Ministério da Saúde Departamento de Saúde Pública Março de 2009 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência Chave de siglas e abreviaturas ACES Agrupamentos de Centros de Saúde ARSN Administração Regional de Saúde do Norte BK Bacilo de Kock CDC Centers for Disease Control and Prevention DSP Departamento de Saúde Pública GDH Grupo Diagnóstico Homogéneo INE Instituto Nacional de Estatística INS Inquérito Nacional de Saúde IO Investigação Operacional M&A Monitorização e Avaliação OMS Organização Mundial de Saúde ONUSIDA NUTS Programa conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/sida Nomenclatura das Unidades Territoriais PNV Programa Nacional de Vacinação PNS Plano Nacional de Saúde 2004-2010 PQA Programa da Qualidade da Água SI SIDA TB TOD USAID Sistema de Informação Síndrome de Imunodeficiência Adquirida Tuberculose Toma Observada Directa United States Agency for International Development UVE Unidade de Vigilância Epidemiológica VIH Vírus da Imunodeficiência Humana i Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência ii Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência I. INTRODUÇÃO / ENQUADRAMENTO A mudança organizacional em curso nos serviços de saúde leva a que, em alguns deles, como por exemplo nos hospitais, a orçamentação das actividades através de orçamentos-programa seja uma realidade já com um percurso de alguns anos. O princípio do financiamento baseado no desempenho irá, progressivamente, abranger os restantes serviços, pois, como sabemos, os recursos são escassos e têm de ser distribuídos de acordo com as necessidades. Nos serviços de saúde pública, a nível local ou regional, esta virá a ser uma realidade a muito curto prazo. Os serviços de saúde pública, ao nível local (Unidades de Saúde Pública - USP dos Agrupamentos de Centros de Saúde - ACES ou Unidades Locais de Saúde -ULS) e regional (Departamento de Saúde Pública -DSP da Administração Regional de Saúde do Norte - ARSN, I.P.), não vão escapar a estas premissas, e vão ter de demonstrar a efectividade dos seus programas e projectos, assim como das actividades fora destes. O DSP da ARSN, I.P., através do Plano de Acção 2009-2010 propôs que para a monitorização dos outputs/outcomes e avaliação (passos 4 e 5 do ciclo de planeamento) fosse desenvolvida uma ferramenta de Monitorização e Avaliação (M&A) que desse resposta às seguinte questões: Como sabemos que a mudança está a ser efectuada? (monitorização dos outputs) Conseguimos efectuar a mudança? (outcomes e impacto) O que é que aprendemos? O documento “Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde – Termos de Referência”, assim como o respectivo “Guia do Utilizador”, pretendem fornecer essa ferramenta para ser aplicada aos programas de saúde nas USP e DSP de forma a facilitar um futuro trabalho de orçamentação dos mesmos, com a finalidade última de uma futura contratualização. Será um percurso de aprendizagem, para estarmos preparados para contrapor evidência técnica, se formos confrontados com eventuais “cortes” orçamentais futuros. Para que isto aconteça é necessário que, em todos os programas e projectos: Os objectivos estejam claramente definidos; As actividades estejam bem definidas, agregadas em áreas de prestação de serviços e relacionadas com os objectivos; Os indicadores estejam seleccionados, as metas fixadas e os progressos (ou avanços) sejam apresentados periodicamente. É necessário definir um conjunto de indicadores, acordados previamente com os responsáveis das áreas de prestação de serviços e com os gestores dos programas e projectos, seleccionados de entre todos os indicadores disponíveis. A informação deve ser colhida, idealmente e sempre que possível, nos Sistemas de Informação (SI) existentes, sem provocar sobrecarga adicional, para o que se poderão criar “plataformas” sistematizadas de recolha de informação, que permitam abranger 1 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência vários programas e projectos. Se, eventualmente, for necessário obter informação adicional, serão criados outros SI. Para dimensionar a evolução da cobertura das populações com serviços de qualidade, é necessário recolher regularmente informação sobre a população abrangida e sobre a oferta de serviços e de recursos humanos qualificados. A médio prazo (um a cinco anos) deve-se garantir que sejam medidas a avaliação do impacto, as mudanças de comportamento e a percentagem dos grupos-alvo que foram abrangidos pelos serviços. II. MONITORIZAÇÃO E AVALIAÇÃO (M&A) 1. Definição de conceitos