FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE
FACULDADE DE AGRONOMIA
MESTRADO EM PRODUÇÃO VEGETAL
SELETIVIDADE DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS UTILIZADOS
NA CULTURA DA SOJA AOS PARASITÓIDES DE OVOS Trichogramma
pretiosum (HYMENOPTERA: TRICHOGRAMMATIDAE) E Telenomus
remus (HYMENOPTERA: SCELIONIDAE) EM CONDIÇÕES DE
LABORATÓRIO
EDUARDO LIMA DO CARMO
Magister Scientiae
RIO VERDE
GOIÁS - BRASIL
2008
EDUARDO LIMA DO CARMO
SELETIVIDADE DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS UTILIZADOS
NA CULTURA DA SOJA AOS PARASITÓIDES DE OVOS Trichogramma
pretiosum (HYMENOPTERA: TRICHOGRAMMATIDAE) E Telenomus
remus (HYMENOPTERA: SCELIONIDAE) EM CONDIÇÕES DE
LABORATÓRIO
Dissertação apresentada à Fesurv - Universidade de
Rio Verde, como parte das exigências do Programa
de Pós-Graduação em Produção Vegetal, para a
obtenção do título de Magister Scientiae.
RIO VERDE
GOIÁS - BRASIL
2008
EDUARDO LIMA DO CARMO
SELETIVIDADE DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS UTILIZADOS
NA CULTURA DA SOJA AOS PARASITÓIDES DE OVOS Trichogramma
pretiosum (HYMENOPTERA: TRICHOGRAMMATIDAE) E Telenomus
remus (HYMENOPTERA: SCELIONIDAE) EM CONDIÇÕES DE
LABORATÓRIO
Dissertação apresentada à Fesurv - Universidade de Rio
Verde, como parte das exigências do Programa de PósGraduação em Produção Vegetal, para obtenção do título
de Magister Scientiae.
APROVAÇÃO: 22 de agosto de 2008
_______________________________________
Prof. Dra. Regiane Cristina O. de Freitas Bueno
(Membro da banca)
__________________________________
Prof. Dr. Marcelo da Costa Ferreira
(Membro da banca)
_______________________________________
Prof. Dr. Sergio de Oliveira Procópio
__________________________________
Prof. Dr. Alessandro Guerra da Silva
(Membro da banca)
(Membro da banca)
________________________________________
Prof. Dr. Adeney de Freitas Bueno
(Orientador)
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Rosário José do Carmo Neto e Celita Lima do Carmo, pelo apoio concedido
durante toda a minha vida.
Ao meu irmão, Marcos Lima do Carmo, por ter me incentivado a realizar essa conquista.
Às minhas irmãs, Lilian Lima do Carmo Betoni e Fabíola Lima do Carmo D’alóia pelo
carinho e solidariedade, dedicados.
i
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar sempre ao meu lado.
À Fesurv - Universidade de Rio Verde, pelo apoio na realização do curso.
Ao professor, orientador e pesquisador da Embrapa Soja, Dr. Adeney de Freitas
Bueno, sempre presente na realização deste trabalho.
À Dra. Regiane Cristina Oliveira de Freitas Bueno, que contribuiu em grande parte na
execução deste trabalho.
À Embrapa Arroz e Feijão e à Embrapa Soja, pelos recursos físicos e financeiros
concedidos.
A todos os professores do Programa de Pós-graduação de Mestrado em Produção
Vegetal pelos conhecimentos repassados.
Aos meus amigos e colegas de curso, pela parceria e ajuda mútua no desenvolver do
programa.
Às amigas, Maria Mirmes de Paiva Goulart e Simone Silva Vieira, pelos esforços
prestados a conclusão desse trabalho.
Aos estagiários, das diversas instituições que passaram pela Embrapa Arroz e Feijão
que contribuíram para a elaboração dos ensaios.
Aos meus pais e irmãos, que me apoiaram durante a realização do curso.
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desse projeto e
que de certa forma me auxiliaram durante o curso.
ii
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS.......................................................................................................
v
RESUMO GERAL............................................................................................................ vii
GENERAL ABSTRACT................................................................................................... viii
INTRODUÇÃO GERAL..................................................................................................
1
CAPÍTULO 1. EMERGÊNCIA DE ADULTOS APÓS A AÇÃO DE PRODUTOS
FITOSSANITÁRIOS UTILIZADOS NA CULTURA DA SOJA SOBRE PUPAS
DE Trichogramma pretiosum........................................................................................... 4
RESUMO...........................................................................................................................
4
ABSTRACT....................................................................................................................... 5
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................
6
2. MATERIAL E MÉTODOS...........................................................................................
7
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................................
9
4. CONCLUSÃO............................................................................................................... 15
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 16
CAPÍTULO 2. SELETIVIDADE DE INSETICIDAS UTILIZADOS NA CULTURA
DA SOJA A PUPAS DE Trichogramma pretiosum EM CONDIÇÕES DE
LABORATÓRIO SEGUNDO AS NORMAS DA IOBC.................................................. 20
RESUMO........................................................................................................................... 20
ABSTRACT....................................................................................................................... 21
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 22
2. MATERIAL E MÉTODOS........................................................................................... 23
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................... 25
4. CONCLUSÃO............................................................................................................... 30
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 31
CAPÍTULO 3. SELETIVIDADE DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS UTILIZADOS NA
CULTURA DA SOJA A ADULTOS DE Trichogramma pretiosum EM CONDIÇÕES DE
LABORATÓRIO................................................................................................................. 34
RESUMO..........................................................................................................................
34
ABSTRACT....................................................................................................................... 35
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 36
2. MATERIAL E MÉTODOS........................................................................................... 37
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................... 40
4. CONCLUSÃO............................................................................................................... 45
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 47
CAPÍTULO 4. SELETIVIDADE DE DIFERENTES PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS A
LARVAS E PUPAS DE Telenomus remus............................................................................
51
RESUMO........................................................................................................................... 51
ABSTRACT....................................................................................................................... 52
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 53
2. MATERIAL E MÉTODOS........................................................................................... 54
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................... 56
4. CONCLUSÃO............................................................................................................... 61
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 62
iii
CAPÍTULO 5. ADAPTAÇÃO DA METODOLOGIA PADRÃO IOBC PARA
ESTUDOS DE SELETIVIDADE COM Telenomus remus EM CONDIÇÕES DE
LABORATÓRIO.............................................................................................................
RESUMO...........................................................................................................................
ABSTRACT.......................................................................................................................
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................
2. MATERIAL E MÉTODOS...........................................................................................
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................................
4. CONCLUSÃO...............................................................................................................
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................
ANEXOS...........................................................................................................................
iv
65
65
66
67
68
71
76
77
81
82
LISTA DE TABELAS
TABELA 1
Produtos fitossanitários testados em pupas de Trichogramma pretiosum
em condições de laboratório.....................................................................
8
Efeito (E) de diferentes inseticidas na viabilidade do parasitismo (%)
sobre pupas de Trichogramma pretiosum criadas em ovos de Anagasta
kuehniella.................................................................................................
12
Efeito (E) de diferentes herbicidas na viabilidade do parasitismo (%)
sobre pupas de Trichogramma pretiosum criadas em ovos de Anagasta
kuehniella..................................................................................................
14
Efeito (E) de diferentes fungicidas na viabilidade do parasitismo (%)
sobre pupas de Trichogramma pretiosum criadas em ovos de Anagasta
kuehniella..................................................................................................
15
Inseticidas utilizados nos ensaios para avaliar a emergência e o
parasitismo de Trichogramma pretiosum aplicados em sua fase de pupa
24
Efeito na viabilidade e emergência dos adultos de diferentes inseticidas
sobre Trichogramma pretiosum, na fase de desenvolvimento de pupa....
28
Influência na viabilidade e no parasitismo um e dois dias após a
emergência dos parasitóides Trichogramma pretiosum...........................
29
Produtos fitossanitários testados em adultos de Trichogramma
pretiosum em condições de laboratório....................................................
40
Efeito de diferentes inseticidas sobre adultos de Trichogramma
pretiosum, na redução do parasitismo (E) e na viabilidade do
parasitismo observado um e dois dias após a emergência dos
parasitóides (DAE) e classificação dos produtos (C) de acordo com as
normas da IOBC.......................................................................................
42
TABELA 10 Efeito de diferentes herbicidas sobre adultos de Trichogramma
pretiosum, na redução do parasitismo (E) e na viabilidade do
parasitismo observado um e dois dias após a emergência dos
parasitóides (DAE) e classificação dos produtos (C) de acordo com as
normas da IOBC.......................................................................................
44
TABELA 11 Efeito de diferentes fungicidas sobre adultos de Trichogramma
pretiosum, na redução do parasitismo (E) e na viabilidade do
parasitismo observado um e dois dias após a emergência dos
parasitóides (DAE) e classificação dos produtos (C) de acordo com as
normas da IOBC.......................................................................................
45
TABELA 2
TABELA 3
TABELA 4
TABELA 5
TABELA 6
TABELA 7
TABELA 8
TABELA 9
v
TABELA 12 Produtos fitossanitários testados em larvas e pupas de Telenomus
remus
em
condições
de
laboratório...............................................................
TABELA 13 Efeito de redução do parasitismo (E) de diferentes inseticidas sobre a
mortalidade de larvas e pupas de Telenomus remus e na viabilidade de
emergência dos parasitóides, seguido de classificação seletiva
(IOBC)......................................................................................................
56
58
TABELA 14 Efeito de redução do parasitismo (E) de diferentes herbicidas sobre a
mortalidade de larvas e pupas de Telenomus remus e na viabilidade de
emergência dos parasitóides, seguido de classificação seletiva
(IOBC)......................................................................................................
60
TABELA 15 Efeito de redução do parasitismo (E) de diferentes fungicidas sobre a
mortalidade de larvas e pupas de Telenomus remus e na viabilidade de
emergência dos parasitóides, seguido de classificação seletiva
(IOBC)......................................................................................................
61
TABELA 16 Produtos fitossanitários testados em adultos de Telenomus remus em
condições de laboratório...........................................................................
70
TABELA 17 Efeito de diferentes inseticidas sobre a mortalidade de adultos de
Telenomus remus, criados em ovos de Spodoptera frugiperda, na
redução do parasitismo (E), classificação segundo as normas da IOBC
(C) e viabilidade do parasitismo observado um e dois dias após a
emergência dos parasitóides (DAE).........................................................
72
TABELA 18 Efeito de diferentes herbicidas sobre a mortalidade de adultos de
Telenomus remus, criados em ovos de Spodoptera frugiperda, na
redução do parasitismo (E), classificação segundo as normas da IOBC
(C) e viabilidade do parasitismo observado um e dois dias após a
emergência dos parasitóides (DAE).........................................................
74
TABELA 19 Efeito de diferentes fungicidas sobre a mortalidade de adultos de
Telenomus remus, criados em ovos de Spodoptera frugiperda, na
redução do parasitismo (E), classificação segundo as normas da IOBC
(C) e viabilidade do parasitismo observado um e dois dias após a
emergência dos parasitóides (DAE).........................................................
75
vi
RESUMO GERAL
CARMO, Eduardo Lima, M. S., Universidade de Rio Verde, agosto de 2008. Seletividade de
produtos fitossanitários utilizados na cultura da soja aos parasitóides de ovos
Trichogramma pretiosum (Hymenoptera: Trichogrammatidae) e Telenomus remus
(Hymenoptera: Scelionidae) em condições de laboratório. Orientador: Dr. Adeney de
Freitas Bueno.
A utilização de produtos fitossanitários no manejo da cultura da soja é necessária para reduzir
as perdas na produção, causadas pelas pragas, patógenos e plantas daninhas. À medida que as
aplicações desses produtos afetam a ação dos agentes de controle biológico, passam a
interferir, nocivamente, no equilíbrio do agroecossistema. Sendo assim, realizou-se esse
estudo com a finalidade de verificar o impacto que inseticidas, herbicidas e fungicidas
utilizados na cultura da soja, causam às formas imaturas (ovo, larva e pupa) e adulta dos
parasitóides de ovos Trichogramma pretiosum e Telenomus remus, de forma a identificar os
produtos seletivos e, portanto, apropriados para uso no manejo integrado de pragas (MIP). Os
ensaios foram realizados no período de julho de 2007 a fevereiro de 2008 no Laboratório de
Criação de Insetos da Embrapa Arroz e Feijão, localizada no município de Santo Antônio de
Goiás-GO. Nos estudos realizados com as fases imaturas, cartelas identificadas contendo
posturas dos hospedeiros alternativos, Anagasta kuehniella e Spodoptera frugiperda,
parasitadas por Trichogramma pretiosum (fase de pupa) e Telenomus remus (fase de larva e
pupa), respectivamente, foram imersas em tratamentos fitossanitários preparados para um
volume de aplicação de 200 L. ha-1, por cinco segundos. Após secagem, as cartelas foram
introduzidas em sacos plásticos transparentes, e estes, acondicionados em ambiente
controlado até a emergência dos adultos. Um segundo estudo foi realizado com cartelas
contendo ovos de A. kuehniella, parasitados por T. pretiosum (fase de pupa), que receberam
pulverização com inseticidas e foram mantidas em gaiolas de contato padronizadas pela
International Organization of Biological Control (IOBC) sendo que, foram fornecidos ovos do
hospedeiro alternativo (A. kuehniella) e alimentação (mel), um e dois dias após a emergência
dos insetos. Nos estudos com indivíduos adultos, os parasitóides T. pretiosum e T. remus
foram expostos a resíduos secos de produtos pulverizados sobre placas de vidro, através de
gaiolas de contato descritas anteriormente, sendo oferecidos alimentação e ovos de hospedeiro
alternativo, um e dois dias após a emergência dos insetos. Em todos os ensaios, avaliou-se o
parasitismo contando-se os ovos parasitados e os que efetivamente tiveram a emergência dos
parasitóides. O efeito negativo ao parasitismo de T. pretiosum e T. remus em relação ao
tratamento testemunha foi calculado pela seguinte equação: E (%) = (1-Vt/Vc) x 100, onde: E
(%) é a porcentagem de redução da viabilidade do parasitismo; Vt é a viabilidade do
parasitismo médio para o tratamento testado e Vc é a viabilidade do parasitismo médio da
testemunha. Os produtos foram classificados de acordo com as normas padronizadas pela
(IOBC) em: classe 1 - inócuo (E < 30%); classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%);
classe 3 - moderadamente nocivo (80% ≤ E ≤ 99%); classe 4 - nocivo (E > 99%). Concluiu-se
que, apesar das formas imaturas dos parasitóides estarem protegidas, no interior dos ovos dos
hospedeiros podem ser afetadas, ainda que levemente, conforme o produto testado. Os
resultados mostraram que o controle biológico exercido por T. pretiosum e T. remus pode ser
afetado por aplicações de produtos fitossanitários, dependendo da escolha. Portanto, a adoção
de produtos fitossanitários seletivos aos inimigos naturais deve ser sempre priorizada no MIPsoja, permitindo assim a preservação de agentes de controle biológico.
Palavras-chave: controle biológico, controle químico, Glicine max, manejo de pragas.
vii
GENERAL ABSTRACT
CARMO, Eduardo Lima, M. S., Universidade de Rio Verde, August 2008. Side-effects of
pesticides used in soybean crop to the eggs parasitoids Trichogramma pretiosum
(Hymenoptera: Trichogrammatidae) and Telenomus remus (Hymenoptera: Scelionidae)
in laboratory conditions. Adviser: Dr. Adeney de Freitas Bueno.
The use of pesticides in the management of soybean crop is needed to reduce losses of
production, caused by pests, pathogens and weeds. As the applications of pesticides affect the
action of the biological control agents, will interfere, so harmful, at the balance of ecosystem.
So, this study was carried out in order to ascertain the impact that insecticides, herbicides and
fungicides, used in soybean crop, causing the immature forms (egg, larvae and pupae) and the
adult parasitoids of Trichogramma pretiosum and Telenomus remus to identify the selective
products and therefore, approved for use in integrated pest management (IPM). The tests were
carried out during July 2007 to February 2008 in the Creating Insects Laboratory of Embrapa
Arroz e Feijão, located in Santo Antônio de Goiás-GO. In studies with the immature stages,
cards containing postures of alternatives hosts Anagasta kuehniella and Spodoptera
frugiperda, parasitized by T. pretiosum (pupae stage) and T. remus (larvae and pupae stages),
respectively, were immersed in pesticides prepared for a application of bulk of 200 L. ha-1,
for five seconds. After drying, the cards were introduced in transparent plastic bags, and
these, wrapped in controlled environment until the emergence of adults. A second test was
carried out with cards containing eggs of A. kuehniella, parasitized by T. pretiosum (pupae
stage), with insecticides sprayed and kept in cages of contact standardized by the International
Organization of Biological Control (IOBC) which have been provided eggs of the host
alternative (A. kuehniella) and food (honey), one and two days after the emergence of insects.
In tests with adults, the parasitoids were exposed to dry residual products sprayed on glass
plates, through cages of contact above, being offered food and eggs of alternative host. The
viability of parasitism (%) of all trials was assessed counting up the eggs parasitized and those
who actually had the emergence of parasitoids. The negative effect of parasitism of T.
pretiosum and T. remus in relation to the control treatment was calculated by the following
equation: E (%) = (1-Vt/Vc) x 100, where: E (%) is the percentage of reduction of the
viability of parasitism; Vt is the viability of the average parasitism for the treatment tested and
Vc is the viability of parasitism average of control. The pesticides were classified according to
standard rules for (IOBC) in: class 1 - harmless (E < 30 %); class 2 - slightly harmful (30% ≤
E ≤ 79%); class 3 - moderately harmful (80% ≤ E ≤ 99%); class 4 - harmful (E > 99%). It was
concluded that, despite the immature forms of parasitoids are protected within the eggs of the
hosts may be affected, even slightly, as the product tested. The findings showed that the
biological control exercised by T. pretiosum and T. remus can be affected by applications of
pesticides, depending on the product chosen. Therefore, the adoption of selective pesticides to
natural enemies should always be prioritized in the MIP-soy, as this will allow for the
preservation of biological control agents.
Key words: biological control, chemical control, Glicine max, pest management.
viii
INTRODUÇÃO GERAL
A busca do homem por espaço vem tomando grandes e desastrosas proporções em
relação ao meio ambiente. A demanda de alimentos pelo crescimento capitalista de países
emergentes, a oscilação dos estoques mundiais e as especulações de mercado por investidores,
impulsionam a abertura de novas áreas com potencial para exploração de produtos agrícolas.
Entre as diversas atividades agrícolas, a cultura da soja destaca-se pela expressiva geração de
divisas e abrangência de extensas áreas, desde o extremo norte até o sul do Brasil.
O reflexo dessa monocultura, aliada à falta de informações e tecnologias adequadas,
em algumas regiões, resultam em um uso abusivo de produtos fitossanitários que
desestruturam as relações de equilíbrio dos agroecossistemas, trazendo inúmeras
conseqüências indesejáveis como a ressurgência de doenças e pragas, outrora denominadas de
secundárias, dentre outros aspectos negativos. Como se não bastasse, no âmbito do
desenvolvimento desses produtos, cada vez, torna-se mais difícil o descobrimento de novas
moléculas, diminuindo as opções de controle das pragas.
Há de se ressaltar que a introdução de novas tecnologias pode aumentar ou não, a
utilização dos produtos fitossanitários. Como exemplo, temos a introdução do sistema de
plantio direto, que nas últimas décadas tornou-se primordial, principalmente na região dos
cerrados, visando à conservação do solo. Porém, fez com que o uso de herbicidas,
principalmente de glifosato, aumentasse de maneira considerável. Um exemplo de tecnologia
que implica na aplicação de produtos fitossanitários, embora bastante contestado por parte da
sociedade, são os materiais transgênicos como a soja RR e algodão Bt, que quando bem
manejados, auxiliam no controle fitossanitário reduzindo a aplicação de herbicidas e
inseticidas, respectivamente.
Marco importante na sojicultura brasileira foi o aparecimento da doença ferrugem
asiática, que se espalhou rapidamente pelas regiões produtoras do país, fazendo com que as
aplicações de fungicidas que quase não realizadas anteriormente a esse fato, passassem a ser
prática comum após a ocorrência da doença. O controle dessa doença tem exigido, em média,
duas aplicações de fungicidas por safra, trazendo conseqüências indesejáveis ao manejo da
cultura, como por exemplo, a diminuição da incidência de fungos entomopatogênicos o que
resulta em um aumento do complexo de lagartas em decorrência da redução do controle
biológico natural.
1
Um dos fatores de sucesso na viabilidade do agronegócio é a adoção do manejo
integrado de pragas (MIP), que se caracteriza como um conjunto de medidas que atuam de
forma consistente e harmoniosa, entre as quais se inclue a utilização de produtos
fitossanitários seletivos, visando complementar o controle biológico natural, estabilizando as
populações de insetos-praga abaixo do nível de dano econômico, conservando o meio
ambiente e os organismos benéficos. Os produtos recomendados para serem utilizados no
MIP são aqueles que apresentam boa eficiência no controle das pragas e características
seletivas, causando o mínimo de impacto sobre os inimigos naturais e outros insetos
benéficos.
A manutenção de parasitóides, predadores e patógenos que exercem controle biológico
das pragas de plantas cultivadas é adequada como fator de equilíbrio dinâmico, no
ecossistema agrícola. Entre os agentes de controle biológico destacam-se os parasitóides de
ovos Trichogramma pretiosum e Telenomus remus, ambos microvespas de ação agressiva e
eficiente no controle de lepidópteros em geral e lagartas do gênero Spodoptera,
respectivamente. Grande importância deve ser dada a estes parasitóides, pois atuam de forma
antecipada a ação desfolhadora das lagartas, impedindo maiores danos, visto que o complexo
destas que atualmente prejudicam a cultura da soja como Anticarsia gemmatalis Hübner,
1818 (Lepidoptera: Noctuidae), Pseudoplusia includens Walker, 1857 (Lepidoptera:
Noctuidae) e Spodoptera spp., além de surgirem anualmente em grandes populações,
adquiriram resistência a alguns inseticidas, de forma que várias aplicações de determinados
produtos não reduzem o número de indivíduos dessas pragas, a um nível de dano aceitável.
