. 43 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Os professores fizeram várias assembleias e depois um acordo com o Governo. O Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar também conseguiu, depois de vários dias de greve, chegar a uma solução. Os policiais civis também tiveram tratamento adequado e conseguiram chegar a bom termo. Dessa forma, quero parabenizar o Governador Agnelo e o Secretário de Administração, Denílson da Costa, companheiro do PT que tem buscado de todas as formas dar solução a essas demandas dos servidores. Não temos dúvidas de que o orçamento ainda não é o adequado. O Governador está tratando com o orçamento do ano passado, e as demandas são enormes. O Governo, depois de vários e vários meses parado no ano passado, está retomando, azeitando a máquina. Logo, logo, a população do Distrito Federal vai sentir toda a diferença. Quero frisar também que na Secretaria de Administração há uma mesa permanente de negociação para o conjunto de sindicatos. E essa forma de tratar, de conversar, o diálogo permanente com os servidores, é fundamental para que as categorias de servidores do Distrito Federal sejam valorizadas acima de tudo. Quem vai ganhar com isso, afinal, é a população de Brasília, que precisa de educação de qualidade, de uma rede pública de saúde que garanta a diminuição das filas e melhor atendimento, e de segurança pública. Sabemos que cada dia mais a insegurança se torna permanente, não só em Brasília, como também no Entorno. Para a região do Entorno é preciso criar uma política de segurança pública que envolva o Governo Federal, como está sendo discutido, e os Governos de Goiás e do Distrito Federal. 44 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Não tenho dúvida de que esse tratamento dado pelo Governador Agnelo Queiroz e pelo seu Secretário de Administração, Denilson, aos servidores, é o mais correto e esperado. Para terminar, Sr. Presidente, gostaria também de frisar o que foi feito em relação ao acordo coletivo dos rodoviários. Além de haver um acordo coletivo bom para os rodoviários neste momento, evitou-se uma greve que só pioraria ainda mais o sistema de transporte. As medidas que estão sendo tomadas vão favorecer a população e melhorar o sistema de transporte de Brasília, que é um caos. Acima de tudo, o acordo coletivo foi feito sem aumento de tarifa. Os rodoviários foram respeitados no acordo coletivo, e o Governo foi firme na discussão com os empresários do setor, para não permitir, ao mesmo tempo em que fosse dado aumento salarial para os rodoviários, o aumento de tarifa. E, se houvesse o aumento de tarifa, mais ainda se penalizaria a sociedade, que precisa de um transporte coletivo de boa qualidade. Não tenho dúvida de que, no próximo período, o Governo vai investir pesado no sistema de transporte, para que possamos melhorar de uma vez por todas a atual situação. Assim, a população de Brasília poderá dizer que tem um transporte de qualidade, com tarifa justa. A população poderá ter um serviço público de qualidade no setor de transporte. Parabéns ao Governador Agnelo Queiroz. Parabéns ao Secretário de Administração. Muito obrigado, Sr. Presidente. 45 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Ainda há cinco Deputados inscritos para o Pequeno Expediente, mas o Deputado Gonzaga Patriota, orador do Grande Expediente, vai viajar daqui a pouco e ainda há uma Comunicação de Liderança, que tem preferência. Convido o Deputado José Stédile para falar em nome do Bloco do PSB/PTB/PCdoB. S.Exa. dispõe de 8 minutos. O SR. JOSÉ STÉDILE (Bloco/PSB-RS. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, prometo que tentarei ser breve para compartilhar com nosso Deputado Gonzaga Patriota um espaço maior, para que S.Exa. tenha tempo hábil de fazer suas manifestações. O atual modelo eleitoral é profundamente injusto, pois privilegia quem tem mais recursos e dá aos grandes partidos enorme vantagem na distribuição das vagas existentes. As mudanças são necessárias, porém devemos tomar cuidado para que elas não venham a piorar ainda mais o atual quadro. Vejam o exemplo do que estou relatando. Se um determinado partido fizer 720 mil votos e outro, 150 mil votos, e dez vagas estão em disputa, o partido A, que fez 720 mil votos, vai eleger nove Deputados, e o partido B, que fez 150 mil votos, ficará apenas com um Deputado. Essa é a forma distorcida da atual legislação, que beneficia os grandes partidos. Esse modelo de cálculo necessita ser alterado, independente da reforma política, para que o desejo da população que votou seja respeitado. Preocupam-me dois aspectos que pouco estão sendo debatidos nas audiências sobre reforma política. A primeira preocupação é exatamente a forma 46 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 injusta de distribuição das cadeiras. E a segunda é o fim da possibilidade de coligações na proporcional. Realizei um estudo, Srs. Deputados, em todos os Estados brasileiros, para avaliar, se não houvesse coligação na última eleição de 2010, qual seria o quadro hoje composto dos Deputados Federais da Câmara dos Deputados. Se não tivesse havido em 2010 coligações, possibilidade de coligações, o Partido dos Trabalhadores teria um acréscimo de 25 Deputados; o PMDB, de 31 Deputados; e seis partidos que hoje fazem parte desta Casa deixariam de existir. É por isso que acredito que muitas vezes o PT e o PMDB vêm aqui defender o fim das coligações. Bom, vão crescer, 26 e 31 Deputados fariam parte da base desses dois partidos, se não tivesse havido coligação. Essa é a lógica de transferir, de concentrar em poucos partidos. Isso acontece numa eleição; na próxima vai ser ainda maior a diferença. Em pouco tempo, teríamos no Brasil dois, três, ou quatro partidos, no máximo, porque os pequenos e os médios seriam extintos. Além desses partidos, praticamente todos os outros partidos iriam perder Deputados. O meu partido, o PSB, por exemplo, tem atualmente 34 Deputados, e ficaria com 29, perderia 5; o DEM perderia 7 Deputados. Eu calculei, Estado por Estado, qual seria a nova realidade se não tivesse havido a coligação. Estou denunciando isso, porque comenta-se fortemente nesta Casa a possibilidade do fim da coligação. Se o fim da coligação vier junto com o fim do coeficiente eleitoral, será possível analisar. Mas duvido muito que isso aconteça. Por isso, peço a todos os partidos que não são do PMDB nem do PT que prestem atenção, porque isso será, a curto e médio prazos, o fim dos pequenos e médios partidos nesta Casa. 47 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Quero registrar também, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a preocupação da Presidente Dilma com os mais pobres. S.Exa. é justa, é correta, é coerente, mas, em relação ao Programa Minha Casa, Minha Vida, há uma distorção muito grande entre o que S.Exa. propõe e o que a Caixa Econômica Federal, através de uma normativa, vem fazendo. A Presidente Dilma propõe que quanto mais pobres tiverem casa, melhor. Só que a normativa da Caixa Econômica Federal diz que para construir casas do Programa Minha Casa Minha Vida tem que haver pavimentação asfáltica ou qualquer outro tipo de pavimentação. Ocorre que boa parte das ruas de vários Municípios brasileiros não são pavimentadas, e as Prefeituras não têm condições de pavimentá-las. Então, está sendo excluída desse programa exatamente a classe mais empobrecida das cidades, porque a Prefeitura não consegue pavimentar as ruas nem o proprietário tem como pavimentar a própria rua. Quero registrar também que estamos recebendo hoje a visita ilustre do Prefeito de Cachoeirinha, Vicente Pires, chamado pela Presidente Dilma para participar de uma reunião a respeito do tratamento de dependentes químicos no País. O Ministério da Saúde propõe comprar leitos para tratar os dependentes químicos nos hospitais. A cidade de Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul, é referência em recuperação de dependentes químicos. Talvez seja o Município que mais recuperou dependentes químicos no Brasil. Inclusive o próprio Prefeito é um dependente químico recuperado. Queremos mostrar para o País que é possível recuperá-los com menos recursos do que o Ministério da Saúde está prevendo, através de fazendas públicas de recuperação de dependentes químicos. 48 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Fica registrada minha solidariedade ao Prefeito, que mostra o grande trabalho que Cachoeirinha vem realizando. Quero parabenizá-lo por isso, e também a Presidente Dilma, por ter a percepção de convidá-lo para fazer parte desse programa. Sr. Presidente, encerro cumprindo o que prometi, ou seja, fazer um discurso breve para facilitar a participação do Deputado Gonzaga Patriota. Obrigado. 49 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Vamos reduzir para 3 minutos o tempo destinado aos Deputados ainda inscritos. Concedo a palavra ao Deputado Átila Lins, do PMDB do Amazonas. S.Exa. dispõe de 3 minutos. O SR. ÁTILA LINS (PMDB-AM. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, reina grande expectativa no País, principalmente nos Municípios do interior do Estado do Amazonas, em relação ao programa que a Presidenta Dilma Rousseff lançou, o PRONATEC, que trata da implantação do ensino tecnológico no interior. O ex-Presidente Lula inaugurou uma série de escolas técnicas, que agora têm o nome de Instituto Tecnológico. E a Presidenta Dilma Rousseff lançou um novo programa, dizendo que vai construir mais 200 escolas técnicas: em 80 delas as obras estão em andamento; as outras 120 serão anunciadas nos próximos dias. Já encaminhei ao Ministério da Educação, à Casa Civil da Presidência da República e à Secretaria de Relações Institucionais pedido no sentido de que implantemos no Amazonas quatro escolas técnicas: uma, no Município de Tefé, que atenderia à capital do Médio Solimões, que está precisando de uma escola técnica; outra, no Município de Eirunepé, que atenderia à calha do Juruá, cuja Prefeitura é administrada pelo companheiro Dissica Tomaz; outra, em Manicoré, que atenderia à região do Rio Madeira; e a última, no Município de Boca do Acre. Com escolas técnicas localizadas nesses Municípios, atenderíamos às calhas dos rios, uma vez que é impossível pleitear à Presidenta Dilma Rousseff a construção de escolas técnicas em todos os Municípios amazonenses. 50 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Já existem escolas técnicas em seis outros Municípios amazonenses, e essas quatro escolas técnicas atenderiam a outras comunidades. Da mesma forma, queremos criar campi avançados da Universidade Federal do Amazonas em vários Municípios amazonenses, para descentralizar o ensino. Em todo o interior do Estado a UEA — Universidade Estadual do Amazonas está presente, mas em alguns Municípios pretendemos colocar um campus avançado da Universidade Federal. Seriam eles: Tefé, Carauari, Manicoré e Manacapuru. Era o que tinha a dizer. Obrigado. 51 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra ao Deputado Marllos Sampaio, do PMDB do Piauí. O SR. MARLLOS SAMPAIO (PMDB-PI. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Izalci, amigas e amigos brasileiros, principalmente do Estado do Piauí, gostaria de registrar a peregrinação que fazemos junto aos Ministérios para tentar viabilizar e ajudar nossa Capital Teresina e os pequenos Municípios. Ao mesmo tempo, entristece-me a dificuldade que estão tendo os Ministros. Por exemplo, estive com o Ministro do Turismo, Pedro Novais, que é do PMDB, e percebi a dificuldade enorme e a falta de autonomia que estão tendo os Srs. Ministros para liberar recursos importantes a pequenos Municípios. Agora é tempo de São João e temos emendas importantes para ajudar nas festividades; desde o ano passado elas não são pagas. Ficamos preocupados. Esperamos que elas sejam liberadas. Estarei no Morro do Chapéu, no domingo, em Barras, no sábado, e na próxima semana em Valença. Então, esperamos que essas emendas sejam liberadas a fim de dar segurança a esses pequenos Municípios para realizar suas festividades. Outro ponto importante. Estou notando essa dificuldade em todos os Ministérios. Estive com o Ministro dos Transportes e encontrei a mesma dificuldade no que diz respeito à liberação de recursos para ações importantes, como é o caso da BR-222, tão importante para a região norte do Piauí, pois vai ligar quatro Estados: Ceará, Piauí, Maranhão e Pará. É uma rodovia que passará por Piripiri, Batalha, Esperantina, São João do Arraial e Matias Olímpio. Estamos preocupados com essa questão. 52 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Estivemos também com o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, na última sexta-feira, em Teresina, onde S.Exa. recebeu o título de Cidadão Piauiense. Esperamos que S.Exa. possa abraçar o Piauí. Solicitamos que a Academia da Saúde, que será direcionada para a terceira idade, seja encaminhada para os Municípios de pequeno porte, onde há um projeto muito importante que beneficiará idosos, principalmente os mais carentes. Essa preocupação junto aos Ministérios é muito grande. Não notamos segurança e autonomia dos Ministros, que nos informam que tudo depende da Casa Civil. Esperamos, portanto, que a Senadora Gleisi Hoffmann, que recentemente assumiu a Casa Civil, e a Ministra da Secretaria das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, possam agilizar o tratamento das emendas e o devido tratamento aos Deputados e Senadores para que esta Casa possa andar e os Deputados e Senadores terem agilidade para trabalhar nos seus Municípios. Senão, Sr. Presidente, vai ficar muito difícil ser Deputado Federal e não poder realizar nada, pois há uma tremenda burocracia na hora de ajudar os Municípios. Obrigado, Sr. Presidente. 53 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Próximo Deputado inscrito, Domingos Sávio, do PSDB de Minas Gerais. O SR. DOMINGOS SÁVIO (PSDB-MG. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, quero inicialmente cumprimentá-lo pelo seu pronunciamento há poucos minutos, quando destacou sua preocupação com o que já se convencionou chamar de contrabando — no passado se falava em emendas Frankenstein —, a prática de uma medida provisória chegar a esta Casa tratando de um assunto e, na hora da votação, o Relator apresentar um texto modificado, que ganha o nome de projeto de conversão, conforme prevê o nosso Regimento. E esse projeto de conversão tem uma matéria nova, que é aprovada, e a maioria sequer conhece o assunto. Eu apresentei, nos primeiros dias nesta Casa, um projeto de resolução, que teve o apoio de V.Exa. e de outros colegas, para que qualquer medida provisória que receba matéria nova possa ser retirada de pauta com o pedido de qualquer um dos Líderes, sem ter que ser votada pelo Plenário. O que ocorre é o seguinte: todas as vezes nós, da Oposição, pedimos a retirada do projeto, entramos com requerimento, mas nós somos minoria. Aí, o Líder do Governo diz: “Não. Vamos votar contra o requerimento da Oposição”. Os Deputados da base do Governo se sentem na obrigação de votar contra o requerimento. Mal sabem que vão contribuir para aprovar uma matéria às vezes nociva ao País, que é ali implantada de maneira oportunista. E isso está acabando com a imagem do Legislativo brasileiro. Portanto, o projeto de minha autoria está na Casa. Eu quero insistir para que ele seja colocado em pauta. Ele não trava nada. Apenas diz o seguinte: se há inserção de matéria nova, o projeto sai de pauta duas sessões ordinárias. Duas 54 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 sessões ordinárias apenas; o suficiente para que possamos conhecer a matéria, para que a imprensa possa divulgar. E aí, sim, se quiser votar a favor, vota, mas sabendo o que está votando. Bom, Sr. Presidente, quero rapidamente registrar que hoje instalamos a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cafeicultura. Tive a alegria de tê-lo ao nosso lado, assim como vários Deputados, não só da minha querida Minas Gerais, mas de todo o Brasil. Tive a honra de ser indicado Vice-Presidente da Frente Parlamentar, ao lado do Deputado Diego Andrade, que assumiu a condição de Presidente. A verdade é que tanto eu quanto o Deputado Diego havíamos protocolado duas frentes parlamentares e chegamos ao entendimento de que, para o bem da cafeicultura e, é óbvio, do País, devemos unir nossos esforços. E assim foi feito. Estamos unidos para trabalhar pela cafeicultura. Há um momento de melhor condição para o cafeicultor, mas isso é apenas um momento. A cafeicultura vive de oscilações; é preciso mais estabilidade. Todos ganharão com isso; o País especialmente ganha. São 8 milhões e 600 mil brasileiros que trabalham na cafeicultura. Talvez o segmento que mais emprega neste País seja a cafeicultura. Infelizmente, vive com oscilações — em alguns momento a situação melhora; aí logo vem uma crise e coloca o produtor numa situação de desespero. Então, nós, que já estamos trabalhando com a Comissão do Leite, da qual eu sou Presidente, agora vamos trabalhar com o café. Minas Gerais é mesmo café com leite em matéria de produção agrícola. Muito obrigado, Sr. Presidente. Fica registrado nosso apoio ao seu pensamento e também à nossa Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cafeicultura. O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Parabéns, Deputado. 55 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra ao Deputado Chico Lopes, do PCdoB do Ceará. O SR. CHICO LOPES (Bloco/PCdoB-CE. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, antes eu gostaria de agradecer ao Deputado Gonzaga Patriota a gentileza política. Eu quero me solidarizar com os servidores da Universidade Federal do Ceará, que esta semana estão em greve, num movimento paredista por aumento salarial e também de gratificações. Não estão prejudicando os universitários, nem os estudantes, porque é o pessoal de apoio, são os funcionários burocratas. Por isso, eu faço um apelo ao reitor da Universidade Federal do Ceará para que abra as negociações, a fim de evitar mais uma greve, como se não bastasse a greve da Prefeitura de Fortaleza, que já deixa 230 mil alunos sem aula. Agradeço a compreensão ao Deputado Patriota ao Sr. Presidente. Nossa solidariedade aos companheiros, mas pedindo que o reitor tenha essa compreensão democrática para as negociações. Muito obrigado, Sr. Presidente. 56 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - O último inscrito, no Pequeno Expediente, é o Deputado João Campos, do PSDB de Goiás. Em seguida entraremos no Grande Expediente. O SR. JOÃO CAMPOS (PSDB-GO. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, quero começar lendo aqui uma Moção de Louvor: “A Frente Parlamentar Evangélica, a Frente Parlamentar em Defesa da Família e o Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política vêm tornar pública moção de louvor e aplausos ao Dr. Jerônymo Pedro Villas Boas, Juiz de Direito da 1ª Vara da Fazenda Pública Municipal e de Registros Públicos da Comarca de Goiânia, Estado de Goiás, pela independência, conhecimento, coragem e apego à nossa Constituição Federal ao prolatar sentença onde decide restaurar a ordem jurídica perturbada pelo Supremo que, ao reconhecer a união homoafetiva, afrontou a Constituição Federal, § 3º do art. 226. Entendemos que o Supremo invadiu competência do Congresso Nacional ao alterar a nossa Constituição sob o argumento de que a interpretou. Esse ativismo é perigoso e gera insegurança jurídica para todos nós. Decidiu o Dr. Jerônymo: ‘Diante da nulidade formal e matéria do ato notarial aqui apreciado, inapto para gerar qualquer direito perante terceiros, determino o 57 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 cancelamento da Escritura Pública de Declaração de União Estável.’ ‘Outrossim, oficie-se todos os Cartórios de Registro de Títulos e Documentos, da Comarca de Goiânia e do Registro Civil para que se abstenham de proceder a qualquer escrituração de declaração de união estável entre pessoas do mesmo sexo...’. Conclamamos outros magistrados e tribunais do Brasil a terem postura e atitude semelhantes às exteriorizadas pelo Meritíssimo Juiz de Direito Jerônymo Pedro Villas Boas, a fim de sustarem todos e quaisquer registros que, ao arrepio da lei, reconheçam união estável entre pessoas do mesmo sexo. Brasília, 21 de junho de 2011.” Sr. Presidente, queria dizer que a sentença prolatada por esse juiz, que conheço de perto, porque é do meu Estado, é um primor, dado o conhecimento jurídico e os fundamentos de natureza sociológica, cultural e o arcabouço jurídico que utilizou. O Supremo Tribunal Federal, na minha visão, invadiu competência deste Parlamento, rasgou a nossa Constituição. Entretanto, um juiz de primeiro grau teve muito mais lucidez do que o conjunto dos Ministros do Supremo. Há um provérbio conhecido que diz que toda unanimidade é burra. E essa decisão do Supremo foi unânime. Acho que ela serve para a reflexão dos Srs. Ministros. 58 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Quero aproveitar para pedir, em meu nome e também no da Frente Parlamentar Evangélica, que tenho a honra de presidir no Congresso Nacional, que o Presidente Marco Maia, em caráter de prioridade, instale a Comissão Geral requerida por nós, neste plenário, para discutir o princípio da separação dos Poderes dentro da concepção de harmonia dos Poderes, sob pena de, em pouco tempo, termos, no Brasil, instalado o governo dos juízes e termos aqui um governo totalitário. O Judiciário é indispensável ao Estado de Direito, mas o ativismo praticado é um mal à democracia e gera insegurança jurídica para toda a Nação. Ao mesmo tempo, Sr. Presidente, que V.Exa., ao instalar a Comissão, entenda que nós estamos fazendo isso não para afrontar o Poder Judiciário, mas para cumprir a Constituição, que diz que é competência privativa nossa zelar pela competência do Poder Legislativo. Muito obrigado, Sr. Presidente. 59 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 A SRA. MARINA SANTANNA (PT-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, vimos manifestar o nosso contentamento com um fato de extrema importância, que faço questão de registrar nos Anais da Câmara dos Deputados. Importância histórica e simbólica. No próximo dia 25 de junho, no Assentamento Mosquito, Município de Goiás, no Estado de Goiás, ocorrerá a 7ª Festa da Colheita da Diocese de Goiás, que comemorará os primeiros assentamentos de reforma agrária no Estado. Refiro-me aos assentamentos Mosquito e São João do Bugre, que estão completando 25 anos de resistência, caminhada e luta. Organizada pela Diocese da Cidade de Goiás e pela Comissão Pastoral da Terra, a festa será um momento de comemoração e partilha dos trabalhadores rurais. “É a celebração da colheita dos frutos que a terra e a luta organizada dos camponeses trazem”. Mosquito e São João do Bugre são os dois primeiros assentamentos de reforma agrária do Estado de Goiás, uma conquista decisiva para a continuação de um processo de busca da democratização da terra e da justiça no campo, do qual ainda como advogada da Comissão Pastoral da Terra (CPT), na década de 80, tive a honra de participar. A Festa da Colheita é também um espaço de resgate de elementos da cultura camponesa, como a catira, as fiandeiras, a Folia de Reis. Haverá também a apresentação do Circo Lahetô, com o espetáculo “Goiás no Picadeiro”. O Lahetô é uma primorosa escola de circo que dá oportunidade para crianças e jovens desenvolverem o seu talento por meio da arte. Na festa são apresentados ainda os frutos da terra e a produção que os agricultores levam, como arroz, milho, mandioca, banana, hortaliças. 60 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Durante a comemoração será entregue o Prêmio Dom Tomás Balduíno a pessoas e entidades da região que se empenham na luta pela reforma agrária, direitos humanos e ambientais. Ex-Presidente e conselheiro permanente da CPT, Bispo Emérito da Cidade de Goiás, Dom Tomás é um ícone da luta pela terra, pelos direitos humanos de ribeirinhos e lavradores, dos excluídos. Faço questão de registrar os homenageados de 2011: o Fórum Goiano pela Reforma Agrária; a Central Única dos Trabalhadores; o Movimento Sindical, representado pelos Sindicatos de Trabalhadores Rurais e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás (FETAEG); a saudosa amiga e companheira de luta Maria Toró, já falecida, mas que em vida exerceu sua liderança no assentamento São Carlos e em vários outros da região de Goiás; Tião Lobó, das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica na cidade de Goiás; a turma de Direito Especial Evandro Lins e Silva da UFG/Campus Goiás (constituída de trabalhadores rurais que estão podendo estudar para ter no Direito uma ferramenta de luta); Ivo Poleto, filósofo e sociólogo, assessor de pastorais e movimentos sociais; a Via Campesina, este movimento que organiza e luta pelos direitos de pequenos e médios agricultores, trabalhadores agrícolas, mulheres rurais e comunidades indígenas; a Diocese de Goiás; e a Escola Família Agrícola de Goiás, importante instituição que surgiu como resposta à problemática da educação rural tradicional e, com o passar dos anos, tornou-se uma alternativa viável e promissora para os filhos dos camponeses, que antes não viam possibilidades de oferecer um ensino formal aos seus filhos. Participaremos da comemoração com Dom Tomás Balduíno; com representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), do 61 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e da Pastoral da Juventude Agrária; com o Deputado Estadual Mauro Rubem (PT-GO) e outras lideranças políticas e com movimentos sociais. A festa prevê uma celebração ecumênica, uma caminhada, a apresentação de um manifesto pela reforma agrária, elaborado pelo Fórum Goiano de Reforma Agrária e Justiça no Campo, apresentações culturais, o lançamento do monumento dos 25 anos da conquista dos assentamentos Mosquito e São João do Bugre e o tradicional forró. Fazemos questão de registrar esse acontecimento e reconhecer que muito já foi feito, mas também ressaltamos que muito ainda há por fazer. A reforma agrária continua sendo uma necessidade para os trabalhadores e para as trabalhadoras que tiveram negado historicamente o direito à terra. Ninguém é sem-terra porque quer. Só em Goiás temos mais de 10 mil acampados. Consideramos que (mais do que para os acampados) a reforma agrária é um benefício para todos. Com a reforma agrária, só perde quem historicamente ganhou - os latifundiários. A reforma agrária gera emprego, renda, desenvolvimento local, alimentação saudável e reduz a população nas cidades. Ela pode ser aliada do meio ambiente, que o latifúndio, com os seus processos produtivos, sempre destruiu. Se a Constituição garante a função social da terra, ela deve ser desapropriada para fins de reforma agrária quando não cumpre o seu papel, como prevê a Constituição Federal. Dados oficiais do INCRA (janeiro de 2011) dão conta de que a área incorporada ao programa de reforma agrária saiu de 21,1 milhões de hectares de 62 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 terras obtidos entre 1995 e 2002 para 48,3 milhões, entre 2003 e 2010. O número de famílias beneficiadas também aumentou nos últimos 8 anos, chegando aos atuais 614.093. No mesmo período, foram criados 3.551 assentamentos. Atualmente, o Brasil conta com 85,8 milhões de hectares incorporados à reforma agrária, 8.763 assentamentos atendidos pelo INCRA, onde vivem 924.263 famílias. Esses números têm a sua relevância, mas é fato que o nosso atraso histórico requer que avancemos ainda mais. O nosso mandato parlamentar é um aliado do Governo da Presidenta Dilma, nas ações que visam ampliar o acesso à terra, com assistência técnica, e os investimentos na agricultura familiar, que sustenta mais de 70% das famílias brasileiras. Estamos à disposição para fortalecer e apoiar as grandes mobilizações dos trabalhadores, como o Grito da Terra Brasil, a Marcha das Margaridas e a luta pela reforma agrária, por agroindústrias e agropecuária sustentáveis no Centro-Oeste e no Brasil. O nosso lado é o dos trabalhadores rurais, dos pequenos produtores, dos agricultores familiares e assalariados rurais. Lutamos para aumentar o orçamento dos órgãos responsáveis pela reforma agrária e pelo fim da violência no campo. Em pleno terceiro milênio, é inaceitável que continuem a ocorrer assassinatos de lideranças pelo simples fato de lutarem pelos seus direitos! Precisamos evitar que o País acabe com os seus recursos naturais de modo a comprometer a qualidade de vida de toda a população, cuidar para que o meio ambiente seja compreendido como um direito fundamental tanto quanto a saúde, a educação e outros. Como afirma o slogan do Governo Federal, precisamos deixar de ser um país rico à custa da miséria e passar a ser um país rico sem miséria. 63 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Mudar esse cenário requer alteração na atual correlação de forças, que mantém o latifúndio e os setores conservadores muito fortes e determinantes na macroeconomia. Como afirmara Dom Tomás Balduíno, em audiência pública da qual participamos neste primeiro semestre, em Goiânia, vivemos um processo em que conquistar a reforma agrária requer muita unidade na luta. As dificuldades de mobilização dos movimentos sociais e populares exigem de nós congregação e mobilização. Precisamos somar acampados, assentados, servidores, entidades, parlamentares e gestores públicos do campo democrático-popular para buscar o mais importante: a reforma agrária que queremos e um regime mais justo, igualitário, fraterno, com equidade social e garantia plena de todos os nossos direitos humanos sociais, econômicos, culturais e ambientais. Viva a luta dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo e da cidade! Viva a Diocese de Goiás! Viva a Comissão Pastoral da Terra! Viva a Festa da Colheita! Vivam os Assentamentos Mosquito e São João do Bugre, pelos 25 anos de luta! “Ocupar, resistir, produzir!” 64 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Passa-se ao V - GRANDE EXPEDIENTE Conforme dispõe o art. 87 do Regimento Interno, serão concedidos 25 minutos a cada orador. Concedo a palavra ao primeiro orador inscrito, Deputado Gonzaga Patriota, do PSB de Pernambuco. 65 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. GONZAGA PATRIOTA (Bloco/PSB-PE. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Deputado Izalci, Sras. e Srs. Deputados, eu escrevi um discurso muito grande. Aliás, o tempo já avançou um pouco, mas eu agradeço aos eminentes Deputados que me antecederam no Pequeno Expediente, porque isso ajuda principalmente o processo democrático brasileiro. Sr. Presidente, eu desejo tratar, nesta tarde, de problemas da Região Nordeste. Há 2 meses recebi a incumbência, por unanimidade, de coordenar a bancada dessa região na Câmara dos Deputados. E vejo aqui no plenário o eminente Deputado Átila Lins, coordenador da bancada do Norte. Quando olhamos para o Brasil redemocratizado, quando olhamos para o Brasil que se desenvolve e que cresce, lamentavelmente, vemos ainda duas regiões abaixo da linha de pobreza. Assumimos essa responsabilidade. Temos de trabalhar dobrado. Hoje, na antevéspera das festas de São João — São João do Nordeste —, devo viajar logo mais para Caruaru. Se der tempo, com a nossa querida Presidente Dilma Rousseff, que decola às 17 horas da Base Aérea. Entre viajar com a Presidente Dilma e ir a Caruaru para esses festejos juninos e falar durante 30 minutos sobre os problemas da nossa região, eu prefiro ficar aqui, até porque, como disse no começo da tarde, hoje não falo como o Deputado Gonzaga Patriota, pelo PSB de Pernambuco, da base do Governo; eu falo aqui como coordenador de uma bancada composta por Deputadas e Deputados da base, mas também por Deputadas e Deputados da Oposição. Fico feliz, Presidente Izalci, em falar no Grande Expediente, com o País redemocratizado. Eu sou Deputado desde 1982. Naquela época, o Brasil vivia nas 66 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 trevas. O Presidente da República era João Baptista Figueiredo. Nós não tínhamos nem o direito nem o poder de chegar sequer perto do Palácio do Planalto. Ajudei na feitura da Constituição Cidadã, promulgada pelo Dr. Ulysses Guimarães. Não esqueço aquele dia de outubro de 1988, quando ele levantou as mãos, com a Constituição Cidadã — assim ele a denominou —, e nós vimos as coisas mudarem. Até aquela época, dificilmente se via aqui um índio. Vieram depois o índio e o negro. Mulheres no Congresso Nacional eram poucas. Por isso, nós ficamos felizes em fazer um pronunciamento sobre a Região Nordeste, estando o País democratizado. Obviamente, ele está abaixo da linha da pobreza, mas as coisas melhoraram muito na Região Nordeste. E nós esperamos que possam melhorar ainda mais. Hoje quero fazer uma pequena radiografia da região, começando pelo Maranhão, um dos Estados com o maior número de habitantes, dentre os mais de 9 milhões de nordestinos, vivendo abaixo da linha da pobreza. São nordestinos que não têm ainda acesso ao emprego, que ainda não conseguem se desenvolver através da educação, que não têm acesso aos serviços de saúde e que vivem — pasmem os que estão me ouvindo! — com uma renda per capita mensal de 70 reais, quando o salário mínimo hoje ultrapassa os 500 reais. Mas é um Maranhão que tem uma base de lançamento de foguetes, em Alcântara, que tem o prazer de sediar a segunda empresa binacional do País, uma empresa do Brasil e da Ucrânia, a Alcântara Cyclone Space. Aliás, eu cito no meu pronunciamento um trabalho do ex-Ministro da Ciência e Tecnologia, vice-presidente do meu partido, o grande brasileiro e cientista Roberto 67 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Amaral, que mostra a importância daquela base de lançamento de foguetes para o Maranhão. Maranhão, esse grande Estado que tem uma riqueza extraordinária. E, com certeza, nós vamos trabalhar aqui, com os representantes dos maranhenses, para ajudar no seu desenvolvimento. Passamos pelo Piauí, onde existe um dos melhores vales de produção agrícola, como o Vale do Uruçuí, que produz soja e milho. Chegamos ao Ceará, também um Estado riquíssimo. Eu cito no meu pronunciamento, quando passo pelo Ceará, a importância do DNOCS e o quanto ajudou com recursos hídricos o Nordeste brasileiro, inclusive levando sua tecnologia para outros países. Nós vimos no Canadá e em outros países a presença do DNOCS, trabalhando em defesa dos recursos hídricos. No Rio Grande do Norte, vemos o petróleo e a fruticultura. Passo em seguida para a Paraíba, com a sua riqueza, além do turismo nas suas belíssimas praias. Depois passo pelo meu Estado, Pernambuco, que há quase 5 anos é governado por Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes. Ali ele começou a implantar o Programa Luz no Campo, depois absorvido pelo Governo do Presidente Lula, com o Programa Luz para Todos. Hoje, no Brasil, praticamente todas as propriedades urbanas e rurais têm energia elétrica, algo que parecia impossível. O Governador Eduardo Campos, além dos seus grandes programas sociais, começados ainda no seu primeiro governo com a ajuda do Presidente Lula — que também é pernambucano, de Garanhuns, para a nossa felicidade —, ultrapassou em muitas vezes o que fez o seu avô, Miguel Arraes, no primeiro e no segundo governos, fez uma administração invejável e está levando a economia do litoral para o interior do Estado. Interiorizou universidades, principalmente a Universidade 68 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Federal Rural de Pernambuco, levando-a para Caruaru, Garanhuns, Serra Talhada e agora para Araripe; levando a Faculdade de Medicina da capital para Serra Talhada; levando a Universidade Federal do Vale do São Francisco para Petrolina, a cidade que me recebeu há quase 40 anos, que me adotou. Sou cidadão de Petrolina, nascido em Sertânia e praticamente criado em Salgueiro. O Governador está fazendo um trabalho extraordinário em Pernambuco na área da fruticultura. E no meu pronunciamento faço referência à fruticultura, ao trabalho desenvolvido pelos petrolinenses, pelo povo de Lagoa Grande, de Santa Maria da Boa Vista, de toda aquela região. Atravesso o Rio São Francisco, a Ponte Presidente Dutra, para mostrar do outro lado a cidade de Juazeiro, na Bahia. Infelizmente, quero chamar a atenção para a falta de ações do Governo em prol do desenvolvimento da região, inclusive para a falta de ações do Banco do Nordeste em prol da fruticultura do Vale do São Francisco. Lá não está apenas a cultura das frutas, mas também a produção de um dos melhores vinhos do Brasil. Faltam mais ações do Governo, do Banco do Nordeste, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e assim por diante. Quando nós passamos por Alagoas, vemos o seu turismo, aquelas belas praias, aquele vale extraordinário. Sergipe se confunde com o Estado do Rio Grande do Norte também no setor do petróleo. É importante que a bancada do Nordeste, junto com a bancada do Norte, continue o seu trabalho, principalmente o que diz respeito à derrubada o veto do Sr. Presidente da República ou à aprovação do projeto importante que tramita aqui, 69 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 intermediário, para que possamos ver resolvido o problema dos royalties do petróleo. Eu passei no Estado do Ceará agora há pouco, senti o sabor daquela castanha cearense e falei do DNOCS. Chega à tribuna de aparte neste instante o decano, o meu querido e eterno Presidente do Congresso Nacional, Mauro Benevides. E eu interrompo um pouco o meu discurso para ouvir esse grande representante do povo brasileiro e, principalmente, do povo cearense. O Sr. Mauro Benevides - Nobre Deputado Gonzaga Patriota, quero aparteá-lo neste instante, deslustrando o brilhante discurso de V.Exa., para lhe dizer que há uma integral solidariedade aos pontos de vista que expende. Tem o nosso sentimento, a nossa concordância e sobretudo o nosso estímulo, para que o apelo e as reclamações simultâneos que V.Exa. formula da tribuna tenham guarida junto ao Poder Executivo e, naturalmente, neste próprio plenário, quando nós tivermos que apreciar os vetos do Presidente Lula à outorga que estabeleceu novos quantitativos para a redistribuição dos royalties do pré-sal entre os vários Estados brasileiros. Esses royalties são realmente importantes. E, a julgar pelo nosso Estado, os royalties que seriam distribuídos no montante de 256 milhões passariam para 1 bilhão e 800 milhões. Então, V.Exa. veja que a renda do Ceará seria acrescida com esse estímulo extremamente significativo para as finanças estaduais. Portanto, presto a minha adesão a V.Exa., sobretudo por esse lineamento de medidas macroprudenciais que defende neste instante da tribuna da Câmara dos Deputados. O SR. GONZAGA PATRIOTA - Agradeço a V.Exa., Deputado Mauro Benevides, o aparte e peço permissão para incorporá-lo ao meu pronunciamento. 