O quadro conceptual que se utiliza com maior frequência para a selecção de indicadores num plano de M&A é 1: CONTEXTO Factores externos ao programa (ambientais, culturais, políticos e socio-económicos) INPUT PROCESSO OUTPUT OUTCOME IMPACTO Recursos básicos necessários Actividades Resultados ao nível do programa (medição das Resultados ao nível da população alvo Efeitos finais do projecto a longo prazo Comportamentos, boas práticas Incidência, prevalência, morbilidade, mortalidade Políticas, pessoas, dinheiro, equipamentos Formação, logística, gestão, informação e comunicação actividades do programa) Serviços, utilização dos serviços, conhecimentos Monitorização / Avaliação de processo Outcome / Avaliação do Impacto Os diferentes tipos de indicadores que se utilizam na M&A dos diferentes programas e projectos não são iguais, mas estão ligados entre si, de forma a atingir as finalidades e objectivos que são necessários alcançar num programa específico. Para que um programa ou projecto alcance os objectivos definidos, os inputs como por exemplo o dinheiro, o pessoal disponível, os equipamentos e fornecimentos adquiridos, devem gerar resultados directos ou outputs, como por exemplo, entrega de medicamentos, pessoal com formação, material informativo, entre outros. Estes 1 A guide to monitoring and evaluation for collaborative TB/HIV activities, WHO, 2004 2 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência resultados são alcançados através de processos específicos, que são actividades efectuadas na realização do programa ou projecto, com uma determinada sequência e tempo. Se estes resultados forem conseguidos e atingirem as populações a que se destinam, o programa ou projecto vai ter resultados indirectos ou outcomes positivos a curto e médio prazo. Estes resultados positivos estarão a condicionar mudanças de impacto a longo prazo nas populações alvo. Avaliar o impacto de um programa requer um grande investimento e, por vezes, é difícil determinar em que medida os programas, por si só, ou os componentes individuais dos programas, contribuem para a redução total de casos de doença ou para uma maior esperança de vida. De forma a estabelecer uma relação causa-efeito para uma determinada intervenção pode ser necessário realizar estudos experimentais que permitam demonstrar o impacto. 1.1. Monitorização A monitorização é o seguimento de rotina dos elementos-chave do desenvolvimento de um programa ou projecto (habitualmente através dos inputs, processos e outputs), mediante a manutenção de registos, informações periódicas e sistemas de vigilância, assim como através de observações nos serviços de saúde e/ou inquéritos. A monitorização é utilizada para avaliar em que medida as metas planeadas estão a ser atempadamente atingidas. A monitorização ajuda os gestores dos programas e projectos a determinar, com regularidade, que áreas exigem mais esforço de intervenção e a identificar aquelas que poderão contribuir para atingir uma resposta mais adequada. É muito importante seleccionar um conjunto limitado de indicadores, para que os gestores e executores dos programas ou projectos os possam utilizar na tomada de decisão, pois existe uma tendência para construir múltiplos indicadores, levando esta informação a níveis onde não é possível utilizá-la. À monitorização está sempre associada uma noção de regularidade (medições ao longo do tempo) e de comparabilidade (daí a necessidade de dados fiáveis e rigorosos). O número de indicadores necessários como informação deve diminuir, para o mesmo programa ou projecto, do nível local para o regional. 1.2. Avaliação A avaliação é a quantificação periódica da mudança nos resultados alcançados em cada programa ou projecto. Ou seja, a avaliação tenta estabelecer uma relação directa entre um determinado output ou outcome com uma intervenção, depois de decorrido um determinado período de tempo. 3 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência A avaliação permite aos gestores determinar a eficácia ou a validade de um programa ou projecto específico. A avaliação deve também relacionar os outputs do programa ou projecto com as tendências nacionais sobre as mudanças de comportamento no problema de saúde em intervenção, assim como no impacto das doenças com ele relacionadas. A avaliação é, ainda, usada para reequacionar os programas, se necessário, e para informar decisões sobre futuras dotações em termos de inputs. No entanto, e sempre que possível, a avaliação deve aproveitar dados e inquéritos disponíveis que sejam utilizados regularmente, a nível local ou regional. A avaliação é mais difícil devido ao maior rigor metodológico que exige. Sem esse rigor pode chegarse a conclusões erradas sobre o valor de um programa ou projecto. É também mais onerosa, em especial a avaliação de resultado e de impacto que, muitas vezes, necessita de inquéritos a nível populacional ou outros desenhos de investigação mais rigorosos. 