Nutrição e Adubação da Seringueira Prof. Dr. Renato de Mello Prado Doutorando Rilner Alves Flores Depto. de Solos e Adubos, Unesp Câmpus Jaboticabal Maio - 2010 Nutrição mineral Calagem Adubação de formação de mudas Adubação de plantio Adubação de formação e produção Nutrição Mineral • Importância do estudo da Nutrição de Plantas; • Os nutrientes das plantas são provenientes de três sistemas, sendo eles: Ar, Água e Solo • Cerca de 92% da matéria seca das plantas provém dos sistemas Ar e Água; • Apenas 8% da matéria seca das plantas provém do sistema Solo; • Importância Qualitativamente do sistema Solo. Funções dos Nutrientes Tabela 1. Principais funções dos macronutrientes (Malavolta, 1980). N Função Importante no metabolismo como composto orgânico; estrutural Compostos Aminoácidos e proteínas, aminas, amidas, aminoaçúcares, purinas e pirimidinas, alcalóides.Coenzinas, vitaminas, pigmentos P Armazenamento e transferência de energia; estrutural Ésteres de carboidratos, nucleotídeos, e ácidos nucléicos, coenzimas, fosfolipídios. Abertura e fechamento de estômatos, síntese e estabilidade de proteínas, relações osmóticas, síntese de carboidratos Ativação enzimática, parede celular, permeabilidade. Ativação enzimática, estabilidade de ribossomos, fotossíntese. Grupo ativo de enzimas e coenzimas. Predomina em forma desconhecidos. Nutriente K Ca Mg S iônica, compostos Pectato de cálcio, fitato, carbonato Oxalato Clorofila Cisteína, cistina, metionina Glutatione, glicosídios e coenzimas. e taurina, sulfolipídios, Funções dos Nutrientes Tabela 2. Principais funções dos micronutrientes (Malavolta, 1980). Nutriente Funções Compostos Borato; Compostos desconhecidos B Transporte de carboidratos Coordenação com fenóis Cl Fotossíntese Cloreto; Compostos desconhecidos Cu Enzima Fotossíntese Polifenoloxidase; plastocianina, Azurina, estelacianina; umecianina Fé Grupo ativo em enzimas e em transportadores de elétrons Citrocromos, ferredoxina, catalase, peroxidase, reductase de nitrato, nitrogenase; reductase de sulfito Manganina Mn Fotossíntese, metabolismo de ácidos orgânicos Mo Fixação do N2, redução do NO3- Reductase de nitrato; nitrogenase Zn Enzimas Anidrase carbônica, aldolase Absorção e movimento dos nutrientes nas plantas • A absorção de um nutriente é a sua entrada na planta; • Translocação; • Redistribuição; Absorção de Nutrientes Formas de nutrientes absorvidas pelas plantas (Malavolta, 1980). Nutriente Preferencial Eventual Nitrogênio Fósforo Potássio Cálcio Magnésio Enxofre Boro Cloro Cobre Ferro Manganês Molibdênio Zinco NO3H2PO4K+ Ca++ Mg++ SO4- H3BO3 ClCu++ Fe+++ Mn++ MoO4-Zn++ NH4+ HPO4- - H2BO3- Fe++ Absorção de Nutrientes Tabela 4. Participação relativa da Interceptação radicular, do fluxo de massa e da difusão no contato nutriente-raiz (Malavolta, 1980). Elemento Formas de Contato Interceptação Fluxo de massa Difusão N Pequena Predominante Ausente P Pequena Pequena Predominante K Pequena Média Predominante Ca Média Predominante Ausente Mg Pequena Predominante Ausente S Pequena Predominante Ausente B Pequena Predominante Ausente Cu Pequena Predominante Ausente Fé Pequena Predominante Média Mn Pequena Predominante Ausente Mo Pequena Predominante Ausente Zn Média Média Média Movimento dos Nutrientes • É no movimento de redistribuição que ocorrem diferenças quanto à mobilidade dos nutrientes. Tabela 5. Mobilidade dos nutrientes aplicados nas folhas (Malavolta, 1980). Altamente móvel Móvel Parcialmente imóvel Imóvel Nitrogênio Fósforo Zinco Boro Potássio Cloro Cobre Cálcio Sódio Enxofre Manganês Magnésio Ferro Molibdênio • O aspecto de mobilidade é de fundamental importância na nutrição das plantas, principalmente nas perenes, que recebem adubação de forma localizada e exploram o mesmo volume de solo por vários anos. Marcha de acúmulo dos nutrientes Acúmulo de nutrientes em função da idade de mudas de seringueiras N K P Ca S Mg Viégas et al. (1992) Acúmulo de nutrientes em função da idade de mudas de seringueiras Fe Mn Zn B Viégas et al. (1992) Conteúdo de alguns macronutrientes nos produtos colhidos de seringueira (produção média 1-1,5 t ha-1) Produto N P K S 10,0 - kg t-1 Borracha seca 11,0 2,3 Raij e Cantarella (1997) Se a exigência nutricional da planta não for atendida •Deficiência nutricional Deficiência nutricional • Levantamento estado nutricional 40 seringais (SP) • As produtividades mais elevadas de alguns seringais foram associadas com níveis mais altos de N e K nas folhas. • Não ocorreram deficiências visíveis de Ca e Mg, porém os baixos níveis de P tanto nas folhas como nos solos possivelmente estejam afetando a produtividade. (Bataglia, 1988) • Deficiência nutricional • Como comprovar se o problema na cultura é de natureza nutricional? Se a exigência nutricional da planta não for atendida • Deficiência nutricional • Como seria a evolução do distúrbio nutricional? • Como seria os sintomas nas plantas? Sintomas de Deficiência de Nutrientes Seqüência de eventos biológicos que conduzem aos sintomas visíveis de deficiência de zinco (Malavolta et al., 1997). Falta ou excesso Alteração molecular Deficiência de Zn <A.I.A. > Hidrólise de proteínas Modificação subcelular Paredes celulares mais rígidas < proteínas Alteração celular Células menores e em menor número Modificação no tecido (= SINTOMA) Internódios mais curtos Sintomas de Deficiência de Nutrientes Princípios gerais para a diagnose visual de desordens nutricionais (Marschner, 1986). Parte da planta Diagnose visual Desordem Nutricional Sintomas de deficiência nutricional Uniforme Clorose Folhas velhas e maduras Necrose Internerval ou em manchas Mg (Mn) Secamento da ponta e margens Internerval K Mg(Mn) Uniforme Folhas novas lâminas e ápices Clorose N (S) Internerval ou em Manchas Necrose(clorose) Deformação Fe(S) Zn(Mn) Ca, B, Cu Mo (Zn, B) Sintomas de toxidez nutricional Necrose Folhas velhas e maduras Clorose (necrose) Manchas Secamento da ponta e margens Mn (B) B, injúrias por sais Pulverização Toxidez não específica Deficiência de Nitrogênio (N) É o nutriente mais importante da planta e responsável pelo crescimento e Clorofila. A falta desse elemento na seringueira apresenta primeiramente uma coloração verde-amarelo-pálida das folhas. Sintoma de deficiência de nitrogênio nas folhas velhas. Deficiência de Fósforo (P) É essencial para a divisão celular, fotossíntese e tecido meristemático da planta. A falta provoca um bronzeamento na parte apical da folha e de forma não muito clara. Em geral, começa do ápice, que depois se torna queimado e enrolado para dentro. Sintoma de deficiência de fósforo nas folhas velhas. Deficiência de Potássio (K) A falta de potássio provoca uma clorose na borda e no ápice da folha, seguida por uma necrose marginal. Sintoma de deficiência de K nas folhas velhas. Deficiência de Cálcio (Ca) Os sintomas são nas folhas do lançamento superior e em casos mais graves, nos próprios brotos. Sintoma de deficiência de Ca nas folhas novas. Deficiência de Cálcio (Ca) Deficiência de Magnésio (Mg) Os primeiros sintomas da falta de Mg são caracterizados por uma clorose internerval nas folhas, que evolui depois para o interior delas, formando um desenho parecido com uma espinha de peixe. Sintoma de deficiência de Mg nas folhas velhas. Deficiência de Enxofre (S) A deficiência provoca o surgimento de um gradativo amarelamento uniforme de na folha, que depois pode se transforma num chamuscamento da ponta que pode afetar toda a parte distal. Sintoma de deficiência de S nas folhas novas. Deficiência de Boro (B) O boro é um elemento impar entre os nutrientes, por haver diferenças mínimas entre a concentração adequada e tóxica. Para a seringueira, a falta dele resulta numa redução e distorção das folhas, e as nervuras parecem mais largas. Não existe perda de cor nesse caso. Sintoma de deficiência de B nas folhas novas. Deficiência de Boro (B) Sintoma de deficiência de boro nas folhas novas. Deficiência de Boro (B) Sintoma de deficiência de boro nas folhas novas. Deficiência de Cobre (Cu) A falta desse elemento na seringueira apresenta-se primeiramente nas folhas mais novas, com murchamento da borda na ponta da folha com abaulamento para cima. Na murcha desenvolve-se um chamuscado castanho que pode se espalhar para a lamina debaixo e ocorrer e desfoliação precoce. Deficiência de Cu nas folhas novas. Deficiência de Ferro (Fe) Com o tempo a folha assume um colorido