70 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Dando continuidade, Sr. Presidente, quero falar um pouco sobre o último Estado do Nordeste ou o primeiro Estado do Nordeste, da grande Bahia, da Bahia dos carnavais, da Bahia do turismo, da Bahia do desenvolvimento, principalmente da sua região oeste, que tem mais de 150 mil quilômetros quadrados e que pertenceu ao Estado de Pernambuco. E um cearense chamado Paes de Andrade, parente do Paes de Andrade que foi nosso colega aqui, tomou um cochilo lá, e o Rei mandou essa terra para as Minas Gerais. Ela ficou muito tempo como parte de Minas Gerais e depois da Bahia. Mas, lamentavelmente, não voltou a fazer parte de Pernambuco. Falo do oeste baiano, das melhores terras do Nordeste, da maior produtora de milho e de soja. A riqueza do oeste da Bahia é extraordinária. Aquela área vai ser emancipada. Esperamos que seja emancipada e se torne o Estado do Rio São Francisco. E nós queremos garantir ao povo baiano o nosso compromisso em relação a esse assunto. Está chegando aqui o Deputado Givaldo Carimbão. Eu já passei pelas Alagoas, Deputado Carimbão, neste pronunciamento que faço como coordenador da bancada do Nordeste. Comecei falando do Maranhão e já passei por todos os Estados do Nordeste, inclusive pelo seu, Alagoas. Sr. Presidente e Deputados Mauro Benevides e Átila Lins, Líder da bancada do Nordeste, quero falar da nossa alegria, restando-me ainda 10 minutos, de poder encaminhar essas reivindicações, em nome dos Deputados do Nordeste. Que nós possamos fazer isso conjuntamente — a bancada do Norte e a bancada do Nordeste, exatamente as duas regiões mais pobres do País. É o que já estamos fazendo, em reuniões quinzenais com todos os coordenadores estaduais, dos nove Estados do Nordeste e dos sete Estados do Norte. Nós verificamos os problemas de 71 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 cada Estado e, uma vez por mês, temos uma reunião com uma autoridade do Governo. A reunião deste mês de junho é com o Ministro da Integração Nacional. Sabemos que, em se tratando desse Ministério, não pode ser do Norte ou do Nordeste, mas um Ministério que apresente solução para todos os problemas de integração e de aproximação. Ouço V.Exa. com muita alegria, Deputado Marllos Sampaio, do Piauí. Eu tive um colega Parlamentar — estudei muito no Ceará — que tinha o seu nome. Acho que é seu parente. O Sr. Marllos Sampaio - Deputado Gonzaga Patriota, ouço o seu pronunciamento e muito me animo em saber do seu envolvimento na busca pela elevação do Nordeste, porque eu sinto certa discriminação no tocante ao Piauí e a alguns Estados do Nordeste. Faltam muitos investimentos. Os programas sociais chegam ao Estado do Piauí, mas não precisamos só de programas sociais, de Bolsa Família, de “Bolsa A, B, C ou D”. Precisamos de grandes obras, de obras de infraestrutura, o que no meu Piauí não vejo. Lula e Dilma tiveram votação máxima no Nordeste e no Norte. Por que tudo para o Sudeste, para São Paulo e para o Rio de Janeiro? Principalmente quando se fala de royalties, os Governadores do Rio e do Espírito Santo só faltam pedir misericórdia, para que não se deixe ir recursos para o Nordeste. Então, fico feliz e satisfeito porque há um envolvimento da bancada do Nordeste. No meu Estado, o Deputado Marcelo Castro luta muito por essa bandeira dos royalties. Temos que engrandecer o Nordeste. Sinto que há uma dívida histórica com o Nordeste. Lula é de Pernambuco; Dilma teve o apoio de Lula. Então, tem que olhar mais para o Nordeste. Parece-me que só vão, infelizmente, Deputado 72 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Gonzaga, migalhas para o Nordeste, como se fosse o patinho feio da Nação. Então, que haja um envolvimento maior. Parece-me que só se olha o empresariado, os grandes banqueiros, e se deixa de lado os mais humildes, os mais pobres. Continue essa luta para conseguir mais recursos para o Nordeste e, é claro, em especial para o Piauí. O SR. GONZAGA PATRIOTA - Deputado Marllos, agradeço a V.Exa. o aparte, que incorporo ao meu pronunciamento. O seu pai, o querido Deputado Themístocles, foi nosso colega aqui por muitos anos. Presidia quase que eternamente os trabalhos. Ouço com prazer o Deputado Givaldo Carimbão, representante das Alagoas. O Sr. Givaldo Carimbão - Orgulho-me do companheiro Gonzaga Patriota, coordenador da bancada do Nordeste. Um dos Deputados mais antigos na Casa, Gonzaga Patriota conhece e vive em um Estado, em uma região — o sertão de Pernambuco — onde a transformação se deu exatamente pela produção agrícola e industrial. O Nordeste tem sido alvo só de discursos. As ações não são efetivas. O Presidente Lula avançou, sem sombra de dúvida, na duplicação — por exemplo: do Maranhão à Bahia; isso é fundamental; na transposição de águas para o Ceará — nós sempre discutimos isso; e acho que tem dado respostas ao Estado de Alagoas, principalmente quando se investe em saneamento básico — já são cinco as cidades atendidas, e vão ser mais 20 agora, com o PAC 2, no semiárido do Nordeste, em Alagoas. E o Programa Água para Todos, o discurso da bancada do Nordeste, é fundamental. V.Exa., como coordenador, tem discutido isso. Na semana retrasada, com o Ministro Fernando Bezerra, discutimos essa questão do Programa Água para Todos. Não é possível que alguém, a 100 metros ou a 200 metros da margem de um 73 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 rio, não tenha água para beber. Eu dizia que a população de Belo Monte, no Estado de Alagoas, uma cidade urbana, banhada pelo Rio São Francisco, não tinha água para beber, definitivamente. Enfim, Deputado Gonzaga Patriota, muito me orgulho, como Deputado do Nordeste, de ter o ilustre companheiro como presidente dessa frente parlamentar que tem buscado o desenvolvimento. Acho que a nossa grande luta — é bom que o Nordeste brasileiro saiba disso; e o Deputado Marllos, do Piauí, citou isso claramente aqui — é a dos royalties. Parece-me que o grande avanço que o Nordeste pode obter é com a questão do pré-sal. Nós temos que nos unir. A bancada do Norte e a do Nordeste têm que estar unidas, porque isso não é justo. Marcelo Castro mostra matematicamente a revolução que se pode fazer com esses recursos no Nordeste. Parabéns, Gonzaga Patriota! Orgulho-me de ser um nordestino como V.Exa. O SR. GONZAGA PATRIOTA - Obrigado. Antes de ouvir os Deputados Zé Geraldo e Átila Lins, eu gostaria apenas de dizer — inclusive ao Deputado Marllos, que levantou esta questão — que o PAC, para essas duas regiões, tem que ser ampliado. Não podemos deixar como está. O Plano Brasil Sem Miséria é muito bom, mas temos que conversar com a nossa Presidente, com o seu Governo, para que não haja mais contingenciamento de recursos previstos em emendas de Deputados para as Regiões Norte e Nordeste do Brasil. Nós criamos uma expectativa lá na ponta, perante os Prefeitos. Que as emendas de bancada e, principalmente, as de Comissão não sejam contingenciadas. Há outro pedido aqui, Zé Geraldo — e já o levamos hoje à Ministra Ideli Salvatti: que as dívidas de Estados e Municípios do Norte e do Nordeste, através de 74 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 medida provisória ou de decreto presidencial, sejam prorrogadas por 20 anos, como se fez lá na terra de Átila Lins. Prorrogaram por 50 anos os incentivos à Zona Franca de Manaus. O Sr. Átila Lins - Serão prorrogados. O SR. GONZAGA PATRIOTA - Então, queremos pedir a prorrogação dessas dívidas, porque é o Município, que está lá na ponta, que vê o problema da pessoa mais pobre. Quero fazer aqui esses apelos, principalmente sobre os Restos a Pagar. O Sr. Átila Lins - V.Exa. me permite um aparte, Deputado? O SR. GONZAGA PATRIOTA - Vamos ouvir o Deputado Átila Lins. O tempo está acabando, mas acho que vão me dar mais uns 10 minutos. O Sr. Átila Lins - O tema que V.Exa. aborda, Deputado Gonzaga Patriota, mereceria 50 minutos. O tempo do Grande Expediente está sendo curto para V.Exa. falar com tanta propriedade, como vem falando, dos problemas do Nordeste. V.Exa. também incluiu a região que coordeno, a Região Norte. Temos lá 7 Estados, e os problemas são similares aos do Nordeste. Muito similares. De forma que quero dizer a V.Exa. que é com uma alegria muito grande que temos feito essa parceria. Já realizamos uma reunião dos Deputados do Nordeste com os do Norte e com o Ministro da Integração Nacional. Estamos esperando uma audiência com a Ministra Tereza Campello, para tratarmos do Plano Brasil Sem Miséria junto às duas bancadas, das Regiões Norte e Nordeste. Enfim, acho isso muito importante e quero agradecer por essa parceria com V.Exa., coordenador da bancada do Nordeste que tem feito um trabalho maravilhoso. Queremos, com a experiência que V.Exa. tem, colocar a Região Norte ao seu lado, para que, juntas, Norte e Nordeste, possam debelar a pobreza e a miséria. V.Exa. sabe que, segundo estudo do IBGE, no Norte 75 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 e no Nordeste é que estão as pessoas que vivem abaixo da linha da miséria; as pessoas extremamente pobres estão nessas duas regiões. Daí pretendermos fazer um longo debate com a Ministra Tereza Campello, para receber os benefícios que a Presidente Dilma está anunciando para o Brasil, pelo Programa Brasil Sem Miséria. Muito obrigado pelo aparte que V.Exa. me concede. O SR. GONZAGA PATRIOTA - Deputado Átila, V.Exa. não sabe da importância dessa junção Norte e Nordeste para que esses pleitos que cito no meu pronunciamento sejam atendidos. Ouço com muita atenção e respeito o meu vizinho, Deputado Zé Geraldo. O Sr. Zé Geraldo - Sr. Deputado, daqui estou olhando para o painel: o seu tempo está se esgotando. Eu vou ser bastante breve. Agradeço a V.Exa. pelo aparte. Eu só quero discordar de V.Exa. quando diz que os investimentos que o Governo Federal está fazendo no Nordeste são migalhas. Eu acho que eles são muito significativos. É que realmente existe uma demanda muito grande. Mas são investimentos bilionários na área de saneamento, no Programa Luz para Todos, na transposição de águas do Rio São Francisco. Há todo um plano de desenvolvimento, que o Presidente Lula priorizou e ao qual tem sido dada continuidade pela Presidente Dilma, para o Norte e para o Nordeste. Eu sou daqueles que pensam que um país que ficou 20 anos, 30 anos sem esses investimentos, agora, por mais que se invista... Muitos recursos dependem inclusive de licenças ambientais para começarem a ser aplicados. Às vezes, há regiões nas quais está sobrando dinheiro do PAC, como ocorre no Pará. Lá tem sobrado dinheiro destinado às rodovias federais. Nós estamos trabalhando para licenciar as obras nas rodovias, para aplicar os recursos que já deveriam ter sido aplicados há 3 76 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 anos, depois que as obras entraram no PAC. Então, eu penso que nós precisamos valorizar muito os programas que existem, os recursos que estão em curso e aqueles que já foram aplicados. Parabéns a V.Exa. pelo trabalho que faz na coordenação da bancada do Nordeste. O SR. GONZAGA PATRIOTA - Eu agradeço a V.Exa. o aparte. Eu vou tentar concluir o pronunciamento dentro do prazo, apenas agradecendo todos os apartes e reiterando esses apelos que fiz. Já os documentei e os entreguei hoje à Ministra Ideli Salvatti. Também os mandei para a Ministra Tereza Campello. Esperamos ter uma audiência com a nossa querida Presidente Dilma Rousseff. De qualquer maneira, Deputado Zé Geraldo, embora os recursos sejam muitos, faltam algumas coisas. A burocracia é maior do que os recursos. Esperamos continuar ajudando o Governo. Agora, quando não for atendida a bancada do Nordeste, eu não vou falar como Gonzaga Patriota, do PSB, mas como coordenador da bancada que tem Deputados por todos os lados. Era o que tinha a dizer. PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR O NORDESTE, SEUS PROBLEMAS E AS VIABILIDADES PARA RESOLVÊ-LOS Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, desejo nesta tarde trazer ao povo brasileiro uma fotografia da região nordeste do Brasil e o faço pedindo permissão aos 154 Sras. e Srs. Deputadas e Deputados dessa próspera e sofrida região. 77 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Há dois meses assumi a Coordenação da Bancada do Nordeste nesta Casa do Congresso Nacional. De lá para cá já me reuni várias vezes com os Coordenadores das Bancadas Estaduais do Nordeste e, sem qualquer surpresa, constatei que todos os Estados dessa região enfrentam os mesmos problemas que enfrentam os pernambucanos, a começar pela falta de uma política macro de investimentos governamentais, para tirá-la das páginas dos jornais como sendo uma região que denigre a imagem do País, principalmente em relação aos países desenvolvidos do planeta. Os nordestinos serviram muito bem para construir o Sudeste brasileiro, principalmente São Paulo e o Rio de Janeiro nos séculos XVIII e XIX, e, no meio do século XX, a Capital da República, Brasília. Serviram também para engrossar os projetos dos grandes empréstimos com os chamados países do Primeiro Mundo, contraídos pelos governos que passaram pelo Brasil, principalmente nos períodos coloniais e de exceção, nas ditaduras de Vargas e dos generais golpistas de 1964 a 1985. Redemocratizado o Brasil no final do século passado, estudantes, donas de casa, negros, índios, minorias, trabalhadores de todas as categorias, dentre outras classes socais, começaram a se organizar em Associações, Sindicatos, ONGs, Cooperativas e outros meios associativistas e passaram a ocupar um grande espaço no processo democrático brasileiro, principalmente na política. Quem viu antes do processo democrático um negro, um índio, um trabalhador da agricultura familiar ou pedreiro, inclusive, com poucas mulheres e só de tradição familiar e política nas Casas Legislativas, nos Governos dos Estados e na 78 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Presidência da República, como vem ocorrendo desde a promulgação da Carta Cidadã de Ulysses Guimarães? Passamos pela frágil e tímido governo do presidente José Sarney, depois a caos do governo Collor de Mello, 2 anos do também lento governo de Itamar Franco, até as eleições de 1992, quando o Brasil elegeu Fernando Henrique Cardoso, que começou a governar olhando para o País como um todo e não apenas como o Brasil do Sul e do Sudeste. Ninguém pode negar que os programas sociais implementados no Brasil durante o Governo do Presidente FHC foram o início do processo de libertação do povo nordestino, principalmente quando ele conseguiu segurar o Plano Real do Presidente Itamar Franco, estabilizando a nossa moeda e ajudando nos investimentos dessa região. Com o Brasil redemocratizado, o seu povo independente resolveu eleger um trabalhador nordestino para Presidente da República, o companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições de 2002. Lula foi um Presidente diferente de todos que passaram pelo Brasil, em vários aspectos. Primeiro porque se preparou para governador o País, caminhando por todas as suas regiões. Foi ao Sul, viu as riquezas dos papas. No Sudeste, as indústrias transformando os produtos produzidos nas suas ricas e férteis terras bem cuidadas. O Centro-Oeste, que também foi muito pobre, Lula já via o seu desenvolvimento, principalmente pela construção da Capital da República, Brasília nessa região, a qual atraiu muitos produtos e industriais, particularmente para os 79 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Estados de Goiás e Mato Grosso do Sul. Visitou o Norte abandonado e o seu Nordeste, de ponta a ponta. Os 8 anos de governo do Presidente Lula, com os seus importantes programas sociais e a abertura de créditos fáceis principalmente para a classe média e média baixa, incluiu importante parcela de brasileiros que viviam abaixo da linha de pobreza, fatos reconhecidos mundialmente. Li, recentemente, uma entrevista de uma pesquisadora chilena afirmando que, para desgosto do ex-presidente FHC, era forçoso admitir que o Brasil contemporâneo se divide em “antes de Lula e depois de Lula”, e mencionava as profundas transformações que o País atravessou de 2003 para cá, notadamente um combate sem precedentes à pobreza. Outro observador estrangeiro, o historiador britânico Perry Anderson, em longo artigo publicado há pouco na London Review of Books, intitulado O Brasil de Lula, contextualiza os êxitos da gestão do expresidente, o seu compromisso com a melhoria das condições de vida do nosso povo, lembrando a difícil situação do País que o petista encontrou ao assumir a Presidência e ainda mostras que, nos 8 anos de gestão tucana, a dívida pública havia duplicado, o déficit em conta corrente era o dobro da média latino-americana, a taxa SELIC estava acima de 20% e o Real havia perdido metade do seu valor. Além de explosivamente desigual, o Brasil de 2003 era também um país quebrado. É importante que observadores de todos os quadrantes reconheçam os avanços ocorridos nos últimos anos no Brasil. Mas é motivo de satisfação bem maior, para nós socialistas que apoiamos Lula, como agora apoiamos Dilma, para nós que participamos dessa construção, saber que o povo brasileiro aprovou massivamente esse projeto e apostou em sua continuidade. 80 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Para mim, que sou nordestino, do Estado de Pernambuco onde nasceu o expresidente Lula, essas transformações têm um sabor e um sentido especiais. Cito uma: em 2008, Lula e Eduardo Campos, Governador do Estado de Pernambuco, celebraram, no Palácio do Campo das Princesas, a conquista da meta de 100% de eletrificação naquele Estado. É importante lembrar que a eletrificação rural foi uma das prioridades do último governo de Miguel Arraes, avô de Eduardo, que lançou em 1987 o programa Luz no Campo. Levar, sem cobrança pela instalação, eletricidade para a população pobre do campo é colocar em prática um compromisso com a justiça e com os princípios socialistas. É a mudança do candeeiro para o bico de luz, é a possibilidade de preservar os alimentos numa geladeira, de acionar uma máquina de costura ou uma bomba de irrigação, de iluminar o berço de uma criança. À época de Arraes muita gente reagiu àquele emprego dos recursos públicos, provavelmente os mesmos que tiveram arrepios ao ver beneficiários do Bolsa Família adquirirem seu primeiro fogão, sua primeira geladeira. Aliás, foi com tristeza que vi a oposição propor um destaque, durante a votação da Medida Provisória nº 517, que extinguia a prorrogação da Reserva Geral de Reversão, uma das fontes de financiamento do programa Luz para Todos, que está transformando a vida de tantos brasileiros. Até o momento, mais de 13 milhões de pessoas já foram contempladas, e os investimentos foram da ordem de R$19 bilhões de reais. Falei da eletricidade, agora falarei da água. Todos convivemos, hoje, com a crescente ameaça de escassez de água, em nível global. De acordo com o Banco Mundial, o número de pessoas sem acesso a água potável, esse recurso essencial, triplicou de 1950 para cá, chegando hoje a mais de 1 bilhão de seres humanos. Hoje se calcula que por volta de 2027, devido à expansão demográfica, a degradação dos 81 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 recursos hídricos e a expansão industrial e agrícola desordenada, nada menos que um terço da humanidade sofrerá com escassez de água. Essa escassez, segundo os especialistas, se fará sentir de modo mais agudo nas regiões áridas e semiáridas, nas áreas costeiras e nas metrópoles dos países em desenvolvimento. Nesse quadro, o mundo inteiro começa a se voltar para o nosso País e seus extraordinários recursos hídricos, seus rios e bacias hidrográficas. E eu gostaria de mencionar uma experiência nordestina de sucesso, de um programa instituído por uma modesta ação deste também modesto Deputado, o Programa Água para Todos, elaborado pelo Vereador Pedro Norberto, de Petrolina, em 2005 e já implementado na Bahia pelo Governador Jaques Wagner no ano seguinte. Esse ambicioso programa foi criado com o objetivo de aumentar a oferta de água e ampliar os serviços de esgotamento sanitário, ajudando a erradicar a miséria. Enquanto outros governadores não acreditaram nesse Programa Água para Todos, o governo estadual instalou mais de 100 mil cisternas, cerca de 2 mil poços tubulares e mais de 1.500 sistemas simplificados de abastecimento em toda a Bahia, priorizando o semiárido, a bacia do São Francisco e os principais núcleos urbanos e rurais. Foram beneficiadas, por exemplo, as populações ribeirinhas, as pessoas atendidas pelo Bolsa Família, os residentes na periferia dos grandes centros, os assentados da reforma agrária e os remanescentes de quilombos. Com um investimento de aproximadamente 2 bilhões de reais, o programa já levou água para mais de 2 milhões de pessoas, e saneamento para quase 1 milhão. É uma grande alegria, para mim, saber que, apesar do corte no Orçamento, a Presidente Dilma garantiu o investimento que irá transformar o nosso Programa Água para Todos em um programa nacional, visando ao atendimento de 5 milhões 82 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 de famílias até 2014. Esta será, sem dúvida, uma das marcas da gestão da nossa Presidente. Fico contente, também, em informar que o Município de São José do Egito, no Pajeú pernambucano, governado pelo socialista Evandro Valadares, onde sou o Deputado Majoritário, será o primeiro Município a instituir em todas as residências urbanas e rurais, até o final do ano que vem, o Programa Água para Todos. O Nordeste brasileiro vive hoje um momento especial, e isso é visível para além das fronteiras do nosso País. Matéria publicada na revista The Economist, no mês passado, apontava que a região continua a concentrar nossos maiores índices de pobreza, porém tem feito avanços incontestáveis. A publicação ressalta que, na última década, a região cresceu 4,2% ao ano, acima, portanto, da média nacional de 3,6%. No último ano, a economia pernambucana apresentou um crescimento “chinês” de 9,3%. A revista menciona, ainda, que além do Bolsa Família, o Crediamigo, programa de microcrédito do Banco do Nordeste, ajudou a tirar mais de 1 milhão de nordestinos da pobreza. Quero também destacar o extraordinário trabalho que vem sendo realizado em Pernambuco pelo Governador Eduardo Campos, e cito uma de suas iniciativas: o projeto Todos por Pernambuco — Gestão Democrática e Regionalizada, com Foco em Resultados. Trata-se de uma série de seminários, contemplando as doze microrregiões do Estado, que buscam estabelecer um canal de comunicação permanente entre governo e sociedade, integrando planejamento, gestão e execução financeira, de modo a garantir a eficiência das políticas públicas e a satisfação dos anseios da população. 83 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 No encontro da microrregião do Sertão do São Francisco, em Petrolina, aproveitando a presença do Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, o Governador Eduardo Campos assinou quatro convênios, que juntos representam investimentos da ordem de R$160 milhões na microrregião do São Francisco, Só para obras de abastecimento de água e esgoto em Petrolina, foram destinados 94 milhões e meio de reais. O Governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos, continua com sua brilhante proposta de descentralizar as ações do seu governo e dessa forma aproximar o povo pernambucano de seus líderes. O Projeto Todos por Pernambuco esteve por todas as regiões do Estado, tendo sido o primeiro no Município de Petrolina, no Vale do São Francisco. Na sua estreia, exatas 812 pessoas das várias cidades da região contribuíram para o debate nas seis salas temáticas pela manhã e participaram da reunião plenária, realizada à tarde, no auditório do SENAI. O estudante Ed Carlos Camilo, 18, apostou no êxito do programa. “Acredito que vai sair algo de concreto, com certeza. A reunião foi muito produtiva, o secretário se mostrou aberto para nossas colocações”, disse o jovem, que participou das discussões sobre saúde. Já a promotora de Petrolina, Lêda Cavalcanti, louvou a formatação do programa. “Foi uma excelente iniciativa do governo. É muito positiva a sua presença aqui, pois demonstra a preocupação de atingir o verdadeiro desejo da comunidade”, destacou. Em entrevista coletiva, o governador ressaltou a importância do programa para a organização do planejamento estratégico do governo, que tem chamado atenção de outros Estados. “Muitos governos estão vindo a Pernambuco ver esse 84 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 modelo de gestão que consegue economizar recursos no custeio e aplicar na ampliação do serviço público”, disse Eduardo. Cada secretário responsável por uma das seis salas temáticas fez um rápido balanço, apontando todas as reivindicações feitas durante as reuniões. Além deles, Sr. Presidente, três representantes de cada sala, escolhidos pelos próprios participantes, também tiveram o microfone aberto para suas observações. “Agricultura familiar e irrigação foram os temas mais comentados, além da cadeia do leite, em Afrânio”, disse o secretário Ranilson Ramos, que coordenou a sala de Desenvolvimento Econômico e Sustentabilidade. A microrregião do São Francisco tem, ao todo, sete Municípios: Afrânio, Cabrobó, Dormentes, Lagoa Grande, Orocó, Santa Maria da Boa Vista e Petrolina, que sediou o evento. Todas as cidades estiveram representadas no seminário. Além de escutar a população, o dia também foi de anunciar obras. Aproveitando a presença do Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, Eduardo assinou quatro convênios. Somados, os investimentos chegam a R$157 milhões, divididos entre a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba — CODEVASF e o Governo do Estado. Os convênios foram para obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário em Petrolina, um total de R$94,5 milhões. Também foi lançado o edital de licitação para contratação de obras — também de esgotamento — para as cidades de Ouricuri e Araripina, nos valores de R$32,5 milhões e R$29,8 milhões, respectivamente. O governador terminou o primeiro dia de maratona pelo Sertão numa visita à Escola Estadual Gercino Coelho, que passou por uma reforma completa no valor de R$1,7 milhão. 85 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Depois de Petrolina, foi à vez de Araripina, receber o seminário Todos por Pernambuco, que contou com a participação de 915 pessoas e 299 entidades, divididas entre os 10 Municípios que compõem o Sertão do Araripe. A população dessa região teve a oportunidade de falar sobre seus anseios e discutir as ações prioritárias em sete salas temáticas (educação e cultura, saúde, segurança, desenvolvimento social, infraestrutura, desenvolvimento econômico e sustentabilidade e tema livre) e na reunião plenária. O seminário de Araripina aconteceu no Centro Tecnológico do Araripe, das 8 horas às 19h30min. O Governador Eduardo Campos abriu as atividades do horário da tarde, autorizando os secretários responsáveis pelas salas temáticas a fazer um balanço de todas as propostas discutidas. Além dos secretários, mais três representantes de cada tema puderam expor suas reivindicações ao público. Um deles foi a agricultora Maria Enertina de Jesus, a D. Lia, que teve a oportunidade de falar sobre os problemas de sua comunidade. “Vou poder levar todo o conhecimento adquirido aqui para minha associação de agricultores. Aqui no Todos por Pernambuco adquirimos ainda mais confiança no Governo”, afirmou. Em entrevista coletiva, Sr. Presidente, o governador lembrou que o seminário Todos por Pernambuco foi também uma forma de traduzir o programa de governo para população e fazer com que as temáticas expostas sejam debatidas. “O modelo do Todos por Pernambuco não é o de um fórum deliberativo. Ele levanta questões buscando fazer com que a discussão seja coletiva, formando um debate em que as entidades priorizam o que é mais importante para região. Depois dele, como foi em 2007, nós vamos definir no PPA (Plano Plurianual) o que será realmente feito, de acordo com os principais anseios da população”, esclareceu o governador. Ele 86 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 lembrou, ainda, que todos os compromissos assumidos pelo governo no primeiro seminário foram cumpridos. Diversas propostas foram levantadas. O destaque foi para os temas: agricultura familiar, a construção de centros culturais, a implantação de UPAs e construção de estradas. A irmã Fátima, que trabalha com o setor da saúde em Araripina, propôs mudanças no modelo da saúde no Município e elogiou a escolha do novo secretário da pasta, Antônio Figueira. “Na sala tivemos um contato direto com o secretário e cheguei a conclusão de que o senhor” (Eduardo Campos) “escolheu muito bem. Ele é firme e vai fazer muito”, afirmou. A microrregião do Araripe é composta pelos Municípios de Ipubí, Bodocó, Exu, Moreilândia, Granito, Ouricuri, Trindade, Santa Filomena e Santa Cruz, além de Araripina. Todas as cidades foram representadas no evento e todos os órgãos estaduais que atuam na região também marcaram presença. O governador encerrou o segundo dia de seminário assinando uma ordem de serviço para a construção da Escola Técnica Estadual de Araripina, um investimento de R$4,6 milhões. O encerramento da primeira rodada do Todos por Pernambuco ocorreu em Salgueiro, onde 602 pessoas, de 197 entidades, participaram das discussões que ajudarão o governo na elaboração das principais ações que visam à melhoria da qualidade de vida dos pernambucanos. O seminário aconteceu no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, reunindo, além do Município anfitrião, as demais cidades que compõem o Sertão Central: Cedro, Mirandiba, Parnamirim, São José do Belmonte, Serrita, Terra Nova e Verdejante. Durante a manhã, os participantes foram recebidos pelo Vice-Governador João Lyra e logo em seguida foram encaminhados para as seis salas temáticas 87 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 previamente escolhidas ainda no momento do credenciamento. Minutos depois, o Governador Eduardo Campos chegou ao local e visitou as salas, atendeu à imprensa e no período da tarde presidiu a plenária, onde Lucas Avelino da Silva, de apenas 11 anos, fez um pedido: “Eu quero aprender a ler e a escrever”. Cego de nascença, Lucas é morador da zona rural de Cedro e contou ao governador sua história de persistência e dedicação. Assim como Lucas, Sr. Presidente, outras vozes foram ouvidas durante esses três dias de seminários. Petrolina, Araripina e Salgueiro reuniram juntas 2.329 pessoas de 694 entidades. Essa interlocução direta com a população, onde o governador, o vice e todos os secretários participam efetivamente das discussões, é vista de maneira positiva por todos. “Em 2007 foi muito bom, mas o desse ano foi muito melhor. Em quatro anos vimos muita coisa mudar, ganhamos a reforma da escola e do posto de saúde no bairro. Nossa luta agora é conseguir a construção da vila militar. Os primeiros passos já demos juntos aqui no seminário”, disse Willineide Bezerra de Araújo, integrante da Associação de Mulheres de Militares do Vale do São Francisco. Os seminários regionais do Todos por Pernambuco ainda aportará em Petrolândia, Serra Talhada, Arcoverde, Garanhuns, Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe, Goiana, Vitória de Santo Antão e Recife, contemplando assim ausculta nas 12 Regiões de Desenvolvimento de Pernambuco. Lançado pelo Governador Eduardo Campos, o projeto Todos por Pernambuco se propôs a estabelecer um canal de comunicação permanente com a sociedade, e para isso criou condições que viabilizaram esse objetivo. O plano esteve fundamentado em uma concepção democrática e regionalizada, assumindo a 88 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 proposta de trazer as necessidades e anseios das diversas regiões do Estado para o centro do processo de planejamento das políticas públicas. Um dos principais instrumentos que ajudaram a fazer esta ponte entre o governo e a sociedade foi o caderno de propostas, concebido e distribuído pela Secretaria de Planejamento e Gestão a cerca de 3 mil entidades da sociedade civil organizada. Com conteúdo avaliativo e propositivo, os cadernos recolheram uma contribuição qualificada para a formulação do planejamento estadual, servindo de base, inclusive, para a confecção do Plano Plurianual — PPA 2008/2011. Aqui, é possível rever algumas das principais propostas, nas três áreas estratégicas em que foram organizadas. A primeira área situa as intervenções voltadas para garantir bens e serviços públicos de qualidade a todos os pernambucanos, marcando o compromisso de priorizar as ações que impactam a realidade das pessoas. Na segunda, Sr. Presidente, reúnem-se os eixos que configuram o modelo de desenvolvimento sustentável em implantação, gerando oportunidades de inclusão produtiva e distribuição de renda, ampliando e qualificando os padrões de produtividade e competitividade da economia pernambucana. Com a terceira linha, detalha-se a estruturação e a profissionalização da administração pública estadual, tornando-a capaz de gerar resultados para a sociedade, por meio da entrega efetiva de bens e serviços, destacando a responsabilidade fiscal e o Modelo Integrado de Gestão. Representam, portanto, duas grandes áreas finalísticas com suporte em uma área-meio ajustada para viabilizar, gerenciar e racionalizar os recursos disponíveis. 