PATRICIA CRISTINE REBELO A EDUCAÇÃO BÁSICA NOS PAÍSES DO MERCOSUL NO SÉCULO XXI: UM ESTUDO COMPARATIVO. Artigo apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Geopolítica e Relações Internacionais, pela Universidade Tuiuti do Paraná – UTP, sob a orientação do Professor Uraci Bonfim. Curitiba 2012 A EDUCAÇÃO BÁSICA NOS PAÍSES DO MERCOSUL NO SÉCULO XXI: UM ESTUDO COMPARATIVO Patrícia Cristine Rebelo 1 RESUMO A educação básica em todos os países do mundo é ampla e complexa, pois nesta o docente, com suas posturas e práticas pedagógicas, além de passar o conhecimento, auxilia na formação do caráter dos futuros dirigentes da nação. Este estudo apresentará um comparativo da educação básica nos países membros do Sistema Educacional do MERCOSUL (SEM), abordando-se a criação do MERCOSUL no contexto da globalização e da redemocratização da América Latina bem como as tendências recentes no desenvolvimento dos sistemas educacionais do MERCOSUL. Espera-se com este estudo investigar a tendência política educacional do ensino básico dos países que compõem o MERCOSUL no século XXI, bem como as tendências recentes no desenvolvimento dos sistemas educacionais do bloco. PALAVRAS-CHAVE: Educação básica; MERCOSUL; Tendência polícia educacional. 1 REBELO, Patrícia Cristine. Acadêmica do Curso de Especialista em Geopolítica e Relações Internacionais. 1. Introdução A pesquisa apresentada cujo tema é a Educação Básica nos países membros do MERCOSUL: Um estudo comparativo foi elaborada a partir de estudos realizados sobre as diferentes estruturas educacionais dos países que constituem o bloco. Tal pesquisa tem por objetivo investigar a tendência política educacional do ensino básico dos países que compõem o MERCOSUL no século XXI a fim de verificar a demanda e a oferta de oportunidades educacionais, apontando alguns dos principais problemas nos diferentes países, bem como a influencia socioeconômica desses países sobre o desempenho dos indicadores educacionais. Também é objetivo dessa pesquisa, verificar se as políticas educacionais adotadas pelos países membros do bloco contemplam uma educação integrada. De acordo com o protocolo de intenções assinado pelos Ministros da Educação do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, no ano de 1991 “para fortalecer a ampliação das atuais dimensões de seus mercados nacionais, a livre circulação de bens, serviços e fatores de produção, é fundamental considerar a Educação como elemento dinamizador que permitirá acelerar os processos de desenvolvimento econômico com justiça social e consolidar o caminho da integração”. No mesmo protocolo declaram a “conveniência de fomentar os programas de formação e intercâmbio de docentes, especialistas e alunos com o objetivo de facilitar o conhecimento da realidade que caracteriza a região e promover um maior desenvolvimento humano, cultural, científico e tecnológico” e a “necessidade de garantir um nível adequado de escolarização, assegurando uma educação básica para todos, respeitadas as características culturais e linguísticas dos Estadosmembros”. Acredita-se que uma integração educacional contribuirá para que os países detenham o controle das informações e do conhecimento científico e assim fortaleça o desenvolvimento tecnológico através de uma maior qualificação profissional. Para a realização desse trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica e na internet sobre o tema supramencionado, com a finalidade de conhecer sobre a criação do MERCOSUL e as políticas educacionais dos Estados-membros. Será mostrado nesse trabalho, como se deu a criação do SEM – Sistema Educacional do MERCOSUL e apresentado como a educação básica está distribuída em cada um dos países-membros e a faixa etária de cada nível de ensino. 