I&D NO SECTOR EMPRESARIAL: RESULTADOS DO INQUÉRITO AO POTENCIAL CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO NACIONAL EMPRESAS AUMENTAM ACTIVIDADES DE I&D A Investigação e Desenvolvimento empresarial aumentou significativamente de 1995 para 1997. Esta conclusão do Inquérito ao Potencial Cientifico e Tecnológico Nacional (ver www.oct.mct.pt) é tanto mais relevante quanto significa uma inversão da tendência negativa que se vinha a verificar desde o início da década de 90. Cresceu a despesa com I & D medida a preços constantes, a uma taxa média anual superior a 12%, o que significa um reforço da investigação das empresas no conjunto de I & D nacional (que cresceu a uma taxa média de 9%) Gráfico 1 Evolução da Despesa em I&D Intramuros Executada pelo Sector Empresas entre 1988 e 1997 * ( Valor da despesa e Taxa Média de Crescimento Anual - t.m.c.a.) 1988-90 1990-92 1992-95 1995-97 25% 18 17 21,2% 20% 16 14 14 13 13 15% 12 10 12,7% 9 10% 8 T.m.c.a Despesa em I&D (milhões de contos de 1990) 20 5% 6 4 -0,4% 0% -0,7% 2 -5% 0 1988 1990 1992 Valores da despesa 1995 1997 t.m.c.a São boas notícias que não nos devem no entanto fazer esquecer a má situação de partida medível pela distância que nos separa da maioria dos países da UE, nomeadamente na despesa total em I&D em percentagem do PIB, que em Portugal atingiu, em 1997, o valor de 0,68% enquanto que o valor médio da UE é de 1,8%1 e na relativa fraca contribuição das empresas para a formação da despesa em I&D. De facto, é sempre referido como um dos principais constrangimentos ao desenvolvimento da Investigação e Desenvolvimento em Portugal a pequena participação das empresas. Enquanto que, na maioria dos países da UE, os grandes executores de I&D são as empresas, (O valor médio na UE para a percentagem da despesa total executada pelas empresa é de 62%, sendo na Espanha cerca de 49%) em Portugal elas só executam 21% da despesa O objectivo deste artigo é apresentar alguns dos dados provisórios do IPCTN que permitam contribuir para análise e interpretação da evolução a que se assistiu no sector empresas no período em causa. A variável utilizada é a despesa, deixando a análise dos recursos humanos para uma posterior publicação. O que significa este aumento da investigação empresarial? 1 Valores de 1996 Alargamento da base das empresas com actividades de I&D O número de empresas com actividades de I & D aumenta 68%, passando de 234 para 393. Este alargamento do universo das empresas com actividades de I & D é particularmente relevante porque é responsável pelo aumento da despesa em I & D das empresas, dado que as empresas que já tinham I & D em 1995 praticamente mantém a sua despesa a preços constantes. Quadro 1 NÚMERO E DESPESA DAS EMPRESAS COM ACTIVIDADES DE I&D EM 1995 OU/E EM 1997* Empresas e Actividades de I&D 1995 Com I&D Número de Empresas Total (milhões contos de 95) 1995 Não resposta 22 0,6 0,0 3% 0% Sem I&D 54 2,2 0,0 11% 0% 16,5 16,6 86% 68% 158 Com I&D 1995 1997 Distribuição da Despesa em I&D 1997 Com I&D Sem I&D Declarado 1997 Despesa Total em I&D 1995 1997 0 235 0,0 7,9 0% 32% 234 393 19,3 24,5 100% 100% *Valores Provisórios Para perceber melhor a estagnação da despesa das 158 empresas que executaram I&D em 95 e 97 e a que chamaremos “históricas”, é preciso atender à decomposição desta. Estas empresas investiram nas infra-estruturas de I&D - as despesas de capital, que representam cerca de 37% da despesa total, mais que duplicaram (t.m.c.a de 46%) tendo, em contra partida, diminuído bastante as despesas correntes (t.m.c.a de -12%), nomeadamente as de pessoal. A diminuição das despesas com pessoal deveu-se em grande parte a reestruturações de departamentos de I&D de algumas das principais empresas executoras, nalguns casos com redução do pessoal, noutros com integração de pessoal mais jovem e com menores salários. Das 54 empresas que em 1997 não declararam actividades de I & D é de referir que 3 delas (5,6%), pertencentes a grupos multinacionais, foram responsáveis por 60% da quebra da despesa ao terem cessado as suas actividades de I&D. Este abandono deveu-se a crises no sector ou a opções estratégicas das multinacionais. Como seria de esperar a despesa média por empresa é menor nas “novas” do que nas “históricas” o que resulta do facto de 60% das empresas serem por 32% da despesa. Mas este alargamento encerra um grande potencial de crescimento da I & D empresarial para o futuro. A especialização nos Sectores Tradicionais Limita o Crescimento da I & D Empresarial O crescimento da I & D empresarial verifica-se em todos os grandes sectores com duas excepções: a indústria Extractiva e a produção e distribuição de Electricidade, Gás e Água. Uma análise por grupos de sectores segundo o grau de intensidade tecnológica permitirá uma melhor compreensão do significado e alcance desta evolução. 