3 Estrutura macromolecular de silicatos naturais e aluminossilicatos Este curso descreve os numerosos minerais naturais, e aponta as suas semelhanças com moléculas geopoliméricas (monômeros, dímeros, trímeros etc.) e macromoléculas (polímeros). Envolve: • Ortossilicatos, silicatos em formato de anel; • Polissilicatos lineares: piroxênio e anfibólio; • Lâminas de polissilicatos: caulinita, pirofilita, muscovita; • Estrutura de polissilicatos: quartzo, feldspatos, feldspatoides, zeólitas. Após a conclusão deste curso, você será capaz de explicar as propriedades dos minerais utilizados como matéria-prima na fabricação do geopolímero. http://www.geopolymer.com.br Estrutura macromolecular de silicatos naturais e aluminossilicatos Os primeiros membros da família dos silicatos são os oligossilicatos, mono, di, tri e hexa silicatos. Os elétrons necessários para formar o octeto do oxigênio são fornecidos pelo cátion metálico, como o Na ou H para formar a hidroxila OH. Só existe um representante do trissilicato que é a benitoite (Figura 3.4). Figura 3.4: Benitoite BaTiSi3O9. Figura 3.1 O monossilicato é representado aqui pelo mineral zircônio (ZrSiO4) (Figura 3.2). Podemos ver o cátion zircônio rodeado por monossilicatos isolados. E, se continuarmos com a policondensação da unidade Si-O (Figura 3.5), obtemos o tetrassilicato; embora esse tetrassilicato não exista na natureza. É encontrado somente em materiais sintéticos, tais como o tetrassiloxonato no silicato ou octametilciclotetrassiloxano e em silicones orgânicos. O mesmo acontece para o pentassilicato, que não existe como um mineral natural isolado, somente em materiais sintéticos como o pentassiloxonato no silicato e octametilciclopentassiloxano em silicones orgânicos. Figura 3.2: Zircônio ZrSiO4. Nós encontramos o dissilicato no mineral epídoto. Temos na Figura 3.3, o dissilicato rodeado por monossilicatos e hidratos de alumínio. Figura 3.3: Epídoto CaFeAl2O.OH(Si2O7)(SiO4) Figura 3.5 A situação é diferente para o hexassilicato, que é representado aqui pelo berilo. Na Figura 3.6, vemos um anel hexagonal formado por seis Si-O e rodeado por cátions de alumínio e berílio formando uma estrutura parecida com uma colmeia. O interessante desta estrutura é que os cátions estão do lado de fora do anel hexagonal, que é vazio por dentro. Os anéis hexagonais estão construindo tubos que podem conter água ou pequenos cátions como o sódio. http://www.geopolymer.com.br 36 Estrutura macromolecular de silicatos naturais e aluminossilicatos As cadeias lineares são compostas por unidades repetidas, como para o piroxênio (unidade dímera), para a wollastonita (unidade trímera) e na cadeia de tripla hélice do quartzo, a mesma unidade trímera que está formando a cadeia espiral (Figura 3.9). Figura 3.6: Berilo Be3Al2(Si6O18). O mineral cordierita (Figura 3.7) pertence também a este grupo de anel hexagonal. No mineral cordierita um átomo de Si é substituído por Al e também nesse caso os cátions estão fora da estrutura anelar. Figura 3.9: Três exemplos de cadeias lineares de polissilicato com representações tetraédricas e covalentes. Figura 3.7: Cordierita Al3(Mg,Fe+2)2[Si5AlO18]. Se continuarmos a polimerização do grupo Si-O, nós atingimos cadeias lineares, como a do piroxênio (Figura 3.8), que é formado por unidades Si2O6 combinadas com cátions de Mg, Fe e Ca. Esses cátions estão fora da cadeia linear. Duas cadeias podem policondensar para formar uma cadeia dupla ou laços, que é o caso do anfibólio, onde os cátions são magnésio, ferro e cálcio e estão fora da estrutura, formada por elementos hexagonais, parecida com a estrutura vazia do berilo (Figura 3.10). Figura 3.10: Cadeia dupla do anfibólio. Figura 3.8: Cadeia linear do piroxênio. http://www.geopolymer.com.br 37 Estrutura macromolecular de silicatos naturais e aluminossilicatos Diversas cadeias duplas ou laços podem condensar e formar uma estrutura laminar formada por elementos hexagonais, como a caulinita; cada silício sendo combinado com grupos laterais que são AlO-, AlOH, MgO- ou MgOH (Figura 3.11). impressão que seria muito fácil tirar essa camada de gibbsita, o que não é o caso. Se olharmos na Figura 3.13, a representação da ligação covalente da pirofilita, descobrimos que temos a ligação cruzada Si-O-Al-O-Si que chamamos na terminologia geopolimérica de ligação de sialato ou ponte de sialato, que é realmente muito resistente. Figura 3.13: Estrutura da pirofilita; à esquerda, conceito iônico atual; à direita, representação covalente geopolimérica. Figura 3.11: Caulinita Al2(OH)4[Si2O5]. Na configuração eletrônica tradicional da caulinita, a cadeia de polissiloxo é chamada de camada tetraédrica, os grupos de hidróxidos de alumínio são chamados de camada gibbsita ou camada octogonal e o alumínio possui número de coordenação 6. Esta representação dá a impressão de que é muito fácil extrair o hidróxido de alumínio, o que não é o caso, e isto é visto na representação da ligação covalente onde encontramos de fato a ligação Si-O-Al-OH (Figura 3.12). Figura 3.12: Estrutura da caulinita; à esquerda, conceito iônico atual; à direita, representação covalente geopolimérica. Duas destas estruturas da caulinita podem policondensar para formar uma camada dupla, que intercalada com o grupo de hidróxido de alumínio forma o mineral pirofilita, que na configuração iônica tem alumínio em coordenação 6. E, temos a Ao mesmo grupo de estrutura da pirofilita pertence a mica, assim como a muscovita (Figura 3.14). Figura 3.14 A diferença entre a muscovita e a pirofilita é que na cadeia de polissiloxo um Si é substituído por um cátion de alumínio acompanhado do potássio. Vemos também que no sistema de ligação covalente temos entre as duas camadas de polissiloxo uma ligação muito forte, uma ponte de sialato muito forte, que explica as excelentes propriedades do mineral mica em relação ao aquecimento. Sabemos que a caulinita desidroxila em temperatura mais baixa, entre 450-500°C, enquanto que a desidroxilação da mica precisa de uma temperatura mais elevada na faixa de 950-1000°C. http://www.geopolymer.com.br 38 Estrutura macromolecular de silicatos naturais e aluminossilicatos Um tipo diferente de camada mineral é a da akermanita (Figura 3.15), silicato de cálcio-magnésio, que é composto por elementos pentagonais com o cálcio entre cada camada. A estrutura tridimensional dos tectossilicatos Continuando a policondensação de unidades Si-O, nós obtemos o tectossilicato em estrutura tridimensional. O grupo feldspato é caracterizado por cadeias duplas em formato de virabrequim (Figura 3.18). Vemos quatro cadeias em formato de virabrequim formando a estrutura do feldspato. Figura 3.15: Akermanita Ca2[MgSi2O7]. Devemos encontrar estes minerais em importantes precursores geopoliméricos, principalmente na melilita (Figura 3.16). A melilita é uma solução sólida de duas moléculas, agelenita e a akermanita. Esta melilita é encontrada na escória de alto-forno. Figura 3.18: Cadeia dupla em forma de virabrequim na estrutura do feldspato. Como na anortita, que possui ligações Si-Al-Si-Al. A estrutura da anortita é formada por quatro cadeias em formato de virabrequim (Figura 3.19). Figura 3.16: Estrutura do grupo melilita. A última camada mineral é a apofilita (Figura 3.17), que é formada pela condensação de elementos tetragonais e octogonais. Figura 3.19: Polidissialato de cálcio Estrutura da anortita Ca-PS Figura 3.17: Apofilita KFCa4[Si8O20]8H2O. O mesmo para a sadinina (Figura 3.20), que é um aluminossilicato de potássio, com a relação Si:Al = 3, temos somente duas cadeias duplas em formato de virabrequim representadas, Al-Si-Si-Si. http://www.geopolymer.com.br 39 Estrutura macromolecular de silicatos naturais e aluminossilicatos E, finalizando com a estrutura da sodalita (Figura 3.23), que também é a união de unidades tetragonais e hexagonais, relação Si:Al = 1 e serve de base para várias zeólitas como a hidrossodalita, zeólita A e faujasita. Figura 3.20: Polidissiloxossialato de potássio. Estrutura da sanidina K-PSDS. Com a nefelina (Figura 3.21) temos outro tipo de estrutura que resulta da policondensação da unidade hexagonal, essa unidade hexagonal policondensa formando um tipo de estrutura da nefelina. Figura 3.23: Polissialato de sódio. Estrutura da sodalita Na-PS Figura 3.24: Cavidade sodalita (à direita) e estrutura da sodalita (à esquerda). Figura 3.25: a) Zeólita A (sintética); b) Faujasita (zeólita Y natural e sintética); c) Phillipsita (natural). Figura 3.21: Estrutura da nefelina. Na leucita (Figura 3.22), que é um aluminossilicato de potássio, a relação Si:Al = 2; é a união de unidades tetragonais e hexagonais que se policondensam para formar esse tipo de estrutura. Quartzo A estrutura dos minerais silicatados é diferente. O quartzo é formado por ligações cruzadas de cadeias lineares (Si-O-Si-O-Si-O-Si-O-Si-O-Si-O-... ). Figura 3.26: Quartzo SiO2. Figura 3.22: Estrutura da leucita. http://www.geopolymer.com.br 40 Estrutura macromolecular de silicatos naturais e aluminossilicatos De fato, o quartzo é composto por cadeias, abaixo está a tripla hélice formada pelo trímero Si-O-Si-O em formato espiral helicoidal, produzindo a cadeia de tripla hélice. Figura 3.29: Transição do quartzo => tridimita => cristobalita. A estrutura da tridimita não tem mais as cadeias espirais do quartzo. Figura 3.27: Tripla hélice. E assim, temos a ligação cruzada das triplas hélices formando a estrutura reticulada do quartzo (Figura 3.28). Figura 3.30: Estrutura da β-tridimita. E podemos ver que a cadeia de tripla hélice do quartzo é transformada em uma cadeia mais alongada do tipo da wollastonita, e uma estrutura mais aberta, tridimita. Figura 3.28: As triplas hélices constituindo a estrutura do quartzo. Quando o quartzo é aquecido a 867°C é transformado em tridimita e a tridimita é transformada em cristobalita, acima de 1470°C. E resfriando a cristobalita, ela transforma-se em tridimita e em seguida em quartzo (Figura 3.29). Esta é uma mudança reversível que não destrói a estrutura de cada elemento. http://www.geopolymer.com.br Figura 3.31 41