UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ
Curso de Graduação
Pâmela Cristina Zanatta
ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS PRESENTES NAS LENTES DE
CONTATO E SEUS ESTOJOS DE ARMAZENAMENTO PERTENCENTES A
ESTUDANTES DO CURSO DE FARMÁCIA DA UNOCHAPECÓ
Chapecó – SC, 2010
PÂMELA CRISTINA ZANATTA
ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS PRESENTES NAS LENTES
DE CONTATO E SEUS ESTOJOS DE ARMAZENAMENTO PERTENCENTES A
ESTUDANTES DO CURSO DE FARMÁCIA DA UNOCHAPECÓ.
Monografia apresentada à Unochapecó como
parte dos requisitos para obtenção do grau de
Bacharel em Farmácia.
Orientadora: Msc. Maria Teresa Granella Lang
Chapecó – SC, 2010
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
Prof. Msc. Maria Teresa G. Lang
Farmacêutico – Bioquímico
Professora Orientadora
_____________________________
Prof. Esp. Lucinara R. Cembranel Marcos
Farmacêutico – Bioquímico
Professora da UNOCHAPECÓ
_______________________________
Msc. Natália Gazzoni Scaravelli
Farmacêutico – Bioquímico
DEDICATÓRIA
Aos meus pais Leda e Gilberto,
Pelo
carinho
e
compreensão,
pois
nos
momentos difíceis sempre estiveram ao meu
lado e se hoje alcancei o sucesso é porque
essas
pessoas
maravilhosas
sempre
me
apoiaram e acreditaram na minha capacidade.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por estar comigo em todos os momentos,
bons e ruins e por me proporcionar uma família especial.
Agradeço aos meus pais pelo esforço, amor, compreensão e dedicação
oferecidos a mim.
Agradeço ao meu irmão, Patrick, pela paciência, amor e compreensão.
Agradeço ao Leonardo por estar sempre ao meu lado, me apoiando e
relevando muitos momentos de estresse.
Agradeço à professora orientadora Maria Teresa Granella Lang pela
colaboração com seus conhecimentos teóricos e práticos.
Agradeço a todos os professores e colegas que, de alguma forma ou de outra
contribuíram para o término do meu trabalho.
Agradeço à técnica do laboratório de microbiologia da Unochapecó, Liliane
Wanderley pela grande ajuda fornecida durante a realização das análises.
Agradeço as minhas amigas, em especial Ana Daniela, Daiane, Gabriela e
Luana que me ajudaram nos momentos difíceis e pelos bons momentos passados
junto das mesmas.
Agradeço aos acadêmicos voluntários pela participação no estudo, que
acreditaram e confiaram suas lentes de contato e seus estojos de armazenamento
para a análise, uma vez que sem a colaboração dos mesmos a pesquisa não teria
continuado.
Agradeço aos colaboradores da Farmácia Dose Certa, pela ajuda fornecida e
pelos conhecimentos repassados nos estágios realizados.
RESUMO
Com os avanços na fabricação das lentes de contato (LC), muitas pessoas tem
trocado os óculos por essa opção por motivos estéticos, corretivas e/ou terapêuticos.
Porém, isso implica numa série de cuidados em relação à higiene e manutenção das
LC pois as mesmas ficam em contato direto com a córnea. A contaminação das
lentes de contato, dos seus estojos de armazenamento e dos produtos de
manutenção são as principais causas da alteração da flora conjuntival predispondo
infecções oculares. Essas infecções são de grande importância, uma vez que
podem alterar a integridade do olho e causar destruição tecidual, podendo, inclusive
culminar com perda significativa da visão. O objetivo do estudo foi isolar e identificar
as bactérias das LC e dos seus estojos de armazenamento de estudantes do curso
de farmácia da Unochapecó, identificando qual microorganismo é prevalente nesses
dois locais de amostragem e avaliar se o tempo de uso interfere na contaminação
microbiana das LC. Para isso, foram coletadas amostras de 12 estudantes do curso
de farmácia da Unochapecó, voluntários assintomáticos, onde coletou-se amostras
do olho direito e esquerdo antes e após 4 a 6h de uso; do estojo externamente e do
estojo internamente no lado direito e esquerdo. Utilizou-se para as análises caldo
BHI, Sangue, Mac Conkey, TSI, EPM/Mili e Sal Manitol. Das 84 amostras coletadas,
73 apresentaram crescimento em caldo BHI, onde em 19 isolados identificou-se
mais de uma bactéria, o que demonstra o grande risco a que o usuário de LC esta
exposto. Nas amostras coletadas após o uso de 4 às 6h da LC houve menor
porcentagem de crescimento bacteriano em relação às LC antes do uso. Nos estojos
de armazenamento também houve crescimento bacteriano nas amostras coletadas.
No geral, as bactérias mais frequentemente isoladas foram Staphylococcus aureus e
Staphylococcus coagulase negativo. Sendo assim, percebe-se a relevância de
cuidados com a LC que envolvem desde higiene até manutenção adequadas para
que uma vida mais saudável e agradável seja proporcionada ao usuário de LC.
Palavras chave: Lente de contato, estojo de armazenamento e contaminação
bacteriana.
ABSTRACT
With advances in the manufacture of contact lenses (CL), many people have
exchanged glasses for this option for aesthetic reasons, corrective and / or
therapeutic purposes. But contact lenses implies a lot of care that includes hygiene
and maintenance because they are constantly in direct contact with the cornea. As
Pens (2008), contamination of CL, their storage cases and maintenance products are
the main causes of change in the conjunctival flora predisposing the eye to
infections. These infections are of great importance since they may alter the integrity
of the eye and cause tissue destruction and may even lead to significant loss of
vision. The study objective was to isolate and identify bacteria from CL and its
storage cases belonging to students of pharmacy at Unochapecó, identifying which
organism is prevalent in these two sampling sites and to evaluate whether amount of
time at using of CL interferes with microbial contamination of the CL. For this
propose, samples were collected from 12 students of pharmacy at UNOCHAPECÓ.
Samples were collected from right and left eyes before and after 4 to 6 hours of use,
from both external and internal sides of the case and from the right and left
containers. BHI, Blood, MacConkey, TSI, EPM / Mili and Mannitol Salt were used for
analysis. From the 84 samples collected, 73 showed growth in BHI, in which 19
isolates were identified by more than a bacterium, which demonstrates the great risk
that CL users are exposed to. In samples collected after 4 to 6 hours of using CL
there was a lower percentage of bacterial growth in relation to CL before use.
Bacterial growth in the samples also occurred inside the storage cases. In general,
the bacteria most frequently isolated were Staphylococcus aureus and
Staphylococcus negative coagulase. Thus, we see how important is to care for
maintaining adequate hygiene measures concerning CL to ensure a healthier and
more enjoyable life to CL users.
Keywords: Contact lens, storage case and bacterial contamination.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Identificação das amostras .....................................................................32
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Porcentagem da população estudada......................................................35
Gráfico 2: Faixa etária da população estudada.........................................................36
Gráfico 3: Tipo de uso da lente de contato da população em questão.....................36
Gráfico 4: Motivo do uso da LC.................................................................................37
Gráfico 5: Tipo da lente de contato...........................................................................37
Gráfico 6: Tempo de uso da lente de contato...........................................................38
Gráfico 7: Crescimento microbiológico no caldo BHI................................................40
Gráfico 8: Porcentagem de bactérias isoladas..........................................................42
Gráfico 9: Porcentagem de bactérias isoladas de amostras da LC do olho direito
antes do uso...............................................................................................................43
Gráfico 10: Porcentagem das bactérias isoladas em amostras da LC do olho
esquerdo antes do uso...............................................................................................44
Gráfico 11: Porcentagem das bactérias isoladas do estojo de armazenamento das
LC externamente........................................................................................................45
Gráfico 12: Porcentagem das bactérias isoladas do estojo de armazenamento do
lado direito interno......................................................................................................46
Gráfico 13: Porcentagem das bactérias isoladas do estojo de armazenamento do
lado esquerdo interno.................................................................................................47
Gráfico 14: Porcentagem de bactérias isoladas de amostras da LC do olho direito
após 4 a 6h de uso.....................................................................................................48
Gráfico 15: Porcentagem de bactérias isoladas de amostras da LC do olho
esquerdo após 4 a 6h de uso.....................................................................................49
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Staphylococcus aureus .............................................................................60
Figura 2: Staphylococcus coagulase negativo .........................................................60
Figura 3: Bacillus sp. ................................................................................................60
Figura 4: Proteus sp. ................................................................................................60
Figura 5: Bacilo Gram negativo oxidase positivo .....................................................60
Figura 6: Crescimento filamentoso ..........................................................................60
Figura 7: Pseudomonas sp. .....................................................................................61
Figura 8: Escherichia coli .........................................................................................61
Figura 9: Citrobacter freundii ....................................................................................61
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE I: Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa ......................................56
APÊNDICE II: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...................................57
APÊNDICE III: Questionário ......................................................................................58
APÊNDICE IV: Fotos das bactérias isoladas ............................................................59
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................12
2 OBJETIVOS ..........................................................................................................14
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................15
3.1 Lentes de Contato ..........................................................................................16
3.2 Tipos de Lentes de Contato ..........................................................................18
Lentes de Contato Descartáveis .....................................................................18
Gelatinosas de Uso Prolongado......................................................................19
Gelatinosas de Alta Permeabilidade...............................................................19
Gelatinosas Cosméticas ou Coloridas ...........................................................19
Rígidas...............................................................................................................19
Rígidas Fluorcarbonadas ................................................................................20
Rígidas Fluorsiliconadas .................................................................................20
Rígidas Siliconadas ..........................................................................................20
Rígidas PMMA ...................................................................................................20
Lentes Especiais ...............................................................................................20
3.3 Estojo das Lentes de Contato .......................................................................20
3.4 Manutenção das Lentes de Contato .............................................................21
3.5 Soluções para Lentes de Contato ................................................................23
3.6 Contaminação das Lentes de Contato .........................................................23
3.7 Ceratite Bacteriana ........................................................................................25
3.8 Úlcera de Córnea Bacteriana.........................................................................25
3.9 Espécies Isoladas com Maior Frequência ...................................................26
3.10 Meios de Cultura Utilizados ........................................................................30
4 MATERIAL E MÉTODOS .....................................................................................32
4.1 Material ..........................................................................................................32
4.2 Métodos .........................................................................................................32
a) Busca de voluntários para a pesquisa .......................................................32
b) Obtenção das amostras dos estojos de armazenamento ..........................32
c) Obtenção das amostras das lentes de contato ..........................................33
d) Isolamento e identificação de bactérias .....................................................33
e) Tabulação dos resultados ..........................................................................34
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES .........................................................................35
5.1 Caracterização das amostras ......................................................................35
5.2 Crescimento Microbiológico ........................................................................39
6 CONCLUSÕES .....................................................................................................50
7 REFERÊNCIAS .....................................................................................................53
8 APÊNDICE ............................................................................................................56
12
1 INTRODUÇÃO
Com o advento das lentes de contato (LC), muitas pessoas tem trocado os
antigos óculos por essa opção devido a questões estéticas, corretivas e terapêuticas
e, muitas vezes, por ser a única forma de corrigir a visão. Porém, sem os cuidados
devidos, como higienização e manutenção adequada, as lentes podem significar um
sério problema para a saúde por estar em contato direto com a córnea. De acordo
com Ghanem; Kara-Jose (1998), a complicação mais temida é a úlcera de córnea,
que pode resultar em perda significativa da visão.
Com melhora de sua qualidade, o desenvolvimento de produtos para limpeza
e conservação e a facilidade de aquisição pela população, o número de usuários de
LC cresce diariamente (VIDOTTI, 2006).
Segundo Oliveira et al., (2004), as LC representam um negócio lucrativo para
as indústrias que ganham cerca de um bilhão de dólares por ano. Porém, significam
um problema frequentemente ignorado, uma vez que a incidência de ceratite
microbiana aumentou 435% nos últimos 40 anos.
Conforme Pens (2008), a contaminação das lentes de contato, dos seus
estojos de armazenamento e dos produtos de manutenção são as principais causas
da alteração da flora conjuntival predispondo infecções oculares. Essas infecções
são de grande importância, pois podem alterar a integridade do olho e causar
destruição tecidual, podendo, inclusive culminar com perda significativa da visão.