2 Os sectores de actividade económica foram agrupados em 4 categorias de acordo com o grau de Intensidade Tecnológica1: Elevado que engloba Aeronaútica e Aeroespacial, Equipamento Informático e Maquinas de Escritório, Equipamento de Radio, TV e Comunicações e a Farmacêutica; Médio Alto - Instrumentação, Material de Transporte com excepção da Aeroespacial e Construção Naval, Maquinaria e Equipamento Eléctrico e não Eléctrico, Química com excepção da Farmacêutica; Médio-Baixo - Refinação de Petróleo; Fabricação de Artigos de Borracha e Plástico, Outros Produtos de Minerais não Metálicos; Ind. Metalúrgicas de Base e de Produtos Metálicos, Construção Naval e Outras indústrias Transformadoras; e Baixo - Papel, Impressão, Têxteis, Vestuário e Calçado, Alimentares, Bebidas e Tabaco e Madeira Cortiça e Mobiliário Não havendo uma classificação internacional para o grau de intensidade tecnológica para os serviços poderemos no entanto considerar os sectores das Telecomunicações, Actividades de Informática e Investigação e Desenvolvimento como Serviços de Elevada intensidade tecnológica. Gráfico 2 Despesa em I&D e Taxa Média de Crescimento Anual por Nível de Intensidade Tecnológica na Indústria Transformadora e Alguns Serviços 8,0 40% 7,5 35% 7,0 31% 30% 6,0 25% 5,0 20% 4,2 15% 4,0 3,0 T.m.c.a. Despesa (milhões de Contos) 6,4 10% 9% 5% 1,9 4% 2,0 0% 1,0 1,0 -5% -8% 0,0 Ind. - Elevado Serviços - Elevado Médio Alto Médio Baixo -8% -10% Baixo Nível de intensidade Tecnológica Despesa t.m.c.a Os resultados são bastante claros: a I & D empresarial cresceu nos sectores da indústria transformadora e nos serviços de grau de intensidade tecnológica Elevado e Médio Alto e desce nos outros sectores de intensidade tecnológica Baixa e Média Baixa. O baixo dinamismo em I & D dos sectores de baixa intensidade tecnológica não sendo surpreendente (se atendermos que também se verifica noutros países) não deixa de ser preocupante se considerarmos que é nestes sectores que ainda se concentra a maioria do tecido económico português. O elevado dinamismo dos sectores de maior intensidade tecnológica em particular as de média alta (com uma taxa de crescimento anual superior a 30%!) tem um significado particularmente importante para a modernização do conjunto da economia se atendermos a que nele se incluem alguns dos sectores com um papel mais relevante na difusão da tecnologia como as indústrias de bens de equipamentos. 1 Classificação da OCDE 1997 3 A Internacionalização da Inovação Tecnológica Além da intensificação da investigação empresarial, com o alargamento significativo das empresas que têm actividades de I&D, uma outra mudança parece estar em curso: a internacionalização das actividades de inovação tecnológica. De facto a análise das fontes para o financiamento da despesa evidencia que do conjunto dos sectores institucionais foram as empresas que mais se financiaram no estrangeiro, principalmente através do IV Programa Quadro. Por outro lado a consulta às bases de dados de projectos, permite concluir que cerca de 290 empresas portuguesas participaram em 470 projectos do IV Programa Quadro da UE. Por sua vez o programa Eureka já envolveu em projectos 129 empresas nacionais. Estes valores reforçam a ideia que nos últimos anos as empresas inovadoras se internacionalizaram na participação em projectos com outras instituições nacionais e estrangeiras, tendo em muitos casos reforçado a capacidade de execução de I&D intramuros ou os laços com outras instituições de I&D nacionais e estrangeiras, nomeadamente universidades, que contribuem para a criação de um clima favorável à inovação tecnológica. Conclusão Com a especialização da nossa economia, sem os grandes pilares de uma indústria de alta intensidade tecnológica – Aeroespacial, Defesa, etc., e não havendo em Portugal centros de investigação das grandes multinacionais - parece difícil atingirmos os valores da UE para a participação das empresas nas despesas de I&D. Isto só será possível se houver uma convergência da estrutura económica no sentido do reforço do peso de sectores mais tecnológico intensivos. Os resultados apresentados levam-nos, no entanto, a ter uma apreciação optimista. De facto o reforço de sectores de alta e média alta tecnologia nas empresas tradicionalmente executoras de I&D, o alargamento da base do sistema e a sua internacionalização favorecem o crescimento das actividades de I&D e de inovação tecnológica O alargamento da base do sistema parece ter sido potenciada pelo conjunto de progamas de investigação em consórcio, ou de investigação com o apoio de instituições de I&D, financiadas pelo Estado português ou pela UE o que sugere que os programas de incentivos à I&D empresarial estão a ter um papel significativo no desenvolvimento da I&D por parte das empresas. Mas o alcance destas medidas está seriamente limitado pela estrutura de especialização portuguesa. A fragilidade das actividades de I&D nas empresas portuguesas, nomeadamente nas “novas” empresas, faz pensar na necessidade de medidas que permitam um reforço da capacidade interna das empresas, nomeadamente com apoio à mobilidade de recursos humanos, para consolidar as actividades de I&D intramuros. 4