História
A FOTOGRAFIA E O ENSINO DE HISTÓRIA: PROPOSTA A CERCA DA
HISTÓRIA LOCAL
Um dia a muito tempo, dei com uma fotografia do último irmão do Napoleão, Jerônimo (1852). Eu me disse
então, com um espanto que jamais pude reduzir: “Vejo os olhos que viram o imperador”
Roland Barthes
O objetivo desta proposta é o trabalho com a fotografia e com a história local em sala de aula.
Em um momento que comemoramos a história da cidade, assim como em Londrina, que possui
eventos e exposições fotográficas que comemoram a chegada dos imigrantes que deram início
às atividades que impulsionaram o desenvolvimento da região. Escolho a fotografia do acervo
do Museu Histórico de Londrina apresentada na exposição Caravana 80 anos: LONDRINA
SOB O OLHAR DE GEORGE CRAIG SMITH. Pretendo trabalhar com o olhar do
fotógrafo na visão de Roland Barthes.
O que nos diz o crítico Barthes sobre a Fotografia:
O que a fotografia reproduz ao infinito só ocorreu uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais
poderá repetir-se existencialmente. Nela o acontecimento jamais se sobrepassa para outra coisa: ela
reproduz sempre o corpus de que tenho necessidade ao corpo que vejo; ela é o particular absoluto, a
Contingência soberana, fosca e um tanto boba, o Tal (tal foto, e não a Foto), em suma a Tique, a
Ocasião, o Encontro, o Real, em sua expressão infatigável. (Barthes, Roland, 1984, p. 13)
1. Primeiro Passo: Destaque para a Identificação e
a Contextualização da Imagem.
Faremos a identificação do tipo de
fonte histórica e suas informações. Assim, de que
modo a fotografia pode explicar a história da sua
localidade? Neste caso, a imagem se refere ao
povoamento da cidade de Londrina e de suas
primeiras atividades. É uma fonte primária, da década
de 1930, fotografada por um jovem que se lançou na
primeira caravana que deu início ao povoamento da
região. Nesta fase podemos fazer com que o aluno
realize perguntas à fonte, como por exemplo:
Figura1. Fotografia de George Craig Smith.
1930. Acervo do Museu Histórico de
Londrina.
. Do que se trata a imagem?
. O que está representado na imagem?
. A imagem possui algum tipo de compromisso com a
realidade?
. Qual era a intenção de Smith ao tirar esta foto?
. Por que os homens derrubam as árvores? (esta é uma
pergunta que depois poderá ser retomada na próxima
etapa)
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. Quais eram os objetivos destes homens com a derrubada da floresta?
Ao esclarecer as questões formuladas pelos alunos, o professor pode inserir o aluno na imagem,
e buscar compreender o contexto histórico da época em questão e com isso, iniciar o trabalho
de compreensão do olhar do fotógrafo.
Veja o que diz a professora Vilma de Lurdes Barbosa a cerca da inserção da história local no
ensino de História:
Para desenvolvermos atividades com o ensino de história e, em especial, com o de história
local, devemos partir da proposta de repensar a sua produção e ensino mais coerente com
uma prática comprometida com uma pedagogia social, em que deveria somar-se a
experiência e a formação de professores do ensino fundamental, médio e superior, alunos e
comunidades locais, embasados numa educação autêntica como propõe Freire, “A
educação autêntica, repetimos, não se faz de A para B ou de A sobre B, mas de A com B,
mediatizados pelo mundo. Mundo que impressiona e desafia a uns e a outros, originando
visões ou pontos de vista sobre ele”.
Destarte, o ensino de história local ganha significado e importância no ensino fundamental,
exatamente pela possibilidade de introduzir e de prenunciar a formação de um raciocínio
histórico que contemple não só o indivíduo, mas a coletividade, apreendendo as relações
sociais que ali se estabelecem, na realidade mais próxima. Apresenta-se a abordagem da
história cotidiana e dos fatos presentes introduzindo a possibilidade de resgatar o passado,
através de variadas formas, entre elas, o uso de fontes disponíveis na própria localidade quando existirem: os livros, a literatura de cordel, músicas e poesias, as fotografias, o
patrimônio histórico material e material, os documentos dos arquivos, bem como,
descobrindo e explorando as fontes vivas através de depoimentos orais.
SAECULUM – Revista de História. [15]; João Pessoa, jul./dez. 2006. P. 57-85.
