MÍDIA, TECNOLOGIA E A INTERFACE COM A EDUCAÇÃO A
DISTÂNCIA
Elda Alves Oliveira Ivo
Universidade Católica de Brasília
[email protected]
Sandra Mara Bessa Ferreira
Universidade Católica de Brasília
[email protected]
Samuel Brauer Nascimento
Universidade Católica de Brasília
[email protected]
RESUMO: Há importantes considerações a serem utilizadas para análise das
interfaces da Mídia, tecnologia e o processo educacional brasileiro, auxiliando o
desvelar, em seus aspectos práticos e críticos, da Educação a Distância (EAD).
Nesse artigo, reconhecemos a importância de investigar novas posturas que
signifiquem o repensar dos referenciais teóricos e metodológicos que norteiam os
cursos de graduação, na modalidade a distância, o que é fundamental para uma
reflexão mais ampla que leve em conta o contexto, os usos e os valores que lhe
são inerentes em perspectivas específicas. Nesse sentido, e diante do mundo
atual, em que a condição contemporânea evidencia a valorização exacerbada da
informação, e, portanto, acarreta novas formas de organização do trabalho, das
relações sociais e políticas, é necessária e inevitável a articulação do mundial e do
local, com a valorização das diversidades nos diferentes contextos. Isso,
obviamente, vai incidir nos usos da linguagem no contexto social e educativo,
ampliados significativamente pelas mudanças que, ao promoverem a
transformação das relações sociais e a diversificação das práticas pedagógicas,
exigem do professor/tutor e do aluno na educação a distância, novos
conhecimentos e habilidades para lidar com as múltiplas linguagens, nos
diferentes contextos sociais. Daí a percepção de que a grande expansão na área
da Educação a distância abre novas possibilidades e oportunidades, além de
profissionais qualificados para fazer a mediação entre os conteúdos oferecidos
pelas instituições de ensino e os alunos. Portanto, conhecer e estar preparado
para lidar com as peculiaridades da Educação a distância, a utilização adequada
de todos os recursos disponíveis, a dialogicidade entre o aluno e o professor-tutor,
assegura uma aprendizagem significativa.
INTRODUÇÃO
A educação a distância tem respondido aos anseios de diferentes
segmentos populacionais por educação inicial e continuada de boa qualidade e de
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fácil acesso, especialmente para a redução do déficit educativo e para a formação
de profissionais já inseridos no mercado. São inúmeras as vantagens que propicia
por apresentar, para além do aspecto da democratização da educação, novas
formas e oportunidades de aprendizagem, em que se criam espaços virtuais de
interação, reorganizando de maneira flexível as dimensões espaciais e temporais
dos processos educacionais. Além disso, a educação a distância possibilita a
reinvenção da prática pedagógica do professor com base em uma maior
autonomia dos estudantes e no acesso às novas mídias.
De acordo com Moran (1994), a reflexão acerca do conhecimento, dentro
de uma perspectiva mais integral, está subjugada a um reducionismo racional e
exige um novo paradigma, o qual pressupõe educar sempre em uma visão de
totalidade. Nesse sentido, o conhecimento sobre a mente humana não é
fragmentado, mas interdependente, interligado, intersensorial e, como tal, deve ser
observado. A multiplicidade dos caminhos a serem percorridos tem um aspecto
em comum, que é basear-se no concreto, no sensível, no analógico, em direção
ao conceitual e ao abstrato. Isso possibilita a valorização do sensorial como
elemento integrador de um conhecimento multidimensional, que perpassa os
aspectos intuitivos, afetivos e até racionais.
Nesse artigo, pretendemos analisar dados recentes do Censo da Educação
a Distância de 2010 e refletirmos sobre o uso de novas mídias e tecnologias na
educação superior, especialmente na educação a distância.