2. A EDUCAÇÃO BÁSICA E OS PAÍSES QUE COMPÕEM O MERCOSUL Os países que compõem bloco precisam se integrar econômica, política, social e culturalmente, onde, na medida em que a competição internacional ligada a novos arranjos na divisão internacional do trabalho, exige desses um planejamento de sua inserção no cenário internacional. Entre as tentativas de integração, destacam-se as de âmbito educacional. Miguel de Serna, cientista político uruguaio, define o papel da educação no processo de integração: “En primer término, se registran procesos de convergencia educativa en la implementación de mecanismos de acreditación de títulos universitarios para la adecuación a los requerimientos del proceso de integración económica y posibilitar la movilidad, fuerza de trabajo calificado y de personas. Una segunda temática ha sido el papel de la educación superior para el desarrollo y la integración regional. Los debates se han centrado en los desafíos para la expansión educativa y el desarrollo de saberes que puedan contribuir al progreso técnico y reducir las brechas y condiciones periféricas en un sistema económico basado en el conocimiento y control de la información. La tercera temática que se quiere destacar ha sido la incorporación en la agenda universitaria de iniciativas orientadas a realizar un aporte para la integración regional en el plano de la socialización de élites, la cooperación científica y la formación de espacios de identidad colectiva.” (SERNA, 2010, p. 20). A instituição escolar é concebida por Gramsci (1976), como um dos ambientes em que se realiza a luta pela hegemonia e pelo consenso e a batalha de ideias. Assim, a educação é compreendida como ponto estratégico de fundamental importância na formação do “novo homem” e na perspectiva da superação das relações em um sistema capitalista. Para a construção do socialismo, esse novo homem, deve ter a educação que o capacite a pensar, agir e sentir por intermédio de uma escolarização que o conduza “como pessoa capaz de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar quem dirige” (GRAMSCI, 2000, p. 49). O Mercado Comum do Sul – MERCOSUL - foi instituído em 26 de março de 1991, como zona de livre comércio acordada entre os quatro países – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – signatários do Tratado de Assunção. O objetivo principal dessa aliança comercial era a Redemocratização, Integração Regional e a Trajetória do Setor Educacional do MERCOSUL, dinamização da economia da região por meio de liberalização tarifária gradual, facilitando o trânsito de pessoas, mercadorias e capitais. Segundo Huntington (1991) a criação do MERCOSUL deu-se no contexto da chamada “terceira onda de democratização” que teve início no sul da Europa, nos anos 1970. Dentre as metas do MERCOSUL encontrava-se um reforma educacional na educação básica. A reunião dos ministros de educação do MERCOSUL (RME) realizada no ano de 2001, em Assunção no Paraguai, estabeleceu o plano estratégico para o avanço do desenvolvimento e integração dos sistemas educacionais dos países membros para o período 2001-05. No documento elaborado pela RME, afirma-se a importância da “educação como espaço cultural para o fortalecimento de uma consciência favorável à integração, que valorize a diversidade e reconheça a importância dos códigos culturais e linguísticos”. Já o Plano do Setor Educacional do MERCOSUL 2011-2015 se insere em um novo contexto internacional e regional. No âmbito internacional destacam-se as mudanças nas relações políticas, comerciais e financeiras ocorridas após a crise econômica de 2008, que teve seus efeitos mais impactantes nos países da América do Norte e Europa. São objetivos do Plano: “1. Contribuir para a integração regional acordando e executando políticas educacionais que promovam uma cidadania regional, uma cultura de paz e o respeito à democracia, aos direitos humanos e ao meio ambiente; 2. Promover a educação de qualidade para todos como fator de inclusão social, de desenvolvimento humano e produtivo; 3. Promover a cooperação solidária e o intercâmbio, para a melhoria dos sistemas educacionais; 4. Promover e fortalecer os programas de mobilidade de estudantes, estagiários, docentes, pesquisadores, gestores, diretores e profissionais; 5. Acordar políticas que articulem a educação como um processo de integração do MERCOSUL”. Segundo Raizer e Fachineto (2003) a RME possui ingerência direta sobre o Setor Educacional do MERCOSUL (SEM). O SEM é o órgão responsável pela definição