1.3. O conceito de M&A A M&A é a utilização colectiva das ciências sociais e da metodologia de investigação epidemiológica para avaliar e, eventualmente melhorar a implementação dos programas ou de componentes dos programas2. O objectivo global da M&A é medir a eficácia dos programas, identificar as áreas-problema, aprender com os erros e melhorar o desempenho global. Em conjunto, a monitorização e a avaliação demonstram o impacto que os recursos e as actividades dos programas tiveram no alcance das metas programadas. Fornecem aos gestores e decisores informação relevante para a acção, e, a partir da M&A, está frequentemente disponível informação de qualidade. A informação deve ser cuidadosamente seleccionada e deve ser analisada e apresentada de forma acessível, compreensível, consistente e coerente, de acordo com o público-alvo a que se destina. 1.4. Indicadores Um indicador é uma variável usada para medir o progresso em relação aos objectivos e metas definidos, permitindo aos gestores comparar os resultados face aos padrões vigentes3. É uma medida específica do desenvolvimento de um programa que é acompanhada ao longo do tempo através de um sistema de monitorização. Os indicadores são normalmente seleccionados e as metas definidas durante o processo de planeamento de um programa. A escolha dos indicadores dependerá também dos serviços que estão a ser prestados e da capacidade de implementar um sistema de M&A. Os indicadores seleccionados 2 3 Rossi P, Freeman H. Evaluation: a systematic approach. Newbury Park, CA, Sage Publications, 1993 A guide to monitoring and evaluation for collaborative TB/HIV activities, WHO, 2004 4 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência devem: ser válidos, fiáveis, específicos, sensíveis, operacionais, acessíveis, viáveis, mensuráveis e comparáveis4. Na M&A de um programa ou projecto devem ser utilizados indicadores-mestre (ou indicadoreschave). Estes indicadores-mestre são instrumentos valiosos para a comparação de um mesmo indicador entre diferentes populações e para uma análise da evolução de um programa ou projecto. Permitem ainda orientar os recursos para zonas ou populações com maiores necessidades, e a identificar áreas onde é necessária uma intensificação ou redução de esforços, melhorando a efectividade do programa. 2. Metodologia de recolha de dados A frequência da produção de informação depende do nível que os indicadores ocupam na estrutura conceptual de M&A, devendo ter em conta que é necessário um determinado tempo para que ocorra uma mudança esperada. É especialmente importante incluir uma recolha de dados de rotina com controlo regular (de três em três meses, de seis em seis meses ou anualmente) e planear, numa fase inicial, inquéritos de M&A de 1 a 3 anos, para serem aplicados a longo prazo. No Quadro 1 sugere-se a seguinte periodicidade para a recolha da informação necessária à construção de indicadores de M&A e no Quadro 2 abordam-se os principais instrumentos de medida utilizados numa ferramenta de M&A: Quadro 1: Frequências sugeridas para a recolha de informação Nível do indicador Frequência recomendada para a recolha de dados Estrutura/ processo (Inputs) Contínuo Resultados Directos (Outputs) Trimestral, semestral ou anual Resultados Indirectos (Outcomes) De 1 a 3 anos Impacto De 2 a 5 anos Exemplos de métodos de recolha de dados Estatística dos serviços saúde Inquéritos em serviços saúde Programa de monitorização Estatística dos serviços saúde Inquéritos em serviços saúde Programa de monitorização Inquéritos populacionais Inquéritos em serviços saúde Estudos especiais Vigilância Inquéritos populacionais Estudos especiais 4 Adaptado do Development of health programme evaluation: report by the Director-General. Geneva, WHO, 1978 5 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência Quadro 2: Instrumentos de medida5 Instrumentos de medida Estatísticas dos serviços de saúde Inquéritos nos serviços de saúde Métodos qualitativos Investigação operacional Características principais Recolha de dados de rotina nos serviços de saúde Vigilância do programa Exemplos de métodos de