UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO 2º CICLO EM ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO (ao abrigo da Recomendação do CRUP) A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE MÓNICA DO CARMO FERREIRA MARTINS MOREIRA Orientadora: Ágata Cristina Marques Aranha Co-Orientadora: Ana de Fátima da Costa Pereira VILA REAL, JUNHO DE 2013 Dissertação apresentada à UTAD, no DEP – ECHS, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física dos Ensino Básico e Secundário, cumprindo o estipulado na alínea b) do artigo 6º do regulamento dos Cursos de 2ºs Ciclos de Estudo em Ensino da UTAD, sob a orientação da Professora Ágata Cristina Marques Aranha e coorientação da Professora Ana de Fátima da Costa Pereira. “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo...” Fernando Pessoa Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são. Peça uma alma corajosa que careça do temor da morte, que ponha a longevidade em último lugar entre as bênçãos da natureza, que suporte qualquer tipo de labores, desconheça a ira, nada cobice e creia mais nos labores selvagens de Hércules do que nas satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um rei oriental. Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio; Certamente, o único caminho de uma vida tranquila passa pela virtude. In Juvenal AGRADECIMENTOS Gostaria de começar com estas palavras: um profundo e sentido agradecimento à professora doutora Ágata Aranha, que me “adotou” com tamanho compromisso e seriedade neste meu objetivo. A sua orientação, foi frutuosa, pelos conhecimentos construídos, e por me mostrar os caminhos. Não posso deixar de fazer referência à sua compreensão e atenção em todo este processo. Não posso esquecer a prontidão e dedicação com que a Doutora Ana Pereira se entregou a este trabalho, já na reta final, mas que me foi preciosa e imprescindível num momento crucial, onde remava contra o tempo. Agradeço a oportunidade que me foi concedida em encontrar-me com seres especiais e inesquecíveis, que guardarei no meu coração ao longo da minha vida, enquanto ser terreno. À minha família pela compreensão e apoio prestado quando necessitei de estar comigo mesma e com estas palavras, que agora terminam a sua missão, nestas páginas que se podem ler. Aos meus muitos alunos, em cada canto do país e não só, que contribuíram para a minha valorização profissional, pessoal e académica. A todos aqueles que diretamente e indiretamente, contribuíram para mais este desafio, onde mais um degrau da escada se alcança. Grata aos que me incentivaram, pelo caminho a escolher e me orientaram sempre, com a boa vontade e com cordialidade e respeito, acreditando em mim e mesmo naqueles momentos que o desânimo batia à porta… A todos o meu profundo e devoto, MUITO OBRIGADA! I RESUMO O presente trabalho visa apresentar a sistematização do nosso pensamento, reflexão e investigação à volta da temática da Educação Física, numa perspetiva evolutiva ao longo da História, mas lançando sempre âncoras à contemporaneidade. Com efeito, é nosso particular foco de interesse determo-nos em questões que esta temática levanta na atualidade, propondose uma reflexão crítica sobre a forma como a Educação Física é ou deve ser encarada pelo legislador, pelos profissionais do seu ensino, pelos alunos, pela família e pela comunidade. Partiremos da importância da educação na estruturação do ser humano, visitaremos a área específica da Educação Física, constataremos as tendências do pensamento de alguns autores à volta desta temática, até chegarmos à problematização das temáticas que pretendemos colocar sob escrutínio e reflexão no presente trabalho. Procuraremos significar a importância, nem sempre reconhecida para a educação física enquanto prática e saber, na construção harmoniosa do indivíduo, e que se não circunscreve apenas ao ambiente escolar. Ou seja, dar jus à máxima latina mens sana in corpore sano, afinal uma máxima de saberia intemporal e atemporal. Porto de partida será igualmente a nossa experiência enquanto profissionais deste ramo do saber, bem como o percurso de valorização profissional já trilhado (Diploma de Estudos Avançados), com os quais julgamos poder contribuir para aprofundamento de investigação em áreas ainda pouco exploradas, como sejam as temáticas das “relações afetivas e o sucesso educativo no 1º Ciclo” e “o autoconceito e a afetividade nas aulas de Educação Física”. PALAVRAS-CHAVE: Educação Física, Autoconceito, Desporto Escolar, Ensino Básico. II ABSTRACT The current study presents the systematization of our thoughts, research and reflection on the theme of Physical Education, in an evolutionary perspective throughout history, always dropping anchors to the present time. Indeed, it is our particular focus of interest to dwell on questions that this issue raises today, proposing a critical reflection on how Physical Education is or should be considered by the legislator, professionals of their teaching, students, families and the community. We will begin on the importance of education in shaping the human being and we will visit the specific area of physical education. We will also see trends of thought of some authors on this issue, until we reach the problematization of issues that we intend to put under scrutiny and reflection in this work. We will try to denote the importance, not always recognized, of Physical Education as a practice and knowledge, in the harmonious construction of the individual, that should not be limited to the school environment. We reinforce the well-known Latin motto mens sana in corpore sano, after all, a motto of timeless wisdom. Our experience while working in this branch of knowledge will be the starting point, as well as the path of professional development already trodden (Diploma of Advanced Studies).We firmly believe that we can contribute to previously unexplored areas, such as the themes of “affective relations and educational success in the 1st cycle” and “self-concept and affection in physical education lessons.” Keywords: Physical Education, Self-concept, School Sports, Primary Education. III ÍNDICE AGRADECIMENTOS I RESUMO II ABSTRACT III 1. 2. INTRODUÇÃO 1 REVISÃO DA LITERATURA 3 2.1. A Educação 3 2.2. Educação, Modernidade e Pós-Modernidade 4 2.3. A Educação Física e o Desporto Escolar em Portugal 6 2.3.1. Benefícios do Desporto Escolar 7 2.4. Educação Física: crise de identidade ou crise de valores? 8 3. EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA. TENDÊNCIAS E PROBLEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS 10 3.1. Ganhar como consequência vs ganhar como circunstância 10 3.2. Subjugação das disciplinas “expressivas” às disciplinas de “aprendizagem” 11 3.3. Os espaços e os materiais em Educação Física e os tempos letivos - contingências e exigências 12 3.4. A Educação Física no 1.º Ciclo do Ensino Básico 13 3.4.1. A Importância da Educação Física no 1.º Ciclo do Ensino Básico 13 3.4.2. Expressão e Educação Físico Motora 15 3.4.3. Atividade Física e Desportiva 16 4. O PROFESSOR. DA IDENTIDADE E DO ESTATUTO 17 5. ENQUADRAMENTO PROFISSIONAL: A NOSSA EXPERIÊNCIA 19 5.1. O Desporto Escolar como influencia no Sucesso Educativo 22 5.2. Prática Pedagógica 22 5.3. O Desporto Escolar como fator social e integrador, como fator positivo para o Sucesso Educativo e como contributo para o autoconceito do aluno 24 6. O NOSSO CONTRIBUTO PARA A REFLEXÃO E INVESTIGAÇÃO DE TEMAS ATUAIS E RELEVANTES PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA. O TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO, O DIPLOMA DE ESTUDOS AVANÇADOS 26 7. 8. CONCLUSÕES REFERÊNCIAS 28 30 IV A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE 1. INTRODUÇÃO A educação da criança está permanentemente influenciada por fatores exógenos e endógenos, o saber, a família, o meio social, os interesses, a linguagem, os hábitos e costumes, a que acrescentaremos o autoconceito. O direito à educação assume-se, no mundo contemporâneo, um direito fundamental de todo e qualquer cidadão. Diríamos mesmo que é na educação que radicam os pilares da estruturação de um indivíduo, enquanto ser único e irrepetível, com direito a buscar um sentido para a sua existência, construindo a sua própria felicidade dentro da bacia cultural e social onde se insere, e também na conformação da axiologia dessa comunidade de que é parte. Assim, deve tomar consciência de que se insere num coletivo de indivíduos, seus pares, com um conjunto de valores e uma ética que lhe conferem um sentimento gregário, de pertença e inclusão. A escola, a par da família e da comunidade, é um habitat fulcral no processo educativo e de construção da identidade do indivíduo. Por isso, é fundamental que o mesmo, quando aluno, possa ter acesso a uma educação inclusiva, que promova a sua autonomia emocional e cognitiva. Para além de local privilegiado de transmissão de saberes, a escola assume-se ainda, no processo de desenvolvimento harmonioso do aluno, como um potente espaço de socialização. Um lugar sagrado de partilha de experiências e vivências, que lhe permite conhecer-se melhor a si próprio e desenvolver competências interrelacionais, fundamentais para a sua vida adulta. Mas, com tantos perigos à espreita, importa que a escola se apresente ao aluno e este a compreenda como uma oportunidade única para a estruturação da sua identidade, interiorizando ainda a sua função geradora de um potencial de oportunidades para o seu sucesso e felicidade pessoal. Para isso, mostra-se fundamental uma escola respeitadora da idiossincrasia de cada aluno, dos seus ritmos específicos de aprendizagem, das suas diferenças e dificuldades, sobretudo nos tempos que correm, em que o desemprego e as limitações económicas emergentes nas famílias portuguesas