A pesquisa dos efeitos colaterais de produtos fitossanitários em organismos benéficos
já é comum em muitos países, fornecendo informações relevantes a quem preconiza o
programa de manejo integrado, para a escolha de produtos mais apropriados a serem
recomendados. Em todo o mundo, o estudo de seletividade de produtos tem sido alvo de
discussões, principalmente no que se refere às metodologias utilizadas, havendo muitas vezes
diferenças nos resultados obtidos. Diante dessa situação, foi formado em 1974, o grupo de
trabalho para cooperação científica internacional no estudo da seletividade de pesticidas a
organismos benéficos, a International Organization of Biological Control (IOBC), sendo um
de seus objetivos a resolução desse problema. A IOBC, desde então, tem promovido estudos
para padronizar as metodologias de testes de seletividade, o que permite a comparação de
resultados gerados nas mais diferentes partes do mundo. Vale destacar que as escalas de
classificação de seletividade de produtos dessa organização são muito permissivas quando
2
comparadas a outras classificações de diferentes entidades de estudo, memo em condições de
laboratório, onde a exposição dos insetos aos produtos é máxima.
Entretanto, ainda não existe metodologia padronizada para testar a seletividade dos
produtos a todos os inimigos naturais, como é o caso de T. remus, por exemplo. Ainda,
mesmo para T. pretiosum, algumas outras metodologias menos onerosas e mais fáceis de
serem realizadas, como a imersão de ovos parasitados em calda pesticida, tem sido utilizadas
e recomendadas por pesquisadores. Em adição a isto, a cada ano, novas moléculas e novos
produtos são colocados no mercado, sendo necessários novos testes de seletividade. A
importância de se realizar testes de seletividade é que através destes, pode-se identificar
produtos menos prejudiciais aos insetos benéficos. Além disso, alguns países requisitam esses
testes para liberação de produtos no mercado para a atividade agrícola. Até o momento pouco
se sabe sobre o efeito dos produtos fitossanitários utilizados na cultura da soja sobre os
parasitóides de ovos T. pretiosum e T. remus havendo a necessidade de maiores informações a
respeito, de forma a facilitar e incrementar o MIP da soja.
Sendo assim, o objetivo desse estudo foi avaliar em condições de laboratório os efeitos
dos principais inseticidas, herbicidas e fungicidas utilizados na cultura da soja, sobre
Trichogramma pretiosum e adaptar a mesma metodologia para Telenomus remus na hipótese
de se obter resultados condizentes.
3
CAPÍTULO 1
EMERGÊNCIA DE ADULTOS APÓS A AÇÃO DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS
UTILIZADOS NA CULTURA DA SOJA SOBRE PUPAS DE Trichogramma pretiosum
RESUMO
Este trabalho objetivou avaliar o efeito de diferentes produtos fitossanitários na emergência de
adultos de Trichogramma pretiosum quando aplicados em sua fase de pupa. Foram
conduzidos três ensaios com 11 tratamentos e cinco repetições, sendo 10 tratamentos com
produtos recomendados para a cultura da soja e testemunha. Ovos do hospedeiro alternativo
Anagasta kuehniella, parasitados por T. pretiosum foram aderidos em cartelas de 1 cm2 (± 250
ovos) e posteriormente emergidas por cinco segundos nos tratamentos. Após secagem total,
foram acondicionadas em ambiente controlado até a emergência dos adultos do parasitóide.
Avaliou-se a viabilidade do parasitismo e a redução na emergência dos parasitóides foi
classificada segundo as normas da International Organization for Biological Control. Os
inseticidas flufenoxurom, diflubenzurom e metoxifenozide foram classificados como inócuos.
Permetrina, beta-ciflutrina + imidacloprido e gama-cialotrina foram levemente nocivos à fase
de pupa dos parasitóides. Clorpirifós e espinosade foram moderadamente nocivos. Os
herbicidas avaliados, glifosato + imazetapir, 2,4-D amina, S-metolacloro, flumioxazina,
clomazona, glifosato (Gliz®), dicloreto de paraquate, dicloreto de paraquate + diurom,
glifosato (Roundup® Ready), glifosato (Roundup® Transorb) foram classificados como
inócuos ou levemente nocivos. Os fungicidas estudados, tiofanato-metílico, flutriafol +
tiofanato-metílico, carbendazim, tebuconazol, flutriafol, tebuconazol + trifloxistrobina,
epoxiconazol + piraclostrobina, epoxiconazol, azoxistrobina, azoxistrobina + ciproconazol
foram classificados como inócuos.
Palavras-chave: parasitóide de ovos, seletividade, controle biológico, controle químico.
4
EMERGENCE OF ADULTS AFTER THE ACTION OF PESTICIDES USED IN
SOYBEAN CROP ABOVE PUPAE OF Trichogramma pretiosum
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the effect of different chemicals in emergence of adults of
Trichogramma pretiosum when applied in their stage of pupa. Three tests were carried out
with 11 treatments and five repetitions. Each trial tested 10 pesticides normally used in
soybean crops and a control treatment. Eggs of the host Anagasta kuehniella was used and
fixed on cards of 1 cm2 (± 250 eggs). These cards were emerged for five seconds in each
treatments. After completely dry, were kept controlled environment until in the emergence of
adults of the parasitoid . The parasitoid emergence was evaluated and the reduction in
parasitism classified accordingly to the guidelines of the International Organization for
Biological Control. The insecticides flufenoxuron, diflubenzuron and methoxyfenozide was
classified as harmless. Permethrin, beta-cyfluthrin + imidacloprid and gamma-cyhalothrin
were slightly harmful to the pupae of the parasitoids. Chlorpyriphos and spinosad were
moderately harmful. The evaluated herbicides, glyphosate + imazethapyr, 2.4-D amine, Smetolachlor, flumioxazin, clomazone, glyphosate (Gliz®), paraquat, paraquat + diuron,
glyphosate (Roundup® Ready), glyphosate (Roundup® Transorb) were classified as harmless
or slightly harmful. The fungicides tested, methyl thiophanate, flutriafole + methyl
thiophanate, carbendazin, tebuconazole, flutriafol, tebuconazole + trifloxystrobin,
epoxyconazole + pyraclostrobin, epoxyconazole, azoxystrobin, azoxystrobin + cyproconazole
were harmless to pupae of T. pretiosum.
Key words: eggs parasitoid, selectivity, biological control, chemical control.
5
1. INTRODUÇÃO
A soja se constitui em um dos principais geradores de divisas ao Brasil, tendo grande
participação na economia nacional. De acordo com o levantamento do mês de março a área
cultivada com o grão foi de, aproximadamente, 21,11 milhões de hectares, resultando em uma
produção estimada de 59,9 milhões de toneladas (IBGE, 2008). O aumento da demanda de
produtos alimentícios gerado pelo consumo dos estoques mundiais, especuladores
internacionais e pelo crescimento de países emergentes fazem com que novas áreas sejam
abertas e exploradas para a produção agrícola. Esse fato, aliado a baixa tecnologia adotada em
algumas regiões, leva ao aumento abusivo do uso de produtos fitossanitários, causando a
contaminação do ambiente e dos trabalhadores rurais. Uma parcela significativa do
desequilíbrio biológico que ocorre em sistemas agrícolas deve-se, também, ao uso inadequado
desses produtos que, aplicados de maneira indiscriminada, podem ocasionar a ressurgência de
surtos de pragas secundárias e seleção de insetos resistentes às moléculas existentes (Nakano,
1986).
Uma alternativa para a sustentabilidade do agroecossistema é o uso do manejo
integrado de pragas (MIP) que, entre outras táticas, visa compatibilizar o uso do controle
biológico com inseticidas seletivos aos inimigos naturais. O controle biológico merece
destaque devido a sua sustentabilidade e baixo risco ao homem e ao ambiente. Entre os
diversos agentes de controle biológico, os parasitóides de ovos do gênero Trichogramma têm
sido muito utilizados na agricultura, principalmente devido a sua facilidade de criação e
agressividade no controle de lepdópteros (Parra e Zucchi, 2004).
No Brasil, a utilização de Trichogramma é ainda pequena se comparado com outros
países da Europa e Ásia (Holanda, Rússia e China) (Parra et al., 2002). Entretanto, avanços
com esse parasitóide tem sido conquistados visando o controle biológico de pragas do
algodoeiro (Bleicher e Parra, 1989), do milho (Sá e Parra, 1994), de grãos armazenados
(Inoue e Parra, 1998), da cana-de-açúcar (Botelho et al., 1999), do tomateiro (Pratissoli e
Parra, 2000), dentre outros. O uso de parasitóides do gênero Trichogramma no controle de
lagartas que atacam a cultura da soja tem grande potencial de sucesso visto que esse inimigo
natural parasita ovos de praticamente todo complexo de lepdópteros-pragas da cultura (Bueno
et al., 2007). Entretanto, muitas vezes o uso do controle químico, ainda, é indispensável
devido ao desequilíbrio dos agroecossistemas, nos quais o controle biológico é pouco
6
eficiente. A seletividade de um determinado produto (fungicida, herbicida, inseticida, adubo
foliar e outros) é o processo pelo qual se determina a eficácia deste à função a que se destina
como exemplo, o controle de pragas, não prejudicando o desenvolvimento, a reprodução e a
ação dos inimigos naturais. O trabalho de seletividade de produtos em fases imaturas (ovo,
larva e pupa) é de grande importância tal como os estudos envolvendo a fase adulta e ainda,
vale ressaltar que os estágios imaturos dos parasitóides de ovos se desenvolvem sob a
proteção do córion que funciona como uma barreira a penetração dos produtos apresentando
maior possibilidade de tolerância (Orr et al., 1989).
Portanto, devido à escassez de trabalhos de seletividade de produtos utilizados na
cultura da soja, realizou-se esse estudo com a finalidade de avaliar o impacto de tais produtos
sobre a emergência dos adultos de Trichogramma pretiosum quando aplicados sobre a fase de
pupa desse parasitóide.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Criação de Insetos da Embrapa
Arroz e Feijão em Santo Antônio de Goiás-GO, conforme metodologia utilizada por Bueno et
al., (2008), sendo que a linhagem de Trichogramma pretiosum Riley, 1879 (Hymenoptera:
Trichogrammatidae) coletada na região de Rio Verde-GO (2006), foi multiplicada em ovos de
Anagasta kuehniella Zeller, 1879 (Lepidoptera: Pyralidae), considerado o melhor hospedeiro
alternativo para a criação da maioria das espécies de Trichogramma (Gomes, 1997). Para a
realização dos bioensaios foram utilizadas cartelas previamente identificadas de 1cm2
contendo em média, 250 ovos de A. kuehniella (Anexo 1) parasitados por T. pretiosum com
aproximadamente 80% de parasitismo, estimado através de contagem com quadrado de
orifício central vazado (0,5 x 0,5 cm). Os parasitóides estavam na fase de desenvolvimento de
pupa, que corresponde a 168-192 horas após o parasitismo (Consoli et al., 1999), sendo a fase
de maior resistência à injúrias externas. Essas cartelas contendo os ovos parasitados foram
imersas por cinco segundos em caldas de produtos fitossanitários, na diluição equivalente a
um volume de aplicação de 200 L. ha-1, conforme recomendações dos fabricantes. Após
secagem sobre papel absorvente, por duas horas, as cartelas foram armazenadas em sacos
plásticos transparentes (4 x15 cm) e estes, acondicionados em sala climatizada com
7
temperatura de 28º C, umidade relativa do ar de 70% e fotofase de 14 horas, até a emergência
dos adultos. Foram realizados três ensaios conduzidos em delineamento experimental
inteiramente casualizado com diferentes inseticidas, herbicidas e fungicidas (Tabela 1),
escolhidos ao acaso, dentro do portifólio de produtos utilizados na cultura da soja. Cada
ensaio constava de 10 tratamentos e testemunha, repetidos por cinco vezes.
Tabela 1. Produtos fitossanitários testados em pupas de Trichogramma pretiosum em
condições de laboratório.
Produtos
Inseticidas
Acefato
Formulação
Ingrediente ativo (i.a.)
Grupo químico
(g) de i.a. ha-1
750 PS
Acefato
Organofosforado
525
Cascade
100 EC
Flufenoxurom
Benzoiluréia
10
Connect
100/12,5 SC
Imidacloprido + Beta-ciflutrina
Neonicotinóide / Piretóide
100 + 12,5
Dimilin
80 WG
Diflubenzurom
Benzoiluréia
20
Intrepid
24 SC
Metoxifenozide
Diacilhidrazina
21,6
Intrepid
24 SC
Metoxifenozide
Diacilhidrazina
36
Lorsban
480 EC
Clorpirifós
Organofosforado
384
Stallion
150 CS
Gama-cialotrina
Piretróide
3,75
Talstar
100 EC
Bifentrina
Piretróide
5
Tracer
Herbicidas
Alteza
480 SC
Espinosade
Espinosinas
24
240/30 SL
Glifosato + Imazetapir
Glicina substituída / Imidazolinona
533,4* + 90
DMA
806 SL
2,4-D amina
Ácido ariloxialcanóico
1209
Dual Gold
960 EC
S-metolacloro
Cloroacetanilida
1920
Flumyzin
50 WP
Flumioxazina
Ciclohexenodicarboximida
60
Gamit
500 EC
Clomazona
Isoxazolidinona
1000
Gliz
480 SL
Glifosato
Glicina substituída
2880*
100/200 SC
Diurom + Dicloreto de paraquate
Uréia / Bipiridilio
300 + 600
200 SL
Dicloreto de paraquate
Bipiridilio
600
R. Ready
480 SL
Glifosato
Glicina substituída
960*
R. Transorb
Fungicidas
Celeiro
648 SL
Glifosato
Glicina substituída
1920*
100/500 SC
Flutriafol + Tiofanato metílico
Triazol / Benzimidazol
60 + 300
500 SC
Tiofanato metílico
Benzimidazol
400
Derosal
500 SC
Carbendazim
Benzimidazol
250
Folicur
250 EC
Tebuconazol
Triazol
150
Gramocil
Gramoxone
Cercobin
Impact
125 SC
Flutriafol
Triazol
125
Nativo
100/200 SC
Trifloxistrobina + Tebuconazol
Estrobirulina / Triazol
60 + 120
Opera
50/133 SE
Epoxiconazol + Piraclostrobina
Triazol / Estrobirulina
30 + 79,8
Opus
125 SC
Epoxiconazol
Triazol
12,5
250 SC
200/80 SC
Azoxistrobina
Azoxistrobina + Ciproconazol
Estrobirulina
Estrobirulina / Triazol
50
60 + 24
Priori
Priori Xtra
* Ingrediente ativo expresso em equivalente ácido.
8
Foi avaliada a viabilidade do parasitismo através da contagem dos ovos parasitados e
os que efetivamente tiveram a emergência dos parasitóides. Os resultados foram submetidos à
análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. A
redução na emergência de T. pretiosum em relação ao tratamento testemunha foi calculada
pela seguinte equação: E (%) = (1-Vt/Vc) x 100, em que: E (%) é a porcentagem de redução
da viabilidade do parasitismo; Vt é a viabilidade do parasitismo médio para o tratamento
testado e Vc é a viabilidade do parasitismo médio observado para o tratamento testemunha.
Os produtos fitossanitários foram classificados de acordo com as normas padronizadas
pela “International Organization of Biological Control” (IOBC) em: classe 1 - inócuo (E <
30%); classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%); classe 3 - moderadamente nocivo (80%
≤ E ≤ 99%); classe 4 - nocivo (E > 99%) (Hassan, 1992).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos permitiram constatar que a aplicação de flufenoxurom,
diflubenzurom e metoxifenozide (nas duas dosagens) demonstrou uma viabilidade de
parasitismo próxima à testemunha, sendo classificados como inócuos (classe 1) à fase de
desenvolvimento de pupa de T. pretiosum (Tabela 2). Os dois primeiros são inseticidas do
grupo das benzoiluréias, classificados como reguladores de crescimento que inibem a síntese
de quitina dos insetos (Reynolds, 1987). Metoxifenozide é um inseticida do grupo das
diacilhidrazinas, também regulador de crescimento que atua como agonista de ecdisteróide
provocando aceleração do processo de ecdise (Dhadialla et al., 1998).
Esses inseticidas, classificados como reguladores de crescimento, são normalmente
destacados pela sua seletividade aos agentes de controle biológico (Santos et al., 2006) o que
foi ratificado com os resultados verificados nesse estudo. Entretanto, em trabalhos utilizando
o regulador de crescimento triflumurom foi verificado que este atuou nocivamente às formas
imaturas (ovo, larva e pupa) de T. pretiosum, o que mostra a importância de realizar esses
estudos para todas as fases do desenvolvimento e para todas as doses e formulações
recomendadas dos produtos (Bueno et al., 2008). Essas diferenças, aqui percebidas, podem ser
explicadas em virtude dos ingredientes ativos serem diferentes, apesar de pertencerem ao
mesmo grupo químico. Lufenurom, outro inseticida do grupo dos reguladores de crescimento,
9
quando aplicado em superdosagem mediante a imersão de posturas de Spodoptera frugiperda
Smith, 1797 (Lepidoptera: Noctuidae) e posteriormente parasitadas por T. pretiosum afetou a
viabilidade dos descendentes quando comparado ao tratamento testemunha (Pratissoli et al.,
2004). Questão a ser relevada em testes de seletividade, está relacionada com o tipo de ovos
de hospedeiros utilizados, sendo que estes apresentam estruturas e disposições específicas,
podendo conferir resultados diferentes. Com relação aos ovos do hospedeiro, características
como permeabilidade do córion e das camadas adjacentes são variáveis de acordo com a
espécie, a idade e o estádio de desenvolvimento do ovo (Cônsoli et al., 1999). Observou-se
que as duas dosagens de metoxifenoside foram semelhantes aos resultados da testemunha,
sendo que ambas foram sugeridas nesse estudo devido à tendência de se usar maior
quantidade desse produto, por hectare, em virtude de grandes populações de lagartas
ocorrentes a cada ano agrícola, na região dos cerrados. Ainda, com relação ao uso de
metoxifenoside, resultados semelhantes foram descritos por Suh et al. (2000), que não
observaram alteração na porcentagem de emergência e razão sexual de Trichogramma
exiguum Pinto e Platner, 1978 (Hymenoptera: Trichogrammatidae), em relação à testemunha,
quando ovos de Helicoverpa zea Boddie, 1850 (Lepdoptera: Noctuidae) parasitados, foram
imersos nas caldas deste produto em suas concentrações comerciais. Assim como as fases de
desenvolvimento, doses e formulações dos produtos e ovos de hospedeiros, a diferença de
espécies deve ser considerada em testes de seletividade em virtude da fisiologia e ecologia
dos insetos apresentarem diferenças entre si.
O tratamento com bifentrina foi classificado como inócuo, apresentando uma
viabilidade de parasitismo estatisticamente semelhante à testemunha (Tabela 2). Permetrina e
gama-cialotrina reduziram a viabilidade do parasitismo em relação à testemunha, sendo
classificados como levemente nocivos (classe 2). Ambos são inseticidas piretróides, de ação
neurotóxica e que normalmente são considerados de baixa seletividade aos inimigos naturais
(Cañete, 2005). Em trabalhos de seletividade com produtos da citricultura a Trichogramma
atopovirilia Oatman e Platner, 1983 (Hymenoptera: Trichogrammatidae), através da imersão
de ovos parasitados, o piretróide deltametrina não interferiu na porcentagem média de
emergência desses parasitóides (Matos, 2007). Em trabalho conduzido com a utilização do
piretróide lambdacialotrina através da imersão de ovos de A. kuehniella parasitados por duas
linhagens de T. pretiosum (L9 e L10) não apresentou redução de emergência para o primeiro,
sendo que o inverso ocorreu para a outra linhagem (Carvalho et al., 1999). Apesar de
10
pertencerem à mesma espécie, os indivíduos podem apresentar características intrínsecas que
interfem na resposta de sobrevivência quando em contato com produtos fitossanitários.
O produto composto beta-ciflutrina + imidacloprido apresentou comportamento
levemente nocivo, apresentando uma viabilidade de parasitismo inferior ao tratamento
testemunha (Tabela 2). Silva (2004) constatou que não houve alteração da fase embrionária
em ovos de Chrysoperla externa Hagen, 1861 (Neuroptera: Chrysopidae) com o produto betaciflutrina, aplicado em pulverização. As diferentes metodologias de aplicação de produtos
fitossanitários podem influenciar na seletividade destes, uma vez que a deposição na área a ser
tratada apresente diferenças de uniformidade de cobertura de aplicação. Em trabalho realizado
por (Matos, 2007), o inseticida imidacloprido causou efeito negativo sobre o período ovolarva do parasitóide T. pretiosum, em relação à testemunha, sendo que o efeito nocivo foi
bastante reduzido quando o tratamento foi realizado nas fases de pré-pupa e pupa.
O espinosade foi classificado como moderadamente nocivo (classe 3) por promover
uma redução de 82,24 % na emergência dos parasitóides em relação ao tratamento testemunha
(Tabela 2). O espinosade é um inseticida de origem natural, oriundo da fermentação da
bactéria Sacharopolyspora spinosa, sendo um produto fitossanitário aceito na agricultura
orgânica nos EUA e seletivo a alguns inimigos naturais (Williams et al., 2003). Contudo, essa
formulação orgânica, comercializada nos EUA, é diferente da formulação testada nesse
trabalho, que possui inertes não aceitos como produto orgânico. Resultados semelhantes para
este produto foram obtidos em trabalho com cinco diferentes espécies de Trichogramma,
incluindo T. pretiosum (Cañete, 2005). Comportamento nocivo do espinosade com a mesma
formulação utilizada nesse ensaio foi relatado por Bueno et al. (2008) em todas as fases
imaturas (ovo, larva e pupa) de T. pretiosum. Diferenças entre inertes podem ser responsáveis
pela seletividade ou não de um produto, o que mostra a importância de se realizar os testes
para cada formulação comercial do produto.
Semelhante ao que foi observado com espinosade, clorpirifós reduziu a viabilidade do
parasitismo em relação à testemunha, sendo enquadrado na classe 3, porém muito próximo à
classificação 4, pois o efeito na redução do parasitismo foi de 98,91% (Tabela 2).
Classificação mais seletiva para esse produto com uma linhagem de T. pretiosum
provavelmente diferente a deste trabalho foi relatada por Hohmann (1991; 1993). Certamente,
as dosagens utilizadas na condução de seus trabalhos foram diferentes a deste ensaio. A
toxicidade ou seletividade de um produto fitossanitário é sempre dependente da dose utilizada
11
(Santos et al., 2006), o que mostra a importância de se considerar esse fator na escolha do
produto mais seletivo.
Tabela 2. Efeito (E) de diferentes inseticidas na viabilidade do parasitismo (%) sobre pupas de
Trichogramma pretiosum criadas em ovos de Anagasta kuehniella.