amarelo e branco, com redução de tamanho. Deficiência Fe nas folhas novas Deficiência de Manganês (Mn) O sintoma na seringueira apresenta-se com o uma palidez e amarelamento da folha com faixas de tecidos verde circundando a nervura mediana e nervuras principais. Esses sintomas aparecem primeiro nas folhas das regiões médias e interior das hastes, e quando severo, pode se agravar para os lançamentos superiores. Sintoma de deficiência de Mn nas folhas novas. Deficiência de Molibdênio (Mo) É importante no processo de fixação do N pela bactéria do solo. Na seringueira, a falta provoca um chamuscamento castanho ao redor da folha, especialmente na região da ponta. Sintoma de deficiência de Mo nas folhas novas. Deficiência de Zinco (Zn) Sua falta na seringueira caracteriza-se pela redução da largura da lamina foliar, em relação ao seu comprimento. A lamina também pode ficar retorcida e surgir uma clorose generalizada na folha. Sintoma de deficiência de Zn nas folhas novas. Estado Nutricional • Importância de estudos sobre a diagnose foliar de Seringueiras; • O diagnóstico do estado nutricional como parâmetro para a recomendação da adubação ou ajuste, com reflexos diretos na produtividade e lucratividade; • Formulação de um Padrão do estado nutricional das seringueiras; • Variações existentes entre espécies e intra-espécies para a generalização dos padrões. Amostragem da folha-diagnose Critérios para a coleta da folha-diagnose: Tipo de Folha; • Época de Coleta; • Número de Folhas por Talhão. • Amostragem da folha-diagnose Idade da Planta Árvores de até 4 anos Árvores com mais de 4 anos Procedimentos Retirar 2 folhas mais desenvolvidas da base de um buquê terminal situado no exterior da copa e em plena luz. Retirar 2 folhas mais desenvolvidas no último lançamento maduro em ramos baixos na copa em áreas sombreadas Em todos os casos, realizar uma amostragem de 25 plantas no verão. (Raij e Cantarella, 1997) Procedimentos no Campo Os procedimentos que devem ser seguidos para a amostragem de folhas no campo é semelhante ao descrito no caso da amostragem de solo (Prado, 2008). Caminhamento em ziguezague; Caminhamento em nível; Evitar plantas próximas de estradas ou carreadores; Procedimentos no Campo Não se deve proceder a amostragem de folhas nas seguintes condições: Plantas com sinais de pragas e moléstias; Glebas que receberam adubação há menos de 30 dias ou defensivos; Variedades diferentes; Tecidos mortos ou com danos; Não misturar folhas com diferentes idades; Evitar coletar folhas após ocorrência de alta precipitação; Em culturas perenes não misturar ramos produtivos com ramos não produtivos; Teores de Nutrientes Faixa de teores adequados de macronutrientes e de micronutrientes em seringueira em produção Fase N P K ____________________________ Em produção 29-35 B Mg 10-17 0,7-0,9 1,7-2,5 Cu Fe Mn Zn 10-15 S g kg-1 ________________________________ 1,6-2,5 _______________________ Em produção 20-70 Ca 1,8-2,6 mg kg-1______________________ 50-120 40-150 20-40 (Raij e Cantarella 1997) Adubação da Seringueira "A adubação mineral é o mais importante fator de aumento da produtividade agrícola" (Raij, 1992). Potencial tecnológico disponível para atingir os objetivos de uma agricultura moderna e competitiva. Adubação da Seringueira A adubação não é uma prática isolada que afeta a produção. Deve ser avaliada em conjunto de outras práticas que também afetam a produção e, por conseguinte, conduzem a uma maior necessidade de nutrientes. a calagem; a irrigação; o controle de pragas, doenças e plantas invasoras; o uso de variedades mais produtivas; o manejo eficiente do solo, etc. Adubação da Seringueira necessidade de conhecer as interações a fim de que toda a potencialidade dos adubos possa ser traduzida em produção. A calagem constitui o fator principal para garantir a maior eficiência da adubação Adubação da Seringueira A baixa produtividade (<1,0 t ha-1) associadas a solos com acidez mais elevada (V = 27%), (Bataglia et al., 1988) A calagem é recomendada para elevar V a 50% no Estado de São Paulo (Cardoso, 1992) Roque et al. (2004), a produtividade máxima esteve associada à saturação por bases de 57% e teor foliar de Ca de 8 g