começam a afetar inequivocamente o comportamento e as capacidades dos alunos, por força da consequente desestruturação do ambiente familiar e, em alguns casos, de deficiente alimentação. Uma atitude preventiva e proactiva da escola é assim fundamental, visando corresponder às necessidades dos educandos, adaptando-se aos diversos estilos e ritmos de aprendizagem, proporcionando um desenvolvimento harmonioso 1 de todos. Curricula adequados, A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE flexibilização de organização escolar, correta utilização de recursos e cooperação articulada com a comunidade, mostram-se, a nosso ver, críticos para o sucesso do projeto educativo. Aqui chegados, cumpre-nos dirigir o olhar mais detalhado para a questão central deste trabalho, a saber a Educação Física e a sua evolução ao longo dos tempos até à contemporaneidade, assim como a nossa perspetiva pessoal sobre algumas temáticas em debate no presente e outras do nosso particular interesse de investigação (nomeadamente, a questão da importância do autoconceito no âmbito da Educação Física). Consideramos que a condição física adequada dos jovens em idade escolar e a consciencialização dos respetivos benefícios ao longo da vida conferem (ou deveriam conferir) à disciplina de Educação Física um papel preponderante na formação do aluno, porquanto o seu espaço de intervenção é abrangente, transversal e interativo. Observando os últimos anos, décadas e séculos, verificamos que a importância atribuída a esta disciplina foi um processo longo e difícil, com vários avanços e reveses, como bem se ilustra nos tempos que vivemos, com várias alterações legislativas que contribuem para o seu desprestígio. Procuraremos, neste trabalho, assinalar os sinais da evolução histórica desta disciplina, propondo ainda pistas de debate e reflexão quanto a questões que consideramos pertinentes e na ordem do dia sobre a forma como deve ser encarada a disciplina pelos docentes, mas sobretudo pela comunidade, e em especial pelo legislador. Também como referimos, vimos investindo no aprofundamento do conhecimento sobre um outro fator que consideramos preponderante no que concerne à capacidade de aprendizagem do aluno. Trata-se da temática do autoconceito, que vem sendo objeto do nosso particular interesse e investigação científica, nomeadamente no nosso projeto de doutoramento. Assim, julgamos pertinente, deixar, já nesta fase introdutória, algumas notas sobre este tema, cujo avanço no conhecimento ainda se mostra algo incipiente, mas que consideramos uma zona fascinante para investir academicamente no futuro. Conferimos alto grau de importância à circunstância de o pedagogo conseguir consciencializar determinados fatores que, do lado do aluno, podem interferir na sua capacidade de aprendizagem. Referimo-nos ao juízo que ele faz de si próprio e às expetativas daí resultantes, como agentes reguladores de processos motivacionais e comportamentais muito poderosos, com claro impacto no sucesso/insucesso na aprendizagem. 2 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE Neste capítulo, a temática do autoconceito assume-se de uma particular relevância, por lidar com questões que assumem foros de maior delicadeza para muitos alunos, como as questões da perceção que têm do seu próprio corpo e das suas performances desportivas, numa sociedade dominada pela pressão hedonista e competitiva. É nossa convicção de que o pedagogo terá de demonstrar um alto nível de consciência para saber ajudar os alunos com diferentes níveis de autoconceito, mantendo-os motivados e empenhados, fazendo-os ver que os objetivos da Educação Física se prendem, não tanto com a performance física imediata, mas com os resultados na sua saúde, bem-estar, divertimento, respeito, autonomia, cooperação e entreajuda, compreensão e não discriminação, e onde a primazia recaia sobre a participação em detrimento do rendimento ou do resultado final. Assim, a Educação Física, em particular, assume um imenso potencial para se transformar num território de libertação de medos e preconceitos e de favorecer a capacidade de desenvolvimento holístico e harmonioso do aluno, na fase crítica da construção da sua personalidade, para um ser autónomo, criativo, motivado e com alto grau de consciência sobre si próprio e sobre as suas capacidades. 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. A Educação “A Educação serve para ajudar o aluno a funcionar sem certeza, num mundo de mudanças constantes e ambiguidades que confundem” Dewey Segundo o dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, educação é o “processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social”. Paulo Freire (1980, p.28) ensina-nos que “a educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não educados, estamos todos a ser educados. Existem graus de educação, mas estes não são absolutos”. Esta asserção leva-nos a refletir sobre o processo educativo contínuo, como base numa constante busca pela melhoria da qualidade da formação docente e discente. Em Portugal existem algumas instituições que são dadas como exemplares e que, ao longo da sua história, se desenvolveram, importaram e inspiraram métodos de ensino tidos 3 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE como inovadores (a título de exemplo, significamos a Escola da Ponte, na freguesia de S. Tomé de Negrelos, Santo Tirso). Uma escola onde tivemos o privilégio de constatar de perto tais circunstâncias e de nos enriquecer como participantes das suas dinâmicas pedagógicas. Queirós (2002, p.56), por sua vez, diz-nos ser praticamente consensual a conceção de que a “educação é imprescindível a toda e qualquer sociedade”. Educar e ser educado afiguram-se, portanto, como ações humanas universais. Mesquita e Rosado (2009, p.34), reconhecem que propor uma conceção de educação, em particular na sociedade atual, significa adentrar numa “batalha ideológica e doutrinária-pedagógica no sentido lato do termo”. Transformações no ensino traduzem-se em metamorfose de valores, que incidirão sobre conceitos e práticas, ou seja, sobre a identidade de vidas humanas. Nesta realidade encontra-se igualmente a Educação Física e o respetivo professor. A Educação Física como disciplina essencialmente axiológica (como ancoradouro dos valores de uma comunidade) e este como peça fundamental do sistema educativo. O ensino da Educação Física, na contemporaneidade, deve assumir-se como um campo magnético que atraia uma atmosfera com a pluralidade de valores atrás referidos. Não obstante, vislumbramos várias decisões legislativas que contrariam esta visão, assim como inúmeros discursos apreensivos sobre a preparação e consciencialização dos próprios professores sobre o papel da Educação Física na estruturação dos valores da sociedade. 2.2. Educação, Modernidade e Pós-Modernidade Tornou-se um hábito a afirmação de que a educação nos nossos dias está em crise. Pourtois e Desmet (1999, p.19), afirmam ser uma “crise de sentido e de complexidade”. Tudo isto porque precisa de ser capaz de “matar” as carências de uma sociedade assinalada “por uma exaltação de mudança, por uma perda de sentido e de certezas, por falta de referências” (idem). Segundo o pensamento de Touraine (1998), a crise na educação não é, antes de mais, o reconhecimento dessas contradições culturais e da decomposição do sistema de normas e valores que a escola, a família e todos os órgãos de socialização supostamente deveriam de transmitir às crianças. Para Gervilla (1997), a crise educativa é um produto da crise de valores vivida pelo homem, pela sociedade e pela cultura. Fenómeno, este, que alcançou proporções globais e generalizadas em pouquíssimo tempo. Dentro da mesma ideia, Queirós (2002, p.55), questiona-se se “provavelmente, quando atualmente ouvimos falar em “crise da educação” 4 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE não estejamos senão a querer falar em “ou ‘crise da modernidade’, ou crise da passagem para a pós-modernidade”. Na era moderna, pautada pelos ideais da razão e do progresso tecnológico, a educação e a escola absorveram consequentemente estes direcionamentos e amoldaram-se na intenção da preservação e desenvolvimento dos referidos princípios. Pourtois e Desmet (1999, pp.28-29) afirmam que “na realidade, o sujeito devia ser exclusivamente objeto de um conhecimento objetivo, e devia estar estritamente sujeito a leis racionais e impessoais. É de destacar aqui que a escola se inscreveu claramente (e continua a inscrever-se largamente) nesta orientação positivista: aprendizagem do pensamento racional, resistência à noção de desejo e prazer, rejeição da imaginação, horários rígidos e parcelados, alinhamento dos bancos, etc”. Esta abordagem moderna pauta pela formação de uma criança disciplinada, obediente aos deveres sociais e familiares, respeitadora as regras de conduta, patriota e equilibrada. Nesta perspetiva, as motivações para o enquadramento da lógica educacional moderna são essencialmente meritocráticas, valendo-se das premiações e punições perante as atitudes dos educandos. Tem-se como objetivo formar um bom cidadão para a sociedade independentemente das suas aspirações pessoais. “A personalidade individual deve ser escondida por detrás da moral do dever e todo o particularismo é condenado” (idem, p.37). No período pós-moderno a realidade inverte, sendo exaltado o individualismo e subjugada a moral, inclusive no contexto educativo. Discutir pedagogia não tem necessariamente de nos levar a concentrarmo-nos apenas na escola, apesar de, a par a família, serem indiscutivelmente as entidades tradicionais e fundamentais onde acontece a formação do ser humano. Pois há quem diga que hoje “tudo é pedagógico. Tudo toma um sentido pedagógico. A escola já não tem um monopólio de pedagogia” Pourtois e Desmet, (1999, p.36). Devemos ser prudentes e ter cautela nesta análise, no intuito de preservar o sentido e não cair na banalização do termo, uma vez que se tudo é pedagógico ao mesmo tempo nada o é. Queirós (2002, p.58) declara que as escolas continuam a ser instituições modernas, assentes em estruturas inflexíveis, mas que vêem-se obrigadas a operar num mundo pós-moderno complexo, onde a diversidade de todos os níveis impera”. Ao mesmo tempo, Hargreaves (1998, p.4) diz que o problema fundamental no contexto educativo face às alterações da pós-modernidade emerge da tensão existente entre esta era pós-moderna - “mudança acelerada, a compressão intensa do tempo e do espaço, a diversidade cultural, a complexidade tecnológica, a segurança nacional e a certeza cientifica” 5 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE - e o sistema escolar presente, tido pelo autor como “moderno e monolítico, que continua a perseguir propósitos profundamente anacrónicos por intermédio de estruturas opacas e inflexíveis”, ou seja, há uma incompatibilidade que limita as respostas requeridas e necessárias. “ É esta disparidade que define grande parte da crise contemporânea da escolarização e do ensino” (idem p.38). 