Viabilidade (%)1
Tratamento
E (%)
Classe2
1. Clorpirifós
0,69 ± 0,04
e
98,91
3
2. Espinosade
11,23 ± 1,30
de
82,24
3
3. Permetrina
24,30 ± 6,13
61,57
2
cd
4. Beta-ciflutrina + Imidacloprido
36,75 ± 3,69 bc
42,72
2
5. Gama-cialotrina
37,64 ± 6,05 bc
40,48
2
6. Bifentrina
47,36 ± 4,35 ab
25,12
1
7. Metoxifenozide 21,6
57,31 ± 4,12 a
9,38
1
8. Flufenoxurom
60,24 ± 3,47 a
4,75
1
9. Metoxifenozide 36
60,68 ± 4,12 a
4,05
1
10. Diflubenzurom
65,76 ± 2,56 a
0
1
11. Testemunha
63,24 ± 1,89 a
-
-
CV (%)
35,34
1
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P>0.05).
2
Classe 1 - inócuo (E < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%), classe 3 - moderadamente nocivo
(80% ≤ E ≤ 99%), classe 4 - nocivo (E > 99%).
Geralmente, a aplicação de herbicidas e fungicidas tem menor impacto sobre o
controle biológico exercido por parasitóides e predadores, quando comparados aos inseticidas.
Porém, estes químicos devem ser seletivamente considerados, pois na maioria das vezes, são
negligenciados nesse aspecto e podem também ter efeito negativo sobre o controle biológico
(Santos et al., 2006).
Os herbicidas avaliados reduziram a viabilidade do parasitismo em relação à
testemunha e foram classificados de inócuos a levemente nocivos (Tabela 3). Resultados
semelhantes para a fase de pupa de T. pretiosum, envolvendo estudos de seletividade de
herbicidas foram relatados por Bueno et al. (2008). Os produtos a base de glifosato testados,
apesar de serem constituídos pelo mesmo sal, isopropilamina, foram administrados em doses
diferentes de equivalente ácido e apenas Roundup® Transorb obteve classificação 2, sendo os
demais, classificados como inócuos. Trabalho efetuado com oito formulações comerciais de
glifosato (Roundup®, Roundup® WG, Roundup® Transorb, Polaris®, Gliz® 480 CS,
Glifosato Nortox®, Glifosato 480 Agripec® e Zapp® Qi) em fases imaturas de T. pretiosum
demonstrou que estes produtos reduziram a porcentagem de emergência, porém, foram
classificados como inócuos (Nörnberg et al., 2008). Em testes de seletividade, produtos
12
glifosatos constituídos pelo sais isopropilamina, geralmente conferem melhor caráter seletivo
quando comparados aos sais de amônio e potássio.
Os herbicidas dicloreto de paraquate e 2,4-D amina proporcionaram as maiores
reduções na viabilidade do parasitismo comparados à testemunha, obtendo a classificação 2.
Estudo feito com exposição de adultos de T. pretiosum a resíduos secos de herbicidas
utilizados na cultura do milho detectou que o produto dicloreto de paraquate foi nocivo
(classe 4) a este parasitóide (Stefanello Júnior et al., 2008). O herbicida 2,4-D amina em
combinação com MCPA não afetou o desenvolvimento de Trichogramma cacoeciae Marchal,
1927 (Hymenoptera: Trichogrammatidae) na diluição de 1,5% em água (FAO, 1997).
Dicloreto de paraquate + diurom foi estatisticamente semelhante à testemunha no que
diz respeito à viabilidade do parasitismo, sendo classificado como inócuo, porém apresentou
diferença a dicloreto de paraquate. Apesar da mesma concentração de dicloreto de paraquate
nos produtos testados, a explicação pode estar relacionada à maior estabilidade que diurom
confere ao produto, ou à presença de inertes diferentes. O herbicida gramocil (paraquate +
diurom) foi testado por Bastos et al. (2005), visando observar o parasitismo de T. pretiosum
em ovos contaminados de A. kuehniella e Sitotroga cerealella Olivier, 1819 (Lepdoptera:
Gelechiidae) sendo notadas diferenças em relação à testemunha.
Os ingredientes ativos clomazona, flumioxazina e S-metolacloro reduziram a
viabilidade do parasitismo, mas não diferiram estatisticamente da testemunha sendo
enquadrados na classe 1 (inócuo). Na literatura, não foram encontrados trabalhos de
seletividade para esses herbicidas na cultura da soja à T. pretiosum, reforçando a necessidade
de testá-los em todas as fases de desenvolvimento do parasitóide.
Os produtos herbicidas aqui testados, em sua maioria, são dessecantes e seus usos
estão diretamente relacionados ao controle de ervas daninhas, sejam na dessecação para o
plantio direto, no controle convencional ou em pós-emergência dirigida. Ademais, a mistura
de inseticidas e herbicidas para o manejo de insetos e plantas daninhas, respectivamente
(Silva et al., 2007), ou a utilização de herbicidas dessecantes, visando a antecipação da
colheita (Magalhães et al., 2005), também podem afetar negativamente a população desse
parasitóide.
13
Tabela 3. Efeito (E) de diferentes herbicidas na viabilidade do parasitismo (%) sobre pupas de
Trichogramma pretiosum criadas em ovos de Anagasta kuehniella.
Tratamento
Viabilidade (%)1
E (%)
Classe2
1. Dicloreto de paraquate
36,19 ± 3,87
d
41,28
2
3. 2,4-D amina
38,63 ± 1,57
2. Glifosato (Roundup Transorb)
cd
37,31
2
41,61 ± 2,59 bcd
32,48
2
4. Glifosato + Imazetapir
44,91 ± 2,67 bcd
27,12
1
5. Dicloreto de paraquate + Diurom
45,05 ± 0,58 bcd
26,90
1
6. Clomazona
50,60 ± 3,19 abc
17,89
1
7. Glifosato (Roundup Ready)
50,83 ± 1,01 ab
17,51
1
8. Flumioxazina
51,30 ± 3,15 ab
16,76
1
9. Glifosato (Gliz)
51,69 ± 1,98 ab
16,13
1
58,94 ± 4,36 a
4,36
1
10. S-metolacloro
11. Testemunha
61,63 ± 1,20 a
CV(%)
11,15
-
-
-
-
1
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey
(P>0.05). 2Classe 1 - inócuo (E < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%), classe 3 moderadamente nocivo (80% ≤ E ≤ 99%), classe 4 - nocivo (E > 99%).
Os fungicidas testados foram classificados como inócuos (classe 1) e suas viabilidades
de parasitismo não diferiram da testemunha, com excessão do produto tebuconazol (Tabela
4). Em testes de seletividade para produtos da citricultura no controle do bicho-furão-doscitros, piraclostrobina foi considerado classe 2 à fase de pupa de T. atopovirilia em ovos de
Gymnandrosoma aurantianum Lima, 1927 (Lepidoptera: Tortricidae) (Matos, 2007). A
mesma autora relatou ainda, que o fungicida difenoconazol afetou a fase de pré-pupa do
parasitóide reduzindo sua sobrevivência em ovos de A. kuehniella e G. aurantianum. Em
estudo de seletividade, Bueno et al. (2008) demonstraram que o fungicida tebuconazol 200 +
trifloxistrobina 100 g i.a. ha-1 foi nocivo (classe 4) à fase de ovo de T. pretiosum. No Brasil, o
tebuconazol foi avaliado por Torres et al. (1996), que estudaram a sobrevivência de larvas e
pupas de T. pretiosum submetidas à dose de 225 g i.a. ha-1, para a cultura do tomateiro,
através da pulverização dos ovos de A. kuehniella. Os autores não observaram nenhum efeito
do mesmo sobre a emergência do parasitóide ou sobre sua razão sexual.
Um marco importante na sojicultura brasileira foi o aparecimento da ferrugem
asiática. Aplicações de fungicidas em soja, que quase não eram realizadas antes da ferrugem,
passaram a ser comuns após sua ocorrência e podem estar afetando direta ou indiretamente
os inimigos naturais.
Sendo assim, apesar de geralmente mais seletivos aos inimigos naturais, os fungicidas
e herbicidas devem ser também testados para seletividade não só aos parasitóides de ovos,
mas também aos fungos e bactérias entomopatogênicas que são de grande importância no
14
controle biológico natural na cultura da soja (Bueno et al., 2007). Os resultados aqui
descritos indicam que a aplicação de herbicidas ou fungicidas não tem grande impacto na
população de T. pretiosum, quando este se encontra em fase de pupa. Porém, é importante
enfatizar que a fase adulta do parasitóide é normalmente mais sensível à aplicação dos
produtos fitossanitários (Hassan, 1992) e deve ser também considerada na escolha do melhor
produto a ser utilizado no MIP-soja.
Tabela 4. Efeito (E) de diferentes fungicidas na viabilidade do parasitismo (%) sobre pupas de
Trichogramma pretiosum criadas em ovos de Anagasta kuehniella.
Tratamento
Viabilidade (%)1
E (%)
Classe2
1. Tebuconazol
40,70 ± 2,87 b
12,96
1
2. Flutriafol + Tiofanato metílico
40,92 ± 2,69 ab
12,50
1
3. Carbendazim
42,03 ± 5,50 ab
10,13
1
4. Tiofanato metílico
45,63 ± 1,45 ab
2,42
1
5. Epoxiconazol
45,27 ± 4,56 ab
0
1
6. Azoxistrobina
49,88 ± 3,22 ab
0
1
7. Azoxistrobina + Ciproconazol
51,93 ± 2,13 ab
0
1
8. Flutriafol
52,14 ± 2,25 ab
0
1
9. Epoxiconazol + Piraclostrobina
53,31 ± 1,66 ab
0
1
10. Tebuconazol + Trifloxistrobina
55,37 ± 1,99 a
0
1
11. Testemunha
46,76 ± 1,77 ab
-
-
13,79
-
-
CV (%)
1
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey
(P>0.05). 2Classe 1 - inócuo (E < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%), classe 3 moderadamente nocivo (80% ≤ E ≤ 99%), classe 4 - nocivo (E > 99%).
4. CONCLUSÃO
Os inseticidas clorpirifós e espinosade são moderadamente nocivos a fase de pupa de
Trichogramma pretiosum. Permetrina, gama-cialotrina e beta-ciflutrina + imidacloprido são
levemente nocivos (classe 2). Os produtos reguladores de crescimento testados e bifentrina
apresentam-se como inócuos.
Herbicidas e fungicidas testados apresentam menor impacto quando comparados com
os inseticidas.
A fase de desenvolvimento de pupa de T. pretiosum apresenta resistência aos
produtos fitossanitários testados.
15
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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19
CAPÍTULO 2
SELETIVIDADE DE INSETICIDAS UTILIZADOS NA CULTURA DA SOJA A
PUPAS DE Trichogramma pretiosum EM CONDIÇÕES DE LABORATÓRIO
SEGUNDO AS NORMAS DA IOBC
RESUMO
Este trabalho foi conduzido na Embrapa Arroz e Feijão em Santo Antônio de Goiás-GO, com
finalidade de avaliar o impacto causado por inseticidas utilizados na cultura da soja a pupas de
Trichogramma pretiosum. Testou-se 14 tratamentos, com quatro repetições em delineamento
inteiramente casualizado, sendo a água, a testemunha. Ovos de Anagasta kuehniella,
parasitados por T. pretiosum (fase de pupa), foram pulverizados com inseticidas e mantidos
em gaiolas de contato, padronizadas pela International Organization for Biological Control,
sendo oferecidos, após a emergência dos insetos, ovos de hospedeiro e mel. Avaliou-se a
viabilidade das pupas e, a redução de emergência dos insetos, classificada de classe 1 (inócuo)
a classe 4 (nocivo). O parasitismo e sua viabilidade foram avaliados no primeiro e segundo
dia após a emergência dos parasitóides. Baculovírus anticarsia, baculovírus pseudoplusia,
azadiractina, diflubenzurom, permetrina, thiametoxam e flufenoxurom foram inócuos (classe
1) sendo que, o parasitismo e sua viabilidade foram semelhantes à testemunha no primeiro dia
com diferenças pequenas a esta no segundo dia após a emergência dos parasitóides.
Lambdacialotrina + tiametoxam, lufenurom, e metoxifenoside, foram levemente nocivos
(classe 2) às pupas e o parasitismo e sua viabilidade não diferiram da testemunha. Clorpirifós,
espinosade, metomil e beta-ciflutrina + imidacloprido, foram classificados como
moderadamente nocivos (classe 3) sendo que, no parasitismo e sua viabilidade ocorreram
diferenças estatísticas em relação à testemunha.
Palavras-chave: produtos fitossanitários, controle biológico, parasitóide de ovos.
20
SIDE-EFFECTS OF INSECTICIDES USED IN SOYBEAN CROP ON PUPAE OF
Trichogramma pretiosum UNDER LABORATORY CONDITIONS ACCORDING TO
THE RULES OF IOBC
ABSTRACT
This research was carried out at Embrapa Arroz e Feijão, St. Antônio de Goiás-GO, aiming to
assess the impact caused by insecticides used on soybean crop on pupae of Trichogramma
pretiosum. 14 treatments were tested, repeated four times in a completely randomized design,
and the water, as control. Eggs of Anagasta kuehniella, parasitized (pupae stage), were
directly sprayed with insecticides and kept in cages of contact, standardized by the
International Organization for Biological Control. Eggs and honey were offered, after the
emergence of insects. The feasibility of pupae was evaluated and the reduction of emergency,
rated from class 1 (harmless) to class 4 (harmful). The parasitism and its viability were
evaluated in the first and second days after the emergence of parasitoids. Baculoviru
anticarsia, baculoviru pseudoplusia, azadiractyn, diflubenzuron, permethryn, thiametoxan and
flufenoxuron were harmless (class 1) and, parasitism and its viability were similar to the
control on the first day and this differed little on the second day after the emergence of the
parasitoids. Lambdacialotryn + thiametoxan, lufenuron, and methoxyfenoside, were slightly
harmful (class 2) to pupae and parasitism and its viability did not differ from the control.
Chlorpyrifós, spinosad, methomyl and beta-cyfluthryn + imidacloprid, was class 3
(moderately harmful) and the parasitism and its viability occurred statistical differences in
relation to the control.
Key words: pesticides, biological control, eggs parasitoid.
21
1. INTRODUÇÃO
O monocultivo de soja abrange extensas áreas e enfrenta problemas fitossanitários
como o aumento de pragas, doenças e plantas daninhas. A utilização de inseticidas tem se
intensificado de forma abusiva, prejudicando a atuação dos artrópodes benéficos, sendo que a
preservação desses organismos nos agroecossistemas é importante para auxiliar na
manutenção das populações de insetos-praga abaixo do nível de dano econômico.
Para manejar as pragas, enfatizando a interação entre os controles, químico e
biológico, é necessário conhecer as formas de seletividade (fisiológica e ecológica) e as
condições de uso de um inseticida, para reduzir ou eliminar o seu impacto sobre os inimigos
naturais (Corso et al., 1999). A “International Organization for Biological and Integrated
Control of Noxious Animals and Plants (IOBC) West Paleartic Regional Section (WPRS)”
criou em 1974 o “Working Group Pesticides and Beneficial Organisms” visando à elaboração
de técnicas-padrão de testes de seletividade de produtos fitossanitários (Hassan, 1992, 1997;
Zhang e Hassan, 2000). Essa organização tem desenvolvido e divulgado metodologias de
laboratório, semi-campo e campo, as quais sugerem classificações e informações que servem
de base para os programas de produção integrada, na Europa, no Brasil e em outras regiões.
Na União Européia, o parasitóide Trichogramma foi escolhido como uma das espécies-padrão
recomendadas pela IOBC para registro de novos produtos, envolvendo a realização de testes
de seletividade. Este parasitóide de ovos se destaca por controlar a praga no primeiro estágio
de desenvolvimento antes que ocorra o ataque à planta (Lundgren et al., 2002).
Um dos estudos primordiais para a utilização de Trichogramma no campo é a
seletividade de produtos químicos aos parasitóides (Parra, 1997). Ultimamente, no Brasil,
vários trabalhos têm sido realizados com estudos de seletividade de pesticidas para
Trichogramma pretiosum Riley, 1879 (Hymenoptera: Trichogrammatidae) (Carvalho et al.,
2001, 2002). Entretanto ainda são escassos os trabalhos que utilizam técnicas padronizadas
para estudos de seletividade de produtos fitossanitários a inimigos naturais e que melhor
possibilitem a reprodutibilidade de resultados.
Em relação ao capítulo anterior, os procedimentos metodológicos aqui utilizados
foram diferentes, havendo contato da forma imatura do parasitóide com os inseticidas por
aplicação pulverizada, sendo que a fase de emergência dos parasitóides ocorre no interior de
gaiolas de contato, padronizadas, com fluxo de ar contínuo e avaliada a capacidade de
22
parasitismo destes. Desse modo, estudos sobre seletividade de produtos fitossanitários a
inimigos naturais de pragas devem ser realizados com o intuito de gerar informações que
possam auxiliar na tomada de decisão em programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e
na manutenção desses organismos nos agroecossistemas, de modo que estes atuem na
regulação de populações de insetos-praga.
Sendo assim, o objetivo desse estudo foi avaliar, em laboratório, o efeito que
inseticidas utilizados na cultura da soja causam à forma de pupa, do parasitóide de ovos
Trichogramma pretiosum segundo as normas padronizadas pela International Organization of
Biological Control (IOBC).
2. MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi conduzido no Laboratório de Criação de Insetos da Embrapa Arroz e
Feijão, no município de Santo Antônio de Goiás-GO. Cartelas de papel identificadas e
contendo aproximadamente 250 ovos do hospedeiro alternativo Anagasta kuehniella Zeller,
1879 (Lepdoptera: Pyralidae) foram oferecidas ao parasitismo por T. pretiosum durante 24
horas e posteriormente, quando os parasitóides estavam na fase de desenvolvimento de pupa
receberam pulverização com inseticidas, através de equipamento pressurizado com CO2
utilizando-se volume de aplicação equivalente a 200 L. ha-1. Após um período de secagem de
três horas, as cartelas foram introduzidas em gaiolas de contato (Anexo 2) padronizadas pela
International Organization for Biological Control (IOBC) para a emergência dos parasitóides
(Hassan, 1992).
As gaiolas de contato foram constituídas de uma moldura quadrada de alumínio (13
cm de comprimento x 1,5 cm de altura x 0,6 cm de espessura) sendo o fundo e a cobertura
constituídos por placas de vidro (13 x 13 cm x 2 mm de espessura). Em três dos lados da
moldura, haviam seis orifícios de ventilação, vedados na face interior por um fino tecido
preto, de forma a evitar a fuga dos insetos. No quarto lado, havia uma abertura (3,5 x 1 cm)
com função de entrada de cartelas contendo ovos de hospedeiro e mel, e outro orifício para
conexão do tubo de emergência, quando o teste é realizado para adultos do parasitóide, sendo
este lacrado externamente por fita adesiva e papel cartão. As placas de vidro foram fixadas à
moldura por pulseiras elásticas e a circulação interna de ar das gaiolas foi exercida por
23
mangueiras plásticas conectadas a um exaustor (Anexo 3), de maneira que a formação de
gases fosse expelida para o ambiente externo.
No primeiro e segundo dia após a emergência dos parasitóides (DAE) foram
fornecidas novas cartelas contendo ovos de A. kuehniella, inviabilizados por luz ultravioleta
(Anexo 4), devido às lagartas serem canibais e as primeiras recém-eclodidas consumirem o
restante dos ovos. Ainda, nessas cartelas foram colocados pequenos filetes de mel para
alimentação dos parasitóides. Aos três DAE, as gaiolas foram desmontadas e as cartelas com
ovos parasitados colocadas em sacos plásticos transparentes até a emergência dos parasitóides
para posterior contagem destes, dos ovos parasitados e ovos parasitados com orifício, para
análise dos dados.
Realizaram-se dois ensaios, nos quais foram testados 14 tratamentos inseticidas
(Tabela 5) sendo estes escolhidos dentro do portifólio da cultura da soja, em delineamento
inteiramente casualizado com quatro repetições e testemunha.
Tabela 5. Inseticidas utilizados nos ensaios para avaliar a emergência e o parasitismo de
Trichogramma pretiosum aplicados em sua fase de pupa.
Inseticidas
Actara
Formulação
Ingrediente ativo (i.a.)
Grupo químico
(g) i.a. ha-1
250 WG
Tiametoxam
Neonicotinóide
150
Baculovírus Anticarsia
-
Baculovírus anticarsia
Biológico
165x109 cpi*
Baculovírus Pseudoplusia
-
Baculovírus pseudoplusia
Biológico
10x1011 cpi*
Cascade
100 EC
Flufenoxurom
Benzoiluréia
10
Connect
100/12,5 SC
Imidacloprido+Beta-ciflutrina
Neonicotinóide/Piretróide
72g + 9
Dimilin
80 WG
Diflubenzurom
Benzoiluréia
20
106/141 SC
Lambdacialotrina+Tiametoxam
Piretróide/Neonicotinóide
21,2g + 28,2
Intrepid
24 SC
Metoxifenozide
Diacilhidrazina
36
Lannate
215 SL
Metomil
Metilcarbamato de oxima
215
Lorsban
480 EC
Clorpirifós
Organofosforado
480
Match
50 CE
Lufenurom
Benzoiluréia
7,5
Neem Azal
1,2 EC
Azadiractina
Tetranortriterpenóide
12
Tracer
480 SC
Espinosade
Espinosinas
12
Valon
384 CE
*Corpos poliédricos de inclusão.
Permetrina
Piretróide
49,92
Engeo Pleno
A viabilidade dos ovos pulverizados com inseticidas, os quais continham as pupas, a
capacidade de parasitismo dos adultos emergidos bem como a viabilidade dos ovos por estes
parasitados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade. A redução de emergência dos adultos em relação ao tratamento
testemunha foi calculada pela equação E (%) = (1-Vt/Vc)x100, em que: E(%) é a
24
porcentagem de redução da viabilidade do parasitismo, Vt é a viabilidade do parasitismo
médio para o tratamento testado e Vc é a viabilidade do parasitismo médio observado para o
tratamento testemunha. Os produtos foram classificados de acordo com as normas
padronizadas pela International Organization of Biological Control (IOBC) em: classe 1 inócuo (E < 30%); classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%); classe 3 - moderadamente
nocivo (80% ≤ E ≤ 99%); classe 4 - nocivo (E > 99%) (Hassan, 1992).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os tratamentos com diflubenzurom e flufenoxurom quando aplicados na fase de pupa
de T. pretiosum não influenciaram sobre a emergência deste parasitóide, gerando um
resultado semelhante à metodologia utilizada no primeiro capítulo e classificados como
inócuos. O parasitismo dos adultos recém-emergidos bem como a viabilidade dos ovos por
estes parasitados apresentaram resultados estatísticos semelhantes à testemunha. Ambos são
ingredientes ativos que atuam na inibição da síntese de quitina dos insetos, sendo
considerados como produtos reguladores de crescimento e que, geralmente, são citados como
produtos seletivos aos agentes de controle biológico (Gazzoni, 1994), o que pode ser
observado nesse trabalho (Tabelas 6 e 7).