O mau uso das lentes, associado à má adaptação, contaminação, doenças
oculares prévias e fatores ambientais, podem aumentar o número de infecções
corneanas através da proliferação de microorganismos como bactérias, fungos,
parasitas, vírus, onde o próprio uso da lente altera o mecanismo de defesa do olho
(LIPENER; RAY, 2008).
Assim sendo, conhecer os microrganismos causadores dos processos é de
extrema relevância já que poderá contribuir nas formas de prevenção, tratamento e
prognóstico das infecções oculares.
O presente estudo teve o objetivo de isolar as bactérias presentes nas lentes
de contato e em seus estojos de armazenamento pertencentes a estudantes do
curso de farmácia da UNOCHAPECÓ, identificando qual microorganismo prevalente
13
nas LC e nos estojos, bem como analisando o tempo de uso das LC pelos usuários
abordados.
14
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Isolar e identificar as bactérias presentes nas lentes de contato e em seus
estojos de armazenamento pertencentes a estudantes do curso de Farmácia da
UNOCHAPECÓ.
2.2 Objetivos Específicos
 Identificar o perfil de usuários de LC do curso de Farmácia da
UNOCHAPECÓ;
 Isolar e identificar bactérias presentes nas LC antes do uso;
 Isolar e identificar bactérias presentes na LC após 4 a 6h de uso;
 Isolar e identificar bactérias presentes no estojo de armazenamento
externamente;
 Isolar e identificar bactérias presentes no estojo de armazenamento
internamente.
15
3
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os olhos fazem parte do sistema sensorial e são receptores altamente
complexos. Captam estímulos luminosos para que o sistema nervoso central possa
exercer sua função integradora e coordenativa (PENS, 2008).
Sua proteção inclui supercílios, cílios, pálpebras e glândulas lacrimais. As
pálpebras possuem uma camada muito fina que reveste a córnea. A conjuntiva está
intimamente relacionada com o sistema linfático, o que constitui uma barreira contra
microrganismos. A lágrima contém enzimas que atuam como anti-sépticos naturais,
como a lisozima, lactoferrina e betalisina (PENS, 2008).
Conforme Pens (2008), a córnea é a parte anterior transparente e protetora
do olho que está na região polar anterior do globo ocular. Junto com o cristalino ela
tem a função de focar a luz através da pupila para a retina. Como não possui vasos
sanguíneos e é desprovida de bainha de mielina nas inervações, propicia total
transparência.
Antes do nascimento, como o saco amniótico ainda não foi rompido, a
conjuntiva e as pálpebras são estéreis. Durante o parto, a flora bacteriana ocular
começa a se formar. Essa colonização por vezes é retardada pela aplicação tópica
de nitrato de prata para profilaxia de gonorréia ou infecção por Chlamydia
trachomatis. Após o nascimento então, a flora bacteriana é formada e permanece
com a mesma característica no decorrer dos anos (UESUGUI et al., 2002).
A maioria dos membros da flora normal são bactérias, porém fungos e
protozoários também podem ser encontrados. O termo flora normal implica que
esses agentes são inofensivos, pois para a maioria dos indivíduos eles não causam
doenças. Eles são residentes do corpo humano saudável e são ocupantes
permanentes (PELCZAR et al., 1996).
Entretanto, os microrganismos que são transitórios do corpo humano
saudável podem estabelecer-se por um curto período, mas tendem a ser excluídos
por competição com os agentes residentes e por mecanismos imunológicos do
hospedeiro. Esses microrganismos não são considerados flora normal (PELCZAR et
al., 1996).
A região externa do olho é colonizada por muitos microrganismos
semelhantes aos que habitam a região periorbital, margens palpebrais e trato
16
respiratório alto. Mesmo que alguns desses microrganismos sejam patogênicos,
infecções são raras já que existem os mecanismos de defesa do olho (SILVA, 2007).
A maioria dos agentes da flora normal são comensais, isto é, beneficiam-se
da associação com o hospedeiro que não é afetado. Outros apresentam uma
associação mutualística: beneficiam o hospedeiro de alguma maneira, enquanto se
desenvolvem no organismo. Outros podem ser patógenos oportunistas que causam
infecções se ocorrer danos teciduais em sítios corpóreos específicos ou se a
resistência do corpo às infecções está diminuída (PELCZAR et al., 1996).
Essa flora bacteriana na superfície ocular contribui com a defesa do olho por
inibir o aparecimento de microrganismos patogênicos. Com as mudanças na
superfície ocular, os microrganismos podem se tornar mais resistentes às defesas
naturais e aumentar sua capacidade de infecção (UESUGUI et al., 2002).
Revestindo a pálpebra e cobrindo o globo ocular está a conjuntiva, uma
membrana delicada que é uma continuação da pele na margem da pálpebra a qual
está sendo continuamente lavada pelo fluxo das lágrimas que tende a remover os
microrganismos. Assim, a flora da conjuntiva é escassa. Os principais organismos
encontrados
são:
Staphylococcus
epidermidis,
Staphylococcus
aureus,
Corynebacterium sp., Streptococcus pneumoniae, Neisseria sp., Moraxella sp. e
Haemophilus parainfluenzae (PELCZAR et al., 1996).
A infecção pode ocorrer quando algum fator, como adição de medicamentos
ou atrito causado pela colocação de lentes, modifica as condições normais do olho
(PENS, 2008).
3.1 Lentes de Contato
As primeiras LC desenvolvidas foram as esclerais, sendo descritas por Adolf
Fick em 1888. Ele teve a idéia de corrigir a irregularidade da córnea com conchas
esclerais de vidro que melhoravam muito a visão do paciente. Em 1938, foi
produzida a primeira LC do material polimetilmetacrilato (PMMA). Essas lentes foram
sendo substituídas pelas lentes corneanas, mas com o surgimento das LC esclerais
rígidas gás permeáveis o interesse retomou, uma vez que diminuíram as
complicações decorrentes da hipóxia em comparação com a de PMMA para uso
diário (LIPENER; LEAL, 2004).
Segundo Ghanem et al. (2000), há no Brasil aproximadamente 1.700.000
usuários de LC. Desse total, cerca de 46% usam lentes hidrofílicas de uso diário,
16% hidrofílicas esféricas de uso prolongado, 5% descartáveis, 25% rígidas gáspermeáveis e 7% outros tipos.
As LC possuem as mesmas funções corretivas dos óculos, porém são
invisíveis sobre a córnea (PENS, 2008).
A maioria das pessoas pode utilizar LC, entretanto, há restrições como idade
do paciente, expectativa, condições psicológicas, grau de responsabilidade e
presença de doenças oculares e sistêmicas. A LC é um objeto estranho em íntimo
contato com a córnea e sua adaptação deve ser adequada. Seu uso deve ser
controlado, pois o usuário está sempre sujeito a complicações, desde conjuntivites
irritativas à úlceras de córnea (JOSE et al., 2001).
O número de usuários de LC vem aumentando, mesmo com o crescente
progresso tecnológico das cirurgias refrativas. Isso se deve ao desenvolvimento de
novos materiais e desenhos, o que as tornam mais seguras, confortáveis, duráveis e
favoráveis à correção da maioria das ametropias (JOSE et al., 2001).
O desenvolvimento de novos materiais e desenhos, desenvolvimento de
soluções multiuso, fácil acesso aos fabricantes estrangeiros, a popularização das
lentes juntamente com a diminuição dos custos têm contribuído para o aumento no
número de adaptações, modificando o comportamento e as características dos
usuários (GHANEM et al., 2000).
O sucesso do uso das LC requer uma lente adequada ao olho e depende de o
paciente entender que as lentes possuem restrições bem como saber como se
manuseia e sua aderência. Deve estar ciente sobre os métodos de conservação, ao
esquema de uso e saber identificar os sintomas de perigo, bem como ter
conhecimento do acesso rápido aos serviços especializados (JOSE et al., 2001).
Portanto, a adaptação da LC é um processo contínuo e dinâmico, que exige
amplo conhecimento oftalmológico do especialista, no sentido de selecionar e
orientar os pacientes quanto às exigências requeridas. Assim, pode-se reduzir o
aparecimento de complicações pelo uso de LC, aumentando a confiança de novos
usuários (JOSE et al., 2001).
18
3.2 Tipos de Lentes de Contato
Atualmente existe uma variedade de lentes de contato e a escolha de cada
uma depende do oftalmologista (PENS, 2008). As LC podem ser classificadas de
acordo com a natureza do material utilizado na fabricação, conforme a
permeabilidade aos gases, a finalidade, a forma de uso, a descartabilidade e a
curvatura (GHANEM; KARA-JOSE, 1998).
De acordo com a natureza do material, Ghanem; Kara-Jose (1998) classifica
as LC como rígidas (duras) as quais são dividas em polimetilmetacrilato (PMMA) e
gás – permeáveis, e hidrofílicas (gelatinosas). Conforme as permeabilidade dos
gases são conhecidas as que permitem a passagem de oxigênio do filme lacrimal
para a córnea e do gás carbônico da córnea para o filme lacrimal como permeáveis
aos gases sendo esse termo utilizado apenas para as LC rígidas.
Quanto à finalidade, as LC podem ser terapêuticas para proteger a córnea,
corretivas para corrigir vícios de refração ou regularização da superfície da córnea, e
cosméticas para modificação da cor ou estética. As formas de uso conhecidas são
diário, prolongado onde a LC é utilizada por um número ilimitado de horas num
período de vigília, contínuo – durante o sono -, flexível, onde utiliza-se o uso
prolongado com eventual contínuo ou ainda uso ocasional, na prática de esportes ou
socialmente (GHANEM; KARA-JOSE, 1998).
Ghanem;
Kara-Jose
(1998)
classificam
as
LC
de
acordo
com
a
descartabilidade. Podem ser: descartáveis de uso diário, descartáveis de uso
semanal, troca a cada 30 dias e troca planejada com período mais de 30 dias.
Conforme a curvatura, podem ser esféricas, na qual as superfícies anterior e
posterior são esféricas, tórica, onde os dois meridianos principais possuem
diferentes raios de curvatura e esférica que simula a curvatura da córnea com
diferentes raios de curvatura do centro para a periferia.
Lentes de Contato Descartáveis: surgiram em 1987 nos Estados Unidos
com a perspectiva de reduzir a necessidade de manuseio e manutenção, a
contaminação da superfície, a probabilidade de causar micro-trauma por inserção e
remoção
repetidas,
complicações
secundárias
a
depósitos
e
para
evitar
dessensibilização às soluções de manutenção (GHANEM et al., 2000).
É uma lente de contado hidrofílica com alto teor aquoso e uma pequena vida
útil, devendo ser substituída após alguns dias de uso. Como é trocada com
19
freqüência, os depósitos são mínimos e o paciente possui sempre uma LC
praticamente nova (GHANEM; KARA-JOSE, 1998).
Elas oferecem maior conveniência e praticidade o que facilita a adaptação,
além da vantagem de substituição imediata em caso de perda ou dano (LOURENÇO
et al., 2004).
Elas podem ser utilizadas da seguinte maneira: uso contínuo de até 6 noites e
7 dias, descansando um dia e retornando no dia seguinte a utilizar outro par de
lentes novos, ou uso diário descartando em 14 dias, segundo o FDA (The Food and
Drug Administration) (GHANEM et al., 2000).
Porém, o uso diário é recomendável já que o uso contínuo, mesmo
diminuindo o número de complicações de um modo geral, provoca com mais
frequência ceratite puntada superficial e edema corneano, aumentando o risco de
úlcera de córnea (GHANEM et al., 2000). Segundo Lourenço et al. (2004), pessoas
que dormem com as LC possuem um risco 20 vezes maior de contrair uma infecção.
O lançamento das lentes de contato descartáveis no mercado brasileiro veio
acompanhado com intensa propaganda demonstrando suas vantagens. Entretanto,
houve pouco esclarecimento sobre suas limitações, causando um desentendimento
sobre a filosofia de adaptação. Isso provocou diferentes orientações sobre esquema
de uso e descartabilidade das lentes, causando desistência e complicações oculares
facilmente evitáveis (GHANEM et al., 2000).
Gelatinosas de Uso Prolongado: segundo Lourenço et al. (2004), são
usadas pelo período médio de um ano devendo ser trocadas após esse período ou
avaliadas por um oftalmologista, pois com o tempo as lentes acumulam depósitos
em sua superfície, como proteínas, muco, além de microrganismos. Possuem custo
menor que as descartáveis além de proporcionar uma maior correção específica
para altas ametropias;
Gelatinosas de Alta Permeabilidade: produzidas com silicone hidrogel,
proporcionam maiores índices de transmissibilidade de oxigênio do que as
descartáveis convencionais oferecendo maior segurança ao usuário;
Gelatinosas Cosméticas ou Coloridas: disponíveis para pacientes com
miopia de até 6 graus, elas vem se firmando como um acessório de beleza muito
requisitado;
Rígidas: apresentam várias vantagens sobre as gelatinosas como melhor
qualidade de visão, maior durabilidade, resistência aos depósitos, facilidade de
20
manuseio, baixo custo, maior permeabilidade ao oxigênio. Também apresentam
várias desvantagens como menor conforto, maior período de adaptação, menor
estabilidade na superfície ocular;
Rígidas Fluorcarbonadas: caracterizam-se pela baixa incidência de
contaminação microbiológica, podendo corrigir altas ametropias e astigmatismo,
além de ter alta transmissibilidade de oxigênio;
Rígidas Fluorsiliconadas: possuem boa umectabilidade, resistência a
depósitos e boa permeabilidade ao oxigênio. Porém possuem maior flexibilidade,
podendo sofrer alterações em sua forma e diminuir a acuidade visual. O flúor
promove uma boa umectabilidade e maior resistência aos depósitos;
Rígidas Siliconadas: Produzidas por um polímero de silicone com acrilato
(PMMA), apresentando boa permeabilidade ao oxigênio e boa estabilidade. Possui
como desvantagens a baixa umectabilidade, podendo embaçar, menor resistência a
arranhões e tendência a depositar proteínas e muco. Por serem hidrofóbicas,
apresentam maior flexibilidade podendo causar baixa na acuidade visual. O PMMA
serve para aumentar a rigidez e umectabilidade da LC;
Rígidas de PMMA: as primeiras a serem introduzidas no mercado, mas,
como não são gás permeável, não estão disponíveis no mercado. Possuem
qualidade óptica excelente, são altamente transparentes e duráveis, resistente a
depósitos e arranhões, porém possuem permeabilidade muito baixa.
Lentes Especiais: usadas em certos tipos de astigmatismo irregular. Dentre
as LC deste grupo estão a Sopper com duas curvaturas diferentes na mesma lente e
a SoftPerm (LOURENÇO et al., 2004). As lentes de contato híbridas reúnem as
qualidades dos materiais rígidos permeáveis aos gases e dos gelatinosos
(hidrofílicos), onde o centro é formado pelo material rígido gás permeável e
circundado pelo material hidrofílico (LEAL et al., 2007).
3.3 Estojo das Lentes de Contato
Geralmente, as LC quando não estão em uso, são armazenadas nesse
recipiente que encontra-se permanentemente banhado com a solução de
conservação, onde as lentes ficam submersas. Com o tempo, esses estojos podem
abrigar resíduos e constituir uma das causas da contaminação das LC (PENS,
2008).
21
Segundo a Sociedade Brasileira de Lentes de Contato e Córnea (Soblec),
(2010), a limpeza do estojo deve ser feita pelo menos uma vez por semana com
água quente e sem sabão, utilizando utensílio do tipo escova de dente. Deixar secar
no ar e quando seco guardá-lo fechado.
Caso a manipulação desse estojo seja inadequada, pode ocorrer um
processo de contaminação contínuo, tanto no estojo como nas LC. A origem da
contaminação pode ser da própria solução de limpeza, das lentes ou das mãos dos
usuários contaminados com microrganismos (PENS, 2008).
A recomendação é trocar o estojo a cada seis meses, pois nutrientes que
desenvolvem microorganismos provenientes dos dedos ou da própria LC suja,
podem acumular-se no estojo e propiciar uma contaminação das LC (Soblec, 2010).
3.4 Manutenção das Lentes de Contato
Sabe-se que muitas das complicações decorrentes do uso das LC podem ser
evitadas com manutenção adequada. Assim sendo, os usuários devem ser
orientados quanto à limpeza e desinfecção das LC, para que essa manutenção seja
adequada (ANDRADE SOBRINHO, s. d.)
Segundo Andrade Sobrinho (s.d.), a sequência do processo de limpeza das
LC é o seguinte:

Higiene das mãos, olhos e anexos: lavar as mãos com sabonete neutro e
secar em toalha que não solte fiapos, manter as unhas sempre asseadas e retirar as
LC antes da remoção de maquiagem e aplicação de cremes;

Limpeza das LC: é de extrema importância que a limpeza da superfície da LC
seja realizada de forma apropriada, diariamente, pois a remoção dos resíduos
superficiais reduzem de maneira significativa o número de microrganismos além de
proporcionar uma melhor acuidade visual ao paciente, bem como facilita a
desinfecção diminuindo o risco de complicações oculares. Esses depósitos
decorrem geralmente de proteínas, muco, lipídeos e depósitos inorgânicos derivado
da

lágrima.
Os
tipos
de
limpadores
são:
Limpadores surfactantes: remove restos celulares, muco, lipídeos, cosméticos
e outros depósitos. Podem ser iônicos – aniônico, catiônico e anfótero –, e não
iônico;
22

Limpadores enzimáticos: removem os resíduos protéicos da superfície das LC
e são utilizados após os limpadores surfactantes. Seu uso depende do tipo de LC,
regime de uso, reposição e tipo de filme lacrimal do usuário. Os limpadores
enzimáticos mais usados são:
-
Papaína: enzima proteolítica extraída do mamão papaia;
-
Pancreatina: derivada do pâncreas suíno, é encontrada em soluções de
limpeza e deve ser aplicada diariamente, uma gota no estojo com a solução
limpadora. Remove proteínas, lipídeos e mucina;
-
Subtilisina: extraída do Bacillus licheniformis, usada diariamente com a
solução multiuso ou semanalmente em comprimido.