2.3. A Educação Física e o Desporto Escolar em Portugal A Educação Física surgiu em 1766, com Marquês de Pombal, no Real Colégio dos Nobres, sendo esta a primeira instituição onde esta disciplina foi entendida numa perspetiva educativa (Brás, s.d.), de que apenas um pequena elite poderia beneficiar. Segundo Brás, (1981), apesar de alguns defenderem o alargamento da prática da Educação Física a toda a sociedade, só em 1836 esta disciplina foi tornada obrigatória no Ensino Primário através da Reforma da Instrução Primária, decretada em 15 de Novembro de 1836, durante o Governo de Passos Manuel. Desde então, vem fazendo parte dos currículos dos primeiros anos escolares, com exceção da «Contra-Reforma», quando foi retirada, para ser reintroduzida em 1870, por D. António da Costa, passando definitivamente a fazer parte dos curricula até aos nossos dias. No início do século XX foi especialmente incentivada pelos chamados sportsmen, antigos professores de ginástica oriundos sobretudo das atividades circenses. A racionalidade científica associada à prática desportiva surge, contudo, mais tarde, oriunda do norte da Europa, com uma metodologia própria e conotada com a promoção da saúde, nomeadamente através da prescrição do exercício. Isto deu origem à divulgação de trabalhos sobre esta área em Portugal, fundamentalmente pela mão de Luís Furtado Coelho, no início daquele século, que foi um dos introdutores da ginástica de linha no nosso país, dando-se a mudança de paradigma da ginástica para a Educação Física. O advento da década de 70 representa um momento crucial nas velhas fórmulas de pensar e praticar a educação física nas escolas, com a introdução da psicomotricidade, do desporto para todos e do ensino do mesmo como conteúdo escolar. Na atualidade, o direito à educação física e ao desporto gozam de dignidade constitucional, plasmada na alínea d) do número 1 do artigo 70º da CRP, que assegura a proteção e efetivação desses direitos, garantindo-se no seu artigo 79º a universalidade do direito à cultura 6 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE física e ao desporto, aflorado ainda no nº 1 do artigo 64º, enquanto via de realização do direito à proteção da saúde. Ao nível da legislação ordinária, que dá consequência ao postulado constitucional, a educação física e o desporto escolar estão desde logo enquadrados pela Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro, e pela Lei de Bases do Sistema Desportivo, Lei n.º 1/90, de 13 de Janeiro. O respetivo quadro geral vem regulamentado pelo Decreto-lei nº 95/91, de 26 de fevereiro. Ali se situa a educação física no quadro das atividades curriculares, assumindo-se o desporto escolar como uma atividade de complemento curricular e educativo. Temos assim que, em Portugal, existe um quadro normativo que visa assegurar, ao nível teórico, a universalidade dos direitos ao acesso à educação, ao bem-estar físico e à saúde, através de uma prática desportiva orientada, com especial incidência nos jovens em idade escolar. O desporto escolar é assumido como um subsistema integrado no sistema educativo, embora se admitindo a sua ligação a outros subsistemas desportivos, dinamizando-se sob a égide dos órgãos de gestão e administração dos estabelecimentos de educação e ensino. 2.3.1. Benefícios do Desporto Escolar - Desenvolve ossos e músculos saudáveis - Melhora o rendimento escolar em geral - Melhora a saúde no geral - Aumenta a capacidade de concentração - Previne o excesso de peso e obesidade e suas complicações - Aumenta a capacidade de aprendizagem por unidade de tempo - Melhora o controlo da agressividade - Estimula e melhora a auto-estima e a autoconfiança - Aumenta a coesão e cooperação - Reduz a ansiedade, o stress e a depressão - Melhora as competências e a eficiência - Melhora a saúde psicológica 7 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE - Contribui para a formação de valores e atitude - Melhora a tolerância pelas regras e pelos outros - Contribui para o desenvolvimento da personalidade - Melhora o humor 2.4. Educação Física: crise de identidade ou crise de valores? “Qualquer sistema global de educação deve reservar para a educação física e o desporto o lugar e a importância necessários ao estabelecimento do equilíbrio e reforço das relações entre as atividades físicas e os outros elementos de educação”. Carta Internacional da Educação Física e do Desporto da Unesco, artigo 2.3, Paris, 21 de Novembro de 1978. A Educação Física escolar está, há algumas décadas, amplamente recomendada pelos organismos internacionais, como a Unesco e a OMS. A Carta Internacional da Educação Física da Unesco (1978) é clara na recomendação de um sistema educativo integrador da Educação Física, reconhecendo-o, a par do desporto, como “elementos essenciais da educação e da cultura”, devendo “desenvolver as aptidões, a vontade e o auto controlo das pessoas e contribuir para a sua insersão social” (artigo 2.1). Pelo seu lado, a OMS (1994) fornece uma ementa de recomendações para a atividade física dos indivíduos em idade escolar, nos seguintes termos: 60 minutos de atividade física diária de intensidade moderada a vigorosa; a maior parte da atividade física deverá ser de natureza aeróbia; atividade física diária para além dos 60 minutos mínimos resultará em benefícios extra para a saúde dos praticantes; pelo menos 3 vezes por semana, a atividade física deverá integrar exercícios que permitam fortalecer os músculos e os ossos. Não obstante, reputados investigadores, (Duarte, 1991; Torres e Gaya, 1997) vêm observando que nas sociedades contemporâneas os estilos de vida de crianças e adolescentes tendem a um quotidiano preenchido por reduzida atividade física, Bergmann, (2006). A sedentarização provocada pela mobilidade social do campo para a cidade e pelos avanços tecnológicos, 8 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE levaram a que os computadores, os videojogos e a televisão se transformassem em perigosos inimigos de uma fruição de uma vida equilibrada, durante o estádio de crescimento e de formação de hábitos dos indivíduos. Assim sendo, a Educação Física escolar assume um papel preponderante para a reeducação e reequilíbrio de crianças e adolescentes, em muitos casos o único momento de exercício físico e prática desportiva. Contudo, paradoxalmente, a Educação Física escolar vem perdendo espaço letivo nos países desenvolvidos, como anotam investigadores, como (Bracco, 2001). Apesar do reconhecimento da importância da atividade física para a adoção de um modelo de comportamento ativo, verifica-se um desinvestimento na Educação Física e desporto escolar, que se acentua à medida do avanço no ciclo letivo, chegando a menos de metade no final do ensino médio (Sallis & Mackenzie, 1991, apud Bracco, 2001). Contraria-se, assim, pela via legal de cada país, as orientações dos organismos internacionais, como a UNESCO e a OMS. A acrescer a esta tendência, e na senda do que se vinha afirmando sobre a concorrência das novas tecnologias e sedentarização, alguns estudos vêm sublinhando a estigmatização da atividade física escolar como atividade menor, no quadro da competição e do sucesso escolar. Tal circunstância manifesta-se pela observação de inúmeros alunos que percecionam a educação física escolar e os seus curricula como algo irrelevante, monótono e insuficientemente estimulante (Tinning e Fitzclarence, 1992; Ennis et al., 1997). Uma crescente percentagem de alunos começa a demonstrar repulsa pelas aulas de Educação Física, considerando-as irrelevantes, educacionalmente negativas e pouco agradáveis (Rink, 1992; Stroot, 1994; Carlson, 1995) e, na maior parte das vezes, insatisfatórias (Siedentop e Locke, 1997). Igualmente, vem sendo anotada uma insatisfação generalizada, expressa na desvalorização dos benefícios relativos à saúde, na não participação e na recusa de uma identidade orientada para um estilo de vida ativo e saudável (Ennis, 1999b). Todas estas observações não deixam de ser perturbantes, sobretudo num tempo em que a cultura dominante tende a valorizar e a exacerbar a condição e o aspeto físico, bem como o desporto (maxime, o competitivo). Não deixa de ser igualmente preocupante, verificar-se uma ausência generalizada da perceção do aluno quanto aos programas de Educação Física escolar (Graham, 1995ª). Atribui-se a esta circunstância a forte redução das capacidades dos professores (Cothran e Ennis, 1998) e dos teóricos do currículo (Ennis, 1996a) para incrementarem atitudes mais favoráveis à motivação dos alunos para a disciplina. 