89 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Ainda no primeiro ano da gestão 2007/2010, foram adotadas medidas para garantir a implementação do Programa de Governo, eleito pela população e confirmado no 1º Ciclo dos Seminários Regionais. Promoveu-se o ajuste da estrutura organizacional, em áreas em que o desempenho foi considerado inadequado, e também um alinhamento com o Governo Federal, para potencializar os resultados na oferta de serviços públicos e de investimentos estruturadores. O núcleo de gestão foi reestruturado para melhorar a capacidade interna de mobilização dos recursos e controle de sua utilização. Também foram assegurados espaços institucionais para formulação de políticas públicas transversais e para o fortalecimento do diálogo com a sociedade, entre eles, o Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social (CEDES), integrado por representantes dos trabalhadores, empresários, intelectuais e sociedade civil. Foi esta nova concepção de Governo que levou à realização do 1º Ciclo dos Seminários Regionais, nas 12 regiões, envolvendo cerca de 6 mil pessoas na discussão do Plano Plurianual 2008-2011. Foi promovida também a primeira consulta formal da nova gestão, com o envio de 5 mil Cadernos de Propostas para instituições representativas da sociedade, em todo o território estadual. A partir daqueles encontros, que avaliavam as respostas da população e debatiam os rumos a seguir, foi construído o Mapa da Estratégia do Governo de Pernambuco. Ali estava uma das bases que orientaria todo o funcionamento do novo Modelo de Gestão, e do próprio Governo, que programava assim o Todos por Pernambuco — Gestão Democrática e Regionalizada, com Foco em Resultados. Com a integração entre planejamento, orçamento e execução financeira criaram-se 90 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 os instrumentos para monitorar e avaliar políticas públicas e ações de Governo, com os devidos ajustes, quando necessários. O Mapa possui quatro perspectivas e dez objetivos estratégicos, Sr. Presidente, apontando as premissas, os focos prioritários e a visão de futuro do Governo. O próprio governador coordena os Ciclos de Monitoramento. E os resultados deste trabalho, acompanhando pela população, transformaram a realidade social e econômica de Pernambuco. EDUCAÇÃO Dez mil novos profissionais contratados; Distribuição de 26 mil notebooks para professores; Adoção do Bônus por Desempenho para professores (14º salário); Distribuição de mais de 2,8 milhões de kits escolares; 13 novas Escolas Técnicas — 2.240 novas vagas; Maior avanço do IDEB no Brasil — anos finais do Ensino Fundamental. Atingimento, em 2009, das metas do IDEB, para o Estado, a serem alcançadas somente em 2011; Redução de 28% na distorção idade x série no Ensino Fundamental e de 25% no Ensino Médio; 2 mil ações de recuperação de escolas. Investimentos de R$350 milhões na restauração da estrutura física para a Educação; Aumento de 1.100% no número de Escolas de Referência. SAÚDE Quase quinhentos novos leitos disponibilizados na Rede de Saúde Estadual, sendo 56 de UTIs/UCIs; 91 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Dois hospitais metropolitanos e 11 UPAs entregues (além de outras unidades ainda em construção); Foram ofertadas à população, a partir de 2009, mais 2,5 milhões de consultas, 2,2 milhões de diagnósticos e 11,8 mil cirurgias anuais; Redução de 9,5% na mortalidade infantil em dois anos; Requalificação de cinco hospitais no Interior. SEGURANÇA PÚBLICA Dez mil novos agentes de segurança contratados (policiais civis, policiais militares, bombeiros e peritos criminais); Reforço na frota de veículos de Segurança, com o aporte de 2.500 novas unidades; Aumento de 149% nos investimentos anuais em Segurança Pública; 237 câmeras de videomonitoramento instaladas na RMR; Realização de 72 grandes operações de inteligência, com a prisão de mais de mil pessoas envolvidas em práticas ilícitas; Instalação do Programa Governo Presente em 11 territórios; Redução de 27,83% no quantitativo de Crimes Violentos Letais Intencionais do Estado em relação a 2006; 25 meses consecutivos de redução CVLI — mais de 1.800 vidas salvas. RECURSOS HÍDRICOS E SANEAMENTO Está sendo realizado o maior conjunto de obras hídricas da história — R$1,2 bilhão em investimentos; 3,5 milhões de pessoas fora do racionamento; Aumento de 1.000% nos aportes de capital na Compesa; 92 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Adutoras Pirapama, Mundaú e Camevô; Sistemas de esgotamento de Moreno, Salgueiro, Tamandaré; Nove mil cisternas e 23 sistemas de saneamento entregues pelo Promata. HABITAÇÃO Setenta Academias das Cidades concluídas e outras 81 contratadas/conveniadas; 13.399 unidades habitacionais entregues e 16.950 contratadas; 30 mil títulos de posse da antiga COHAB entregues; Urbanização de áreas no Recife, Camaragibe, Olinda, Paulista, Serra Talhada e Petrolina no escopo do PAC. MOBILIDADE Expansão do SEI, com a entrega de dois terminais. Mais de 300 mil passageiros agregados ao Sistema; Requalificações da Estrada da Batalha e da Pan-Nordestina estão em andamento; Instalação do Consórcio Grande Recife; Inauguração da Ligação do Paiva — PPP; Construção de pontes sobre o Rio Paratibe. CULTURA Lançamento de Política Pública de Cultura — Pernambuco Nação Cultural; 168 novos Pontos de Cultura em quatro anos; Realização de 117 aulas-espetáculo; Recuperados e dinamizados diversos museus e equipamentos culturais como parte da política pública de valorização da Cultura; 93 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Aumento de 500% nos recursos destinados ao Funcultura (difusão e fruição cultural). CIÊNCIA E TECNOLOGIA Multiplicados por três os investimentos médios anuais da FACEPE; Foi duplicado o orçamento da UPE, foram abertos 11 novos cursos e concedida gratuidade aos alunos; Aumento na concessão anual de bolsas para pesquisa, formação de mestres e doutores — de 30, em 2007, para 1.041 em 2010. Valorização do Servidor e Otimização das Receitas e Despesas do Estado O rendimento médio dos servidores de Pernambuco cresceu 51,6% entre 2007 e 2010, mais do que a inflação do período (22,2%-IPCA); O quantitativo de PCCVs implantados no período 2007/2010 foi quatro vezes maior do que todos os planos introduzidos no Estado até 2006; Desde 2007, foram nomeados 20.450 servidores efetivos, oriundos de concursos públicos, recompondo carreiras do Estado; Pernambuco obteve um dos melhores resultados do País na arrecadação de ICMS, sem que houvesse qualquer aumento de alíquota; Multiplicou-se por seis a captação de recursos de convênios e operações de crédito, chegando a R$1,9 bilhão em 2010; Reduzido o endividamento do Estado de 83% da Receita Líquida Real para 62%; Economizados R$300 milhões realizando-se cortes na despesa de custeio, com redução de preços unitários e melhoria na forma de contratação. ECONOMIA 94 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 No período 2007-2010, o crescimento da economia em Pernambuco passou a apresentar um desempenho superior à média nacional; Em 2010, o PIB de Pernambuco cresceu 7,8% no 1º trimestre, 12,4% no 2º trimestre (mais que os BRICs), e 8,4% no 3º trimestre, acumulando uma alta de 9,4% no ano, superior à do Brasil no mesmo período (8,4%). CIDADANIA O Programa Chapéu de Palha foi relançado, tendo suas atividades expandidas também para o Sertão do São Francisco; O Programa Mãe Coruja atingiu 10 regiões do Estado, e em 95 Municípios foram estruturadas unidades do Canto Mãe Coruja; O Programa Vida Nova atende a 5,7 mil beneficiários, tendo sido implementado em 39 Municípios do Estado. Conta com 89 unidades de atendimento e outras 71 já estavam com a implantação iniciada; Isenção de ICMS sobre energia elétrica para consumidores de baixa renda; Isenção da Tarifa Social para o esgotamento sanitário e redução no valor da Tarifa Social para abastecimento de água, destinado aos consumidores de baixa renda. EMPREGO Cem mil beneficiários dos projetos de capacitação do Programa Qualificam Pernambuco foram qualificados no período 2007/2010; No período 2007/2010, foram geradas anualmente, em média, 61.637 oportunidades de trabalho, enquanto que no quadriênio anterior esse número alcançava apenas 32.585 vagas. Atração de Empreendimentos Estruturadores 95 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Foi ampliado em 76,5% o quantitativo de indústrias instalado em Suape, com investimentos privados 9,96 vezes maiores que os existentes até 2006; Implantação de 1.049 novas empresas no Interior, no período 2007/2009; Em 2010, novos empreendimentos foram confirmados em Pernambuco: uma montadora de automóveis (R$3 bilhões) e uma siderúrgica (R$1,5 bilhão); 110 novos escritórios do IPA foram inaugurados a partir de 2007 e em 2010 foram atendidos pelo IPA, até o mês de outubro, 73.319 agricultores familiares, com serviços de assistência técnica e extensão rural. Fizemos aqui referência a um dos programas do governo do Estado de Pernambuco, o Todos por Pernambuco, para mostrar que tanto Pernambuco, quanto o Nordeste são viáveis e podem caminhar com as suas pernas. Outro assunto que o Estado de Pernambuco tem conseguido vários avanços é sobre os direitos das mulheres. À frente da Secretaria da Mulher está à competente Cristina Buarque, que tem desenvolvido um excelente trabalho nessa pasta. A SECMULHER E AS MULHERES RURAIS As históricas desigualdades urbano-rural e mulher-homem Considerando a relação urbano-rural, observa-se que em Pernambuco, como em todas as partes do mundo, existe uma marcante hierarquização entre esses campos, trazendo desvantagens para as populações rurais, localizadas principalmente no interior do Estado. O campo e seus moradores são, de certa forma, invisibilizados pelas políticas públicas. Focando, agora, as relações das mulheres rurais com a sociedade, com a natureza, com o poder e com o desenvolvimento, observa-se que as desvantagens 96 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 de gênero das pernambucanas revelam uma realidade socioeconômica e política desigual entre os sexos. Ou seja, as relações patriarcais estão enraizadas de forma homogênea, tendo como consequência a subordinação e exclusão das mulheres rurais, que assim acumulam dificuldades de acesso às políticas públicas. Esse quadro de opressão de gênero se agrava quando somados os fatores raça e etnia. Consciente do momento vivenciado por Pernambuco, de um novo ciclo de desenvolvimento e da necessidade em possibilitar a participação das mulheres pernambucanas desse processo, a SecMulher entendeu como oportunidade única a retomada do Projeto Chapéu de Palha, criado em 1988, com o propósito de amparar e apoiar milhares de trabalhadores e trabalhadoras da cana, que durante a entressafra ficavam sem emprego e sem salário. A partir de 2007, a SecMulher assumiu a formatação e implantação do Projeto de Formação de Rede de Agentes de Políticas Públicas para as Mulheres Rurais, capacitando as trabalhadoras rurais durante a entressafra das culturas da cana e, posteriormente em 2009, da fruticultura irrigada. As lições aprendidas com a realização das ações do Projeto Chapéu de Palha Mulher, permitiram que a SecMulher, em 2008, criasse a Comissão de Mulheres Rurais, congregando representantes femininas dos movimentos sociais do campo, com o objetivo de discutir e subsidiar a formulação do Primeiro Plano de Políticas Públicas para Mulheres Rurais, concluído e aprovado pelo Governador de Pernambuco em 8 de março de 2010, data da comemoração dos 100 anos do Dia Internacional da Mulher. É importante ressaltar o ineditismo do plano, pois nunca existiu no País uma política pública especialmente dirigida para a mulher trabalhadora rural. 97 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Por outro lado, a metodologia aplicada no Projeto Chapéu de Palha Mulher permitiu, também, a aproximação da secretaria com as mulheres rurais do Agreste do Estado. A partir de 2009 a equipe da Gerência-Geral de Articulação e Interiorização das ações de Gênero — GERAI iniciou a implantação do Projeto Ação Convergir Mulher, atendendo os 17 Municípios de menor IDH do Estado, bem como mulheres do Município de Arcoverde. Assim, a SecMulher passa a contribuir significativamente para a inserção das Mulheres Rurais, em condições competitivas, na dinâmica de crescimento socioeconômico instalado em Pernambuco. Mais do que um compromisso de governo, a estratégia adotada pela secretaria tornou-se indispensável e inadiável para a construção de um novo caminho para o desenvolvimento, deixando para trás as máculas da exclusão, da violência e do atraso patriarcal. REDE DE AGENTES DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES RURAIS A formação da Rede de Políticas Públicas para Mulheres Rurais constitui-se no ponto central das ações desenvolvidas pela GERAI, baseada nas demandas das mulheres dos movimentos sociais do campo, em suas diferentes formas de manifestação e organização, com a finalidade de corrigir as desvantagens históricas dessa parcela da população e facilitar seu acesso às políticas públicas e às oportunidades de trabalho e renda. A Rede é iniciada em 2007, no âmbito do Chapéu de Palha, quando a SecMulher realiza o primeiro curso de políticas públicas envolvendo mulheres de 36 Municípios da Zona Canavieira, lançando as bases para uma ação de promoção da igualdade de gênero, focando, também, os aspectos de raça e etnia. Contudo, quando identifica no seu projeto uma forma de acelerar o processo de 98 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 desenvolvimento das mulheres, a SecMulher, além de atender às necessidades imediatas das mulheres, imprime à sua ação uma perspectiva de longo alcance, visando transcender o caráter emergencial do Chapéu de Palha. A cada ano a Rede é ampliada em seu território de atuação, abrangendo, em 2009, um total de 53 Municípios e 7 Municípios do Vale do São Francisco, aumentando não apenas o número de mulheres atendidas pelo Chapéu de Palha Mulher, mas ofertando também cursos profissionalizantes. Nesse mesmo ano estende-se, também, para 17 Municípios de menor IDH de Pernambuco e do Município de Arcoverde. Assim, combinando características de atendimento às necessidades práticas e imediatas da população com estratégias de transformação das condições desvantajosas de gênero, raça e etnia das mulheres, a Formação da Rede de Agentes de Políticas Públicas para as Mulheres Rurais constrói uma lógica que se contrapõe à reprodução da condição de subordinação das mulheres, oferecendolhes a chance de, através da oferta de conhecimento, de dinâmicas de grupo e de práticas de reuniões, desenharem a sua autonomia social e econômica. Tal lógica permite, de imediato, se constituir em uma ação pública estruturadora de mudanças sociais e econômicas na vida das pessoas, com impacto corretivo sobre as relações desiguais vivenciadas no Estado de Pernambuco. A estrutura de desenvolvimento das ações O programa de trabalho da Rede de Agentes de Políticas Públicas para Mulheres Rurais é iniciado com a realização de seminários de abertura, consistindo em uma aula inaugural, na qual é estabelecido o foco e a temática a ser adotada nos cursos que se seguem. 99 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O segundo passo é a realização de oficinas de unificação dos conceitos de gênero para educadoras e recreadoras, seguido da execução do Curso de Políticas Públicas e dos Cursos Profissionalizantes. Por fim, o trabalho é finalizado com o Seminário de Encerramento, com a participação da maioria das mulheres que participaram dos cursos. No período de capacitação, são realizadas, ainda, oficinas de acompanhamento e de avaliação dos trabalhos realizados, visando corrigir possíveis desvios, renovar temas ligados ao empoderamento das mulheres e indicar novas formas de atuação para a formatação dos cursos no ano seguinte. A logística também envolve a ideia de cuidado. As mulheres, por serem da área rural, muitas vezes moram distantes dos centros do Município. Esta realidade, com frequência, inviabiliza sua participação em qualquer tipo de capacitação. Pensando nisto, a Secretaria da Mulher descentraliza as aulas, aproximando-as das mulheres, como também disponibiliza uma ajuda de custo para transporte. Além disso, o projeto incluiu recreadoras. Enquanto as mães participam de suas atividades, seus filhos, até 7 anos, ficam em outro espaço brincando e aprendendo com recreadoras capacitadas, demonstrando para as mulheres a possibilidade de conciliar vida produtiva e reprodutiva. A disponibilização de lanche para as mulheres e crianças participantes do projeto também faz parte do zelo com as pessoas. Outro elemento de grande importância dentro deste desenho logístico foi a possibilidade de criar ou estreitar e fortalecer redes institucionais. A contratação de ONGs para desenvolverem as atividades no âmbito do Projeto Chapéu de Palha Mulher na Zona Canavieira e da Fruticultura, bem como do Projeto Ação Convergir Mulher, que demonstraram experiência na execução de trabalhos sociais, conhecimento da realidade local e adquiriram e aprimoraram conhecimentos nas 100 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 temáticas de gênero, confirma-se como uma importante decisão da Secretaria da Mulher. A experiência dessas entidades no campo social vem preencher uma lacuna deixada pelo poder público durante décadas. Através da parceria com as ONGs, a SecMulher busca contribuir para o desenvolvimento local, favorecendo a contratação de educadoras e recreadoras nos Municípios, bem como, fortalecendo o comércio e os serviços locais. Os cursos profissionalizantes O ano de 2008 incluiu uma nova modalidade de atividade, que foi a capacitação profissional, ampliada nos anos seguintes, até a presente data. A proposta é que todas as mulheres passem pelo módulo de políticas públicas e pelo módulo profissionalizante, podendo, inclusive, passar pelo mesmo módulo mais de uma vez. A intenção é que as mulheres fiquem vinculadas à Rede como agentes multiplicadoras, estimulando suas vizinhas a participar dos encontros, participando de reuniões na associação de sua cidade, procurando suas educadoras para assessorá-las a montarem uma associação de mulheres em seu Município. O módulo profissionalizante foi idealizado tendo como meta a qualidade. Para tanto, foi estabelecida uma parceria com o Sistema S (SENAI, SENAC, SESI) e os cursos programados em função do potencial de cada região (turístico, de artesanato, de alimentação, construção civil, etc.). As participantes recebem o mesmo curso, com o mesmo número de horas e com o mesmo certificado que qualquer pessoa que faz um curso do SENAI ou do SENAC recebe, passando efetivamente a ser competitivas no mercado de trabalho. Os cursos são variados: doces e salgados, bombeira hidráulica, jardinagem, eletricista, artesanato, pedreiras, camareira, mecânica de motos, eletricista de automóvel, entre outros. 101 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Atividades realizadas e Mulheres atendidas CHAPÉU DE PALHA MULHER DA ZONA CANAVIEIRA O número de mulheres por região que participaram dos cursos durante os quatro anos de implantação do Chapéu de Palha Mulher da Zona Canavieira consta do quadro, a seguir: REGIÃO DE ANO Nº MULHERES Nº MUNICÍPIOS MATA NORTE E MATA SUL 2007 1.093 36 MATA NORTE E MATA SUL 2008 2.113 47 2009 2.880 53 2010 3.400 52 TOTAL 9.486 DESENVOLVIMENTO RMR, MATA NORTE, MATA SUL E AGRESTE CENTRAL RMR, MATA NORTE, MATA SUL E AGRESTE CENTRAL Desse total, de 2008 a 2010, em torno de 2.200 mulheres participaram de cursos profissionalizantes, conforme consta do quadro a seguir: ANO Nº MULHERES CURSOS 2008 140 Alvenaria Predial SENAI Alvenaria e Pintura Predial, Solda, Alvenaria e Forro em 2009 982 Gesso, Instalações Elétricas e Hidráulicas SENAC Artesanato, Culinária, Jardinagem, Informática, Camareira 102 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 SENAI Alvenaria e Pintura Predial, Alvenaria e Forro em Gesso, Instalações Elétricas e Hidráulicas 2010 1.065 SENAC Artesanato, Culinária, Jardinagem, Informática, Camareira Fabricação de Vassouras reutilizando garrafas Pet Chapéu de Palha Mulher da Zona da Fruticultura Irrigada do Vale do São Francisco O número de mulheres por região que participaram dos cursos durante os 3 anos de implantação do Chapéu de Palha Mulher da Zona da Fruticultura Irrigada do Vale do São Francisco consta do quadro, a seguir: REGIÃO DE ANO Nº MULHERES Nº MUNICÍPIOS SÃO 2009 5.400 07 2010 7.585 06 2011 12.000 06 TOTAL 24.985 DESENVOLVIMENTO SERTÃO DO FRANCISCO E SERTÃO DE ITAPARICA SERTÃO DO SÃO FRANCISCO E SERTÃO DE ITAPARICA SERTÃO DO SÃO FRANCISCO E SERTÃO DE ITAPARICA A partir de 2011, às trabalhadoras da fruticultura foi oferecida a oportunidade de participar de cursos profissionalizantes. Em torno de 1.800 mulheres participaram dos seguintes cursos: Entidade Cursos 103 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 SENAI Mecânica de Motos, Conserto REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 de Celular, Auxiliar de Administração, Informática, Eletricidade Predial e de Automóveis, Culinária Industrial ONGs Artesanato, Reciclagem Ação Convergir Mulher O número de mulheres por Município que participaram dos cursos e o numero de crianças atendidas durante a implantação do Ação Convergir Mulher nos 17 Municípios de menor IDH de Pernambuco e em Arcoverde consta do quadro, a seguir: REGIÃO DE ANO Nº MULHERES Nº MUNICÍPIOS 2010 610 18 DESENVOLVIMENTO AGRESTE MERIDIONAL, SERTÃO DE ITAPARICA E SERTÃO DO MOXOTÓ (Municípios de menor IDH) REDE DE EDUCADORAS E RECREADORES SOCIAIS RURAIS Diferentemente das entidades atuantes na Zona Canavieira Pernambucana, com larga experiência no fortalecimento de mulheres rurais, as entidades atuantes nas demais regiões do Estado, apesar da ação e abrangência social, não detêm especialização, voltada à luta das mulheres por cidadania, de forma contextualizada e sistêmica. Assim, sua equipe, apesar da participação em oficinas promovidas a cada início de projeto sobre temas relacionados a gênero, raça e etnia, encontra dificuldades no repasse de conceitos e metodologias específicas para um trabalho, que leva ao empoderamento das mulheres, na busca de uma sociedade onde deve prevalecer a igualdade entre homens e mulheres. 104 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 A formação da Rede de Educadoras e Recreadoras Sociais Rurais justifica-se, portanto, pela necessidade da criação de um veículo de comunicação entre as profissionais que atuam nos projetos da SecMulher e que ministram os cursos de políticas públicas, de forma a divulgar e socializar os conhecimentos e as metodologias a serem repassadas para as participantes dos cursos. Com o objetivo de facilitar a integração entre as profissionais das diversas regiões de Pernambuco, e assim possibilitar a formação de uma rede, a SecMulher propõe uma série de Encontros de Educadoras e Recreadoras Sociais, nos quais é oferecida a oportunidade de um espaço de encontro para aprofundar conhecimentos e melhorar práticas e dinâmicas no trato com as alunas, bem como o reabastecimento com novos conhecimentos e estímulo à reflexões, acrescentando aspectos inéditos à questões já conhecidas. Assim, em julho de 2010 a SecMulher promoveu em Garanhuns o primeiro Encontro de Educadoras e Recreadoras Sociais Rurais, reunindo durante 3 dias 500 mulheres para o intercâmbio de experiências, participação ativa, trabalhos em grupo e palestras para o aprofundamento de conhecimentos, visando à construção de estratégias integradas de promoção de igualdade. Possibilitou-se às educadoras e recreadoras das regiões do Sertão, do Agreste e da Mata pernambucanos a continuidade do processo de capacitação, assegurando maior compreensão e entendimento sobre a influência que a equidade de gênero propicia ao desenvolvimento sustentável de determinada região. Fortaleceu-se, também, a atuação das educadoras e recreadoras no atendimento às demandas e necessidades das mulheres, de forma a consolidar o desenvolvimento local e assim contribuir para um desenvolvimento equilibrado do Estado. 105 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O PLANO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES RURAIS A formação da Rede de Agentes de Políticas Públicas para as Mulheres Rurais foi um passo fundamental para o início do processo de construção do Plano Estadual de Políticas Públicas para Mulheres Rurais. O documento propõe um conjunto de intervenções de fortalecimento das capacidades produtivas, sociais e políticas das Mulheres Rurais, a serem implementadas, não só pela SecMulher, mas, também, por outras secretarias, órgãos estaduais e instituições afins, num processo de participação e articulação contínuo. Iniciativa pioneira no Brasil, o Plano insere as mulheres rurais na Estratégia de Governo, especificamente em seus dois focos prioritários: “estratos mais vulneráveis da população” e “interiorização do desenvolvimento”. Nessa perspectiva, as Mulheres Rurais contribuem para o “desenvolvimento social equilibrado e melhoria das condições de vida do povo pernambucano”, na medida em que se inserem no processo de desenvolvimento do Estado. O plano está estruturado em 5 Eixos, aos quais estão subordinadas as Estratégias de Ação, que por sua vez se desdobram em Ações e Projetos, conforme apresentado no quadro, a seguir: EIXO 1 - RELAÇÃO DAS MULHERES INSTITUIÇÕES PARCEIRAS RURAIS COM A SOCIEDADE SEPLAG, SEC. DESENVOLVIMENTO E ARTICULAÇÃO REGIONAL, PROMATA, Estratégia 1.1 - Promoção da cidadania e PRORURAL, SDS, SDSDH, UNIFEM, ampliação de canais de informação e CEPE, TV-PE, SECTMA, ORGANISMOS articulação. MUNICIPAIS DE POLÍTICAS PÚBLICAS P/ AS MULHERES 106 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 FUNDAÇÃO Estratégia 1.2 - Valorização da identidade FUNAI/MJ, das mulheres indígenas e quilombolas PALMARES/MINC, SEPLAG, ONGs e ORGANIZAÇÕES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS, SEPLAG,ONGs Estratégia 1.3 - Valorização do acesso das SEC. DAS CIDADES mulheres ao patrimônio Estratégia 1.4 - Promoção de ações de SDS, enfrentamento à violência contra MINISTÉRIO PÚBLICO, as PREFEITURAS, SPM-PR, MJ, SDH/PR, SCTMA/FACEPE, CEPE, TV PE Mulheres Rurais Estratégia 1.5 - Valorização da igualdade de gênero, raça, etnia e orientação sexual SEC. EDUCAÇÃO para as novas gerações Estratégia 1.6 - Promoção de ações de prevenção à desestruturação de PREFEITURAS e GOVERNO DO comunidades nos locais de migração ESTADO masculina causada pelos projetos estruturadores EIXO 2 - RELAÇÃO DAS MULHERES RURAIS COM A NATUREZA Estratégia 2.1 - Promoção da consciência MINC, FUNDARPE, MMA/IBAMA, ambiental, como garantia de justiça social, SCTMA/FACEPE, SEC. AGRICULTURA/ soberania e segurança alimentar IPA, PROMATA e PRORURAL Estratégia 2.2 - Ampliação do acesso das Mulheres Rurais à água e à gestão dos SECRETARIA DE RECURSOS recursos hídricos conforme a região em HÍDRICOS que estão inseridas EIXO 3 - RELAÇÃO DAS MULHERES RURAIS COM O PODER 107 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Estratégia 3.1 - Fomento ao debate e às ações afirmativas para ampliar a UNIFEM, SEPM/PR, Instituições representatividade das Mulheres Rurais Internacionais em todas as estruturas do poder e de tomada de decisão EIXO 4 - RELAÇÃO DAS MULHERES RURAIS COM O DESENVOLVIMENTO Estratégia 4.1 - Ampliação e adequação dos serviços de saúde às necessidades Prefeituras das Mulheres Rurais Estratégia 4.2 - Aceleração, adequação e diversificação dos processos de Sec. Educação/FUNDARPE, MINC escolarização e acesso ao conhecimento pelas Mulheres Rurais Estratégia 4.3 - Ampliação de UNIFEM, Sec. Trabalho, Sistema S, oportunidades de acesso das Mulheres Escolas Técnicas e Universidades Rurais ao trabalho digno Estratégia 4.4 - Inserção das Mulheres Rurais nos projetos estruturadores do Secretarias do Estado, MPA desenvolvimento sustentável do Estado Estratégia 4.5 - Criação de oportunidades para Mulheres Rurais em situação de Seplag vulnerabilidade e que dependem de ocupações sazonais EIXO 5 - RELAÇÃO DO ESTADO COM AS MULHERES RURAIS Estratégia 5.1 - Reestruturação das ONGs, relações entre o Estado e as Mulheres FUNTEPE, PRORURAL, IPA, PROMATA, Secretaria de 108 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 Agricultura, Rurais REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Secretaria de Recursos Hídricos, Prefeituras Estratégia 5.2 - Otimização das ações de Secretarias governo direcionadas às Mulheres Rurais do Estado, FACEPE, SECTMA, Porto Digital Agora, caríssimas colegas e caríssimos colegas Deputadas e Deputados, me permitam falar um pouco da região em que resido há quase 40 anos, Petrolina e o Vale do São Francisco. Esse produz mais de 1 milhão de toneladas de frutas por ano e emprega 240 mil trabalhadores, mais do que o plantio da soja com seus quase 23 milhões e meio de hectares no País inteiro. O cultivo de uvas vinícolas, em apenas 12 mil hectares, gera 72 mil empregos diretos no campo, no pico da safra. Mais que simples números, essa é uma realidade que não pode ser desprezada. Enquanto que a soja ocupa uma área superior a 23,6 milhões de hectares no País inteiro para empregar a metade dessas pessoas. Seriam necessários 48 milhões de hectares de soja para empregar o mesmo número de pessoas que trabalham nas áreas produtoras do Vale do São Francisco. Para se ter uma ideia, a área colhida de toda a safra agrícola brasileira em 2010 foi de 48,1 milhões de hectares. O faturamento anual do Vale do São Francisco aproxima-se dos 2 bilhões de reais. Os recursos anualmente ingressados no País, decorrentes da exportação de mangas e uvas, equivalem a cerca de R$500 milhões. Os reflexos da movimentação desses recursos nos demais setores econômicos, e consequentes efeitos sociais, são extremamente relevantes para a região. Faço destaque à viticultura, pois somente em seus 12 mil hectares são gerados mais de 72 mil empregos diretos no campo, durante o pico da safra. 109 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 As uvas produzidas no Vale do São Francisco possuem padrão de qualidade para atender aos mais exigentes mercados, em qualquer lugar do mundo, em face do eficiente controle do sistema de produção que é monitorado e certificado por diversos protocolos de qualidade, como Tesco, Global GAP, PIF Brasil, entre outros. No mundo globalizado atual, uma notícia atinge rapidamente qualquer parte do mundo, promovendo resultados quase que instantâneos dos fatos relatados. Quando a notícia é depreciativa, oriundas de pesquisas desastrosas e irresponsáveis, realizadas por um órgão do governo, os resultados são péssimos. Refiro-me à reportagem divulgada no programa Globo Repórter da Rede Globo que foi ao ar no dia 25 de março de 2011. O assunto principal do programa foi a promoção de produtos orgânicos. Sem entrar na discussão do que foi apresentado sobre esse sistema de produção, pois, a nosso ver, a reportagem foi manipulada e tendenciosa (visto que os produtos orgânicos podem não ter contaminação química, mas possuem contaminação biológica de toda sorte, sobretudo com coliformes fecais, fatos esses não divulgados), a matéria fez referência às uvas como sendo o segundo produto com maior contaminação com agrotóxicos do Brasil. Essa notícia, baseada em pesquisas realizadas pela ANVISA, incorreu no erro desastroso e irresponsável de não informar a origem dos produtos analisados. O fato é que, sem saber a origem do problema, é praticamente impossível visualizar uma solução. As uvas analisadas, cujos resultados foram apresentados, poderiam ser importadas — e é de conhecimento geral que muitas das uvas importadas utilizam produtos de uso proibido no Brasil e não há divulgação dessa irregularidade. As 110 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 uvas também poderiam ter vindo de um produtor amador que não segue parâmetros técnicos e muito menos protocolos de produção, como o PIF Brasil e não procede registros de rastreabilidade da fruta, o que torna impossível saber-se se houve a aplicação de algum produto, qual produto, o porque e a data da aplicação desse produto. Na história recente, Sr. Presidente, o Brasil continua vivendo diversas formas de discriminação; seja racial, social ou homofóbica. É notório que a discriminação decorre dos preconceitos, fazendo com que determinados segmentos, grupos ou atividades sejam excluídos ou estigmatizados. Ao citar que as uvas são o segundo produto mais contaminado por agrotóxicos no Brasil, sem revelar a origem da fruta, a reportagem exibida prejulgou todos os produtores de uva, indiscriminadamente. Foi, além de tudo, um ato de extrema covardia, pois atacou não só os produtores, mas uma região inteira do Nordeste, sem permitir defesa dos acusados. A reportagem, sem dúvida, produzirá uma imensa discriminação das uvas, podendo repercutir, inclusive, nas exportações realizadas pelo Vale do São Francisco, lembrando que somente o Vale exporta uvas no Brasil. Essa discriminação com os produtores de uva e com o Vale do São Francisco tem que ser esclarecida e divulgada para toda a sociedade brasileira e no exterior. A ANVISA promoveu um desserviço ao Brasil, discriminando o Nordeste e a fruticultura do Vale do São Francisco, corroborando para aumentar o desemprego e a miséria na nossa região. O erro cometido pela ANVISA em não divulgar a origem das uvas analisadas, citadas na matéria, não pode ficar impune. Por oportuno, reitero pleito anterior aos dirigentes da ANVISA, principalmente a seu Presidente, para atentarem para a gravidade do problema. A matéria 111 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 veiculada pelo importante programa de televisão faz um desserviço à nação, uma vez que não explicita o material analisado. Informações genéricas como essas causam dúvidas e trazem prejuízos para a economia do Vale do São Francisco, no Sertão de Pernambuco. Alguém tem de ser responsabilizado pelas informações equivocadas e fazer o estabelecimento imediato de medidas para resolver esse problema. Aproveito a oportunidade para transcrever matéria vinculada ao assunto, intitulada Agrotóxicos podem causar doenças como depressão, câncer e infertilidade: “A ANVISA avalia todo ano se os alimentos não têm agrotóxicos demais. O resultado é uma lista com os campeões em contaminação: frutas, legumes e verduras que apresentaram nível de agrotóxicos acima do permitido. Parece que o agricultor José Gonçalves Durães vai para a guerra, mas ele está indo para o pomar. Toda a roupa e a arma na mão são para enfrentar um inimigo. Há anos, ele trabalha com agrotóxico. O veneno é poderoso. Não mata só a mosca da goiaba, ataca também a saúde do homem. Quem afirma é o epidemiologista Sérgio Koifman, da Fiocruz, que se dedica a estudar os efeitos dos pesticidas, substâncias das mais agressivas. ‘Elas têm o efeito bastante diversificado nas populações que estão 112 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 expostas tanto diretamente, como na população em geral, que, por exemplo, entra em contato através dos alimentos’, alerta. O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos. Mas, na hora de fazer compras, passa pela cabeça das pessoas que frutas legumes e verduras podem fazer algum mal para saúde? ‘Não, pelo contrário, porque eles têm vitaminas, coisas que são boas’, diz a dona de casa Maria Lambertini. ‘A gente pega essa fruta aqui. Como é que eu posso saber quanto de agrotóxico ela tem?’, questiona a assistente financeiro Sandra Malheiros. Como saber se os alimentos que nós consumimos todos os dias não têm agrotóxicos demais? Só mesmo testes em laboratório para dizer, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) faz essa avaliação todo ano. O resultado é uma lista com os campeões em contaminação: frutas, legumes e verduras que apresentaram nível de agrotóxicos acima do permitido ou resíduos de produtos químicos não autorizados para aquele tipo de alimento. Onde será que o peso dos agrotóxicos foi maior? Em terceiro, foi no pepino. Em segundo, vem a uva. E, em primeiro lugar, está o pimentão. A ANVISA descobriu que 113 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 80% das amostras REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 de pimentão apresentavam irregularidades. A avaliação faz parte de um programa para controlar e reduzir a quantidade de agrotóxicos na alimentação dos brasileiros. No levantamento mais recente, de 2009, em 20 alimentos analisados, quase 30% das amostras tinham agrotóxicos acima do limite ou substâncias não permitidas. ‘Em determinadas amostras, tinha mais de cinco tipos diferentes de agrotóxicos não autorizados. E isso é sério. É sinal de que a gente precisa fazer um bom trabalho com esse agricultor, para que ele mude essa prática agrícola e utilize aqueles produtos que estão autorizados’, diz o gerente-geral de toxicologia da ANVISA, Luiz Cláudio Meirelles. O agricultor Cristiano Juliatto aprendeu a plantar sem veneno e gostou do resultado. ‘O consumidor final vai comer um produto de qualidade. Eu também não estou envenenando as pessoas’, destaca. Na lista da ANVISA, os alimentos com menor índice de contaminação foram a banana, o feijão e a batata. E os consumidores devem cobrar e exigir qualidade do que se compra. Comer frutas, legumes e verduras são uma das recomendações para prevenir o câncer — melhor ainda se forem livres de agrotóxicos. O 114 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 nutricionista do Instituto Nacional do Câncer (Inca) explica por quê: ‘Os alimentos orgânicos têm uma quantidade de compostos quimiopreventivos, compostos anticancerígenos, que é 15% a 30% maior do que os alimentos que são produzidos com agrotóxicos’, explica o nutricionista Fábio da Silva Gomes, do INCA. Na casa de Joel, ninguém duvida do poder dos orgânicos. Ele traz os alimentos da horta. E a dona de casa Rose Márcia de Carvalho prepara. Na casa deles têm refeição orgânica todos os dias. Ela garante que o corpo já sentiu a diferença e se livrou de um tumor no útero. ‘Eu fiz duas cirurgias, até parei de trabalhar aqui para me cuidar. E o médico falou que eu não tenho mais nada’, conta. Rose acha que foi a alimentação que ajudou a superar o problema. Ela aposta que a comida orgânica que a curou. Mas se o que tem na geladeira de casa não é orgânico, o que fazer para, pelo menos, diminuir a carga de agrotóxicos? Os especialistas dão as dicas: Sônia Stertz, química da UFPR: No caso de frutas, você deve eliminar a casca. Luiz Cláudio Meirelles, gerente-geral de toxicologia da ANVISA: Retirar folhas mais externas das hortaliças folhosas. Lavar abundantemente todos os alimentos. Mas não espere que 115 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 assim você vai ficar livre do veneno. ‘Aquilo que está na polpa do alimento não é retirado’, alerta o gerente-geral de toxicologia da ANVISA. A pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) comparou amostras de alimentos orgânicos, convencionais e hidropônicos (aqueles cultivados em água). Advinha qual delas apresentou maior concentração de agrotóxico? ‘Os hidropônicos, para nossa surpresa, tem mais de 40% das amostras com algum tipo de contaminação’, revela Sônia. Mas qual é o mal que os agrotóxicos podem causar? A lista de doenças é enorme. ‘Depressão, má formações congênitas, alguns tipos de câncer como leucemia e tumores de cérebro, transtornos da imunidade, alterações na qualidade dos espermatozoides’, lista o epidemiologista Sérgio Koifman, da Fiocruz. Agrotóxicos também podem causar infertilidade, uma revelação para o produtor orgânico José Bassit. ‘Minha esposa não conseguia engravidar. Aí eu vi que alguma coisa estava errada’, conta. Após sete anos em contato direto com pesticidas, hoje ele está convencido de que a culpa foi do veneno. José revela que tinha certeza de que era fértil e possuía até uma prova: ‘Tinha um exame. No começo, era normal. Depois de três anos, a 116 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 fertilidade foi caindo e, depois de sete anos, eu já não tinha mais espermatozoides vivos’, revela. O agricultor José Gonçalves Durães ainda parece duvidar. ‘Nós fazemos exame direto, nunca deu problema’, afirma.” Fiz estas referências ao Vale do São Francisco e ao meu Estado, Pernambuco, como poderia ter me referido a qualquer outro Estado da região Nordeste, do Maranhão à Bahia. Aliás, falar do Maranhão, não posso deixar fora de qualquer pauta, a Alcântara Cyclone Space, importante Base de Lançamento de Foguetes que aproxima o Brasil de todos os países com essa especialidade. Por oportuno, peço permissão aos eminentes colegas para ler um importante trabalho de autoria do Prof. Roberto Amaral, Vice-Presidente do meu Partido, o PSB e ex-Presidente da Alcântara Cyclone Space, de cuja trajetória de vida, se aqui eu resolvesse falar, me tomaria todo o tempo deste discurso, por isto, vou me ater ao trabalho que este brilhante brasileiro escreveu recentemente, intitulado: O Projeto “Cyclone-4” da Alcântara Cyclone Space e a Crise das Políticas Estratégicas. Depois de promover uma verdadeira revolução científica e social no Ministério da Ciência e Tecnologia, transformando aquele órgão em uma Pasta múltipla e de ações em quase todas as demais pastas ministeriais do Governo do Presidente Lula, o Professor Roberto Amaral foi indicado Presidente Brasileiro da Binacional Brasil Ucrânia Alcântara Cyclone Space e, nesses três anos, à frente dessa importante empresa, em parceria com o seu ex-colega Oleksandr Serdyuk, Presidente da mesma, representante Ucraniano, conseguiu tirar do papel o Projeto Espacial Brasileiro e em pouco tempo o nosso País vai se aproximar das grandes potências mundiais em pesquisas e exploração espacial. Aliás, a sócia brasileira da 117 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Cyclone Space, a Ucrânia, é detentora dos melhores foguetes do mundo, faltava-lhe, apenas, o sítio e o espaço de lançamento para ultrapassar essas potências. Ao tomar conhecimento deste importante material de divulgação da Alcântara Cyclone Space, elaborado pelo Prof. Roberto Amaral, pedi-lhe autorização para inseri-lo neste pronunciamento, por se tratar de um importante e detalhado estudo a respeito do referido projeto e a crise das suas políticas estratégicas. O PROJETO CYCLONE-4 DA ALCÂNTARA CYCLONE SPACE E A CRISE DAS POLÍTICAS ESTRATÉGICAS Roberto Amaral Ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Diretor-Geral brasileiro da Alcântara Cyclone Space e Vice-presidente do Partido Socialista Brasileiro. “O desafio da conquista espacial se é apaixonante, na mesma medida é espinhoso, porque, entre o sonho indispensável para fazê-lo e a realidade objetiva, inafastável, não são poucos os obstáculos pontuando nossa caminhada, que exige esforço e exige humildade para enfrentar incompreensões e até mesmo resistências, umas claras, outras dissimuladas, mas ambas difíceis de vencer. Não posso falar de flores, porque relativamente ao Programa Espacial, no que diz respeito a foguetes e a sítios de lançamento de veículos espaciais, não fomos condecorados com as facilidades que, parece-nos, estão prestigiando outros empreendimentos. Portanto, se não posso falar de grandes sucessos, relatarei muitas dificuldades, pensando estar contribuindo para a tomada de consciência da necessidade de mudar a política espacial brasileira, e, principalmente, sua gestão. A experiência que recolho do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e a experiência atual que resulta do esforço de constituir a binacional Alcântara Cyclone 118 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Space-ACS, levam-me a reflexão pouco animadora quando me deparo com o inventário de óbices (na sua maioria criados dentro da própria estrutura estatal) que enfrentamos nesses três anos e pouco de vida, Severina, da ACS. Essa reflexão dizme que se há um Estado apto a fazer, há outro Estado, olímpico, cuja única tarefa é dificultar o trabalho dos que têm a missão do fazer. Esse Estado, assim esquizofrênico, não é fruto de si mesmo, pois é o resultado de uma série de deformações que remontam à sua própria formação. De um lado, questões de ordem cultural, condizentes com nossa visão atacanhada de país; de outro lado, questões de ordem estrutural, que dizem respeito à fragilidade instrumental do próprio Estado pós neoliberalismo, convenientemente desaparelhado para administrar seus interesses estratégicos. O fato objetivo é que o estado despreparado para o mister estratégico jaz sem condições de eleger suas prioridades e novos ritos administrativos, a elas adequados. O pano de fundo pode ser um certo viés ideológico, nos dizendo que determinados projetos, curiais entre os desenvolvidos, estão interditados aos países em desenvolvimento ou emergentes. Essa cultura remonta à nossa formação de país e povo, assim, lamentavelmente nessa ordem, com as alienadas classes dirigentes nos impondo uma visão colonizada do mundo. É evidente que sabemos organizar o Carnaval carioca, a queima de fogos de Copacabana no réveillon, talvez tenhamos até — mas há quem duvide! — condições para organizar uma Copa do Mundo de futebol e uma Olimpíada. Mas envolver-se com energia nuclear ou com programas espaciais, ah! não, isso não é para nós, que nascemos e fomos criados como exportadores de commodities primárias (do café à soja), alimento em grão e minério in natura. 