das políticas a serem implementadas na área educacional para apoiar o processo de integração regional. Também com ingerência sobre o SEM, destaca-se o Comitê Coordenador Regional (CCR) como instância responsável por propor políticas de integração e cooperação no âmbito da educação e de assessorar a RME. O plano estratégico elaborado em 2001 estabeleceu a criação de três Comissões Regionais Coordenadoras de Área (CRC) por nível de ensino (Educação Básica, Educação Tecnológica e Educação Superior), que têm a seu cargo a incumbência de assessorar o CCR na definição das estratégias de ação do SEM e de propor mecanismos para a implementação dos objetivos e linhas de ação definidas no Plano de Ação do Setor. FIGURA I - Estrutura do Setor Educacional do Mercosul Fonte: MEC/ Mercosul Educacional. http://mercosul.mec.gov.br/ASP/Estru_Mercosul/organograma.asp. Acesso dezembro de 2011. A educação básica nos países do MERCOSUL inclui dois níveis, correspondentes ao primário e ao secundário baixo, que guardam correspondência com os identificados como Cine 1 e Cine 2 pelo Estudo Analítico Comparativo do Sistema Educacional do Mercosul (2001-2005) de acordo com a Classificação Internacional Normalizada de Educação. Existem, no entanto, algumas diferenças entre os países no período analisado, pois em alguns países existe uma restrição quanto à obrigatoriedade dos níveis incluídos na educação básica, enquanto que em outros ocorre o contrário. Conforme dados do site ”Mercosul Educacional” a Argentina e o Uruguai, por exemplo, consideram obrigatório o último ano da educação anterior ao ensino básico. Há diferenças entre os países no que se refere à idade de início do ensino básico: na Argentina e no Uruguai, 5 anos de idade; na Bolívia, no Chile e no Paraguai, 6 anos de idade; e, no Brasil, 6 anos de idade. Varia, também, a idade de conclusão do ensino básico: 13 anos de idade na Bolívia e no Chile e 14 nos demais países. Por consequência, a duração da educação básica varia entre os países. Na Bolívia, no Brasil e no Chile a duração é de 8 anos; 9 anos no Paraguai e 10 anos na Argentina e no Uruguai. A passagem entre os níveis componentes da educação básica (Cine 1 e Cine 2) ocorre, teoricamente, na idade compreendida entre os 11 e 12 anos em todos os países, à exceção do Brasil, onde ela ocorre entre os 10 e 11 anos.(INEP, 2009) À exceção do Uruguai, nos demais países da região verificou-se a descentralização da gestão responsabilizados e relação educativa, entre os com níveis variações de de governo. grau, Por atores meio da descentralização buscou-se ampliar a eficiência e melhorar a gestão educacional, dando autonomia às escolas no que se refere aos seus projetos pedagógicos e abrindo espaço para a participação das comunidades. É possível ainda analisar que há uma grande carência de pessoal técnico preparado, evidenciando a necessidade de o governo central prover capacitação de recursos humanos. (INEP, 2009) No Chile e no Brasil, o financiamento foi vinculado ao número de matrículas. Em geral, os governos centrais mantiveram algumas responsabilidades, tais como função suplementar, supervisão, desenho de programas e execução de programas nacionais compensatórios. (INEP, 2009) Quanto à reforma curricular esta se caracterizou pela criação de um currículo mais flexível – com uma parte comum e uma parte específica, definida segundo as particularidades locais – e visou atualizar conhecimentos; construir novas competências na era da informação, dos desenvolvimentos tecnológicos e da globalização (ênfase na informática); desenvolver os valores da tolerância, do respeito aos direitos humanos e da democracia (temas transversais). No Brasil, as reformas educacionais já implementadas ou em processo de implantação visam, do ponto de vista técnico, à formação de um homem empreendedor e, do ponto de vista ético-político, à formação de um homem colaborador, características essenciais do intelectual urbano na atualidade, nos marcos da hegemonia burguesa. Esse intelectual urbano de novo tipo a ser formado pelo sistema educacional sob a hegemonia burguesa na atualidade deverá apresentar uma