9 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE Por outro lado, analisando a perspetiva de alguns profissionais da educação, Tani e Manoel (2004, p.122) notam que a aula de Educação Física, mais parece “um grande recreio, sem conteúdo e método de ensino sistematizados”. Ainda antes de lecionar, o professor de Educação Física já se depara com preconceitos a respeito do curso e da profissão, impondo-se evidenciar, em larga escala, o contributo que a Educação Física para a formação das pessoas e que não apareça aos olhos da opinião pública com um estatuto duvidoso. Até porque há já quem afirme que as dúvidas a respeito da sua credibilidade na escola tornaram-se um fenómeno mundial (Graça, 2004; Tariola et al., 2010). Parece-nos, assim, claro que, se a sociedade pretende evoluir com indivíduos com elevada capacidade crítica no que concerne às escolhas do que consomem e que adotem um estilo de vida ativo e saudável importa que o legislador, a opinião pública, a escola e o professor favoreçam o envolvimento do aluno na disciplina, nomeadamente na compreensão das suas motivações, perceções, crenças, objetivos e comprometimento com a Educação Física. 3. EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA. TENDÊNCIAS E PROBLEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS 3.1. Ganhar como consequência vs ganhar como circunstância Alguns autores têm debatido o modelo desportivo escolar com base no objetivo para onde deve estar vocacionado. Para alguns, o pêndulo do ensino deve estar focado sobre a busca do resultado e a vitória na competição, com utilização de métodos de ensino mecânico, analítico e de especialização, onde a competição supera a cooperação. Normalmente é o modelo defendido pelas federações desportivas, que buscam na escola o viveiro dos atletas de alta competição. Para outros, o modelo deve assentar numa prática coeducativa, recreativa, inclusiva, por via de um ensino que procura a disponibilidade motriz, procurando ligar a atividade física e a saúde. São estes, essencialmente, como observou Fraile (s/d), os modelos opostos onde o objetivo da atividade escolar é a consequência ou a circunstância. O primeiro modelo, que visa buscar o máximo rendimento físico, pode resultar altamente seletivo e discriminatório, pois valoriza os melhores e mais aptos fisicamente em detrimento dos demais, e contribuir para uma excessiva especialização desportiva. 10 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE No segundo modelo, que propugna o mérito pela circunstância, prioriza-se a participação do aluno como parte da sua formação integral ao nível cognitivo, social, afetivo e motriz, potenciando os valores da honestidade, autoconfiança, fair play, cooperação, respeito pelas regras, antes do resultado. Neste modelo, o professor assume o papel de educador, pedagogo, em vez de treinador. Este último é o modelo que propugnamos, por se mostrar eclético e inclusivo. Aquele onde a avaliação pedagógica da Educação Física não se mostra um exercício de psicometria ou de antropometria, onde se busquem e avaliem, acima de tudo, dotes ou talentos escondidos. Não encaramos a Educação Física como a arte ou ciência de medir variáveis analíticas para comparar os alunos entre si e dividir a população em escalões, segundo hierarquias de classificação morfológica, de tipologia psicológica, ou de aptidão para a prática desportiva especializada. Tal como não seria razoável reduzir a Matemática e sua avaliação à expressão de dotes de “cálculo” e de capacidades mentais, nem a Língua Portuguesa à “expressão de talentos de comunicação, também a educação física não se dilui numa “expressividade motora”. 3.2. Subjugação das disciplinas “expressivas” às disciplinas de “aprendizagem” Tendência recente, em nome de uma ilusória ideia de sucesso educativo, é a de subjugar as disciplinas “expressivas”, onde se insere a Educação Física, às chamadas disciplinas de “aprendizagem”. Vem consubstanciada na desvalorização da avaliação sumativa da educação física, assim como na redução do seu número de horas letivas. Esta tendência legislativa vem desprestigiando a Educação Física no quadro do ensino em Portugal, contribuindo para acentuar a crise de perceção da sua importância no quadro da formação holística do indivíduo, no momento crucial da sua formação. Importa, assim, pugnar para que a avaliação sumativa em educação física seja mantida e qualificada, no final dos anos letivos e dos ciclos, com base nas Metas de Aprendizagem (2010) e nas NRSEF (normas de referência do sucesso em Educação Física, resultantes da atualização, em 2001, do PNEF de 1989). E não ser relegada para um conjunto de vagas apreciações informais e arbitrárias. Na verdade, a avaliação sumativa, seja em Educação Física, em português ou matemática, não pode confundir-se com uma creditação para hipotéticas opções futuras do aluno, académicas ou profissionais. Não nos parece fazer sentido limitar a avaliação sumativa em Educação Física aos alunos que declarem interesse futuro nesta área, tal como não o faria reduzir a referida avaliação da 11 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE Matemática ou de Português aos que declarassem interesse em profissões atinentes a tais disciplinas. Assim, sublinhamos a necessidade de se esclarecer e reforçar o significado da avaliação pedagógica em educação física, especialmente da avaliação sumativa, garantindo-se que as notas escolares nesta disciplina tenha o mesmo estatuto formal das outras disciplinas do curriculum, nos 12 anos de escolaridade, para evitar dúvidas e confusões prejudiciais aos alunos e às famílias. 3.3. Os espaços e os materiais em Educação Física e os tempos letivos - contingências e exigências As aulas de Educação Física são, por excelência, espaços vocacionados para a relação social da turma e para a formação cívica. Ali se cuida de promover a elevação da aptidão física, através de exercitação adequada, a par de outros relevantes conhecimentos transversais (p. ex. sobre os cuidados de exercício, repouso, alimentação). Assim, a correta distribuição dos horários, o cuidado na sua planificação, tal como os espaços e materiais alocados ao bom ministério da aula são fundamentais para o sucesso da disciplina e motivação de aluno e professor. Como “disciplina laboratorial” que é, os espaços e materiais de Educação Física assumem-se como recursos de aprendizagem fundamentais, porquanto os equipamentos especializados determinam as oportunidades de aprendizagem. Aliás, requerem regras próprias de disciplina pessoal, segurança e higiene. É justo referir o salto qualitativo de algumas escolas nacionais, neste capítulo, muito embora isso também tenha acentuado disparidades em relação às que não foram objeto de melhoramentos físicos e de equipamentos. Pelo se impõe um contínuo esforço na busca do nivelamento dos recursos e processos em toda a rede escolar nacional, em nome da igualdade dos direitos em causa. Todavia, a acrescer a este aspeto, cumpre haver uma adequada organização e gestão escolares. É precisamente neste ângulo que a questão dos horários das aulas assume uma particular relevância, porquanto já uma correta planificação permite que a Educação Física seja adequada e suficiente para a correta aprendizagem e desenvolvimento dos alunos. Cumpre aqui reforçar que as aulas de Educação Física, na esteira do que vimos enfatizando, são efetivas aulas de aprendizagem e não mera “ocupação de tempos livres”, como em alguns fóruns se vai (mal) advogando. 12 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE Nesta particular matéria, propugnamos uma divisão do horário semanal de cada turma em três aulas de Educação Física com 100, e não 70 aulas, durante o ano letivo. Não nos parece adequada a divisão de uma aula de 90 minutos em duas de 45 minutos ou duas aulas consecutivas de 50 minutos. Assim, atendendo aos princípios da continuidade e integração das aprendizagens e de recuperação dos esforços, a distribuição de horários nos parece melhor adequar-se para as referidas três aulas de Educação Física seria à segunda, quarta e sexta-feira, cada uma delas em períodos distintos do dia (início ou fim da manhã, início ou fim da tarde). Por fim, importa refletir sobre a forma como é entendido o tempo útil da aula, porquanto, quando não existem intervalos, não pode pretender-se que faça parte da aula de Educação Física a deslocação dos alunos para o vestiário, a higiene pessoal e a troca de roupa e calçado, que limitam consideravelmente o efetivo tempo útil destinado ao ensino, prática e aprendizagem. 3.4. A Educação Física no 1.º Ciclo do Ensino Básico A Educação Física, no que concerne ao 1.º Ciclo do Ensino Básico, está presente na Expressão e Educação Físico-Motora no plano curricular e na Atividade Física e Desportiva no plano extracurricular, fazendo esta última parte das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC), (Azevedo, 2009). Importa, assim, discorrer sobre a importância da Educação Física no 1º Ciclo do Ensino Básico e enunciar alguns aspetos que julgamos importantes sobre a Expressão e Educação Físico Motora e sobre a Atividade Física e Desportiva. 3.4.1. A Importância da Educação Física no 1.