119 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Daí, pensar em projeto nacional com fundamento em nossas próprias forças, cogitar da possibilidade de desenvolvimento econômico, ansiar pelo progresso, tornar-se mesmo uma potência (a não ser no futebol), ah! isso nos foi sempre interditado. Ainda há os que, mesmo em funções de Estado, não entendem o esforço nacional visando à construção de nossos próprios satélites e nossos próprios foguetes, como há os que não entendem a insistência brasileira em desenvolver seu programa nuclear com tecnologia própria, fabricar seu submarino, fabricar seus aviões. Pois há, igualmente, os que não compreendem (ou fingem não compreender) que segurança e autonomia estejam no eixo de nossas políticas de defesa nacional. A Estratégia Nacional de Desenvolvimento confunde-se com a Estratégia Nacional de Defesa e desse encontro resulta o projeto de independência nacional, assentado no tripé (i) mobilização de recursos físicos, econômicos e humanos, para o investimento no potencial produtivo do país; (ii) “capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial, cibernético e nuclear’, e (iii) ‘democratização de oportunidades educativas e econômicas e pelas oportunidades para ampliar a participação popular nos processos decisórios da vida política e econômica do país’. E qual é o nosso projeto? O 'caso' ACS configura-se na convergência de interesses estratégicos de dois países. Como todos sabem, dispomos, não apenas em Alcântara, mas em todo o Norte e Nordeste brasileiro, da melhor área do Planeta para lançamentos de foguetes. Por duas razões muito simples: 120 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 ‘(i) na região de Alcântara (Maranhão), por exemplo, estamos a 2,2 graus e no litoral do Ceará a 3,8 graus ao sul do Equador (Kourou, na Guiana, onde se localiza o centro de lançamentos europeu, a segunda melhor colocação, está 5 graus ao Norte) o que confere, a qualquer objeto na superfície, uma velocidade tangencial elevada, ou seja, um impulso inicial muito favorável aos lançamentos equatoriais, como é o caso dos satélites de comunicação. Isso se traduz em aumento da capacidade de transporte dos lançadores, tornando-os mais competitivos em comparação com lançamentos em latitudes mais elevadas, isto é, mais distantes do equador. (ii) frente ao nosso litoral, temos ampla e desabitada área marítima, o que é essencial para fins de segurança. Assim, os lançamentos podem percorrer trajetórias mais simples, ‘planas’, e colocar diretamente satélites em órbita, praticamente sem necessidade de manobras, ao contrário de todos os outros centros de lançamento. Por força disso, pensou-se, pensam alguns visionários, que detemos todas as condições de montar um grande complexo espacial-científico. A ideia inicial era ter ao lado do atual Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), operado pela Força Aérea e destinado ao VLS, mais três sítios de lançamento espacial, capazes de operar com outros veículos, além daqueles já em desenvolvimento pelo programa autônomo. Um deles seria o Cyclone-4, da ACS. E teríamos como retaguarda desses sítios e, em função deles, um parque de empresas de apoio às atividades espaciais, assim como instituições de ensino e pesquisa de tecnologia pura e de tecnologia de ponta. Ainda como efeito dessa revolução técnica na região, as atividades industriais e de serviços favoreceriam, 121 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 substancialmente, o desenvolvimento do potencial turístico da região alcantarense e ludovicense. Lembremo-nos que, em 1980, a concepção do CLA previa a implantação em uma vasta área de 62 mil hectares, dos quais apenas 20 mil seriam propriamente utilizados para fins operacionais (o restante seria para realocação de pessoas, para reservas naturais e para a fixação do parque de apoio industrial). As vastas extensões de terra são um imperativo de segurança, como sói ocorrer nos principais centros de lançamento mundiais. Dentro dessa área operacional do CLA, foi alocada para a ACS uma área de 1.298 hectares e um futuro porto. Daqui em diante, o ideal começa afastar-se da realidade. Uma entidade do Estado brasileiro, o INCRA, decidiu que, no Município de Alcântara, havia um gigantesco território quilombola. Cerca de 90% do território do atual Município. Ficaram de fora a pequena sede com sua arquitetura colonial ameaçada pelo desamparo e a área atualmente ocupada pelo CLA da Aeronáutica. Quais as consequências disso? Primeira: a ACS foi despojada de sua área. Segunda: o CLA, cuja concepção original previa dezenas de milhares de hectares, viu-se reduzido a menos de uma dezena de milhar e perdeu toda e qualquer possibilidade de expansão. Entre outras muitas questões que poderiam ser tratadas, cito algumas poucas que bem demonstram as dificuldades antepostas aos projetos estratégicos brasileiros. As condições de acesso configuram um caso exemplar. A área do CLA (onde se está instalando a ACS em terreno alugado à Aeronáutica) está encravada no assim chamado território quilombola, de que resulta o acesso às áreas operacionais estar condicionado ao trânsito por esse território, trânsito de pessoas, 122 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 de equipamentos e de materiais, algumas vezes substâncias perigosas (como, os componentes de propelente, hidrazina e tetróxido) circulando por áreas povoadas. Além disso, o Ministério dos Transportes, que administrava a construção do porto, se esqueceu de alocar a respectiva verba. Por essa e incrível razão, seremos obrigados, para poder garantir a chegada e desembarque de materiais e equipamentos, a utilizar um atracadouro rudimentar, localizado a mais de 50 quilômetros do sítio da ACS. Para tanto, vimo-nos na contingência de melhorar todo esse caminho. Estamos reconstruindo, com recursos da AEB, a estrada que liga Cujupe a Alcântara. E o foguete (de 24,5 a 35ton, quando não carregado) virá de Dnepropetrouvsk (Ucrânia) a Alcântara de avião, a um preço hoje estimado de 1.700 mil dólares. Antes, nosso maior adversário, ao lado de algumas ONGs estrangeiras, era um órgão brasileiro chamado Fundação Palmares (Ministério da Cultura). Munida de argumentos que, em princípio, visariam à defesa das populações remanescentes de quilombos e a preservação de valores culturais, muitos foram os obstáculos apresentados à implantação da ACS. As poucas cem famílias que seriam diretamente afetadas pela implantação do sítio da ACS, mas que viam nisso uma perspectiva de melhoria das condições locais acabaram sendo mobilizadas para impedir os primeiros estudos de campo. (Refiro-me ao bloqueio de fevereiro de 2008) E como se não bastasse isso, não nos foi permitido permanecer na área antes cedida pelo governo federal. O juiz da 5ª Vara Federal do Maranhão nos deu 24 horas para sairmos dali, da área anteriormente cedida pelo Estado brasileiro, daí a necessidade de nos instalarmos no seio do CLA, o que demandou largos meses de negociações. Ao 123 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 todo, nessa operação foram consumidos 14 meses, entre o bloqueio de nossa área e a liberação pela justiça e cerca de um ano gastamos em negociações com o Ministério da Defesa, negociações levadas a bom termo, o que nos possibilitou a disponibilidade de uma área, nossa atual área, de 462ha (a original era de 1.298ha). Ainda assim, estamos muito gratos à Força Aérea, pois nos acolheu no pouco espaço que lhe resta. Foi ela que salvou o projeto, mas saímos de uma área em que dispúnhamos de acesso livre para uma área em que o acesso é subordinado a lógicas, normas e regras militares, muitas vezes incompatíveis com projetos industriais. Inclusive agora estamos nos reunindo com os companheiros do CLA, porque, finalmente, tiveram início as obras e temos de fazer um cadastramento de todos os técnicos, todos os empregados da ACS transferidos e os operários (estimados 1.500 no pique das obras) das empresas contratadas para a construção do sítio, bem como temos de definir sistemáticas de controle que conciliem nossas necessidades de acesso com os ditames de segurança daquele Centro Militar. Quando nos voltamos para a gênese da corrida espacial, vemos quão distintas foram às ações que viabilizaram o sonho, as necessidades e a realização das aspirações estratégicas. A Rússia começou seu programa espacial em 1950, o Brasil em 1961. Chegamos em 1988 com a Rússia lançando veículos reutilizáveis. Os Estados Unidos, que começaram também na mesma década, de há muito operam naves e estações espaciais tripuladas, além de um vasto leque de sondas que exploram o Sistema Solar e o espaço profundo. Os avanços desses países protagonistas, motivados pela Guerra Fria e por suas necessidades econômicas, foram cumulativos e espetaculares. Mas foram somente eles, além de Japão e países Europa, como a França, os únicos atores no cenário espacial? 124 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Há outros programas espaciais que também despertam a atenção. A China, por exemplo, começa em 1956. E em 2003 já levava o homem ao espaço. A Índia já lançou satélites e sondas, o mesmo ocorrendo com Israel. A Coreia, após o insucesso com seu primeiro lançamento em 2010, está na iminência de ser o mais recente país a adentrar no ‘clube os lançadores’. Até a Coreia do Norte e o Irã estão à nossa frente. Nossa primeira atividade como lançadores de foguetes datam de 1965. Avançamos com uma família de veículos de sondagem suborbitais. Produzimos e operamos satélites de pequeno e médio portes. Nosso lançador de satélites, no entanto, ainda não vingou, após nada menos de 30 anos de esforços despendidos. Por que isso? Somos incompetentes, ou Deus não gosta dos brasileiros? A resposta é simples: somos o 23º investidor em programa espacial se considerarmos o PIB de cada país. Os recursos alocados para investimento no programa espacial brasileiro não passam de 0,010% do nosso PIB, ou seja, cerca de dez vezes menos que a França, que a Rússia e que a China. Vejamos nossa situação em face dos BRICs. A Rússia investiu, em 2009, dois bilhões e quatrocentos milhões de dólares estadunidenses em seu programa espacial, e estamos com apenas cento e sessenta e quatro milhões. Ainda é muito pouco, mas temos que reconhecer: os investimentos, que vinham em linha decrescente, foram retomados no início desta década, uma inversão conduzida pelo governo do Presidente Lula. Quando do acidente do VLS, dei entrevista como ministro de Ciência e Tecnologia, afirmando que o projeto de VLS havia sido atingido mortalmente pela dieta de recursos. Fui criticado por todo mundo, inclusive por colegas de governo. Neste texto repito aquela afirmação, agora respaldado em dados irrespondíveis, a saber, o quadro de distribuição dos recursos de 1980 a 2009 125 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 (o acidente, como sabemos, foi em 2003) e as conclusões a que chegou a Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados, convocada para apurar as causas do acidente. Somente no período 1985-1989, os investimentos se concentraram nos três segmentos de atividade — satélites, veículos e centros de lançamento — com uma média anual de 100 milhões de dólares. Daí em diante, penúria! Em 1990 os investimentos caíram para 57 milhões e em 1999 não passaram de 9,9 milhões. Ao todo, o País gastou, de 1980 a 2002 (véspera do lançamento do VLS), apenas US$530,2 milhões. Como pensar seriamente em lançar nosso VLS se, a cada ano, o governo reduzia os investimentos? De US$27,5 milhões em 1995, caímos para 18,7 em 96, para 11, 271 em 97, para 10, 408 em 98 e, finalmente, para US$3,7 milhões em 2002. Em 1999, o governo havia tido o desplante de só aplicar US$1,6 milhão! Eis o resumo da atenção que estamos dando aos projetos estratégicos. Em 26 anos de desenvolvimento do VLS, que seria o nosso primeiro veículo satelizador, fizemos três tentativas, três insucessos. O esforço terá sido inútil? De certo que não, pois muito se aprendeu e se avançou. Mas o acidente comprometeu o ritmo e lançou dúvidas sobre diversos aspectos do projeto. E como temos reagido? Qual a massa crítica de pesquisadores, engenheiros e técnicos que possuímos para aprender com as falhas, revisar projetos, divisar soluções? Qual o efetivo envolvimento sustentável da indústria que conseguimos realizar? A inanição a que os projetos estratégicos são submetidos leva a esse arrastar de poucos resultados e ao abandono de profissionais e empresas. Veja-se, também, o caso do submarino de propulsão nuclear: estamos há 21 anos desenvolvendo e agora, dependendo de uma cooperação com a França, devemos esperar por mais uma década, pelo menos. 126 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Certamente, há que se repensar a forma e a firmeza com que devem ser conduzidos os projetos estratégicos, algo que suplanta os períodos governamentais e requer décadas de investimentos em gerações de profissionais, em entidades de formação e pesquisa, em infraestrutura laboratorial, em parque de indústrias com continuidade de demanda. O que é encontro do Brasil com a Ucrânia? A Ucrânia tem um dos melhores foguetes do mundo, mas, por questões geográficas, não dispõe de sítio de lançamento e não pode ter sítio de lançamento, porque não tem como fazer lançamentos sem que seu foguete sobrevoe outros países, descartando-se de seus diversos estágios. A Ucrânia, então, presentemente, é obrigada a lançar seus foguetes dos sítios da Rússia e do Cazaquistão, Plesetsk e Baikonur. De nossa parte, temos excelentes áreas (como vimos em linhas passadas) para localização de sítios de lançamentos, mas não temos foguete. Eis o que se chama de encontro de interesses. A ACS é uma empresa de transporte espacial que pode, além de atender aos interesses diretos dos dois países, concorrerem, com vantagens, no rico mercado de transporte de satélites mundial. É óbvia a importância de satélites, mas satélite não é neutro, não é para uso apenas civil, não é apenas para uso meteorológico, é para quase tudo. Inclusive para levantamento de informações estratégicas, para vigiar fronteiras, para vigiar nossos mares e nossas plataformas de petróleo, para orientar movimentação de polícia e de exército, para orientar ações militares e armas teleguiadas, para garantir o funcionamento do novo sistema de controle de tráfego aéreo CNS/ATM. O Programa Espacial em qualquer parte do mundo é dual, daí a dificuldade de a burocracia compreender o verdadeiro desafio. A questão não se reduz ao uso 127 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 unicamente comercial de nossos lançadores, mas, sim, que já somos objetos da espionagem satelital. ‘Se não tivermos capacidade de lançar de solo brasileiro, com foguete brasileiro, nossos satélites, sejam eles quais forem, não teremos condições de garantir a soberania do nosso País’. Se formos ao Piauí, encontramos um dos mais férteis de todos os vales nordestinos, o Gurgueia, na região de Uruçuí, onde existe hoje uma das maiores plantações de soja e de milho do Nordeste, além do Vale do Parnaíba desenvolvido nos últimos anos pela CODEVASF — Companhia do Vale do São Francisco. O Ceará e o Rio Grande do Norte, também respondem por grande parte da fruticultura Nacional: da castanha cearense, ao belo melão potiguar. Esses Estados se juntaram a Paraíba e conquistaram a integração dos seus rios secos com o Rio da Integração Nacional, o São Francisco. No Ceará, há 100 anos, nascia o DNOCS — Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, responsável pela metade do desenvolvimento do nordeste brasileiro. Por falar em DNOCS, gostaria de apresentar aqui aos ilustres colegas, um trabalho do Professor Cássio Borges, especialista em hidrologia e recursos hídricos, ‘o Nó Górdio da Transposição e o Nó Górdio da Transposição II’, sobre o Nordeste, a Integração da Bacia do Rio São Francisco com outros rios da região e, em particular, sobre o DNOCS. Eis os artigos do engenheiro Cássio Borges sobre o projeto da transposição do rio São Francisco, tocado pelo governo federal, intitulado ‘O Nó Górdio da Transposição I e II’ que traz novas considerações sobre o empreendimento que se propõe a ser uma revolução na área hídrica do Nordeste, proporcionando o chamado desenvolvimento sustentável. Eis o que diz o Dr. Cássio Borges. 128 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 ‘O Nó Górdio da Transposição Em recente viagem que empreendemos a Salgueiro-PE para participar de uma reunião com todos os Presidentes dos CREAs do Nordeste, ocasião em que fizemos uma palestra sobre o Projeto de Integração da Bacia do Rio São Francisco com as Bacias de Rios do Nordeste Setentrional, tomamos conhecimento de que o gargalo desse empreendimento está no alto custo de sua manutenção e operação. Aliás, diga-se de passagem, isto não nos causou nenhuma surpresa. São quase 800 quilômetros de canais adutores e principais, açudes, aquedutos, estações de bombeamento, medidores de vazão, estradas vicinais, etc. A CHESF — Companhia Hidrelétrica do São Francisco, segundo soubemos, desistiu de assumir a gestão desse Projeto devido a grande quantidade de usuários para controlar e cobrar pelo uso da água que, convenhamos, não é de sua especialidade. Este é o grande problema para qualquer empresa privada que vier a se instalar na Região visando auferir lucros, ou pelo menos, não ter prejuízos. Essa organização vai ter que criar uma imensa infraestrutura organizacional nos quatro Estados beneficiados, o que, com certeza, não compensaria financeira e economicamente. 129 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Criar uma entidade federal exclusivamente para esse fim seria uma insensatez já que existe o DNOCS com toda a sua centenária experiência, internacionalmente reconhecida, e possuidora da maior e mais bem montada infraestrutura técnica, administrativa e operacional por toda Região nordestina. A comprovação desta relevância institucional do DNOCS foi, este ano, reconhecida em reunião do Conselho Mundial da Água (World Water Council) ao aprovar o seu ingresso naquela entidade internacional. Estabeleceu-se um princípio de que a saída para resolver todos os problemas hídricos de nossa Região seria a cobrança pelo uso da água ao longo dos rios. Quando se fala em cobrança pelo uso da água não se comenta o elevado custo operacional, incluindo pessoal de campo e escritório, além dos custos administrativos. Como exemplo, a COGERH — Companhia de Gestão e Recursos Hídricos do Estado do Ceará, que dispõe de cerca de 500 funcionários entre pessoal técnico e administrativo, além de outras entidades estaduais ligadas ao assunto para gerir, apenas, os recursos hídricos do Estado do Ceará. Quanto custa essa estrutura? Como é investido o dinheiro que a COGERH arrecada a cada ano (trinta e cinco milhões de reais no 130 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 ano de 2009) pelo fornecimento de água bruta à CAGECE advinda dos açudes construídos pelo DNOCS? Qual a participação da COGERH no que concerne ao Termo de Cooperação Técnica celebrado por este órgão com o DNOCS, quando determina a aplicação dos recursos financeiros arrecadados na operação e manutenção das barragens? Não queremos que as indagações acima sejam interpretadas como uma reprovação à existência da COGERH que, no nosso entendimento, tem um papel importante a desempenhar em cooperação com o DNOCS, não só nas bacias hidrográficas do Estado do Ceará, como no gerenciamento do Projeto de Transposição, em nível estadual. São perguntas que a comunidade técnico-científica tem que conhecer as suas respostas e, de forma isenta de qualquer tipo de interesse, analisá-las nos seus vários aspectos, já que aquela Companhia foi citada na reunião do Colégio de Presidentes dos CREAs do Nordeste, realizada em Salgueiro-PE, como um modelo que deve ser imitado pelos demais Estados da Região. Daí a importância dessa discussão. Quanto à ‘gestão da água’, isso o DNOCS sempre fez com eficiência e competência, apesar dos parcos 131 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 recursos financeiros destinados para esse específico objetivo. Era, e sempre foi, uma atividade importante realizada pelo órgão, desde os primórdios de sua existência, diga-se de passagem, sem alardes e propagandas. Basta olhar para a infraestrutura hídrica, madura e inquestionável, que aquele Departamento Federal implantou e vem operando desde quando foi criado no ano de 1909, portanto há mais de 100 anos. Para quem não sabe, o DNOCS possui o maior acervo de dados hidrométricos (pluviométricos, evaporimétricos e fluviométricos) da América Latina. Para o leitor deste Blog avaliar, o Estado do Ceará tem cerca de 18 bilhões de metros cúbicos de águas acumuláveis nos açudes públicos e privados, tanto na área federal como na estadual. Deste total, o DNOCS monitora 85%, enquanto a COGERH monitora apenas 15%. Entretanto, dos 130 açudes existentes no Estado do Ceará, o DNOCS monitora 60, enquanto a COGERH monitora 70. Para esse objetivo, graças a sua estrutura administrativa e de pessoal para as suas diversas atividades, funcionários, o DNOCS sendo dois disponibiliza engenheiros, apenas cinco enquanto a COGERH, como dissemos anteriormente, conta com cerca de 500 funcionários e está anunciando um concurso 132 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 público para admissão de mais 65 servidores. Este fato é importante que seja dito, sem nenhum outro propósito, senão o de demonstrar as autoridades responsáveis pelo êxito social e econômico desse empreendimento, uma reivindicação de mais de 100 anos da população nordestina, que não é recomendável criar uma empresa especifica para gerenciá-lo a nível federal, missão esta que poderia ser atribuída a uma Diretoria do DNOCS, sem grandes investimentos, quer seja na área administrativa, como na de pessoal, inclusive no que se refere ao aproveitamento das instalações físicas gerais e equipamentos daquele Departamento em nossa Região. Sobre a cobrança pelo uso da água não vemos que seja uma solução miraculosa como se apregoa para resolver todos os problemas dos recursos hídricos do Estado do Ceará e do Nordeste. No caso do Projeto de Interligação da Bacia do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional o que se pretende cobrar e arrecadar provém da diminuta vazão de 26 m3/s captada no Rio São Francisco. Na nossa opinião falta bom senso de quem defende este ponto de vista, mas consideramos válida sua aplicação nos caudalosos rios perenes do sul do Brasil, onde a vazão disponível, isto é, a vazão utilizável, 133 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 se faz de forma restrita às suas respectivas bacias hidrográficas, sem a necessidade de transportar a água a longas distâncias. Não é o caso do Projeto de Interligação do Rio São Francisco que vai transportar 26 m3/s que se diluirão por longos de intermináveis canais, atravessando extensas áreas secas dos sertões nordestino, em quatro Estados de nossa Região. Para se ter uma ideia da importância desse Projeto, basta compará-lo com o Projeto da Adutora do Oeste que o DNOCS idealizou e construiu, em parceria com o Estado de Pernambuco, transportando do Rio São Francisco menos de 1 (um) m3/s beneficiando 13 Municípios daquele Estado e 6 do Estado do Piauí, num total de 272 mil pessoas. Estamos comparando apenas a grandeza das vazões em ambos os projetos e mostrando que iniciativas deste tipo, mesmo com vazões relativamente pequenas, são importantes para a nossa Região e, porque não dizer, para o próprio vale do Rio São Francisco. No nosso entendimento, esta questão da cobrança pelo uso da água e de se eleger um organismo para gerir esse importante Projeto merece uma consistente análise e profunda reflexão. Ademais, em um ano de bom inverno esse Projeto, com certeza, não será utilizado. Igualmente, se tivermos uma sequência de anos com chuvas acima da 134 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 média, da mesma forma, ele ficará em parte ou no todo ocioso, não haverá, portanto, cobrança pelo uso da água. Na realidade, o Projeto São Francisco somente vai funcionar em períodos críticos de dois, três, cinco e até seis anos consecutivos, como os que já ocorreram em nossa Região. A principal função desse Projeto é a de promover uma sinergia na utilização dos açudes da Região que poderão aumentar o seu aproveitamento hídrico em, aproximadamente, 30% de suas atuais disponibilidades. Atualmente os reservatórios do Nordeste são operados de forma conservadora mantendo um provisionamento, ou reserva estratégica da água, como faz o DNOCS, em face das imprevisíveis intempéries da natureza, o que resulta na perda de grande parte das disponibilidades hídricas dos açudes pelo efeito incontrolável da evaporação. O leitor não deve ficar assustado com o título deste artigo, pois o termo ‘nó górdio’ ‘significa resolver um problema complexo de maneira simples e eficaz’, mesmo porque nós somos um dos primeiros técnicos a defender este projeto importantíssimo para a nossa Região. Entretanto, é preciso que estes assuntos, aqui levantados, sejam examinados por pessoas capazes e experientes, que conheçam profundamente as características 135 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 hidrológicas de nossa Região, devendo serem isentas e imunes à influências políticas de partidos ou de governo, que primem pela ética e pelo patriotismo no Serviço Público.” “O Nó Górdio da Transposição II Somente depois que tive a honra de participar de uma importante reunião do Colégio de Presidentes dos Conselhos (CREAs) Regionais do de Nordeste, Engenharia em setembro e Arquitetura último, em Salgueiro-PE, é que tomei conhecimento do que vinha sendo urdida nos bastidores do Governo Federal (Ministério da Integração Nacional e ANA — Agência Nacional de Águas) quanto à intenção de ser criada uma empresa estatal para ser a Operadora Federal do Projeto de Interligação do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional. Sobre esse assunto, escrevi um artigo intitulado ‘O Nó Górdio da Transposição’, publicado neste Blog do Eliomar de Lima, conceituado jornalista cearense, no dia 25 de outubro e, mais recentemente, no Blog InfoBRASIL (infobrasil.spaceblog.com.br), no site do NEHSC — Núcleo de Estudos de História Social da Cidade, entidade ligada à PUC de São Paulo e, ainda, no visitado Blog do Borjão. 136 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 No último dia 22, o Jornal ‘Folha de S.Paulo’ abordou o tema da transposição em artigo de autoria da jornalista Sofia Fernandes no qual ela afirma: ‘Da torneira do nordestino atendido pela transposição do rio São Francisco vai pingar a água mais cara do país. O Conselho Gestor do Projeto de Integração do São Francisco avalia cobrar dos Estados atendidos pela obra R$0,13 por mil litros de água. O preço médio cobrado em outras bacias hidrográficas pelo uso da água é de R$0,01 a R$0,02 por mil litros. O valor mais elevado do projeto de transposição, afirma o governo, se deve à complexidade do projeto de transposição e ainda porque a Agnes será a responsável pela captação e pelo bombeamento da água’. (Agnes é a sigla da empresa que se pretende criar). Não há, e nunca houve, de minha parte nos 36 anos que venho defendendo esse projeto, a ilusão de que a água a ser transposta do Rio São Francisco tivesse um custo acessível a ponto de concorrer, economicamente, com as águas das chuvas acumuladas nos açudes do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Mas, com certeza, o valor de R$0,13 por mil litros de água, referido pela citada articulista da Folha de São Paulo é, infinitamente, mais em conta do que os R$7,00 por mil litros de água pagos pelo Governo Federal 137 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 aos carros-pipa em épocas de estiagem (depende da quilometragem percorrida, podendo este valor ser considerado para uma distância em torno de 15 quilômetros). A cada seca são mais de R$2,5 bilhões os dispêndios da União com obras inexpressivas e assistência emergencial, dentre as quais o fornecimento de água para as populações necessitadas. Valor este, diga-se de passagem, gasto numa única seca, representa a metade do que está orçado para a implantação de todo o Projeto de Interligação do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional. Portanto, a água da transposição poderá ser de fato, a mais cara do país (não se discute isto agora), afinal o projeto é constituído de duas potentes estações de bombeamento nas margens do Rio São Francisco, para falar somente nestas, uma no Eixo Norte com um recalque de 180 metros de altura topográfica e a outra no Eixo Leste, com 300 metros. Só estes dois projetos já deverão ter uma diferença substancial no custo da água de cada uma. Isto sem se falar que a água a ser transposta do Rio São Francisco deverá percorrer cerca de 800 quilômetros de canais adutores e principais de onde, através de novas estações de bombeamento, 138 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 partirão extensas redes de tubulações para fazê-la chegar até os locais onde será efetivamente utilizada. Entretanto, o que a sociedade tem que saber é que esse projeto tem a específica finalidade para dessedentação humana e animal. O que isso significa? Significa dizer que o ele somente vai funcionar, e ser necessário, em períodos críticos de baixas precipitações pluviométricas como, por exemplo, os de 1927 a 1933, 1950 a 1959, 1979 a 1984 e em outros de menor duração, de dois, três ou cinco anos consecutivos. Estatisticamente, o tal projeto somente vai funcionar em 30 ou, no máximo, 40% do tempo. Em outras palavras o sistema de transposição, a cada dez anos funcionará apenas em quatro. Certamente, o projeto somente será acionado quando tivermos precipitações pluviométricas abaixo da média histórica. É claro que se tivermos bons anos de chuva, como os de 2004 a 2009 (seis anos) o Projeto de Integração do Rio São Francisco ficará praticamente ocioso, ou com funcionamento minimizado. Importa dizer que a referida estatal que, segundo fonte extra-oficial, deverá absorver cerca de 900 funcionários e mais de uma dezena de cargos em comissão, ficará semiociosa em 60% do tempo, ou melhor, dizendo, ficará quase ociosa anos seguidos cuidando apenas da 139 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 manutenção dos canais e dos equipamentos hidráulicos. Esta é uma realidade que não pode e não deve deixar de ser considerada… Pelo o que acima foi exposto, é fácil concluir que esse empreendimento não é auto-sustentável como se quer dar a entender e o custo final da água irá ser substancialmente onerado, caso a referida estatal seja criada com toda a sua estrutura burocrática, administrativa, física e financeira sendo mantida pelos recursos arrecadados pela cobrança do uso da água, como anunciam os técnicos do Ministério da Integração Nacional e a ANA — Agência Nacional de Águas. Pura ilusão! Não há outro caminho a ser seguido para evitar a inviabilização desse projeto, senão o de entregá-lo a uma Diretoria do DNOCS que assumiria a responsabilidade por sua macrogestão (canais adutores e principais). Aos organismos estaduais caberia o encargo de fazer a cobrança pelo uso da água de seus usuários. Finalmente, ainda me referindo ao artigo publicado na Folha de S.Paulo, devo ressaltar que o maior significado desse Projeto de Interligação do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional é a sinergia que ele vai promover no aumento das disponibilidades das águas armazenadas nos açudes da 140 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Região, podendo ser da ordem de 30% a 40%. Um açude como o Orós, por exemplo, que, segundo os critérios de dimensionamento hidrológicos adotados pelo DNOCS, tem a sua disponibilidade atual estimada em 12 m3/s, poderá ter sua vazão aumentada para algo em torno de 18 m3/s. Não haverá mais aquela preocupação dos técnicos do DNOCS de ‘manter uma reserva estratégica de água nos açudes para garantir’ o suprimento eventual de abastecimento humano e animal de água em casos emergenciais de cunho climático. No caso dos açudes secarem ou estiverem na iminência de secar, o Projeto de Integração do Rio São Francisco garantirá este suprimento que é prioritário de acordo com o nosso Código de Águas, de 1933. Aí está uma das razões maiores desse projeto, qual seja, o aumento da eficiência hidrológica das águas armazenadas nos açudes do Nordeste. Desta forma, o custo da água a ser transposta do Rio São Francisco irá ser diluído no aumento das disponibilidades hídricas dos açudes da Região, as tornando mais acessíveis. Um influente membro do Partido dos Trabalhadores, embora me dando inteira razão na tese que defendo, advertiu-me da possibilidade de o Governo 141 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Federal optar pela CODEVASF — Companhia de Desenvolvimento do Vale do Rio São Francisco para ser a Operadora Federal do Projeto de Interligação do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional. Disselhe que, se isto vier a ocorrer, será mais um grave engano que se comete em relação a esse Projeto. Argumentei-lhe que a CODEVASF sempre teve a sua atividade restrita à irrigação no Vale do Rio São Francisco onde a água é abundante, visto que o rio é perene. Lá se fala em vazão regularizada da ordem de 2.060 m3/s. No resto do Nordeste, esse parâmetro não chega à casa dos 15 m3/s, como é o caso do Açude Orós com apenas 12 m3/s. É preciso muito conhecimento técnico-científico para saber usar racionalmente tão reduzido valor. O DNOCS tem mais de 100 anos lidando teórica e praticamente com este problema. Em suma, o DNOCS, desde os primórdios de sua existência, tem tido a sua missão principal o de ‘fazer água’ que nunca foi a preocupação da CODEVASF. Para não me alongar mais na defesa desta tese, a CODEVASF não sabe o que é um ‘um reservatório de estiagem’, portanto não saberia dimensioná-lo. Jamais teve a preocupação de fazer uma medição de vazão em rios e, certamente, não deve ter pessoal especializado para este 142 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 tipo de serviço, muito importante para as regiões semiáridas. Não deve ter o conhecimento profundo da evaporação e sua influência nas disponibilidades hídricas da Região e também não deve saber o alcance e o exato significado do ‘m3/s’, que foi e continua sendo o principal parâmetro que sempre justificou a existência do DNOCS até os dias atuais e o tornou conhecido em todo o Mundo científico como um dos organismos mais eficientes atuando em regiões semi-áridas.” Essa extraordinária contribuição do Prof. Cássio Borges chegou aos ouvidos dos técnicos do Ministério da Integração Nacional, que já infraestruturam o DNOCS para ser o carro-chefe da administração do Projeto de Integração do Rio São Francisco. Outro documento muito importante, Sr. Presidente, é a Ata da Reunião do Grupo de Trabalho instituído pelo Colégio de Presidentes dos CREAs do Nordeste para Acompanhar a Implementação do Projeto de Integração do Rio São Francisco com As Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, que tomo a liberdade de incluir neste discurso: “ATA DA REUNIÃO DO COLÉGIO DE PRESIDENTES DOS CREAs DO NORDESTE 2011 ATA PRELIMINAR DA REUNIÃO DO GRUPO DE TRABALHO INSTITUÍDO PELO COLÉGIO DE PRESIDENTES DOS CREAs DO NORDESTE PARA ACOMPANHAR A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO DE INTEGRAÇÃO DO RIO SÃO 143 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 FRANCISCO COM AS BACIAS REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 HIDROGRÁFICAS DO NORDESTE SETENTRIONAL. Data: 11.02.2011 Local: Sede do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Ceará-CREA-CE Expositores: Engº Francisco José Coelho Teixeira, Presidente da COGERH-Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará e Engº Francisco Lopes Viana, Superintendente Institucional de Gestão do Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional. Participantes: Engº Antonio Salvador