INTERFACES ENTRE MÍDIA, TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Atualmente, é fundamental destacar a relação entre os meios de
comunicação audiovisuais e o conhecimento, como elemento facilitador que
amplia a aprendizagem e, para além disso, evidencia outras formas e espaços de
comunicação. Tal abordagem parte de uma base social, e como a sociedade não
é homogênea, as mensagens também não poderão ser.
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Nesse sentido, o componente visual de um texto representa uma
mensagem organizada, bem como o texto verbal, e ambos são independentes,
com possibilidades e limitações próprias. Isso possibilita a compreensão das
idéias pelos interessados em comunicação, que poderão ver as imagens como
estrutura social e política, e não somente como representações estéticas e de
comunicação.
No que se refere às novas tecnologias de comunicação na formação
criativa de educadores brasileiros, no trabalho de Ozores & Fichmann, as autoras
introduzem o tema explicando que a proposta é auxiliar na introdução das
tecnologias de comunicação no sentido de favorecer os ambientes informatizados
e criativos de aprendizagem, cuja ênfase recai sobre o domínio e a utilização da
tecnologia como mais uma ferramenta pedagógica, no sentido de facilitar
mudanças diante das inabilidades da sociedade contemporânea em lidar com
essas mudanças.
É também neste artigo que as autoras destacam a necessidade do
envolvimento dos gestores no processo, como uma forma de amenizar o problema
e atenuar um cenário que, muitas vezes, menospreza os aspectos humanos e
relativos a uma atuação que, embora válida, não faça valer a pena. Desse modo,
o destaque para as sugestões de formas práticas de se ensinar habilidades
criativas, visando ao favorecimento da criatividade e da comunicação em todas
as instâncias de mudanças que levem à “equipe” e não ao “grupo de pessoas”.
Tudo isso sem desconsiderar que o educador é um comunicador atuando no
processo educacional, e ainda, que o processo de aprendizagem é respaldado por
essa relação de comunicação entre professor-aluno.
É preciso entender tal mudança e, a partir desse entendimento, iniciar a
construção adequada de um novo sistema de valores, porque novas maneiras de
pensar fazem-se necessárias nesse campo. Aprender não acontece apenas em
sala de aula ou sob a tutela do professor, mas está também ligado a processos
tecnológicos mais amplos, o que se coaduna com as novas paisagens destacadas
por autores que pesquisam sobre o assunto, em que novos enfoques estão
moldados pelas características intrínsecas e extrínsecas, pelas potencialidades do
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meio e suas demandas, e pelos valores e direcionamentos dados pelos alunos
nos seus trabalhos.
Nesse ponto, é importante ressaltar que a educação brasileira desconhece o
universo audiovisual em sua plenitude e eficiência, e, sobretudo, a tecnologia
como responsável pelas novas maneiras de comunicar, produzir, ensinar e
aprender. Isso explicita as implicações da nova paisagem que se delineia com o
lugar da informática educacional, com exposição da discrepância entre o que
acontece na escola – lugar onde ainda se verifica a substituição das tecnologias e
seus usos – e fora dela, quanto ao papel relevante que as tais tecnologias detêm
fora do contexto escolar, mediante a complexa interação com as instituições,
sobrepujando-o tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Apesar dessa
constatação, a avaliação das mídias utilizadas pelos alunos em cursos de EAD é
percentualmente positiva, como se pode ver no gráfico abaixo em que alunos
egressos de cursos avaliam tais mídias como boas ou muito boas:
Fonte: Censo EAD.br (2010)
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Ao tratar das empresas e a cultura tecnológica, com ênfase na internet, os
avanços e as universidades corporativas, Waisman (2002) delineia o cenário geral
das empresas que, no Brasil, trabalham com o treinamento a distância e analisa
os impactos dessa cultura tecnológica no ambiente corporativo. A autora destaca
que o paradigma do “homem plugado” do novo século define e mostra que não há
mais opção, portanto, isso muda no geral as regras da aprendizagem e os níveis
de trabalho do conhecimento por parte do “aluno”. As semioses necessitam ser
trabalhadas com outro enfoque, pois independem do facilitador e recaem no
interpretante ativo e dinâmico do processo de aprendizagem. Para a autora, diante
do respeito à cultura latina local, haverá um modelo que mesclará ensino