º Ciclo do Ensino Básico A educação da criança inicia-se no seio familiar, passando, mais tarde, a ser partilhada pela escola, momento em que vai beneficiar de uma educação especializada (Pimentel & Nunes, 2002). À Educação Física vai caber um papel importante, especialmente o da educação motora. Com efeito, ao longo da ontogénese da criança, verificam-se períodos críticos de desenvolvimento de determinadas estruturas motoras, e a escola deverá ser um espaço institucional que garanta a solicitação dessas estruturas, além de satisfazer eficazmente as 13 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE necessidades motoras das crianças nos períodos correspondentes ao pré-escolar e ao 1º ciclo do ensino básico. A passagem pelas fases neuro-motora, sensório-motora, percetivo-motora, simbólica, conceptual e social, é vista numa perspetiva integradora, cujas antinomias dão coerência ao processo e realçam a pluridimensionalidade biopsicossocial do ser humano em desenvolvimento. Ora, a dimensão motora está presente na génese da criança, bastando deixá-la com espaço para que evidencie a respetiva expressão. Mas é também claro que o combate ao "analfabetismo motor" (Carlos Neto), passará muito por uma gestão adequada das condições espácio-temporais e, substancialmente, dos conteúdos neles incluídos. Analisando o contexto legislativo onde esta atividade foi sendo acolhida ao longo do tempo, verificamos que já no início do século XX, o Decreto nº 8/1901, apontava para a necessidade de o Estado preocupar-se com a saúde dos alunos que passavam muito tempo na escola (Decreto n.º 8/1901), surgindo a Educação Física como meio adequado a tal desiderato, por garantir um desenvolvimento gradual das forças físicas e a manutenção da saúde do indivíduo (Brás & Gonçalves, 2009). Já no final daquele século, o Decreto-Lei n.º 95/91 referia que “o acesso à educação, ao bemestar físico e à saúde através de uma prática desportiva orientada, é um direito que assiste a todos os portugueses, com especial incidência nos jovens em idade escolar”. A escola assume-me, assim, inequivocamente, como um território determinante para o desenvolvimento da criança, tanto pelo significativo tempo em que a vai habitar, como por lhe garantir aprendizagens indispensáveis para a vida em sociedade (Brás, 1981). Este autor sublinha ainda que, à semelhança do que acontece com as outras áreas do currículo, também no que respeita à Educação Física o desenvolvimento da criança depende das aprendizagens proporcionadas no 1.º Ciclo do Ensino Básico. Uma escola que integre a Educação Física no seu plano curricular influencia a personalidade da criança ao nível motor, cognitivo, moral e socio-afetivo. “O desenvolvimento físico da criança atinge estádios qualitativos que precedem o desenvolvimento cognitivo e social” (Ministério da Educação, 2004). Ainda de acordo com este Ministério (2004), as fases sensíveis do desenvolvimento das qualidades físicas e das aprendizagens psicomotoras situam-se até ao fim do 1.º Ciclo do Ensino Básico. E, de acordo com a Direção Geral dos Ensinos Básicos e Secundário (1990), as aprendizagens consumadas no 1.º Ciclo do Ensino 14 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE Básico são fundamentais nas aquisições subsequentes, tanto a nível físico como nos demais níveis que conformam o desenvolvimento do ser humano. Para Moreira, Faria, Silva, Costa & Neves (2009) o movimento “para a criança é a sua realidade imediata e espontânea” e “permite à criança encontrar um conjunto de relações necessárias ao seu desenvolvimento”, podendo a sua ausência implicar limitações importantes ao nível da aptidão dos alunos, sendo estas, normalmente, irreparáveis (Ministério da Educação, 2004). Brás (1981) reforça o mencionado anteriormente, referindo que no período de crescimento e maturação a criança passa por períodos críticos que, caso não sejam aproveitados, tornam insuperáveis para possíveis aprendizagens as limitações daí resultantes. A introdução da Expressão e Educação Físico Motora e da Atividade Física e Desportiva no 1º ciclo seduz a criança para a escola e para o ensino, porquanto essas aulas permitem-lhe experienciar ritmos e estilos próprios das atividades típicas da infância (Ministério da Educação, 2004), tornando-a no ator principal das “brincadeiras”. Para as crianças tudo é pretexto para brincar e jogar, sendo a atividade lúdica necessária para o seu desenvolvimento, e permitindo ainda testar as suas capacidades (Maria & Nunes, 2007). Tal como bem esta autora sentencia (2007), “Como o trabalho é a atividade do adulto, o jogo é a atividade da criança”. Face ao exposto, acreditamos que o ensino da Expressão e Educação Físico-Motora e da Atividade Física e Desportiva no 1º ciclo deve estar generalizado e democratizado. Melhores resultados poderão ser obtidos com uma adequada articulação no trabalho desenvolvido na Expressão e Educação Físico-Motora e na Atividade Física e Desportiva, bem como entre o Professor Titular da Turma e o professor de Atividade Física e Desportiva, professores que lecionam respetivamente Expressão e Educação Físico Motora e Atividade Física e Desportiva. 3.4.2. Expressão e Educação Físico Motora O ensino da Expressão e Educação Física surgiu no 1.º Ciclo do Ensino Básico por via da Reforma do Sistema Educativo de 1986-1996 (Figueiredo, 1996, citado por Azevedo, 2009). Com o Decreto-Lei n.º 286/89, foram aprovados os planos curriculares dos Ensinos Básico e Secundário, passando a Educação Física a fazer parte do currículo de formação geral de todos 15 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE os alunos do 1.º ao 12.º ano de escolaridade. Assim, passou a ser de carácter obrigatório, estando os seus objetivos e competências devidamente regulamentados. A Educação Física no 1.º Ciclo do Ensino Básico, tal como nos outros anos de escolaridade, compete ao Ministério da Educação, tal como acontece nas demais áreas curriculares (Azevedo, 2009). No que ao perfil dos professores de Expressão e Educação Físico Motora respeita, o artigo 19.º do Despacho 14460/2008 enuncia que “Os profissionais […] nas áreas das expressões, deverão possuir formação profissional ou especializada adequada ao desenvolvimento das atividades programadas”, não tendo deste modo de ser licenciados em Desporto ou áreas similares. Os docentes que lecionam a Expressão e Educação Físico Motora são professores titulares de turma. 3.4.3. Atividade Física e Desportiva Assumindo a importância do desenvolvimento de atividades de enriquecimento curricular no 1.º Ciclo do Ensino Básico, visando um sucesso escolar futuro, foi publicado o Despacho n.º 14460/2008, de 26 de Maio, com o intuito de promover o desenvolvimento da criança, alargando o seu enriquecimento pessoal num plano extracurricular. As denominadas AEC englobam várias atividades, sendo uma delas a Atividade Física e Desportiva. De acordo com o artigo 12.º do Despacho referido anteriormente, os professores de Atividade Física e Desportiva no âmbito do programa das atividades de enriquecimento curricular no 1.º Ciclo do Ensino Básico devem ser licenciados em Desporto ou áreas afins ou possuir habilitações profissionais ou próprias para a docência da disciplina de Educação Física no Ensino Básico. A Atividade Física e Desportiva, sendo uma AEC, ao contrário da Expressão e Educação Físico Motora, possui um carácter facultativo, não sendo, assim, a sua frequência obrigatória, podendo alguns alunos não integrarem esta AEC, assim, a Atividade Física e Desportiva deve ser encarada como enriquecimento curricular e não como substituta da Expressão e Educação Físico Motora, como muitas vezes acontece. O programa das atividades de enriquecimento curricular do 1.º Ciclo do Ensino Básico, nomeadamente a Atividade Física e Desportiva, tem como objetivo, essencialmente, ampliar 16 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE as experiências vivenciadas pelas crianças, de modo a estas desenvolverem o seu esquema corporal, as suas capacidades motoras (Maria & Nunes, 2007). Não obstante, cumpre referir que, no momento em que se escreve este trabalho, se assiste a um debate nacional sobre a intenção de o legislador reduzir o tempo das AEC´s, o que terá, um forte impacto sobre a Atividade Física e Desportiva. 4. O PROFESSOR. DA IDENTIDADE E DO ESTATUTO Antes de pensarmos o professor na sua relação com os valores, torna-se necessário compreender o cerne a sua identidade. Para isso, não conseguimos encontrar melhor termo para o descrever do que educador, apesar de outros sujeitos se enquadrarem nesta qualificação. Se o educador é aquele que educa, ou que se entrega a liderar no ato educativo, a identidade do professor/educador torna-se indissociável da educação. Reconhecer o ser professor passa inevitavelmente pelo significado da educação ou, pelo menos, o sentido que lhe dermos. Etimologicamente, sabemos que a raiz do termo educação, no latim, bifurca-se em dois vocábulos: educare e educere (Gervilla, 1997; Mialret, 1980). O primeiro expressa um sentido de fora para dentro, enquanto o segundo de dentro para fora. Educare expressa ação de conduzir, guiar, modelar, orientar num sentido de suprir no educando algo que lhe falta. No sentido inverso, educere diz respeito ao ato de provocar, extrair, retirar, fazer brotar, trazer à tona o potencial escondido do indivíduo. Tanto num como noutro sentido, ou na junção dos dois, a educação requer liderança ativa. A passividade é obviamente uma opção do professor. O problema é que deixará de ser educação, mantendo-se apenas o posto de liderança. O professor passivo, aquele que se assume como educador, permanecerá como uma referência de liderança influenciadora dos educandos através da sua inércia. Segundo Paulo Freire, na dialogicidade, aparentemente paradoxal, ninguém educa ninguém, nem ninguém educa a si mesmo, mas os homens educam-se uns aos outros, de forma contextualizada. Segundo Graça (2001), num percurso histórico em busca da excelência do ensino, a preocupação com as melhorias das práticas de ensino aprendizagem, em qualquer campo de investigação em educação, revelou-se constante. Este autor refere que fases surgiram e evoluíram num reformular e adaptar constante, face aos novos desafios. Afirma que a primeira delas, predominante na primeira metade do século XX, focou-se em descobrir as