Enxágue: após a limpeza, é necessário enxaguar as LC para retirar possíveis
resíduos dos produtos utilizados, depósitos e microrganismos. Há possibilidade de
realizar o enxágue com soluções de limpeza ou água salina, porém o primeiro é
indicado uma vez que a água salina pode causar irritação ocular no usuário;

Desinfecção: o olho possui diversas formas de defesa contra infecções
naturais
como
a
integridade
do
epitélio
corneano,
propriedades
naturais
antimicrobianas do filme lacrimal, ação de piscar, entre outras, porém muitas vezes
essas barreiras são prejudicadas, deixando os olhos expostos a riscos. Portanto, a
desinfecção deve ser levada em consideração. Existem dois métodos para
desinfecção:

Térmico: feito por aquecimento a 80 oC por 10 minutos, com as lentes
embebidas em solução salina isotônica. A remoção dos depósitos deve ser realizada
rigorosamente antes do tratamento térmico, uma vez que se houver depósitos
protéicos, eles se fixarão na superfície, dificultando sua remoção. Contra indicado
para LC rígida gás permeável, cosméticas, e LC hidrofílicas de alto conteúdo
aquoso;

Químico: proporciona um maior tempo de vida útil para a LC e mais
comodidade ao usuário. Dividido em oxidativo e não oxidativo;
-
Oxidativo: desinfectante de amplo espectro, realizada com peróxido de
hidrogênio 3%, transforma H2O2 em água e oxigênio, num processo oxidativo. Há
necessidade de neutralização pois pode haver ceratite e hiperemia entre outros
sintomas. Essa solução não está disponível no mercado nacional;
15
-
23
Não oxidativo: desinfecção obtida com a utilização de antimicrobianos como
polihexamida, clorexidina, etc., de amplo espectro. Há disponibilidade nas soluções
de multiuso indicadas para limpeza, enxágüe e desinfecção.
3.5 Soluções para Lentes de Contato
Conforme Lui, et al. (2009), as soluções multiuso apresentam propriedades de
limpeza, desinfecção, remoção de depósitos de proteínas e lubrificação, que
simplificam as etapas dos cuidados por parte dos usuários. Vários são os princípio
ativos usados nas soluções multiuso, dos quais destacam-se o poliquaternário-1 a
0,001%, o miristamidopropil dimetilamina a 0,0005% e o poliaminopropil biguanida a
0,0001%.
3.6 Contaminação das Lentes de Contato
Para a instalação da infecção ocular é necessário que haja uma aderência,
penetração, invasão, persistência e replicação do agente. Para destruir as células e
tecidos oculares e provocar a invasão, o agente precisa produzir exotoxinas,
proteases e endotoxinas (UESUGUI et al., 2002). Para exercer sua patogenicidade,
a bactéria depende das condições do hospedeiro (TRABULSI; ALTERTHUN, 2005).
Na maioria das vezes a infecção ocorre devido a perda de algum mecanismo de
proteção (SILVA, 2007).
As infecções bacterianas possuem importância na história da humanidade,
uma vez que tem sido responsáveis por inúmeras doenças endêmicas e epidêmicas,
muitas vezes com efeitos devastadores sobre a população humana (TRABULSI;
ALTERTHUN, 2005).
Conforme Trabulsi; Alterthun (2005) as infecções bacterianas dividem-se em
dois grupos: exógenas e endógenas. A primeira ocorre quando os agentes atingem
o hospedeiro a partir de uma fonte externa e as endógenas são infecções causadas
por agente da flora normal do hospedeiro.
É importante destacar que pode haver infecção sem doença, e este estado é
chamado de infecção inaparente, onde muitas vezes as únicas manifestações do
organismo é a resposta imunológica. Denomina-se infecção, o ato da bactéria se
instalar e multiplicar-se no organismo do hospedeiro. A doença só ocorre quando a
24
bactéria expressa seu efeito patogênico e provoca manifestações clínicas
(TRABULSI; ALTERTHUN, 2005).
A superfície ocular é normalmente colonizada por uma microbiota bacteriana.
Alterações da microbiota são observadas em várias situações, principalmente devido
à diminuição da imunidade local e sistêmica do hospedeiro ou pela presença de
microorganismos virulentos (SOLARI et al., 2004).
Os olhos possuem um micro-habitat, formado pelo saco conjuntival com uma
microbiota peculiar, apresentando um grande número de microorganismos
oportunistas. Infecções oculares geralmente resultam de desequilíbrios como baixa
da imunidade, lesão na integridade dos tecidos, uso de antimicrobianos ou a
introdução de algum patógeno capaz de superar todas as defesas naturais e
estabelecer-se (PENS, 2008).
Para sobrevivência e multiplicação dos agentes infecciosos, há necessidade
de condições apropriadas. Muitas vezes, encontram essa condição nos homens ou
em outro animal. Os agentes infecciosos podem migrar de um organismo para outro
com facilidade, causando, eventualmente, doenças ao encontrar um hospedeiro
susceptível (TRABULSI; ALTERTHUN, 2005).
O usuário de LC pode ter complicações induzidas, facilitadas e/ou agravadas
com sua presença, além de outras, independentes de seu uso. Como estão em
contato direto com a córnea, podem induzir alterações pelo trauma, pela diminuição
da umidificação e oxigenação da córnea e da conjuntiva, bem como desencadear
alergias e infecções (GHANEM; KARA-JOSE, 1998).
As principais complicações se devem à LC mal adaptadas, mal conservadas
ou contaminadas, intolerância ao material da LC, presença de patologias oculares
prévias, interferência de fatores ambientais e uso incorreto da LC (GHANEM; KARAJOSE,
1998).
O
estojo
das
LC
são
frequentemente
contaminados
por
microorganismos colonizadores primários, presentes na solução de limpeza, nas LC,
nas mãos do usuário e ar, formando um biofilme e sujeitando as LC a um processo
contínuo de contaminação (PENS, 2008).
A úlcera por Pseudomonas aeruginosa é a infecção corneana mais frequente
associada ao uso de LC. Pode começar em qualquer local da córnea e propagar-se
rapidamente em extensão e profundidade, levando a uma necrose total. Esse agente
tem sido encontrado constantemente em soluções de manutenção de pacientes que
apresentaram úlcera, porém, é encontrado em qualquer fonte da natureza. Adere
25
facilmente ao polímero da LC, fato estimulado pela presença de depósitos em sua
superfície (GHANEM; KARA-JOSE, 1998).
3.7 Ceratite Bacteriana
Importante causa de déficit visual, a ceratite bacteriana ocorre principalmente
quando há alguma alteração nos mecanismos de defesa corneanos. Segundo Alves;
Andrade (2000), cerca de 90 % dos casos de ceratites bacterianas são causadas por
organismos
incluídos
nos
grupos
Micrococcaceae,
Pseudomonaceae
e
Enterobacteriaceae, sendo os microrganismos mais comumente encontrados
causando infecções são Pseudomonas sp., Staphylococcus sp., Streptococcus sp. e
Proteus sp.
Calcula-se um aumento de 10 a 15 vezes no risco de ceratite infecciosa no
uso continuado de lentes de contato quando comparado com o uso diário. As
principais causas das complicações relacionadas ao uso de LC são: falta de
obediência às instruções de manutenção e troca das lentes, que propiciam o
aparecimento de depósitos, que, além de causar turvação e desconforto visual,
podem causar reações imunoalérgicas o que facilita a aderência de microrganismos
e consequentemente infecções (ALVES; ANDRADE, 2000).
Os sintomas incluem dor, lacrimejamento, fotofobia, diminuição da visão,
secreção purulenta e hiperemia conjuntival (ALVES; ANDRADE, 2000).
3.8 Úlcera de Córnea
A úlcera corneana é um grave problema ocular pelo seu potencial de
destruição da estrutura transparente da córnea (SILVA, 2007), sendo a complicação
mais grave associada ao uso de LC. Ela se desenvolve pelo rompimento da barreira
epitelial seguido por invasão do estroma corneano por microrganismos patogênicos.
As principais causas do rompimento da barreira epitelial incluem hipóxia que
provoca edema, trauma por inserção e remoção das LC, reações tóxicas aos
preservativos das soluções, LC com defeito ou com depósitos (GHANEM; KARAJOSE, 1998).
Ocorre, geralmente, devido a uma infecção bacteriana, fúngica ou viral,
podendo ser consequência de um traumatismo. As bactérias, na maioria dos casos
26
Staphylococcus sp., Pseudomonas sp. e Streptococcus pneumoniae,
podem
infectar e ulcerar a córnea após lesão ocular como penetração de corpo estranho no
olho ou irritação por LC (SILVA, 2007).
Conforme afirma Silva (2007), a úlcera bacteriana é rara na ausência de
fatores predisponentes. A maior parte dos casos esta relacionada com trauma ou
doença ocular. No entanto, o amplo uso de LC tem aumentado os relatos de úlcera
de córnea relacionados ao seu uso. As bactérias, principalmente as Gram positivas,
são os microrganismos mais isolados de úlceras corneanas e a maioria delas faz
parte da microbiota ocular. Os fungos aparecem em segundo lugar na ordem de
freqüência.
Streptococcus
pneumoniae,
Staphylococcus
coagulase
negativo
e
Staphylococcus aureus são as bactérias mais envolvidas em processos infecciosos
corneanos. As bactérias Gram negativas, principalmente Pseudomonas aeruginosa
e Klebsiella pneumoniae também possuem relatos de infecção corneana (SILVA,
2007).
Segundo Silva (2007), Staphylococcus coagulase negativo e Corynebacterium
sp. são os principais componentes da microbiota conjuntival, porém possuem baixa
patogenicidade infectando úlceras de córnea produzidas por enfermidades oculares
crônicas ou injúrias oculares Staphylococcus aureus são componentes importantes
da microbiota ocular e possuem muitos fatores de patogenicidade sendo um agente
freqüente de úlceras corneanas.
Streptococcus pneumoniae é o principal agente etiológico das conjuntivites
bacterianas e ocupa importante posição entre os agentes das úlceras de córneas
associadas a diversas enfermidades ou cirurgias oculares (SILVA, 2007).
Pseudomonas aeruginosa e Serratia marcescens são os principais bacilos
Gram negativos isolados em úlceras infecciosas, principalmente em usuários de LC.
Essas bactérias podem aderir-se às células da córnea, fato favorecido pelas
condições de estresse proporcionado pelo uso de LC. Podem sobreviver em
ambientes inóspitos e com poucos nutrientes, como soluções utilizadas para
preservar as LC (SILVA, 2007).
3.9 Espécies Isoladas com Maior Frequência
Staphylococcus aureus
27
Geralmente é necessário haver um comprometimento significativo do
hospedeiro para que ocorra infecção por S. aureus, como um corte na pele ou a
inserção
de
um
corpo
estranho,
um
folículo
piloso
obstruído
ou
um
comprometimento do sistema imune. A doença causada por S. aureus pode ser:
resultado de uma infecção invasiva real, sobrepondo os mecanismos de defesa do
organismo e com produção de substâncias extracelulares que facilitam a invasão;
devida a toxinas na ausência de infecção ou uma combinação de infecção e
intoxicação (HARVEY et al., 2008).
Segundo KONEMAN et al. (2001), o S. aureus é o patógeno humano mais
importante entre os estafilococos devido à sua significativa virulência. Representante
da flora normal das pessoas, especialmente nas narinas da maioria dos adultos, em
pregas cutâneas, períneo, axilas e vagina, também comporta-se como agente de
importantes infecções oportunístas. Segundo o autor, os estafilococos podem causar
diversos processos infecciosos, na maioria das vezes resultante da falha nos
mecanismos de defesa dos indivíduos, associação com outros patógenos ou na
presença de corpos estranhos. Uma vez que as LC podem ser classificadas como
um corpo estranho, a presença dessas bactérias colonizando o olho, representa um
fator de risco para o desenvolvimento de processos infecciosos.
O S. aureus possui várias propriedades que contribuem para sua
patogenicidade, porém esses fatores de virulência não se encontram em todas as
cepas da espécie. Entre as propriedades, ressalta-se a formação de cápsula,
