UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS CAMPUS DE BOTUCATU PRODUTIVIDADE E ESTIMATIVA DE ACÚMULO DA BIOMASSA EM SOQUEIRA DE CANA-DE-AÇÚCAR IRRIGADA POR GOTEJAMENTO SUBSUPERFICIAL COM DIFERENTES DOSES DE N-FERTILIZANTE RAÚL ANDRES MARTINEZ URIBE Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP - Campus de Botucatu, para obtenção do título de Doutor em Agronomia (Irrigação e Drenagem). BOTUCATU-SP Janeiro – 2010 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS CAMPUS DE BOTUCATU PRODUTIVIDADE E ESTIMATIVA DE ACÚMULO DA BIOMASSA EM SOQUEIRA DE CANA-DE-AÇÚCAR IRRIGADA POR GOTEJAMENTO SUBSUPERFICIAL COM DIFERENTES DOSES DE N-FERTILIZANTE RAÚL ANDRES MARTINEZ URIBE Engenheiro Agrônomo Orientador: Prof. Dr. João Carlos Cury Saad Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP - Campus de Botucatu, para obtenção do título de Doutor em Agronomia (Irrigação e Drenagem). BOTUCATU-SP Janeiro – 2010 III IV III DEDICATORIA A Deus, por ser a razão da minha vida e me levar sempre de mão dada. Ao meu pai (in memoriam), por me ensinar empiricamente a praticidade, o método científico e o desejo de investigar. À minha mãe, por ser minha amiga e me amar incondicionalmente. À minha esposa Adriane, por ser a prova mais verdadeira de que o amor existe, e de que juntos sempre podemos atingir mais. “Você é uma num milhão”. Com você aprendi a sonhar com uma família. Esta meta não teria sentido sem você e sem os filhos que virão. IV Agradecimento especial ao Dr. Glauber Gava, por ser exemplo de verdadeiro pesquisador, e por compartilhar conhecimentos, metas e amizade. V AGRADECIMENTOS Agradeço a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. Ao Prof. João Carlos Cury Saad, por me acolher desde os primeiros dias no Brasil. Ao CNPq, pela concessão do auxílio. Ao departamento de Engenharia Rural, pela ajuda e incentivo, ao longo de meu doutorado. Em especial aos professores: Antônio de Pádua Sousa, Antonio Evaldo Klar, Raimundo Leite Cruz e João Domingos Rodrigues “Mingo”, por contribuir com minha formação. À professora Dalva Martinelli Cury Lunardi, por ser sempre amiga e motivadora nesta carreira de pesquisa. À Seção de Pós-Graduação, pela atenção prestada. Ao colega Rodrigo Coqui da Silva, pela participação ativa na montagem do campo experimental de irrigação. Aos pesquisadores, funcionários e colegas da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios Apta-Jaú: Elisângela, Samira, Juliana, Marcelo, Ezequiel, Silmara, Geraldo (Xerife), Valdir, João, Antonio Carlos, “Nico”, “Zelão”, Brás, Edilso, Júlio (in memoriam), Jonny, Andressa, Renata, Wiliam, Marcel e especialmente ao amigo Oriel, pela ajuda e pelos momentos compartilhados. À empresa Netafim do Brasil, pelo sistema de irrigação, na pessoa de Daniel Pedroso. Ao Dean Holzworth, membro do CSIRO, pela ajuda na execução da simulação. À Associcana pelas análises tecnológicas. À Msc. Maria Lúcia Pallamin (Malu) pela correção das versões em inglês. VI Aos meus irmãos: Javier, por me mostrar a importância da vida simples; Julio, por ser exemplo de batalhador e a Carmen, por sempre estar de bem com a vida. A minha família Martinez Uribe, que desde muito longe souberam me mostrar o caminho da perseverança; especialmente à minha avó Sacramento, pelas orações. Aos meus amigos da Venezuela, pelas inúmeras demonstrações de carinho e apoio, especialmente a Marielbys, Alfonso, Marian, Mery. Aos meus sogros, Iveti e Sergio, por serem meus pais e amigos, e por me dar sua filha de presente. A minhas cunhadas, Cristiane e Giselle; aos meus concunhados Salgado e Rodrigo, e especialmente aos meus sobrinhos Mariana, Murilo e Olívia por todos os momentos de alegria. Aos meus tios Tony (in memoriam) e Regina, João e Ana, Elcio e Leninha, e Consolata, pelos momentos de ânimo, carinho e compreensão, por me estimularem e por sempre ter um sorriso disponível. Aos meus primos