da Rocha, Presidente do CREA-CE, Engº José Mário Cavalcante, Presidente do CREA-PE, Eng°José Edirardo Silveira Santos, Coordenador do GT/CREA-CE, Engº Cássio Borges, CREA-CE, Engº José Geraldo de Araújo, CREA-PE, Engº Edgard Ramalho Dantas, CREA-RN, Engº Edgarde Gonçalves Cerqueira, CREA-BA, Engº Tarcisio Cabral da Silva, CREA-BA e convidados (acompanha completa lista dos participantes). Após a exposição dos referidos técnicos foi aberta a fase dos debates tendo o engenheiro Cássio Borges, representante do CREA-CE no Grupo de Trabalho, feito as seguintes considerações sobre os dois temas apresentados: Sobre a palestra do engenheiro Francisco Teixeira, Presidente da COGERH, disse o engenheiro Cássio Borges embora reconhecendo a importância daquele órgão para o Estado do Ceará, mas querendo estabelecer um contraditório, como fazem os advogados em ações judiciais, que carecem de bases comprobatórias, que aquela Companhia tem em seu quadro de pessoal mais de 500 funcionários para monitorar 15% dos recursos hídricos acumulados nos açudes pertencentes ao 144 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Estado, enquanto o DNOCS, com apenas 5 funcionários, faz o mesmo trabalho monitoramento 85% do total dos recursos hídricos acumulados nos açudes federais sob sua administração. Justificou isto ser possível porque o DNOCS, para dar apoio aos técnicos que realizam este trabalho, possui, por trás deles, uma infraestrutura administrativa e financeira de apoio, o que não ocorre com a COGERH, que não pode prescindir de sua estrutura física e burocrática, onde se concentra a maior parte do seu pessoal. (Nota: Atualmente o Estado do Ceará tem uma acumulação total em seus 131 açudes públicos e privados da ordem de 18,7 bilhões de m3). Referindo-se à apresentação do engenheiro Francisco Lopes Viana, da Agência Nacional de Águas, o qual disse que o Projeto de Integração do São Francisco vai beneficiar, inclusive, a região Metropolitana de Fortaleza sendo o Açude Castanhão o receptador das vazões que serão destinadas ao Estado do Ceará, o engenheiro Cássio Borges disse que não tem sentido trazer água, de elevado custo, do Rio São Francisco para ser evaporada no mencionado reservatório. Exemplificou que o Estado do Ceará deverá receber algo em torno de 8 ou 9 m3/s, enquanto o Açude Castanhão, quando cheio, deverá evaporar algo em torno de 30 m3/s. Na opinião do referido engenheiro, quando o Açude Castanhão estiver cheio ou em torno de 50% de sua capacidade não tem sentido esse reservatório receber qualquer volume d’ água do Rio São Francisco, o que somente deverá acontecer quando o mesmo estiver com, ou abaixo, de 30% de sua capacidade, percentual este, afirmou, pelo conhecimento que tem da hidrologia do mencionado açude, somente deverá ser atingido uma vez a cada 20 ou 30 anos. Sobre a ‘continuidade’ do bombeamento a ser feito, o engenheiro Tarcisio Cabral, Representante do CREA do Estado da Paraíba no GT, afirmou que isto não 145 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 está sendo bem entendido nos Estados, especialmente na Paraíba, onde o entendimento dos gestores parece ser realmente de vazão permanente a ser afluída ao território estadual, a despeito da ocorrência de chuvas prolongadas e do estado de vertimento dos grandes reservatórios de regularização e de abastecimento de pequenas cidades. Nesse caso, o bombeamento implicaria em um desperdício de energia e água injustificáveis, já que a água transposta iria evaporar ou seguir para o mar na sua grande maioria. Para o engenheiro Francisco Viana os 26 m3/s outorgados pela ANA para os Estados deverão ser bombeados do Rio São Francisco de forma contínua durante os 365 dias do ano e que os mesmos se comprometeram pagar pelo volume d’água correspondente, quer usem ou não a cota que lhes tenha sido destinada, mesmo que a água não seja utilizada, e por via de consequência desperdiçada. Para o engenheiro Cássio Borges este compromisso assumido pelos governadores dos quatro Estados beneficiados (Lúcio Alcântara, à época, era o Governador do Estado do Ceará) não tem nenhum fundamentação lógica porque em anos de bom inverno o Projeto deverá ficar ocioso, pois não tem sentido as bombas localizadas nas margens do Rio São Francisco serem acionadas continuamente, como disse o representante da ANA, se não há necessidade de consumo para os volumes d´água transportados. Questionado sobre esta posição assumida pelos governadores dos Estados, o expositor fez uma comparação como se fosse uma apólice de seguro que se é obrigado a pagar mesmo que jamais venha a ser utilizado. Ainda se referindo à filosofia de utilização do Projeto de Integração do Rio São Francisco, o engenheiro Cássio Borges disse que o mesmo deverá funcionar em apenas 30 ou 40% do tempo, isto é, a cada 10 anos, somente em 4, o Projeto 146 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 será necessário, fato este que invalida logicamente a tese exposta pelo engenheiro Viana de que a vazão a ser retirada do Rio São Francisco será feita de forma contínua. Não havendo consumo de energia, disse Cássio, quando muito os Estados deveriam se comprometer pagar uma taxa de manutenção e reparos das instalações do Projeto. Quanto à indicação de uma entidade para ser a Operadora Federal do Projeto, Cássio disse que em sua opinião o DNOCS é organismo que reúne maiores condições técnicas, instalações físicas, burocráticas e operacionais para essa finalidade. Disse que a CODEVASF atua numa área de rio perene, sem nenhuma preocupação com a questão da água. Água, portanto, não é problema para aquela Companhia. Afirmou que a área onde está sendo implantado o Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional é de rios intermitentes e tem características hidrológicas e operacionais distintas quanto à forma do uso da água e dos solos em relação à bacia do Rio São Francisco, afirmando que em ambas as áreas são exigidas técnicas e procedimentos diferenciados quanto ao modelo de atuação dos organismos responsáveis pelo desenvolvimento hidroagrícola de cada uma. Exemplificou tomando como referência à disponibilidade hídrica social do Estado do Ceará, como exemplo, no critério estabelecido pela Organização das Nações Unidas — ONU, ser da ordem de 440m3/habitante/ano, enquanto a da bacia do Rio São Francisco é da ordem de 7.500m3/habitante/ano. “Uma diferença abismal” realçou. Outro aspecto para mostrar a enorme diferença entre as duas áreas, o referido técnico disse ser de 2060m3/s a vazão regularizada do Rio São Francisco, enquanto à do Açude Orós, o segundo maior do Nordeste, ser de apenas 12m3/s. Continuou dizendo que a 147 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 CODEVASF não tem experiência na operação ou gestão dos recursos hídricos, escassos e limitados, acumulados nos chamados “reservatórios de estiagem” e, certamente, seus técnicos jamais tiveram a preocupação de utilizar um molinete fluviométrico para dimensionar e avaliar a vazão do Rio São Francisco tendo em vista à ilimitada disponibilidade da água para realizar suas atribuições institucionais. Neste momento, o engenheiro Francisco Viana fez elogiosas referências ao DNOCS dizendo que a base tecnológica e científica atual do Estado do Ceará, no que se refere à ciência hidrológica, deve-se àquele Departamento Federal citando nomes como os dos engenheiros Genésio Martins de Araújo e Antônio Gouveia Neto, já falecidos, e os de Vicente Barbosa de Paula Vieira “e, porque não dizer”, de Cássio Borges e do engenheiro José Nilson Bezerra Campo, entre outros mais novos da atual geração. Entretanto, disse que para o DNOCS ser a entidade indicada para ser a Operadora Federal do Projeto de Integração do Rio São Francisco tem que haver mudanças em sua legislação. Cássio concordou dizendo que isto não seria nenhum problema impeditivo e que o órgão, sem nenhuma despesa adicional, além daquelas já previstas para o seu fortalecimento, estaria em perfeita condições de assumir esta importante missão. O representante do CREA-PE, Engº José Geraldo de Araújo, comentando a exposição do Dr. Francisco Lopes Viana, Superintendente de Regulação da ANA, reafirmou constituir-se um dos objetivos do Grupo de Trabalho o acompanhamento para a implantação dos procedimentos para a Gestão do Sistema de Integração face à constatação histórica de que o êxito o (ou fracasso) de empreendimentos dessa natureza dependem basicamente da eficiência dos mecanismos gestores. No caso do Plano de Integração do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste 148 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Setentrional — PISF esse requisito ganha maior dimensão, pois existe ampla dependência para a sinergia e permeabilidade do sistema da existência de uma eficiente infraestrutura nas diversas unidades da federação que serão receptoras dos recursos hídricos disponibilizados. Neste ponto cumpre elogiar o pronunciamento leal e corajoso do Superintendente quando manifestou o receio de que alguns estados receptores não estejam cuidando adequadamente das respectivas infraestruturas, o que poderia gerar uma defasagem de timing entre a condução das obras (bastante avançadas) e a efetiva implantação do Sistema de Integração. Ainda referente ao problema da Gestão seria interessante observar que a inexistência do Órgão Federal previsto para conduzir a operação e macro gestão do Sistema é um fator preocupante, pois ele deveria, no momento atual, acompanhar, avaliar, controlar e orientar a implantação dos processos de recepção e distribuição dos recursos hídricos nos Estados. O engenheiro do CREA-PE reconheceu que o problema apresenta contornos bastante delicados e em parte concordou com o Superintendente de Regulação da ANA que apresentou restrições ao DNOCS como uma possível alternativa. Por outro lado, falando em termos pessoais o engenheiro José Geraldo Araújo declarou não se constituir solução de bom senso entregar a gestão do Sistema a um usuário dos recursos naturais da bacia hidrográfica do São Francisco. Quanto à CODEVASF, uma das alternativas aventadas, declarou que ‘não me parece uma solução confiável face a instabilidade do modelo que lhe foi conferido ao longo de sua existência. Implantada a partir da Constituição de 1946 como Comissão do Vale do São Francisco com a atribuição de gerir um por cento da receita tributaria da União durante o período de 20 anos em programas de desenvolvimento naquela região foi, posteriormente, transformada em 149 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 autarquia (SUVALE) e finalmente em Empresa REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Pública (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco) sem apresentar um testemunho efetivo do alcance dos seus objetivos’. E concluiu afirmando ser necessário oxigenar a constelação burocrática instalada no Vale do São Francisco com um mecanismo forte e confiável dotado do imprescindível apoio dos Comitês de Bacia. Quanto ao significado de ‘gestão’ referido pelo engenheiro Francisco Viana como tendo esta ação sido iniciada no Nordeste a partir do momento em que a válvula dispersora do Açude Orós, na década de 70, começou a funcionar, o Engenheiro Cássio Borges disse que a gestão dos recursos hídricos no Nordeste começou no ano de 1909, quando o DNOCS instalou o primeiro pluviômetro na Região. Cássio disse que a palavra “gestão” foi amplamente difundida a partir da promulgação da Lei das Águas de 1997, pois, em seu entendimento, esta definição tem conceituação diferenciada de uma bacia de rios perenes de uma de rios intermitentes. Lamentou que a Lei das Águas, que definiu a concepção de ‘gestão de recursos hídricos’, não ter feito nenhuma referência aos rios intermitentes do Nordeste e, sequer, ter citado os nomes da SUDENE e do DNOCS, os dois mais importantes organismos responsáveis pela política dos recursos hídricos da Região, como se os seus promotores tivessem tomado como referência os recursos hídricos do Estado de São Paulo, de rios normalmente perenes, onde a referida lei foi idealizada, com os melhores propósitos, e concebida. O deputado Raimundo Gomes de Matos indagou ao expositor o que está pensando a Agência Nacional de Águas — ANA quanto ao projeto denominado Cinturão das Águas que foi elaborado pelo Governo do Estado do Ceará. Indagação semelhante fez engenheiro José Mário Cavalcante, Presidente do CREA de 150 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Pernambuco, referindo-se a um projeto que está sendo concebido de levar água do Rio São Francisco a partir da Barragem de Sobradinho para a região de Araripina naquele Estado. O engenheiro Francisco Viana respondeu às duas indagações dizendo que quanto à questão da disponibilidade hídrica, esse não é problema para o Rio São Francisco que poderá fornecer vazões para os mais diversos projetos que estão sendo desenvolvidos por alguns Estados citando, como exemplo, o Ceará, no caso do Cinturão da Água, ou esse de Pernambuco, que ele disse ainda não ter conhecimento. O que vai ser examinado pela ANA é se esses projetos são, realmente, viáveis e se os mesmos se justificam social e economicamente. Afirmou que a ideia dominante é que, no futuro, com a construção de hidroelétricas na Região Amazônica, as águas do Rio São Francisco poderão ser destinadas para fins mais nobres com o abastecimento de água para as populações e para irrigação. Sobre este assunto o engenheiro Cássio Borges disse que no caso do projeto de Pernambuco o desnível da Barragem de Sobradinho para o ponto inicial do empreendimento chega a ser da ordem de 60 metros e a vazão prevista é da ordem de 17 m3/s. Já no caso do Cinturão das Águas o ponto inicial desse projeto é na entrada do Ceará do chamado Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco e a vazão prevista é da ordem de 25 a 30 m3/s. Entretanto, afirmou Cássio, não ser objeto de exame desses novos empreendimentos pelo Grupo de Trabalho criado pelo Colégio de Presidentes dos CREAs do Nordeste. Fortaleza, 11 de fevereiro de 2011 José Edirardo Silveira Santos Coordenador do Grupo de Trabalho/CREA-CE” 151 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Dois Estados que parecem pequenos em tudo, mas são extraordinariamente grandes no preparo para o desenvolvimento, Alagoas e Sergipe, também se incluem nesses programas. Deixei a Bahia por último, para lembrar do Estado nordestino produtor de ouro, de diamantes, das pedras ornamentais mais preciosas do país, do carnaval, da cultura, das belas e dos belos baianos e, sobretudo, a Bahia que ainda administra os 154 mil quilômetros de terras férteis do Oeste, o futuro Estado do Rio São Francisco, cujo Projeto é de minha autoria. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DO OESTE BAIANO A Mesorregião do Oeste da Bahia possui história de crescimento marcada por peculiaridades econômicas distintivas das demais regiões do Estado, estas, aliadas às suas características naturais e aos agentes de territorialização que nela atuaram, foram responsáveis pela identidade atualmente assumida pela região. Ainda que tardiamente a economia da região Oeste se desenvolveu e possui atualmente base diversificada, principalmente no setor agrícola, com destaque para a produção de grãos. A realização deste trabalho justifica-se pela necessidade de conhecimento do território baiano, mais especificamente da região pesquisada, na perspectiva de propor ações de intervenção sobre os problemas encontrados, assim como avaliar a principal proposta atualmente apresentada por parte do poder público: a criação do Estado do Rio São Francisco, que abrande todo o território da região e parte dos Municípios da Mesorregião do Vale do Rio São Francisco. O trabalho contou com a pesquisa e seleção bibliográfica, além de entrevista semiestruturada aplicada a representantes políticos do Município de Barreiras. 152 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O Oeste Baiano compõe-se de todo o território da Mesorregião do Extremo Oeste e parte dos Municípios da Mesorregião do Vale do São Francisco (regionalização estabelecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE). Neste artigo, adota-se como Oeste todo o território do Estado da Bahia situado à margem esquerda do Rio São Francisco, ou a delimitação anteriormente descrita. A região em destaque possui aspectos físicos peculiares, com notáveis distinções entre os demais espaços do Estado da Bahia. As características naturais mais marcantes do Oeste Baiano são o clima, o relevo e a rede hidrográfica. O clima predominante é o Tropical Continental, caracterizado por dois períodos bem distintos: um chuvoso e outro seco, verão e inverno, respectivamente, o território possui também clima Tropical Semiárido. O relevo é composto por duas unidades, a Depressão Sertaneja e o Chapadão Ocidental do São Francisco. Os rios que banham a região fazem parte da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, sendo os principais afluentes deste rio dentro do território baiano; vale ressaltar que neste espaço, à margem direita do São Francisco, encontram-se apenas rios intermitentes, característicos do clima semiárido. LOCALIZAÇÃO DA REGIÃO OESTE DA BAHIA Ainda que tardiamente (a partir da segunda metade do século XX), a economia do Oeste se desenvolveu tornando-se o principal polo agrícola do estado e possui atualmente base diversificada. A região insere-se na área do projeto de criação de uma nova Unidade da Federação, o Estado do Rio São Francisco, já sob avaliação do Senado Federal. Embora tenha conquistado expressivo crescimento econômico, a região do Oeste Baiano possui uma realidade social marcada pela 153 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 desigualdade e deficiência de fatores básicos à existência, o que demonstra que o crescimento econômico não foi acompanhado pelo desenvolvimento social. A realização deste trabalho justifica-se pela necessidade de conhecimento do território baiano, mais especificamente da região pesquisada, na perspectiva de propor ações de intervenção sobre os problemas encontrados, assim como avaliar a principal proposta atualmente apresentada por parte do poder público: a criação do Estado do Rio São Francisco. O trabalho contou com pesquisa e seleção bibliográfica e trabalho de campo, quando foram aplicadas entrevistas semiestruturadas. HISTÓRIA DA OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO A história da ocupação do Oeste Baiano é marcada pela importância do Rio São Francisco, que se constituía no único meio de ligação da região com outros espaços, e posteriormente dos seus principais afluentes, situados à sua margem esquerda. O Além São Francisco e as Gerais — como eram chamadas as terras à margem esquerda do rio e as próximas das divisas com outros Estados, respectivamente — eram distantes da rede baiana de maior dinamismo demográfico e econômico, o litoral do Estado, caracterizado pelo cultivo da cana-de-açúcar nos solos férteis de massapé. As duas regiões são separadas pelo sertão seco e inóspito e de rios intermitentes, o que também dificultava o fluxo, uma vez que as redes técnicas de transportes eram incipientes. No século XVII ocorreu a primeira iniciativa de ocupação da região com a inserção da bovinocultura por extensão, uma vez que o gado era uma mercadoria autotransportável. Desta forma, o número de povoados à beira dos rios ampliou-se lentamente; à medida que tropeiros viajavam com o gado atravessando o sertão, 154 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 alguns pontos de comércio se desenvolviam e com eles pequenos povoados. As terras do interior baiano foram concedidas através de sesmarias a duas famílias — os Garcia d’Ávila e os Guedes de Brito —, o que se constituiu na origem da concentração de terras na região. O século XVIII (século do ciclo do ouro) foi marcado pela desaceleração da ocupação do Oeste Baiano. No ano de 1701, através de uma Carta Régia, o governo proibiu qualquer ligação entre os Estados da Bahia e Minas Gerais a partir da navegação pelo Rio São Francisco. No século XIX, os rios voltaram a ser importantes meios de ligação entre o sertão e o cerrado com outros espaços. Cresceu também a importância de grandes rios da região Oeste, como o Corrente, o Grande e o Preto. Neste contexto, é válido ressaltar a estrutura fundiária predominante na região: de um lado, os grandes proprietários de latifúndios por extensão, criadores de gado; do outro, os pequenos proprietários, com a agricultura de subsistência e criação incipiente de gado. O coronelismo dominava a política regional. Barra, localizada na atual Mesorregião do Vale do São Francisco, era a principal cidade da região. O cenário acima descrito manteve-se até a segunda metade do século XX. As políticas de integração territorial do Governo Federal na década de 1960 transformaram o cenário econômico do Oeste Baiano, a partir de ações exógenas. Investimentos públicos na área de infraestrutura, aliados aos incentivos fiscais e aos baixos preços da terra, chamaram a atenção da região em outras áreas do Estado e, principalmente, em outros Estados do País, notadamente da Região Sul, onde os agricultores sofriam com solos empobrecidos devido às práticas agrícolas predatórias e aos altos preços da terra. Outro fator decisivo para a intensificação do uso do solo é a grande disponibilidade hídrica presente na região Oeste. 155 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Desta maneira, a criação de gado sofreu relativo declínio e a região passou a ser dinamizada pelo cultivo de grãos, principalmente a soja, acompanhada de uma diversidade de culturas como o milho, o algodão, o arroz, dentre outras. A indústria chega lentamente, principalmente como suporte à produção primária — formando pequenos complexos agroindustriais, e para a produção de gêneros alimentícios. A Mesorregião do Oeste Baiano foi beneficiada pela ampliação da malha rodoviária nacional, o que facilitou o escoamento da mercadoria produzida. Essa rede técnica, mesmo que ampliada, ainda se faz incipiente para o atual crescimento da região. A partir da década de 1970 a região do Oeste Baiano teve crescimento econômico acelerado, baseado ainda na estrutura de concentração dos principais fatores de produção, a terra e o capital. O latifúndio por extensão se transformou em empresa rural, uma unidade altamente produtiva e detentora de modernas tecnologias. De acordo com a estrutura fundiária pode-se caracterizar a região em dois espaços diferenciados: as áreas do Oeste, próximas às divisas com outros Estados, caracterizadas pelo relevo aplainado (Chapadão Ocidental do São Francisco), logo favoráveis à mecanização, onde prevalecem as grandes propriedades detentoras das técnicas avançadas e as terras próximas ao Vale, onde prevalece a agricultura de subsistência. Barreiras tornou-se polo regional e tomou o lugar de Barra em importância econômica; atualmente divide tal relevância com Luís Eduardo Magalhães (LEM), detentor do segundo maior Produto Interno Bruto da região. CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS E AMBIENTAIS O Oeste Baiano caracteriza-se pela baixa densidade demográfica (4,7hab/km²), e é a região menos populosa da Bahia, 553.758 habitantes (IBGE, 156 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 2007), predominantemente residente da zona rural. A maioria dos Municípios possui até 10hab/km², de toda a região apenas oito possuem entre 11 e 100hab/km². Também em apenas oito Municípios (não coincidentes) predomina a população urbana sobre a rural (IBGE, 2000). A taxa de urbanização é baixa na maioria dos Municípios, Barreiras e Luís Eduardo Magalhães se destacam com taxa de 75% (SILVA et all, 2004). Exceto Barreiras e Santa Maria da Vitória, todas as cidades da região possuem população inferior a 20 mil habitantes (IBGE, 2000). No contexto da hierarquia urbana, Barreiras situa-se como Centro Regional de 1° nível, Santa Maria da Vitória como Centro Microrregional e as demais como Centros Locais. A atividade econômica da região do Oeste Baiano, mesmo com a maior diversificação assistida no final do século XX e início do século XXI, ainda baseia-se no setor primário. O destaque é a produção de grãos, por sua vez liderada pela soja, que em 2007 foi responsável por 4% da produção nacional e 56% da produção da Região Nordeste. A cotonicultura e a produção de milho também têm evidência na matriz econômica da região Oeste. A primeira é uma atividade que agrega elevada tecnologia, a região é responsável por 97% da produção estatal e está em segundo lugar na escala nacional, além de possuir uma das maiores cadeias produtivas de algodão da América Latina. O milho responde por 50% da produção estatal, tendo aumento de 80,6% na produtividade entre as safras de 2005/06 e 2006/07(AIBA, 2007). Ainda no setor primário, destacam-se as produções de café irrigado, arroz, fruticultura (com a técnica de irrigação pivô central), capim e sorgo. A pecuária bovina e a ovinocaprinocultura também fazem parte da matriz econômica do Oeste 157 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 baiano. As atividades de subsistência caracterizam-se pela mandiocultura, plantio de milho, arroz, feijão e a pecuária. A indústria surge principalmente como suporte à produção agrícola e de gêneros alimentícios, porém ainda se faz incipiente e concentrada, notadamente nos Municípios de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães. Tem-se ainda a produção artesanal e fabricação de telhas e cerâmicas. O ecoturismo e o turismo científico têm ganhado força. Entre os anos de 1991 e 2000 a economia do Oeste baiano cresceu cerca de 246%. O crescimento econômico da Mesorregião do Oeste Baiano, entretanto, não foi acompanhado pelo desenvolvimento social. A política de concentração de renda pontuou também as áreas atingidas pelos investimentos em saúde, educação, saneamento básico, dentre outros, resultando em um espaço marcado pelas desigualdades de renda e condições de vida. O Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, elaborado a partir dos dados dos censos de 1991 e 2000, realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstra o baixo Índice de Desenvolvimento Humano da região em destaque e a já mencionada concentração de renda. Barreiras, Luís Eduardo Magalhães e São Desidério juntos respondem por mais de 60% do PIB da região. Apenas os Municípios de Barreiras, Mansidão e São Félix do Coribe possuem taxas de analfabetismo inferiores à média baiana, que é de 21,6% (IBGE, 2000), 19 dos 23 Municípios estão acima dos 25%. Vale ressaltar que LEM não foi considerado nesta pesquisa, pois o IBGE utilizou para o censo 2000 a divisão político-administrativa do censo anterior, de 1991. E 44% dos domicílios da região Oeste não possuem instalação sanitária. O panorama social do Oeste baiano 158 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 revela as necessidades de investimentos em qualidade de vida e maior distribuição de renda e serviços básicos. A intensa e acelerada transformação no uso do solo da região do Oeste da Bahia causou processos de degradação com as mesmas características, atualmente já é possível notar sérios impactos ao meio natural, tais como: diminuição da vazão dos rios que drenam a região, assoreamento, aumento das queimadas, redução da biodiversidade, entre outros. A intensificação de práticas causadoras destes danos e a não preocupação com a política de conservação do meio natural, em médio e longo prazo, causará danos irreversíveis ao ambiente, além de comprometer a produção agrícola. CRIAÇÃO DO ESTADO DO RIO SÃO FRANCISCO A atual configuração político-administrativa do território brasileiro poderá ser alterada, um Projeto de Decreto Legislativo apresentado por mim, na Câmara de Deputados, propõe a criação dessa nova Unidade da Federação, a partir do desmembramento do Estado da Bahia. Deste será criado o Estado do Rio São Francisco, que abrange a mesorregião do Oeste Baiano e outros 11 Municípios da mesorregião do Vale Sanfranciscano. A história da região Oeste demonstra falta de identidade territorial com o Estado da Bahia. No século XVI a mesma pertencia à Capitania de Pernambuco, assim como todas as terras à margem esquerda do Rio São Francisco. Com o fim das Capitanias Hereditárias e a ideia de emancipação de Pernambuco, já no século XIX, a então comarca do Rio São Francisco foi anexada à província de Minas Gerais, permanecendo por pouco tempo. Devido às dificuldades de administração, a região em destaque volta a fazer parte de Pernambuco. Após novo ato 159 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 revolucionário por parte do movimento de emancipação, no ano de 1824 a comarca voltou a ser administrada — desta vez com caráter provisório — pela província mineira. Por desacordos políticos entre D. Pedro I e os líderes mineiros, também com caráter provisório, no ano de 1826 a comarca do Rio São Francisco foi anexada à Bahia. A primeira tentativa de emancipação foi em 1830, com a finalidade de transformar a então comarca em província, mas não houve repercussão. Outros projetos com o mesmo objetivo surgiram, porém sem notoriedade. No final do século XX, ano de 1998, foi apresentado o Projeto de Decreto Legislativo nº 631/98, que ganhou, principalmente nos dias atuais, grande popularidade, e se constitui em tema de discussão em todas as esferas da sociedade. A população dos Municípios de Barreiras, São Desidério, Angical, Baianópolis, Santa Maria da Vitória, Cristópolis e Cotegipe se mobilizam para pedir pressa na aprovação da criação do Estado do Rio São Francisco, parte do Estado da Bahia que tem um grande desenvolvimento do agronegócio e falta apoio público em obras para escoamento da produção. (CMI Brasil, 2007) O descaso histórico que o Oeste sofreu por parte dos governos do Estado da Bahia, em relação a investimentos nos setores da economia e no social, tais como infraestrutura (principalmente para o escoamento da produção), saúde e educação, se constitui na principal reivindicação do movimento de emancipação. Vale ressaltar o caráter interestadual dos investimentos que elevaram a economia da região às características atuais, que, mesmo desfrutando de atrativos governamentais, a exemplo dos incentivos fiscais, podem servir como reforço à falta de identidade territorial mencionada nas primeiras linhas deste capítulo. 160 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O ideário de emancipação apenas pode adquirir força quando há no espaço a ser desagregado características identitárias. Estas são determinadas por regionalismos, compostos por aspectos histórico-culturais, econômicos, além de fisiográficos. Diante do exposto acerca do Oeste Baiano, com ênfase para o capítulo História da Ocupação do Território, é notável a distinção entre as terras do Além São Francisco e as Gerais e as demais regiões do Estado da Bahia. Um outro fator pode se mostrar favorável à revisão da atual divisão político-administrativa do território brasileiro e formação de outras Unidades da Federação. Trata-se da teoria, ao ver conveniente, que considera que a eficácia da administração é inversamente proporcional ao tamanho do território. Para isso, certamente, deve-se considerar a autossuficiência do espaço a ser desmembrado, por consequência a sua capacidade e potencialidade de aliar crescimento econômico e desenvolvimento social. O crescimento econômico da Mesorregião do Oeste Baiano não foi acompanhado pela melhoria da qualidade de vida da maioria da população. Num esforço de síntese e com o objetivo de demonstrar informações concretas da região, foram dispostos no quadro um aspectos socioeconômicos dos 35 Municípios componentes do Estado do Rio São Francisco, expondo algumas das necessidades da população. Essa é a Bahia e o futuro Estado do Rio São Francisco, cuja emancipação vai enobrecer ainda mais a região nordeste do Brasil. Nas falas pejorativas que já fizeram sobre a Região Nordeste do Brasil, faltaram às citações do quanto essa região se desenvolveu, principalmente nos últimos cinquenta anos, quase que às suas próprias custas. 161 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Só para exemplificar esse crescimento, vou citar a cidade que me adotou há quase 40 anos, Petrolina, a Capital da Fruticultura do Nordeste Brasileiro. Petrolina onde todos contribuem com o seu crescimento e com a sua história. Dos intelectuais, trabalhadores, donas de casa, desempregados, agricultores, sem teto e sem terra, técnicos da EMBRAPA, da CODEVASF, do IF — Instituto Federal, da UNIVASF, de instituições religiosas, filantrópicas, associações de moradores, estudantes, lavadores de carros e até de meninas e meninos de rua; dos políticos que após as campanhas desmontam os seus palanques para lutarem juntos por recursos para o seu desenvolvimento. Petrolina, pacata, porém exigente e cuidadosa com a sua história e com o seu passado, sempre submete as suas ações e problemas à apreciação dos petrolinenses, para a promoção de uma sociedade igualitária e de desenvolvimento da plena cidadania do seu povo. Eis aqui algumas das características do Município de Petrolina, da sua gente, suas múltiplas ações desenvolvimentistas e também dos seus problemas. I - Introdução CARACTERÍSTICAS DO MUNICÍPIO 01 - Localização e Acessibilidade A cidade de Petrolina localiza-se no extremo Oeste do Estado de Pernambuco e faz parte da microrregião homogênea do sertão do São Francisco. Esta cidade possui uma localização privilegiada, pois, está situada à margem esquerda do Rio São Francisco, que serve de divisa estadual entre Pernambuco e Bahia, e aproximadamente equidistante do Recife (776km), Salvador (518km), Fortaleza (854km) e Teresina (665km). A principal via de acesso entre Recife e 162 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Petrolina se dá pela BR-232, que cruza o Estado no sentido leste-oeste, sendo que Petrolina é cortada pelas BRs 122 e 428, que cruzam Pernambuco no sentido sulnorte, constituindo essa última, a principal via de ligação de grandes áreas do Nordeste com a região centro-sul do País. O Município possui três Distritos: Rajada, Izacolândia, Cristália e Curral Queimado — este último pretenderam incorporá-lo ao Povoado de Uruás. Vale dizer ainda que é entre Petrolina e Juazeiro que se situa uma das poucas pontes ligando as duas margens do Rio São Francisco, a Presidente Dutra, agora sendo duplicada, inclusive, com recursos alocados também com nossa participação. Assim sendo, a cidade de Petrolina emerge como um importante eixo rodoviário na malha estadual, pois ainda reflete para ela as BRs 407 e 235, e ponto de passagem não só para grande parte dos fluxos comerciais provenientes da região centro-sul com destino aos Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Piauí, mas, também, para as exportações por via interna. Pode-se afirmar que o posicionamento físico de Petrolina constitui, juntamente com outros fatores de ordem econômica, uma das principais vantagens locacionais, em relação à grande maioria das cidades pernambucanas. 02 - Aspectos Físico-Ambientais O sítio onde está implantada a cidade de Petrolina desenvolve-se às margens do Rio São Francisco, apresentando uma topografia plana, com cotas variando entre 360 e 380 metros. A sua cota média é bastante elevada em relação à máxima enchente do Rio, não sofrendo, por conseguinte, problemas de inundações. Os solos são de arenosos até conglomerados, com espessura média de 2,5 metros, podendo atingir 5,0 metros em locais favoráveis. Constituem aluviões de várias etapas de desenvolvimento do Rio São Francisco, mais conglomerados na 163 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 base e arenosos finos no topo. Sua espessura é irregular, porque soterrou um cristalino de superfície topográfico também irregular. A cobertura vegetal, arbórea é bastante rala, sendo comum encontrar-se nas áreas ribeirinhas do São Francisco, algumas graminhas nativas. À exceção do Rio São Francisco, o sítio não apresenta outros acidentes geográficos relevantes. No entanto, a paisagem é extremamente enriquecida por este rio, de volume e características marcantes. O Município de Petrolina situa-se na parte Sudoeste do Estado de Pernambuco, em relação a Arcoverde, e Noroeste, em relação a Recife; limita-se ao Norte com Dormentes; ao Sul, com o Rio São Francisco; a Leste, com Lagoa Grande, e a Oeste, com Afrânio e o Estado da Bahia. Ocupa o Município uma área real de 4.701Km², com uma população de 280 mil habitantes, sendo 137.096 homens e 142.904 mulheres. A densidade demográfica corresponde a 59,57% habitantes por quilômetro quadrado. Residem no quadro urbano 76,2% (213.360) e no quadro rural 23,8% (66.640) da população. 