Lufenurom, outro regulador de crescimento, reduziu a emergência dos parasitóides,
porém, não alterou os subsequentes parâmetros avaliados sendo classificado como levemente
nocivo (classe 2). Em trabalho com inseticidas utilizados na cultura do tomate, Ciociola Jr. et
al. (1999), verificaram que diflubenzurom não afetou a emergência de adultos de T. pretiosum
em relação à testemunha. Redução na porcentagem de emergência de T. pretiosum
provenientes do parasitismo de ovos de A. kuehniella foi detectada quando estes foram
distribuídos em plantas de tomateiro após 24 horas da pulverização com lufenurom, sendo tal
produto considerado levemente persistente (Carvalho et al., 2002). Trabalhando com
inseticidas reguladores de crescimento e analisando o impacto causado por estes à T.
pretiosum, Carvalho et al. (1994), observaram que flufenoxurom reduziu a percentagem de
emergência de adultos. Os produtos clorfluazurom, teflubenzurom, triflumurom, todos
reguladores de crescimento, foram seletivos a duas linhagens de T. pretiosum (L9 e L10),
quando aplicados na fase de pupa, sendo que a porcentagem de emergência e número de ovos
25
posteriormente parasitados, não diferiram significativamente da testemunha (Carvalho et al.,
2001).
O produto metoxifenozide reduziu a viabilidade de emergência de T. pretiosum, porém
não afetou o parasitismo e a emergência, posteriores, sendo classificado como levemente
nocivo (Tabelas 6 e 7). Esse produto se constitui como um inseticida ecdisteróide, que
também se enquadra no grupo dos reguladores de crescimento. Ovos de A. kuehniella
parasitados por T. pretiosum quando tratados com metoxifenozide na dose de 19,2 g i.a. ha-1
tiveram parasitismo com viabilidade superior à 90% sendo semelhante ao tratamento
testemunha em todas as fases imaturas de desenvolvimento do parasitóide (ovo, larva e pupa)
(Rocha e Carvalho, 2004). Testando a seletividade de produtos para o controle da brocagrande (Helicoverpa zea) Boddie, 1850 (Lepidoptera: Noctuidae) e da traça-do-tomateiro
(Tuta absoluta), Meyrick, 1917 (Lepidoptera: Gelechiidae), Castelo Branco et al. (2003)
observaram que o inseticida metoxifenozide não reduziu significativamente o número de ovos
parasitados por T. pretiosum quando comparados à testemunha. Entretanto, estudos
complementares ainda devem ser realizados com o metoxifenozide, principalmente
relacionados aos efeitos no parasitismo quando a fase adulta do parasitóide é exposta ao
tratamento químico, pois estudo de seletividade de Rocha e Carvalho (2004) mostrou que o
parasitismo de T. pretiosum é reduzido significativamente quando adultos do parasitóide
entram em contato com ovos da praga previamente tratados com esse inseticida.
De certa forma, nem sempre os inseticidas reguladores de crescimento de insetos
podem ser considerados totalmente seletivos, sendo que esse efeito dependerá do produto e
sua dose, espécie e estádio de vida do inseto estudado. Tais produtos podem não causar
prejuízos aos insetos adultos, mas muitas vezes, podem causar problemas nos estádios
imaturos assim como na progênie dos inimigos naturais (Pratissoli et al., 2004). Nesse âmbito,
vários fatores de influência podem ser mencionados, como a textura e disposição dos ovos dos
hospedeiros, que podem favorecer ou dificultar a penetração dos produtos, tipo de teste
utilizado (laboratório, semi-campo ou campo) no que diz respeito às áreas de refúgio e
exposição aos produtos e seus resíduos, dentre outros.
O produto clorpirifós, praticamente anulou todos os parâmetros avaliados,
apresentando uma classificação 3 (98,64%), muito próxima à classe 4.
É um produto
organofosforado que atua no sistema nervoso dos insetos apresentando, normalmente, pouca
seletividade aos artrópodes benéficos como visto nesse estudo (Tabelas 6 e 7). No entanto,
clorpirifós 150 g i.a. ha-1 foi levemente nocivo a ovos de Chrysoperla externa Hagen, 1861
26
(Neuroptera: Chrysopidae, provocando a redução de 43,7% na viabilidade dos ovos e
afetando em 20% a sobrevivência das larvas de primeiro estádio originadas dos ovos tratados
(Ferreira et al., 2005). Em pesquisa com cinco espécies de Trichogramma, Cañete (2005)
detectou a emergência apenas para T. pretiosum quando os ovos sofreram aplicação de
clorpirifós 1 e 7 dias após o parasitismo sendo que, a porcentagem de ovos parasitados para
todas as espécies, foi nula. Ressalta-se novamente aqui, as diferenças de comportamento intra
e extra-específicas dos insetos, assim como as diferentes doses administradas nos
experimentos.
O tratamento com metomil foi moderadamente nocivo, de maneira que o parasitismo e
a viabilidade apresentaram reduções, principalmente no segundo DAE (Tabelas 6 e 7).
Estudando a variação da população de inimigos naturais observados na cultura do algodão,
pulverizada com metomil, Nunes (1999) observou redução média de 28,3% no número de
predadores com o uso desse inseticida. Em relação aos diferentes ambientes de teste,
laboratório e campo, por exemplo, deve-se considerar que a exposição dos insetos aos
produtos, no primeiro caso, é predominantemente maior não possuindo área de refúgio e
implicando em resultados mais agressivos dos produtos testados.
O inseticida espinosade foi moderadamente nocivo, prejudicando o parasitismo
(Tabelas 6 e 7). A toxicidade de espinosade foi constatada por Cônsoli et al. (2001), sobre
estágios imaturos (ovo, larva e pupa) de Trichogramma galloi Zucchi, 1988 (Hymenoptera:
Trichogrammatidae). Espinosade foi considerado como nocivo por Giolo et al. (2007), pois
este reduziu em 100% o parasitismo de T. pretiosum ao trabalharem com fitossanidade da
cultura do pessegueiro.
O ingrediente ativo permetrina não afetou a emergência de T. pretiosum, bem como o
parasitismo 1 e 2 DAE, apresentando resultados estatisticamente iguais à testemunha (Tabelas
6 e 7). É um inseticida do grupo dos piretróides, que por sua vez, são químicos neurotóxicos
de baixa seletividade, principalmente à fase adulta dos insetos. Trabalho com a utilização
desse produto demonstrou uma redução da viabilidade de ovos de Doru luteipes Scudder,
1876 (Dermaptera: Forficulidae) em torno de 71,4% sendo que os adultos emergentes tiveram
alta taxa de sobrevivência (Simões et al., 1998).
Os compostos beta-ciflutrina + imidacloprido e lambdacialotrina + tiametoxam foram
moderadamente nocivos (Tabelas 6 e 7). Ambos contêm um inseticida do grupo dos
piretróides e outro do grupo dos neonicotinóides, respectivamente. Em estudo de seletividade
com inseticidas da cultura do algodão, Czepak et al. (2005) constataram aos três dias após a
27
aplicação dos inseticidas, que o tiametoxam demonstrou ser seletivo, enquanto os inseticidas
betaciflutrina e imidacloprido reduziram a população de artrópodes predadores em mais de
60%, sendo considerados moderadamente tóxicos.
Tabela 6. Efeito na viabilidade e emergência dos adultos de diferentes inseticidas
Trichogramma pretiosum, na fase de desenvolvimento de pupa.
Pupas
Tratamentos
1
E (%)
Classe2
Viabilidade (%)
Ensaio 1
1. Betaciflutrina + imidacloprido
9,70 ± 1,72
d
88,54
3
2. Clorpirifós
3. Espinosade
1,15 ± 0,53
d
98,64
3
9,06 ± 2,11
d
89,30
3
4. Lambdacialotrina + Tiametoxam
30,22 ± 2,68
c
64,29
2
5. Lufenurom
55,23 ± 4,81 b
34,74
2
6,12 ± 3,38 d
92,77
3
7. Metoxifenozide
43,54 ± 3,64 bc
48,55
2
8. Testemunha
84,63 ± 4,58a
-
-
21,29
-
-
88,09 ± 2,67 ab
11,21
1
6. Metomil
CV (%)
Ensaio 2
1. Azadiractina
2. Baculovírus anticarsia
96,64 ± 1,30 a
2,58
1
3. Baculovírus pseudoplusia
92,91 ± 1,35 ab
6,35
1
4. Diflubenzurom
93,33 ± 2,54 ab
5,93
1
5. Flufenoxurom
90,19 ± 5,14 ab
9,09
1
7. Permetrina
85,81 ± 5,08 ab
13,51
1
6. Tiametoxam
82,78 ± 2,47 b
16,57
1
8. Testemunha
99,21 ± 0,58 a
-
-
6,28
-
-
CV (%)
1
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, no mesmo ensaio, não diferem estatisticamente entre si pelo teste
de Tukey (P > 0.05). 2Classe 1 - inócuo (R < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ R ≤ 79%), classe 3 moderadamente nocivo (80% ≤ R ≤ 99%), classe 4 - nocivo (R > 99%).
Os inseticidas a base de baculovírus foram estatisticamente semelhantes à testemunha
(Tabela 6 e 7). São vírus que contaminam e matam as lagartas, conforme sua especificidade e
são reportados na literatura como seletivos, conforme apresentado nesse estudo. Não se
observou diferença significativa entre baculovírus anticarsia e a testemunha, na viabilidade de
ovos do predador Doru luteipes pulverizados por diferentes inseticidas em estudo realizado
por Simões et al. (1998). Em trabalho com seletividade de compostos biológicos aplicados na
cultura do algodão colorido, BRS Verde, Bellizzi et al. (2005) observaram que o tratamento
com baculovírus anticarsia foi seletivo aos predadores Doru luteipes e Cycloneda sanguinea
Linnaeus, 1763 (Coleoptera: Coccinelidae).
28
Azadiractina é o termo aplicado a um grupo de compostos limonóides com ação
inseticida, extraídos de sementes da árvore Nim (Azadirachta indica). Trabalhando com a
formulação comercial Natuneem®, na dosagem de até 1%, Britto et al. (2006) concluíram que
o produto foi seletivo na viabilidade dos ovos dos ácaros predadores Euseius alatus DeLeon,
1966 (Acari: Phytoseiidae) e Phytoseiulus macropilis Banks, 1905 (Acari: Phytoseiidae).
Ovos de Diatraea saccharalis Fabricius, 1794 (Lepdoptera: Pyralidae) emergidos em óleo
emulsionável de nim nas concentrações de 0,33; 0,53 e 1% e posteriormente, oferecidos ao
parasitismo por T. galloi reduziram o parasitismo a 0% (Broglio-Micheletti et al., 2006).
Tabela 7. Influência na viabilidade e no parasitismo um e dois dias após a emergência
parasitóides Trichogramma pretiosum.
1 DAE
Parasitismo
Viabilidade
(%)1
(%)1
Tratamentos
2 DAE
Parasitismo
(%)1,2
Viabilidade
(%)1
Ensaio 1
1. Betaciflutrina + imidacloprido
5,91 ± 1,49 bc 38,30 ± 3,39 bc
1,79 ± 1,44 cd 11,11 ± 11,11 c
2. Clorpirifós
0,18 ± 0,18 c
0,00 ± 0,00
3. Espinosade
5,61 ± 2,89 bc 47,04 ± 2,15ab
0,00 ± 0,00 c
d
-
2,10 ± 1,99 cd 14,52 ± 14,52 bc
4.Lambdacialotrina +Tiametoxam
19,44 ± 4,83 b
51,74 ± 5,11ab
26,01 ± 5,45a
74,56 ± 2,60a
5. Lufenurom
51,72 ± 1,77a
74,92 ± 7,08ab
21,56 ± 5,21a
84,02 ± 8,01a
6. Metomil
4,04 ± 2,48 bc 76,61 ±13,74ab
7. Metoxifenozide
8. Testemunha
CV (%)
3,88 ± 2,70 bcd 69,42 ± 11,53a
56,27 ± 6,07a
74,28 ± 8,27ab
18,00 ± 8,28ab
62,66 ± 12,64ab
56,84 ± 2,83a
84,09 ± 6,38a
17,17 ± 1,55ab
76,98 ± 5,61a
26,16
24,63
37,74
29,26
Ensaio 2
1. Azaractina
46,47 ± 1,59a
85,56 ± 4,76a
48,02 ± 3,72ab
76,50 ± 8,63a
2. Baculovírus anticarsia
53,25 ± 2,76a
82,90 ± 2,37a
52,13 ± 2,18ab
85,40 ± 5,97a
3. Baculovírus pseudoplusia
63,47 ± 2,65a
94,62 ± 2,87a
40,55 ± 5,25 b
83,74 ± 10,32a
4. Diflubenzurom
64,65± 10,50a
71,76 ± 4,33a
47,99 ± 2,58ab
81,36 ± 2,09a
5. Flufenoxurom
57,07 ± 7,27a
79,73 ± 9,33a
58,96 ± 5,22a
82,04 ± 7,05a
6. Permetrina
56,21 ± 5,53a
90,22 ± 3,57a
48,06 ± 1,63ab
83,55 ± 5,27a
7. Tiametoxam
61,94 ± 6,74a
84,64 ± 7,20a
39,82 ± 6,38 b
80,12 ± 4,44a
8. Testemunha
52,22 ± 2,90a
81,48 ± 5,90a
46,59 ± 2,87ab
67,20 ± 6,20a
CV (%)
20,21
13,11
1
15,87
16,82
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, no mesmo ensaio, não diferem estatisticamente entre si pelo teste
de Tukey (P > 0.05). 2Resultados transformados em √(X+1).
29
4. CONCLUSÃO
Clorpirifós, espinosade, metomil e betaciflutrina + imidacloprido são moderadamente
nocivos (classe 3) à fase de pupa de Trichogramma pretiosum e prejudicam o parasitismo dos
insetos emergentes.
Metoxifenozide, lambdacialotrina + tiametoxam e lufenurom são levemente nocivos
(classe 2) a pupas de T. pretiosum e não prejudicam o parasitismo dos insetos emergentes.
Os demais inseticidas utilizados: baculovírus anticarsia, baculovírus pseudoplusia,
azadiractina, diflubenzurom, permetrina, tiametoxam e flufenoxurom são inócuos (classe 1) a
pupas de T. pretiosum e não prejudicam o parasitismo dos insetos emergentes.
O método de aplicação por pulverização sobre pupas de Trichogramma pretiosum
demonstra resultados semelhantes ao método de imersão efetuado no capítulo anterior.
30
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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33
CAPÍTULO 3
SELETIVIDADE DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS UTILIZADOS NA
CULTURA DA SOJA A ADULTOS DE Trichogramma pretiosum EM CONDIÇÕES DE
LABORATÓRIO
RESUMO
Este trabalho objetivou avaliar, em laboratório, o impacto causado por produtos fitossanitários
utilizados na cultura da soja a adultos do parasitóide de ovos Trichogramma pretiosum.
Foram conduzidos ensaios com inseticidas, herbicidas e fungicidas, em delineamento
inteiramente casualizado, com quatro repetições, tendo a água como testemunha. Os
parasitóides foram expostos a resíduos secos de produtos pulverizados sobre placas de vidro,
através de gaiolas de contato, sendo oferecidos, alimentação e ovos de hospedeiro alternativo,
no primeiro e segundo dia após a emergência dos insetos. A viabilidade do parasitismo foi
avaliada e a redução na emergência dos parasitóides classificada de classe 1 (inócuo) a classe
4 (nocivo), segundo normas da International Organization for Biological Control. Os
resultados obtidos permitiram constatar que os inseticidas diflubenzurom, lufenurom,
flufenoxurom e metoxifenozide apresentaram-se inócuos. Espinosade foi moderadamente
nocivo (classe 3). Beta-ciflutrina + imidacloprido obteve classificação 3 e 4. Acefato,
clorpirifós e os produtos piretróides, foram nocivos. Dentre os herbicidas, 2,4-D amina foi
inócuo, os demais reduziram o parasitismo. Os fungicidas classificaram-se entre 1 e 2
(levemente nocivo).
Palavras-chave: controle biológico, controle químico, manejo integrado de pragas,
parasitóide de ovos.
34
SIDE-EFFECTS OF PESTICIDES USED IN SOYBEAN CROPS IN ADULTS OF
Trichogramma pretiosum IN LABORATORY CONDITIONS
ABSTRACT
This study aimed to evaluate, in laboratory, the impact caused by pesticides used in soybean
crop to adults of the eggs parasitoid Trichogramma pretiosum. Tests were carried out with
insecticides, herbicides and fungicides, in a completely randomized design, with four repeats,
taking the water as a control. The parasitoids were exposed to dry waste products sprayed on
glass plates, through cages of contact, being offered, food and eggs of alternative host, in the
first and second day after the emergence of the insects. The feasibility of parasitism was
evaluated and the reduction in the emergence of parasitoids rated from class 1 (harmless) to
class 4 (harmful), according standards of the International Organization for Biological Control
(IOBC). The results showed that the insecticides diflubenzuron, lufenuron, flufenoxuron and
methoxyfenoside had to be harmless. Spinosad was moderately harmful (3). Beta-cyfluthrin +
imidacloprid classification has won 3 and 4. Acephate, chlorpyrifos and pyrethroids products
were harmful. Among the herbicides, 2.4-D amine was harmless while the others reduced
parasitism. The fungicides was classified between 1 and 2 (slightly harmful).
Key words: biological control, chemical control, integrated pest management, eggs
parasitoid.
35
1. INTRODUÇÃO
Os danos causados por pragas agrícolas, insetos e ácaros, podem alcançar grandes
proporções, razão pela qual são empregadas medidas de controle entre as quais as mais
importantes são os métodos culturais, físicos, controle biológico e químico. O plantio de soja
na região dos cerrados, característico de uma atividade monocultora, sofre ataque de várias
pragas, dentre elas, destaca-se o complexo de lepdópteros e percevejos. O uso constante e de
forma, muita das vezes, indiscriminada de produtos fitossanitários no combate às pragas, tem
trazido conseqüências indesejáveis como a ressurgência e a explosão populacional de insetos
anteriormente considerados de importância secundária, além da seleção de populações
resistentes a ação dos inseticidas (Flint e Gouveia, 2001).
A importância crescente da questão ambiental, em grande parte levantada na obra
"Primavera Silenciosa", de Rachel Carson, publicada em 1962, provocou dois
direcionamentos no cenário de utilização de produtos fitossanitários: o primeiro foi a adoção
de um novo conceito de controle de insetos, chamado de Manejo Integrado de Pragas, (MIP);
o segundo foi a busca de novos inseticidas substitutos aos até então existentes (basicamente
clorados, organofosforados e carbamatos), menos agressivos ao meio ambiente, aos animais e
ao próprio homem, bem como aos inimigos naturais.
O programa de manejo integrado de pragas (MIP) tem o objetivo de minimizar os
impactos ao ambiente, uma vez que o uso de produtos fitossanitários é ainda indispensável na
agricultura e sua má utilização pode prejudicar a ação do controle biológico que deve ser
sempre preservado (Lenteren, 2000). O conceito de MIP abrange a utilização, de forma
harmônica, de táticas múltiplas, como o controle químico e biológico para a manutenção das
pragas abaixo do nível econômico de dano e a conservação do ambiente (Corso et al., 1999).
Os produtos mais adequados para serem utilizados no MIP são aqueles que combinam um
bom controle da praga com o menor impacto sobre a atividade dos inimigos naturais, sendo
essa integração de produtos químicos com o controle biológico, na maioria dos casos, crucial
para o sucesso do agronegócio (Santos et al., 2006). A seletividade é a chave de sucesso do
MIP em sistemas que visam reduzir a população de insetos nocivos, sem alterar ou
promovendo o mínimo possível de alteração em outros componentes do agroecossistema e do
ambiente de uma maneira geral (Cruz, 1995).
36
Dentre os inimigos naturais, os parasitóides do gênero Trichogramma vêm sendo
utilizados em todo o mundo, como agente de controle biológico, pelo fato de ter uma ampla
distribuição geográfica, ser altamente especializado e eficiente, ter sido constatado
parasitando ovos de pragas de milho, arroz, soja, cana-de-açúcar, sorgo, algodão, beterraba,
tomate, florestas, pomares, hortaliças, oliveira, banana, mandioca e ornamentais (Nikonov
et al., 1991; Hassan, 1993). No Brasil, a utilização de Trichogramma pretiosum Riley, 1879
(Hymenoptera: Trichogrammatidae) é ainda pequena se comparado com outros países da
Europa e Ásia (Parra et al., 2002). Estudos de seletividade com produtos fitossanitários a
organismos benéficos devem ser regionalizados e direcionados a cada programa específico de
manejo de cada cultura (Degrande et al., 2002). O mesmo autor relata que testes de
seletividade de produtos fitossanitários a adultos de diferentes espécies de Trichogramma têm
sido realizados no Brasil, no entanto não existe até o momento nenhum acordo nacional de
uniformização metodológica ou padronização de procedimentos para avaliar os efeitos
colaterais de produtos fitossanitários.
Estudos de seletividade de produtos fitossanitários a Trichogramma foram conduzidos
no Brasil, predominantemente para frutíferas e olerícolas (Hohmann, 1993; Carvalho et al.,
2003; Cañete, 2005; Morandi Filho et al., 2006; Moura et al., 2006; Matos, 2007), e poucos
foram os trabalhos em culturas anuais, sobretudo na cultura da soja.
Considerando que para a cultura da soja há uma escassez de estudos relacionados à
seletividade de químicos ao parasitóide em questão, este trabalho teve como objetivo, avaliar
o impacto que os produtos fitossanitários, utilizados na sojicultura, causam sobre a fase adulta
do parasitóide de ovos Trichogramma pretiosum em condições de laboratório segundo as
normas padronizadas da International Organization for Biological Control (IOBC).