presencial e EAD, como forma de promover, integrar e criar comprometimento,
pois não seria adequado aos parâmetros empresarias de hoje subestimar o novo
contexto e suas implicações. O último censo da EAD comprova o uso dessas
mídias, como podemos ver no gráfico a seguir:
Fonte: Censo EAD.br (2010)
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Um panorama da EAD no mundo e no Brasil é apresentado por Alves
(2001), em seu artigo sobre a EAD e as novas tecnologias de informação e
aprendizagem. O autor destaca a pouca importância atribuída à EAD e,
consequentemente, a falta de incentivo governamental. No concernente aos meios
para o desenvolvimento da EAD, ele ressalta a importância de programas bem
definidos, de recursos humanos capacitados, a adequação do material didático e
enfatiza os cuidados com os meios apropriados para se levar o ensinamento,
desde os centros de produção até o aluno, afirmando que a conjugação de todas
as ferramentas é que possibilitará resultados positivos, sem jamais desconsiderar
a relevância do diagnóstico das necessidades discentes e locais. Desse modo,
alerta para o fato de que o êxito de tais programas está diretamente relacionado à
proposta, e, por sua vez, é resultante da confiabilidade e credibilidade no contexto
em que se insere. Na observação do autor, a falta de recursos humanos
capacitados ainda é um grande entrave para as iniciativas na EAD, com destaque
para a sua afirmação de que estamos diante de um paradoxo: de um lado as
dificuldades em aspectos organizacionais e humanos dos projetos; do outro, um
país que está na vanguarda nas telecomunicações.
A produção audiovisual no Brasil é tratada por Vieira (2004), no artigo sobre
a Mídia audiovisual, que aborda o fato de que os grandes investimentos
governamentais na área foram destinados aos grandes centros, acarretando um
atraso nas regiões mais afastadas no que se refere a uma maior produção
regional. A saída encontrada pela população foi criar programações regionais e
locais, que têm o respaldo de telespectadores fiéis e funcionários engajados, que
buscam reverter o quadro de precariedade decorrente de uma defasagem
histórica.
No texto acerca da Gestão e uso das mídias em projetos de Educação a
Distância, Kenski (2006) reflete sobre o uso de diferentes tipos de mídias em
projetos educacionais, e, mais especificamente, ao considerar que cada um dos
suportes midiáticos tem cuidados e formas específicas de tratamento, o que
acarreta diferentes maneiras de como se dá e como se faz a educação. Segundo
a autora, a escolha do suporte midiático define a modalidade de educação a
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distância, evidenciando planejamento e estrutura diferenciada dos projetos
realizados. Por intermédio dessas estruturas, de diferentes modos e em diferentes
tipos de relações, a equipe é treinada, são definidos os investimentos em infraestrutura tecnológica e delineadas as atividades. Deve haver uma consonância
entre a parte operacional, o perfil dos participantes e os objetivos estabelecidos,
bem como não podem ser desconsiderados aspectos como a interação e as
atividades comunicativas entre os alunos.
Nesse sentido, o uso de mídias cada vez mais interativas em educação tem
redimensionado a concepção de educação presencial e a distância, o que fica
evidente pelo uso exacerbado da Internet e dos ambientes virtuais de
aprendizagem, com o reforço de textos e atividades disponibilizados em CD-ROM,
apostilas impressas e websites. Assim, o contexto das mídias digitais desvela um
universo cada vez mais integrado de possibilidades, assegurando a implantação
de projetos educacionais para qualquer pessoa, em qualquer tempo e em
qualquer lugar, conforme assevera a autora. O Censo da EAD aponta o tipo de
apoio dado on-line considerando a situação jurídica das instituições como
podemos ver a seguir:
Fonte: Censo EAD.br (2010)
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Os diversos autores percorreram na coletânea um caminho inusitado, o que
foi justificado por eles de maneira explícita, ao apresentarem um esboço que ousa
tentar desvelar o significado das tecnologias para a EAD de forma pertinente, e
em consonância com o arcabouço teórico existente sobre a questão. De modo
geral asseguram que essas primeiras idéias buscaram proporcionar aos
interessados, a possibilidade de perceber na mídia, na tecnologia e no processo
educacional brasileiro, além do conhecimento teórico, as estruturas social e
política e as dimensões comunicativas subjacentes ao assunto.