características do bom professor. Entretanto mostrou-se frágil e com resultados inconclusivos, uma vez que não detalham o comportamento do professor, e não revelam harmonia entre o 17 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE professor possuir as características e realizar um ensino com elevados resultados de aprendizagem, mesmo que as características não atuem isoladamente. Desta forma, surge a segunda fase que visava descobrir o método ideal de ensino. Contudo, os estudos tiveram um carácter extremamente artificial, servindo apenas para situações laboratoriais. Para Constantino (2007), o resultado educativo final dependerá decisivamente da qualidade e empenho do professor. Tendo em conta a complexidade do ensino, ao professor é reconhecida uma posição de profissional autónomo, conferindo-lhe consequentemente voz e responsabilidade diante da sua ação. Não há dúvidas de que o professor é influenciado pelo que pensa e baseará a sua prática a partir das suas teorias e crenças (Behets, 2001; Graça 2001), ainda que irrefletidamente. Na voz de Teodoro (2006, p. 19), “é configurar a profissão de professor como a de um trabalhador social”, devido às novas demandas emergentes na relação com os alunos, assumindo o educador funções adicionais tais como psicólogo, terapeuta, assistente social, segurança, e até mesmo pai e mãe, entre outras mais. Hargreaves (1998) diz que a apreciação dos professores feita pelo público em geral (pais, políticos, administradores e outros) é muitas vezes através de olhos de criança, que o vêm a ensinar, mas não a realizar planos de aula, a participar de reuniões, a elaborar e a avaliar trabalhos e exames. Ultimamente, o trabalho do professor fora da sala de aula alargou-se muito, podendo ser-lhe agregada a responsabilidade de atividades, como a planificação em colaboração, o desempenho da função de “treinador” de um colega (peer coach) ou de mentor de um novo professor, a participação em programas de desenvolvimento profissional ou integração de comissões constituídas para rever e discutir casos individuais tais como as crianças de necessidades educativas especiais. E, se não corretamente ajustadas, todas as novas burocracias que incumbem ao professor, quando não são desmotivadoras, são pelo menos limitadoras da sua função-base: ensinar. Afirma-se hoje que o professor é ignorado e Lipovetsky (2007, p.37) descreve o quadro: “a indiferença cresce (…) em poucos anos, com a velocidade de um relâmpago, o prestígio e a autoridade dos docentes desapareceram quase por completo. Hoje, o discurso do mestre encontra-se banalizado, dessacralizado, em pé de igualdade com os dos media, e o ensino é uma máquina neutralizada pela apatia escolar, feita de atenção dispersa e de ceticismo desenvolto ante o saber”. 18 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE 5. ENQUADRAMENTO PROFISSIONAL: A NOSSA EXPERIÊNCIA Este é o momento de nos aproximarmos da minha experiência profissional, percorrendo uma década de serviço pela educação e pela educação física nos mais variados ponto do território nacional. A seguir ao ensino superior que me preparou para a profissão, a escola surpreendeume como o verdadeiro laboratório da minha aprendizagem, onde o contato com alunos, colegas, encarregados de educação, escolas, identidades culturais me enriqueceu de forma intensa e gratificante. A pessoa que hoje sou amadureceu com todas essas experiências, que procurarei detalhar, evidenciando também a forma como vivi tão diversificadas experiências e como, através delas, melhor me fui capacitando para o múnus do ensino. Como tive oportunidade de referir, obtive o grau de Licenciatura em Professores do Ensino Básico – 2º Ciclo, na variante de Educação Física, cujo curso decorreu entre 1998 e 2002, no ISCE – Instituto Superior de Ciências Educativas, Pólo de Felgueiras. Durante o curso, tive oportunidade de beneficiar de estágios pedagógicos em educação física no concelho de Felgueiras, a saber, na Escola EB1 de Várzea, no ano letivo de 1999/200, na EB1 de Sendim, no ano letivo de 2000/2001 e 300 horas no grupo de educação física da EB 2/3 Dr. Leonardo Coimbra, na cidade da Lixa. O primeiro emprego chegou em 2003, através da Tempo Livre – Centro Comunitário de Desporto e Tempos Livres, CIPRL, com sede no Multiusos de Guimarães, como professora de Educação Físico Motora. Nesse contexto, tive oportunidade de, entre 3 de fevereiro e 30 de Abril, trabalhar em várias escolas do concelho de Guimarães, integradas no Agrupamento de Ponte, no 1º e ao 4º ano de escolaridade. Tratou-se uma experiência enriquecedora e extremamente motivadora para o início de carreira como docente. Entre os dias 22 de maio e 31 agosto de 2003 estive colocada na EB1 de Moinhos, do Agrupamento de Escolas de Frazão, na freguesia de Frazão, concelho de Paços de Ferreira, onde lecionei Educação Física ao 4º ano de escolaridade. Entre os dias 21 de setembro de 2003 e 17 de maio de 2004, ministrei como professora de apoio aos professores do 1º ciclo na área de Expressão e Educação Físico Motora, apoiando igualmente a atividade Gira-Volei, na EB1 de Rechã, freguesia de São Tomé de Negrelos, concelho de Santo Tirso, integrada no Agrupamento de Escolas de São Martinho do Campo, concelho de Santo Tirso, por contrato celebrado com a Câmara Municipal deste concelho. 19 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE Já entre 18 de maio e 31 de agosto de 2004 ministramos Educação Física ao 6º e 7º ano de escolaridade, na Escola EB 2/3 de Albarraque, na freguesia de Rio de Mouro, concelho de Sintra. Entre os dias 1 de outubro de 2004 e 31 de agosto de 2005 lecionei como professora de Educação Física do 5º ao 7º ano de escolaridade na Escola Básica D. Lucinda de Andrade, no concelho de São Vicente, na Região Autónoma da Madeira. Nesta ocasião, tive a oportunidade de coordenar o núcleo de basquetebol e badminton dos escalões de iniciados e juvenis do desporto escolar. Nesta mesma escola, entre os dias 8 de março e 12 de abril de 2005, exerci como formadora de ação educativa, em regime de acumulação de funções. Igualmente lecionei Educação Física nesta escola ao 5º e 6º ano de escolaridade, entre 1 de outubro e 13 de outubro de 2005. O ministério pedagógico prosseguiu então na EB1 de Repiade, freguesia de Fração, concelho de Paços de Ferreira, integrada no Agrupamento de Escolas de Frazão, onde lecionei Educação Física ao 2º ano de escolaridade. A minha atividade profissional prosseguiu como professora de Atividade Física e Desportiva do 1º Ciclo do Ensino Básico nas Atividades de Enriquecimento Curricular, no atrás referido Agrupamento de Escolas de São Martinho do Campo, por contratação com a Câmara Municipal de Santo Tirso, entre 2 de outubro e 22 de outubro de 2007. Já no ano letivo seguinte, fui colocada como professora do 1º Ciclo do Ensino Básico dos 1º ao 4º anos de escolaridade da EB1 da Portela de Messines, da freguesia de São Bartolomeu de Messines, concelho de Silves, integrante do Agrupamento de Escolas de São Bartolomeu de Messines, entre 2 de janeiro e 31 de agosto de 2008. Após uma breve passagem pelas AEC’s do concelho de Santo Tirso, no Agrupamento de Escolas de São Martinho do Campo, entre 23 de setembro e 26 de setembro de 2008, ingressei como professora de Educação Física dos 5º e 6º anos de escolaridade, entre 2 de outubro de 2008 e 31 de agosto de 2009, na Escola Básica e Secundária da Calheta, na Região Autónoma da Madeira, onde me foi proporcionado coordenar o Desporto Escolar, em ginástica massiva. No seguinte ano letivo, fui chamada para a EB 2/3 Maria Lamas, no concelho do Porto, onde ministrei Educação Física aos 5º e 6º anos de escolaridade, entre 19 de setembro e 2 de novembro de 2009. Entre 4 de novembro de 2009 e 31 de agosto de 2010, ministrei como professora de Apoio Educativo do 1º Ciclo do Ensino Básico do 1º ao 4º ano de escolaridade na EB1 da Murteira e EB1 do Outeiral, na freguesia de Arada, concelho de Ovar pertencentes ao Agrupamento de Escolas de Maceda e Arada. 20 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE Já entre 9 de março e 21 de julho de 2011 fui chamada à Escola Básica das Paivas, na freguesia da Amora, concelho de Seixal, que integra o Agrupamento de Escolas Paulo da Gama, onde lecionei como professora de Apoio Educativo do 1º Ciclo do Ensino Básico aos 1º ao 4º ano de escolaridade. No seguinte ano letivo, viajei até ao concelho de Vila Franca de Xira onde, entre 16 de abril e 17 de maio de 2012, exerci como professora de Educação Física ao 5º e 6º ano de escolaridade, na E B 2/3 D. António de Ataíde, na freguesia de Castanheira do Ribatejo. Finalmente, no corrente ano letivo de 2012/2013, fui novamente contratada pela Câmara Municipal de Santo Tirso, a 26 de setembro de 2012, para lecionar Atividade Física e Desportiva do 1º ao 4º ano de escolaridade, no âmbito das Atividades de Enriquecimento Curricular, (AEC´S) na escola do Bom Nome, na freguesia de Vila das Aves, daquele concelho, integrante do Agrupamento de Escolas do Ave, com contrato firmado até 14 de Junho de 2013. Ao longo de mais de dez anos do meu percurso profissional tomei consciência da importância do meu ministério, assim como da Educação Física e atividades conexas no desenvolvimento do ser humano, sobretudo na crítica idade da sua formação física e mental. Assim, fui sempre em busca das mais adequadas estratégias para tornar a aula um espaço aprazível de aprendizagem e de reforço da intercamaradagem dos alunos. Cedo percebi a necessidade de inovar, permanentemente. Inovar conhecimentos, criar e recriar, planear, reformular, descobrir, experimentar, comprovar e ensinar. Não apenas seguir receitas preconcebidas, mas sobretudo modificá-las, condimentá-las e adaptá-las às realidades culturais, sociais, territoriais, etárias