proteína A, constituintes da parede celular, enzimas específicas, hemolisinas e
toxinas (KONEMAN et al., 2001).
Bacillus sp.
Os bastonetes Gram positivos são encontrados em abundância no ambiente e
formam um grupo
que inclui bactérias que raramente
causam doenças
(SCHAECHTER et al., 2002).
As bactérias do gênero Bacillus são tipicamente bastonetes que poduzem
endosporos. São comuns no solo e somente algumas são patogênicas para
humanos. Diversas espécies produzem antibióticos (TORTORA et al., 2007).
A maioria das cerca de 70 espécies de Bacillus são achadas no solo e na
água, e geralmente são encontradas em laboratórios clínicos como contaminantes
28
veiculados pelo ar. B. anthracis, causador do carbúnculo (antraz), é o membro do
gênero de maior importância clínica (HARVEY et al., 2008).
De acordo com Tortora et al. (2007), o Bacillus anthracis causa o antraz, uma
doença que ataca gado, ovelhas e cavalos e que pode ser transmitida para o
homem. O Bacillus thuringiensis é provavelmente o patógeno microbiano de insetos
mais conhecido. Ele produz cristais intracelulares de glicoproteínas tóxicas quando
esporula. O Bacillus cereus é uma bactéria comum no meio ambiente e
ocasionalemente é identificada como sendo a causa de intoxicação alimentar,
especialmente e alimentos contendo amido.
Raramente outras espécies de bacilos estão implicadas em lesões
oportunistas, em particular após um trauma ou a colocação de dispositivos artificiais
e cateteres. Uma espécie comumente identificada é o Bacillus cereus. Linhagens
dessa espécie produzem uma exotoxina que destrói os tecidos (HARVEY et al.,
2008).
Essas três espécies do gênero Bacillus são diferentes de forma importante,
especialmente em suas propriedades causadoras de doenças. Entretanto, elas são
relacionadas intimamente e os taxonomistas as consideram variantes de uma
mesma espécie, mas que diferem nos genes carregados nos plasmídeos, que são
facilmente transferidos de uma bactéria para outra (TORTORA et al., 2007).
Bacilos Gram negativos
Os membros da ordem Enterobacteriales são bastonetes Gram negativos,
anaeróbicos facultativos que, se forem capazes de se locomover, fazem-no por meio
de flagelos peritríquicos. Morfologicamente são retos e possuem necessidades
nutricionais simples. É um importante grupo de bactérias, comumente chamados de
entéricos pois habitam o trato intestinal de humanos e outros animais. A maioria dos
entéricos são fermentadores ativos de glicose e outros carboidratos. Os entéricos
possuem fimbrias que auxiliam na aderência às superfícies ou às membranas
mucosas. Os pili sexuais especializados auxiliam na transferência de informação
genética entre as células, que muitas vezes inclui resistência a antibióticos
(TORTORA et al., 2007).
Segundo Tortora et al. (2007), os entéricos, como muitas bactérias, produzem
proteínas denominadas bacteriocinas, que causam a lise de espécies erelacionadas.
29
As bacteriocinas talvez auxiliem na manutenção do balanço ecológico de vários
entéricos no intestino.
Escherichia coli
A espécie E. coli é um dos habitantes mais comuns do trato intestinal. Sua
presença na água e nos alimentos é um indicador de contaminação fecal. A E. coli
geralmente não é patogênica, porém pode causar infecção do trato urinário e graves
doenças de origem alimentar (TORTORA., 2007).
Essa bactéria possui fímbrias ou pili que são importantes para sua aderência
na superfície das mucosas do hospedeiro, e linhagens diferentes podem ser móveis
ou imóveis. A maioria das linhagens é capaz de fermentar lactose, o que as
diferencia dos patógenos intestinais mais importantes. E. coli produz ácido e gás
quando fermenta carboidratos (HARVEY et al., 2008).
Dependendo da relação com homem, pode-se distinguir dois grande grupos
de amostras: um que habita os nossos intestinos desde o nascimento até a morte,
denominado E. coli comensal, e outro que causa diferentes tipos de infecções,
conhecido como E. coli patogênica (TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).
Proteus sp.
Proteus sp. desenvolve-se em ágar como um “enxame”, com muitos flagelos,
movem-se para fora da colônia e revertem para células normais com apenas alguns
flagelos e motilidade limitada. Esse gênero está envolvido em muitas infecções do
trato urinário e em feridas (TORTORA et al., 2007).
Pseudomonas aeruginosa
A espécie anaeróbica de Pseudomonas patógenas melhor conhecida em
humanos é a P. aeruginosa que sobrevive em ambientes úmidos e é frequentemente
encontrada na terra, água, esgoto, ar e ocasionalmente na flora normal da pele e
intestinos. A P. aeruginosa parece ser patogênica somente quando é introduzida em
áreas isentas de defesas normais, quando superposta a uma infecção estafilocócica,
infecção mista ou ainda quando acomete pacientes debilitados por extensas
queimaduras ou lesões traumáticas (KONEMAN et al., 2001).
Esta espécie tem sido associada a uma ampla variedade de infecções como
bacteremias; infecções do trato urinário; infecções do trato respiratório, e infecções
30
de ouvido e oculares, resultando, muitas vezes, em septicemia fatal. A P. aeruginosa
produz uma série de fatores de virulência. Algumas cepas, por exemplo, produzem
polissacarídeos extracelulares, que podem impedir a fagocitose, prejudicando a
difusão de antibióticos e facilitando a colonização pelo patógeno (MATA, 2007).
A doença causada por P. aeruginosa começa com a fixação e a colonização
dos tecidos do hospedeiro. Os pili das bactérias medeiam a adesão, e uma cápsula
de glicocálice reduz a efetividade dos mecanismos normais de eliminação do
organismo. O dano aos tecidos do hospedeiro facilita a aderência e a colonização.
P. aeruginosa dá origem a numerosas toxinas e produtos extracelulares, que
promovem a invasão local e a disseminação do organismo (HARVEY et al., 2008).
Segundo Alves e Andrade (2000), Pseudomonas aeruginosa tipicamente
produz uma úlcera extensa, rapidamente progressiva, frequentemente com hipópio.
O estroma é necrótico, com material amarelo esverdeado aderido na superfície da
úlcera. O edema corneano estende-se além do local do infiltrado, causando um
aspecto de vidro fosco.
3.10 Meios de Cultura Utilizados
Conforme MOURA et al. (2002), os meios de cultura geralmente utilizados no
laboratório de bacteriologia clínica contêm substâncias essenciais para a reprodução
das bactérias de interesse médico. Estes meios são formulados para permitir o
crescimento seletivo de certos microorganismos ou ainda, para demonstrar outras
propriedades biológicas como hemólise, formação de esporos, produção de
enzimas,
etc.
Os
meios
escolhidos
devem
permitir
o
crescimento
dos
microorganismos apropriados, garantindo assim a qualidade das análises, na
identificação adequada e confiável dos microorganismos.
O caldo BHI (Infusão de Cérebro e Coração) é um meio derivado de cérebro,
coração, peptona e dextrose, onde a peptona e a infusão são fontes de nitrogênio,
carbono, enxofre e vitaminas e a dextrose é um carboidrato que os microrganismos
utilizam para fermentação. É utilizado para cultivo de estreptococos, pneumococos,
meningococos, enterobactérias, não fermentadores, leveduras e fungos (Agencia
Nacional de Vigilância Sanitária, s. d.).
O meio de cultura MacConkey é classificado como diferencial, designado para
separar vários microorganismos que dependem da utilização de carboidratos,
31
fermentação, oxidação e atividade enzimática, ou ainda seletivo, por inibir o
crescimento de algumas bactérias específicas (MOURA et al., 2002).
Já os meios como ágar Sangue de carneiro são ditos como meios
enriquecidos, pois contém em sua formulação elementos como sangue, soro ou
outros nutrientes (MOURA et al., 2002).
O meio de cultura TSI (tríplice açúcar ferro) contém três açúcares:
0,1%glicose, 1,0% lactose, 1,0% sacarose, vermelho de fenol para detecção da
fermentação de carboidratos e sulfato de ferro para perceber a produção de sulfato
de hidrogênio (indicado pela cor preta na base do tubo). A fermentação é indicada
pela mudança da cor do indicador de pH de vermelho para amarelo. O ágar fundido
é deixado solidificar, formando uma superfície inclinada. A porção inclinada ou bico,
exposta em toda sua superfície ao oxigênio atmosférico, é aeróbia. A porção inferior,
denominada profundidade ou fundo, está protegida do ar e é relativamente
anaeróbia. É utilizado para diferenciar bacilos Gram negativos com base na
fermentação de carboidratos, produção de sulfato de hidrogênio e gás (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária, s. d.).
32
4
MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Material
O presente estudo realizou-se com estudantes universitários do curso de
Farmácia da UNOCHAPECÓ, assintomáticos, usuários de lentes de contato, de
fevereiro a abril de 2010. Isolou-se microrganismos do estojo de armazenamento
das LC, interna e externamente e das LC antes do uso e após 4 a 6 h de uso. Para
realização da pesquisa, o projeto foi submetido à Comissão de Ética, cuja aprovação
encontra-se registrada no APÊNCICE I.
A todos os voluntários aplicou-se um questionário (APÊNDICE III), com
questões envolvendo dados pessoais, tipo de LC, procedimento de higienização,
tempo e forma de utilização, histórico clínico e terapêutico, tratamentos e
medicamentos utilizados durante alguma infecção.
4.2 Métodos
a) Busca de voluntários para a pesquisa
Para encontrar voluntários interessados em participar da presente pesquisa,
enviou-se e-mails pedindo a colaboração e em visita as salas, onde, com a
aprovação do professor ministrando a disciplina naquele momento, era explicado o
objetivo do estudo e questionava-se a disponibilidade e interesse dos estudantes em
participar do estudo. Assim sendo, 12 estudantes do curso de Farmácia mostraram
interesse em colaborar com a pesquisa. Cada voluntário foi identificado com um
número de 1 (um) a 12 (doze).
b) Obtenção das amostras dos estojos de armazenamento
Após leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APÊNDICE II), os estojos foram cedidos para amostragem. Em condições
assépticas, com swab, foi obtida amostra da região externa do estojo e inoculado em
caldo BHI (Brain Heart Infusion) identificado com o número do voluntário e região de
coleta conforme Tabela 1. Após, o estojo foi aberto e, com outro swab estéril, foi
33
obtida a amostra do líquido de manutenção presente no estojo internamente e
inoculado em caldo BHI, devidamente identificado.
Identificação
Abreviatura
Olho direito antes do uso
ODA
Olho esquerdo antes do uso
OEA
Estojo por fora
EF
Estojo dentro direito
EDD
Estojo dentro esquerdo
EDE
Olho direito depois do uso
ODD
Olho esquerdo depois do uso
OED
Tabela 1: Identificação das amostras
c) Obtenção das amostras das lentes de contato
O usuário apresentou-se no laboratório de microbiologia da Unochapecó para
ceder as LC com as mesmas imersas na solução de manutenção dos estojos de
armazenamento. Antes do uso, obteve-se a amostra da LC com swab, do olho
direito e depois do olho esquerdo, em condições assépticas e inoculado em caldo
BHI, devidamente identificado. O usuário, após desinfecção das mãos com água,
sabão e álcool 70%, colocou as LC. Após 4 a 6h de uso, o usuário retornou ao
laboratório para coleta da amostra após o uso. Com o mesmo procedimento de
desinfecção das mãos, o usuário retirou as LC para obtenção das amostras com
swab, em procedimento asséptico e após inoculou-se em caldo BHI identificado.
d) Isolamento e identificação de bactérias
As análises foram realizadas no laboratório de microbiologia da Unochapecó
e as técnicas aplicadas para análise das amostras foram seguidas segundo
Konemam (2001).