medição utilizados Dados registados em vários serviços de saúde Inquérito aplicado nos serviços de saúde para recolha de informação sobre nº de recursos humanos, equipamentos, instalações, medicamentos e tipo de serviços prestados Inquéritos em unidades (ex.:avaliação da prestação de serviços de VIH/sida) Determinam “o que é que existe” e “porque é que existe”em vez de “quanto existe”. Permitem que as pessoas exprimam as suas opiniões, pontos de vista ou experiências. O objectivo dos métodos qualitativos é entender a realidade segundo a perspectiva do grupo estudado sem impor uma estruturação prévia pelo investigador (Maier B. Gorgen, R. et aL 1995) Entrevistas aprofundadas (individuais, grupos de discussão, informadores-chave) A investigação operacional (IO) complementa o sistema de M&A. O objectivo principal da IO é fornecer aos gestores dos programas a informação necessária para desenvolver, melhorar ou alargar os programas. Enquanto a avaliação incide sobre se uma mudança nos resultados pode ser atribuída a um programa, a IO incide em saber se o programa é o correcto, ou o melhor, para atingir os resultados desejados. Exemplos de IO: Mapeamento sobre a disponibilidade dos serviços Observação directa Técnica interactiva ou projectiva (comentários sobre poster, comentários sobre histórias, roleplay, entre outros) Adesão Acesso equitativo Custos Ligação entre prevenção e tratamento Modelos de intervenção distintos A IO é um processo prático e sistemático para identificar e resolver problemas relacionados com os programas. 5 Vigilância de um “sítio” sentinela Recolha de informação sobre a prevalência de doenças em populações que são mais ou menos representativas da população geral (como as mulheres grávidas) ou/ assim como populações consideradas com alto risco de infecção e transmissão Serovigilância do VIH em mulheres grávidas ou em grupos identificados com comportamentos de risco Inquérito Nacional de Saúde Inquéritos de tipo populacional Um inquérito baseado numa amostra da população alvo ou da população em geral, tem como objectivo representar as características, comportamentos e práticas dessa população. Requer um tamanho suficiente para representar a população em geral, e para ser analisada em subgrupos por idade, sexo, região e populações alvo. Inquérito Nacional em Meio Escolar – 3º ciclo e secundário Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Portuguesa Monitoring and Evaluation Toolkit: HIV/AIDS, Tuberculosis, and Malaria, WHO, 2006 6 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência III. ELEMENTOS BÁSICOS DE M&A 1. Contributos para a implementação e fortalecimento de um programa de monitorização e avaliação Já foram efectuados avanços importantes na área da M&A, mas a maior parte desta actividade realizou-se de uma forma vertical e isolada, sem comparação dos resultados com outros existentes no nível operacional. A utilidade da maior parte das medições que se efectuam pode perder-se, se não existir um sistema de M&A coerente, que se implemente para captar informação necessária sobre diferentes situações e que abranja utilizadores de diferentes níveis. 1.1. Compatibilização entre os dados locais e regionais, os dados normalizados e o sistema de informação Existe o risco de separar os sistemas de M&A segundo as doenças, os financiadores e o tipo de programa, o que origina uma ausência de dados unificados, de sistemas compatíveis em tecnologias de informação ou de plataformas de informação comuns. Um sistema de M&A integrado (único), completo e coerente apresenta várias vantagens: Contribui para o uso mais eficaz da informação e dos recursos assegurando, por exemplo, que os indicadores e as metodologias de amostragem são comparáveis ao longo do tempo e reduzindo a duplicação de esforços. Dado que os recursos para a recolha de dados são limitados, será vantajoso utilizar um número limitado de estudos de alta qualidade em larga escala, em vez de um número infinito de avaliações para fins específicos, mas que não são comparáveis. Dá resposta às necessidades a diferentes níveis, incluindo gestores de programas e projectos, investigadores e financiadores, eliminando a necessidade de que cada um destes repita estudos de referência ou de avaliação quando podem facilmente utilizar a informação existente. Torna os dados básicos de M&A disponíveis de uma forma transparente e do domínio público. 