PAS PRIMEIRA ETAPA – OBRAS INDICADAS Professor Riva Série Sugar Kane (Crianças de açúcar), de Vik Muniz O fotógrafo e artista plástico Vik Muniz é um dos mais celebrados nomes brasileiros no circuito artístico mundial. Grande parte de seus trabalhos consistem em recriações de obras consagradas de importantes artistas do passado, releituras feitas a partir dos mais variados materiais, como café, chocolate, montes de lixo, diamantes. Sua projeção deu-se a partir da série “Crianças de Açúcar”, realizada na ilha de St. Kitts, no Caribe, quando fotografou sete crianças filhas de pais desgastados pelo árduo trabalho na colheita de cana-de-açúcar. Como acontece em outras criações, os materiais aplicados são os responsáveis pelo sentido metafórico das obras, e reforçam o conteúdo abordado pelas imagens. Em Crianças de Açúcar, o doce do produto contrasta com o amargo da exploração do trabalho infantil e suas consequências para aquelas pequenas vítimas da desigualdade e do descaso social. Seu mais aclamado trabalho foi desenvolvido entre 2007 e 2009, o documentário “Lixo Extraordinário”, realizado como catadores de um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro. Uma produção que revela o poder transformados da arte por um lado, e por outro a dignidade e o angústia daquelas personagens quando convidados a reimaginar suas vidas em um outro ambiente. Autorretratos de Frida Kahlo “Pinto a mim mesma porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”. Com essa frase a mexicana Frida Khalo resume bem o sentido e o porquê de seus vários autorretratos (cerca de 55). Em poucos momentos da história da arte vida e obra se confundem, se misturam de modo tão intenso. A vida de Frida foi marcada pelo sofrimento físico e emocional, resultados de tragédias e amores infrutíferos, sobretudo com seu companheiro na maior parte do tempo, o também pintor e renomado muralista Diego Rivera, por quem alimentou tórrida paixão e amargou muitas desilusões. Seu primeiro tormento veio com uma poliomielite quando criança que a deixou de cama por vários dias e lhe atrofiou com um dos pés. O pior acontecimento veio aos dezoito anos e mudou sua vida a partir de então, um grave acidente de ônibus causou-lhe várias fraturas, inclusive na coluna vertebral. Uma barra de trespassou seu abdômen, foram necessárias 35 cirurgias. As complicações, as dores e o sofrimento a acompanharam até seus últimos dias. Enquanto se recuperava, passava o tempo pintando a si mesma com o apoio de um cavalete adaptado e um espelho sobre a cama. Nessas pinturas, como em todo autorretrato, predomina a subjetividade e, em seu caso, uma carga simbólica marcante, carregada de memórias, sonhos, sofrimento, lembranças e homenagens ao seu país, sua cultura, sua história, o que pode ser verificado nas três imagens acima, nas quais se observa a referência à dor representada no corpo deitado em uma cama de hospital, no lamento, pelo fato de não mais poder ter filhos; pelos pregos no corpo sustentado pela coluna partida; na flora e na fauna do país no autorretrato com macaquinho. Suas obras oscilam entre o primitivismo e o naturalismo das formas. Embora nunca tenha se encaixado em nenhum movimento artístico específico, Frida despertou a atenção do grupo Surrealista, que via em seus trabalhos a pura manifestação do inconsciente, objeto de estudo dos artistas dessa corrente moderna. Dança dos Tairariu e Servo de D. Miguel de Castro com cesto decorado, de Albert Van Eckhout Em meados do século XVII, sob tutela de Maurício de Nassau, os holandeses Frans Post (1612 – 1680) e Albert Eckhout (1610 – 1666) vieram ao Brasil para registrar seus habitantes, a flora e a fauna locais. Os trabalhos desses dois artistas são registros visuais de valor inestimável para nossa história. As pinturas executadas por Eckhout, encomendas feitas para o europeu conhecer o novo mundo, mesclam realismo e idealização, isso decorrente do fato de não serem produzidas de maneira fotográfica, observando o modelo. Grande parte foi rascunhada aqui e concluída fora do país, praticamente todas executadas dentro dos ateliês. Outro fator a ser considerado era a formação clássica do artista que, por motivos estéticos, provocava alterações nas personagens. Ainda que possuam um caráter fantasioso na representação dos tipos étnicos, o fato é que as obras de Eckhout, assim como as de Frans Post, demonstram o interesse dos holandeses pelos nativos, a flora e a fauna brasileiras, interesse que sugere um caráter