03 - Formação Histórica Em 1840, o local onde hoje se situa Petrolina chamava-se “Passagem de Juazeiro”. Era, nessa época, um local não habitado. Um simples ponto de travessia do Rio São Francisco, para viajantes procedentes do Ceará, Piauí e Pernambuco, com destino à Bahia e ao sul do País. Essa passagem era, portanto, ponto de convergência de diversos caminhos regionais e, já por essa época, aparecem alguns assentamentos de apoio aos viajantes. Em decorrência desse fato, começa a se fortalecer um pequeno núcleo que, em 1862, foi constituído em freguesia e elevada à categoria de vila pela mesma Lei 164 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 nº 530, de 07 de junho de 1862, com nome de Petrolina, em homenagem ao Imperador D. Pedro II, que ocupava, então, o trono do Brasil. Petrolina chegou a ser suprimida por Lei Provincial, sendo, contudo, restaurada pela Lei nº 921, de 18 de maio de 1870. A sua reinstalação ocorreu à 24 de maio do mesmo ano. Foi Município autônomo a 25 de abril de 1893. A Lei nº 130 de 3 de julho de 1895, elevou Petrolina a categoria de cidade, sendo instalada a 25 de setembro do mesmo ano. 04 - Infraestrutura O Município de Petrolina destacou-se na década de 80 como o início do desenvolvimento mais acentuado. Nesse decênio os setores primários e secundários foram intensivamente dinamizados pela iniciativa pública e privada, através da implantação de grandes Projetos de Irrigação pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco — CODEVASF e Agroindústrias. No início dessa década, a área irrigada em produção (pública) era de apenas 12.000ha e a área estimada da iniciativa privada atingia a 4.000ha. No final do milênio passado a área irrigada já era de 81.959ha, sendo 36.959ha da iniciativa pública e 45.000ha da iniciativa privada. Nesse período, foram instaladas três grandes agroindústrias de processamento de tomate (que infelizmente hoje estão fechadas). Foi consolidada, também, a estrutura do Centro de Pesquisa Agropecuário do Trópico Semiárido — CPATSA, uma das unidades descentralizadas da EMBRAPA. Esses fatos, associados com uma infraestrutura de transporte, comunicação e equipamentos sociais já instalados no Município, contribuíram para uma dinamização da economia local de forma efetiva, com desdobramento no setor 165 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 terciário, atraindo para a região várias instituições financeiras. Aumentou-se a eficiência dos meios de transportes, pela presença do Aeroporto do Vale do São Francisco, com capacidade para aterrissagem diária de aeronaves de grande porte; os meios de comunicação (jornais, rádios e TVs) foram viabilizados; os serviços básicos (saúde, saneamento, educação) vêm sendo dinamizados, transformando o Município num polo de desenvolvimento com influência direta num raio de 300km. A dinâmica da economia da região impressionada por esses fatos socioeconômicos tem contribuído para desacelerar o êxodo e estimular a atração populacional de outras regiões, não só de Pernambuco, como também de outros estados vizinhos. Com uma população de 280 mil habitantes, é o sexto maior Município do Estado e o quinto com maior taxa de crescimento anual, mais de 6%. A taxa de urbanização é de 80% e sua população está distribuída numa área de 4.701km². A zona urbana, localizada às margens do São Francisco, ocupa uma área em torno de 60km² e seus equipamentos urbanos obedecem ao plano diretor atualizado em 1983 (infelizmente). Dispõe de uma infraestrutura de serviços, cujos indicadores estão acima dos Municípios brasileiros. 05 - Saneamento O sistema de saneamento do Município de Petrolina atende pouco mais de 60% da população. - Há várias localidades onde ainda não existe saneamento, quais sejam: todos os Distritos e Povoados do interior do Município; bem como os bairros: Jardim Imperial, Portal da Cidade, Alto do Cocar, Vale do Grande Rio, Pedra Linda, 166 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Henrique Leite, Fernando Idalino, Vila Marcela, Vila Carolina (IPSEP I), Dom Avelar, Santa Luzia e diversos Loteamentos. - O sistema de água tratada da cidade, tem demandado uma média de 1.400.000m³ por mês, o serviço é explorado pela Companhia Estadual — COMPESA. - A cidade possui em torno 60 mil ligações de água, 35 mil ligações de esgotos condominiais e 20 mil ligações de esgotos convencionais. 06 - Transportes Aéreo O aeroporto de Petrolina é o segundo do Estado, com uma pista medindo 2.100x45m, e agora ampliado para receber grandes aeronaves de carga com voos saindo semanalmente com frutas, direto para a Europa. O aeroporto funciona com serviços de bar, lanchonete, restaurante, lojas, agências de viagens, locadora, táxis, policiamento, corpo de bombeiros e vigilância sanitária. Rodoviário Este sistema, assim como em todo o Brasil, e predominante na região, possuindo estradas pavimentadas, tanto para o interior, como para várias capitais do País. Distâncias de Petrolina para algumas das capitais e cidades, do Norte, Nordeste, Sul e Centro Oeste. Petrolina a Recife: 776km Petrolina a Caruaru: 626km Petrolina a Salvador: 518km Petrolina a Brasília: 1.797km Petrolina a Belém: 1.629km 167 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Petrolina a Feira de Santana: 430km O transporte rodoviário interno é servido por uma frota de táxis, espalhada em vários pontos da cidade, com aproximadamente 300 veículos. Várias empresas de ônibus, Joalina, Vale do Sol e Menina Morena, dentre outras, fazem o transporte de passageiros, com uma frota de aproximadamente 150 ônibus. Existe ainda uma frota de aproximadamente 150 veículos que faz, precocemente, o transporte público alternativo entre Petrolina, Lagoa Grande, Dormentes, Afrânio, Casa Nova e outras localidades, além do transporte urbano de mototáxi, com mais de 500 motocicletas, sem qualquer regulamentação que o discipline. Tem uma rodoviária interestadual com serviços diversos, atendendo a várias empresas de viação terrestre. Em razão de a mesma ser estadual, e a sua administração deixar muito a desejar na administração do terminal rodoviário, é que a empresa Itapemirim e outras do seu grupo, construíram um ponto de apoio em outro local, e retirou os seus ônibus do terminal público. Em razão desses e de outros problemas, o Governo do Estado resolveu municipalizar o terminal rodoviário. Fluvial A região possui um potencial com capacidade de 6.000.000 toneladas para este sistema, em função da hidrovia do Rio São Francisco. O Porto Fluvial ocupa uma área de 13ha, com dois armazéns com capacidade de armazenagem interna para 6 mil toneladas e um pátio para armazenagem a céu aberto de 35.000m² e é utilizado para o transporte de gipsita, polpa de tomate, milho, escória de produtos siderúrgicos e algodão, no trecho Petrolina/Pirapora-MG, com 1.361km navegáveis. 168 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O Porto de Petrolina dispõe de três empilhadeiras para a operação da carga da polpa de tomate, milho e outros produtos. Possui, ainda, um cais com uma plataforma de 60 metros e uma dársena de 15x30m, para as operadoras de embarque e desembarque. Ferroviário No passado, foi bastante utilizado na região. Atualmente, encontra-se pouco demandado, onde se observa apenas o transporte da gasolina e cobre no trecho Juazeiro/Salvador. A construção da Ferrovia Transnordestina que fará a interligação entre as cidades de Salgueiro e Petrolina, em Pernambuco, e Missão Velha, no Ceará, continua atrasada em seu cronograma. A região terá acesso ferroviário ao complexo portuário de Suape, na Região Metropolitana do Recife, e, pelo interior, às praças de Fortaleza, porto de Pecém e do Nordeste Ocidental. Trecho Petrolina/Lagoa Grande - 52km Desmatamento - 33km (58%) Terraplanagem Executada - 28km (34%) Obras de Arte - 38% Obras de Arte na cidade e Ponte Rio Pontal — nada executado. Espera-se, agora, que a Ferrovia Transnordestina se integre a Petrolina no traçado Parnamirim/Petrolina, via PE-555, também uma proposta de minha autoria junto ao Governo Federal. 07 - Energia O sistema de energia elétrica do Município é atendido pela Companhia de Eletricidade do Estado de Pernambuco — CELPE, hoje privatizada, que beneficia cerca de 50 mil estabelecimentos residenciais, comerciais e industriais. 169 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 No que se refere à eletrificação rural, o Município conta com uma regular estrutura de distribuição de energia elétrica. Toda energia consumida pela zona rural, cujas ligações sejam inferiores a 75 KVA, é distribuída por uma Cooperativa de Eletrificação Rural — CERPEL, que conta, atualmente, com cerca de 30 mil ligações. O consumo médio mensal de energia em Petrolina situa-se em torno de 28.681.663 KWH ou 862.722 KWH por dia. 08 - Comunicações A cidade possui em torno de 10 mil linhas convencionais de telefone e 80 mil celulares. Possui seis emissoras de rádio, sendo quatro FMs e duas AMs. É servida por 6 canais de televisão, sendo 1 repetidora local da Rede Globo e em breve receberá uma TV a cabo. Tem apenas 1 Jornal, o Gazzeta Regional, de circulação diária e a Revista Com Você, de circulação mensal. 09 - Abastecimento CEAPE — Centro de Abastecimento de Petrolina funciona com agência do Banco Itaú, agência dos Correios, serviços de bar, restaurantes e diversas lojas. É administrado pela EMPA, que controla o mercado municipal com mais de 100 boxes onde explora o comércio de hortifrutigranjeiro, no atacado e no varejo, feira livre interna, balança com capacidade para 60 toneladas. A cidade possui feiras livres nos seguintes bairros: - José e Maria: durante toda a semana; - Km 2 (CEAPE): segunda-feira; - Areia Branca: sexta-feira a domingo; 170 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 - COHAB Massangano: sexta-feira e sábado; - Jardim Maravilha, Rio Corrente: sábado e domingo; - João de Deus, COHAB VI, São Gonçalo: domingo. 10 - Educação A cidade oferece para os 3 turnos cerca de 40 mil vagas da rede municipal para o ensino de 1º e 2º graus. Atualmente, apenas em torno de 35 mil estão efetivamente ocupadas. O Município tem em torno de 170 escolas da rede municipal de ensino. A rede estadual de ensino atende a cerca 50 mil alunos. Possui 60 escolas. O ensino particular atende aproximadamente 20 mil alunos. Tem mais de 60 escolas. O CAIC — Centro de Atenção à Criança e ao Adolescente atende entre crianças e adultos, cerca de 2 mil pessoas. O ensino superior é servido pela Faculdade de Ciências e Administração de Petrolina — FACAPE, com aproximadamente 2 mil alunos, 150 professores e mais de 10 cursos, e pela Faculdade de Formação de Professores — FFPP, da UPE, com aproximadamente 3 mil alunos, além do CEFET, hoje IF, com 200 alunos de terceiro grau e a UNIVASF, atendendo mais de mil estudantes na área de humanas e administração de empresas. A cidade contava com uma biblioteca municipal, com um salão com capacidade para 80 pessoas, auditório com 480 lugares, sala de leitura e salão infantil, construída na administração do então Prefeito, Diniz Cavalcante, que durante quase trinta anos nunca sofreu uma reforma, a qual foi transferida para o Poder Judiciário do Estado de Pernambuco, onde funciona o Fórum de Justiça. 171 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Na área de profissionalização de 2º grau, a cidade possui: Escola Agrotécnica Federal tem em média 600 alunos. Oferece curso de Técnico Agrícola. Seu quadro pode chegar a mil alunos. Escola Técnica Federal (CEFET) tem em torno de 1.300 alunos e, entre os diversos cursos, oferece: eletrotécnica, edificações, química, saneamento, refrigeração. Essa escola foi transformada no Campus Universitário do Vale do São Francisco e transformada em IFET. SENAI — Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial oferece cursos: técnico em mecânica de autos; ajudante de mecânica e eletricista de manutenção. Turnos de manhã e tarde, com 12 alunos em cada turma. Escola de Tecnologia de Alimentos, a escola é administrada pelo SENAI. Oferece cursos em processamento de alimentos. Funciona em dois turnos, com 20 alunos por turma. SENAC — Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial oferece diversos cursos técnicos, em especial na área comercial. A cidade conta ainda com o SESI e o SESC, desenvolvendo diversas atividades de apoio a indústria e ao comércio. 11 - Saúde O Município de Petrolina tem sua rede de saúde distribuída nos Setores Públicos Federal, Estadual, Municipal, no Setor Privado, Filantrópico, Contratado e Particular. Hospitais e Clínicas especializadas. Contam com mais de 600 leitos e 554 médicos. 172 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Centros de Saúde: Centro Gercino Coelho (Isaías Coelho), COHAB Massangano, Bebedouro, Vila Eduardo, José e Maria, Dom Avelar, Henrique Leite, São Gonçalo, COHAB VI e Jardim Maravilha (CSU), CI - PSNC, CII - PSNC, CIII PSNC, Loteamento Recife, Cosme e Damião. Postos de Saúde: Rajada, Areia Branca, Jardim Amazonas, Cristália, Caatinguinha, Caititu, Lagoas, Nova Descoberta, Pedrinhas, Pau Ferro, Izacolândia, Tapera, Uruás, Antônio Cassimiro. Casas de Parto: Pau Ferro, Lagoas, Cristália, Umãs, Gercino Coelho (Isaías Coelho), Nova Descoberta, CI, CII e CIII no PSNC e Centro, (Av. Fernando Goes). 12 - Forças Armadas 72º Batalhão Motorizado - Exército, efetivo em torno de 700 homens. 13 - Segurança Pública Polícia Militar de Pernambuco - 5º BPM, efetivo em torno de 500 homens; Polícia Civil - 1ª Delegacia; Polícia Civil - 2ª Delegacia; Polícia Civil - Delegacia Regional, efetivos em torno de 50 policias; Delegacia da Criança e do Adolescente; Corpo de Bombeiros. 14 - Área Social Creches: Loteamento Recife, José e Maria, Areia Branca, Vila Eduardo, João de Deus, Cosme e Damião, Palhinhas, São Gonçalo, N2 - PSNC, Nova Descoberta, Agrovila Massangano, Pedrinhas, Bebedouro (duas), Jatobá, Izacolândia, Angico; Centros Sociais: Jardim Maravilha (Estado), José e Maria; 173 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Centros Comunitários: Vila Marcela, José e Maria, Rio Corrente, COHAB VI, Antônio Cassimiro, Jardim São Paulo, Cosme e Damião, além das novas creches criadas pelo atual Prefeito Julio Lóssio, em casas particulares. 15 - Agricultura A região do Sub-médio São Francisco, tendo Petrolina como sua principal cidade, vem alcançando, nos últimos anos, destaques bastante significativos no cenário nacional, caracterizando-se como polo de exportação de frutas tropicais. A dinamização das atividades nesse setor passou a acontecer há mais ou menos 30 anos, quando a CODEVASF começou a implantar a infraestrutura básica de irrigação necessária para exploração agrícola por parte de colonos e empresas. A partir desse momento, impulsionado com a implantação da EMBRAPA, a região foi estimulada a convergir para o setor de fruticultura, aumentando substancialmente suas áreas implantadas e diversificando sua pauta de produtos. Hoje a região possui cerca de 200.000ha irrigados, principalmente com culturas perenes, dos quais 60% implantados com sistema de captação d’água das próprias empresas agrícolas, e os 40% restantes, através da CODEVASF. 16 - Indústria Com o objetivo de oferecer infraestrutura localizada, as indústrias emergentes, orientando racionalmente o processo de localização de fábricas em áreas urbanas, o Governo do Estado de Pernambuco, através da Ad DIPER — Companhia de Desenvolvimento Industrial de Pernambuco, implantou em 1982 o Distrito Industrial de Petrolina. Área Total do Distrito: 500ha; Área Industrial: 132 (1ª Etapa), 128 (2ª Etapa). 174 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 A segunda etapa, implantada no ano de 1991, veio atender grandes reivindicações dos micros e pequenos empresários, pleito da Associação dos Microempresários, na época, junto ao Governador Miguel Arraes. Até o final do governo passado, o Distrito Industrial encontrava-se quase desabitado, devido à falta de incentivos fiscais e de financiamentos; algumas empresas ali instaladas faliram ou pediram concordata, fechando as suas portas. Grandes empresas, como a Dantas Irrigação, Agromeca, Dan, Vale Fértil, Etti, Taty e Cica Norte (as três últimas, processadoras de polpa de tomate), tiveram que demitir os seus empregados, na sua totalidade, o que fez surgir muitas indústrias de fundo de quintal e que, aos trancos e barrancos, vêm sobrevivendo. Um dos subsetores da indústria que mais tem crescido é o da agroindústria de alimentos (mais ou menos 100), confecções e de metalúrgica (mais ou menos 50). O atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos, investiu muito no Distrito Industrial de Petrolina, reativou sua administração, pavimentou as ruas e ofereceu incentivos aos que ali se instalassem, fato que está concluindo a venda dos últimos lotes para instalação de muitas indústrias naquele Distrito Industrial. 17 - Comércio O Comércio Varejista de Petrolina acha-se representado por mais de mil empresas devidamente legalizadas, destacando-se o ramo de confecções, armarinho, calçados, materiais de construção e ferragens, pequenos mercados, etc. O setor de comércio atacadista possui cerca de 200 empresas, sendo a maioria no ramo de alimentos, insumos agrícolas, material de limpeza e outros. Segundo a CDL e a Associação de Microempresários de Petrolina, o Município possui aproximadamente 2 mil microempresas, distribuídas entre 175 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 empresas legalizadas e não legalizadas, atuando nos setores de indústria e comércio. Enquanto muitas lojas fecharam as suas portas, em especial o comércio do centro da cidade, cresceu assustadoramente o comércio informal. O fato deve-se ao aumento do índice de desemprego e a falta de incentivo e de crédito por parte dos governos, que não ajudam aos pequenos e microempresários, que optam pela clandestinidade, sem recolher impostos e sem carteiras assinadas, assim entendem eles. 18 - Processo de Planejamento Aspectos Específicos - Regionalização Na zona rural, observam-se três situações distintas: As áreas que margeiam o Rio São Francisco (Ribeirinha); As áreas irrigadas derivadas da intervenção de investimentos públicos e privados na tecnologia de irrigação; As áreas conhecidas como “sequeiro”, caatinga típica do semiárido nordestino. A área Ribeirinha tem 95km de extensão e envolve os povoados de Tapera a Izacolândia e as ilhas. Suas características principais são: Presença ainda dos nativos (ribeirinhos) com sua cultura típica de pescador e de produtor de alimentos para subsistência, que ao longo do tempo foi dando lugar aos proprietários de pequenas chácaras de lazer, restaurantes, clubes e, em alguns casos, a empresários de médio e grande porte, onde instalaram a exploração da agricultura irrigada. 176 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 A área irrigada, fruto da intervenção dos investimentos públicos e privados na tecnologia da irrigação, iniciada no final dos anos 60, com o Projeto Bebedouro, como piloto. Em seguida, veio o Projeto Senador Nilo Coelho, a extensão do km 25, hoje denominada Maria Tereza, Projeto Pontal Sul e Norte, simultaneamente com os investimentos privados. O Município tem hoje uma área irrigada de aproximadamente 60.000ha (54% públicos e 46% privados). A região produz principalmente, manga (9.800ha), uva (8.800ha), cana-de-açúcar (10.500ha), tomate (1.500ha), praticamente não está produzindo mais, em grande escala, devido ao ataque de pragas, em especial a mosca branca, banana (4.864ha), acerola (5.500ha), aspargos (700ha) e outras, como pinha, limão, coco, maracujá, goiaba, etc. A irrigação provocou um impacto socioeconômico entre outros aspectos, porque promoveu mudanças na base técnica preexistente. Área de sequeiro, inserida no contexto socioeconômico do semiárido nordestino. Na área econômica a questão está na sustentabilidade das atividades. Um dos maiores problemas para a sobrevivência do homem é a alimentação da água quanto a: qualidade, quantidade, distribuição especial e temporal; é permanência ou confiabilidade. As atividades econômicas e sociais, baseadas nos recursos hídricos oriundos de açudagem, têm demonstrado que não é uma solução permanente. Sempre em períodos mais longos de seca, tem-se que recorrer a ações emergenciais. A pecuária extensiva requer uma área de suporte que não condiz com a situação fundiária atual. Há que se incorporar tecnologia nesse processo, para adequar-se a nova realidade espacial. 177 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Na área social a presença de serviços públicos, a renda familiar é inferior às áreas irrigadas e ribeirinhas. A zona urbana de Petrolina tem duas áreas distintas naturais: centro e bairros. Centro Considerando os aspectos de infraestrutura básica como energia, transporte e comunicação, além dos serviços públicos de saúde, educação, segurança, o centro apresenta carência de paisagismo. Tendo em vista o crescimento natural da cidade, o centro foi redimensionado geograficamente, admitindo-se como referência a área circunscrita pela perimetral, conhecida como Avenida da Integração, incorporando dessa forma, além do centro antigo, os bairros São José (Alto Cheiroso), Vila Mocó, Maria Auxiliadora, Gercino Coelho e Atrás da Banca. Considerando os principais ramos de atividades, indústria, comércio e serviços hoje, totalizando em torno de 6 mil empreendimentos, admite-se que a concentração de comércio e serviços é no centro da cidade. Dessa forma, as intervenções precisam levar em consideração essa peculiaridade. Em relação aos habitantes, o centro da cidade tem a segunda maior população, depois dos bairros, a maior renda familiar e a menor área geográfica. Bairros O espaço urbano, as dimensões sociais e econômicas dos bairros imprimiram a necessidade de subregionalizar essa área em três zonas de planejamento. Zona Leste - comporta os bairros e loteamentos que se encontram a leste da Av. Monsenhor Ângelo Sampaio, Iate Clube e BR-428: Vila Eduardo, Vila Marcela, 178 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Loteamento Recife, Colina Imperial, Vila dos Ingás, Cidade Universitária, Loteamento Boa Esperança, Loteamento Nova York, Loteamento Santa Catarina, Henrique Leite, Fernando Idalino, Portal das Águas e os novos bairros que surgiram recentemente. Zona Norte - limita-se com a BR-428, Av. Honorato Viana e BR-407: Dom Avelar, Loteamento das Esmeraldas, Loteamento Padre Cícero, Loteamento Santa Luzia, Loteamento São Joaquim, Loteamento São Jorge, Loteamento Terras do Sul, Loteamento Mandacaru, Bairros José e Maria, Areia Branca, Caminho do Sol, Antônio Cassimiro, Km 2, Jardim Maravilha, Ouro Preto, Jardim Amazonas, Pedro Raimundo, Vale do Grande Rio, Jardim São Paulo, João de Deus, Pedra Linda, Quati, Vila Carolina. Zona Oeste - Palhinhas, Distrito Industrial, COHAB VI, Rio Corrente, São Gonçalo, Cosme e Damião, COHAB Massangano, Jardim Imperial, Pontal da Cidade, Loteamento Santo André. Considerando os indicadores de população, carência de infraestrutura e serviços públicos; nível de renda; intensidade de atividade econômica e abrangência geográfica, a área dos bairros detém o maior claro de necessidades básicas, nas dimensões físicas, econômicas e fiscais. A subregionalização sinaliza pelos mesmos indicadores que a Zona Norte é a mais carente, a seguir a Oeste. Feitas estas considerações quanto às características do Município de Petrolina, desejo me solidarizar com o seu povo, por ocasião deste discurso, para parabenizá-lo por tudo que fez pelo crescimento do Município e da Região Nordeste. 179 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Em que pese todo o crescimento do Nordeste nos últimos anos, o IBGE, no Censo de 2010, mostrou que no Norte e Nordeste existem 16 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza, isto é: como renda per capita de R$70,00 por mês. Isso fez com que o Brasil passasse a contar, a partir de hoje, com o maior plano integrado de combate à pobreza extrema de sua história. Em solenidade realizada no Palácio do Planalto, a Presidenta Dilma Rousseff lançou o Plano Brasil sem Miséria, que articula Governo Federal, Estados e Municípios em torno de centenas de ações destinadas a melhorar a vida de 16 milhões de brasileiros. Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o plano aprofunda e amplia a exitosa política social adotada pelo Brasil nos últimos anos, quando 28 milhões de pessoas saíram da pobreza e 36 milhões entraram na classe média. Agora, o foco do trabalho são os 16 milhões de brasileiros cuja renda familiar, dividida entre seus membros, não ultrapassa os R$70 mensais por pessoa. Desse total, 59% vivem no Nordeste, 21% no Sul e Sudeste e 20% no Norte e Centro-Oeste. E nada menos que 40% têm menos de 14 anos de idade. Além do seu aspecto solidário e humano, o plano também pretende ser nova e poderosa alavanca para o desenvolvimento do Brasil. Afinal, o processo de ascensão social dos últimos 8 anos foi decisivo para diminuir as desigualdades, ampliar o mercado interno, fortalecer a economia e acelerar o crescimento do país. Com o Brasil sem Miséria, o governo assume o desafio de acabar com a pobreza e, assim, dá um novo e decisivo passo para ampliar essas conquistas de todos os brasileiros. 180 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O ESTADO CHEGANDO ONDE A POBREZA ESTÁ Nos últimos anos, o governo do Brasil se aproximou, como nunca, dos mais pobres. Assim, 28 milhões de brasileiros saíram da pobreza absoluta e 36 milhões entraram na classe média. Mesmo com este esforço, 16 milhões de pessoas ainda permanecem na pobreza extrema. Entre outros motivos, porque há uma pobreza tão pobre que dificilmente é alcançada pela ação do Estado. Ela como que se esconde perdida em grotões longínquos do nosso imenso território ou em zonas segregadas das grandes cidades. São pessoas tão desamparadas que não conseguiram se inscrever, até mesmo, em programas sociais bastante conhecidos, como o Bolsa Família. Muito menos ter acesso a serviços essenciais como água, luz, educação, saúde e moradia. O Plano Brasil sem Miséria foi criado exatamente para ir onde elas estão. Para romper barreiras sociais, políticas, econômicas e culturais que segregam pessoas e regiões. Entre outras coisas, vai identificar e inscrever pessoas que precisam e ainda não recebem o Bolsa Família. E ajudar, quem já recebe, a buscar outras formas de renda e melhorar suas condições de vida. Para isso, desenvolveu uma nova estratégia, chamada “Busca Ativa”, e está montando o mais completo Mapa da Pobreza no País. Um mapa onde a pobreza não é apenas um número: ela tem nome, endereço e sobrenome. 181 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O Brasil sem Miséria também está desenhando um Mapa Nacional de Oportunidades, identificando os meios mais eficientes para estas pessoas melhorarem de vida. Só assim os nossos olhos, e o braço do Estado, vão alcançar aquela pobreza tão pobre que a miséria quase a faz invisível. Assim, todo o País vai sair lucrando, pois cada pessoa que sai da miséria é um novo produtor, um novo consumidor e, antes de tudo, um novo brasileiro disposto a construir um novo Brasil, mais justo e mais humano. A miséria tem cara e necessidades diferentes conforme a região. A realidade no campo é uma, na cidade é outra bem diferente. Por isso, o Brasil sem Miséria terá ações nacionais e regionais baseadas em três eixos: renda, inclusão produtiva e serviços públicos. No campo, o objetivo central será aumentar a produção dos agricultores. Na cidade, qualificar mão de obra e identificar oportunidades e emprego para os mais pobres. Programas públicos, como o Bolsa Família, a Previdência Rural, o Brasil Alfabetizado, o Saúde da Família, o Brasil Sorridente, o Mais Educação e a Rede Cegonha, dentre outros, vão ser ampliados e aperfeiçoados em todo o País, assim como as ações destinadas a ampliar o acesso dos mais pobres a bens e serviços públicos, incluindo água, luz e moradia. Para atingir essas metas, o plano está montando o mais completo Mapa da Pobreza do Brasil. E também está desenhando um Mapa de Oportunidades para identificar os meios mais adequados e eficientes de fazer essas pessoas melhorarem de vida. 182 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Esses instrumentos vão permitir, por exemplo, que o plano identifique e cadastre pessoas que ainda não recebem o Bolsa Família, seja por falta de informação, seja por viverem em localidades ainda não alcançadas pela ação do Estado. Por tudo isso, o Brasil sem Miséria aprimora o melhor da experiência brasileira na área social e mobiliza, de forma articulada, a estrutura do Governo Federal, dos Estados e Municípios. O plano cria, renova, amplia e, especialmente, integra dezenas de programas sociais. Incorpora o trabalho de Ministérios. E atua de forma diferenciada na cidade, no campo e nas várias regiões do País para beneficiar os 16 milhões de brasileiros mais pobres, estejam onde estiverem. No campo, onde se encontra 47% do público do plano, a prioridade é aumentar a produção do agricultor através de orientação e acompanhamento técnico, oferta de insumos e água. Conheça agora algumas das principais estratégias do Brasil sem Miséria no meio rural. ASSISTÊNCIA TÉCNICA Os agricultores mais pobres terão acompanhamento continuado e individualizado por equipes profissionais contratadas prioritariamente na região pelo Governo Federal. Cada grupo de mil famílias terá a assistência de um técnico de nível superior e de dez técnicos de nível médio. Uma parceria com universidades e a EMBRAPA vai introduzir tecnologias apropriadas a cada família e, com isso, aumentar a produção. FOMENTO E SEMENTES O Brasil sem Miséria vai apoiar famílias extremamente pobres na produção de alimentos e na comercialização da produção. Cada família receberá um fomento a 183 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 fundo perdido de R$2.400, pagos em parcelas semestrais, durante dois anos, para adquirir insumos e equipamentos. Até 2014, serão atendidas 250 mil famílias. O plano prevê outras ações complementares ao fomento, como a oferta de sementes da EMBRAPA e tecnologias apropriadas para cada região. PROGRAMA ÁGUA PARA TODOS A meta, aqui, é atender 750 mil famílias com a construção de cisternas e sistemas simplificados coletivos. Além disso, milhares de famílias serão beneficiadas por sistemas de água voltados para a produção. PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS (PAA) O PAA é um dos programas mais eficazes na ampliação do mercado do pequeno agricultor. Através dele, o Governo Federal compra a produção para doá-la a entidades assistenciais ou para a formação de estoques. Com o Brasil sem Miséria, o PAA será consideravelmente ampliado. Se hoje ele atende a 66 mil famílias em situação de extrema pobreza, até 2014 beneficiará 255 mil. COMPRA DA PRODUÇÃO Outra ação prevista é a ampliação das compras públicas para hospitais, universidades, presídios, creches e também para a rede privada de abastecimento, como supermercados e restaurantes, que passarão a contar com a produção dos agricultores mais pobres. SEM MISÉRIA NA CIDADE No meio urbano, o objetivo central do Brasil sem Miséria será gerar ocupação e renda para os mais pobres, entre os 18 e 65 anos de idade, mediante cursos de qualificação profissional, intermediação de emprego, ampliação da política de microcrédito e incentivo à economia popular e solidária, entre outras ações de 184 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 inclusão social que devem beneficiar 2 milhões de pessoas. As linhas de ação incluem: MAPA DE OPORTUNIDADES O Governo Federal, junto com Estados e prefeituras, levantará o conjunto de oportunidades disponíveis nas cidades para incluir produtivamente as famílias identificadas pelo Mapa da Pobreza. Assim, unindo esses dois instrumentos, o Brasil sem Miséria vai promover um crescimento econômico mais inclusivo, gerando novas oportunidades de trabalho e renda. QUALIFICAÇÃO DE MÃO DE OBRA A meta é inserir os beneficiários do Bolsa Família no mercado de trabalho através de cursos de formação sintonizados com a vocação econômica de cada região. Escolas técnicas, o Sistema S e outras redes serão mobilizadas para que seja possível oferecer mais de 200 tipos de cursos gratuitos e certificados. O aluno receberá material pedagógico, lanche e transporte. INTERMEDIAÇÃO PÚBLICA DE MÃO DE OBRA As ações de intermediação serão realizadas considerando o conjunto de oportunidades mapeadas junto às empresas públicas e privadas. Serão selecionados, prioritariamente, os beneficiários do Bolsa Família e pessoas com idade entre 18 e 65 ano. APOIO À ORGANIZAÇÃO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS O Brasil Sem Miséria vai apoiar fortemente as prefeituras na implantação de programas de coleta seletiva. Com isso, além de beneficiar o meio ambiente, 185 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 pretende fortalecer as cooperativas de catadores já existentes e abrir milhares de vagas nesse setor. RESULTADO DO PROGRAMA Visando à inclusão produtiva da população mais pobre, o Brasil sem Miséria vai, entre outras ações, promover a articulação de diversos programas governamentais. O objetivo é criar novas oportunidades de desenvolvimento econômico local, ampliar o mercado das micro e pequenas empresas, estimular a formação de empreendimentos cooperativados e apoiar o microempreendedor individual, as políticas de microcrédito e a Economia Popular e Solidária. No entanto, para que isso ocorra, não é necessário apenas que sejam realizadas as ações constantes do Plano Brasil sem Miséria, acima exposto, carece, também, que o governo da Presidente Dilma Rousseff, através de Decreto, renegocie e securitize todas as dívidas públicas dos Estados e Municípios dessa região, com a União e seus órgãos das administrações diretas e indiretas. Ninguém pode negar que Prefeituras e Estados sempre ajudaram no desenvolvimento das regiões mais pobres, em todos os sentidos, não apenas nas ações institucionais de educação, saúde, infraestrutura, lazer, esportes, dentre outras, mais também em assistências diretas de fomentação de emprego, de moradia e de outras estruturas de vida. Por estas razões e para ajudar o governo a tirar os mais de 9 milhões de brasileiros da Região Nordeste, da vergonhosa situação em que ainda vivem, ou seja, com renda per capita de R$70,00 mensais, isto é, sair dos índices de pobreza extrema, é necessário essa negociação das dívidas dos Estados e Municípios com a União. 186 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Por outro lado, Sras. e Srs. Deputadas e Deputados, aproveito esta oportunidade para fazer um veemente apelo à Presidente Dilma Rousseff, com quem devo viajar logo mais para assistirmos juntos as festas juninas de Caruaru, no sentido de não contingenciar nenhuma emenda orçamentária, quer seja individual, de bancadas ou de comissões, da Região Nordeste, bem como, também não permitir que os Restos a Pagar dos anos anteriores sejam suspensos. Acabo de entregar essas propostas às Ministras de Estado de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, contendo o pedido de decreto com as propostas de renegociações e securitizações de todas as dívidas dos Estados e Municípios brasileiros com órgãos das administrações diretas e indiretas da União. Finalizo, Sr. Presidente, afirmando que fico muito orgulhoso de ter sido escolhido pelos meus pares da Bancada do Nordeste o seu Coordenador. Os desafios são imensos, os problemas se sucedem, o trabalho é árduo e demorado, no entanto, sinto-me preparado, após sete mandatos como Deputado, para levar adiante a proposta de melhores dias para o povo nordestino e os brasileiros, como um todo. 187 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Antes de passar a palavra ao segundo orador do Grande Expediente, Deputado Luciano Castro, concedo a palavra, para uma Comunicação de Liderança, segundo o art. 89 do Regimento Interno, ao Deputado Zé Geraldo, pelo PT. S.Exa. dispõe de 10 minutos. O SR. ZÉ GERALDO (PT-PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, todos aqueles que me ouvem neste momento, nesta semana eu participei de duas intensas audiências, de duas intensas negociações. A primeira foi na segunda-feira, durante todo o dia praticamente. Foram mais de 8 horas de audiência com as coordenações do MST — Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, da FETAGRI — Federação dos Trabalhadores na Agricultura e da Trabalhadoras na FETRAF — Agricultura Federação Familiar, Nacional dos Trabalhadores e movimentos que representam os assentamentos de reforma agrária, os acampados da região sul e sudeste do Pará, mais precisamente de Marabá. Ontem houve uma reunião entre representantes do Ministério da Justiça, Prefeitos, representantes dos trabalhadores rurais da região de Altamira, do polo, do território do Xingu, onde se construirá a Usina de Belo Monte. Nessa audiência, a FUNAI — Fundação Nacional do Índio, o Ministério da Justiça, as Prefeituras e os agricultores trataram da situação de mais de mil famílias, que já se encontram na terra há 10 ou 20 anos, algumas até mais, e que agora terão de ser removidas por causa de uma portaria da FUNAI sobre a demarcação da terra indígena Cachoeira Seca. No Município de Uruará e Placas, mais de mil famílias estão inscritas no INCRA para serem assentadas, há 5 anos, e até agora não há assentamentos para elas. 188 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Nós estamos diante de uma situação, na Região Norte do Brasil, principalmente no Estado do Pará, que merece atenção especial por parte do Governo Federal, do Ministério do Planejamento, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do INCRA. É preciso dar rapidez à solução desses problemas. Eu ando meio preocupado com esse modelo de assentamento em curso na Amazônia desde o tempo dos militares. Aliás, eu sou morador beneficiário do projeto de colonização edificado pelo Presidente Médici. Nele, depois de mais de 30 anos, ainda há muitas coisas a serem resolvidas. Por isso eu apresentei dois requerimentos nesta semana, à Comissão da Amazônia e à Comissão de Meio Ambiente. Sou membro dessas duas Comissões e estou propondo a realização de um seminário, no início do mês de agosto, para debatermos a reforma agrária, o desenvolvimento da produção familiar na Região Amazônica, região de dimensão continental que se diferencia bastante de outras. Um dos erros que têm sido cometidos ao longo desses 30 anos é o assentamento das famílias em locais distantes das cidades, das rodovias. Essa distância por si só inviabiliza os assentamentos. Prova disso é que, depois de 10, 20 anos, algumas famílias assentadas acabam vendendo a sua propriedade e comprando uma chácara, uma pequena propriedade à margem de alguma cidade, para que a vida melhore. Parece-me que temos que começar exatamente por esse ponto. A reforma agrária pode ficar mais cara no início, porque o Governo terá que comprar terras na beira das rodovias, mas, analisando a médio e longo prazos, ficará mais barata e viável, pois não teremos evasão de famílias, como nos atuais assentamentos. 189 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O INCRA assentou famílias há 10, 12 anos, e a infraestrutura ainda não foi resolvida. Os Governos têm trabalhado sob pressão. Algumas famílias foram para aqueles Estados do Norte, principalmente o Pará; uma grande parte foi para o Maranhão e o Piauí; e tantos outros buscaram dias melhores nos programas incentivados pelos governos, nos garimpos. Agora, essas famílias não têm como voltar, não têm outra alternativa de emprego e precisam buscar a sobrevivência na terra. É hora de repensar a reforma agrária. Há 30 anos, desde quando cheguei ao Estado do Pará, sou defensor da reforma agrária na Amazônia. O desenvolvimento da agricultura familiar na Amazônia só será possível se os assentamentos foram feitos na beira dos rios ou na beira das rodovias. O Estado do Pará tem hoje mais de 5 mil quilômetros de rodovias federais, muitas já asfaltadas, outras em processo de asfaltamento, como a Cuiabá-Santarém e a Transamazônica. Provavelmente, até o final de 2014 estarão 100% asfaltadas. Só essas duas rodovias têm uma distância de 2 mil quilômetros, e muitas terras que estão na beira dessas rodovias poderiam ser compradas pelo Governo Federal e destinadas ao assentamento das famílias. Assim, é claro, a energia chegará mais facilmente, o médico chegará mais facilmente, o acompanhamento à educação, o transporte escolar, a produção chegarão mais facilmente às cidades — o frete é menor, e aquilo que as famílias precisam comprar também chega a um preço menor. Hoje ocorre o contrário: aquilo que se produz é vendido a um preço menor e se compra a um preço maior outros produtos. Nessa troca, ocorre o empobrecimento, a descapitalização e a falência de muitas famílias assentadas pelo INCRA. 