7 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência 1.2. Diferenças na monitorização e avaliação nos diferentes níveis (local, regional e nacional) A monitorização e avaliação são necessárias em todos os níveis, pelas vantagens que oferecem: Fomentam a coordenação e comunicação entre os diferentes grupos, o que pode originar um trabalho mais eficiente (através da partilha do planeamento, execução, análise e divulgação da informação) Fortalecem o sistema de informação A M&A ao nível regional dirige-se normalmente para os inputs e outputs dos programas e para a execução, de modo a avaliar se esta se desenvolve ou não de acordo com o programa regional. A avaliação dos serviços de saúde, como parte de uma supervisão de rotina, serve para proporcionar informação sobre a qualidade dos cuidados de saúde ou sobre a disponibilidade e utilização dos serviços. Assim como os dados locais são extremamente importantes para a M&A do plano regional, também a informação regional o é para a M&A do plano nacional, desde que sigam orientações nacionais, de forma a permitir a combinação uniforme de diferentes tipos de dados e a sua posterior comparação a níveis de intervenção geo-demográfica diferentes. O desenvolvimento e fortalecimento dos Sistemas de Informação de Gestão em Saúde são um pré-requisito para a monitorização dos programas. Existe uma oportunidade de fortalecer a informação conjunta sobre saúde e sistemas de monitorização. Um SI de gestão em saúde que se desenvolva de uma forma efectiva, proporciona uma base sólida para avaliar programas, conduz a um melhor planeamento e facilita a tomada de decisões prioritárias (como, por exemplo, como afectar novos recursos para obter os melhores resultados). 1.3. Que características deve ter um bom sistema de M&A? As regiões ou países têm diferentes necessidades em M&A, as quais são condicionadas quer pelo estadio dos problemas de saúde (por exemplo “carga da doença”, “peso do factor de risco”, entre outros) quer pela organização dos serviços de saúde. No Quadro 3 podemos ver quais são as características nas quais deve estar alicerçado um bom sistema de M&A. 8 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência Quadro 3: Características de um bom sistema de M&A6 UNIDADE DE M&A OBJECTIVOS CLAROS INDICADORES RECOLHA E ANÁLISE DE DADOS COMUNICAÇÃO DOS DADOS ESTUDOS ESPECIAIS 6 Uma unidade de M&A dentro do Serviço de Saúde Pública deve possuir pessoal técnico e de gestão de dados designado. Directrizes e orientações de M&A para os níveis regional e local. Um orçamento próprio, com valores entre 5 a 10% dos orçamentos dos programas (7% como média de referência). Um grupo de trabalho multisectorial para atingir um consenso sobre a selecção de indicadores, o desenho e a execução da M&A. Ter conhecimentos nas áreas de epidemiologia, ciências sociais e do comportamento, processamento de dados e métodos estatísticos, comunicação da informação e acompanhamento dos custos (em termos financeiros). Programas ou projectos regionais bem definidos com objectivos, metas e planos operacionais claros. Os planos regionais de M&A devem ser revistos cada 3-5 anos e os planos operacionais de M&A devem actualizar-se anualmente. Revisões/avaliações periódicas do progresso da execução dos programas comparados com as metas. Conjunto de indicadores prioritários e indicadores adicionais nos distintos níveis de vigilância e avaliação. Indicadores fiáveis, comparáveis a todo o momento e com metas claras. Selecção de alguns indicadores-mestre que sejam comparáveis (a nível nacional e internacional). Recolha de dados e plano de análise dos mesmos ao nível regional, incluindo dados de garantia da qualidade. Existência de um plano para a recolha de dados e análise periódica dos indicadores. Existência de um plano de comunicação de dados ao nível regional, com conjuntos de dados básicos disponíveis de uma forma oportuna e transparente. A transparência é essencial para uma responsabilização real. Informação anual e divulgação apropriada. Reuniões anuais com os gestores e executores dos programas para analisar e divulgar os dados de M&A e outros resultados (eventualmente de investigações realizadas). Um centro coordenador responsável pela gestão e comunicação dos resultados. Uma base de dados centralizada onde se recolhem todos os dados agregados (incluindo investigações em curso), disponíveis de forma clara e pública. Seleccionar prioritariamente estudos de resultado ( outcomes) / avaliação. Incluir estudos qualitativos (controlo da qualidade) segundo as necessidades. Incluir estudos operacionais de investigação. Monitoring and Evaluation Toolkit: HIV/AIDS, Tuberculosis, and Malaria, WHO, 2006 9 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência IV. PERGUNTAS MAIS FREQUENTES 1. O que fornece a M&A de um programa? Proporciona informação: aos responsáveis pela gestão de um programa, pela vigilância da doença e a todos os profissionais que intervêm no controlo da doença; que fundamente, de forma quantificada, a tomada de decisão; quanto à manutenção, ou, pelo contrário, à alteração das estratégias de intervenção, actividades ou da organização de recursos, entre outras…; sobre os desvios encontrados relativamente aos objectivos traçados ou a outras medidas estimadas. 