2. MATERIAL E MÉTODOS
Os trabalhos foram conduzidos segundo as normas padronizadas da International
Organization for Biological Control (IOBC) (Hassan, 1992), no Laboratório de Criação de
Insetos da Embrapa Arroz e Feijão, Santo Antônio de Goiás, GO. Cartelas de papel contendo
pupas do parasitóide de ovos T. pretiosum, prestes a emergirem (coloração escura), foram
recortadas no tamanho de 7 x 1cm (± 1500 pupas) e introduzidas em tubos de ensaio de
37
mesma medida (tubos de emergência) (Anexo 5). Uma gotícula de mel foi colocada na parede
interior desses tubos, que foram vedados com filme plástico e mantidos em ambiente
controlado a uma temperatura de 28ºC, umidade relativa do ar de 70% e fotofase de 14 horas,
até a emergência dos insetos. No momento da emergência dos insetos realizou-se o preparo
das caldas pesticidas que foram aplicadas manualmente com equipamento de pressão
controlada com CO2 (4,2 kgf. cm-2) e ponta de pulverização de cone vazio (TXVK-4), em
placas de vidro (13 x 13 cm) (Anexo 6). O volume aplicado foi calibrado para depositar 1,75
± 0,25 mg de calda por cm2, controlado através da pesagem das placas de vidro em balança
eletrônica de precisão, antes e após a pulverização dos tratamentos. Após um período de três
horas de secagem, em temperatura ambiente, as placas de vidro foram fixadas às gaiolas de
contato (Anexo 7). Os tubos de emergência foram cobertos com papel alumínio (Anexo 8), e
posteriormente foram liberados os orifícios para a saída dos parasitóides com a retirada do
filme plástico e na sequência foram conectados às gaiolas de contato (Anexo 9), de maneira
que os parasitóides fossem atraídos pela luminosidade no interior das mesmas.
As gaiolas de contato utilizadas nos ensaios foram construídas com uma moldura de
alumínio (13 x 1,5 x 0,6 cm de cada lado) e duas placas de vidro de 2 mm (13 x 13 cm),
anteriormente citadas. Nas bordas da moldura, foram colocadas fitas de espuma plástica
adesivas de forma a acomodar as placas de vidro. Em três dos lados da moldura existiam seis
orifícios de ventilação, com diâmetro de 1 cm, vedados internamente por um fino tecido de
cor preta, de maneira a evitar a fuga dos insetos. No quarto lado, havia dois orifícios, um de
3,5 x 1 cm para a introdução de alimento (mel) e dos ovos do hospedeiro alternativo Anagasta
kuehniella Zeller, 1879 (Lepdoptera: Pyralidae) a serem parasitados e outro de 1 cm de
diâmetro, para a conexão do tubo de emergência. As duas superfícies das placas de vidro com
o filme seco de pesticida constituíram o fundo e a cobertura interiores da gaiola. As
superfícies exteriores (não tratadas) das placas de vidro foram cobertas com papel cartão
preto, com um quadrado vazado central de 7 x 7 cm, constituindo a área de contato dos
parasitóides com o pesticida em teste, em função da atração pela luminosidade. Após a
montagem, as gaiolas foram identificadas e envoltas por elástico para manter a fixação dos
componentes (moldura, placas de vidro e papel cartão). O fluxo de ar interno das gaiolas de
contato foi exercido por um exaustor, conectado por mangueiras plásticas evitando a
permanência de gases no interior destas.
Passadas 20 horas da conexão dos tubos de emergência às gaiolas de contato, os
mesmos foram retirados e vedados com filme plástico para posterior aferição do número de
38
insetos que entraram nas gaiolas (machos e fêmeas). Após isso, esperado um período de 4
horas, foram colocadas nas gaiolas de contato, cartelas contendo ovos inviabilizados do
hospedeiro alternativo A. kuehniella (± 3000) e pequenas gotas de mel para alimentação dos
parasitóides (Anexo 10), sendo esse processo repetido após mais 24 horas. Após um dia do
último fornecimento de ovos e mel, as gaiolas foram desmontadas e as cartelas foram
transferidas para sacos plásticos transparentes (4 x 15 cm) até a emergência dos adultos.
Foram realizados ensaios em delineamento inteiramente casualizado com quatro
repetições, com diferentes produtos fitossanitários (Tabela 8) escolhidos ao acaso dentro do
portifólio de produtos utilizados na cultura da soja e a água, o tratamento testemunha. A
viabilidade do parasitismo foi avaliada contando-se o número de ovos parasitados e o número
de ovos que efetivamente tiveram a emergência dos parasitóides, de forma que os resultados
obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey
a 5% de probabilidade. A redução no parasitismo de T. pretiosum em relação ao tratamento
testemunha foi calculada pela equação E(%) = (1-Vt/Vc) x 100, onde: E(%) é a porcentagem
de redução no parasitismo; Vt é o parasitismo médio para o tratamento testado e Vc é o
parasitismo médio observado para o tratamento testemunha. Os produtos foram classificados
de acordo com as normas padronizadas pela IOBC em: classe 1 - inócuo (E < 30%); classe 2 levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%); classe 3 - moderadamente nocivo (80% ≤ E ≤ 99%);
classe 4 - nocivo (E > 99%) (Hassan et al., 1992).
39
Tabela 8. Produtos fitossanitários testados em adultos de Trichogramma pretiosum em
condições de laboratório.
Pesticidas
Formulação
Ingrediente ativo (i.a.)
Grupo químico
(g) de i.a. ha-1
750 PS
Acefato
Organofosforado
525
Inseticidas
Acefato
Cascade
100 EC
Flufenoxurom
Benzoiluréia
10
Connect
100/12,5 SC
Imidacloprido + Beta-ciflutrina
Neonicotinóide / Piretóide
100 + 12,5
Dimilin
80 WG
Diflubenzurom
Benzoiluréia
20
Intrepid
24 SC
Metoxifenozide
Diacilhidrazina
21,6
Lorsban
480 EC
Clorpirifós
Organofosforado
384
Match
50 EC
Lufenurom
Benzoiluréia
7,5
Stallion
150 CS
Gama-cialotrina
Piretróide
3,75
Talstar
100 EC
Bifentrina
Piretróide
5
Tracer
480 SC
Espinosade
Espinosinas
24
Valon
384 CE
Permetrina
Piretróide
49,92
Alteza
240/30 SL
Glifosato + Imazetapir
Glicina substituída / Imidazolinona
533,4* + 90
DMA
806 SL
2,4-D amina
Ácido ariloxialcanóico
1209
Dual Gold
960 EC
S-metolacloro
Cloroacetanilida
1920
Gliz
480 SL
Glifosato
Glicina substituída
2880*
Gramoxone
200 SL
Dicloreto de paraquate
Bipiridilio
600
R. Ready
480 SL
Glifosato
Glicina substituída
960*
R. Transorb
648 SL
Glifosato
Glicina substituída
1920*
100/500 SC
Flutriafol + Tiofanato metílico
Triazol / Benzimidazol
60 + 300
Cercobin
500 SC
Tiofanato metílico
Benzimidazol
400
Derosal
500 SC
Carbendazim
Benzimidazol
250
Folicur
250 EC
Tebuconazol
Triazol
150
Impact
125 SC
Flutriafol
Triazol
125
Nativo
100/200 SC
Trifloxistrobina + Tebuconazol
Estrobirulina / Triazol
60 + 120
Opera
50/133 SE
Epoxiconazol + Piraclostrobina
Triazol / Estrobirulina
30 + 79,8
Opus
125 SC
Epoxiconazol
Triazol
12,5
Priori
250 SC
Azoxistrobina
Herbicidas
Fungicidas
Celeiro
Priori Xtra
200/80 SC
Azoxistrobina + Ciproconazol
* Ingrediente ativo expresso em equivalente ácido.
Estrobirulina
50
Estrobirulina / Triazol
60 + 24
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os
inseticidas
diflubenzurom,
lufenurom,
flufenoxurom
e
metoxifenozide
apresentaram parasitismo semelhante à testemunha após o primeiro e segundo dia da
emergência dos parasitóides. Porém, a viabilidade do parasitismo, nesse período, foi inferior
para flufenoxurom. Tais produtos, denominados como reguladores de crescimento de insetos,
40
foram classificados como inócuos à fase adulta de T. pretiosum (Tabela 9) e normalmente, são
destacados na literatura pela sua seletividade aos agentes de controle biológico (Santos et al.,
2006). Entretanto, nem sempre os inseticidas reguladores de crescimento de insetos podem ser
considerados totalmente seletivos, sendo que esse efeito dependerá da dosagem, estádio e
espécie do inseto estudado (Pratissoli et al., 2004). O mesmo autor trabalhando com
aplicações de lufenurom em adultos de Spodoptera frugiperda Smith, 1797 (Lepidoptera:
Noctuidae) e fornecendo seus ovos a T. pretiosum constatou diminuição do parasitismo
quando comparado ao tratamento testemunha. Em estudos de seletividade de produtos
utilizados na cultura do tomate ao parasitóide T. pretiosum, Rocha e Carvalho (2004),
obtiveram as classificações 2 para lufenurom e 3 para metoxifenozide. Essas diferenças nas
classificações, em relação a este estudo, podem ser explicadas devido à diferença de espécies
de inimigos naturais e/ou linhagens de Trichogramma, que está diretamente envolvida com a
resposta dos insetos às doses dos produtos utilizadas.
Os piretróides bifentrina, gama-cialotrina e permetrina foram classificados como
nocivos, sendo que anularam praticamente todo o parasitismo e a viabilidade nos dois dias de
avaliação (Tabela 9). Inseticidas desse grupo são geralmente considerados como produtos
pouco
seletivos
aos
inimigos
naturais
(Cañete,
2005).
Utilizando
o
piretróide
lambdacialotrina, Carvalho et al. (1999) observaram que o parasitismo de T. pretiosum em
ovos de A. kuehniella foi reduzido por até 31 dias após a aplicação. Trabalhando com a
cultura de algodão, Bastos et al. (2006) detectaram que a aplicação de deltametrina afetou
significativamente a capacidade de parasitismo de T. pretiosum, causando uma redução de
parasitismo acima de 80% em relação à testemunha.
O produto à base de beta-ciflutrina + imidacloprido obteve classificação 3 e 4 para o
primeiro e segundo DAE, sendo considerado como moderadamente nocivo e nocivo,
respectivamente (Tabela 9). Este produto constitue-se em uma mistura que resulta na ação
conjunta de um inseticida do grupo dos piretróides e outro do grupo dos neonicotinóides.
Ambos, ingredientes ativos que agem no sistema nervoso dos insetos e são reportados na
literatura como não seletivos. Imidacloprido reduziu significativamente a longevidade de
fêmeas de T. pretiosum, quando essas foram expostas a resíduos desse composto e que esse
inseticida aumenta a sua toxidade com o passar do tempo (Moura et al., 2004).
41
Tabela 9. Efeito de diferentes inseticidas sobre adultos de Trichogramma pretiosum, na
redução do parasitismo (E) e na viabilidade do parasitismo observado um e dois
dias após a emergência dos parasitóides (DAE) e classificação dos produtos (C) de
acordo com as normas da IOBC.
Tratamento
Parasitismo
(%)1
1 DAE
Viabilidade
(%)1
E
(%)
C2
Parasitismo
(%)1
2 DAE
Viabilidade
(%)1
E
(%)
C2
0,00 ± 0,00 b
-
100
4
0,00 ± 0,00 b
-
100
4
Ensaio 1
1. Acefato
2. Bifentrina
3. Diflubenzurom
0,00 ± 0,00 b
53,36 ± 10,91a
-
100
4
92,71 ± 6,31a
6,74
1
-
100
4
28,48 ± 7,83a
0,00 ± 0,00 b
80,97±5,01a
14,84
1
4. Lufenurom
63,95 ± 0,42a
82,86 ± 5,95a
0
1
26,22 ± 14,00a
72,59±4,06a
21,64
1
5. Testemunha
57,21 ± 13,44a
89,80 ± 5,25a
-
-
33,45±
63,87±7,87a
-
-
12,66
-
-
38,57
14,04
-
-
-
100
4
0,00 ± 0,00 b
-
100
4
68,56 ± 3,78 b
2,93
1
100,00 ± 0,00a
99,5
4
CV (%)
38,67
5,42a
Ensaio 2
1. Clorpirifós
2. Flufenoxurom
3. Gama-cialotrina
0,00 ± 0,00 b
54,27 ± 3,89a
0,35 ± 0,33 b
47,99 ± 3,19a
0,00 ± 0,00 b
67,70 ± 4,87 b
-
0
1
100
4
4. Metoxifenozide
55,32 ± 8,38a
82,94 ± 7,25ab
1,06
1
40,67 ± 4,65a
80,03 ± 6,05ab
0
1
5. Testemunha
55,91 ± 7,19a
34,63 ± 7,65a
84,48 ± 1,76a
CV (%)
77,33 ± 2,85 b
-
-
-
-
27,34
13,45
-
-
29,33
15,35
-
-
98,3
3
0,00 ± 0,00 b
-
100
4
Ensaio 3
1.Beta-ciflutrina +
imidacloprido
2. Espinosade
1,18 ± 0,95 b
92,27 ± 3,88a
3,75 ± 1,83 b
95,17 ± 4,83a
94,5
3
0,63 ± 0,45 b
95,00 ± 5,00a
98,70
3
3. Permetrina
0,45 ± 0,45 b
96,20 ± 0,00a
99,3
4
0,00 ± 0,00 b
-
100
4
85,03 ± 4,96a
-
-
84,90 ± 1,05a
-
-
9,55
-
-
4,88
-
-
4. Testemunha
67,85 ± 1,55a
CV (%)
21,48
47,85 ± 21,75a
53,88
1
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, no mesmo ensaio, não diferem estatisticamente entre si pelo teste
de Tukey (P>0.05); 2Classe 1 - inócuo (E < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%), classe 3 moderadamente nocivo (80% ≤ E ≤ 99%), classe 4 - nocivo (E > 99%).
Os organofosforados clorpirifós e acefato foram classificados como produtos nocivos
(classe 4) de forma que reduziram o parasitismo a 0% nos dois dias de avaliação (Tabela 9).
Alta toxicidade de resíduos de clorpirifós foi constatada à Trichogramma platneri Nagarkatti,
1975 (Hymenoptera: Trichogrammatidae), causando 100% de mortalidade durante 21 dias de
avaliação (Brunner et al., 2001). Resultados semelhantes com a utilização de acefato foram
observados por Rocha e Carvalho (2004) que verificaram uma redução do parasitismo de T.
pretiosum de 94,6%.
O ingrediente ativo espinosade apresentou um parasitismo inferior à testemunha, mas
não interferiu na viabilidade dos ovos parasitados e foi classificado como moderadamente
nocivo (Tabela 9). Resultados semelhantes com espinosade na formulação similar a este
trabalho foram obtidos por Cañete (2005), estudando várias espécies de Trichogramma. Em
42
seus estudos de seletividade, Cleary e Scholz (2002) consideraram espinosade extremamente
tóxico quando exposto a adultos de T. pretiosum, com 0% de sobrevivência.
Dentre os herbicidas testados, 2,4-D amina foi o único que obteve resultado seletivo a
adultos de T. pretiosum para os dois dias de avaliação, sendo que todos os demais tiveram
classificações que variaram de levemente nocivo (classe 2) a nocivo (classe 4) (Tabela 10),
ressaltando a importância de se testar a seletividade desses compostos aos inimigos naturais
conforme já destacado anteriormente. Os herbicidas a base de glifosato causaram uma
redução no parasitismo de T. pretiosum. As classificações de seletividade dos diferentes
produtos comerciais que contém o glifosato são dependentes do tipo de sal de suas
formulações, sendo que em estudo com diferentes produtos a base de glifosato, Giolo et al.
2005, observaram que para Roundup Original® e Gliz 480® CS (sal isopropilamina) uma
classificação moderadamente nociva (classe 3) e Roundup WG® (sal de amônio) uma
classificação levemente nociva (classe 2). Glifosato 720 + imazetapir 90 g i.a. ha-1 causou
uma redução menos acentuada do parasitismo em comparação aos demais tratamentos com
glifosato. Como seletividade tem, geralmente, uma relação com a dose do ingrediente ativo
estudado (Santos et al., 2006), o tratamento de glifosato + imazetapir teve um menor impacto
sobre o parasitismo de T. pretiosum em relação aos demais tratamentos com esse sal,
provavelmente devido a menor concentração de glifosato. Flumioxazina foi classificado como
levemente nocivo (classe 2). Dicloreto de paraquate foi, dentre os herbicidas testados, o que
se apresentou mais nocivo aos adultos de T. pretiosum. Estudo feito com exposição de adultos
de T. pretiosum a resíduos secos de herbicidas utilizados na cultura do milho detectou que o
produto dicloreto de paraquate foi nocivo (classe 4) a este parasitóide (Stefanello Júnior et al.,
2008).
43
Tabela 10. Efeito de diferentes herbicidas sobre adultos de Trichogramma pretiosum, na
redução do parasitismo (E) e na viabilidade do parasitismo observado um e dois
dias após a emergência dos parasitóides (DAE) e classificação dos produtos (C)
de acordo com as normas da IOBC.
Tratamento
E
(%)
C2
Parasitismo
(%)1,3
2 DAE
Viabilidade
(%)1
E
(%)
C2
78,75 ± 4,21a
96,21
3
0,00 ± 0,00 c
-
100
4
77,00 ± 4,49a
5,15
1
59,67 ± 4,26a
90,75 ± 2,95a
0
1
64,00 ± 1,00ab
93,50 ± 2,72a
31,59
2
27,33 ± 7,84ab
92,00 ± 4,88a
44,57
2
34,50 ± 13,50 bc
92,00 ± 5,13a
63,12
2
4,50 ± 2,50 bc 78,00 ± 13,00a
90,95
3
23,50 ± 6,50 c
84,00 ± 6,61a
74,62
2
6,50 ± 2,50 bc 90,00 ± 10,00a
87,07
3
23,50 ± 10,50 c
75,00 ± 8,01a
75,03
2
4,00 ± 2,00 bc 70,67 ± 13,37a
91,58
3
61,67 ± 11,17ab
96,75 ± 1,03a
33,82
2
31,50 ± 19,50ab
79,00 ± 9,59a
37,36
2
93,50 ± 2,50a
83,75 ± 4,15a
-
-
49,50 ± 9,50a
88,00 ± 5,21a
-
-
-
-
-
-
Parasitismo
(%)1
Ensaio 4
1. Dicloreto de
3,50 ± 1,04 c
paraquate
2. 2,4-D amina 88,50 ± 3,75a
3.Flumioxazina
4. Glifosato
(Gliz®)
5. Glifosato
(R.Original®)
6. Glifosato
(R.WG®)
7. Glifosato +
imazetapir
8. Testemunha
CV(%)
21,60
1 DAE
Viabilidade
(%)1
11,56
25,59
17,30
1
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P>0.05);
2
Classe 1 - inócuo (E < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30 ≤ E ≤ 79%), classe 3 - moderadamente nocivo (80
≤ E ≤ 99%), classe 4 - nocivo (E > 99%); 3Estatística realizada nos dados transformados em √(X+0,5).
A maioria dos fungicidas testados foi inócua e nenhum classificado como nocivo
(classe 4) a adultos de T. pretiosum (Tabela 11). Os ingredientes ativos azostrobina
(estrobirulina), azoxtrobina + ciproconazole (estrobirulina + triazol), carbendazim
(benzimidazol), tebuconazol + trifloxtrobina (estrobirulina + triazol) e tiofanato-metílico
(benzimidazol) não interferiram no parasitismo e na viabilidade dos ovos, sendo considerados
inócuos para o primeiro e segundo DAE. Avaliando o efeito seletivo de fungicidas utilizados
na cultura da maçã a T. pretiosum, Manzoni et al. (2006), observaram que as estrobirulinas,
cresoxim-metílico e piraclostrobina, o benzimidazol tiofanato-metílico, e o triazol
tebuconazole, não reduziram o parasitismo das fêmeas quando expostas a seus resíduos, sendo
classificados como inócuos. Resultado similar foi obtido por Hassan (1994) para os
fungicidas triforina (triazol) e tiofanato-metílico que também foram classificados como
inócuos em trabalhos realizados com o parasitóide Trichogramma cacoeciae Marchal, 1927
(Hymenoptera: Trichogrammatidae). Ainda, com relação aos produtos triazóis, o fungicida
difenoconazol (triazol) foi considerado inócuo por Matos, 2007 em trabalho com seletividade
de produtos da citricultura a Trichogramma atopovirilia Oatman e Platner, 1983
(Hymenoptera: Trichogrammatidae) apesar de este reduzir o parasitismo das fêmeas em
24,42%, porém não diferindo estatisticamente da testemunha. Esse resultado coincide com o
44
obtido por Sterk et al. 1999 que observaram que o fungicida difenoconazol foi inócuo em
testes com adultos de T. cacoeciae.
Poucos são os trabalhos de seletividade de fungicidas a T. pretiosum, sendo a maioria
realizada com produtos de culturas como olericulas e frutíferas. Logo, percebe-se a
necessidade de se trabalhar com produtos de culturas anuais, como por exemplo, a soja, haja
vista a sua extensa área de plantio no Brasil.
Tabela 11. Efeito de diferentes fungicidas sobre adultos de Trichogramma pretiosum, na
redução do parasitismo (E) e na viabilidade do parasitismo observado um e dois
dias após a emergência dos parasitóides (DAE) e classificação dos produtos (C)
de acordo com as normas da IOBC.
Parasitismo
(%)1
1 DAE
Viabilidade
(%)1
E
(%)
C2
Parasitismo
(%)1
65,77 ± 8,08ab
93,01 ± 0,87a
17,25
1
58,29 ± 10,97a
61,67 ± 4,41abc
92,78 ± 1,56a
22,41
1
66,95 ± 6,54ab
93,83 ± 2,9 a
15,77
36,89 ± 2,84 c
90,88 ± 4,83a
50,72 ± 2,19 bc
Tratamento
2 DAE
Viabilidade
(%)1
E
(%)
C2
94,04 ± 2,11 ab
0
1
60,95 ± 8,30a
91,21 ± 2,56 ab
0
1
1
53,94 ± 3,14a
89,19 ± 3,78 ab
0
1
53,58
2
44,10 ± 8,55a
93,99 ± 3,75 ab
4,46
1
82,21 ± 3,45a
36,19
2
59,55 ± 6,40a
92,74 ± 4,18 ab
0
1
Ensaio 5
1. Azoxistrobina
2. Azoxistrobina +
Ciproconazole
3. Carbendazim
4. Epoxiconazole +
Piraclostrobina
5. Flutriafol +
Tiofanato metílico
6. Tebuconazol +
Trifloxistrobina
7. Tiofanato metílico
66,69 ± 8,04ab
90,53 ± 3,00a
16,09
1
50,92 ± 4,57a
97,57 ± 2,43 a
0
1
63,59 ± 6,60abc
90,09 ± 3,36a
19,98
1
51,24 ± 3,90a
74,45 ± 6,93 b
0
1
8. Testemunha
79,48 ± 3,86a
92,89 ± 6,30a
-
-
46,16 ± 9,59a
87,99 ± 5,13 ab
7,77
-
-
27,96
CV (%)
18,68
9,31
-
-
-
-
Ensaio 6
1. Epoxiconazole
52,52 ± 7,13ab
89,02 ± 2,96a
31,12
2
17,30 ± 7,31 b
86,67 ± 3,85a
76,81
2
2. Flutriafol
26,84 ± 13,41 b
79,53 ± 4,20a
64,80
2
8,07 ± 3,84 b
75,45 ± 5,42a
89,18
3
3. Tebuconazole
53,19 ±13,25ab
90,92 ± 1,95a
30,24
2
26,40 ± 10,21 b
91,92 ± 0,86a
64,61
2
4. Testemunha
76,24 ± 5,91a
85,83 ± 2,69a
-
-
74,59 ± 2,56a
79,08 ± 4,26a
-
-
7,09
-
-
-
-
CV (%)
40,25
36,82
9,57
1
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, no mesmo ensaio, não diferem estatisticamente entre si pelo teste
de Tukey (P>0.05). 2Classe 1 - inócuo (E < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%), classe 3 moderadamente nocivo (80% ≤ E ≤ 99%), classe 4 - nocivo (E > 99%).