Silvio, Andréia, Alexandre, Andressa, Gustavo, Elaine, Rodrigo, Raquel e Graziela pelo apoio e amizade incondicional. Aos colegas e professores do curso de Gastronomia, especialmente ao Paulo, Marcelo, Jocimar, Vera, Julio, Ana Paula, Irmã Ana Cristina e Kassio, por me apoiar e me compreender. Aos colegas das escolas de espanhol, especialmente a Adriana, Luiz e Gis pela compreensão. Por ultimo, continuo agradecendo ao Brasil, por me receber e me fazer sentir parte desta terra, a tal ponto de nunca mais querer sair! Obrigado! VII SUMÁRIO Página RESUMO .................................................................................................................. 1 SUMMARY .............................................................................................................. 3 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 5 1.1 Revisão bibliográfica ...................................................................................... 7 1.1.1 Cana-de-açúcar....................................................................................... 7 1.1.2 Importância da disponibilidade hídrica e do N-fertilizante para produtividade da cana-de-açúcar ................................................................................ 8 1.1.3 A simulação............................................................................................ 9 1.1.4 Irrigação por gotejamento subsuperficial ................................................ 11 2. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 13 2.1 Dados preliminares ......................................................................................... 13 2.2 Montagem do sistema de irrigação .................................................................. 14 2.3 Descrição do “Software” APSIM® ................................................................ 19 3. PRODUTIVIDADE E ATRIBUTOS TECNOLÓGICOS EM SOQUEIRA DE CANA-DE-AÇÚCAR COM DIFERENTES DOSES DE N-FERTILIZANTE, IRRIGADA POR GOTEJAMENTO SUBSUPERFICIAL E DE SEQUEIRO .... 20 4. ESTIMATIVA DO ACÚMULO DE FITOMASSA DA SOQUEIRA DE CANA UTILIZANDO MODELO DE SIMULAÇÃO NOS MANEJOS: IRRIGADO E DE SEQUEIRO COM DIFERENTES DOSES DE NFERTILIZANTE ..................................................................................................... 45 5. CONCLUSÕES..................................................................................................... 64 6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 65 1 1. RESUMO A indústria canavieira exerce papel fundamental no âmbito nacional, sendo de vital importância saber como a quantidade e a qualidade de matéria prima produzida é afetada pelo clima, pelos tratos culturais e pela região. Dentre os tratos culturais mais importantes e mais discutidos está a adubação nitrogenada. Entretanto nem sempre é possível obter dados reais, por várias razões, tempo, custo, dificuldade de acesso, entre outros. Neste contexto, surgem os modelos de simulação. Assim, este trabalho teve como objetivos comparar a utilização de água e de N-Fertilizante em soqueira de cana de açúcar nos manejos irrigados e de sequeiro, verificar o potencial de produção da soqueira de cana-de-açúcar com diferentes doses de N-fertilizante no manejo irrigado por gotejamento subsuperficial, utilizar e validar um modelo de simulação de crescimento de cana-de-açúcar e realizar estimativas (simulações) de acúmulo da biomassa e produtividade em soqueira de cana, nos manejos irrigados e de sequeiro com diferentes doses de N-fertilizante. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições para cada experimento, sendo os tratamentos: T1 (irrigado sem dose de nitrogênio (N)), T2 (irrigado com dose de 70 kg ha-1 de N), T3 (irrigado com dose de 140 kg ha-1 de N), T4 (irrigado com dose de 210 kg ha-1 de N), T5 (não irrigado sem dose de N) e T6 (não irrigado com dose de 140 kg ha-1 de N); todas as doses de N foram aplicadas na forma de Uréia. Para avaliar a produtividade da cultura realizou-se análise de variáveis biométricas, tecnológicas, biomassa seca e produtividade. Foram realizadas comparações de produtividade da cultura, toneladas de cana por hectare 2 (TCH), toneladas de açúcar por hectare (TPH), peso da matéria seca da parte aérea (PA) e do colmo (C) por hectare. Para fazer as simulações foi utilizado o Programa APSIM® (Sistema simulador de produção agrícola). Os resultados evidenciaram que o sistema de irrigação em conjunto com a aplicação de N-fertilizante (140 kg ha-1), apresentou diferenças significativas para acúmulo de matéria seca de colmos e de parte aérea, para produtividade de colmos por hectare (TCH) e produtividade de açúcar por hectare (TPH), sendo 126, 94, 105 e 106% maior, quando comparadas com a testemunha (sem N-fertilizante e sem irrigação). Adicionalmente obtiveram-se efeitos quadráticos significativos das doses de N com relação à fitomassa do colmo e da parte aérea, à TCH, TPH e ao índice Spad (conteúdo de clorofila). Houve efeito positivo sinérgico da fertirrigação na produtividade e nos atributos. A soqueira de cana respondeu melhor à dose de 140 kg ha-1 de N-fertilizante. O modelo APSIM pode predizer através de modelagem a produtividade da cana-de-açúcar, tendo como base de dados um registro confiável e duradouro de elementos climáticos, biométricos e de manejo. As curvas de acúmulo de biomassa seguiram a tendência sigmoidal característica e evidenciaram o efeito positivo da irrigação e da adubação nitrogenada. Palavras-Chave: fertirrigação, nitrogênio, Sacharum spp, APSIM, modelagem. 3 PRODUCTIVITY AND ACCUMULATION ESTIMATION OF SUGARCANE RATOON PHYTOMASS WITH DIFFERENT DOSES OF N-FERTILIZER, UNDER SUBSURFACE DRIP-IRRIGATION. Botucatu, 2010. 67p.Tese (Doutorado em Agronomia/Irrigação e Drenagem) Faculdade de CiênciasAgronômicas, Universidade Estadual Paulista. Author: RAÚL ANDRES MARTINEZ URIBE Adviser: JOÃO CARLOS CURY SAAD SUMMARY Due to sugarcane industry has been playing a crucial role in national ambit it is vital to understand how the quantity and quality of raw material produced is affected by climate, crop handling and region. Among the crops handling, nitrogen is the most important and most discussed. However it is not always possible to obtain real data for several reasons: time, cost, difficulty of access, and others. Simulation models are used to respond to these variables. Therefore this study aimed to: compare the use of water and N-fertilizer in sugarcane ratoon in irrigated and rainfed conditions, verify the production potential of sugarcane ratoon with different doses of N-fertilizer in subsurface drip-irrigation management, use and validate a simulation model of sugarcane growth and make estimations (simulations) of biomass accumulation and sugarcane ratoon productivity in irrigated and rainfed conditions with different doses of N-fertilizer. The experimental design was a randomized block with four replications for each experiment, and the treatments: T1 (Irrigated without nitrogen dose (N)), T2 (irrigated with a dose of 70 kg ha-1 N) T3 (irrigated with a dose of 140 kg ha-1 N), T4 4 (irrigated with a dose of 210 kg ha-1 N), T5 (non-irrigated without N) and T6 (non-irrigated with a dose of 140 kg ha-1 N), all doses of N from urea. To evaluate the sugarcane productivity, the biometrical and technological variable were analysed, and also the dry biomass and the yield were accomplished. Comparisons were made with crop productivity, tons of cane per hectare (TCH), tons of sugar per hectare (TPH), and dry weight of shoot (PA) and stem (C). The program APSIM® (System simulator agricultural production) was applied to perform the simulations. The results showed that the irrigation system in combination with the N-fertilizer (140 kg ha-1) application had significant differences in dry matter accumulation in stems and shoots, for stems yield per hectare (TCH) and for sugar yield per hectare (TPH), being for T1, T2, T3 and T4, respectively, 126, 94, 105 and 106% higher than the control (without N-fertilizer and no irrigation). Additionally we obtained significant quadratic effects of N doses related to the stem and shoot phytomass, TCH, TPH and Spad index. There was a positive synergistic fertigation effect on yield and attributes. The sugarcane ratoon got better performance with the dose of 140 kg ha-1 N-fertilizer. The model APSIM® can predict the sugarcane productivity using a model based on a reliable and lasting database with records of climatic, biometric and handling elements. The biomass accumulation curves trends to the sigmoid characteristic, and showed the positive effect of irrigation and nitrogen fertilization. Keywords: fertigation, nitrogen, Sacharum spp., APSIM®, modeling. 5 INTRODUÇÃO Com a iminência da mudança climática mundial, muitos dos conceitos das cadeias produtivas, têm sido revistos; um deles é a fonte energética utilizada para as diversas atividades do homem. Os derivados de hidrocarbonetos têm sido utilizados como fonte principal de energia, mas a cada dia que passa, percebe-se uma queda nas suas reservas, sem contar com os grandes problemas ambientais produzidos pela queima incompleta dos mesmos. Desenvolver fontes renováveis, não é mais um sonho ecológico e sim uma necessidade real, não só do ponto de vista energético, mas numa variada gama de produtos que continuam ligados a fontes fósseis. É por isso que a cana-de-açúcar ou atualmente melhor definida como cana bioenergética, aparece como caminho na busca da sustentabilidade na produção direta de energia, por meio do álcool anidro para mistura com gasolina e álcool hidratado para uso direto nos motores de combustão interna; na produção de plásticos derivados do álcool, o etanol é utilizado para a obtenção de eteno que é usado na fabricação de polietileno, na produção de plásticos biodegradáveis através de bioprocessos e na produção do velho conhecido, açúcar. O anterior só é possível mantendo o fornecimento de matéria prima (cana-de-açúcar) em níveis e principalmente em frequências ideais. A quantidade de cana-deaçúcar produzida, a extensão de terra plantada, o valor dessa produção e, por conseguinte a participação no produto interno bruto (PIB) nacional vem aumentando vertiginosamente a cada nova safra. 6 Em 2007, o Brasil ampliou sua produção de cana-de-açúcar em 15,1%, em relação ao ano anterior, alcançando 549 milhões de toneladas. Além do incremento da produção, a crescente demanda por álcool no mercado interno e externo influenciou no preço do produto, levando a um crescimento de R$ 3,8 bilhões (29%) no valor da produção, que atingiu quase R$ 19 bilhões em 2007. A área também vem crescendo nos últimos anos, ultrapassando os 7 milhões de hectares em 2007. O estado de São Paulo (58,8% da safra nacional) teve um crescimento de 5,6% na produção, principalmente pela incorporação de mais 200.000 ha ao processo produtivo, o que corresponde a um crescimento de 6,5% em relação a 2005. Além disso, o estado possui a maior produtividade média (82 Mg ha-1), acima da média nacional, que foi de 74,4 Mg ha-1. A área colhida representa 12,79% do total nacional e o valor da produção 20,82%. Alguns municípios utilizam quase a totalidade da extensão agrícola com a cultura da cana-de-açúcar, no município de Jaú – SP 98,15% da área agrícola é plantada com cana-de-açúcar. Dos vinte maiores municípios produtores dezesseis estão no estado de São Paulo (IBGE, 2009). No entanto é de vital importância estudar como a quantidade e a qualidade da cana-de-açúcar produzida é afetada pelo clima, pelo solo, pelo genótipo e pelos tratos culturais. Um dos fatores mais importantes e mais discutidos é a adubação nitrogenada, principalmente ao ser aplicada à poáceas das quais se espera resposta pronunciada na produção de fitomassa com o aumento