capacitação técnica, que implique uma maior submissão da escola aos interesses e necessidades empresariais e uma nova capacidade dirigente, com vistas a “humanizar” as relações de exploração e de dominação vigentes. (NEVES, 2005, p.105) Tal reforma pautou-se pela crítica dos currículos anteriores (voltados prioritariamente para a transmissão de conteúdos); ênfase em áreas, competências e habilidades, ao invés de disciplinas; crítica das metodologias anteriores; orientação construtivista e valorização da identidade cultural, especialmente na Bolívia e no Paraguai, por meio da introdução da educação bilíngue. (INEP, 2009) Foram desenvolvidas, no período, várias experiências coerentes com os novos currículos e com a nova concepção educacional, visando impulsionar a autonomia da escola, a sua capacidade de gestão financeira e a democratização da gestão escolar. Contudo, a América Latina ainda investe menos por aluno do que os países desenvolvidos e emergentes, devido à escassez de recursos, que continua a condicionar fortemente as decisões no campo educacional. Quanto à docência, verificou-se a tentativa de melhorar as condições de trabalho, deterioradas durante os anos anteriores e de dignificar a profissão. Foram realizadas modificações nas carreiras docentes e nas normas regulatórias, visando o fortalecimento da formação (inicial e permanente) e o incremento salarial. Pode-se citar, a título de exemplos: o aumento da exigência para ingressar na carreira docente (provas, concursos, formação de nível superior); a regulamentação da carreira, com vista a dar maior estabilidade ao professor; os programas de capacitação, inclusive no exterior (Chile), com ênfase na educação bilíngue e por meio de parcerias com universidades (Bolívia); a introdução de incentivos salariais (Chile). Para que todas estas metas fossem atingidas criou-se o Setor Educacional do Mercosul (SEM) em 1991, logo após a assinatura do Tratado de Assunção. Com base nos princípios e objetivos desse Tratado, os ministros da Educação de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai submeteram ao Conselho do Mercado Comum um “Protocolo de Intenções” relativo às ações do bloco no setor educacional e propuseram a criação, no âmbito do MERCOSUL, de um subgrupo de trabalho no campo da educação. De acordo com dados INEP (2009) por meio da Resolução 07/91, o Conselho do Mercado Comum respaldou a iniciativa e instituiu a Reunião de Ministros de Educação dos Países Membros do MERCOSUL como órgão responsável pela coordenação das políticas educacionais da região. A criação do SEM teve como ponto de partida o reconhecimento, pelos ministros de Educação dos Estados membros do bloco, “do papel estratégico desempenhado pela Educação no processo de integração, para atingir o desenvolvimento econômico, social, científicotecnológico e cultural, da região” (III RME). A melhoria dos níveis de escolaridade e a expansão do atendimento, sem descuidar da qualidade do ensino, são algumas das principais motivações das reformas educacionais na região. A busca por maior eficiência, eficácia e efetividade, visando à elevação da capacidade instalada, de pessoal e recursos, e a participação da comunidade no processo de mudança, constituem diretrizes apontadas pelo SEM para a elaboração das reformas educacionais no MERCOSUL. (INEP, 2009) 2.1 REFORMA EDUCACIONAL E TENDÊNCIA DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS Na Argentina a estrutura educacional é composta por quatro níveis: inicial (dos 3 aos 5 anos de idade), educação geral básica (dos 6 aos 14 anos), educação polimodal (dos 15 aos 17 anos) e educação superior. Desde a aprovação da Lei Federal da Educação, de 1993, a educação básica tem duração de 10 anos, dos 5 aos 14 anos de idade, incluindo, assim, o último ano do nível inicial e os nove anos da educação básica. É posterior às reformas a definição da faixa etária de 15 a 17 anos como adequada para os estudos do nível secundário não obrigatório, que possui estrutura polimodal incluindo uma etapa de formação básica e geral seguida da formação por áreas. (SITE: MERCOSUL EDUCACIONAL) O sistema educativo da Bolívia, definido a partir da Reforma Educativa de 1994, está organizado em quatro níveis: a educação inicial (de 0 aos 5 anos de idade), a educação primária (dos 6 aos 13 anos de idade), a educação secundária (a partir dos 14 anos) e superior, sendo os três últimos destacados nesse estudo. (SITE: MERCOSUL EDUCACIONAL) Conforme a Constituição Federal de 1988, com a Emenda Constitucional n.