2. Como seleccionar os indicadores (a partir de uma lista básica)? Ao decidirmos por um conjunto de indicadores, não significa que se fique limitado a esta lista básica de indicadores. A escolha dos indicadores deve ser orientada pelas metas e objectivos do programa ou projecto. Quando os indicadores respondem às necessidades, recomenda-se que sejam estes os utilizados para assegurar uma estandardização da informação ao longo do tempo e comparável a vários níveis. Os indicadores-mestre devem ser experimentados e testados de forma a ver se fornecem informação útil e válida. A M&A deve ser simplificada e reportar apenas a um conjunto mínimo e estandardizado de indicadores. Apresenta-se, de seguida, um conjunto de princípios orientadores para eleger o conjunto mais adequado de indicadores e de instrumentos para a recolha de dados: Utilizar um quadro conceptual de M&A que permita obter uma interpretação correcta dos resultados. Assegurar que os indicadores estão relacionados com as metas e objectivos e que possam medir as mudanças ao longo do programa. Assegurar a utilização de indicadores-mestre, sempre que possível, com a finalidade de efectuar comparações ao longo do tempo e entre grupos populacionais. Assegurar que os indicadores se referem às actividades definidas, as quais são identificadas pelo programa. Tentar definir uma carteira básica de actividades proporcionada pelo programa e pelos grupos alvo. Considerar os custos e a fiabilidade da recolha dos dados e a análise dos mesmos. Manter o número de indicadores no valor mínimo necessário, com referência específica ao nível do sistema que os requer, (regional ou local), para a sua utilização na tomada de decisão de gestão e planeamento. 10 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência Mais tarde, podem sempre identificar-se ou colher-se indicadores adicionais para a gestão do programa ou projecto. Para relatórios internacionais recomenda-se um número mínimo de indicadores-mestre, comparáveis internacionalmente. Não necessitam reflectir as etapas iniciais como, por exemplo, recursos e processo, mas sim focalizar-se nos resultados directos (outputs) e indirectos (outcomes) alcançados através dos serviços proporcionados. 3. O planeamento da recolha de dados requer estratégias diferentes para indicadores diferentes? Os custos, dificuldades e a capacidade para recolher informação vão, normalmente, crescendo à medida que os indicadores passam de indicadores de estrutura ( inputs) para indicadores de resultado (outputs) e, por fim, de impacto. É conveniente que a recolha de dados para construir estes indicadores se desenvolva de forma centralizada, através de sistemas de informação de saúde de rotina, sempre que estes existam, e sejam funcionais. Os gestores dos programas devem aproveitar para, aquando do financiamento, fortalecer os sistemas de vigilância e informação em saúde de forma a terem acesso à informação necessária sobre os programas de saúde em curso. Para além disso, se os programas ou projectos estabelecem os seus próprios componentes de M&A, uma das primeiras etapas será a sinergia com outros projectos que se realizam na mesma área geográfica, de forma a reduzir sobreposições de sistemas de informação paralelos e a rentabilizar dados que sejam comuns, software e indicadores (sempre que tal seja possível). Para muitos indicadores de outcome e impacto, os dados recolhem-se a partir de uma base populacional, com custos mais elevados e com maior dificuldade, requerendo maiores conhecimentos em metodologia de investigação. As medidas de outcome são, geralmente, mais difíceis devido à sensibilidade e especificidade de cada indicador. No entanto, os programas podem aproveitar os inquéritos em curso ou outros sistemas de informação já implementados. 