Fundamentos de matemática: Introdução à Teoria de Grafos ∗ Prof. Renato Mello, 07 de maio de 2012 1 Noção intuitiva Informalmente, podemos pensar em um grafo como sendo um conjunto de pontos e de linhas ligando alguns desses pontos entre si. Não interessa, no entanto, a posição dos pontos ou o caminho que cada linha percorre ao ligá-los, apenas a informação de quais pontos estão ligados e quais não estão. Dessa maneira, as três guras abaixo representam o mesmo grafo. Fig. 1: Representações planas distintas de um mesmo grafo. Os pontos são chamados de vértices (ou nós) e as linhas, de arestas (ou arcos). Assim, o grafo acima representado possui 7 pontos e 9 arestas. Muitas vezes é útil acrescentar informações ao grafo. Podem-se estabelecer sentidos nas arestas, permitir que haja mais de uma aresta ligando o mesmo par de vértices, ou mesmo que uma aresta ligue um vértice a si mesmo, conforme ilustram as guras abaixo. Fig. 2: Representações planas de grafos não-simples. Da esquerda para a direita: grafo dirigido, multigrafo simples, multigrafo com laços, multigrafo direcionado com laços. Grafos em que nada disso acontece são chamados de grafo simples e serão nosso próximo objeto de estudo. ∗ Versão 1.00 1 2 Denições básicas 2 2 Denições básicas Dado um conjunto A, o conjunto das partes de A, denotado por P(A), é formado por todos os subcunjuntos de A, isto é, P(A) = {S | S ⊂ A}. Denotaremos por A(2) o conjunto formado por todos os subconjuntos de A que têm exatamente 2 elementos, isto é, n o A(2) = S ∈ P(A) |S| = 2 ou, equivalentemente, n o A(2) = {a, b} a, b ∈ A, a 6= b . Veja que esse conjunto difere do produto cartesiano A2 = A × A = (a, b) | a, b ∈ A , pois neste último a ordem dos elementos a, b importa e pode-se ter a = b. Agora podemos estabelecer a seguinte denição. Definição 2.1. Um grafo simples é um par ordenado G = (V, A), em que V é um conjunto nito e A é um subconjunto de V (2) . Os elementos de V são chamados de vértices de G e os elementos de A, de arestas de G. Dessa forma, as arestas são pares não-ordenados {a, b} de elementos distintos de V . A noção intuitiva é que arestas conectam dois vértices distintos, sem estabelecer um sentido de conexão. Dizemos que dois vértices v, w são adjacentes (ou vizinhos) se {v, w} ∈ A. Se a ∈ A e a = {v, w}, dizemos que a incide sobre v . Duas arestas distintas são ditas adjacentes se incidirem sobre um mesmo vértice. É comum denotar por V (G) e A(G) os conjuntos de vértices e de arestas de um grafo G. Assim, se G1 = (V1 , A1 ) e G2 = (V2 , A2 ) são grafos, podemos escrever V (G1 ) = V1 , V (G2 ) = V2 , A(G1 ) = A1 e A(G2 ) = A2 . Denotaremos também por n(G) e m(G), respectivamente, o número de vértices e o número de arestas de G, ou seja, n(G) = |V (G)| e n(G) = |A(G)|. Observações. 1. Veja que não há nenhuma referência a objetos geométricos na denição, portanto as guras encontradas neste texto são apenas representações planas dos grafos. O grafo simples é um objeto puramente combinatório. 2. Enquanto não estudarmos novos tipos de grafos, a palavra grafo signicará grafo simples, exceto quando dito o contrário. Exemplo 2.1. Sejam V = {1, 2, 3, 4}, A = {1, 2}, {1, 3} e G = (V, A). Então todas as armações abaixo são verdadeiras: • G é um grafo simples; • 1, 2, 3 e 4 são os vértices de G; • {1, 2} e {1, 3} são as arestas de G; • {1, 4}, {2, 3}, {2, 4} e {3, 4} não são arestas de G; • 1 e 2 são vizinhos; • {1, 2} incide sobre 1; • A Figura 3 é uma representação plana de G. 3 Grau, conexidade e tipos especiais de grafos Fig. 3: 3 Representação plana do grafo do Exemplo 2.1. É comum usar a notação vw para a aresta que incide sobre os vértices v e w. Assim, em um exemplo como acima, podemos reescrever as arestas {1, 2} e {1, 3} como 11 e 13 (lê-se um, um e um, três ), se isso não causar confusão. 3 Grau, conexidade e tipos especiais de grafos Veja que, no Exemplo 2.1, nem todas os elementos de V (2) são arestas do grafo, isto é, nem todos os pares de vértices são adjacentes. Quando, em um grafo simples, quaisquer dois vértices são adjacentes, dizemos que o grafo é um grafo completo e o denotamos por Kn , em que n é o número de vértices. Reversamente, grafo nulo é todo aquele que não possui nenhuma aresta e é denotado por Nn , assim . Assim, A(Kn ) = V (2) e A(Nn ) = ∅. Fig. 4: Grafos completos: K3 , K4 e K5 . O complemento de um grafo G = (V, A) é aquele cujos vértices são os vértices de G e cujas arestas são os pares de vértices que não são adjacentes em G. Denotamos G e, por denição, temos V (G) = V e A(G) = V (2) − A. Assim, v ∈ V (G) ⇐⇒ v ∈ V (G) e vw ∈ A(G) ⇐⇒ vw 6∈ V (G). O grau de um vértice no grafo G é o número de arestas que sobre ele incidem e denota-se dG (v) ou simplesmente d(v). Sibolicamente, d(v) = #{a ∈ A(G) | v ∈ a}. Assim, no Exemplo 2.1, d(1) = 2, d(2) = d(3) = 1 e d(4) = 0. Um grafo em que todos os vértices têm o mesmo grau é chamado de grafo regular. Evidentemente, o grau de qualquer vértice em Kn é n − 1 e o grau de qualquer vértice em Nn é 0, portanto os grafos completos e os grafos nulos são exemplos de grafos regulares. Outros exemplos são os ciclos, que são os grafos cujas arestas formam uma única cadeia circular. Denotamos por Cn um grafo circular de n vértices (n ≥ 3) e portanto, n arestas. Teremos V (Cn ) = {v1 , v2 , . . . , vn }; A(Cn ) = {v1 v2 , v2 v3 , . . . , vn−1 vn , vn v1 }. É claro que d(v) = 2 para todo v ∈ V (Cn ), logo todo ciclo é um grafo regular. 4 Quadro-resumo 4 4 Quadro-resumo Conceito/notação |A| ou #A P(A) A(2) Signicado Número de elementos do conjunto A. Conjunto das partes de A. Conjunto dos pares não-ordenados de elementos de A. Grafo simples Grafo não dirigido, sem laços e sem arestas múltiplas. Grafo dirigido (digrafo) Grafo com arestas dirigidas. Multigrafo Grafo com arestas múltiplas. Laço Aresta ligando um vértice a si mesmo. V (G) Conjunto dos vértices de G. A(G) Conjunto das arestas de G. n(G) Número de vértices de G. m(G) Número de arestas de G. dG (v) ou d(v) Grau do vértice v no grafo G. Kn Grafo completo de n vértices. Nn Grafo nulo de n vértices. Cn Ciclo de n vértices.