º14, de 1996 e a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, instituída pela lei nº 9394, de 1996, a estrutura educacional do Brasil inclui a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio (para egressos do nível anterior). Até o ano de 2008, a educação infantil compreendia a idade entre 4 e 6 anos e o ensino fundamental fase I a partir dos 7 anos. A etapa do ensino fundamental, gratuita e obrigatória, tinha a duração de oito anos. A partir de então, houve uma reformulação na estrutura educacional brasileira. Através da Lei nº 11.274 ficou estabelecido que a idade mínima para ingresso no ensino fundamental fase I seria de 6 anos. Dessa forma o ensino fundamental passou a ter 9 anos e o término da educação infantil passou de 6 para 5 anos de idade. O ensino médio tem a duração mínima de 3 anos, podendo incluir programas de preparação geral ou para o trabalho. No Chile, a estrutura do sistema educativo consiste em quatro níveis de ensino, que são a educação pré-escolar (até os 5 anos de idade); a educação básica (dos 6 aos 13 anos); a educação média (dos 14 aos 17 anos); e a educação superior. O nível da educação geral básica tem oito anos e a educação média tem mais quatro anos, sendo que os dois primeiros anos têm um currículo geral e os dois últimos, um currículo diferenciado. Esses dois níveis (básico e médio) constituem a educação obrigatória. (INEP, 2009) O Chile é o país com melhor situação na região: apresenta indicadores destacados quanto ao rendimento de seus estudantes na educação básica e bons resultados também no secundário. As taxas de repetência são as menores da região, assim como as de abandono em ambos os níveis. O sistema educativo do Paraguai, vigente a partir da Reforma Educativa de 1994, estabelece modalidades diferentes de ensino (geral, especial, e outras). A educação formal se estrutura em três níveis. O primeiro compreende a educação inicial (até os 5 anos de idade) e a educação escolar básica (dos 6 aos 14 anos); o segundo nível, a educação média (para egressos da escola primária); e o terceiro nível corresponde à educação superior. A educação escolar básica, gratuita e obrigatória, tem nove anos de duração, divididos em três ciclos. O sistema de ensino do Uruguai está organizado em quatro níveis, sendo o primeiro correspondente a educação pré-escolar (dos 3 aos 5 anos); educação primária (dos 6 aos 14 anos); educação média (ciclo básico e bacharelado – para egressos da educação primária); e educação terciária ou superior, respectivamente. O ensino é gratuito e obrigatório do último ano da educação pré-escolar (5 anos de idade) até o ciclo básico da educação média. A gratuidade se estende ao nível terciário com a Universidad de la República.(INEP, 2009) Observa-se um aumento significativo de recursos econômicos para a educação em todos os países ao longo do período. Este aumento mostra a importância atribuída à educação pelos governos do bloco e que não deve ser esquecido este aumento da despesa pública de ensino ocorreu em contextos caracterizados por graves restrições fiscais impostas em grande parte pelo paradigma neoliberal política e ideológica dominante durante 1990. Obviamente, os governos responderam à demanda social para mais educação por parte dos recursos produtivos necessários humanos qualificados proporcionar-lhes maior competitividade internacional e também parte da sociedade civil para quem a educação continua a ser um recurso valioso para mobilidade social ascendente. Segundo Courard (2003) com a restauração da educação para a democracia em alguns países como o Paraguai, o sistema de educação foi o fator central para a transmissão e ensino dos valores democráticos após 30 anos de ditadura. A educação na Bolívia, não só