4. CONCLUSÃO
Os inseticidas diflubenzurom, lufenurom, flufenoxurom, metoxifenozide, o herbicida
2,4-D amina e os fungicidas azoxistrobina, tebuconazole + trifloxistrobina, carbendazin,
45
azoxistrobina + ciproconazole e tiofanato metílico são inócuos (classe 1) à adultos de T.
pretiosum;
Os inseticidas espinosade, os herbicidas glifosato (Gliz®), glifosato (Roundup
Original®), glifosato (Roundup WG®), glifosato + imazetapir, flumioxazina e os fungicidas
epoxiconazol, tebuconazol, flutriafol são classificados de levemente nocivos (classe 2) a
moderadamente nocivos (classe 3) à adultos de T. pretiosum, em condições de laboratório,
devendo assim, os mesmos serem testados em condições de semi-campo e campo conforme as
recomendações da IOBC;
Os inseticidas bifentrina, acefato, clorpirifós, gamma-cialotrina, permetrina, betaciflutrina + imidacloprido e o herbicida dicloreto de paraquate são classificados como nocivo
(classe 4) à adultos de T. pretiosum, em pelo menos um dos dias de avaliação realizados em
condições de laboratório e, também deverão os mesmos serem testados em condições de
semi-campo e campo conforme as recomendações da IOBC.
46
5. RERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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50
CAPÍTULO 4
SELETIVIDADE DE DIFERENTES PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS A LARVAS E
PUPAS DE Telenomus remus
RESUMO
O trabalho com seletividade de produtos fitossanitários a artrópodes benéficos revela
importantes ferramentas para adoção de um programa de manejo integrado de pragas, na
cultura da soja. O que se preconiza com isso é a conciliação de produtos eficazes ao controle
das pragas e que possuam pouca ou nenhuma nocividade aos agentes de controle biológico.
Este estudo objetivou verificar o impacto causado por diferentes produtos utilizados na
cultura da soja, na emergência do parasitóide de ovos Telenomus remus, quando aplicados nas
fases de larva e pupa (seis e dez dias após o parasitismo, respectivamente). A pesquisa foi
realizada no Laboratório de Criação de Insetos da Embrapa Arroz e Feijão, no município de
Santo Antônio de Goiás-GO. Três ensaios, com 11 tratamentos e cinco repetições, foram
conduzidos em laboratório com inseticidas, fungicidas e herbicidas, separadamente. Cada
ensaio foi conduzido com 10 tratamentos e testemunha. Todos os produtos foram testados nas
doses recomendadas para a cultura da soja. Ovos de Spodoptera frugiperda parasitados por T.
remus, foram imersos em caldas pesticidas por cinco segundos e, após secagem total, foram
acondicionados em sacos plásticos e conservados em ambiente controlado, até a emergência
dos adultos dos parasitóides. A viabilidade do parasitismo foi avaliada e a redução na
emergência dos parasitóides classificada segundo as normas da “International Organization
for Biological Control” (IOBC). Os resultados mostraram que os inseticidas flufenoxurom,
diflubenzurom, metoxifenozide foram seletivos e clorpirifós nocivo às fases imaturas do
parasitóide. Espinosade foi classificado como inócuo para larvas e pupas de T. remus, bem
como o inseticida beta-ciflutrina + imidacloprido. Gama-cialotrina foi inócuo para pupas de T.
remus. Já bifentrina foi levemente nocivo para ambas as fases de desenvolvimento do
parasitóide. Acefato mostrou-se inócuo. Com relação aos fungicidas e herbicidas, todos os
produtos testados foram inócuos (classe 1) ou levemente nocivos (classe 2) para as formas
imaturas do parasitóide Telenomus remus.
Palavras-chave: controle químico, controle biológico, seletividade, inimigo natural.
51
SELECTIVITY OF DIFFERENT PESTICIDES TO LARVAE AND PUPAE OF
Telenomus remus
ABSTRACT
The work with side-effects of pesticides on beneficial arthropods reveals importants tools to
those who want to lead an effective program of integrated pest management, on soybean crop.
What advocating with this is the reconciliation of effective pesticides to control of pests and
that possessing little or no power to harmful biological control agents. This study aimed to
evaluate the impact caused by different chemicals in the emergence of the eggs parasitoid,
Telenomus remus, when sprayed on the larvae and pupae stage (six and ten days after the
parasitism, respectively). The research was carried out in the Laboratory for Creating Insects
of Embrapa Arroz e Feijão, in the municipality of Santo Antonio de Goiás-GO. Three trials,
with 11 treatments and five replications, were carried out in the laboratory with insecticides,
fungicides and herbicides. Each test was carried out with 10 treatments and a control. All
chemicals were tested at rates used in soybean crops. Eggs of Spodoptera frugiperda
parasitized by T. remus, were immersed in treatments for five seconds and after completely
dry, they were packed in plastic bags and kept in a controlled environment, until the
emergence of adults of parasitoids. The viability of parasitism was evaluated and the
reduction in the emergence of the parasitoids classified according to the rules of the
International Organization for Biological Control (IOBC). The results showed that the
insecticides flufenoxuron, diflubenzuron, methoxyfenozide were harmless and chlorpyrifos
harmful to the immature stages of the parasitoid. Spinosad was classified as harmless for
larvae and pupae of T. remus as well as the insecticide beta-cyfluthrin + imidacloprid. Gamacyhalothrin was harmless to pupa of T. remus. However, byfenthrin was slightly harmful to
both phases of the development of the parasitoid. Acephate was harmless. Regarding to the
fungicides and herbicides, all products tested were harmless (class 1) or slightly harmful
(class 2) for larvae and pupae of T. remus.
Key words: biological control, chemical control, selectivity, natural enemy.
52
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é um dos principais produtores e exportadores de grãos do mundo. Tomandose como exemplo, a soja, Glycine max (Merril), de acordo com o 7º levantamento da
CONAB (2008) cerca de 21,16 milhões de hectares foram plantados com o grão (safra
2007/08), estimando-se uma produção em torno de 60 milhões de toneladas. A cada ano,
novas fronteiras são estabelecidas devido à demanda de grãos, acarretando um uso crescente
e, muitas vezes, desorganizado de produtos fitossanitários, que desestabilizam as relações de
equilíbrio dos agroecossistemas, ocorrendo seleção de plantas daninhas, doenças e pragas
resistentes e em altas populações, além da contaminação do homem e meio ambiente. O uso
constante e de forma muitas das vezes indiscriminada de produtos fitossanitários, tem trazido
conseqüências indesejáveis como a ressurgência das pragas chaves e a explosão populacional
de pragas anteriormente consideradas de importância secundária, além da seleção de
populações desses insetos resistentes a ação dos inseticidas (Flint e Gouveia, 2001). Para
tentar minimizar este quadro alarmante, têm-se enfatizado o emprego de programas de manejo
integrado de insetos pragas (MIP) (Lenteren, 2000). O conceito de MIP preconiza a utilização
de diversas táticas de controle de forma harmônica visando complementar o controle
biológico natural e mantendo assim as populações de pragas agrícolas abaixo do nível de dano
econômico, conservando o ambiente e os artrópodes benéficos. Nesse contexto, o controle
biológico é de grande importância para a sustentabilidade do sistema agrícola, entretanto, o
controle químico ainda é considerado indispensável na cultura da soja. O uso de inseticidas e
acaricidas seletivos, bem como herbicidas, fungicidas e outros produtos químicos e biológicos
deve ser priorizado, para que sejam alcançados os objetivos do MIP (Degrande e Gomez,
1990).
Com relação às pragas da cultura da soja, importância deve ser dada ao complexo de
lagartas do gênero Spodoptera, dentre as quais destacando-se S. frugiperda Smith, 1797
(Lepidoptera: Noctuidae), S. eridania Cramer, 1782 (Lepidoptera, Noctuidae) e S. cosmióides,
Walk, 1858 (Lepidoptera: Noctuidae) que ocasionam prejuízos econômicos, principalmente
na região Centro-Oeste, o que pode estar relacionado com a eliminação de seus inimigos
naturais devido ao uso crescente de produtos fitossanitários na cultura. Essas espécies, que
tradicionalmente não eram importantes para a cultura da soja, estão sendo consideradas pragas
53
nas regiões de cultivo no cerrado. Alguns estudos de biologia foram realizados com diferentes
espécies de Spodoptera em diversos hospedeiros, demonstrando que estas atacam desde
plantas cultivadas como soja (Abdullah et al., 2000), milho (Pitre e Hogg 1983) e algodoeiro
(Habib et al., 1983), até plantas utilizadas para reflorestamento como a Bracatinga (Mattana e
Foerster 1988).
O controle biológico dessas lagartas é realizado por parasitóides, predadores e
patógenos responsáveis por exercerem um equilíbrio dinâmico no ecossistema agrícola. Entre
os inimigos naturais, destaca-se o parasitóide de ovos Telenomus remus Nixon, 1967
(Hymenoptera: Scelionidae) que é a espécie mais comum do gênero e já foi observada
parasitando cinco diferentes espécies de Spodoptera. Cada fêmea durante sua vida reprodutiva
produz cerca de 270 parasitóides (Morales et al., 2000) e realiza a oviposição de apenas um
ovo por hospedeiro, sendo o superparasitismo raro nessa espécie (Cave, 2000). Atuam
efetivamente sobre os ovos, parasitando inclusive aqueles das camadas internas, além de
apresentar alta capacidade de dispersão e de busca pelo hospedeiro (Cruz, 1995). Esse
parasitóide tem sido utilizado em larga escala em programas de MIP na Venezuela, através de
liberações inundativas em áreas de milho, obtendo-se índices de parasitismo de até 90%
(Ferrer, 2001). Isso demonstra o grande potencial que essa espécie tem no controle biológico
aplicado de lagartas do gênero Spodoptera.
Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar o impacto que diferentes produtos
fitossanitários causam na emergência de Telenomus remus quando aplicados nas fases
imaturas de larva e pupa desse parasitóide.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido segundo a metodologia de Bueno et al. (2008) com
adaptação aos insetos utilizados no Laboratório de Criação de Insetos da Embrapa Arroz e
Feijão, Santo Antônio de Goiás-GO. Cartelas identificadas, com posturas de S. frugiperda
parasitadas por T. remus (Anexo 11), seis e dez dias após o parasitismo, representando as
fases de larva e pupa (Hernández e Díaz, 1996), respectivamente, foram imersas por 5
segundos em caldas pesticidas preparadas para um volume de aplicação de 200 L. ha-1 (Anexo
12). Após secagem sob papel absorvente, por duas horas, foram introduzidas em sacos
54
plásticos transparentes de 4 x15 cm (Anexo 13) e acondicionadas em ambiente controlado a
uma temperatura de 28º C, umidade relativa do ar de 70% e fotofase de 14 horas, até a
emergência dos adultos. A viabilidade do parasitismo foi avaliada contando-se os ovos
parasitados e os que efetivamente tiveram a emergência dos parasitóides, sendo
posteriormente submetida à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey
a 5% de probabilidade. A redução na emergência de T. remus em relação ao tratamento
testemunha foi calculada pela equação E (%) = (1-Vt/Vc) x 100, onde: E(%) é a porcentagem
de redução da viabilidade do parasitismo; Vt é a viabilidade do parasitismo médio para o
tratamento testado e Vc é a viabilidade do parasitismo médio para a testemunha. Foram
testados 30 tratamentos e testemunha em delineamento inteiramente casualizado, repetidos
por cinco vezes, sendo que os produtos utilizados foram escolhidos ao acaso dentro do
portifólio da cultura da soja (Tabela 12) e classificados de acordo com as normas da (IOBC)
em: classe 1 - inócuo (E < 30%); classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%); classe 3 moderadamente nocivo (80% ≤ E ≤ 99%); classe 4 - nocivo (E > 99%) (Hassan, 1992).
55
Tabela 12. Produtos fitossanitários testados em larvas e pupas de Telenomus remus
condições de laboratório.
Pesticidas
Formulação
Ingrediente ativo (i.a.)
Grupo químico
(g) de i.a. ha-1
Inseticidas
Acefato
750 PS
Acefato
Organofosforado
525
Cascade
100 EC
Flufenoxurom
Benzoiluréia
10
Connect
100/12,5 SC
Imidacloprido + Beta-ciflutrina
Neonicotinóide / Piretóide
100 + 12,5
Dimilin
80 WG
Diflubenzurom
Benzoiluréia
20
Intrepid
24 SC
Methoxifenozide
Diacilhidrazina
21,6
Intrepid
24 SC
Methoxifenozide
Diacilhidrazina
36
Lorsban
480 EC
Clorpirifós
Organofosforado
384
Stallion
150 CS
Gama-cialotrina
Piretróide
3,75
Talstar
100 EC
Bifentrina
Piretróide
5
Tracer
480 SC
Espinosade
Espinosinas
24
Alteza
240/30 SL
Glifosato + Imazetapir
Glicina substituída / Imidazolinona
533,4* + 90
DMA
806 SL
2,4-D amina
Ácido ariloxialcanóico
1209
Dual Gold
960 EC
S-metolacloro
Cloroacetanilida
1920
Flumyzin
50 WP
Flumioxazina
Ciclohexenodicarboximida
60
Gamit
500 EC
Clomazona
Isoxazolidinona
1000
Gliz
480 SL
Glifosato
Glicina substituída
2880*
Herbicidas
Gramocil
100/200 SC
Diurom + Dicloreto de paraquate
Uréia / Bipiridilio
300 + 600
Gramoxone
200 SL
Dicloreto de paraquate
Bipiridilio
600
R. Ready
480 SL
Glifosato
Glicina substituída
960*
R. Transorb
648 SL
Glifosato
Glicina substituída
1920*
100/500 SC
Flutriafol + Tiofanato metílico
Triazol / Benzimidazol
60 + 300
500 SC
Tiofanato metílico
Benzimidazol
400
Derosal
500 SC
Carbendazim
Benzimidazol
250
Folicur
250 EC
Tebuconazol
Triazol
150
Impact
125 SC
Flutriafol
Triazol
125
Nativo
100/200 SC
Trifloxistrobina + Tebuconazol
Estrobirulina / Triazol
60 + 120
Opera
50/133 SE
Epoxiconazol + Piraclostrobina
Triazol / Estrobirulina
30 + 79,8
Fungicidas
Celeiro
Cercobin
Opus
125 SC
Epoxiconazol
Triazol
12,5
Priori
250 SC
Azoxistrobina
Estrobirulina
50
Estrobirulina / Triazol
60 + 24
Priori Xtra
200/80 SC
Azoxistrobina + Ciproconazol
* Ingrediente ativo expresso em equivalente ácido.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A viabilidade do parasitismo observada nos tratamentos com flufenoxurom,
diflubenzurom e metoxifenozide foi sempre superior a 80% e estatisticamente igual ao
56
tratamento testemunha. Portanto, esses produtos foram classificados como inócuos (classe 1)
a ambas as fases imaturas (larva e pupa) de T. remus, nas respectivas doses testadas (Tabela
13). Flufenoxurom e diflubenzurom são inseticidas reguladores de crescimento do grupo das
benzoilfeniluréias e metoxifenozide, outro inseticida regulador de crescimento sendo do grupo
das diacilhidrazinas. Em relação aos resultados do capítulo 1, que apesar de terem sido
utilizados, parasitóide (estágio larval) e hospedeiro diferentes, percebe-se a semelhança dos
resultados para esses produtos quando aplicados nos estágios imaturos dos parasitóides. Os
inseticidas reguladores de crescimento são normalmente destacados pela sua seletividade aos
agentes de controle biológico (Santos et al., 2006). Porém, estudos mostraram semelhantes
resultados com Trichogramma pretiosum Riley, 1879 (Hymenoptera: Trichogrammatidae)
utilizando como hospedeiro alternativo Anagasta kuehniella Zeller, 1879 (Lepdoptera:
Pyralidae) que inseticidas reguladores de crescimento podem ser classificados como nocivos,
dependendo do produto e dose testados e da fase de desenvolvimento do parasitóide utilizada
no bioensaio (Bueno et al., 2008). Lufenurom, outro inseticida do grupo dos regulares de
crescimento ocasionou redução no parasitismo por T. pretiosum quando comparado ao
tratamento testemunha (Pratissoli et al., 2004). Esse contraste pode estar relacionado com as
diferenças existentes entre as espécies de parasitóides testados e entre os ovos dos
hospedeiros, sendo que os ovos de S. frugiperda, além de serem mais espessos que os de A.
kuehniella, podem também estarem dispostos em posturas realizadas em camadas, o que
dificulta a penetração e ação dos produtos (Cônsoli et al., 1999).
Os inseticidas acefato e beta-ciflutrina + imidacloprido também não reduziram a
viabilidade do parasitismo de T. remus em relação à testemunha, sendo classificados como
inócuos (classe 1) para larvas e pupas do parasitóide (Tabela 13). Ambos são produtos que
agem por contato e ingestão, atingindo e desorganizando o sistema nervoso dos insetos. O
inseticida acefato foi prejudicial ao parasitismo de T. pretiosum causando redução superior a
80%, sendo classificado como classe 3 (Rocha e Carvalho, 2004). Estudo de seletividade
realizado por Silva (2004) detectou que não houve alteração da fase embrionária em ovos de
Crysoperla externa, Hagen, 1861 (Neuroptera: Chrysopidae) com o produto beta-ciflutrina,
aplicado em pulverização. Ressalta-se novamente, semelhança entre as duas metodologias, de
aplicação pulverizada e imersão e ainda, resultados próximos aos obtidos no primeiro
capítulo. Trabalho com o inseticida imidacloprido causou efeito significativo sobre o período
ovo-larva do parasitóide T. pretiosum, em relação à testemunha e demais fases testadas sendo
que, o efeito nocivo foi bastante reduzido quando o tratamento ocorreu nas fases de pré-pupa
57
e pupa (Matos, 2007). A fase de pupa destaca-se como a fase mais resistente a aplicação de
produtos, devido à maior rigidez e impermeabilidade das estruturas do inseto, aliados a
proteção do ovo hospedeiro.
Tabela 13. Efeito de redução do parasitismo (E) de diferentes inseticidas sobre a mortalidade
de larvas e pupas de Telenomus remus e na viabilidade de emergência dos
parasitóides, seguido de classificação seletiva (IOBC).
Larvas
Tratamento
1
Viabilidade (%)
Pupas
E (%)
Classe
2
1
Viabilidade (%)
E (%)
Classe2
1. Acefato
84,55 ± 6,68a
5,60
1
77,30 ± 7,85ab
10,11
1
2. Bifentrina
3. Beta-ciflutrina +
imidacloprido
4. Clorpirifós
42,95 ± 11,01 b
52,05
2
54,73 ± 8,21 b
36,37
2
86,50 ± 3,10a
3,41
1
84,78 ± 6,80a
1,42
1
100
4
5. Diflubenzurom
85,88 ± 5,25a
4,11
1
6. Espinosade
76,14 ± 3,63a
14,99
1
7. Flufenoxurom
87,80 ± 1,19a
1,97
1
8. Gama-cialotrina
35,31 ± 4,38 b
60,57
9. Metoxifenozide
98,70 ± 0,77a
0
10. Metoxifenozide
80,06 ± 2,94a
10,61
11. Testemunha
89,56 ± 2,95a
14,12
CV (%)
0,00 ± 0,00 c
0,00 ± 0,00 c
84,53 ± 6,38a
-
100
4
1,71
1
-
-
88,14 ± 4,64a
0
1
2
60,57 ± 7,37ab
29,57
1
1
86,18 ± 2,80a
0
1
1
79,64 ± 5,72ab
7,39
1
-
-
86,00 ± 4,21a
-
-
-
-
-
-
19,19
1
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P>0.05).
Classe 1 - inócuo (E < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%), classe 3 - moderadamente nocivo
(80% ≤ E ≤ 99%), classe 4 - nocivo (E > 99%).
2
Larvas e pupas de T. remus quando tratados com bifentrina tiveram uma viabilidade
do parasitismo estatisticamente inferior ao tratamento testemunha com uma redução de 52,05
e 36,37% para larvas e pupas, respectivamente (Tabela 13). Este tratamento foi classificado
como levemente nocivo (classe 2). Gama-cialotrina também foi classificado como levemente
nocivo (classe 2) para larvas de T. remus. Porém, a fase de pupa foi mais tolerante, sendo o
produto classificado como inócuo (classe 1). Bifentrina e gama-cialotrina são inseticidas do
grupo dos piretróides que são químicos neurotóxicos que agem no sistema nervoso do inseto,
paralisando e matando-os rapidamente. Inseticidas desse grupo são geralmente classificados
como produtos pouco seletivos aos inimigos naturais (Cañete, 2005). Manzoni et al. (2007) e
Bueno et al. (2008) relataram o efeito nocivo de alguns inseticidas piretróides às fases
imaturas dos parasitóides de ovos T. pretiosum e T. atopovirilia Oatman e Platner, 1983
(Hymenoptera: Trichogrammatidae). Entretanto, é preciso levar em consideração que os
bioensaios conduzidos nesse estudo foram realizados com fases protegidas, dentro dos ovos
dos hospedeiros. Em geral, na fase de adulto, os parasitóides são mais sensíveis à ação de
58
produtos (Hassan et al., 1992) e o impacto causado também na fase adulta deve ser estudado e
avaliado na tomada de decisão de escolha do melhor produto para ser utilizado no MIP.