do teor de nitrogênio na planta (BOLTON & BROWN, 1980). Além desta característica, a cana-de-açúcar apresenta ciclo fotossintético C4 que em comparação ao ciclo C3, produz duas vezes mais material seco por unidade de nitrogênio presente na folha (BLACK et al., 1978). Contudo, a elucidação dos mecanismos fisiológicos envolvidos com a utilização do N pela cana-de-açúcar não estão totalmente esclarecidos (SILVEIRA & CROCOMO, 1990). Para as soqueiras de cana-de-açúcar são mais freqüentes as respostas à adubação nitrogenada em termos de produção de fitomassa (ORLANDO FILHO & ZAMBELLO JÚNIOR, 1979; CHUÍ & SAMUELS, 1981; SOBRAL & LIRA, 1984); entretanto, existem resultados de ausência de resposta à adubação nitrogenada (BRINHOLI et al., 1980; SAMPAIO et al., 1984; ORLANDO FILHO et al., 1994). Assim, os objetivos deste trabalho foram: comparar a utilização de água e de N-Fertilizante em soqueira de cana-de-açúcar nos manejos irrigados e de sequeiro; 7 verificar o potencial de produção da soqueira cana-de-açúcar com diferentes doses de Nfertilizante no manejo irrigado por gotejamento subsuperficial, utilizar e validar um modelo de simulação de crescimento de cana-de-açúcar e realizar estimativas (simulações) de acúmulo da biomassa e produtividade em soqueira de cana, nos manejos irrigados e de sequeiro com diferentes doses de N-fertilizante. Para atingir estes objetivos a tese foi dividida em dois (2) capítulos, sendo o primeiro capitulo intitulado “Produtividade e atributos tecnológicos em soqueira de cana-de-açúcar com diferentes doses de N-fertilizante, irrigada por gotejamento subsuperficial e de sequeiro.” e o segundo “Estimativa do acúmulo de fitomassa da soqueira de cana-deaçúcar utilizando modelo de simulação nos manejos: irrigado e de sequeiro com diferentes doses de N-fertilizante”, redigidos conforme as normas da Revista Irriga. 1.1 Revisão Bibliográfica 1.1.1 Cana-de-açúcar A cana-de-açúcar é originaria de Nova Guiné, foi levada pelos turcos à Ilha da Madeira e às Ilhas Canárias e trazida para América pelos espanhóis e portugueses. Com a instauração dos engenhos chega ao auge, em 1615 atingiu o planalto paulista e em 1650 o Brasil foi considerado o maior produtor mundial. Em 1970 com a crise do petróleo se torna intensa a utilização como combustível do álcool, alavancando definitivamente seu crescimento (MOZAMBANI et al., 2006). Pertence à ordem Graminales, família Poaceae, gênero Saccharum e comercialmente se utilizam híbridos deste gênero. Morfologicamente, se desenvolve em forma de touceira, a parte aérea é formada por colmos, folhas, inflorescências, frutos e a parte subterrânea formada por raízes e rizomas. As raízes são fasciculadas (cabeleira) contendo 85% do sistema radicular nos primeiros 50 cm. Os rizomas são constituídos por nódios, internódios e gemas e o colmo é caracterizado por nós e entrenós bem marcados. Fisiologicamente é uma planta C4, apresentando alta taxa de fotossíntese, maior eficiência na utilização e resgate do CO2, elevada adaptação às condições de altas temperaturas, luminosidade e relativa escassez 8 de água, possui alta capacidade de absorver água pelas folhas, mas a principal via é pelo sistema radicular, por meio dos pelos absorventes, só 30% do peso é matéria seca sendo 70% água. A produção de cana-de-açúcar tem como objetivo: produtividade que é fitomassa m-2 de colmos industrializáveis; qualidade que se refere à riqueza de sacarose nos colmos e longevidade do canavial, aumentar o número de cortes econômicos. Fenológicamente a cana-de-açúcar se divide em cana planta que é aquela que será plantada pela primeira vez e cana soca proveniente do corte de uma cana planta. De acordo com época de plantio a cana pode ser dividida tradicionalmente em: cana de ano que tem como ciclo 12 meses sendo normalmente plantada na primavera (setembro - outubro) e cana de ano-e-meio com 14-21 meses de ciclo sendo normalmente plantada no verão (janeiro - abril). Nos últimos anos tem-se verificado períodos de plantio cada vez mais longos e safras atingindo até oito meses contínuos (SEGATO et al., 2006) O estado de São Paulo responde por mais de 50% da produção nacional, atingindo uma produtividade média de 82 Mg ha-1; mesmo este valor sendo superior à média nacional de 74,4 Mg ha-1, ainda continua longe do potencial genético estimado em 345,6 Mg ha-1 (LANDELL, 2001). 