Como trabalho inicial, ainda há muito a ser feito, conforme reconhecem os
próprios autores. Entretanto, ao tratarem das formas de intervenção pedagógica
que empregam tecnologias para a construção dos significados sociais,
apresentam um esboço teórico que auxilia na sustentação da análise da
aprendizagem no referido contexto. Por isso, contribuem grandemente para a
pesquisa social no que concerne à EAD, às potencialidades e às limitações das
semioses e aos aspectos pertinentes à tecnologia na era da multiplicidade
midiática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, mesmo sabendo que a Educação a distância marca
presença no Brasil desde séculos passados, é imprescindível reconhecer que é a
partir do uso da Internet na educação, que essa modalidade de ensino passa a
exigir qualificação rápida e mudança de paradigma por parte dos profissionais que
desempenham tarefas complexas da prática docente.
Os ambientes colaborativos de aprendizagem estão centrados no papel
ativo do sujeito (tutores alunos) dentro de um processo de reflexão na ação, de
interatividade e de colaboração entre os participantes, em um espaço de
discussão, informação e conteúdo. É preciso reconhecer que há aspectos
imprescindíveis ao êxito da
referida modalidade, em um cenário em que os
envolvidos e/ou interessados na Educação a distância não podem ficar alheios a
essas novas competências e habilidades, que exigem a utilização de recursos
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tecnológicos avançados, que garantem o auto-aprendizado do aluno, com base na
utilização de estratégias pedagógicas bem delineadas e refletidas.
Essa abordagem vai, pois, ao encontro da expectativa dos estudiosos e
apreciadores dessa modalidade de educação, haja vista que permite desenvolver
e refletir acerca dos limites e possibilidades profissionais na tutoria e docência a
distância, bem como suas formas de mediação pedagógica e tecnológica.
REFERÊNCIAS:
ABED. Censo EAD - Relatório analítico da aprendizagem a distância no Brasil.
2010
Disponível
em:
http://www.abed.org.br/censoead/CensoEaDbr0809_portugues.pdf. Acesso em: 30
set. 2011.
MORAN, J. M. Interferências dos meios de comunicação no nosso conhecimento.
Revista INTERCOM – Revista Brasileira de Comunicação. São Paulo, Vol. XVII, n.
2, Jul./Dez. 1994.
OZORES, E. P. ; FICHMAN, S. Novas tecnologias de comunicação na formação
criativa de educadores brasileiros. I Congresso Internacional sobre Comunicação e
Educação. São Paulo, 1998.
WAISMAN, T. As empresas no Brasil e a cultura tecnológica: a internet, os
avanços e as universidades corporativas. Escola do Futuro – USP, 2002.
ALVES, J. R. M. Educação a distância e as novas tecnologias de informação e
aprendizagem. 2001. Disponível em: http://www.engenheiro2001.org.br/programas
/980201a1.htm. Acesso em: 25 set. 2011.
VIEIRA, T. A. S. Mídia audiovisual – a experiência da TV Sudoeste no Paraná.
FADEP/UNISINOS.
2004.
Disponível
em:
http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/artigos/1373.html. Acesso em: 25
set. 2011.
KENSKI, V. M. Gestão e uso das mídias em projetos de educação a distância.
Revista E-curriculum. São Paulo, v. 1, n. 1, dez. –jul. 2006. Disponível em:
http://www.pucsp.br/ecurriculum. Acesso em: 25 set. 2011.
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