Educação escolar indígena
• O principal objetivo desta
apresentação é fazer uma reflexão
sobre a cultura indígena kaingang,
sobre as políticas educacionais
integracionistas e sobre a política
atual, que se fundamenta no
paradigma da interculturalidade e na
falta de respeito com a diferença.
Educação cultural indígena
• A chegada dos portugueses ao litoral brasileiro
ocorreu no início do século XVI. A educação
indígena, tal como vinha sendo praticada nas
aldeias, estava com seus dias contados. O
processo de aprendizagem desenvolvido pelas
diferentes etnias indígenas até então foi
desqualificado pelo colonizador, que ignorava
as concepções culturais pedagógicas desse
povo, não admitindo sequer a possibilidade dos
indígenas terem sido capazes de construir, ao
longo do tempo, um método e um discurso
sobre suas próprias práticas educativas.
Educação Tradicional
• Nessa sociedade, onde antes não havia escola onde não havia situações sociais exclusivamente
pedagógicas aos olhos do colonizador -, a
transmissão de saberes era feita no intercâmbio
cotidiano, através de contatos pessoais e diretos.
A aprendizagem se dava em todo o momento e
em qualquer lugar, na divisão do trabalho, ao
redor do fogo e na época da colheita. Não havia
um especialista. Era sempre possível aprender
algo em qualquer tipo de relação social, o que
fazia de qualquer indivíduo um agente da
educação social, mantendo vivo o princípio de
que todos educam a todos.
Educação tradicional sem
repressão
• No século XVI, o princípio pedagógico indígena
mais criticado foi aquele detectado por um
missionário jesuíta, quando registrou surpreso,
que “os índios amam seus filhos
extraordinariamente”, lamentando, porém, “que
nenhum gênero de castigo têm para os filhos.
Não há pai nem mãe que em toda vida castigue
nem toque em seu filho”. Esse tipo de relação,
nas quais as crianças são socializadas sem
repressão é observável até no século XXI, nas
aldeias indígenas.
Educação Ocidental
• Nos dias atuais, essa proposta dos índios contra
o castigo físico aplicado às crianças é vista com
simpatia e parece ser universalmente aceita por
todas as correntes de pensamento das tribos.
Acredita-se que está ali, incorporado na criança,
um ancestral seu, que não pode ser castigado
de maneira alguma. No entanto, a pedagogia
ocidental da época, acostumada com o uso de
palmatória e com outras formas de violência
física, considerou a ausência de castigo como
uma omissão, um atraso, um vício, porque não
corrigia o erro e, por isso, obstruía o processo
de aprendizagem.
Educação tradicional e liberdade
• Nenhuma criança tem tanta liberdade e
independência quanto as crianças indígenas.
Elas são respeitadas como adultas e amadas
como crianças. Seu nascimento é muito
festejado. Para os kaingang, elas são sagradas,
pois são a reencarnação de parentes mortos e,
por isso, não podem castigá-las.
• Podemos observar que a cultura kaingang
valoriza os aspectos interiores e espirituais, não
concordando com a ideologia do não indígena,
que, para a sua satisfação pessoal, é capaz de
prejudicar os próprios irmãos ou a si mesmo.
Escola para indígenas
• No século XVI, foram criadas as primeiras
escolas para índios, onde eles eram
doutrinados, catequizados e podiam
aprender ofícios úteis aos jesuítas, únicos
responsáveis pelo ensino escolar da
época. Somente alguns alunos eram
selecionados para a leitura e a escrita.
Nessa época, ainda era utilizada uma
língua indígena no ensino, ainda que
fosse um idioma geral, com base no
Tronco JÊ.
Educação escolar para desarticular
• A partir do século XVIII, a Língua Portuguesa tornouse obrigatória, como tentativa de desarticular a
identidade étnica dos povos indígenas do país.
Mesmo em meados do século XIX e XX, mantiveramse as propostas colonizadoras de homogeneizar os
grupos étnicos em uma cultura só, a cultura nacional.
A Lei de Diretrizes e Base de 1961 e sua reforma, em
1971, reforçam ainda mais a política de unificação ao
exigir que “os povos indígenas lessem e escrevessem
em idioma nacional antes mesmo que pudessem falar
ou compreender esta língua que é o português”.
A educação escolar ocidental
aculturadora
• A escola, assim como todas as outras formas de
instituição, sempre exerceu o papel de
“devoradora de identidade”. Massacra,
hegemoniza, impede qualquer manifestação
cultural e individualiza o homem, pois se
empenha em adaptá-lo ao que se considera
“normal”. Pode-se observar que a evolução da
instituição escolar, desde que se constituiu há
500 anos e como insiste em existir até hoje, dáse puramente no âmbito da forma, pois os
conteúdos e conceitos, quando não continuam
os mesmos, servem para as mesmas
finalidades.