2. Segundo Passo: Explicação da Fonte e a sua Relação com a História Local
Tratar da história do Brasil e do incentivo da ocupação das regiões como uma forma de
superação do atraso do país em relação aos países industrializados. Isto pode ser abordado
através do conteúdo que trata do contexto político e econômico do Brasil e do mundo e a
relação com a região que neste período recebe os primeiros imigrantes estrangeiros que
incentivados pelo governo local e nacional, implantam as estradas, as linhas de trens, para que
o fluxo de trabalho, mercadorias, abertura de novos núcleos de povoamento contribuam com o
“desenvolvimento e o progresso” do Brasil. Explicar que a derrubada da mata representa o
avanço da sociedade, da civilização. Que o homem vence a natureza em nome do progresso, da
industrialização, da busca de comunicação.
A sugestão é que o professor ao demonstrar esta contextualização faça uma comparação com
imagens de outros fotógrafos e que possam ajudar o aluno a compreender a intenção destes ao
colherem estes instantes fotográficos e como que seus olhares representam suas as idéias de
mundo e suas formas de conceber a realidade.
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O historiador Richard Gonçalves André em artigo para revista História Social da UNICAMP,
trabalha com uma fotografia também da década de 1930, do fotógrafo oficial da Companhia de
Terras Norte Paraná, muito semelhante à de George Craig Smith. Veja como este pesquisador
desenvolve sua análise:
Observe-se a Imagem 1 (anexo): a fotografia
representa quatro trabalhadores cortando uma
imensa peroba. Os dois indivíduos do primeiro plano
utilizam machados simples, enquanto, ao fundo, usase um traçador de madeira. Detalhe para seus
vestuários e poses, que remetem à idéia de dura
labuta. No chão, percebem-se raízes e cipós que
também caem da árvore, ressaltada em suas mensões
pelo proposital ângulo verticalizado da imagem. Ao
fundo, observa-se uma clareira, na qual restam
apenas
algumas
árvores.
Procedendo
à
interpretação do documento, pode-se inferir que
Juliani reconstrói a dicotomia natureza/homem,
apresentada na forma de embate: a floresta é
grandiosa e, ao que tudo indica, extremamente fértil,
a julgar pelo tamanho descomunal dos vegetais nela
presentes; porém, essa riqueza “deve” ser subjugada
e controlada pela humanidade e sua técnica,
representada pelos trabalhadores, seus instrumentos,
suas roupas, suas poses, as clareiras abertas etc.
Figura 1. Fotografia de José Juliani. !930.
Trata-se do domínio do “progresso” e da
Acervo Museu Histórico de londrina.
“civilização” sobre a “selvageria” do mundo
natural. Revista História Social. Campinas - SP Nº
11 75-94 2005.
3. Terceiro Passo: Comentário e Verificação do Interesse dos Alunos.
Sugerir um trabalho em grupo para a verificação da retenção das informações discutidas e da
relação entre a história local e a história nacional. Também verificar se o aluno consegue
interpretar historicamente a fonte, ou seja, introduzir o aluno na atividade histórica. Retomar a
fonte histórica no sentido de fazer com que os alunos demonstrem o seu entendimento sobre a
realidade estudada, em forma de uma apresentação oral ou escrita. Pedir para os alunos
compararem a situação vivenciada na imagem com as questões mais atuais sobre o meio
ambiente e a devastação da natureza. Traga matérias de jornal, televisão que debatem o
desmatamento e as preocupações que cercam os dias atuais. Demonstre que o foco sobre a
natureza no século XXI não está mais inserido no desmatamento da natureza em prol do
progresso, e sim na preservação. Que as imagens divulgadas nos dias atuais que representam o
desmatamento, trabalham com a idéia do fenecer da natureza, e os homens representados em
muitas destas imagens não são mais vistos como promotores do progresso, mas como os
destruidores de uma civilização.
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Os alunos podem realizar um trabalho coletivo em sala de aula demonstrando a mudança de
olhar para a natureza através da imagem fotográfica. Peça para que todos se desloquem para os
museus de suas regiões e colham informações sobre a história da cidade e as formas de
ocupação. Solicite que os alunos tirem fotos dos patrimônios ambientais atuais. Estabeleça um
panorama histórico sobre a natureza na sua cidade ou região, desde a época do seu povoamento
até os dias atuais. Monte uma exposição com estas fotos.
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A Fotografia e o Ensino de História: Proposta a