4. Que parte do orçamento total do programa deve destinar-se à M&A? É necessário um sistema de M&A para garantir que os recursos estão a ser bem utilizados. Por isso, recomenda-se que seja utilizado para a M&A entre 5 a 10% do orçamento do programa (aceita-se, normalmente, 7%). Os financiadores são cada vez mais da opinião de que a M&A deve ter um financiamento próprio, de forma a garantir que a informação relacionada com o programa ou projecto possa ser recolhida, divulgada e utilizada permitindo, assim, o desenvolvimento de sistemas coerentes e não apenas de iniciativas pontuais. 11 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência 5. Como optimizar a utilização de dados? O objectivo final da recolha de dados é garantir que, rapidamente, a informação seja incluída no processo de tomada de decisão. A informação é uma ferramenta muito poderosa para a advocacia da saúde, no sentido de fomentar acções, gerar recursos, responsabilizar, melhorar o desenho dos programas e incorporar mudanças em determinadas intervenções ou, ainda, para reorientar os programas. Com base nas lições de aprendizagem dos últimos anos, os passos que a seguir se destacam vão ajudar na optimização da informação: Produzir informação de qualidade. Isto requer investimentos importantes no processo de recolha de dados; Avaliar como os dados vão ser utilizados e dispor deles de uma forma ágil e transparente; Identificar quem são os utilizadores finais e apresentar o pacote de dados segundo as necessidades, incidindo num número mínimo de indicadores para cada nível; Criar mecanismos para que o sistema de utilização de dados seja eficiente, incluindo feed-back (através de supervisão) a todos os níveis, e com a certeza de que os dados fornecidos num determinado nível são pertinentes e necessários a esse nível; Garantir a gestão no processo de recolha de dados, querendo isto significar que devem ser fortalecidas as capacidades regionais e locais de M&A, a fim de garantir a uniformidade e qualidade dos dados dentro de uma matriz sustentável; Assegurar a criação de um grupo de apoio de M&A com a presença dos principais parceiros (unidade funcionais dos ACES, departamentos da ARS, outras instituições, sociedade civil, etc.), de forma a melhorar a aceitabilidade dos dados, a fim de orientar estratégias regionais de M&A; Alocar os recursos suficientes para o desenvolvimento e execução de um plano de utilização de dados; Assegurar que os dados se utilizem tão amplamente quanto possível, estejam disponíveis de forma transparente e sejam do domínio público. 6. Que lições aprendemos com os sistemas de M&A de sucesso? Para se obter sustentabilidade num sistema de M&A, o mais importante é que os dados sejam usados nas decisões de gestão e de financiamento. Lista de ensinamentos-chave: Os sistemas de M&A devem ser o mais simples possível. A maioria dos programas e projectos obtêm muito mais dados do que aqueles que utilizam. Quanto mais complexo for o sistema de 12 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência M&A, maior a probabilidade de fracasso. É importante que os dados sejam utilizados na tomada de decisão. Os sistemas de M&A devem incluir um conjunto standard de ferramentas para a recolha e análise dos dados. A necessidade de um conjunto básico de ferramentas não impede que os responsáveis dos programas recolham dados adicionais de M&A referidos a situações específicas. Um bom processo de M&A requer uma auto-avaliação interna e uma verificação externa. Não obstante os executores terem o dever de recolher e verificar a sua própria informação, deve existir um organismo externo que verifique a precisão e a integridade da informação recolhida pelos executores do programa. A supervisão deve basear-se na análise da autoavaliação (interna) e nos dados submetidos à avaliação externa. A recolha, validação, introdução e análise dos dados básicos de M&A deve ser feita por uma entidade especializada. A M&A deve estar pensada desde o início do desenho dos programas e estar integrada desde o início do mesmo. É muito mais difícil e menos eficaz adaptar a M&A quando o processo já está em execução. Os dados regionais são importantes para a recolha de dados a nível nacional, já que podem ser agregados até este nível. Não obstante, para os gestores dos programas os dados regionais têm uma importãncia maior na tomada diária de decisões. Os dados devem estar disponíveis de uma forma clara e transparente e, sempre que possível, ser do domínio público. A M&A deve promover a utilização destes dados. Por muito sólido que seja um sistema de M&A, tem de existir uma forte aceitação por todas as partes interessadas, senão o sistema está votado ao fracasso. 