Incubou-se os caldos BHI em estufa, 37oC por 24h;

Após incubação do caldo, inoculou-se em Ágar Sangue e Mac Conkey com
alça de platina e incubou-se em 37ºC por 24h;
34

Com o crescimento no Ágar Sangue e Mac Conkey, retirou-se uma alíquota
desse material, fixou-se em lâmina e corou-se pela coloração de Gram da seguinte
maneira:
- Cobriu-se o esfregaço com violeta de metila por aproximadamente 15 segundos;
- Escorreu-se o corante e lavou-se em um filete de água corrente; Cobriu-se a
lâmina com lugol por aproximadamente 1 minuto;
- Escorreu-se o lugol e lavou-se em um filete de água corrente;
- Adicionou-se álcool/cetona sobre a lâmina; descorando-a, até que não desprenda
mais corante;
- Lavou-se em um filete de água corrente;
- Cobriu-se a lâmina com safranina e deixou-se agir por aproximadamente 30
segundos;
- Lavou-se em um filete de água corrente;
- Deixou-se secar ao ar livre;
- Colocou-se uma gota de óleo de imersão sobre o esfregaço; e leu-se em objetiva
de imersão (100 X) (MARTINS et al., 2001) .

Amostras bacilos Gram negativos foram analisadas a morfologia no
microscópio e a característica de crescimento no ágar TSI (Triple Sugar Iron),
EPM/MILI e prova da oxidase (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, s. d.).

Amostras cocos Gram positivas foram analisadas a morfologia no
microscópio e realizou-se a prova da catalase, onde, em uma lâmina, colocou-se
colônias das bactérias em questão e adicionado Peróxido de Hidrogênio 3%
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária, s. d.).

Catalase negativos observou-se a hemólise;