e institucionais de cada momento a que fui chamada ao ensino. Procurei desenvolver trabalho em equipa com os colegas, busquei formação profissional, procurei a permanente valorização profissional e aquisição de novos conhecimentos e disponibilizei para a promoção do Desporto Escolar. Como referi, a permanente mudança de escolas, quebrando a permanência e continuidade do trabalho que iniciei anteriormente, sempre foi uma limitação ao desenvolvimento do meu ministério, mas sempre encarei essa fatalidade como uma oportunidade para o crescimento e amadurecendo como profissional, porquanto cada nova escola e cada novo enquadramento 21 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE contratual se tornava num novo desafio a vencer, conhecendo os alunos, analisando as turmas, identificando as suas problemáticas e o respetivo potencial, buscando respostas para um ensino com sucesso pedagógico e satisfação dos visados (os alunos), face à experiência e conhecimento que ia acumulando de ano para ano. Posso, assim, ao final de todo este tempo deixar registada a minha paixão pelo ministério da Educação Física e o meu contentamento pelo processo de amadurecimento a que cheguei, sem que isso signifique a plena satisfação e completude na minha profissão. Isto porque, por um lado, existe um contínuo afunilamento das possibilidades de contratação (pública ou privada) para ministrar o meu saber e, por outro, continuar desassossegada por saber mais e lograr atingir novas etapas ao nível do reconhecimento das minhas capacidades pedagógicas e de conhecimento. Daí prosseguir o afã no sentido da obtenção do mestrado e doutoramento a que me propus. 5.1. O Desporto Escolar como influencia no Sucesso Educativo Ao longo deste percurso profissional tive em conta como uma mais-valia, o Deporto Escolar como estratégia para uma melhor aprendizagem em contexto da aula de Educação Física e ajudando de igual forma nas restantes disciplinas. Considerei que a prática de jogos coletivos e modalidades individuais seriam de extrema importância para os alunos obterem um melhor sucesso educativo. Assim sendo, através do Desporto Escolar, tracei alguns objectivos tais como: como minimizar situações de conflito entre pares, valorizar e incrementar o autoconceito no aluno, incentivar o respeito mútuo entre pares em situação de aula e utilizar o desporto escolar como um meio de motivação do aluno para o sucesso educativo, que considerei pertinentes para a minha atividade profissional enquanto docente e que verifiquei ao longo do tempo útil de aulas como sucesso na aprendizagem dos alunos principalmente daqueles que tinham alguma hiperactividade e problemas de concentração. Estes alunos melhoraram significativamente as suas notas no final do ano letivo. 5.2. Prática Pedagógica Sempre assumi a minha missão letiva com o máximo de responsabilidade, procurando planificar e adotar metodologias em aula que ajustassem aos objetivos que fui prosseguindo e 22 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE tendentes a obter o melhor resultado: o sucesso educativo e a plena satisfação na frequência das aulas por parte dos alunos e na prática do desporto escolar. Para isso, importou desde cedo assumir uma postura perante a profissão de total consciencialização da responsabilidade que me era afetada. Assim, sempre procurei evidenciar um correto domínio do conhecimento pedagógico, científico e didático das matérias lecionadas, dando cumprimento às orientações curriculares e aos programas da disciplina que tinha para lecionar. Sempre foi minha preocupação “trazer” o aluno para a aula com atividades criativas e inovadoras, ajustadas ao padrão da turma e à singularidade de cada aluno, mas suficientemente capazes de surpreender e manter o interesse dos alunos na aula de Educação Física. Sobretudo quando verifiquei que os recursos físicos e materiais didáticos que me eram colocados à disposição variavam de escola para escola. Promovi a autorreflexão, compreensão e consciencialização do aluno dos exercícios e conhecimentos que lhe iam sendo ministrados, evitando que as aulas se circunscrevessem a automatismos e rotinas e permitindo ao aluno acompanhar critica e conscientemente os benefícios pedagógicos e de saúde que ia recebendo. Nesta particular matéria, sempre privilegiei, não só a autorreflexão, mas sobretudo a partilha e o debate em grupo. Aliás, a promoção de um sentimento gregário, de pertença a um grupo que interage e se interajuda para o sucesso coletivo e individual dos seus membros, sempre norteou o meu pensamento e ação, sobretudo nas aulas com desportos coletivos, que normalmente privilegiei. Tendo sempre presente a lição de Bento (2008, pág. 58), de que a planificação se traduz numa “antecipação mental do ensino”, para obter um melhor rendimento e adequada estruturação das aulas, sempre adotei uma adequada planificação das mesmas, de acordo com os programas curriculares, as melhores práticas, as orientações superiores e as decisões tomadas pelo departamento ou grupo disciplinar. Para além disso, os planos de aula procuraram responder às necessidades concretas dos alunos, mas sempre tendo em conta uma perspetiva de médio e longo prazo (no, mínimo, o tempo previsto para o ensino a que me via chamada em cada momento), procurando articular com os planos que me deixavam os professores que substituía e deixando planificação preparada, caso tivesse de abandonar a turma a meio do ano letivo. Para tanto, no início de funções sempre procurei estudar com detalhe as caraterísticas individuais e coletivas da turma, bem como o meio cultural onde se inseria, para melhor compreender com quem trabalharia e quais os métodos mais adequados que se ajustariam ao 23 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE ensino, por forma a corresponder às suas expetativas e ao sucesso escolar. Também procurei que os alunos mais desenvolvidos na disciplina criassem uma cultura de compreensão e interajuda com os menos aptos ou que evidenciassem mais dificuldades, na esteira da promoção do espírito gregário atrás referido. A planificação da minha atividade letiva foi sempre articulada com os meus pares, por forma obter em conjunto melhores e mais homogéneos resultados, no seio da escola ou até do agrupamento. Igualmente, procurei adotar processos de monitorização do meu desempenho, reorientando, sempre que necessário, o trajeto inicial. E, bem assim, adequar processos de monitorização e de avaliação pertinentes e diversificados para os alunos. 5.3. O Desporto Escolar como fator social e integrador, como fator positivo para o Sucesso Educativo e como contributo para o autoconceito do aluno Através da prática do Desporto Escolar ajudou-me igualmente a evitar situações de conflito e, nos poucos casos que tal aconteceu, a fazer prevalecer de uma atitude assertiva, suficientemente segura e flexível, aproveitando a “crise” como uma oportunidade para reforçar os valores do respeito mútuo e do “fair play”. Ao longo do tempo, pude verificar que alguns alunos que faltavam às aulas e andavam desmotivados na escola, começaram a integrar-se melhor na escola, a desenvolver um sentido de colaboração com os colegas, sentiram mais vontade de participar nas atividades escolares, tanto dentro como fora da aula de Educação Física, influenciando desta forma, positivamente o seu aproveitamento escolar também às outras disciplinas. As diversas modalidades (basquetebol, badminton e ginástica massiva) proporcionaram aos alunos, experiências que contribuíram para uma melhoria do seu autoconceito e respeito mútuo entre pares e entre sexo, verificando-se no final uma relação de maior cordialidade entre os alunos. 24 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE No que diz respeito ao percurso profissional gostaria de sublinhar sobretudo as generosas avaliações que sempre me reconheceram pelas várias escolas por onde fui passando (a título de exemplo, Excelente na Região Autónoma da Madeira e Muito Bom, no Seixal). E significar a satisfação por uma amplitude quase total dos objetivos do ensino, pese embora as dificuldades que encontrei e que, de alguma forma, já fui anotando: constante mudança de escolas, diferentes ambientes sociais e culturais, falta de motivação de alguns alunos, diferentes meios físicos e materiais disponíveis, diferentes graus de conhecimento e de maturação cognitiva dos alunos. Procurei sempre encarar as dificuldades como desafios, oportunidades para vencer novas etapas no meu próprio crescimento pessoal e para estudar novos enfoques de abordagem a situações imprevistas que me ajudam a aprender e a ultrapassar este tipo de dificuldades, em situações recorrentes. Foi por entre estes novos ruídos da profissão que cresci enquanto profissional. Não obstante todas as dificuldades e as modernas e constantes demandas ao estatuto da minha profissão, sempre procurei orientar a minha ação cumprindo eticamente com o meu dever, sem deixar de ajuizar e refletir nos termos que vim desenvolvendo. No que concerne ao meu desempenho, que durante uma década me levou às mais diversas escolas do Continente e da Região Autónoma da Madeira, julgo ser justo sublinhar a forma apaixonada e dedicada como me entreguei à minha missão. Foi igualmente reconfortante verificar as generosas avaliações que me foram sendo atribuídas ao meu desempenho profissional (a título de exemplo, permito-me sublinhar o “Excelente” numa escola da Região Autónoma da Madeira e o “Muito Bom” numa escola do concelho do Seixal. Mas, mais que isso, sinto-me honrada em poder significar, nesta ocasião, a satisfação pela obtenção de uma quase total amplitude dos objetivos do ensino, pese embora todas as dificuldades encontradas, quer circunstanciais quer estruturais, e que, de alguma forma, já fui anotando: constantes mudanças de escola, diferentes ambientes sociais e culturais, falta de motivação de alguns alunos, diferentes meios físicos e materiais disponíveis, diferentes graus de conhecimento e de maturação cognitiva dos alunos, crescente burocracia, reconhecimento deficitário do estatuto do professor e do de Educação Física em particular. Não obstante, procurei sempre encarar as dificuldades como desafios, oportunidades para vencer novas etapas do meu próprio crescimento pessoal e para estudar novos enfoques de abordagem a situações imprevistas, que me ajudaram a aprender a ultrapassar dificuldades, sobretudo em situações recorrentes. 