kg-1. Adubação da Seringueira Aspectos que podem acarretar a falta de resposta à adubação: emprego de adubo incompatível com o solo ou a cultura; época incorreta de aplicação; localização inadequada do fertilizante; Adubação da Seringueira Aspectos que podem acarretar a falta de resposta à adubação: mistura mal preparada; quantidade inadequada; má qualidade do adubo; Adubação da Seringueira Aspectos que podem acarretar a falta de resposta à adubação: solos com alto poder de fixação; chuvas intensas e prolongadas; preparo inadequado do solo; problemas culturais; com plantio ou tratos Adubação da Seringueira Aspectos que podem acarretar a falta de resposta à adubação: sementes ou mudas de má qualidade; pragas e moléstias; temperatura, chuva de granizo, veranico, etc. Adubação da Seringueira Eficiência dos fertilizantes é outro fator responsável a falta de resposta da adubação. Adubos nitrogenados tem eficiência estimada em 60%; Adubos potássicos em 70%; Adubos fosfatados, 30-40% em geral. Adubação da Seringueira A lixiviação, no caso o N e o K, podem diminuir ao longo do tempo para o seringal devido ao sistema radicular abrangente e profundo da cultura. A alta capacidade de fixação de fósforo dos solos tropicais é a responsável pelo baixo aproveitamento do P dos fertilizantes pelas culturas. Aliado a isso, as diferentes metodologias usadas nas análises de solo, para a extração de P, refletem as dúvidas sobre o assunto. Adubação da Seringueira Supondo a aplicação de 1 kg de adubo por planta, o custo sairá em torno de R$ 1,50/planta, de modo que ela precisa produzir pelo menos 1 kg a mais de látex por planta para compensar essa adubação. “Uma boa seringueira normalmente produz 10 kg de látex por ano. Se com a adubação o produtor conseguir acrescentar 1 kg com essa adubação, já paga pela borracha produzida a mais”, Bataglia Adubação na formação de mudas Preparo do substrato Adubação na formação de mudas Adubação na formação de mudas Preparo do substrato é feito dividindo-se em 3 partes de solo: 1 parte de esterco curtido; 2,5 a 3,0 kg de superfosfato simples; 0,5 kg de cloreto de potássio por metro cúbico. Em sistemas de semeadura indireta, que utilizam sementeiras, é recomendado aplicar (incorporado ao solo): 5-10 kg de esterco de curral curtido; 100 g de superfosfato simples; 50 g de cloreto de potássio por metro quadrado de canteiro. Adubação na formação de mudas Adubação de cobertura em mudas de seringueira. Adubação no solo Adubação foliar g por planta g.100 L-1 da mistura (50g de uréia + 25g 275g de sulfato de zinco, MAP de sulfato de manganês e + potássio). 35g cloreto de de cal hidratada. Aplicar adubação no solo aos 60; 120 e 180 dias após o transplantio e, nessa mesma épocas aplicar micronutrientes via adubação foliar. Adubação na formação de mudas Pereira et al. (1993) concluíram para produção de mudas de seringueira em sacos plásticos, usando como substrato o solo, as doses de NK (200 ppm) e P (70 ppm), promoveram desenvolvimento adequado das plantas até a época necessária para o seu plantio no campo. Moreira et al. (2006) verificaram que o nível crítico de B na folha de mudas de seringueira, alcançado com aplicação de ácido bórico, é de 31,8 mg kg-1. Adubação da Seringueira Adubação de plantio Incorporar na cova 30 g de P2O5, 30 g de K2O e, em solos deficientes de zinco (teor de Zn < 0,6 mg dm-3 em DTPA), 5 g de Zn. Quando disponível, usar 20 L de esterco de bovino curtido Adubação da Seringueira Adubação de (primeiro ano) pós-plantio Bataglia e Gonçalves et al. (1997) Aplicar nitrogênio em cobertura, em 3 parcelas de 30 g por planta durante o primeiro ano. Adubação de formação e produção Recomendação da adubação de produção em função da análise química do solo Idade Nitrogênio K+ trocável, mmolc dm-3 P resina 0-12 >12 P2O5, kg ha-1 0-1,5 >1,5 anos N, kg ha-1 K2O, kg ha-1 2-3 40 40 20 40 20 4-6 60 60 30 60 30 7-15 60 50 30 60 30 >16 50 40 20 50 30 (Bataglia e Gonçalves et al., 1997) Adubação de formação e produção Época e modo de aplicação dos fertilizantes Metade da adubação no início e metade no fim das águas, distribuídas ao redor das árvores (Bataglia e Gonçalves et al., 1997) Obrigado [email protected]