O inseticida a base de espinosade foi seletivo a T. remus na fase de larva e pupa
(classe 1) sendo que, a viabilidade do parasitismo foi igual à testemunha (Tabela 13). Esse
resultado difere do encontrado no primeiro capítulo, no qual esse produto foi classificado
como moderadamente nocivo (classe 3), possivelmente devido à diferença dos ovos de
hospedeiros utilizados. Ainda, resultados nocivos do espinosade foram relados por Bueno et
al. (2008) e Cañete (2005) a T. pretiosum em fases imaturas.
O organofosforado clorpirifós foi nocivo as fases de larva e pupa do parasitóide
causando uma redução de 100% na viabilidade do parasitismo, o que fez com que esse
produto fosse classificado como nocivo (classe 4). Classificação bem próxima (classe 3),
também foi obtida no primeiro capítulo, no qual ocorreu uma redução na viabilidade de
98,91%. Entretanto, Hohmann (1991 e 1993) e Bueno et al. (2008) obtiveram resultados
menos danosos do clorpirifós ao parasitóide T. pretiosum. Essas diferenças são provavelmente
devido às menores doses testadas por estes autores. A toxicidade ou seletividade de um
produto é sempre dependente da dose utilizada, o que mostra a importância de se considerar
esse fator na comparação entre químicos na escolha do produto mais seletivo.
Todos os herbicidas obtiveram a classificação 1 (inócuo) para a fase de larva, sendo
que para a fase de pupa, variaram de 1 a 2 (levemente nocivo) (Tabela 14), com destaque para
os produtos constituídos de glifosato. Tal fato pode ter ocorrido devido às disposições das
posturas no que diz respeito ao número de camadas e consequentemente, a menor ou maior
exposição ao produto aplicado. Ainda, deve-se ressaltar a quantidade de escamas e cera sobre
os ovos, colocadas pelas mariposas com o objetivo de proteger suas posturas. Trabalho
efetuado com oito formulações comerciais de glifosato (Roundup®, Roundup® WG,
Roundup® Transorb, Polaris®, Gliz® 480 CS, Glifosato Nortox®,Glifosato 480 Agripec® e
Zapp® Qi) em fases imaturas de T. pretiosum demonstrou que estes produtos reduziram a
porcentagem de emergência, porém, foram classificados como inócuos (Nörnberg et al.,
2008).
59
Tabela 14. Efeito de redução do parasitismo (E) de diferentes herbicidas sobre a mortalidade
de larvas e pupas de Telenomus remus e na viabilidade de emergência dos
parasitóides, seguido de classificação seletiva (IOBC).
Larvas
Tratamento
1,2
Viabilidade (%)
Pupas
E (%)
Classe
3
Viabilidade (%)1
E (%)
Classe3
1. Clomazona
73,29 ± 4,81a
0
1
35,86 ± 9,68ab
35,89
2
2. Dicloreto de paraquate
3. Dicloreto de paraquate +
diurom
4. 2,4-D amina
69,23 ± 7,63a
0
1
51,84 ± 7,42ab
7,32
1
72,29 ± 8,30a
0
1
48,80 ± 3,85ab
12,76
1
56,01 ± 10,93a
17,77
1
47,24 ± 4,54ab
15,54
1
5. Flumioxazina
66, 86 ± 8,66a
1,84
1
55,84 ± 8,05a
0,17
1
6. S-metolacloro
55,00 ± 8,78a
19,25
1
44,13 ± 4,84ab
21,10
1
7. Glifosato (Gliz®)
68,37 ± 8,01a
0
1
35,46 ± 5,84ab
36,59
2
8. Glifosato (Roundup® Ready)
67,79 ± 8,74a
0,47
1
36,46 ± 5,81ab
34,81
2
9. Glifosato (Roundup®Transorb)
49,72 ± 9,14a
27,01
1
42,66 ± 8,15ab
23,73
1
10. Glifosato + imazetapir
79,42 ± 6,98a
0
1
25,91 ± 4,67 b
53,67
2
11. Testemunha
68,11 ± 4,04a
-
-
55,93 ± 4,37a
-
-
-
-
31,15
-
-
CV
7,45
1
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P>0.05).
Médias originais seguidas pela análise estatística realizada nos dados transformados em Log X. 3Classe 1 inócuo (E < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%), classe 3 - moderadamente nocivo (80% ≤ E ≤
99%), classe 4 - nocivo (E > 99%).
2
Os fungicidas testados não apresentaram diferença nas viabilidades das larvas e pupas
em comparaçào com o tratamento testemunha, porém apresentaram classificações que
variaram de 1 a 2. É importante enfatizar que a utilização de produtos fitossanitários seletivos
é uma importante estratégia dentro do MIP, favorecendo a preservação dos inimigos naturais
nos agroecossistemas. Ao ressaltar a importância do uso de produtos seletivos deve ser
considerado não somente os inseticidas, mas também os herbicidas e fungicidas. Estes são, na
maioria das vezes, negligenciados nesse item e podem também ter efeito sobre o controle
biológico (Santos et al., 2006), principalmente em outras fases de desenvolvimento. Bueno et
al. (2008) demonstraram que o fungicida tebuconazole 200 + trifloxistrobina 100 g i.a. ha-1 foi
nocivo à fase de ovo de T. pretiosum, resultado este, provavelmente devido à diferença das
espécies estudadas, fase de vida e dosagem testada. Deve-se observar que nas condições de
laboratório, os ovos parasitados foram submetidos à máxima exposição aos produtos e que os
compostos que se revelaram tóxicos para T. remus e podem ter seus efeitos reduzidos quando
aplicados em campo. Outro item a ser analisado é o fato de que a degradação dos compostos
pela ação da luz, geralmente é acelerada (Rocha e Carvalho, 2004). Dessa forma, recomendase que os produtos classificados como nocivos em condições de laboratório sejam também
testados em condições de campo, para confirmar ou não a toxicidade ao inimigo natural
(Hassan, 1992) em pesquisas futuras.
60
Tabela 15. Efeito de redução do parasitismo (E) de diferentes fungicidas sobre a mortalidade
de larvas e pupas de Telenomus remus e na viabilidade de emergência dos
parasitóides, seguido de classificação seletiva (IOBC).
Larvas
Tratamento
Pupas
Viabilidade(%)
E (%)
Classe2
1
47,00 ± 5,26a
38,17
2
16,09
1
71,61 ± 4,76a
5,80
1
70,04 ± 13,13a
21,40
1
54,93 ± 5,77a
27,74
1
4. Epoxiconazole
5. Epoxiconazole +
piraclostrobina
6. Flutriafol
7. Flutriafol + tiofanatometílico
8. Tebuconazole
9. Tebuconazole +
trifloxistrobina
10. Tiofanato-metílico
68,92 ± 10,69a
22,66
1
49,93 ± 8,76a
34,32
2
57,14 ± 9,19a
35,87
2
53,93 ± 5,89a
29,06
1
57,91 ± 12,48a
35,01
2
47,73 ± 3,56a
37,21
2
65,56 ± 3,39a
26,43
1
66,59 ± 4,36a
12,40
1
51,82 ± 7,19a
41,85
2
59,48 ± 7,67a
21,76
1
67,50 ± 7,35a
24,25
1
56,33 ± 8,08a
25,90
1
44,01 ± 10,63a
50,61
2
69,31 ± 10,81a
8,82
1
11. Testemunha
89,11 ± 3,18a
-
-
76,02 ± 8,72a
-
-
29,91
-
-
-
-
1. Azoxistrobina
2. Azoxistrobina +
ciproconazole
3. Carbenzadim
CV (%)
1
Viabilidade (%)
E (%)
Classe
62,85 ± 8,74a
29,47
74,77 ± 5,35a
2
1
26,49
1
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey
(P>0.05).2Classe 1 - inócuo (E < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30 ≤ E ≤ 79%), classe 3 - moderadamente
nocivo (80 ≤ E ≤ 99%), classe 4 - nocivo (E > 99%).
4. CONCLUSÃO
Dentre os inseticidas testados às fases imaturas de larva e pupa de Telenomus remus,
clorpirifós apresenta-se como o produto mais nocivo (Classe 4), seguido por
bifentrina e
gama-cialotrina que são levemente nocivos (classe 2). Os demais inseticidas (metoxifenozide,
flufenoxurom, acefato, beta-ciflutrina + imidacloprido e diflubenzurom) são inócuos (classe
1).
Herbicidas e fungicidas nas doses testadas deste trabalho possuem efeitos menos
indesejáveis às fases imaturas do parasitóide (larva e pupa) quando comparados aos
inseticidas.
Os resultados encontrados nesse capítulo se assemelham aos do primeiro, sugerindo
que a metodologia utilizada pode ser também praticada a Telenomus remus.
61
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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64
CAPÍTULO 5
ADAPTAÇÃO DA METODOLOGIA PADRÃO IOBC PARA ESTUDOS DE
SELETIVIDADE COM Telenomus remus EM CONDIÇÕES DE LABORATÓRIO
RESUMO
Com o objetivo de adaptar a metodologia IOBC, avaliando o impacto causado por produtos
fitossanitários da cultura da soja a adultos do parasitóide de ovos Telenomus remus, realizouse este trabalho no Laboratório de Criação de Insetos da Embrapa Arroz e Feijão, Santo
Antônio de Goiás-GO. Foram utilizados tratamentos inseticidas, herbicidas e fungicidas, em
delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições e a água como testemunha.
Adultos do parasitóide foram expostos a resíduos secos de pesticidas em gaiolas de contato,
sendo oferecidos alimentação e ovos de hospedeiro alternativo, de maneira que avaliou-se o
parasitismo e sua viabilidade e classificada a redução do parasitismo desde classe 1 (inócuo) a
classe 4 (nocivo). Os resultados obtidos permitiram constatar que os inseticidas clorpirifós,
acefato, beta-ciflutrina + imidacloprido, espinosade e demais piretróides testados, foram
nocivos aos parasitóides. Metoxifenozide, diflubenzurom, flufenoxurom foram inócuos.
Dentre os herbicidas, dicloreto de paraquate apresentou-se como um produto nocivo. Os
produtos a base de glifosato foram inócuos apenas no primeiro dia após a emergência, sendo
nocivos no dia seguinte. Dicloreto de paraquate + diuron e clomazona foram seletivos no
primeiro dia e moderadamente nocivos (classe 3) no segundo dia. Glifosato + imazetapir e
2,4-D amina foram inócuos (classe 1). Todos os fungicidas testados foram seletivos.
Palavras-chave: controle biológico, controle químico parasitóide de ovos, manejo integrado
de pragas, seletividade.
65
ADAPTATION OF THE IOBC STANDARD METHODOLOGY FOR STUDIES OF
SELECTIVITY WITH Telenomus remus IN LABORATORY CONDITIONS
ABSTRACT
With the aim to adapt the methodology IOBC evaluating the impact caused by pesticides used
in soybean crop to adults of the eggs parasitoid Telenomus remus, this work was carried out in
the Laboratory for Creating Insects of Embrapa Arroz e Feijão, Santo Antônio de Goiás-GO.
Treatments were used insecticides, herbicides and fungicides, in a completely randomized
design with four repetitions with water as a control. Adults of parasitoid were exposed to dry
residues of pesticides in cages of contact, being offered, food and eggs of alternative host, so
that avalue the parasitism and its viability and classified the reduction of parasitism from class
1 (harmless) to class 4 (harmful). Clorpyrifós, acephate, beta-cyfluthrin + imidacloprid,
spinosad and other pyrethroids tested, were harmful to parasitoids. Methoxyfenozide,
diflubenzuron, flufenoxuron were harmless. Among the herbicides, paraquat who presented
himself as a harmful product. The glyfosates were safe only in the first days after the
emergency, and damaging the following day. Paraquat + diuron and clomazone were selective
on the first day and moderately harmful (class 3) in the second day. Glyphosate + imazethapyr
and 2.4-D amine were safe (Class 1). All fungicides tested were selective.
Key words: biological control, chemical control, eggs parasitoid, integrated pest
management, side-effects.
66
1. INTRODUÇÃO
Desde a década de 50, quando se iniciou a "revolução verde", foram observadas
profundas mudanças no processo tradicional de trabalho na agricultura, bem como nos
impactos sobre o ambiente e a saúde humana. Novas tecnologias, muitas baseadas no uso
extensivo de produtos fitossanitários foram disponibilizadas para o controle de doenças,
aumento da produtividade e proteção contra insetos e outras pragas (Moreira et al., 2002). O
número de aplicações de inseticidas tem aumentado ao longo dos anos sendo comum em
algumas propriedades, a utilização de mais de cinco aplicações para a cultura da soja durante
o período de safra. No momento, a preocupação é com a seleção de populações resistentes aos
produtos químicos utilizados, verificada em algumas regiões e a diminuição da diversidade de
agentes de controle biológico em conseqüência do uso inadequado dos pesticidas (Cruz et al.,
2002). Dentre as formas de controle, o químico ainda é o método mais utilizado, devendo ser
entendido, também, como uma forma potencial de se aumentar a ação dos organismos
benéficos em um determinado agroecossistema, através de sua seletividade.
Pesquisas sobre os efeitos colaterais de produtos fitossanitários em organismos
benéficos têm-se tornado obrigatórias em diversos países, fazendo com que se estabeleçam
linhas de ação internacionalmente aprovadas e em regime de urgência, oferecendo
informações aos usuários de programas de manejo integrado (Hassan et al., 1994). A
“International Organization for Biological and Integrated Control of Noxious Animals and
Plants (IOBC) and West Paleartic Regional Section (WPRS)” criaram em 1974 o “Working
Group Pesticides and Beneficial Organisms” visando à elaboração de técnicas-padrão de
testes de seletividade de produtos fitossanitários (Hassan, 1992, 1997; Zhang e Hassan, 2000).
Até o momento, não existe no Brasil uma padronização de procedimentos de pesquisa para
avaliar seletividade sobre a maioria dos organismos benéficos, nos diferentes cultivos. A
respeito de artrópodes benéficos, importância deve ser dada ao parasitóide de ovos Telenomus
remus Nixon, 1937 (Hymenoptera: Scelionidae) que é a espécie mais comum do gênero e já
foi observada parasitando cinco diferentes espécies de lagartas Spodoptera. Cada fêmea
durante sua vida reprodutiva produz cerca de 270 parasitóides (Morales et al., 2000) e realiza
a oviposição de apenas um ovo por hospedeiro, sendo o superparasitismo raro nessa espécie
(Cave, 2000). Atuam efetivamente sobre os ovos, parasitando inclusive aqueles das camadas
internas, além de apresentar alta capacidade de dispersão e de busca pelo hospedeiro (Cruz e
67
Figueiredo, 1994). Esse parasitóide tem sido utilizado em larga escala em programas de
Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Venezuela, através de liberações inundativas em áreas
de milho, obtendo-se índices de parasitismo de até 90% (Ferrer, 2001). Isso demonstra o
grande potencial que essa espécie tem no controle biológico aplicado de lagartas do gênero
Spodoptera, podendo auxiliar no controle biológico de pragas da soja.
No capítulo 3, os testes baseados na metologia IOBC foram feitos para adultos de T.
pretiosum sendo que nesse capítulo, foi sugerida a utilização de adultos do parasitóide T.
remus, com algumas modificações nos ensaios e com intuito de se obter resultados
semelhantes a outros trabalhos, visto que para produtos da cultura da soja, os estudos de
seletividade são escassos, principalmente ao parasitóide em questão.
Dessa forma, objetivou-se, neste trabalho, estudar os efeitos que produtos utilizados na
cultura da soja, causam a adultos do parasitóide de ovos, Telenomus remus, em condições de
laboratório, utilizando-se da metodologia padrão da IOBC, adaptada para estudos de
seletividade no Brasil, de maneira a se obter resultados condizentes.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios foram realizados no Laboratório de Criação de insetos da Embrapa Arroz e
Feijão, Santo Antônio de Goiás-GO, de acordo com as normas padronizadas pela
International Organization for Biological Control (IOBC) (Hassan, 1992).
Tubos de ensaio, denominados de tubos de emergência (Anexo 14), contendo uma
gotícula de mel em sua parede interior, receberam posturas de Spodoptera frugiperda Smith,
1797 (Lepdoptera: Noctuidae) parasitadas por Telenomus remus (± 250 ovos), sendo
posteriormente, vedados com filme plástico e armazenados em ambiente controlado, a uma
temperatura de 28ºC, umidade relativa do ar de 70% e fotofase de 14 horas, até a emergência
dos insetos. Neste momento, placas de vidro (13 x 13 cm) receberam aplicações de produtos
através de equipamento pressurizado de CO2 de forma a depositar 1,75 ± 0,25 mg de calda por
cm2, passando por um período de secagem de três horas em temperatura ambiente.
Posteriormente, essas placas foram fixadas em molduras de alumínio, com ar interno
circulante, exercido por um exaustor, constituindo assim, as gaiolas de contato.
68
As gaiolas foram construídas com uma moldura quadrada de alumínio (13 x 1,5 x 0,6
cm de cada lado) e duas placas de vidro de 2 mm (13 x 13 cm), anteriormente citadas. Três
dos lados da moldura apresentavam seis orifícios de ventilação, com diâmetro de 1cm,
vedados internamente por um fino tecido de cor preta, de maneira a evitar a saída dos
parasitóides. O quarto lado era constituído de dois orifícios: um de 3,5 x 1 cm com função de
introdução de alimento (mel) e ovos do hospedeiro alternativo (S. frugiperda) a serem
parasitados e outro de 1 cm de diâmetro, denominado de orifício de conexão do tubo de
emergência. As duas superfícies das placas de vidro com o filme seco de pesticida
constituíram o fundo e a cobertura interiores da gaiola. As superfícies exteriores (não tratadas)
das placas de vidro foram cobertas com papel cartão preto, com um quadrado central de 7 x 7
cm removido, constituindo a área de contato dos parasitóides com o produto em teste, em
função da atração pela luminosidade. As gaiolas foram identificadas e envoltas por elástico
para manter a fixação dos componentes (moldura, placas de vidro e papel cartão). Após três
horas de montadas com fluxo de ar circulante, os tubos de emergência foram envolvidos com
papel alumínio, sendo retirado o filme plástico de vedação e conectados aos orifícios de
emergência.
Passadas 20 horas de contato desconectaram-se os tubos de emergência lacrando-os
novamente para posterior contagem de insetos no interior das gaiolas. O orifício de
emergência foi vedado com fita adesiva sendo que 4 horas mais tarde, foram fornecidas
cartelas identificadas, contendo posturas de S. frugiperda (± 400 ovos) com filetes de mel
(Anexo 15). Essas cartelas foram retiradas do interior das gaiolas após mais 24 horas com
auxílio de uma pinça e um pincel espanador sendo introduzidas em sacos plásticos
transparentes com ar e, no mesmo instante, novas cartelas foram introduzidas, repetindo-se o
mesmo procedimento de retirada e armazenagem. Após isso, as gaiolas foram desmontadas e
o número de parasitóides no interior destas, averiguado para posterior aferição.
Os ensaios foram conduzidos em delineamento inteiramente casualizado, com quatro
repetições (Anexo 16), com diferentes inseticidas, herbicidas e fungicidas (Tabela 16), e
testemunha. A viabilidade do parasitismo foi avaliada contando-se os ovos parasitados e os
que efetivamente tiveram a emergência dos parasitóides, de forma que os resultados obtidos
foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade. A redução no parasitismo de T. remus em relação ao tratamento testemunha foi
calculada pela equação E(%) = (1-Vt/Vc) x 100, onde: E(%) é a porcentagem de redução no
parasitismo; Vt é o parasitismo médio para o tratamento testado e Vc é o parasitismo médio
69
observado para o tratamento testemunha e os agroquímicos classificados de acordo com as
normas padronizadas pela IOBC em: classe 1 - inócuo (E < 30%); classe 2 - levemente nocivo
(30% ≤ E ≤ 79%); classe 3 - moderadamente nocivo (80% ≤ E ≤ 99%); classe 4 - nocivo (E >
99%). (Hassan, 1992).
Tabela 16. Produtos fitossanitários testados em adultos de Telenomus remus em condições de
laboratório.
Pesticidas
Formulação
Ingrediente ativo (i.a.)
Grupo químico
(g) i.a. ha-1
Inseticidas
Acefato
750 PS
Acefato
Organofosforado
525
Cascade
100 EC
Flufenoxurom
Benzoiluréia
10
Connect
100/12,5 SC
Imidacloprido + Beta-ciflutrina
Neonicotinóide / Piretóide
100 + 12,5
Dimilin
80 WG
Diflubenzurom
Benzoiluréia
20
Intrepid
24 SC
Metoxifenozide
Diacilhidrazina
36
Lorsban
480 EC
Clorpirifós
Organofosforado
384
Stallion
150 CS
Gama-cialotrina
Piretróide
3,75
Talstar
100 EC
Bifentrina
Piretróide
5
Tracer
480 SC
Espinosade
Espinosinas
24
Alteza
240/30 SL
Glifosato + imazetapir
Glicina substituída / Imidazolinona
533,4* + 90
DMA
806 SL
2,4-D amina
Ácido ariloxialcanóico
1209
Dual Gold
960 EC
S-metolacloro
Cloroacetanilida
1920
Flumyzin
50 WP
Flumioxazina
Ciclohexenodicarboximida
60
Gamit
500 EC
Clomazona
Isoxazolidinona
1000
Gliz
480 SL
Glifosato
Glicina substituída
2880*
100/200 SC
Diurom + Dicloreto de paraquate
Uréia / Bipiridilio
300 + 600
200 SL
Dicloreto de paraquate
Bipiridilio
600
R. Ready
480 SL
Glifosato
Glicina substituída
960*
R. Transorb
648 SL
Glifosato
Glicina substituída
1920*
100/500 SC
Flutriafol + Tiofanato metílico
Triazol / Benzimidazol
60 + 300
500 SC
Tiofanato metílico
Benzimidazol
400
Derosal
500 SC
Carbendazim
Benzimidazol
250
Folicur
250 EC
Tebuconazol
Triazol
150
Herbicidas
Gramocil
Gramoxone
Fungicidas
Celeiro
Cercobim
Impact
125 SC
Flutriafol
Triazol
125
Nativo
100/200 SC
Trifloxistrobina + Tebuconazol
Estrobirulina / Triazol
60 + 120
Opera
50/133 SE
Epoxiconazol + Piraclostrobina
Triazol / Estrobirulina
30 + 79,8
Opus
125 SC
Epoxiconazol
Triazol
12,5
Priori
250 SC
Azoxistrobina
Estrobirulina
50
Estrobirulina / Triazol
60 + 24
Priori Xtra
200/80 SC
Azoxistrobina + Ciproconazol
* Ingrediente ativo expresso em equivalente ácido.