25 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE Parece-me também digno de algum relevo sublinhar a colaboração com artigos em revistas que me convidaram para o efeito, nomeadamente a “Filomagazine”, pertencente a uma entidade onde ministrei formação, em áreas como a afetividade, o exercício físico e a criança. Relevo particularmente os artigos com os títulos: 1- A importância das relações afetivas e o sucesso escolar; 2- O exercício físico e o seu contributo para o corpo e mente; 2- O desenvolvimento afetivo da criança e a importância do contacto físico. E, finalmente, sublinhar a constante busca de aprofundamento dos meus conhecimentos e valorização do meu percurso académico, partindo da minha experiência nas escolas por onde fomos passando, do estudo, da reflexão e do conhecimento bibliográfico que vim de expender e das oportunidades que me foram surgindo, como o caso da obtenção do Diploma de Estudos Avançados, por via de um TRIT (Trabalho de Investigação Tutelado), pela Universidad de Valladolid, centrado na temática das relação afetivas e o sucesso educativo no 1º ciclo, e na apresentação de um projeto de doutoramento na mesma academia, subordinado ao tema “O autoconceito e a afetividade nas aulas de Educação Física. 6. O NOSSO CONTRIBUTO PARA A REFLEXÃO E INVESTIGAÇÃO DE TEMAS ATUAIS E RELEVANTES PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA. O TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO, O DIPLOMA DE ESTUDOS AVANÇADOS O trabalho pedagógico que venho desenvolvendo nas várias escolas do país, não se esgota em si mesmo, como objetivo último de quem alcançou uma licenciatura na área que ambicionava. Vivi ao longo do tempo, com uma permanente preocupação em me manter atualizada e, mais que isso, em trilhar um caminho da valorização pessoal, enquanto ser humano e profissional do ensino. Assim, busquei permanentemente outras metas que me permitiam evidenciar o espírito proactivo no conhecimento das matérias da minha disciplina de estudo, assim como buscar outros patamares que me permitam estar preparada para novas exigências do campo do ensino e da empregabilidade, alcançado o grau de mestre e, posteriormente, o mais ambicioso doutoramento. 26 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE É tempo, assim, de focar o que já foi e o que estou a fazer nesta particular matéria, onde se inscreve, como etapa necessária, o trabalho que aqui agora realizo. Como referi, ao longo do meu percurso de vida sempre procurei uma permanente valorização profissional que me permitisse crescer em experiência e conhecimento. Este desassossego interior é decisivo para a minha realização enquanto pessoa e docente, permitindo-me igualmente obter ferramentas que me ajudam a melhor lidar com aspetos importantes da profissão, como são o da melhor compreensão de fenómenos que concorrem para o sucesso/insucesso escolar dos alunos, afinal a razão da existência dos professores. Nesse contexto, em setembro de 2004 inscrevi-me na Universidad de Valladolid – Departamento de Didáctica de la Expresión Musical, Plástica y Corporal -, com vista a apresentarmos e defendermos um trabalho de concetualização e investigação, subordinado ao tema “Relações Afetivas e o Sucesso Educativo no 1º Ciclo – Uma experiência numa sala de aula no 1º ciclo do Ensino Básico”, no âmbito de um TRIT (Trabalho de Investigação Tutelado). O labor teve a orientação do Professor Doutor Marcelino Vaca e, depois de defendido e avaliado, foi-nos outorgado, em 24 de Novembro de 2006, o Diploma de Estudos Avançados, com obtenção da “Suficiência Investigadora na área do conhecimento: Didática da Expressão Corporal”. Começa aqui a primeira etapa para a motivação e interesse para o doutoramento já iniciado em 2008 e que pretendo concluir. 27 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE 7. CONCLUSÕES Foi meu propósito ao longo deste trabalho evidenciar o papel da Educação Física no contexto da formação holística do indivíduo, enquanto componente determinante do processo global que é a educação do ser humano. Procurei perscrutar os alicerces históricos e a evolução da Educação Física e do Desporto Escolar nas escolas portuguesas (como se foi enquadrando e desenvolvendo nos planos curriculares nacionais e como vendo sendo tratada pela legislação e pelos organismos internacionais a que Portugal aderiu) e pô-los em diálogo com a contemporaneidade, onde me detive com mais pormenor, observando as dinâmicas e tendências hodiernas. Aqui chegada, tanto vislumbrei o motor da evolução do conhecimento nestas matérias ao longo dos tempos, como constatei constrangimentos e retrocessos, tanto ao nível legislativo, como da perceção da sua importância junto da opinião pública, fazendo ainda análises crítico-reflexivas sobre de dentro da profissão. Foi assim com a problematização na pedagogia da Educação Física da dicotomia ganhar como consequência/ganhar como circunstância, do questionamento sobre o papel das disciplinas ditas “expressivas” em comparação com as de “aprendizagem”, da análise crítica dos espaços destinados à lecionação e dos tempos letivos, com avaliação do papel do professor, quanto à sua identidade e estatuto, para além de reflexões mais detalhadas sobre questões concretas com a disciplina se confronta na atualidade, decorrentes de uma deriva legislativa tendencialmente hostil. De igual forma, esteve patente neste trabalho a intenção de deixar o meu registo pessoal, como profissional do ensino da Educação Física ao longo de uma década, consciente dos seus deveres e direitos, mas sobretudo implicada em procurar dar o meu contributo para estar cada vez mais preparada para a minha missão. Foquei a importância do Desporto escolar como um motor para o sucesso educativo e as suas mais valias para a integração do aluno e a imagem que le faz de si próprio: o autoconceito. Estas perspetiva e consciência levaram-me a buscar a minha valorização profissional e, bem assim, a contribuir para aprofundar conhecimento e investigação em áreas do saber ainda pouco experimentadas, quando relacionadas com a disciplina da Educação Física. Refiro-me particularmente à obtenção de um Diploma de Estudos Avançados (Universidad de Valladolid) e ao doutoramento em curso (na mesma academia), indo a minha área de investigação desde a importância das relações afetivas ao autoconceito no referido domínio da Educação Física. Pretendendo, destarte, acrescentar uma voz mais à reclamação de um estatuto ajustado e desejável para a Educação Física em Portugal, acreditando em todo o seu potencial para o 28 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE correto desenvolvimento do ser humano, e investindo em áreas de investigação pouco desenvolvidas, com o que a procuramos igualmente valorizar. Relevo ainda que tudo o que acabei de enunciar, bem como todo o meu percurso profissional e académico, assim como todo o estudo e pensamento estratégico e crítico que aqui deixei contribuiu de forma decisiva para o que hoje ser enquanto pessoa e profissional, através de uma mudança interior que fui observando em mim próprios ao longo desta longa caminhada. 29 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE 8. REFERÊNCIAS Aranha, A. (2004). Organização, Planeamento e Avaliação em Educação Física. Série Didática- Ciências Sociais e Humanas, 47. Vila Real: UTAD. Azevedo, A. (2009). As instalações desportivas escolares no concelho de Viseu. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Desporto, Universidade do Porto. 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Decreto Regulamentar n.º 26/2012, de 21 de fevereiro, regulamenta o sistema de avaliação do desempenho do pessoal docente da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário. Direção Geral dos Ensinos Básico e Secundário (1990). A Educação Física, no 1º ciclo do Ensino Básico. Lisboa: Ministério da Educação. Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário, Decreto-Lei 41/2012, de 21 de fevereiro, décima primeira alteração do Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 139-A/90, de 28 de abril e alterado pelos Decretos-Leis n. º 105/97, de 29 de abril, 1/98, de 2 de janeiro, 35/2003, de 27 de fevereiro, 121/2005, de 26 de julho, 229/2005, de 29 de dezembro, 224/2006, de 13 de novembro, 15/2007, de 19 de janeiro, 35/2007, de 15 de fevereiro, 270/2009, de 30 de setembro e 75/2010, de 23 de junho. Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei n.º 46/1986, de 14 de outubro, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 115/1997, de 19 de setembro, com as alterações e aditamentos, republicada e renumerada, para Lei n.º 49/2005, de 30 de agosto. Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro, e pela Lei de Bases do Sistema Desportivo, Lei n.º 1/90, de 13 de Janeiro, regulamentado pelo Decreto-lei nº 95/91, de 26 de fevereiro. Ministério da Educação (2004). Organização Curricular e programas do Ensino Básico. 1º Ciclo. Lisboa: Departamento da Educação Básica. 34 A EDUCAÇÃO FÍSICA DESDE O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO SECUNDÁRIO. PERSPETIVA HISTÓRICA EM DIÁLOGO COM A CONTEMPORANEIDADE 35