As energias renováveis já são um grande negócio
Rainer Stumpf
Jornalista especialista em ciência e meio ambiente do Deutschland Magazine
Fonte: Revista ECO 21/Rede A3P
A energia é o tema atual: seja o governo alemão, a União Européia ou o G-8, todos estão discutindo
sobre as energias do futuro
O Sol brilha mais para a indústria solar alemã. O setor fatura três bilhões de Euros. Os mercados
crescem 20% por ano e a bolsa premia as perspectivas com seguidas cotações recordes. A maior
empresa do setor, SolarWorld AG, tornou-se líder do mercado nos Estados Unidos ao assumir a
produção de fotocélulas da Shell. Entretanto, uma nota sobre a incorporação pode mudar
radicalmente o mercado de energia solar. A Shell teria vendido sua produção de fotocélulas de
silício porque o futuro da energia solar se concentraria em novas tecnologias - mais precisamente
em módulos de película fina. "Esta tecnologia sem silício, provavelmente se tornará mais
competitiva do que as soluções solares tradicionais baseadas no silício", declarou o porta-voz do
conglomerado.
Os módulos de película fina se baseiam em outras tecnologias, que requerem muito menos matériaprima. Eles oferecem muitas possibilidades para baratear a produção. Com isso, as células de silício
da primeira geração estão cada vez mais sob pressão da concorrência das células de película fina da
segunda geração. A empresa berlinense Sulfurcell pretende, até 2010, produzir módulos de película
fina pela metade do custo atual. Assim, os fornecedores de células de silício não teriam mais como
concorrer, acredita o executivo Nikolaus Meyer.
Os módulos de película fina também são especialmente atraentes porque a oferta do silício
necessário às células tradicionais tende a reduzir-se, afirma o diretor de negócios para a Europa da
Uni-Solar, Claas Helmke. Isto porque o silício usado em fotocélulas é, geralmente, sobra da
produção de silício de alto valor para a fabricação de chips de computadores. Produzir mais silício,
quase não vale a pena, diz Helmke. Problemas de oferta deste tipo não atingem os fabricantes de
módulos de película fina.
Porta-voz da Schott Solar, Lars Waldmann vê ainda outra vantagem nos módulos de película fina:
eles têm muito mais aplicações. Os módulos semitransparentes da Schott podem, por exemplo, ser
empregados em prédios sobre as tradicionais vidraças. Os módulos flexíveis da Uni-Solar podem
ser instalados em superfícies sobre as quais as rígidas células cristalinas quebrariam, tais como
telhados metálicos flexíveis.
Os módulos de película fina também têm uma desvantagem: sua eficiência, ou seja, a parcela de
energia contida na luz que é transformada em eletricidade pelo módulo é de apenas 6% a 7%,
enquanto nas fotocélulas tradicionais ela fica em torno de 15%. Portanto, o custo mais baixo de
produção por quilowatt só é atingido quando a superfície necessária não tiver importância.
Entretanto, a fabricante japonesa Mitsubishi Heavy já desenvolveu módulos de película fina com
eficiência de 12%. E pesquisadores já deram mais um passo adiante. O Instituto Fraunhofer de
Sistema de Energia Solar está desenvolvendo módulos da terceira geração. Estes são compostos por
três fotocélulas superpostas, que absorvem de forma otimizada ondas de luz de diferentes
freqüências. Eles alcançam um rendimento de 25%. Uma filial do Instituto de Freiburg, a empresa
Concentrix, pretende lançar os primeiros módulos no mercado em dois anos.
Do moinho de vento à liderança mundial
A energia eólica está explodindo de tanta força na Alemanha. Há capacidade instalada no País para
a produção eólica de 18 mil megawatts: um recorde mundial. Cerca de um terço dos aerogeradores
de todo o mundo e metade das turbinas eólicas da União Européia, giram na Alemanha. De 1998 a
2005, o número triplicou para 17.574. Somente em 2004, o uso da energia eólica poupou a emissão
de 21,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono na Alemanha. Com 26,5 bilhões de quilowattshora, a energia eólica deu, no ano passado, a maior contribuição ao abastecimento de eletricidade
entre as fontes renováveis. A produção equivaleu a quase o dobro da eletricidade consumida por
Berlim num ano.