70
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os inseticidas diflubenzurom e flufenoxurom foram classificados como inócuos no
primeiro DAE (Tabela 17), resultado esse, semelhante ao teste com T. pretiosum (capítulo 3).
Porém, no dia seguinte foram considerados como levemente nocivos devido à menor
percentagem do parasitismo. Tais produtos são do grupo dos reguladores de crescimento e
geralmente, na literatura, são classificados como produtos seletivos (Santos et al., 2006),
como observado nesse trabalho.
Efeitos adversos de diflubenzurom sobre adultos de
Trichogramma cacoeciae Marchal, 1927 (Hymenoptera: Trichogrammatidae) não foram
verificados por Hassan et al. (1987). Entretanto, em trabalhos realizados por Bueno et al.
(2008) com fases imaturas do parasitóide de ovos Trichogramma pretiosum Riley, 1879
(Hymenoptera: Trichogrammatidae) observaram que alguns inseticidas utilizados na cultura
da soja, denominados reguladores de crescimento, atuaram de forma não seletiva,
demonstrando a necessidade de realizar estudos para todas as fases do desenvolvimento e
todas as doses recomendadas de produtos. Bueno e Freitas (2004) relataram que lufenurom,
um produto regulador de crescimento, foi extremamente nocivo às fases de ovo e larva do
predador Chrysoperla externa Hagen, 1861 (Neuroptera: Chrysopidae). Rocha e Carvalho
(2004) atribuíram a classificação levemente nociva (classe 2) para lufenurom e triflumurom
ao trabalharem com adultos de T. pretiosum. Outro produto utilizado e de mesmo
agrupamento (regulador de crescimento), foi metoxifenoxide, classificado como inócuo
(classe 1) e novamente o resultado apresentou-se condizente com o estudo do capítulo 3.
Resultados similares foram obtidos por Giolo et al. (2007), que avaliando a seletividade de
produtos comerciais destinados à cultura do pessegueiro ao parasitóide de ovos T. pretiosum,
classificaram o ingrediente ativo metoxifenozide como inócuo (classe 1).
Os piretróides gama-cialotrina e bifentrina são químicos neurotóxicos e normalmente,
classificados como não seletivos, concordando com os resultados dessa pesquisa (Tabela 17).
Ambos esses produtos reduziram o parasitismo a zero, sendo classificados como nocivos.
Testando a seletividade de resíduos secos de produtos da citricultura, ao ácaro predador
Iphiseiodes zuluagai Denmark e Muma, 1972 (Acari: Phytoseiidae), Reis et al. (1998)
detectaram que os piretróides acrinatrina, bifentrina e fenpropatrina foram nocivos (classe 4).
Trabalhando com produtos aplicados na cultura da macieira para o controle da mosca das
frutas (Anastrepha fraterculus) Wiedemann, 1830 (Diptera: Tephritidae), Monteiro (2001)
71
demonstrou em seus experimentos que o piretróide deltametrina, provocou 100% de
mortalidade ao ácaro predador Neoseiulus californicus Mcgregor, 1954 (Acari: Phytoseiidae).
Acefato e clorpirifós foram nocivos (classe 4) (Tabela 17). São produtos pertencentes
ao grupo químico organofosforado, sendo considerados altamente tóxicos, como mostrado no
ensaio aqui realizado bem como no estudo do capítulo 3. Em pesquisa com acefato, através
de imersão de folhas de laranjeira e posterior contato com adultos da vespa predadora
Protonectarina sylveirae Saussure, 1854 (Hymenoptera: Vespidae) Galvan et al. (2002)
constataram 100% de mortalidade. Com a finalidade de verificar o efeito de produtos
fitossanitários empregados na plantação da seringueira aos inimigos naturais Euseius
concordis Chant, 1959 (Acari: Phytoseiidae) e Neoseiulus anonymus Chant e Baker, 1965
(Acari: Phytoseiidae), Ferla e Moraes (2006) observaram que o ingrediente ativo acefato foi
nocivo (classe 4), às duas espécies. Clorpirifós foi classificado como um inseticida altamente
tóxico a adultos de T. cacoeciae por Hassan et al. (1988). A toxicidade de inseticidas
organofosforados a adultos de Trichogramma spp. também foi constatada por Castelo Branco
e França (1995).
Tabela 17. Efeito de diferentes inseticidas sobre a mortalidade de adultos de Telenomus
remus, criados em ovos de Spodoptera frugiperda, na redução do parasitismo
(E), classificação segundo as normas da IOBC (C) e viabilidade do parasitismo
observado um e dois dias após a emergência dos parasitóides (DAE).
Tratamento
Parasitismo
(%)1
1 DAE
Viabilidade
(%)1
E
(%)
C
0,00 ± 0,00 c
-
100
4
2
Parasitismo
(%)1
2 DAE
Viabilidade
(%)1
E
(%)
C2
0,00 ± 0,00 b
-
100
4
0,00 ± 0,00 b
-
Ensaio 1
1. Acefato
2. Clorpirifós
-
100
4
3. Diflubenzurom
83,95 ± 3,37a
83,61 ± 2,55a
7,05
1
4. Espinosade
26,53 ± 3,79 b
82,29 ± 2,92a
70,6
2
5. Flufenoxurom
65,17 ± 14,20a
62,27 ±20,68a
27,8
1
6. Gama-cialotrina
0,00 ± 0,00 c
0,00 ± 0,00 b
-
26,13 ± 15,95 b 67,70 ± 7,68a
100
4
76,9
2
100
4
69,3
2
-
100
4
0,00 ± 0,00 b
-
100
4
7. Metoxifenoside 36
81,36 ± 8,09a
72,63 ± 6,52a
9,93
1
86,10 ± 8,03a
91,52 ± 2,84a
0
1
8. Testemunha
90,32 ± 4,13a
85,17 ± 4,09a
CV (%)
Ensaio 2
1. Beta-ciflutrina +
Imidacloprido
2. Bifentrina
3. Testemunha
CV (%)
0,00 ± 0,00 c
19,67 ± 11,38 b 64,47 ± 1,16a
84,53 ± 3,37a
-
-
81,92 ± 5,91a
-
-
25,64
21,46
-
-
51,25
13,04
-
-
1,36 ± 1,36 b
100 ± 100a
98,2
3
0,00 ± 0,00 b
-
100
4
0,00 ± 0,00 b
-
100
4
0,00 ± 0,00 b
-
100
4
-
-
60,95 ± 2,67 b
78,83 ± 5,69a
-
-
-
-
14,93
-
-
76,17 ± 6,56a
14,42
77,79 ± 5,60a
13,61
1
29,70
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, no mesmo ensaio, não diferem estatisticamente entre si pelo teste
de Tukey (P > 0.05); 2Classe 1 - inócuo (E < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30 ≤ E ≤ 79%), classe 3 moderadamente nocivo (80 ≤ E ≤ 99%), classe 4 - nocivo (E > 99%).
72
O produto espinosade apresentou-se levemente nocivo no primeiro DAE, sendo que,
tornou-se nocivo no dia seguinte (Tabela 17). Resultados esses bem próximos ao trabalho
com T. pretiosum (capítulo 3). A sobrevivência de T. pretiosum, em contato com espinosade
pulverizado sobre folhas de algodão, foi significativamente reduzida em relação ao controle
(Ruberson e Tillman, 1999). O inseticida espinosade apresentou impacto na população dos
parasitóides Diadegma leontiniae Brethes, 1923 (Hymenoptera: Ichneumonidae) Apanteles
sp., Actia sp. e Oomyzus sokolowskii, Kurdjumov (Hymenoptera: Eulophidae) quando foram
amostradas larvas de Plutella xylostella Linnaeus, 1758 (Lepdoptera: Plutellidae) em cabeças
de repolho (Villas Bôas et al., 2004).
O tratamento com beta-ciflutrina + imidacloprido demonstrou resultado idêntico ao
capítulo 3 no qual o produto foi considerado moderadamente nocivo no primeiro DAE e
nocivo no dia seguinte (Tabela 17). Tal produto resulta na ação conjunta de um inseticida do
grupo dos piretróides e outro do grupo dos neonicotinóides, respectivamente. Agem no
sistema nervoso dos insetos e são descritos na literatura como ingredientes ativos não
seletivos, confirmado por esse trabalho. Trabalhando com a cultura do algodão Sujii et al.
(2007), relataram que o uso de inseticidas químicos como o imidaclopride controlou
satisfatoriamente a população de lagartas Alabama argillacea Hübner, 1818 (Lepidoptera:
Noctuidae) apenas na primeira geração, o que pode estar relacionado à menor incidência de
parasitismo neste tratamento quando comparado com a testemunha, nas gerações seguintes.
Ao ressaltar a importância de produtos seletivos a serem usados no Manejo Integrado
de Pragas da soja, deve-se considerar não somente os inseticidas, mas também os herbicidas e
fungicidas, que normalmente são negligenciados neste requisito e, muitas vezes, podem ter
impactos negativos aos inimigos naturais contribuindo, assim, para o desequilíbrio do
agroecossistema (Santos et al., 2006). Deve-se frizar o aumento da utilização de herbicidas
por conta da introdução de variedades RR e da prática legislativa do vazio sanitário, bem
como as aplicações de fungicidas, que quase não eram realizadas na cultura, passaram a ser
comuns após a ocorrência da ferrugem asiática e podem estar afetando direta ou indiretamente
a presença dos inimigos naturais no agroecossistema.
Dentre os herbicidas testados (Tabela 18), flumioxazina, S-metalocloro, glifosato +
imazetapir e 2,4-D amina foram inócuos, sendo esse resultado semelhante ao encontrado no
capítulo 3. Os produtos a base de glifosato: Roundup Ready®, R. Transorb® e Gliz 480®
causaram uma redução de parasitismo significativa no segundo DAE dos insetos. As
classificações de seletividade dos diferentes produtos comerciais que contém o glifosato são
73
dependentes do tipo de sal de suas formulações, sendo que, os produtos testados, Roundup
Original®, Roundup Transorb® e Gliz 480® CS (sal isopropilamina) com classificação
moderadamente nociva (classe 3) e Roundup WG® (sal de amônio) como levemente nocivo
(classe 2), à T. pretiosum, obtiveram resultados semelhantes aos encontrados neste estudo
para T. remus nas doses recomendadas para a cultura da soja (Giolo et al., 2005). Dicloreto de
paraquate + diurom e clomazona reduziram o parasitismo no segundo DAE (classe 3).
Dicloreto de paraquate foi nocivo, diferindo de dicloreto de paraquate + diurom talvez
pela presença de diurom ou por apresentar diferentes constituintes inertes, em sua
composição. Resultado bem similar ao encontrado no capítulo 3. Estudo feito com exposição
de adultos de T. pretiosum a resíduos secos de herbicidas utilizados na cultura do milho
detectou que o produto dicloreto de paraquate foi nocivo (classe 4) a este parasitóide
(Stefanello Júnior et al., 2008).
Tabela 18. Efeito de diferentes herbicidas sobre a mortalidade de adultos de Telenomus
remus, criados em ovos de Spodoptera frugiperda, na redução do parasitismo
(E), classificação segundo as normas da IOBC (C) e viabilidade do parasitismo
observado um e dois dias após a emergência dos parasitóides (DAE).
Tratamento
Parasitismo
(%)1
1 DAE
Viabilidade
(%)1
E
(%)
C2
Parasitismo
(%)1,3
2 DAE
Viabilidade
(%)1
E
(%)
C2
-
100
4
92,25
3
0
1
Ensaio 4
1. Dicloreto de paraquate 4,83 ± 2,84 b 88,97 ± 4,97a 93,61
2. Dicloreto de paraquate
74,71 ± 1,18a 79,73 ± 6,45a 1,13
+ Diurom
3. 2,4-D amina
83,93 ± 3,23a 90,36 ± 3,41a
0
1
4. Clomazona
86,08 ± 2,90a 91,61 ± 1,31a
0
1
8,43 ± 5,34 bc 96,30 ± 2,10a
86,32
3
5. Glifosato (R.Original)
86,92 ± 3,98a 93,39 ± 0,75a
0
1
5,43 ± 5,12 bc 91,99 ± 6,68a
91,18
3
6. Glifosato + Imazetapir
68,19 ± 7,23a 88,34 ± 5,54a
9,76
1
83,70 ± 5,44a
7. S-metalacloro
81,52 ± 5,06a 87,97 ± 5,20a
0
1
38,31 ± 22,70 bc 88,52 ± 1,48a
8. Testemunha
75,56 ± 5,24a 86,59 ± 3,70a
CV(%)
11,02
8,74
3
0,00 ± 0,00 c
1
4,78 ± 4,78 bc 88,51 ± 4,42a
68,03 ± 21,00ab
78,82 ± 6,20a
91,35 ± 2,90a
0
1
37,82
2
-
-
61,60 ± 12,99ab
86,16 ± 6,84a
-
-
-
-
55,84
10,56
-
-
0
1
Ensaio 5
1. Flumioxazina
76,19 ± 13,40a 69,99 ± 7,86a
2. Glifosato (Gliz)
74,59 ± 12,54a 80,28 ± 9,31a
3. Glifosato (R.Transorb) 91,90 ± 3,82a 91,86 ± 1,29a
4. Testemunha
CV(%)
76,17 ± 6,56a 77,79 ± 5,60a
14,42
13,61
24,61 ± 2,69 b
2,08
1
0,00 ± 0,00 c
0
-
1
-
0,00 ± 0,00 c
60,95 ± 2,67a
-
-
29,70
1
76,40 ± 10,13a
56,62
2
-
100
4
-
100
-
4
-
-
-
78,83 ± 5,69a
14,93
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, no mesmo ensaio, não diferem estatisticamente entre si pelo teste
de Tukey (P>0.05); 2Classe 1 - inócuo (E < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%), classe 3 moderadamente nocivo (80% ≤ E ≤ 99%), classe 4 - nocivo (E > 99%); 3Estatística realizada nos dados
transformados em √(X+0,5).
74
Todos os fungicidas testados foram seletivos ao adulto de T. remus (Tabela 19). Notase que para esses produtos, o parasitóide T. remus apresentou uma ligeira maior resistência
quando comparado a T. pretiosum (capítulo 3). Resultados semelhantes foram obtidos por
Manzoni et al. (2007) quando trabalharam com seletividade de produtos na produção
integrada de maçã aos parasitódes T. pretiosum e T. atopovirilia.
Tabela 19. Efeito de diferentes fungicidas sobre a mortalidade de adultos de Telenomus
remus, criados em ovos de Spodoptera frugiperda, na redução do parasitismo (E),
classificação, segundo as normas da IOBC (C) e viabilidade do parasitismo
observado um e dois dias após a emergência dos parasitóides (DAE).
Tratamento
(g) de i.a. ha-1
Ensaio 6
1. Azoxistrobina
2. Azoxistrobina +
Ciproconazole
3. Carbendazin
4. Epoxiconazol +
Piraclostrobina
5. Tebuconazol
6. Tebuconazol +
Trifloxistrobina
7. Tiofanato metílico
8. Testemunha
CV (%)
Parasitismo
(%)1
1 DAE
Viabilidade
(%)1
E
(%)
C2
Parasitismo
(%)1
2 DAE
Viabilidade
(%)1
E
(%)
46,00 ± 12,82a
71,41 ± 11,94a
14,81
1
42,13 ± 8,61a
83,57 ± 4,27a
23,41
1
49,25 ± 11,64a
83,43 ± 5,44a
8,79
1
20,25 ± 14,25a
68,66 ± 26,99a 63,18
2
46,83 ± 13,91a
71,23 ± 10,22a
13,27
1
49,13 ± 6,92a
90,44 ± 4,24a
10,68
1
48,50 ± 1,15a
97,86 ± 1,65a
10,19
1
39,00 ± 12,20a
91,30 ± 1,30a
29,09
1
64,67 ± 2,20a
87,07 ± 5,30a
0
1
45,25 ± 5,25a
86,95 ± 1,80a
17,73
1
61,00 ± 7,05a
85,84 ± 1,99a
0
1
50,00 ± 5,97a
87,53 ± 2,19a
9,09
1
57,38 ± 7,42a
73,49 ± 9,77a
0
1
28,50 ± 7,32a
89,42 ± 3,69a
48,18
2
54,00 ± 2,93a
70,38 ± 6,35a
-
-
55,00 ± 5,96a
83,75 ± 3,66a
-
-
30,63
17,28
-
-
37,83
12,81
-
-
C2
Ensaio 7
1. Flutriafol
2. Flutriafol +
Tiofanatometílico
3. Testemunha
CV (%)
66,70 ±13,81a
74,70 ±10,22a
6,48
1
81,32 ± 7,93a
97,40 ± 2,10a
8,53
1
75,78 ± 7,64a
91,89 ± 2,59 a
0
1
83,85 ± 10,07a
92,69 ± 2,13a
5,69
1
71,32 ± 6,18a
72,03 ± 1,85a
-
-
88,91 ± 10,01a
83,12 ± 8,30a
-
-
10,75
-
-
16,86
7,41
-
-
22,59
Ensaio 8
1. Epoxiconazol
84,48 ± 5,15a
87,02 ± 3,45a
0
1
79,93 ± 7,78a
88,93 ± 4,34a
0
1
2. Testemunha
76,17 ± 6,56a
77,79 ± 5,60a
-
-
60,95 ± 2,67 b
78,83 ± 5,69a
-
-
14,42
13,61
-
-
29,70
14,93
-
-
CV(%)
1
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, no mesmo ensaio, não diferem estatisticamente entre si pelo teste
de Tukey (P>0.05). 2Classe 1 - inócuo (E < 30%), classe 2 - levemente nocivo (30% ≤ E ≤ 79%), classe 3 moderadamente nocivo (80% ≤ E ≤ 99%), classe 4 - nocivo (E > 99%).
75
4. CONCLUSÃO
Os inseticidas diflubenzurom, flufenoxurom, metoxifenozide, bem como os herbicidas
2,4-D amina, flumioxazina, S-metolacloro, glifosato + imazetapir e todos os fungicidas
testados nesse trabalho, são inócuos à adultos de Telenomus remus. Clorpirifós, acefato, betaciflutrina + imidacloprido, espinosade, gama-cialotrina, bifentrina e dicloreto de paraquate
são nocivos ao parasitóide de ovos Telenomus remus;
Os produtos glifosatos a base de sal isopropilamina, apresentam-se nocivos após o
primeiro dia de emergência dos insetos.
Os resultados obtidos nesse experimento adaptado às normas padronizadas IOBC, são
semelhantes a outros trabalhos conduzidos com diferentes inimigos naturais.
76
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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80
CONDIDERAÇÕES FINAIS
Os produtos fitossanitários apresentam diversas classificações em relação à
seletividade de organismos benéficos, pois, na condução dos trabalhos, vários fatores como
estágio vital, espécie estudada, dosagem de produtos e principalmente, a metodologia
utilizada, podem gerar dados divergentes a de outros estudos. Alguns produtos que agem por
contato e ingestão, como por exemplo, clorpirifós, acefato, piretróides e outros, normalmente,
afetam com maior agressividade, a fase adulta dos insetos. Já os produtos reguladores de
crescimento, podem, algumas vezes, causar impacto às formas prematuras dos insetos
benéficos. Inseticidas biológicos, geralmente, são seletivos a todas as fases dos inimigos
naturais.
As
espécies
aqui
estudadas,
não
apresentaram
diferenças
acentuadas
de
comportamento, frente à aplicação dos produtos, mas vale ressaltar que a fase adulta de
ambas, apresenta-se mais sensível quando comparada às fases imaturas, devido estas estarem
mais protegidas e que os fungicidas e herbicidas avaliados neste estudo possuem propriedade
seletiva maior, que os inseticidas aqui testados.
É importante ainda, salientar que nas condições de laboratório, as formas imatura e
adulta dos parasitóides de ovos T. remus e T. pretiosum foram submetidos à máxima
exposição aos produtos. Sendo assim, os produtos considerados seletivos serão, com certeza,
também seletivos em condições de campo. Entretanto, os compostos que se revelaram nocivos
podem ter seus efeitos negativos reduzidos quando aplicados em situação de campo devido a
uma grande diversidade de fatores como a presença de abrigos e o fato de que a degradação
dos compostos pela ação da luz, geralmente é acelerada em condições de campo. Por isso,
recomenda-se que os inseticidas, herbicidas e fungicidas classificados como 2, 3 e 4, em
laboratório, devem avançar na seqüência dos testes propostos pela IOBC, sendo avaliados em
testes a campo, em condições específicas da cultura da soja e sistema de manejo.
A metodologia IOBC adaptada e testada para o parasitóide T. remus proporcionou
resultados semelhantes ao trabalho conduzido com T. pretiosum. Sendo assim, fica como uma
sugestão para novos trabalhos envolvendo a seletividade de produtos.
Uma conduta eficaz no manejo integrado de pragas na cultura da soja requer conhecimento
dos insetos-praga, bem como de suas populações de nível de controle e principalmente, a conciência
de aplicação de produtos fitossanitários seletivos aos inimigos naturais.
81
ANEXOS
82
ANEXO 1. Cartela com ovos de Anagasta kuehniella parasitados por Trichogramma pretiosum.
ANEXO 2. Gaiola de contato preparada para teste de avaliação do efeito de inseticidas
a fase de pupa de Trichogramma pretiosum.
ANEXO 3. Exaustor de gases formados no interior das gaiolas de contato.
83
ANEXO 4. Equipamento com luz ultravioleta para inviabilização de ovos de Anagasta kuehniella.
ANEXO 5. Tubo de emergência contendo Trichogramma pretiosum na fase de pupa.
ANEXO 6. Aplicação de produtos fitossanitários com equipamento de pressão em placas
vidro.
84
ANEXO 7. Gaiola de contato padronizada pela IOBC.
ANEXO 8. Tubo de emergência recoberto com papel alumínio.
ANEXO 9. Tubo de emergência conectado à gaiola de contato.
85
ANEXO 10. Cartela contendo ovos inviabilizados de Anagasta kuehniella e mel.
ANEXO 11. Cartela com postura de Spodoptera frugiperda parasitada por Telenomus remus.
ANEXO 12. Imersão de cartela com ovos parasitados em calda fitossanitária.
86
ANEXO 13. Cartela introduzida em saco plástico após imersão e secagem.
ANEXO 14. Tubos de emergência contendo Telenomus remus na fase de desenvolvimento de
pupa.
ANEXO 15. Cartela identificada contendo postura de Spodoptera frugiperda e mel.
87
ANEXO 16. Prateleira de metal contendo ensaio com gaiolas padronizadas pela IOBC.
88
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SELETIVIDADE DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS UTILIZADOS