Catalase positivos foram inoculados em Agar Sal-manitol e incubadas em
estufa 37oC-24h.
e) Tabulação dos resultados
Os resultados foram tabulados utilizando-se o programa Microsoft Office
Excel 2007.
35
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 Caracterização da amostra
A pesquisa em questão envolveu 12 acadêmicos do curso de Farmácia da
Universidade Comunitária da Região de Chapecó usuários de lentes de contato,
sendo 8 acadêmicos do sexo feminino e 4 do sexo masculino (Gráfico 1) com idades
entre 18 e 35 anos (Gráfico 2), diferente do estudo realizado por Aguiar et al. (2006),
que ao realizar pesquisa semelhante com 50 alunos de Medicina usuários de LC,
observou a prevalência do sexo masculino com 62% do total de entrevistados. Em
outro estudo realizado com acadêmicos de Medicina por Vidotti e Kamegasawa
(2006), obteve-se 62,6% de usuários de LC do sexo feminino. Porém, deve ser
levado em consideração a superioridade feminina no curso de farmácia da
UNOCHAPECÓ, onde, segundo a Coordenação do Curso de Farmácia, cursam 247
acadêmicos, sendo 17% do sexo masculino e 83% do sexo feminino.
Gráfico 1: Prevalência do sexo na população estudada
36
Gráfico 2: Faixa etária da população estudada
Conforme questionário aplicado no dia da coleta, 59% dos usuários utilizam
LC descartáveis, 33% LC de uso prolongado e 8% ocasional, sendo 83% por
motivos terapêuticos e 17% pela estética proporcionada pela LC (Gráfico 3 e 4). Nos
estudos de Aguiar et al. (2006) e Vidotti; Kamagasawa (2006), a motivação do uso
da LC é estética com 56%, diferente dos acadêmicos desse estudo. Com o mesmo
método, foi estabelecido tipo de lente utilizado pelo usuário, sendo 92% gelatinosa e
8% tórica, como ilustra o Gráfico 5. Na pesquisa de Aguiar et al. (2006), a mesma
proporção de utilização de LC gelatinosa foi encontrada, destacando-se com 94%
das respostas obtidas.
Gráfico 3: Tipo de uso da LC da população em questão
37
Gráfico 4: Motivo do uso da LC
Gráfico 5: Tipo da lente de contato
Quando questionados quanto ao tempo de uso da lente de contato, foram
relatados: diário ou ocasional, 67% das respostas; 37% responderam usar a LC por
16h; 25% por 15h e 12h e 13% por 6h consecutivas (Gráfico 6). Isso demonstra que
os usuários de LC estudados conhecem o risco de contaminação ocular no uso
prolongado da LC, uma vez que o estudo de Alves; Andrade (2000) informa um
aumento de 10 a 15 vezes no risco de ceratite infecciosa no uso continuado de
lentes de contato quando comparado com o uso diário.
38
O mesmo ocorre com o uso durante o sono. No mesmo estudo citado
anteriormente, os autores realçam o perigo da Pseudomonas que é especialmente
capaz de aderir-se à superfície da lente, especialmente na presença de depósitos. A
hipóxia durante o fechamento palpebral (durante o sono), resulta em compromisso
da barreira epitelial, permitindo a adesão e subsequente invasão do organismo.
Gráfico 6: Tempo de uso da lente de contato
A solução de limpeza mais utilizada pelos acadêmicos é a Opti-free®, que
destacou-se com 67% das respostas. Já a solução Renu Plus® permaneceu com
33% das respostas dos usuários. A solução de limpeza é muito importante para a
manutenção das LC, uma vez que as mesmas permanecem imersas nessa solução
no estojo de armazenamento grande parte de sua vida útil. Portanto, escolher
produtos de procedência confiável com estudos científicos amplos podem reduzir a
proliferação bacteriana dentro do estojo de armazenamento e consequentemente a
contaminação da LC.
Os acadêmicos relataram usar a solução indicada pelo oftalmologista, que,
conforme Andrade Sobrinho (s. d.), são adequadas para o fim a que se destinam.
De acordo com Lui, et al (2009), soluções multiuso para LC têm sido cada vez
mais utilizadas. Apresentam propriedades de limpeza, desinfecção, remoção de
depósitos de proteínas e lubrificação, que simplificam as etapas dos cuidados por
parte dos usuários.
39
Conforme questionário, todos os acadêmicos voluntários da pesquisa afirmam
submeter as LC a revisões periódicas por profissionais especializados. Isso
demonstra que os usuários de LC do curso de Farmácia da Unochapecó conhecem
a importância da adaptação, manutenção, prevenção e do reconhecimento das
complicações que podem existir no usuário devido o uso das LC.
Segundo o questionário, 50% dos estudantes apresentam sintomas
esporádicos ao utilizar a LC tais como irritação, coceira, ardência, entre outros. O
restante da população não sente quaisquer sintomas. Para Aguiar et al. (2006), 22%
dos entrevistados já apresentaram algum episódio de alergia ocular, 12% já
sofreram com a ceratite/úlcera corneana, 6% já tiveram qualquer complicação
relacionada a LC e 60% não apresentaram nenhum sintoma. Essas complicações se
devem muitas vezes pela negligência do usuário, mas também pela falta de
orientações e instruções adequadas. De qualquer maneira, higiene das mãos, das
LC e manutenção do estojo de armazenamento são procedimentos indispensáveis
para que os efeitos adversos propiciados pelo uso de LC sejam reduzidos e uma
vida mais saudável seja proporcionada ao usuário.
5.2 Crescimento Microbiológico
Das 84 amostras coletadas, 73 apresentaram crescimento microbiano em
caldo BHI (Gráfico 7), sendo que todas as amostras foram coletadas em
procedimento estéril e individualizadas, o que demonstra que, mesmo com os
cuidados devidos que muitos dos usuários fazem, como lavagem das mãos e
utilização de líquidos apropriados para manutenção e lavagem das LC, a
contaminação microbiológica ainda ocorre.
40
Gráfico 7: Crescimento microbiológico no caldo BHI
Quando semeadas em Ágar Sangue e Mac Conkey respectivamente, houve
crescimento microbiano com colônias diferentes para a mesma amostra e até
crescimento filamentoso, característico de fungos.
Das 73 amostras coletadas em que houve crescimento em caldo BHI, 19
obtiveram crescimento de mais de uma bactéria do mesmo local de isolamento, o
que demonstra a diversidade de bactérias a que as LC estão expostas, mesmo
sendo manuseadas de forma correta.
As bactérias encontradas nas amostras foram:
- Staphylococcus aureus;
- Staphylococcus coagulase negativo;
- Bacillus sp.;
- Bacilo Gram negativo oxidase positiva;
- Pseudomonas sp.;
- Proteus sp.;
- Citrobacter freundii;
- Escherichia coli.
Das amostras coletadas, 27% estavam contaminadas com Staphylococcus
aureus (Figura 1), 22% com Staphylococcus coagulase negativo (Figura 2), 19%
com Bacillus sp. (Figura 3), 12% com Proteus sp. (Figura 4), 6% com Bacilo Gram
negativo oxidase positivo e crescimento característico de fungos (Figuras 5 e 6), 3%
41
com Pseudomonas sp. e Escherichia coli (Figuras 7 e 8) e 2% com Citrobacter
freundii (Figura 9), conforme ilustra o Gráfico 8.
O estudo em questão demonstra que, as LC são importantes meios de
contaminação
ocular,
uma
vez
que
abrigam uma
grande
variedade
de
microorganismos de importância médica que, ao encontrarem um organismo
susceptível podem induzir uma infecção e causar grandes transtornos para os
usuários da LC.
Segundo pesquisa realizada por Uesugui et al. (2002), que analisou 785
prontuários oftalmológicos do banco de dados do Laboratório de Microbiologia da
Santa Casa de São Paulo, houve identificação dos patógenos oculares mais
freqüentes, onde destacam-se o S. aureus com 7%, P. aeruginosa com 3,9%, S.
epidermidis com 2,2% dos isolados de ceratite bacteriana. Os resultados da
pesquisa citada estão de acordo com o estudo realizado, pois as bactérias
encontradas como patógenos oculares nos prontuários da Santa Casa também
foram isolados dos acadêmicos de Farmácia da Unochapecó, demonstrando assim
a grande suscetibilidade de contaminação induzida pelas LC.
Já em conjuntivites, no mesmo estudo, S. aureus é o responsável por 22,9%
das infecções, seguido por Candida sp. com 6,6%, S. epidermidis com 5,2% e P.
aeruginosa com 2,4%.
Silva (2007), analisou os casos de úlcera bacteriana e o patógeno mais
freqüentemente causador dessa patologia foi S. coagulase negativo, ocorrendo em
33,3% dos casos. S. aureus foi identificado em 16,7% das úlceras, Bacillus sp. em
16,7% e por último S. saprophyticus em 12,5% dos casos. P. aeruginosa foi a
bactéria Gram negativa mais isolada das amostras com um total de 8,3% dos
isolados.
42
Gráfico 8: Porcentagem de bactérias isoladas
Nas amostras da LC do olho direito antes do uso, em 27% isolou-se S.
aureus, em 20% isolou-se Bacillus sp. e S. coagulase negativo. Houve crescimento
de Proteus sp, Pseudomonas sp. e bacilo Gram negativo oxidase positivo em 7%
das amostras e em 6% isolou-se Escherichia coli e colônias características de
fungos (Gráfico 9).
43
Gráfico 9: Porcentagem de bactérias isoladas de amostras da LC do olho direito antes do uso
Nas LC do olho esquerdo antes do uso, as amostras apresentaram
praticamente o mesmo padrão de isolamento, onde a maioria, ou seja, 32% das
amostras demonstraram crescimento de S. aureus, 19% de Bacillus sp. e 25% de S.
coagulase negativo. Pseudomonas sp, Proteus sp, Escherichia coli e crescimento
característico de fungos perfizeram 6% dos isolados bacterianos, conforme ilustra o
Gráfico 10.
44
Gráfico 10: Porcentagem das bactérias isoladas em amostras da LC do olho esquerdo antes
do uso
Também foram obtidas amostras do estojo de armazenamento das LC do
lado externo, uma vez que esse local é manuseado com frequencia pelo usuário e
também é colocado em superfícies, bolsas e mochilas, correndo o risco de estar
contaminado com várias bactérias patógenas. No estudo em questão a bactéria que
prevaleceu com 33% das amostras foi S. aureus, seguido por S. coagulase negativo
com 20%, Bacillus sp. e Proteus sp. com 13%. Pseudomonas sp., Escherichia coli e
crescimento característico de fungos cresceram em 7% das amostras coletadas
(Gráfico 11).
Segundo o estudo de Alves e Andrade (2000), cerca de 90% dos casos de
ceratite
bacteriana
são
causados
por
organismos
incluídos
no
grupo
Micrococcaceae, Streptococcus sp., Pseudomonas sp. e Enterobacteriaceae
(Citrobacter, Klebsiella, Enterobacter, Serratia, Proteus), onde os organismos mais
comumente isolados são: Pseudomonas sp, Staphylococcus sp, Streptococcus sp e
Proteus sp, demonstrando assim que os usuários de LC desse estudo estão
susceptíveis à ceratite bacteriana.
45
Gráfico 11: Porcentagem das bactérias isoladas do estojo de armazenamento das LC
externamente
Mesmo com a importância que o estojo significa na vida útil das LC, houve
crescimento microbiano no lado interno dos mesmos, com 92 % das amostras com
crescimento microbiano positivo. Embora com valores menores, mas igualmente
altos, o estudo elaborado por Pens (2008), demonstrou que 71% dos estojos
estavam contaminados. Apesar dos estudantes afirmarem em questionário realizar
limpeza dos estojos de armazenamento das LC, os resultados demonstraram que os
métodos não estão sendo eficientes para desinfecção dos mesmos. Identificando-se
os microorganismos isolados, 36% refere-se a Staphylococcus aureus, 22% a
Bacillus sp., 14% a Proteus sp. e 7% corresponde a Staphylococcus coagulasenegativo, bacilo gram negativo oxidase positivo, Citrobacter freundii e crescimento
característico de fungos, conforme mostra o Gráfico 12.