científico, uma vez que denuncia a realização de expedições para documentar as informações obtidas, algo que até então não havia sido providenciado pelos descobridores e colonizadores portugueses. A obra A Dança dos Tapuia destaca o registro da cena de um ato cerimonial, a dança de preparação para o confronto com o inimigo. Além dos oito guerreiros e das duas índias a observarem a ação, chama a atenção um pequeno animal, um tatu, para representar a fauna. A pintura possui dinamismo vibrante, gerado pelo ritmo obtido pela repetição dos corpos e objetos, e pela intensa movimentação presente nas formas diagonais das personagens e também das lanças. Já a pintura Servo com Caixa de Ouro, diferente das outras obras, não traz um cenário com a natureza como fundo, tampouco exemplo dos nativos, e sim um retrato de um servo do embaixador do Congo. Um africano suntuosamente vestido, um contraste com os escravos negros existentes no Brasil. Seu olhar demonstra submissão, obediência, ao destacar o objeto que segura na mão. Os guerreiros (ou Candangos) de Bruno Giorgi, Filho de imigrantes italianos, Bruno Giorgi se tornou um dos mais expressivos escultores brasileiros. Autor de diversas obras de caráter concreto abstrato, possui trabalhos públicos expostos à população em praças e ruas por várias cidades do país. A partir de 1950 suas criações passaram a valorizar o ritmo, o movimento, os vazios e a harmonizar linhas curvas e formas angulares. No fim dessa década, passou a usar o bronze, criando figuras delgadas, em que os vazios são parte integrante da escultura, predominando frequentemente sobre as massas. O monumento Os Guerreiros, também conhecido como Os Candangos, está localizada na Praça dos Três Poderes, em Brasília-DF. Concluída em 1959, resulta de uma homenagem aos operários que trabalharam na construção da cidade, principalmente a dois trabalhadores que morreram soterrados em meio às construções. Curiosidade: o termo candangos foi utilizado em alusão aos operários que migraram para o planalto central para atuar nas obras de Brasília, no entanto sua origem remete a África. Escravos assim chamavam os portugueses, a palavra original (kungundu) expressava algo ruim, digno de repulsa. pirâmides astecas Os Astecas foram um dos povos mais civilizados e poderosos da América pré-colombiana e seu conhecimento incorporou a arquitetura, o cálculo, a escrita, e a religião ao seu dia-a-dia. Esse povo formou-se a partir de heranças de civilizações preexistentes, absorvendo seus aspectos culturais incorporando-os à sua. O sítio arqueológico de Teotihuacan ou Teotihuacán, localizado a 40 km da Cidade do México, no México, declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1987, guarda o que foi a maior cidade conhecida da época Pré-Colombiana na América. Nela, as pirâmides espelham o desenvolvimento e a habilidade arquitetônica daquele povo, sobretudo nas fabulosas pirâmides que constituem os templos do sol e da lua. Sua estrutura tem base de adobe (mistura de barro e fibras vegetais ou esterco) com revestimento de estuque (gesso e cal) e pedra, adornado com relevos com motivos geométricos. O domínio de cálculos matemáticos precisos faz-se notar na harmonia das edificações, no calendário, na organização da cidade, seus canais e pátios. Capela Nossa Senhora do Rosário 1951 (Vence, França), decorada com desenhos e vitrais de Henri Matisse Em 1948, já idoso e adoentado, Henri Matisse, um dos mais importantes artistas de vanguarda e orientador do movimento denominado Fovismo (iniciado em 1904), aceitou o convite de uma freira encarregada de seus cuidados para criar os vitrais da pequena capela em Vence. O velho mestre não só aceitou o convite para a elaboração dos vitrais, como também criou os desenhos que ornamentam as paredes do templo. As grandes características das obras de Matisse foram a valorização do primitivismo e da pureza do instinto, do impulso criativo na arte, assim, suas produções eram marcadas por extrema simplicidade das formas associadas a cores vibrantes, puras e harmônicas. No interior do recinto predomina o branco das paredes e piso, as cores que preenchem o ambiente e dão vida aos desenhos são provenientes dos coloridos vitrais. As imagens desenhadas nos azulejos são marcadas pela sintetização, simplificação formal, típica da arte primitivista. Igreja Nossa Senhora de Fátima de Brasília, 1958, decorada com azulejos de Athos Bulcão Um paralelo possível e interessante pode ser tratado entre o modernismo