respondeu à demanda dos povos indígenas, através da implementação da educação bilíngue e intercultural, como também abriu as instâncias de participação popular como o Conselho de Aldeia da Educação Originalmente (Cintura) tem desempenhado um papel central na promoção dos conselhos escolares. (COURARD, 2003) Apesar do predomínio das políticas neoliberais durante o período em análise, a descentralização da gestão escolar vivenciada por todos os países não resultou na privatização da educação básica, com exceção do Chile. Em outros países a descentralização da região significou a transferência de responsabilidades serviços administrativos e de gestão para órgãos públicos e do governo regional e local. (INEP, 2009) No Chile, o processo de privatização baseou-se na transferência de responsabilidades de gestão para instituições de ensino e menor grau, de financiamento. Como já foi referido, a grande maioria das aulas particulares de educação básica é para as instituições privadas subsídios estatais. Segundo o estudo comparativo de análise do Sistema Educativo do MERCOSUL (2001-2005) em todos os países da região o progresso regular na educação básica aumentou, assim como o declínio não revela taxa de falha, mas só a taxa de abandono. Estes resultados sobre a melhoria do desempenho dos alunos mostram que políticas implementadas pelos países do MERCOSUL têm sido relativamente bem sucedida. O mérito especial deve ser atribuído às políticas chamadas compensatórias para promover o acesso e a níveis de retenção nos dois componentes do ensino básico (primário e secundário). Conforme o INEP (2003) as políticas educacionais dos países do MERCOSUL foram destinados à camada mais baixa sociedade e como tal, foram concebidos e implementados com o objetivo de melhoria na equidade de acesso e participação no sistema formal de educação básica em nossos países. No entanto, vários estudos nacionais (como os de Cox para o Chile e Contreras e Talavera Simoni para a Bolívia) mostram que a aprendizagem não melhorou significativamente. Apesar dos progressos realizados no período, um número considerável de jovens não completa nove anos de educação básica, obrigatória na maioria dos países. A melhoria da qualidade da educação transmitida no ensino básico universal são objetivos da reforma educativa, mas ainda está longe de alcançar. (KENT, 1996) Embora reconhecendo que o sucesso ou o fracasso da educação é o produto de um conjunto de fatores, incluindo nível socioeconômico dos alunos, ela ainda desempenha um papel fundamental. Assim é necessário refletir sobre o impacto das políticas educacionais implementadas, como a necessidade de aprofundar políticas para apoiar os professores no exercício de sua profissão. Para Mello e Rego a preparação e desempenho dos professores estão ligados a dois fatores fundamentais: "o novo perfil que a escola e os professores devem assumir para entender as demandas do mundo contemporâneo" e "os avanços, no sentido de universalizar o acesso ao ensino obrigatório, que transformam significativamente as expectativas educacionais". (2002, p. 4) Contudo, para Souza (1995) a intensificação e a extensão da cooperação na educação básica dos países que compõem o MERCOSUL surgem como fundamentais para o sucesso de um processo de integração que leve à formação não só de uma nova entidade econômica, mas também de uma nova entidade cultural, dotada de visão regional, que concilie as diferenças e que estimule as concordâncias. O quarto plano do SEM 2006-2010 apresenta um tom marcado pelo realismo da situação precária da educação nos países do MERCOSUL. De acordo com o plano, o maior desafio de nossas nações não está dirigido a só incorporar mais crianças, adolescente e jovens ao sistema educativo, e sim dar-lhes uma educação de qualidade dentro da realidade em que vivem”.