46
Gráfico 12: Porcentagem das bactérias isoladas do estojo de armazenamento do lado direito
interno
Já no lado esquerdo interno do estojo de armazenamento das LC, 31% das
bactérias isoladas foram Staphylococcus aureus, 15% Bacillus sp., Staphylococcus
coagulase negativo e bacilo Gram negativo oxidase positivo. Em 16% isolou-se
Proteus sp. e em 7% colônias indicativas de fungos (Gráfico 13).
47
Gráfico 13: Porcentagem das bactérias isoladas do estojo de armazenamento do lado
esquerdo interno
Nos isolados bacterianos de amostras da LC do olho direito após 4 a 6h de
uso, apenas em 7 das 12 amostras houve crescimento microbiano em caldo BHI,
demonstrando que as propriedades enzimáticas da lágrima, que contém a lisozima,
lactoferrina e betalisina, possuem mesmo um poder anti séptico. Entre os
mecanismos de defesa do olho destacam-se a ação de limpeza proporcionadas
pelas pálpebras durante o ato de piscar, o epitélio corneal íntegro e o filme lacrimal,
que contém imunoglobulinas e enzimas com atividade antimicrobiana (LUI, et al.,
2009). Nos isolados, 34% pertencem ao grupo dos Staphylococcus coagulasenegativo, 22% de Bacillus sp. e Staphylococcus aureus e 11% de bacilo Gram
negativo oxidase positivo e Proteus sp. (Gráfico 14).
48
Gráfico 14: Porcentagem de bactérias isoladas de amostras da LC do olho direito após 4 a
6h de uso
Nas amostras da LC do olho esquerdo após 4 a 6h de uso, o mesmo ocorreu
com relação a ação de enzimas lacrimais existentes no olho, onde em duas
amostras não houve crescimento microbiológico. Das bactérias isoladas, como nas
amostras de LC do olho direito após o uso, a maioria dos isolados pertence ao
Staphylococcus coagulase-negativo, perfazendo 37% do total de amostras. Em
seguida vem o Bacillus sp. com 27%. Em 18% das amostras houve crescimento de
Proteus sp. e em 9% Staphylococcus aureus e Citrobacter freundii (Gráfico 15).
49
Gráfico 15: Porcentagem de bactérias isoladas de amostras da LC do olho esquerdo após 4
a 6h de uso
As conjuntivites, ceratites e endoftalmites podem ameaçar a integridade do
olho e produzir significativa destruição tecidual. São problemas que necessitam de
diagnóstico e terapia apropriada e precoce para melhorar seu prognóstico,
principalmente no caso das ceratites e endoftalmites. Conhecimento do agente
causador, do processo e progressão da doença, bem como estabelecimento de
tratamento coerente e eficaz influenciam sobremaneira sua evolução e prognóstico
(UESUGUI et al, 2002).
A adaptação das LC é um processo contínuo e dinâmico, sujeito a
alteração, a qualquer momento, podendo tanto curar como provocar doenças. O
usuário pode estar bem com sua LC durante anos; contudo, a situação ocular pode
se modificar a qualquer momento porque o olho, a LC e possíveis fatores ambientais
estão constantemente interagindo.
A importância da manutenção das lentes de contato é fundamental para se
obter sucesso e manter a continuidade de seu uso, já que as complicações oculares
devido à falta de obediência dos usuários em relação à manutenção e ao período de
troca, em conjunto com a ausência de motivação estão entre as principais causas da
desistência do paciente (LIPENER; RAY, 2008).
50
Assim sendo, percebe-se a total relevância na preservação e manutenção das
LC e do seu local de armazenamento, pois várias bactérias potencialmente
patogênicas foram isolados destes locais. Mesmo não havendo de fato uma
contaminação citada pelos usuários das LC, a existência destes microrganismos
comprovam que o risco existe e medidas devem ser tomadas para que o mesmo
diminua.
Segundo Lui et al. (2009), o contato de microrganismos com a superfície
ocular, por meio da LC ou da solução contida no estojo contaminado, contribui para
o desenvolvimento de infecção. Assim, torna-se importante a higiene das mãos, o
uso adequado das soluções para desinfecção e manutenção das LC, a limpeza do
estojo de armazenamento para prevenir problemas futuros que poderão surgir com o
não cumprimento dessas medidas higiênicas.
51
6 CONCLUSÕES
A pesquisa envolvendo 12 acadêmicos do curso de Farmácia da
Unochapecó, usuários de LC, demonstrou que 67% eram do sexo feminino e 33%
do sexo masculino, com idades entre 18 e 35 anos.
No estudo 59% dos acadêmicos utilizam LC descartáveis, 33% LC de uso
prolongado e 8% LC ocasional, onde 83% são por motivos terapêuticos e 17% pela
estética proporcionada pela LC em comparação com os óculos. Em relação ao
tempo de uso 67% afirmaram em questionário usar diária ou ocasionalmente; 37%
utilizam por 16h; 25% por 15h e 12h e 13% por 6h consecutivas.
A solução multiuso mais utilizada pelos acadêmicos é Opti-free®, com 67%
das respostas, seguida pela solução Renu Plus® com 33% das respostas.
Das 84 amostras coletadas, 73 apresentaram crescimento em caldo BHI.
Destas, 19 apresentaram mais de uma bactéria na mesma amostra, demonstrando a
diversidade de microrganismos em contado íntimo com a córnea dos usuários de
LC.
Das amostras coletadas, 27% estavam contaminadas com S. aureus, 22%
com S. coagulase negativo, 19% com Bacillus sp., 12% com Proteus sp., 6% com
bacilo Gram negativo oxidase positivo e crescimento característico de fungos, 3%
com Pseudomonas sp. e E. coli e 2% com Citrobacter freundii.
Nas amostras coletadas da LC antes da utilização da mesma, houve uma
maior porcentagem de crescimento microbiano se comparado com a LC após 4h a
6h de uso, demonstrando que as propriedades enzimáticas do olho ajudam na
defesa do mesmo, funcionando como um anti-séptico contra possíveis patógenos
oculares.
Nos isolados do estojo de armazenamento externamente também houve
significativo crescimento microbiano, o que era esperado, uma vez que os estojos
ficam armazenados nos mais diversos locais, não merecendo o cuidado devido.
Uma vez que o estojo esta contaminado externamente, a probabilidade de
contaminar as LC é maior já que o usuário precisa abrir o estojo para colocação das
mesmas.
Nas amostras da parte interna do estojo de armazenamento houve
crescimento microbiano, o que não era esperado, uma vez que as soluções multiuso
utilizadas pelos usuários deveriam inibir o crescimento de microrganismos no local.
52
Conforme a pesquisa, os métodos de desinfecção dos estojos não está sendo
eficaz, pois 92% das amostras apresentaram crescimento microbiológico.
Encontrou-se várias bactérias contaminando as amostras, porém, salienta-se
a presença de Pseudomonas sp. nas amostras das LC e dos estojos de
armazenamento dos estudantes do curso de Farmácia da UNOCHAPECÓ, bactéria
frequentemente encontrada como causadora de úlcera bacteriana e ceratite
infecciosa e que possui alto poder patogênico.
Percebe-se também a inibição dos mesmos microrganismos nas LC após a
utilização das mesmas em comparação com as LC antes do uso, sendo
Pseudomonas sp, Escherichia coli e crescimento característico de fungos, fato que
salienta a importância das enzimas lacrimais na defesa do olho.
Portanto, o estudo em questão salienta a importância dos cuidados e da
manutenção adequadas pelos usuários de lentes de contato, bem como dos seus
estojos de armazenamento, uma vez que as lentes de contato estão em contato
íntimo com a córnea e podem transmitir bactérias patogênicas, causando uma
infinidade de infecções, inclusive úlcera de córnea a qual pode causar perda
significativa da visão.
53
7 REFERÊNCIAS
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TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 8 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
56
APÊNDICE
57
APÊNDICE I
58
APÊNDICE II
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Titulo do projeto: Isolamento de bactérias nas lentes de contato e seus estojos
de armazenamento de estudantes universitários de Chapecó – SC.
Pesquisador responsável: Maria Teresa Granella Lang.
Instituição a que pertence o pesquisador responsável: Universidade
Comunitária da Região de Chapecó – SC.
Telefones para contato: (49) 3621 2074 ou (49) 8405 0071.
Nome do voluntário:
Idade:
anos
Responsável legal:
O Sr. (a) está sendo convidado (a) a participar do projeto de pesquisa
“Isolamento de bactérias nas lentes de contato e seus estojos de armazenamento de
estudantes universitários de Chapecó – SC”, de responsabilidade do pesquisador
Maria Teresa Granella Lang.
A pesquisa tem o objetivo de isolar bactérias presente nas lentes de contato e
nos seus estojos de armazenamento e os procedimentos utilizados não atentam
contra a saúde do participante. As informações serão utilizadas para que possamos
compreender melhor a doença causada pelas bactérias presente em lentes de
contato e seus estojos de armazenamento.
A participação no projeto é voluntária. Os procedimentos não implicarão em
nenhum custo ao participante que terá acesso as informações mediante o contato
com o pesquisador responsável.
Os benefícios resultantes da participação no projeto serão relacionados à
avaliação completa da lente de contato e seu estojo de armazenamento.
A participação no projeto envolverá:
- Responder 17 questões sobre o uso das lentes;
- Permitir que seja coletado amostras das lentes de contato e de seus estojos
de armazenamento;
O nome do colaborador não será publicado juntamente com os dados obtidos
na pesquisa.
Eu,__________________________________, declaro ter sido informado e
concordo em participar, como voluntário, do projeto de pesquisa acima descrito.
Chapecó, ___de___________de 20__.
____________________________________________
Nome e assinatura do participante ou responsável legal
59
APÊNDICE III
Nome:________________________________________________
Idade: _______anos
Sexo: ____M
____F
Endereço:_____________________________________________________
_____________________________________________________________
Contato: Email:_________________________________________________
Telefone:____________________
Profissão: _____________________________________________________
Tipo de lente:____________________________________
A quanto tempo usa lente de contato: ____0 a 1 ano
____1 a 2 anos
____2 a 3 anos
____ mais de 3 anos
Tempo que possui a mesma lente: ____0 a 1 ano
____1 a 2 anos
____2 a 3 anos
____ mais de 3 anos
Tipo de uso: ____Ocasional
____Diário
____Prolongado
Se diário, qual o tempo (horas) aproximado de uso:____________________
Motivo do uso da lente de contato: ____Terapêutico ____Estético
A lente passa por revisão profissionais periódicas: ____Sim ____Não
Tipo de desinfetante e marca utilizada:_______________________________
Tipo de solução de manutenção e sua marca:__________________________
Cuidados ao manusear a lente:_____________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
Sintomas clínicos: ____Esporádicos ____Inexistentes ____Frequentes
Tratamentos oculares já realizados e medicamentos:
______________________________________________________________
60
ANEXO IV
Figura 1: Staphylococcus aureus
Figura 3: Bacillus sp.
Figura 5: Bacilo Gram negativo oxidase positivo
Figura 2: Staphylococcus coagulase negativo
Figura 4: Proteus sp.
Figura 6: Crescimento filamentoso
61
Figura 7: Pseudomonas sp.
Figura 9: Citrobacter freundii
Figura 8: Escherichia coli
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