Escola indígena como referência
• A escola para o povo Kaingang é considerada um
ponto de referência, onde as crianças indígenas têm
o primeiro contato com diversas culturas e até
mesmo com a sua língua escrita. Sabem que a
educação escolar, vinda do não indígena, é um
objeto aculturador. Mesmo assim, lutam para que
seja diferenciada e específica.
• Aprender e saber usar a Língua Portuguesa na
escola é um dos meios que a sociedade indígena
dispõe para interpretar, compreender e dominar os
códigos da sociedade culta, aqueles que orientam a
vida dos cidadãos no país e, sobretudo, aqueles que
dizem respeitar o direito dos Povos Indígenas
brasileiros.
Os benefícios da educação escolar
indígena
• A escola indígena existe para preservar os
costumes, a cultura e os hábitos da
comunidade. Nela, o professor ensina música,
dança, cantiga e a história ancestral do seu
povo. A escola incentiva o saber tradicional do
seu povo e, assim, este povo sempre será
aquele povo. Ela também ensina o
conhecimento do mundo do homem branco, a
língua portuguesa e a formalização de políticas
de sustentabilidade para a sociedade na qual
está inserida.
A escola indígena como lócus
• A escola indígena se apresenta como um lócus,
que nos instiga a uma observação dos
processos de ensino-aprendizagem e das
interações entre alunos, professores e
comunidade.
• Esses processos próprios demonstram práticas,
no qual a criança indígena, por meio de suas
relações com as outras, produz significados,
constituindo assim a construção da história do
indivíduo para a futura continuação da etnia.
Este modo de ser kaingang está no gene ou
genética.
O tornar aluno e ser índio
• Esta perspectiva do tornar-se aluno permite
considerar que os estudantes indígenas no
contexto escolar produzem significados sobre
esta condição e os conhecimentos lá
transmitidos.
• Os estudantes indígenas apresentados são
atores sociais ativos inseridos no seu
contexto sócio-histórico e, sobretudo,
produtores culturais, considerados intelectuais
de sua cultura.
A necessidade de manter a cultura
• É importante frisar que é necessário realizar
uma pesquisa etnográfica aprofundada sobre o
processo de revitalização cultural e o tornar-se
aluno ou tornar-se indígena do portão para fora
e do portão para dentro.
• Por que as escolas indígenas não conseguiram
sozinhas manter a cultura de uma etnia milenar,
mas se tivermos a comunidade indígena e a lei
inserida como prevê a LDB com certeza vamos
manter a cultura por mais séculos.
Perspectivas da educação escolar
indígena
• A escola indígena kaingang apresentada aqui
tem um lócus privilegiado, porque proporciona o
campo de investigação e a compreensão da
educação diferenciada, colocando assim o
aluno indígena numa perspectiva sobre os
processos educativos específico e tradicional.
• Esses processos pedagógicos próprios deverão
trazer futuras discussões sobre a formação de
professores.
• Na construção de materiais didáticos, este tema
deverá estar contido nos parâmetros
curriculares educacionais para as escolas de
ensino básico.
Como a lei define
• A Educação Escolar Indígena está garantido
nos artigos 78 e 79 do Ato das Disposições
Gerais e Transitórias da Constituição de 1988.
Explica-se o dever do Estado e como oferecer
uma educação escolar bilíngue e intercultural
que fortaleça as práticas socioculturais e a
língua materna de cada povo, que proporcione a
oportunidade de recuperar as memórias
históricas e reafirmar sua identidade cultural,
dando-lhes, também, o acesso aos
conhecimentos técnico-científicos da sociedade
nacional.
O ensino de hoje
• A educação alfabetizadora nas comunidades
indígenas é como alguém que compra um peixe
com espinhas. Escolhemos o que há de melhor
e tiramos as espinhas.
• Hoje, a maioria das crianças que vão para a
escola e que são alfabetizadas , são obrigadas
a engolir o peixe com espinha e tudo. É uma
formação que não atende à expectativa delas
como seres humanos e que violenta suas
memórias.
A pedagogia oral
• Na tradição kaingang, os meninos bebem o
conhecimento do seu povo nas práticas de
convivência, nos cantos, nas narrativas e até
mesmo na confecção do artesanato. Os cantos
narram a criação do mundo, sua fundação e
seus eventos, assim como as conquistas. É
dessa forma que a criança indígena que ali
cresce, aprendendo e ouvindo as narrativas
históricas dos seus ancestrais, se reafirma como
tal.
MENSAGEM DE SOBREVIVÊNCIA
CULTURAL ÉTNICA
Arrancaram minhas folhas.
Cortaram meus galhos.
Derrubaram meu tronco.
Incineraram tudo, mas esqueceram
de arrancar a minha RAÍZ, por isto estou
aqui.
ZAQUEU KAINGANG
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