1.1.2 Importância da disponibilidade hídrica e do N-fertilizante para produtividade da cana-de-açúcar A importância da aplicação de N-fertilizante em conjunto com a irrigação foi estudada por Ng Kee Kwong et al. (1999) concluindo que com uso da fertirrigação é possível reduzir em até 30% os valores da adubação nitrogenada sem queda significativa da produtividade da cana-de-açúcar, como conseqüência da melhor distribuição do fertilizante ao longo do ciclo da cultura. A produtividade de colmos e de açúcar responde à adubação nitrogenada via fertirrigação (THORBURN et al., 2003), principalmente em soqueiras, e as maiores respostas estão relacionadas com maiores níveis de irrigação (WIEDENFELD, 1995). Faroni (2008) em manejo de sequeiro chegou à conclusão de que há efeito significativo das doses de N aplicadas no ciclo da cana-soca quando comparadas com a produção de fitomassa seca da parte aérea e, por conseguinte na produtividade de colmos e de açúcar. Entretanto Suguitane (2006) não constatou grandes aumentos na produtividade com as 9 cultivares R570, RB72454, NCo376 e SP83-2847 utilizando irrigação por aspersão quando comparada com a testemunha não irrigada, usando apenas uma dose de N-fertilizante. 1.1.3 A simulação Entre as muitas mudanças que ocorrem na pesquisa agrícola, e nas instituições de desenvolvimento, há um reconhecimento crescente de que uma abordagem de sistemas é necessária para enfrentar os desafios apresentados pelas complexidades, incertezas e conflitos em sistemas modernos de produção agrícola. Estes fizeram com que novos ramos fossem incluídos na busca de soluções eficazes, dentro destas a pesquisa operacional é uma excelente ferramenta, que complementa a abordagem experimental. Desde o surgimento dos primeiros computadores, o homem vem desenvolvendo técnicas para levar para dentro dos computadores o que encontra no mundo real. Na agricultura, como em outros modelos dinâmicos, o sistema pode ser analisado em termos de variáveis (DE WIT, 1982). Essas variáveis, em geral, acabam fazendo parte de um conjunto de equações diferenciais que devem ser integradas numericamente, dada a complexidade do sistema. Esta estrutura comumente usada permite que seja possível desenhar e codificar um modelo com finalidades de entradas e saídas arranjadas com ferramentas de “software” (PAVAN, 2009). Modelos podem ser definidos como uma representação simplificada, por necessidade, do que se percebe ser realidade, podendo ser um objeto, uma ideia ou um sistema (SHANNON, 1975); ou ainda como uma descrição matemática das diversas causas e efeitos envolvidos num sistema real (KEEN e SPAIN,1992). Os modelos fornecem para os pesquisadores ferramentas valiosas, que ajudam na tomada de decisões sem a necessidade de implementar a cultura e esperar pelo seu ciclo. Além disso, propiciam a possibilidade de prever situações futuras, gerando decisões que podem resultar em menores custos e maiores produtividades (HAMID e ABDULLAH, 2008). Existem diversos modelos para simulação de produção de cana-deaçúcar, mas segundo Godoy (2007), o APSIM (“Agricultural Production System sIMulator”)“sugarcane” (MCCOWN et al., 1996) é um dos mais usados no mundo, este modelo foi desenvolvido pela unidade de pesquisa de sistemas de produção agrícola CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation) (O’LEARY et al., 1999). 