O setor industrial alemão de energia eólica também coleciona recordes. As agendas de pedidos de
empresas como Enercon, Repower Systems e Nordex estão lotadas. Aerogeradores "Made in
Germany" são cobiçados internacionalmente. Cerca da metade do volume do mercado mundial,
superior a 12 bilhões de Euros, coube em 2005 à indústria eólica alemã. O setor se tornou também
uma fábrica de empregos. De 2002 a 2005, o número de empregados quase duplicou para 60 mil.
No futuro, será necessário ainda mais mão-de-obra. Em 2008, nos mares do Norte e Báltico,
começa a construção de mais de 30 parques eólicos em alto-mar. No ano de 2030, eles deverão
fornecer até 25 mil megawatts.
Do tonel para o tanque
A biomassa está florescendo. Somente em 2005, surgiram na Alemanha 800 novas usinas de biogás.
No ano passado quase dez bilhões de quilowatts-hora de eletricidade foram gerados a partir de
biomassa - quatro bilhões de quilowatts-hora a mais do que no ano anterior. A fatia da biomassa no
abastecimento de energia cresce a grande velocidade. Segundo estimativas do Ministério Federal do
Meio Ambiente, 10% do total da eletricidade e 20% da calefação na Alemanha, já nas próximas
décadas, serão produzidas por biomassa.
O aterro sanitário de Gelsenkirchen é uma das maiores montanhas de lixo da Europa - e uma
abundante fonte de energia. Os resíduos orgânicos fermentam ali e fornecem o biogás que alimenta
uma usina de cogeração de eletricidade e calor própria. Atualmente três mil residências de
Gelsenkirchen são abastecidas com eletricidade gerada diretamente pelo lixo.
Seja esgoto, estrume, serragem ou restos vegetais, nenhuma outra fonte de energia renovável tem
sua matéria-prima no lixo e é tão efetiva e flexível como a biomassa. Dela se pode obter tanto
combustível quanto calor e eletricidade. Não apenas o lixo: outras matérias-primas cultiváveis,
como madeira, beterraba açucareira, colza e cana, são excelentes fontes de energia. Ao contrário do
petróleo e do gás natural, a biomassa reduz a emissão de gases de Efeito Estufa, está sempre
disponível e independe do vento e das condições do tempo.
Combustível agrícola
Serão os agricultores de hoje os vencedores do futuro? Quem conhece a empresa Choren Industries,
só pode responder com um "sim". Afinal a empresa leste alemã de Freiberg, na Saxônia, quer
investir, juntamente com o conglomerado petrolífero Shell, centenas de milhões de euros para
produzir o "SunDiesel". A base deste combustível ecologicamente correto é a biomassa, sobretudo
madeira, palha e resíduos da agricultura. Somente uma usina experimental, planejada para 2007,
deverá produzir anualmente 16,5 milhões de litros de combustível, a partir de 67 mil toneladas de
biomassa.
A partir de 2008, planeja-se a produção de "SunDiesel" em cinco grandes usinas. A comercialização
será assumida pela Shell, parceira da Choren.
De fato está surgindo assim um novo mercado para a agricultura na Alemanha. É, sobretudo, o meio
ambiente que lucra com isso, pois este combustível agrícola líquido produz de 30 por cento a 50 por
cento menos gases do que o diesel fóssil, não tem alcatrão, é biodegradável e tido como neutro em
gás carbônico. Em sua queima, a emissão de gases do efeito estufa corresponde à quantidade
absorvida pelas plantas, que lhe deram origem, durante seu crescimento. Não é de se admirar que o
"SunDiesel" seja apontado como o combustível diesel mais limpo do Planeta.
Esta revolução no tanque é possível através do processo Carbo-V. Nesse processo, patenteado pela
Choren, a biomassa é gaseificada e, através da adição de outras substâncias, nasce o produto final.
Com sua invenção, o fundador da Choren, Bodo Wolf, convenceu, além da Shell, também as
montadoras Daimler-Chrysler e Volkswagen. Ambas as empresas apóiam a Choren em sua
pesquisa.
A partir de 2007, também a DaimlerChrysler irá empregar este combustível. Todos os novos
modelos diesel serão entregues com "SunDiesel" no tanque.
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