190 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Outro ponto: a infraestrutura. Não adianta implantar o Programa Luz para Todos, política que merece cumprimentos. Precisamos avançar no sentido de fornecer energia elétrica a todas as comunidades. No Estado do Pará há comunidade que dispõe de energia elétrica, e os agricultores até colocaram lá uma pequena fábrica para a produção de queijo durante o período das chuvas. Mas o queijo não pode ser exportado porque não há estrada. Esse é o outro grande desafio: aumentar os recursos para a infraestrutura nos assentamentos de reforma agrária do Estado do Pará. Muito obrigado. PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados e todos OS que nos acompanham pelos veículos de comunicação da Casa, venho à tribuna comunicar que ontem (21) dei entrada a dois requerimentos: um na Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Sustentável e outro na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. A proposta apresentada nos Requerimentos de nº 61/11 e 54/11, respectivamente, é a de que seja realizado um seminário conjunto, entre as duas Comissões, para acompanhar, avaliar e apresentar propostas sobre a reforma agrária na Amazônia. Senhoras e senhores, o Governo Federal tem, nos últimos anos, aberto uma frente de investimentos com o Programa de Aceleração do Crescimento — PAC da Região Amazônica: investimentos em hidrelétricas, rodovias e áreas urbanas; na criação do PRONAF, do Luz para Todos, o que vem contribuindo. Contudo, o 191 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 modelo de reforma agrária que está em curso no Norte do País não tem demonstrado bons resultados e os recursos que são disponibilizados anualmente são insuficientes para solucionar as demandas colocadas tanto por famílias que já se encontram assentadas quanto pelas que ainda aguardam assentamento. Vale ressaltar que há grande número de áreas de conservação criadas e centenas de famílias nessas áreas que dependem de regularização para ter desenvolvimento. E isso é emergencial. Por essas razões, estou propondo que façamos um seminário na segunda quinzena de agosto, para que se amplie o debate entre Parlamento, movimentos sociais ligados ao tema agrário e o Governo Federal e, assim, possamos contribuir para que o desenvolvimento da produção familiar na Amazônia caminhe na mesma velocidade que caminham as políticas estruturantes do Governo Federal contempladas pelo PAC. Na oportunidade, aproveito para solicitar o valoroso apoiamento dos membros da Comissão da Amazônia e da Comissão de Meio Ambiente, para que ampliemos os campos de debate sobre a reforma agrária na Amazônia, aprovando os referidos requerimentos. 192 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra ao próximo orador, Deputado Luciano Castro, do PR de Roraima. O SR. LUCIANO CASTRO (Bloco/PR-RR. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Deputados, venho à tribuna hoje, neste Grande Expediente, para tratar de três assuntos da vida brasileira, em especial do meu Estado de Roraima, que julgo de suma importância. Primeiramente, Sr. Presidente, gostaria de falar sobre os recentes comentários feitos através da imprensa nacional a respeito do resgate que tem sido feito — começou no Governo do Presidente Lula e se estende hoje, como prioridade, no Governo da nossa Presidente Dilma Rousseff — de pessoas que se encontram na faixa de pobreza, na miséria absoluta. O noticiário dos jornais de circulação nacional mencionam que, no Brasil, logo no início do Governo Lula, as pessoas que se situavam na faixa da pobreza absoluta foram resgatadas. Hoje, mais de 70% das pessoas que foram resgatadas dessa situação evoluíram para outras faixas, para outras classes sociais, melhorando a sua condição social, a sua saúde, a sua qualificação profissional, ingressando no mercado de trabalho e se tornando consumidoras aptas a participar do processo de desenvolvimento do País. A nossa Presidente Dilma resolveu adotar, então, um programa de combate à miséria, para resgatar a cidadania desse outro contingente de pessoas que ainda vivem na miséria absoluta, como o seu grande programa de governo. Estamos vivendo esse esforço. Por trás desse esforço de fazer as pessoas que durante muitos anos viveram na condição de miséria absoluta emergirem para outras classes sociais está a valorização delas por meio de qualificação profissional e de inserção no mercado de trabalho, no mercado consumidor. Com isso, busca-se fortalecer os 193 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 segmentos industriais e comerciais do País, gerando novos empregos na cadeia e criando, sem dúvida nenhuma, uma nova classe social importante, com autoestima resgatada, o que vai fazer o nosso País muito melhor. Nós estamos vivenciando isso a cada dia, em todo o Brasil. Esse esforço do Governo Federal, da nossa Presidente Dilma, feito de norte a sul, tem sido observado em todo o mundo. Quero dizer a V.Exa., como já dizia o noticiário, que o País que mais resgatou pessoas dessa classe de miserabilidade foi o Brasil — mais de 70%. A Inglaterra, quando fez isso, mal alcançou 50%. E nós vamos alcançar muito mais no Governo da Presidente Dilma. Ao final dos seus 4 anos de mandato, tenho certeza de que mais de 85% dessa população terá sido resgatada e incorporada às novas classes produtivas, às novas classes de consumo, às novas classes que vão se beneficiar com o desenvolvimento e com a estabilidade familiar, o que é muito importante. Por isso, quero aqui louvar a iniciativa da Presidente Dilma de defender e priorizar como a questão maior do seu governo o combate à miséria e o resgate da cidadania dessas pessoas que ainda vivem em condições muitas vezes sub-humanas. Quero deixar registrado um segundo ponto, Sr. Presidente: as dificuldades que hoje enfrenta o meu Estado, Roraima, em razão das enchentes que assolam o extremo Norte do País. Na realidade, nós não estamos isentos disso. No País todo, de norte a sul, no mundo inteiro, estamos vivendo mudanças climáticas. Em Roraima, tivemos a cheia dos rios. O Rio Amazonas, este ano, represou as águas do Rio Negro e veio represando as águas do Rio Branco, levando enchentes a 194 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 muitas cidades do meu Estado, à capital, à cidade de Caracaraí, etc. As ruas das cidades foram alagadas pelo rio, dificultando muito a vida daquela população. Estive lá, andei por lá, casa por casa, vi as dificuldades que as pessoas estão vivendo. As águas começaram a baixar, a situação começa a se normalizar. O Ministro da Integração Nacional, a pedido da Presidente Dilma Rousseff, esteve em Roraima, visitou as nossas áreas e agora mesmo já determinou a liberação de 15 milhões de reais para atender às necessidades emergenciais do Estado. Estive ontem com o Ministro Alfredo Nascimento para tratar das rodovias federais do Estado, que também foram muito prejudicadas. A Rodovia BR-174, no trecho de Boa Vista até a fronteira com a Venezuela, já tem quatro locais de interrupção que precisam ser reconstruídos imediatamente. O Ministro Alfredo Nascimento determinou que se decretasse estado de emergência nessas áreas, para que se restaure imediatamente o tráfego na rodovia. Do outro lado, na Rodovia BR-401, trecho de 7 quilômetros desapareceu. Essa área da estrada simplesmente desapareceu, como também a sub-base, em razão da grande quantidade de água, que removeu grande parte da estrutura da estrada. Na Rodovia BR-210 também se enfrentam hoje sérios problemas. O Governo Federal tem estabelecido como prioridade a recuperação e a melhoria das condições de trafegabilidade de todas as rodovias de Roraima, logo após essa enxurrada que, sem dúvida nenhuma, prejudicou muito a estrutura econômica do nosso Estado. 195 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O Sr. Átila Lins - V.Exa. me permite um aparte, nobre Deputado Luciano Castro? O SR. LUCIANO CASTRO - Concedo o aparte ao nobre Deputado Átila Lins. O Sr. Átila Lins - Agradeço a V.Exa., Deputado Luciano Castro, a oportunidade de aparteá-lo. Primeiro, quero me solidarizar com V.Exa. e com o povo de Roraima. Como seus companheiros da Região Amazônica, nós do Estado do Amazonas acompanhamos muito de perto o estado de calamidade em que ficou o Estado de Roraima, após as enchentes, que foram muito agudas. Sei também das providências adotadas pelo Governo Federal, com a atuação do Ministro da Integração Nacional e do Ministro dos Transportes, Sr. Alfredo Nascimento. Eu quero crer que, com o apoio do Governo Federal, através dos Ministérios respectivos e da imediata ação de V.Exa. e de outros companheiros de Roraima, bem como do próprio Governador José Anchieta, foi possível o pronto atendimento aos desabrigados, àqueles que estavam sofrendo com essa calamidade. V.Exa. sabe que nós do Amazonas, quase anualmente, também temos enfrentado essas catástrofes, esses desastres naturais. E podemos imaginar o quanto tem sido difícil para Roraima voltar à normalidade, não só em função dos desabrigados, mas também em função das doenças. Depois das enchentes vem a doença. Mas nós sabemos que o povo de Roraima e os seus governantes haverão de adotar todas as medidas necessárias para ajudar aqueles que estão precisando neste momento. Quero aproveitar a oportunidade — e cumprimento V.Exa. no momento em que faz este discurso — para saudar o Vice-Governador Francisco Rodrigues, que foi nosso colega, Deputado Federal por cinco mandatos, e agora é um dos auxiliares que ajudam muito o Governador Anchieta nesse trabalho de reconstrução do Estado, 196 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 para dotá-lo novamente daquela infraestrutura destruída em função desses desastres naturais. Parabéns pelo discurso! O SR. LUCIANO CASTRO - Obrigado, Deputado Átila Lins, pelo aparte. V.Exa., como homem da Amazônia que é e profundo conhecedor da nossa região, do meu Estado, sabe como são importantes os olhos do Governo Federal nesses momentos de dificuldade, para nos auxiliar. Tenho certeza de que o Governo Federal, o Governo da Presidente Dilma, não vai nos faltar. E já está nos auxiliando a recuperar o nosso Estado, para que volte à normalidade. Por fim, depois de falar dessas dificuldades enfrentadas pelo meu Estado de Roraima, quero abordar um tema, meu caro Presidente Izalci, que é do interesse de todos nós desta Casa. O Deputado Mauro Benevides, que sem dúvida nenhuma é uma figura das mais tradicionais e respeitadas desta Casa, conhece bem o tema de que eu vou falar. Eu quero falar de reforma política, da importância de fazermos a reforma política, já. O Senado Federal avançou em alguns temas importantes da reforma política. Pelo menos tomou algumas posições que podem até não nos agradar, algumas delas, no âmbito da Câmara dos Deputados. Algumas posições estão sendo tomadas no Senado Federal e já evoluem, para se tratar das Relatorias no âmbito de plenário. Estamos ainda, na Comissão Especial, ouvindo o depoimento de palestrantes e colhendo informações. Mas lá na Comissão Especial eu coloquei essa matéria da reforma política de forma muito clara. Nós queremos fazer uma reforma política que possa ter efeito já nas eleições municipais do próximo ano ou não queremos? Ou 197 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 queremos que ela seja tratada apenas para as eleições de 2014? A maioria dos presentes lá disseram: “Não. Nós queremos que ela tenha efeito nas eleições municipais do próximo ano”. Ora, vamos terminar este semestre legislativo sem sequer termos examinado a matéria ou a propositura do substitutivo do Relator, que nem está pronto. Assim que voltarmos do recesso parlamentar teremos que votar essa proposta, em agosto e setembro, aqui e no Senado Federal, nas duas Casas, para que ela tenha validade no dia 1º de outubro e tenha efeito na eleição do próximo ano. O Sr. Mauro Benevides - Deputado Luciano Castro, V.Exa. me permite um aparte? O SR. LUCIANO CASTRO - Ouço com prazer o Deputado Mauro Benevides. O Sr. Mauro Benevides - Eu não poderia deixar de aparteá-lo neste momento sobretudo porque, numa citação generosa de V.Exa., fui trazido à colação, o que me compele — aliás, com muito prazer — a deslustrar o seu discurso com este aparte. Solidarizo-me com V.Exa. quando reclama desta Casa um posicionamento correto, até mesmo como imposição da conjuntura. Nós não podemos mais deixar de votar uma reforma política, sob pena de vermos ser retirada aquela credibilidade junto aos segmentos conscientizados da sociedade civil e, naturalmente, porque estamos delongando a apreciação de uma matéria fundamental para os nossos rumos democráticos. V.Exa., no seu Estado, e eu, na minha unidade federada, somos questionados, todas as vezes em que lá estamos, sobre se a reforma política vai sair e se ela será aplicada já no pleito de 2012. Essa dúvida que remanesce no seu e no meu espírito chega a nos assaltar, quotidianamente, por força exatamente da interpelação de nossos eleitores, enfim, 198 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 de jornalistas e daqueles que formam a opinião pública do nosso Estado. Portanto, V.Exa. tem sobradas razões, ao abordar este tema, de reclamar uma posição correta e definitiva desta Casa, pelo consenso de suas Lideranças, enfim, pelo apoio de todos aqueles 511 membros desta Casa — V.Exa. é o 512 e eu, o 513. Então, neste contexto decisório, temos que deliberar imediatamente — e digo “imediatamente” até 30 de setembro —, para que a opinião pública reconheça o nosso esforço de proporcionar ao eleitorado uma legislação que possa sobretudo garantir a legitimidade dos mandatos populares. É o aparte que eu, com muita honra, entendi de oferecer ao excelente e oportuno discurso de V.Exa. na tarde de hoje. O SR. LUCIANO CASTRO - Muito obrigado, Deputado Mauro Benevides, pelo aparte que engrandece o nosso discurso e nos permite aprofundar o tema. Na Comissão Especial se discute sistema eleitoral. Vamos fazer a proposta do voto distrital, do voto distrital misto ou simplesmente distritão, ou vamos manter o sistema proporcional? A discussão pega fogo. Cada um tem uma proposta, cada um tem um interesse, cada um está focado no problema do seu Estado, ou cada partido está focado nos seus interesses nacionais. O fato é que, volta e meia, discute-se se vamos ou não tratar agora um pouco mais da questão da propaganda eleitoral. Mas se discute a forma da propaganda eleitoral: se devemos voltar a ter, por exemplo, a distribuição de brindes, de camisetas, ou se estamos, com essas proibições, inibindo a ação do candidato. Na realidade, há um tema, Sr. Presidente, que nos une antes de todos. E, por acaso, é o único tema consensual. Trata-se da coincidência do calendário eleitoral. Esse tema é consensual. Pedi, na Comissão Especial, que tratássemos logo desse 199 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 tema, já que se trata de emenda à Constituição, de uma PEC especial. O que é isso? Vamos fazer coincidir o calendário eleitoral, vamos votar isso logo no plenário da Câmara, independente de outras matérias da reforma política, e vamos deixar para amadurecer outras matérias no decorrer do tempo. A ideia é a de aprovarmos até agosto e depois remetermos para o Senado a proposta da coincidência do calendário eleitoral, que vai permitir uma única eleição de 5 em 5 anos. Com isso, se unificarmos as eleições, baratearemos o custo político e também facilitaremos a vida do eleitor, que vai poder votar para todos os cargos, de Vereador a Presidente da República. As eleições serão mais transparentes para a sociedade brasileira. Esse avanço, Sr. Presidente, vai anteceder qualquer outra proposta. E, se nós aprovarmos isso agora, as eleições municipais do próximo ano vão acontecer dentro da orientação do novo calendário único. Daí o candidato a Prefeito e o candidato a Vereador vão saber que serão eleitos para cumprir 5 anos de mandato. Até 2014, quando tivermos concluído todo o processo da reforma eleitoral, com os demais temas, vamos unificar tudo isso. Em 2014, nós que somos candidatos à reeleição, como também alguns Senadores ou Governadores, saberemos também que teremos 5 anos de mandato. Entendo que não dá para esperar uma reforma completa, pronta e acabada, para tentar discuti-la e votá-la em plenário. Acho que devemos fatiá-la, começando a examinar tema por tema. E o primeiro tema a ser examinado é, sem dúvida alguma, a unificação do calendário eleitoral. É o apelo que faço da tribuna desta Casa aos Srs. Líderes partidários, para que, através da Comissão Especial, possam expressar esse interesse de forma 200 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 clara, prover algum avanço e demonstrar à sociedade que a reforma política começou com a unificação do calendário eleitoral. Sr. Presidente, quero agradecer aos meus parceiros e amigos Deputados a atenção e dizer da minha satisfação de estar na tribuna desta Casa. O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Parabenizo V.Exa pelo pronunciamento. Precisamos de fato resolver este assunto tão importante antes de outubro, um ano antes das eleições municipais. 201 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra ao nobre Deputado Roberto de Lucena, para uma Comunicação de Liderança, pelo Bloco PV/PPS, por 3 minutos. E acrescento já, a pedido de V.Exa., o tempo solicitado. O SR. ROBERTO DE LUCENA (Bloco/PV-SP. Como Líder. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, nos próximos dias o Brasil inteiro estará em festas comemorando as datas juninas em celebração a São João e São Pedro. O reflexo dessas festas podemos observar pelo baixo número de Parlamentares que estão ou estiveram na Câmara dos Deputados esta semana. No embalo das alegres musicas de forró, em meio às danças, às quadrilhas e à euforia da ocasião, temo que o Brasil e os brasileiros se esqueçam de uma importante data, que é o Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico de Drogas. Em 1987, a Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu declarar o dia 26 de junho como o Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico de Drogas. Mas será que este ano teríamos motivo para celebrar esta tão importante e significativa data depois da absurda decisão do Supremo Tribunal Federal de liberar a Marcha da Maconha no Brasil? Fico a pensar o que sérias instituições do Brasil, como o Grupo Amor Exigente, de meu Estado, que lutam contra o uso de drogas, estarão fazendo no dia 26 de junho para convencer a sociedade que eles ainda estão no caminho certo, combatendo as drogas, e para dizer aos jovens que usar maconha não faz bem à saúde, depois de os ilustres Ministros terem dito que é permitido fazer as marchas e lutar pela legalização da droga. 202 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Estou indignado, Sr. Presidente! E minha indignação já expressei desta tribuna semana passada. Manifesto-me hoje e continuarei, enquanto tiver forças, sendo o porta-voz do sentimento nacional contra a legalização da drogas. Tenho me debruçado sobre livros e artigos, venho colecionando textos e conversando com juristas de todo o Brasil tentando entender o que levou os magistrados a se convencerem de que é possível marchar nas ruas em defesa da legalização da maconha sem fazer apologia ao crime. Confesso que quanto mais leio e pesquiso, mais fico convencido de que a Corte Suprema, a nossa gloriosa Suprema Corte Federal, errou. Busquei no campo jurídico algo que me convencesse a não estar indignado, e foi lá que percebi, que essa indignação e dos milhões de pais de famílias têm mesmo razão de ser. Sr. Presidente, em minhas pesquisas, descobri verdadeiras pérolas jurídicas, que acredito que os Ministros do STF não consideraram no momento daquela decisão contestável. Entre as pérolas jurídicas, cito a manifestação do ilustre Desembargador Sergio Ribas, do Tribunal de Justiça de São Paulo, que, ao justificar a proibição da Marcha da Maconha, no ano de 2010, alegou: “Enquanto não houver provas científicas de que o ‘uso da maconha’ não constitui malefícios à saúde pública e que a referida substância deva sair do rol das drogas ilícitas, toda tentativa de se fazer uma manifestação no sentido de legalização da ‘maconha’ não poderá ser tida como mero exercício do direito de expressão ou da livre 203 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 expressão do pensamento, mas, sim, como sugestão ao uso estupefaciente denominado vulgarmente ‘maconha’, incitando ao crime, como previsto no art. 286, do Código Penal, ou ainda, como previsto na lei especial, art. 33 ou 2º, da Lei 11.343/2006.” Uma outra manifestação que encontrei e que me deixou confortável e seguro da minha posição foi feita pela insigne Desembargadora Maria Tereza do Amaral, no ano de 2009, quando também decidia sobre a liberação ou não da Marcha da Maconha no Estado de São Paulo, ao deixar claro que: “Não se desconhece o direito constitucional à liberdade de expressão e reunião, que, à evidência, não está se afrontando neste caso, porquanto, não se trata de um debate de ideias, mas de uma manifestação de uso público coletivo da maconha.” Srs. Deputados, aquela Desembargadora e aquele Tribunal de Justiça de São Paulo acertaram, no ano de 2009 e nos anos seguintes, pois estava muito claro que os organizadores das ditas marchas convidavam as pessoas para que acendessem em público um cigarro de maconha durante o ato na frente de crianças, jovens e adultos. Entendo que, indiscutivelmente, a liberdade de expressão é uma das grandes conquistas do Regime Democrático de Direito. Entretanto, a liberdade de expressão também tem limites na sociedade democrática, principalmente quando atenta contra a ordem pública e jurídica, ou a paz social, e os Ministros do Supremo Tribunal não atentaram para este limite. 204 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Outras situações também não foram consideradas pelos Ministros da Suprema Corte ao autorizar a realização das marchas. A Corte não atentou para os interesses escusos que estão por trás dos patrocínios da organização das marchas e da busca da liberação do uso da maconha. Um desses interesses escusos que ouso levantar e que o Supremo Tribunal não considerou é o interesse econômico. Senão vejamos: é da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo a informação de que temos hoje no Brasil cerca de 6 milhões de pessoas que usam essas erva. Se considerarmos esses números, podemos dizer que todos os dias 6 milhões de pessoas acendem ao menos um cigarro de maconha. Isto quer dizer também que ao menos 180 milhões de cigarros da erva são acendidos por mês e mais de 2.160 milhões de cigarros são acendidos por ano. As contas são claras, Sr. Presidente, os valores são claros, Srs. Deputados. É só fazer a conta. Se considerarmos que cada cigarro de maconha custa em torno de 3 reais e que cada viciado que o consuma acenda só um por dia, temos aqui um valor de mais de 6 bilhões de reais por ano circulando nesse mercado negro. Diante desses números e desses valores, não estariam por trás de toda essa mobilização para realização das marchas supostos investidores que querem lucrar legalmente comercializando no Brasil esta terrível droga? Os Ministros ignoram que pode ter uma massa de jovens viciados sendo manipulada por poderosos que querem, em nome da liberdade de expressão, ganhar muito dinheiro destruindo vidas e famílias? E não venham dizer os Magistrados, que as marchas vão discutir o uso da droga de forma medicinal, pois isto não é verdade. Neste sentido faço minhas as 205 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 palavras do ilustre Desembargador Sergio Ribas, que em sua sensata peça decisória contra a marcha da maconha em 2010 afirmou: “O movimento denominado ‘marcha da maconha’ em nenhum momento se mostrou preocupado em fazer um debate sério com a presença de pessoas ligadas às áreas de saúde e do direito, como, por exemplo: psiquiatras, neurologistas, cientistas, pesquisadores, químicos, farmacêuticos, assistentes sociais, advogados, promotores de Justiça, juízes e a sociedade como um todo. Ao contrário, sem embasamento científico/fático tentam influenciar a população de que o uso da ‘maconha’ traria benefícios à saúde.” Que esta Casa reflita e investigue os interesses escusos por trás de toda essa movimentação pela liberação do uso da maconha no Brasil. Aqui anuncio, Sr. Presidente, caminhando para concluir, para as famílias brasileiras que nesta data dei entrada no Projeto de Decreto Legislativo nº 312, de 2011, vai sustar a aplicação da decisão do Supremo Tribunal Federal que reconhece a constitucionalidade da Marcha da Maconha. Tomei a medida legislativa que me foi permitida com o objetivo de anular a equivocada decisão do Supremo Tribunal. O Projeto de Decreto Legislativo nº 312/2011 vai tramitar nesta Casa. Espero que este Congresso Nacional não se omita e aprove a proposta que apresento, restaurando assim a paz e a ordem social e dando aos pais e mães deste Brasil a resposta que esperam de nós. 206 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Sr. Presidente, que com a data de 26 de junho, Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico de Drogas, as pessoas passem a compreender que as drogas são ilegais porque são um problema; que não são um problema por serem ilegais e que os efeitos nocivos do consumo de drogas não afetam apenas os indivíduos que as consomem, mas também toda a sociedade. Muito obrigado, Sr. Presidente. Era o que tinha a dizer. Que Deus abençoe o Brasil! 207 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Apresentação de proposições. PROPOSIÇÕES APRESENTADAS: 208 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 VI - ORDEM DO DIA (Debates e trabalho de Comissões.) 209 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Conforme o art. 90 do Regimento Interno, vai-se passar ao horário de VII - COMUNICAÇÕES PARLAMENTARES Tem a palavra o Sr. Deputado Paes Landim, pelo Bloco Parlamentar PSB/PTB/PCdoB. S.Exa. dispõe de 10 minutos. 210 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PAES LANDIM (Bloco/PTB-PI.) - Sr. Presidente, o competente jornalista do meu Estado, Cláudio Barros, na sua coluna Frente Ampla, iniciou um importante debate a respeito da criação do novo Estado no território piauiense que teria, em princípio, o nome de Estado do Gurgueia. Ele traz aqui o depoimento de uma das pessoas mais sérias do meu Estado, uma das melhores figuras da nova geração de economistas piauienses, Dr. Sérgio Miranda, atual Secretário do Planejamento do Piauí e já o foi também do Governo passado. Sérgio é uma grata revelação, um rapaz sério. Diz ele que discorda do colunista quanto à ausência de uma base econômica para a criação de um novo Estado lá no Piauí, pois vê que a região onde se pretende criar o novo Estado tem uma base econômica fortíssima, baseada principalmente no agronegócio e na mineração. Eu diria também da exuberância da sua beleza natural, dos seus parques e rios, se devidamente preservados, até pela riqueza daí decorrente. Sérgio Miranda concorda “que a divisão pode ser um presente de grego para o que ‘sobra’ do Piauí, com piora da relação entre dívida de longo prazo e receita corrente líquida”. Continua Sérgio Miranda: “E não só os aspectos dívidas e receitas, mas toda estrutura das finanças públicas do que ficará sendo o Piauí sofrerá um enorme abalo, uma vez que grande parte da despesa com estrutura de pessoal (previdência inclusa) existente ficará sobre os ombros dos piauienses. O Gurgueia nascerá levinho e sanado, enquanto o Piauí 211 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 arcará com praticamente o mesmo peso atual, com receitas menores.” Sr. Presidente, aqui o Dr. Sérgio Miranda nos dá exatamente uma das melhores justificativas para a criação do novo Estado. A estrutura balofa da administração pública do Piauí, centrada em Teresina, em detrimento do resto do Estado, é uma das razões por que o sul do Piauí é abandonado, sobretudo o seu extremo sul. Vê-se agora mesmo que cidades do porte de Corrente têm duas vagas de juiz — cidades como Gilbués — e estão há muito tempo sem magistrados, para citar um exemplo lá do extremo sul. Ora, a empresa estadual de eletricidade, antes de ser federalizada, a CEPISA, teve, em determinada época, mais médicos do que engenheiros na Capital do Estado do Piauí. Vejam os abusos que a elite política do Piauí concentrou em Teresina, onde, claro, ficam as melhores famílias do Estado, inclusive as famílias ligadas aos que detinham o poder. A criação do novo Estado há muito tempo obrigaria a criação de uma estrutura administrativa local para alavancar suas riquezas potenciais e evitar a morte dos seus Rios Parnaíba, Gurgueia, (o Contrato já morreu), o próprio Rio Piauí e vários outros rios, a destruição da sua floresta, da sua fauna, da sua flora, da sua rica biodiversidade do Cerrado. Enfim, ou teremos em breve um governo local próximo dali, ou, Sr. Presidente, um grande deserto se anuncia ali para os próximos 20 anos, por falta de uma política ambiental conscientizada da defesa do futuro Estado. Nós conservaríamos os grandes parques ambientais da Serra da Capivara e da Serra das Confusões e das Nascentes, onde 212 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 nasce o Rio Parnaíba, ainda não implementado, e também a área ambiental que se anuncia em torno da Serra Vermelha. Sr. Presidente, também o Dr. Sérgio fica preocupado com que a criação do novo Estado de Gurgueia possa ter repercussão negativa sobre a vida dos piauienses que ficarão do lado de cá. Eu acho que não. Ao contrário, haverá recursos constitucionais praticamente do mesmo tamanho que vão ser aplicados num espaço menor do atual Piauí. Aliás, a respeito disso, Sr. Presidente, quanto ao nome do Estado, encontreime há poucos dias, na cidade de São Raimundo Nonato, com um cidadão que disse uma coisa interessante: “Deputado, eu sou a favor do novo Estado, sou apaixonado, mas por que não deixar o nome Piauí? Se o nosso Rio Piauí nasce aqui, por que não Piauí do Sul?” Achei interessante essa abordagem. Será possível ainda a mudança, dependendo de consulta, claro. A mudança poderia ser feita através de emenda de redação, quando da colocação do projeto em pauta aqui no plenário, visto que já foi aprovado em todas as Comissões desta Casa. Sr. Presidente, há poucos dias, li também uma opinião muito interessante de um Deputado Estadual do Piauí contrário à criação do Estado do Gurgueia. Faz sentido a sua opinião. Ele pede exatamente ao IPEA que faça um estudo sobre o futuro Estado. Já tenho dito repetidas vezes que, enquanto não mostrarmos ao Governo Federal as nossas potencialidades e que seremos, talvez, o novo Tocantins ou mais ricos que o Tocantins, com um custo menor do que aquele Estado, já que temos cidades com estruturas suficientes para açambarcar uma nova capital, o que não tinha o Tocantins... 213 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O IPEA é um órgão qualificado, porque eu vinha tentando, já há alguns anos, que o Governo do Estado pagasse a Fundação Getúlio Vargas para elaborar esse estudo, mostrar a viabilidade, mostrar o grande potencial de riqueza do futuro Estado. É claro que os custos constitucionais são enormes. Nós não temos culpa. Infelizmente, a Constituição Federal exige — e é exatamente uma cláusula pétrea — o mínimo de oito Parlamentares por Estado, o que eu acho um absurdo. Temos de mudar todo o texto constitucional. Isso somente através de um processo constituinte convocado para tal fim para corrigir essas distorções que não são nossa culpa. Há poucos dias, a Folha de S.Paulo fez um comentário importante. Com a criação de novos Estados se criaria um desequilíbrio muito grande entre as bancadas do Nordeste e Sul do País. É bem verdade que, em uma Federação, o grande equilíbrio é o Senado. Essa é a grande lição dos americanos. Mas mesmo assim nós temos distorções no nosso sistema representativo, que não representa a população fidedigna do Estado. Isso foi manobra do regime autoritário feita nos anos 70, em que exatamente o eleitorado e não a população é que diria os números representativos dos Estados. Mas o Senado é o ponto de equilíbrio. Se nós pudéssemos corrigir constitucionalmente algumas deficiências que podem resultar em aumento de custos! Mas o certo é que nosso Estado, ao contrário do Tocantins, que já tinha recursos internacionais, destinados ao futuro Estado, pagos depois pela União, como avalista, não tivemos acesso sequer ao PRODECER. O único cerrado no Brasil que não teve acesso ao Programa Desenvolvimento dos Cerrados, do Japão, foi o do Piauí. 214 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Então, temos condições de ter um Estado racionalizado, equilibrado, que traria poucos custos para sua implantação e traria, de imediato, à União a solidez de recursos, o aumento do valor de exportação e uma grande produtividade de sua economia, dada a sua área estar toda incluída na Ferrovia Transnordestina. O extremo sul é abandonado. Nossas fronteiras são desguarnecidas. A Bahia avança em nosso território. O próprio Tocantins avança em plena Serra da Mangabeira, por falta de presença do Estado piauiense. Portanto, somente por uma insensibilidade muito grande, poderíamos, neste momento, discordar da criação do novo Estado, que iria trazer mais riqueza para o Piauí, mais bem-estar social, inclusive melhorando os indicadores de saúde e de educação. Só para dar um exemplo, Sr. Presidente, o Hospital de Corrente, no Piauí, porta de entrada do Estado, até pouco tempo cerrado não tinha raio X. Em Tocantins, não havia nenhuma cidade igual a Corrente, quando foi transformada em Estado. Só para exemplificar, a 180 quilômetros de Barreiras, na Bahia, é feito grande parte do atendimento médico dos nossos patrícios do extremo sul do Estado do Piauí, porque a distância para Teresina são quase de 900 quilômetros. Somente a presença de um novo Estado poderia aproveitar o grande potencial ali subjacente, sob pena de termos, daqui a 20 anos, um grande deserto pelo abandono e pela ausência de um governo local próprio. Muito obrigado, Sr. Presidente. Durante o discurso do Sr. Paes Landim, o Sr. Izalci, § 2º do art. 18 do Regimento Interno, deixa a cadeira da 215 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Presidência, que é ocupada pelo Sr. Osmar Terra, § 2º do art. 18 do Regimento Interno. 216 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Osmar Terra) - Com a palavra, pela ordem, o Deputado Jaime Martins. O SR. JAIME MARTINS (Bloco/PR-MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, quero, saudando todos os que nos ouvem, fazer uma referência ao VIII Caderno de Altos Estudos que lançamos recentemente, intitulado Setor Mineral: rumo a um novo marco legal. Nós, por mais um ano, nos debruçamos com consultores desta Casa na elaboração de uma proposta que pudesse ser o novo marco regulatório do setor mineral do Brasil. Acho que esta Casa e o Governo, de modo geral, não poderão postergar mais o debate desse tema tão importante para a atual e para as futuras gerações. Ressalto que esse Caderno consolida os estudos elaborados no âmbito da Consultoria Legislativa, como dissemos, e também as contribuições dos participantes de seminário realizado no auditório da TV Câmara, em dezembro do ano passado, quando se debateu esse tema da atividade minerária. Consta da publicação uma detalhada e plural análise do atual modelo de regulação desse setor, que evidenciou a visão geral de que deve haver mudanças no sentido de estabelecer uma nova e moderna relação jurídica entre o Estado brasileiro e os agentes econômicos que exploram essa atividade. Muito obrigado, Sr. Presidente. 217 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é motivo de muita honra para mim divulgar desta tribuna o lançamento do VIII Caderno de Altos Estudos, intitulado Setor mineral: rumo a um novo marco legal. Sob minha orientação, esse Caderno consolida os estudos elaborados no âmbito da Consultoria Legislativa e as contribuições dos participantes de seminário realizado no auditório da TV Câmara, em dezembro do ano passado, onde se debateu um novo marco legal para a atividade minerária. Consta da publicação uma detalhada e plural análise do atual modelo de regulação desse setor, que evidenciou a visão geral de que deve haver mudanças no sentido de estabelecer uma nova e moderna relação jurídica entre o Estado brasileiro e os agentes econômicos. Para que essa nova relação seja efetiva, é fundamental que ocorram mudanças institucionais. Nesse sentido, elaboramos a Indicação nº 2012, de 2008, que sugere ao Exmo, Sr. Presidente da República a criação da Agência Nacional de Recursos Minerais, a instituição do Conselho Nacional de Política Mineral e o fortalecimento do Serviço Geológico do Brasil. Com relação aos aspectos constitucionais, a Carta Política de 1988 estabeleceu que são bens da União os recursos minerais, e incluiu a exploração desses bens sob a integral tutela do Estado. O art. 176 contém uma expressão que deve balizar toda a legislação: o “interesse nacional”, segundo o qual devem ocorrer a pesquisa e a lavra de recursos minerais. O art. 176 estabelece também que a pesquisa e a lavra dos recursos minerais somente poderão ser efetuadas mediante autorização ou concessão da União. 