7. Como simplificar a M&A e o fornecimento de informação para os financiadores? Nos planos local e regional existem vários sistemas e mecanismos de recolha de dados de forma a serem distribuídos fluxos de recursos que permitem alimentar a gestão diária dos programas e projectos. Os financiadores interessam-se, normalmente, por um pequeno número de indicadores, a ponta do iceberg, para garantir que os programas abrangem as pessoas que deles necessitam através dos serviços específicos. De uma maneira geral, os financiadores devem ter informação sobre poucos indicadores para cada área de prestação de serviços, para mostrar, por exemplo, o número de pessoas abrangidas pelo programa, o número de serviços apoiados ou o número de pessoas que receberam formação. O financiamento baseado no desempenho centra-se normalmente em 5 a 10 indicadores, com informação recolhida de um total de 15 indicadores. 13 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência A avaliação do desempenho permite, não só, assegurar que o financiamento está a ser correctamente utilizado, mas também fornecer uma plataforma para os diferentes programas comunicarem evidência sobre o seu progresso, interna e externamente, e manter a sustentabilidade do financiamento (fundamentar a sua continuação). Os indicadores a fornecer aos financiadores devem ser um conjunto simplificado, dentro dos indicadores presentes no plano global de monitorização e avaliação. V. CONCLUSÕES Os termos de referência sobre monitorização e avaliação dos programas e projectos de saúde aqui apresentados pretendem ser uma primeira abordagem ao tema, que irá permitir, a curto prazo, uma redefinição e agregação dos indicadores do desenvolvimento dos programas em curso nos serviços de saúde pública ao nível local e regional, com a perspectiva de alargamento aos novos programas que entretanto se forem desenvolvendo. Para apoio aos gestores e executores dos programas e projectos existe, como complemento a este documento, um Guia do Utilizador para a M&A dos programas de saúde, onde são delineadas as etapas para a sua construção. O objectivo final de uma ferramenta de M&A é contribuir para o uso mais eficaz da informação e dos recursos e dar resposta às necessidades de informação nos diferentes níveis de utilização. A informação regular sobre a população abrangida, os serviços reforçados e os profissionais capacitados nas suas actividades, vão contribuir para que as populações sejam servidas por serviços de qualidade. A médio prazo deve ser garantida e execução de uma avaliação de impacto e de mudança de comportamentos, assim como a existência de conhecimento sobre que percentagens os grupos-alvo irão ser abrangidos pelos serviços. Com uma ferramenta de M&A os gestores ficam capacitados para participar na definição de um sistema de informação que lhes permita obter indicadores para um planeamento e uma avaliação eficazes, assim como adquirir as bases de um instrumento de negociação e contratualização dos serviços a desenvolver. 14 Monitorização e Avaliação dos Programas de Saúde - Termos de Referência Bibliografia [1] A guide to monitoring and evaluation for collaborative TB/HIV activities – Stop TB Department and Department of HIV/AIDS, WHO, 2004 [2] Compendium of Indicators for Monitoring and Evaluation National Tuberculosis Programs – WHO, 2004 [3] Development of Health Programme Evaluation: report by the Director-General – Geneva, WHO, 1978 [4] Global Fund –Monitoring and Evaluation Manual - The Global Fund to Fight AIDS, Tuberculosis and Malaria, 2008 [5] Global Fund –Monitoring and Evaluation Toolkit – HIV/AIDS, Tuberculosis and Malaria, 2006 [6] Imperatori, E. – mais de 1001 Conceitos para melhorar a qualidade dos Serviços de saúde – Glossário, 1999 [7] Imperatori, E. ; Giraldes, M.R. – Metodologia do planeamento em saúde – manual para uso em serviços centrais, regionais e locais, 1993 [8] MNE, Ministério dos Negócios Estrangeiros – Glossário de Avaliação e de Gestão centrada nos resultados, Instituto de Cooperação Portuguesa [9] NHS, Health Scotland – Leap for Health – Learning, Evaluation and Planning, 2003 [10] Orme,J.; Powell,J.; Taylor,P. and Gray,M. – Public health for the 21st century – New perspectives on Policy, Participation and practice, 2003 [11] Organization Panamericana de la Salud – Manual de Monitoreo de la Ejecución de Proyectos – Oficina Regional da OMS, 1999 [12] Rossi P., Freeman H. – Evaluation: a systematic approach. 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