de Matisse e a igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, projetada por Oscar Niemeyer a pedido de Dona Sarah Kubitscheck. Inspirado no formato de antigos chapéus usados pelas noviças nos conventos, a obra possui a geometrização típica da arquitetura moderna conjugada a linhas leves e dinâmicas. Na parte externa destacam-se os azulejos de Athos Bulcão, os quais trazem uma padronização figurativa contrária ao habitual trabalho geometrizado. Nesses azulejos, o ritmo é obtido exatamente por meio da repetição dos padrões visuais das formas e cores apresentadas. As curvas do desenho contrastam comas linhas dos rejuntes, o que gera um dinamismo visual fascinante. O interior da igrejinha apresenta um painel de autoria do artista plástico Galeno, cujas formas lembram muito aquelas feitas por Matisse para a capela de Vence, como igual beleza, leveza e harmonia. A conclusão da obra chegou a ser ameaçada por fiéis que não aceitaram as imagens criadas por Galeno, pois discordaram do modernismo da santa sem rosto desenhado e as pipas e carretéis em suas mãos e nas paredes. Foi necessária a intervenção do IPHAN para a consecução dos trabalhos. Na verdade, a obra de Galeno possui singular beleza. A falta de traços ou um rosto definido na imagem valoriza a subjetividade, respeita o individual e reforça também o apelo coletivo da religião, enquanto a graça das referências infantis reportam ao menino Jesus. Teatro Nacional, projeto de Oscar Niemeyer, fachada com cubos de Lucio Costa, interior com jardim de Burle Marx O Teatro Nacional Cláudio Santoro é uma importante obra que conjuga a arquitetura de Oscar Niemeyer, a fachada com cubos projetados por Lúcio Costa e Jardim interno planejado por Burle Marx. A construção possui característica sólida, rígida, decorrente do desenho racional, geométrico, em forma de trapézio, no entanto, os cubos da fachada geram graça e dinamismo à forma, efeito conseguido com a relação entre luz e sombra por que passam ao longo do dia. As sombras mudam de direção de acordo com a luz do sol causando uma verdadeira dança ritmada na obra. Em seu interior a imensa escada de concreto em forma sinuosa também é outro contraste com a rigidez do projeto, pois gera fluidez, movimento e ritmo, ou seja, dinamismo em oposição ao predomínio estático da estrutura. Estruturas Poliédricas de Mauritius Escher O holandês Escher é conhecido por suas espetaculares criações que conjugam princípios físicos e matemáticos na exploração do espaço, na construção de estruturas impossíveis e em narrativas visuais de metamorfoses, transformações de formas sólidas, racionais em orgânicas. Tempo, espaço, plano e profundidade, calma e atividade, repouso e movimento, ritmos intensos e contrastes, reflexos e espelhos de vários formatos constituem a base de seus trabalhos. As técnicas mais utilizadas por Escher foram a litografia (que consiste na reprodução de imagens a partir de uma matriz de pedra) e xilogravura (uso de uma matriz de madeira), o que aumenta ainda mais a complexidade de sua arte. 1 Mestre Didi.Sasará Ati Iko – Xaxará com Manto de Palha da Costa, 2003, técnica mista Estruturas Tridimensionais, do Mestre Didi Deoscóredes Maximiliano dos Santos, conhecido como "Mestre Didi" morreu aos 95 anos em Salvador – BA. O artista plástico e escritor baiano, representante da cultura afro, criou esculturas focadas na representação de deuses e orixás do Candomblé e, com sua obra sacra singular, ganhou expressão internacional. Ele é considerado um dos principais artistas brasileiros e se utilizava da estética e de elementos da cultura afro-brasileira. Ele é também um alapini, mais alto sacerdote do culto aos ancestrais. Sua trajetória e obra são consideradas recriações da herança africana no Brasil. As obras de Mestre Didi ocupam porção de destaque no cenário da arte popular brasileira, cuja rica variedade de manifestações abrange a música, a dança, o artesanato, a literatura, a pintura, a gravura, a escultura, e representam a enorme diversidade cultural do país. Assim como ele, outros nomes se fizeram notar por meio de seus trabalhos carregados de regionalismo, religiosidade e simbolismos, nomes como o de Mestre Vitalino que se notabilizou por suas figuras inspiradas nas crenças populares, no universo rural, no cotidiano, e no imaginário da população do sertão, ou ainda o português radicado em Goiânia – GO, mestre Antônio Poteiro e suas cerâmicas e pinturas que fundem elementos religiosos, políticos e regionais.