218 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Ao mesmo tempo em que assegura o controle do Estado sobre o patrimônio mineral, define a quem compete o exercício da atividade mineral. Reflete o interesse do Estado em garantir a soberania sobre o solo e subsolo mineralizado e a importância das entidades de direito privado para a produção de bens minerais. Em nossa visão, os termos “autorização” e “concessão”, devem ser entendidos como os institutos clássicos do Direito Administrativo, utilizados, por exemplo, no aproveitamento dos potenciais de energia hidráulica. Dessa forma, pode-se até argumentar que o atual Código de Mineração sequer teria sido recepcionado pela Constituição Federal. Faz-se necessário então adequar esse Código ao novo desenho de Estado promovido pela Constituição Federal de 1988. Esse é o principal objetivo do Projeto de Lei nº 463, de 2011, de autoria de membros do Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica. A concessão mineral deve ser um ato soberano do poder político, que se reveste das características de um contrato de direito público. Nossa conclusão é no sentido de que essa modalidade deve ser classificada como concessão de exploração de bem público, a ser outorgada mediante contrato administrativo. Um aspecto curioso nesse tema é o fato de se alegar que a sujeição a um contrato administrativo acarretaria insegurança jurídica aos empreendedores minerais. A curiosidade advém justamente de ser a concessão a modalidade que mais confere segurança jurídica aos particulares no trato com a Administração Pública. Outra importante conclusão diz respeito à situação fática de haver muitos interessados em pesquisar e explorar determinada área. Nessas situações, deve o 219 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Estado promover um certame competitivo, no qual todos os interessados devam ser tratados isonomicamente. Conforme os procedimentos vigentes, a competição ocorre em bases não isonômicas, portanto inconstitucionais. Dá-se a preferência ao que primeiro protocolizar o requerimento de pesquisa. A destinação da área ao que primeiro chegar, ainda que sendo manifesto o interesse de outros empreendedores, deve-se ao chamado direito de prioridade. Quando viável a competição, consideramos que o direito de prioridade se torna incompatível com o princípio da isonomia e, portanto, materialmente inconstitucional. O privilégio da ordem cronológica em detrimento dos aspectos técnicos torna esse instituto obsoleto, pouco republicano e incompatível com o modelo de Estado desenhado pela Constituição de 1988. Uma vez outorgada e realizada a pesquisa mineral, propomos que a etapa seguinte, a concessão ou autorização de lavra, também seja feita a partir de um processo competitivo. Uma alternativa a ser avaliada pelo legislador é aquela em que o pesquisador, uma vez finalizada as atividades previstas na autorização de pesquisa, e ainda que encerrada sua participação nessa etapa do processo, possa voltar a competir com demais interessados na etapa posterior. Caso não saia vitorioso no processo licitatório para a outorga de autorização ou concessão de lavra, esse pesquisador, que finalizou as atividades previstas na autorização de pesquisa, teria uma participação no resultado da lavra. Com relação aos investimentos em exploração mineral, segundo dados do DNPM, eles apresentaram importante crescimento. 220 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Apesar desse crescimento, os recursos aplicados em pesquisa mineral podem ser considerados ainda muito modestos no Brasil. As empresas de mineração têm preferido manter os programas de pesquisa restritos as suas próprias minas e expandir suas atividades com a aquisição de jazidas de terceiros. Os países da América do Norte, composto por Canadá, Estados Unidos e México, têm tido preferência por parte dos investidores, com quase um terço do total mundial. A América Latina, sem considerar o México, vem em segundo lugar. Tem cabido ao Brasil apenas cerca de 10% dos investimentos na região. Com relação à tributação, vários estudos relativos ao setor mineral demonstram que, embora o modelo tributário brasileiro possa ser aperfeiçoado, principalmente no que diz respeito ao número de tributos, ele não traz desvantagem competitiva para o setor. Em estudo do Fundo Monetário Internacional de 2007, o Brasil foi o país que apresentou a menor parcela do Estado nos benefícios totais relativos a projetos de minério de ferro. Entre os países analisados está a Austrália. No Brasil, em 2010, a produção de petróleo e gás natural gerou royalties e participações especiais de R$21 bilhões. Esclareça-se que a participação especial, que é um royalty especial, constitui compensação financeira extraordinária devida pelos concessionários de exploração e produção de petróleo ou gás natural, nos casos de grande volume de produção ou de grande rentabilidade. No setor mineral, onde não existe participação especial, a compensação financeira arrecadada em 2010 foi de apenas R$1,2 bilhão. 221 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Apesar da grande diferença entre o setor petrolífero e o setor mineral, não parece justificável uma diferença de arrecadação de compensação financeira tão grande. Propomos, então, que seja criada uma participação especial no setor mineral, que atingiria somente as grandes jazidas ou as jazidas de alta rentabilidade e geraria uma maior participação da União, Estados e Municípios na renda mineral. Com o objetivo criar essa participação, o já citado Projeto de Lei nº 463, de 2011, além de alterar o Código de Mineração, modifica a Lei nº 8.001, de 1990. Também é importante ressaltar que não há incentivos para agregação de valor aos bens minerais brasileiros. A própria Lei Kandir e a falta de cobrança de imposto de exportação favorecem a exportação de produtos da indústria extrativa mineral. Na nossa visão, essa lei deve ser alterada, de modo a haver incidência de ICMS sobre as operações de exportação de produtos primários não renováveis. Nesse sentido, apresentamos o Projeto de Lei Complementar nº 11, de 2011, que também está em tramitação. Diante da relevância e complexidade desse fascinante tema, temos a certeza de que esse VIII Caderno poderá contribuir para que o Poder Legislativo aprove um novo marco legal para o setor mineral consonante com os interesses da população brasileira. Sr. Presidente, peço que este pronunciamento seja repercutido nos meios de comunicação da Casa: Rádio Câmara, TV Câmara e outros órgãos de comunicação. Muito obrigado. 222 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Osmar Terra) - Com a palavra o Deputado Izalci, pelo Bloco Parlamentar PR/PRB/PTdoB/PRTB/PRP/PHS/PTC/PSL. S.Exa. dispõe de até 10 minutos. O SR. IZALCI (Bloco/PR-DF. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, o Correio Braziliense de hoje traz uma matéria sob o título E o lobby venceu. Essa matéria, Sr. Presidente, trata de um projeto de lei, cuja autoria não sei se é minha. Quando estive na Assembleia Legislativa apresentei um projeto como esse, que foi para a pauta de votação, mas foi retirado, e o projeto não foi votado. Parece que depois, um outro Deputado apresentou esse mesmo projeto, e ontem, em reunião da Comissão de Constituição e Justiça, na Assembleia Legislativa, ele foi arquivado. O projeto trata, Sr. Presidente, da contratação de empresas de Parlamentares no Governo do Distrito Federal. Eu apresentei o projeto na Assembleia Legislativa proibindo o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Tribunal de Contas de contratarem empresas cujos sócios fossem Deputados ou parentes até terceiro grau. Mas infelizmente não consegui aprová-lo naquela Casa. No mandato passado, aqui na Câmara dos Deputados, tive oportunidade de apresentar esse mesmo projeto. Como estava atuando na Secretaria, não acompanhei muito a sua tramitação. Ele tramitou nesta Casa e aqui ele perdeu talvez a essência, porque o projeto trata de proibir a contratação e a celebração inclusive de convênios com instituições e empresas. Nesta Casa, retiraram os termos “contrato”, “contratação”, deixaram apenas “convênios”. Eu estou trabalhando agora para mudar, para resgatar o termo “contratos”, no Senado, 223 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 porque acho que é uma matéria relevante, e esta Casa precisa tomar essas providências para que o Executivo, principalmente, não contrate empresas vinculadas às autoridades. E o mais grave que vem acontecendo, Sr. Presidente, é que a maioria das contratações são feitas sob a forma de contratos emergenciais, ou seja, nem mesmo participam de licitações. A matéria de hoje diz que só para essas empresas vinculadas aos Deputados foram 773 milhões. Só este ano, 2011, quase 80 milhões pagos a empresas vinculadas a Deputados. E muitos desses contratos são contratos emergenciais. A informação que tenho é que esse projeto foi transformado em indicação, tendo ido ao Executivo para que encaminhasse então para a Câmara um projeto semelhante. Acontece, Sr. Presidente, que esse mesmo projeto trata de convênios, ou seja, proíbe também a contratação de ONGs vinculadas a autoridades. Eu encaminhei um requerimento recentemente ao Ministério dos Esportes e ao Ministério da Justiça, requerendo liberações de recursos. Tomei conhecimento de mais de 2 milhões apenas para uma entidade, uma ONG de Sobradinho, chamada Cata-Ventos, vinculada exatamente a um ex-Deputado Distrital, hoje Deputado Federal, atualmente Secretário de Governo do Distrito Federal. Essa entidade teve aprovado, na Câmara Legislativa, um projeto de sua iniciativa, como entidade de caráter relevante, de utilidade pública. Logo em seguida, quando ainda era Ministro dos Esportes, o Governador Agnelo liberou para essa entidade milhões de recursos. Não só para essa, como para várias outras ONGs do Distrito Federal. Solicitei, e já recebi, a aprovação da Mesa para os requerimentos que fiz. Quero levantar todo o recurso que foi repassado a essas entidades, principalmente à 224 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Cata-Ventos. São recursos do Programa Segundo Tempo. Não sei se V.Exa., Deputado Ribamar Alves, conhece, no Maranhão ou em outros Estados, o Segundo Tempo, que é um projeto maravilhoso. Ele tira as crianças da rua e dá oportunidade às crianças carentes de praticar esportes. O Governo contrata monitores, professores de educação física, incentivando o esporte principalmente nas áreas mais carentes. Infelizmente, o Distrito Federal vem sendo prejudicado com esses projetos. Já tivemos aqui um grande problema com o Fundo de Amparo ao Trabalhador. Há muitos anos, o Distrito Federal não recebe recursos do FAT, exatamente por falta de credibilidade e por desvios de recursos que foram feitos aqui durante algumas gestões. Agora vem acontecendo o mesmo com o Segundo Tempo. Há muito as instituições do Distrito Federal não vêm recebendo recursos exatamente por não aplicarem corretamente esses recursos nessas entidades. Um projeto como esse, que foi votado ontem na CCJ da Assembleia Legislativa e foi arquivado, transformado em indicação! Duvido muito, ainda mais com essa participação das ONGs, que o Governador encaminhe para a Assembleia Legislativa um projeto do Executivo, tratando dessa matéria. Até por que, talvez tenha sido o maior incentivador de aplicação de recursos em ONGs fantasmas, como foi denunciado nas revistas Veja, ISTOÉ e Época: desvio de recursos, com prestação de contas de notas frias da Novo Horizonte, com depoimento de pessoas que receberam recursos — há muitos depoimentos sobre essa matéria. Eu lamento muito que esse projeto de lei não tenha sido aprovado. Mas tenho certeza de que conseguiremos resgatar no Senado a essência do projeto, que é a proibição de contratação de empresas de Deputados e parentes, mas mantendo 225 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 também a questão dos convênios, para preservar também a proibição de repasses para as entidades não governamentais que têm realmente recebido os recursos e não aplicado de forma correta. Então, estamos trabalhando com os Senadores para resgatar isso, porque volta para a Câmara, e aqui eu tenho certeza de que conseguiremos convencer os Deputados de que, muito mais do que legal, essa é uma questão moral, ética. Não se admite empresas de Parlamentares, empresas de autoridades vinculadas ao Governo prestarem serviços para o próprio Governo. Isso realmente contraria a transparência, a ética do serviço público. Então, eu quero apelar para os Srs. Parlamentares para que nos deem muita força com relação a este projeto, a fim de que esta Casa possa aprová-lo e, assim, proibir definitivamente, tanto nas Prefeituras, quanto nos Governos, nos Tribunais de Contas, no próprio Legislativo, que Deputados e seus parentes tenham esse privilégio de ser contratados, inclusive sem licitação pública, por meio de contratos emergenciais. Era isso, Sr. Presidente. Muito obrigado. O Sr. Osmar Terra, § 2º do art. 18 do Regimento Interno, deixa a cadeira da presidência, que é ocupada pelo Sr. Izalci, § 2º do art. 18 do Regimento Interno. 226 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra ao Deputado Antonio Carlos Mendes Thame, para uma Comunicação de Liderança, pela Minoria. S.Exa. disporá de 6 minutos. O SR. ANTONIO CARLOS MENDES THAME (PSDB-SP. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em 2010, um documento interno produzido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior revelou que a indústria brasileira estava perdendo espaço na economia do País. Concomitantemente, autoridades governamentais se manifestaram, dizendo que se tratava apenas de prognósticos e análises para debate interno entre os técnicos daquele Ministério, não representando uma posição oficial do Governo. Sob o título Desindustrialização, reprimarização e contas externas aquele estudo feito por técnicos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio apontava que a fatia da indústria no PIB caíra de 30,1% em 2004 para apenas 25,4% em 2010. O Presidente Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos — ABIMAQ, Luiz Aubert Neto, alerta para a queda da participação das exportações do faturamento do setor, que caiu de 34% em 2005 para 23% neste ano, medida de janeiro a abril. As importações setoriais também superaram as exportações desde 2004 e o déficit na balança comercial já acumula 50 bilhões de reais. Segundo Luiz Aubert — e esse é o ponto fulcral de tudo aquilo a que hoje nos referimos: “O Brasil é que não é competitivo”, mencionando a política cambial que mantém o real valorizado, a alta taxa de juros, o famigerado Custo Brasil e a elevada 227 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 carga tributária do País. “O Brasil é que não é competitivo”. Ele tem motivos para falar isso e vamos voltar a esta frase. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, em carta intitulada A Desindustrialização Brasileira em Debate, argumenta que o setor industrial da economia brasileira estaria enfrentando um momento de desindustrialização, para o qual muitos economistas frequentemente vêm chamando atenção em suas análises. Os principais motivos geradores dessa desconfiança, segundo a Fundação Getulio Vargas, estão na valorização do real, na crise financeira mundial e no “efeito China”, em referência à aposta daquele país asiático nos países emergentes e ao específico caso da concorrência com os produtos brasileiros, concorrência, muitas vezes desleal, de seus produtos manufaturados com os nossos. Comenta a carta que “à luz da experiência internacional, até 2008, o processo de desindustrialização no Brasil estaria ocorrendo dentro do padrão”. Efetivamente, a participação dos produtos industrializados importados no mercado brasileiro estaria aumentando, e nosso volume de exportações caindo, mas de uma forma suportável até 2008. No entanto, vejam o que ocorre hoje: excluindo-se os veículos, ele é 25% menor do que há três anos. O que é 25% menor? O volume de exportações brasileiras. Nos últimos 8 anos no Brasil, o varejo cresceu mais que a indústria em todos os anos. Se o varejo cresce mais que a indústria, como supro essa demanda? Através de um aumento das importações. 228 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Enquanto isso, o volume de exportações brasileiras para os Estados Unidos, nosso principal destino externo para manufaturados, foi, no ano retrasado, 36% inferior ao período anterior à crise iniciada em 2008. É possível que o fenômeno seja atribuível à retração da economia norte-americana. Nossas exportações para Japão e Europa também ainda não retornaram aos patamares pré-crise, reflexo de uma brutal retração de consumo por lá e de forte expansão por aqui, levando nossa indústria e a deles a redirecionar produtos para o mercado interno brasileiro. Enquanto isso, nossas exportações para a China — país que mais cresce no mundo e principal importador de nossas matérias-primas (matérias-primas!) — aumentaram 77% apenas em quantidade desde a crise, sem falar no ganho de preço. Nos últimos anos, porém, o crescimento de nossas exportações tem resultado em disseminação do progresso técnico muito mais restrito, como no caso da agricultura, da pecuária e mais ainda na mineração, do que seria possível caso as exportações de manufaturados brasileiros tivessem crescido ou mantido a participação que já tiveram na balança comercial brasileira. E isso decorre dos efeitos de encadeamento e da forma de assimilação do progresso técnico nos setores primários. Ou seja, o ganho de produtividade é muito menor nesses setores. Por exemplo, o que ocorre em um segmento da química fina, fruto de tecnologia desenvolvida fora do País, como sejam os insumos modernos da agricultura, fertilizantes mais modernos, sementes mais eficientes, matrizes genéticas mais eficientes, tudo muito mais ligado à agricultura e pecuária do que ao setor econômico industrial, e altamente dependente de monopólios internacionais. 229 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Os efeitos são setorialmente mais contidos do que o do avanço tecnológico quando ocorre no setor industrial que permeia tudo, espraiando-se em segmentos do setor de serviços, a exigir melhor educação da força de trabalho, melhores serviços de engenharia, equipamentos urbanos tecnologicamente mais avançados, melhor treinamento e capacitação da mão de obra empregada. No entanto, muitos acabam culpando o próprio setor, dizendo que se trata de uma “desindustrialização brasileira”, caracterizada pelo esvaziamento tecnológico das cadeias produtivas. E é exatamente isso que nós queremos contestar — contestar com a frase do Presidente Luiz Aubert, da ABIMAQ: “O Brasil é que não é competitivo.” Não é a indústria que não é competitiva. Ela acaba ficando não competitiva por questões ligadas ao Brasil como um todo, que é o caso do real supervalorizado, a alta taxa de juros, a infraestrutura superdeficiente, que não acompanhou o desenvolvimento do setor industrial, em suma, o famigerado custo Brasil, além da elevadíssima carga tributária do Brasil. É isso que está segurando; é isso que está sendo a verdadeira doença brasileira, e não doença da indústria brasileira. Com esses dados, assistimos no Brasil a uma longa marcha para o passado, ao regresso a um passado primário, exportador, dos tempos da pré-Volta Redonda. Cabe a nós fazermos tudo que for possível para evitar esse brutal retrocesso, que destrói empregos e bem-estar de todos os brasileiros. PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em 2010, um documento interno produzido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior — 230 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 MDIC revelou que a indústria brasileira estaria perdendo espaço na economia do País. Concomitantemente, autoridades governamentais se manifestaram, dizendo que se tratava apenas de prognósticos e análises para debate entre os técnicos daquele Ministério, não representando uma posição oficial do Governo. Sob o título Desindustrialização, reprimarização e contas externas o estudo feito por técnicos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio apontava que a fatia da indústria no Produto Interno Bruto — PIB caíra de 30,1% em 2004 para apenas 25,4% em 2010. O Presidente Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos — ABIMAQ, Luiz Aubert Neto, alerta para a queda da participação das exportações do faturamento do setor, que caiu de 34% em 2005 para 23% neste ano, de janeiro a abril. As importações setoriais também superaram as exportações desde 2004 e o déficit na balança comercial já acumula U$S50,3 bilhões. Segundo Luiz Aubert, “o Brasil é que não é competitivo”, mencionando a política cambial que mantém o real valorizado, a alta taxa de juros, o famigerado Custo Brasil e a elevada carga tributária do País. O Instituto Brasileiro de Economia — IBRE, da Fundação Getulio Vargas, em carta intitulada A Desindustrialização Brasileira em Debate, argumenta que o segundo setor da economia brasileira estaria enfrentando um momento de desindustrialização, para o qual muitos economistas frequentemente vêm chamando atenção em suas análises. Os principais motivos geradores dessa desconfiança, segundo o IBRE, estão na valorização do real, na crise financeira mundial e no que chama de “efeito China”, em referência à aposta do país asiático nos países 231 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 emergentes e ao específico caso da concorrência, por vezes desleal, de seus produtos manufaturados com os nossos. “A luz da experiência internacional, até 2008, o processo de desindustrialização no Brasil está ocorrendo dentro do padrão”, comenta a carta. Efetivamente, a participação dos produtos industrializados importados no mercado brasileiro está aumentando e nosso volume de exportações caindo. Hoje, excluindose veículos, ele é 25% menor do que há 3 anos. Além disso, nos últimos 8 anos, o varejo cresceu mais do que a indústria em todos os anos. O volume de exportações brasileiras para os EUA, nosso principal destino externo para manufaturados, foi no ano retrasado 36% inferior ao período anterior à crise iniciada em 2008. E possível que o fenômeno seja atribuível à retração da economia norte-americana. Nossas exportações para Japão e Europa também ainda não retornaram aos patamares pré-crise. Reflexo de uma brutal contração de consumo por lá e de forte expansão por aqui, levando nossa indústria e a deles a redirecionarem produtos para o mercado brasileiro. Enquanto isso, nossas exportações para a China — o país que mais cresce no mundo e principal importador de nossas matérias-primas — aumentaram 77% apenas em quantidade desde a crise, sem falar no ganho de preço. Nos últimos anos, porém, o crescimento de nossas exportações tem resultado em disseminação do progresso técnico muito mais restrito, como no caso da agricultura, da pecuária, e mais ainda na mineração, do que seria possível caso as exportações de manufaturados tivessem crescido ou mantido a participação que já tiveram na balança comercial brasileira. E isso decorre dos efeitos de encadeamento e da forma de assimilação do progresso técnico nos setores primários. 232 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Por exemplo, o que ocorre em um segmento da química fina, fruto de tecnologia desenvolvida fora do País, como sejam os insumos modernos da agricultura, fertilizantes mais modernos, ou sementes mais eficientes, matrizes genéticas mais eficientes, tudo muito mais ligado à agricultura e pecuária do que ao setor econômico industrial, e altamente dependente de oligopólios internacionais. Os efeitos são setorialmente mais contidos do que o do avanço tecnológico quando ocorre no setor industrial que permeia tudo, espraiando-se em segmentos do setor de serviços, a exigir melhor educação da força de trabalho, melhores serviços de engenharia, equipamentos urbanos tecnologicamente mais avançados, melhor treinamento e capacitação da mão de obra empregada. Outros aspectos peculiares ao Brasil se somam, ainda, para a composição do famigerado Custo Brasil. O preço da tarifa cobrada pela energia elétrica sofreu um aumento real (acima da inflação do período) de pelo menos 100%. A ABRACE, entidade setorial, critica o conjunto de encargos que recai sobre o setor: “A maioria desses encargos não está relacionada diretamente à atividade energética”, diz o porta-voz da entidade, Fernando Úmbria. Como exemplo disto: o encargo denominado Conta de Consumo de Combustível — CCC cobrado nas tarifas de distribuição e nas de uso dos sistemas elétricos de distribuição e transmissão e pago por todas as empresas concessionárias. Foi criado para cobrir a diferença de custo da geração de energia na Região Norte, que depende da energia termelétrica, mais cara que a energia hidrelétrica. A ABRACE calcula que somente a incidência de impostos como o Reserva Global de Reversão — RGR pode representar o pagamento de R$3 bilhões pelos consumidores residenciais e industriais. 233 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Por fim, estamos cansados de ouvir conceitos como “desindustrialização à brasileira”, caracterizada pelo esvaziamento tecnológico das cadeias produtivas. É um conceito que surge a partir do recente e peculiar perfil de desenvolvimento econômico adotado pelo Brasil, que induz à transferência de fábricas do Brasil para outros países com permanência de parte da produção no País, porém apenas nas fases finais. A consequência disto é que a indústria nacional deixa de atuar justamente nas etapas produtivas que mais concentram e demandam capacitação tecnológica. Os elos posicionados no meio da cadeia encolhem ou são perdidos e quem está na ponta se dedica a procedimentos industriais mínimos. A doença brasileira está na perda de conteúdo tecnológico, efeito colateral da enxurrada de dólares vinda de capital especulativo e da venda de commodities agrícolas, atualmente supervalorizadas no mercado internacional. Pesam ainda todos os entraves à competitividade que compõem o Custo Brasil, como a alta carga tributária, péssima infraestrutura e elevados custos de produção, mão de obra de baixa escolaridade média e altos encargos para sua contratação. Com estes dados, aparentemente, assistimos ao início, no Brasil, de uma longa marcha de regresso ao passado primário exportador dos tempos pré-Volta Redonda. Muito obrigado. 234 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra, pela ordem, ao Deputado Cleber Verde. O SR. CLEBER VERDE (Bloco/PRB-MA. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado. Sr. Presidente. Sras. e Srs. Deputados, a Ministra-Chefe da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e a Ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, participaram na manhã de hoje de palestras realizadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária — INCRA no Estado do Maranhão. A intenção do Governo Federal é fazer uma parceria com o Governo do Estado para beneficiar principalmente as comunidades de quilombos. O Maranhão possui muitos assentamentos, e é séria a questão fundiária no Estado. Portanto, espero que essa parceria, uma iniciativa do Governo Federal, com o Governo do Estado venha a garantir, acima de tudo, a regularização fundiária das terras de quilombos e, principalmente, a assistência às comunidades quilombolas no Estado do Maranhão. Agradeço ao Governo Federal a presença no Estado e espero que essa parceria realmente traga benefícios às comunidades quilombolas do nosso Estado. Muito obrigado, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Muito obrigado, Deputado Cleber Verde. 235 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra, pela ordem, ao Deputado Osmar Terra, do PMDB do Rio Grande do Sul. O SR. OSMAR TERRA (PMDB-RS. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Deputados, gostaria de falar mais uma vez sobre um tema recorrente: as drogas, que se avolumam no País. Tenho visto, com muito pesar, fotos e relatos recentes sobre o assunto. A nossa Comissão Especial de Política Públicas e Combate às Drogas visitou a cracolândia da cidade de São Paulo. As cracolândias, que se espalham por todo o País, são na verdade a ponta do iceberg. Tenho informações de que a Secretaria Nacional Antidrogas está realizando pesquisas em relação às cracolândias, mas é impossível chegar a uma ideia ou obter dados reais da situação do crack e das drogas no Brasil apenas a partir das cracolândias — elas são a ponta do iceberg. No entanto, pelas cracolândias, podemos deduzir como está o resto. É inadmissível que os Governos, Federal, Estaduais ou Municipais — não estou falando com nenhum viés partidário —, deixem acontecer aquele espetáculo horroroso, triste, uma decadência humana, que está acontecendo no centro de São Paulo. São milhares de pessoas se drogando o tempo todo, sem nenhuma resposta do Governo, sem que o Governo tome uma atitude. É lamentável, Sr. Presidente. Como brasileiro, médico e pessoa interessada na saúde pública, lamento que aquilo seja permitido que aconteça, como está sendo feito. Aliás, com a criação de um campo, em nome não sei de quê — não pode ser em nome dos direitos humanos —, de uso livre de drogas, das piores que se pode usar no Brasil. 236 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Eu acho que o Rio de Janeiro apontou um caminho e está tomando uma atitude. Falta São Paulo agir. O Rio de Janeiro está levando crianças e uma série de pessoas a fazerem tratamento, ainda que seja compulsório, pois elas não têm capacidade de decidir; seus cérebros estão transtornados. Elas não têm a capacidade de discernir nada. Precisam ser levadas, sim, a tratamento, e deve-se insistir nisso. A cracolândia de São Paulo está crescendo. E em outros Estados, começam a aparecer cracolândias. Porém, nada se faz para enfrentar o problema. Quero, Sr. Presidente, manifestar minha indignação cada vez que vejo fotos e filmes, cada vez que ouço falar do assunto, e não vejo nenhuma atitude por parte dos Governos. Era o que tinha a dizer. Muito obrigado, Sr. Presidente. 237 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra, pela ordem, ao Deputado Paulo Piau, do PMDB de Minas Gerais. O SR. PAULO PIAU (PMDB-MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero fazer menção à crítica feita pelo Deputado Roberto de Lucena, que me antecedeu, ao Supremo Tribunal Federal e à crítica feita por alguns Deputados ao ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso de que ele fez apologia à liberação da maconha. Eu tive a oportunidade de participar da CPI do Narcotráfico nesta Casa. Aliás, seis Estados brasileiros também instalaram CPIs semelhantes. Nós pudemos analisar muito bem o tema e sua complexidade. Fico pensando na ingenuidade deste País, que assinou o chamado Acordo Quadro Internacional, convênio para diminuir o consumo de cigarros. Esse acordo até visa a acabar no País com a cultura do fumo, uma droga lícita. Se pararmos de produzir fumo neste País, sendo lícito o consumo de cigarro, o que vamos fazer? Importar. Vejam que incoerência. Eu não fumo. Na verdade, quero que todos os brasileiros deixem de fumar, que o povo de todo o mundo deixe de fumar, porque, como se trata de um vício, estraga a saúde. Mas fico a pensar: como é que alguém pode fazer apologia ao plantio da maconha se estamos querendo acabar com o plantio de fumo? Acho que isso não faz sentido. É uma incoerência, uma infantilidade, uma ingenuidade a toda prova. Se queremos acabar com o fumo, por que vamos permitir o plantio da maconha? Sei que se trata de uma discussão que passa, evidentemente, pela análise de toda a sociedade. Mas começa com a liberação de marchas e, como disse o 238 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Deputado Osmar Terra, com áreas de livre consumo de crack, por exemplo, uma droga pesada que destrói ainda mais a saúde. Quero chamar a atenção dos brasileiros para uma reflexão, para que tomemos uma atitude de fato. É inconcebível este País fazer apologia ao plantio da maconha. Há alternativas, sim. Acho que no futuro poderemos até pensar em alternativas para o próprio fumo. Hoje, não! Hoje defendemos o plantio de fumo pelos produtores do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e, sobretudo, do Paraná. Não é possível que haja esta substituição automática. Até mesmo os Estados Unidos e a Colômbia fazem culturas alternativas. Esta é apenas uma reflexão. Trata-se de um assunto que nem deveríamos permitir que se falasse aqui: o plantio de maconha neste País, algo terminantemente proibido, fazendo-se um comparativo com a cultura de fumo no nosso País. Sr. Presidente, quero deixar esta posição bastante clara e realista em relação a quem realmente entrou no submundo do crime. Sabemos que o tráfico de drogas é hoje o centro do crime organizado no mundo, e evidentemente no Brasil. A discussão é válida, mas fico preocupado quando o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso faz apologia à liberação da maconha, ou quando o Supremo Tribunal Federal libera a Marcha da Maconha. São passos que vamos dando para a inserção de uma droga, na minha opinião, destruidora da juventude e de famílias. Não podemos admitir, como brasileiros, tamanha barbaridade de permitir o plantio desta droga no nosso País. Muito obrigado. 239 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra, pela ordem, à Deputada Erika Kokay, do PT do Distrito Federal. A SRA. ERIKA KOKAY (PT-DF. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, acompanhei de perto — e, com certeza, V.Exa. também — o que aconteceu no Distrito Federal no que diz respeito à absoluta ausência de ética e à promiscuidade que se estabeleceu entre o público e o privado. Em vários setores das políticas públicas, vemos que houve a entrega do Estado. O Estado, fatiado, foi colocado sobre a mesa e entregue, aos bifes, aos interesses empresariais. Por isso, à época em que estava na Câmara Legislativa, tivemos todo o empenho em aprovar um projeto que impediria as empresas de Deputados e de seus familiares de concorrer ou contratar com o Estado. Portanto, sinto-me extremamente triste ao ver que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Legislativa arquivou — ou não deu prosseguimento — o projeto que tramitava naquela Casa, de autoria do então Deputado Rogério Ulysses. Penso, Sr. Presidente, que chegou a hora de tentarmos moralizar, ou de fato moralizarmos, o poder público. Não podemos mais permitir que as famílias ou as empresas, ao perceberem que têm dificuldades econômicas e financeiras, decidam lançar candidatos seus filhos, seus parentes, seus sócios. Eles se lançam candidatos com o único objetivo de resolver os problemas financeiros das próprias empresas. Trata-se de candidaturas urdidas não pela luta, não pela defesa de projetos, quaisquer que sejam, porque a democracia permite a existência de todos, mas 240 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 candidaturas apêndices de planilhas de custo, candidaturas urdidas para se resolverem os problemas financeiros dessas empresas. Este projeto visava estabelecer essa moralização, até porque vimos cenas que não gostaríamos de ter visto, diante do que ficou conhecido como Operação Caixa de Pandora no Distrito Federal. Vimos contratos emergenciais serem, ano após ano, renovados. Vimos contratos de empresas de prestação de serviços, por exemplo, serem loteados e fatiados para diversas empresas. É como se presenciássemos, Sr. Presidente, a existência de uma capitania hereditária pós-moderna. Por isso, é extremamente lamentável a posição adotada pela maioria naquela Comissão. Ressalte-se como exceção o voto do Deputado Chico Leite, que votou ou se posicionou a favor do prosseguimento da matéria. Mas a maioria da Comissão de Constituição e Justiça daquela Casa decidiu arquivar esse projeto, decidiu dar um aval para que continue existindo esse tipo de procedimento, esse tipo de postura, que lesa a moral e a ética da nossa cidade. Diria que precisamos ter Brasília de volta. Essa cidade, pensada, sonhada, fruto de um traço mágico; essa cidade que seria funcional e lúdica, segundo Lúcio Costa, precisaria ser devolvida para as pessoas que aqui moram. Nesse sentido, Sr. Presidente, inclusive na perspectiva de moralizar o serviço público e de moralizar a postura do Estado, apresentei um projeto nesta Casa para que tenhamos os mesmos critérios do Ficha Limpa no que se refere à ocupação de cargos comissionados. Temos critérios definidos que estabelecem o mínimo para a vida pregressa, a moral, a ética, para que haja a disputa nas urnas, mas esse critério não está dado para ocupação de cargos comissionados. 241 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 Veja bem, quando se estabelece uma candidatura, ela ainda passa pelo crivo absolutamente fundamental e democrático da própria população. O crivo das urnas está dado, mas em cargos comissionados há apenas a vontade e a decisão do governante. Por isso, apresentei projeto nesse sentido, que está tramitando nesta Casa. Deveríamos ter critérios rígidos, que já existem inclusive para aqueles que querem pleitear um mandato eletivo. Que esses critérios também sejam válidos para a ocupação de cargos comissionados. Creio que esta Casa, aprovando projetos desta natureza, terá avançado, e muito, na perspectiva de que não tenhamos mais que conviver com o Estado vergado pela lógica patrimonialista, com o Estado vergado pela lógica empresarial. O Estado, diz a nossa Constituição, tem que ser um retrato da vontade do próprio povo, e existe para servir o próprio povo. O objetivo do Estado, em todas as suas esferas, é fazer com que as pessoas sejam vistas como pessoas e sejam eivadas de uma lógica e de uma vivência e convivência com a dignidade humana. Não vamos fazer isso enquanto o Estado estiver à mercê de interesses empresariais e privados. Era isso, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Parabenizo V.Exa. Sei que V.Exa. apresentou também um projeto semelhante ao que apresentei. Esse que foi votado ontem é do Deputado Rogério Ulysses. Parabenizo V.Exa. pelo projeto semelhante ao Ficha Limpa para os cargos comissionados. De fato, V.Exa. tem razão e conta com todo o meu apoio nesta Casa. 242 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 VII - ENCERRAMENTO O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a sessão. 243 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - COMPARECEM MAIS OS SRS.: 244 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 DEIXAM DE COMPARECER OS SRS.: 245 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Encerro a sessão, convocando para sexta-feira, dia 24 de junho, às 9 horas, sessão ordinária de debates. 246 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Número Sessão: 162.1.54.O Data: 22/6/2011 REDAÇÃO FINAL Tipo: Ordinária - CD Montagem: 4176 (Encerra-se a sessão às 17 horas e 27 minutos.) 247