(PLANO ESTRATÉGICO DO SETOR EDUCATIVO DO MERCOSUL, 2006-2010, p. 6) Este plano estabelece metas, ações, prazos, e resultados esperados em cada nível de ensino, dentro das linhas estratégicas adotadas. O SEM expressa sua preocupação com o ensino que contemple uma formação cidadã favorável aos ideais de integração. Neste plano ainda, foram propostas medidas práticas e acompanhadas as implementações das políticas educativas entre países membros do Mercosul, visando prioritariamente "a formação da consciência cidadã favorável à integração; a capacitação de recursos humanos para contribuir para o desenvolvimento da economia, e a harmonização dos sistemas educativos dos países Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai" (MOROSINI, 1994, p. 28). Dessa forma é possível dizer que as iniciativas adotadas no campo educacional revestem-se de acentuada fragilidade, pois priorizam aspectos formais, dispensando pouca ou nenhuma atenção ao próprio conteúdo de educação. Em face das limitações da perspectiva que condiciona a legitimidade social dos sistemas educacionais à sua rentabilidade econômica para os grupos empresariais, bem como da fragilidade das primeiras iniciativas empreendidas, entende-se ser necessário que novas alternativas passem a hegemonizar o debate e as práticas educacionais no âmbito do processo de integração entre os países do MERCOSUL. 3. Considerações Finais A educação é vista por muitos estudiosos como um passaporte para o desenvolvimento dos países, pois adota um papel de fundamental importância na geração e transformação de conhecimentos científicos e tecnológicos. Pensando nisso, o Brasil, o Paraguai, o Uruguai e a Argentina, países membros do MERCOSUL, estabeleceram além de uma integração econômica, política e social, também uma integração educacional para que possam ter condições de competir no cenário internacional. Uma das metas do bloco foi a de promover uma reforma na educação básica de modo que os países desenvolvessem programas que facilitassem a integração educacional dos membros. Para mediar esse processo de integração educacional foi criado o SEM – Sistema Educacional do MERCOSUL. Para melhorar a qualidade do ensino, o SEM estabeleceu algumas reformas no que diz respeito à própria formação docente. Entre as reformas estabelecidas pelo SEM estão: uma maior exigência para ingresso na carreira do magistério, melhoria do plano de carreira docente e capacitação profissional. Embora cada país possua uma estrutura educacional própria, as políticas educacionais são pensadas de forma a promover a integração dos países e de melhorar a qualidade do ensino. No que diz respeito aos níveis obrigatórios é consenso que os alunos frequentem obrigatoriamente a escola entre os 5 e14 anos de idade, de acordo com cada país. O tempo de duração da educação obrigatória varia entre 8 e 10 anos. Os países com maior tempo de permanência na escola são a Argentina e o Uruguai com 10 anos, seguido do Paraguai com 9 anos. Nos demais países o tempo de permanência é de 8 anos. Uma das politicas educacionais adotadas como forma de garantir que a população concluísse a educação básica obrigatória foram as políticas compensatórias. Essas politicas foram destinadas às camadas mais baixas da população e foram responsáveis pelo aumento do progresso dos alunos de um nível para o outro. No entanto, esse aumento nas promoções não garantiu aos alunos uma boa aprendizagem. O que se pode observar é que houve uma diminuição nas taxas de reprovação, porém não houve diminuição nos índices de abandono escolar. No Brasil e no Chile, os financiamentos na educação estão condicionados ao número de alunos matriculados. Existe um grande esforço por parte do governo de manter os alunos na escola. No Brasil, por exemplo, foram criados programas sociais destinados exclusivamente para a população de baixa renda, no qual a família recebe auxílio financeiro do Governo Federal se o jovem estiver frequentando regularmente a escola. Em síntese, as políticas educacionais adotadas pelos países do MERCOSUL não foram suficientes para garantir a melhoria na qualidade de ensino, tampouco uma integração educacional da educação básica. O nível socioeconômico é um dos fatores de insucesso e abandono escolar, mas também é necessário analisar a precariedade e a fragilidade da educação nos países do MERCOSUL. 4. Referencias Bibliográficas BANCO MUNDIAL. 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