10 O APSIM é um programa que contem modelos de produção de algumas culturas e pastagens, decomposição de resíduos, fluxo de água no solo e de nutrientes e erosão que podem ser facilmente re-configurados para simular vários sistemas de produção. Também contem manejos de solo e de culturas que podem ser simulados dinamicamente usando algumas diretrizes. O ponto principal do programa é mudar o conceito de que a cultura responde aos insumos para o conceito de que o solo responde à cultura, ao clima e ao manejo (MCCOWN et al., 1996). Embora se obtenha uma estrutura lógica sólida para melhores simulações do manejo do solo e alterações em longo prazo do recurso solo, isto é feito sem perda de sensibilidade em simular o rendimento das culturas. Este conceito é implementado usando uma estrutura de programa em que todos os módulos (por exemplo, o crescimento de determinadas culturas, a água do solo, N do solo, erosão, dentre outros) se comunicam uns com os outros por mensagens transmitidas apenas através de um mecanismo central “motor de decisão”'. Utilizando um design de interface padrão, este projeto permite a fácil remoção, substituição ou troca de módulos sem interromper o funcionamento do sistema. A simulação de seqüências de culturas e culturas múltiplas é alcançada através da gestão de módulos de conexão de crescimento da cultura para o “motor de decisão” (MCCOWN et al., 1996). Um conjunto de ferramentas de “software” foi desenvolvido dentro de um ambiente Windows®, que inclui editor instalado pelo usuário, compilador, gráficos, banco de dados e software de controle de versão. Enquanto o motor e os módulos são codificados em FORTRAN, o conjunto de ferramentas é em C++. O produto resultante tem as funções codificadas numa linguagem mais familiar para os pesquisadores, mas fornece muitas das mais recentes características da programação. O conjunto de ferramentas é escrito para ser compatível com sistemas operacionais UNIX e ser capaz de usar o processador em estações de trabalho UNIX. O APSIM representa um grande investimento na melhoria da modelagem preditiva de sistemas de pesquisa agrícola que combina metodologia de pesquisa de sistemas de produção agrícola e pesquisa operacional (MCCOWN et al., 1996). Este modelo está integrado a um sistema de suporte à tomada de decisão, o qual tem como objetivo fornecer orientações no manejo de culturas, utilizando dados climatológicos observados e de previsão sazonal (COX, 2006). 11 As investigações sobre sistemas de produção de cana-de-açúcar mais produtivos e sustentáveis seriam ajudadas por um simulador abrangente da cultura que aborde mais amplamente o sistema de manejo cultura-solo. O módulo da cultura de cana-de-açúcar no APSIM surge como alternativa. O modelo funciona em um período de tempo diário, simulando o crescimento das folhas que utilizam a radiação para produzir assimilados e partes destes assimilados em colmos e, por conseguinte em açúcar. O processo fisiológico representado no modelo responde à radiação e à temperatura ambiente e é sensível ao fornecimento de água e nitrogênio. O modelo simula o crescimento, o uso da água, acúmulo de N, peso seco de açúcar e peso fresco de colmos para cana planta e soca, em resposta ao clima, solo, manejo e fatores genotípicos. Foi desenvolvido em 35 conjuntos de dados provenientes da Austrália, Havaí, África do Sul e Suazilândia, cobrindo uma ampla gama de classes de culturas, latitudes, regimes de água e condições de fornecimento de nitrogênio. Os coeficientes de determinação (R2) das previsões do modelo quando comparados com dados observados resultaram em 0,79; 0,93; 0,83 e 0,86 para índice de área foliar (IAF), biomassa da cultura, sacarose do colmo e N acumulado na parte aérea da planta, respectivamente, demonstrando assim a contundência do modelo e sua capacidade de simular com alto grau de correlação as condições reais (KEATING et al., 1998). 1.1.4 Irrigação por gotejamento subsuperficial A irrigação localizada é a aplicação oportuna e uniforme de água em um volume de solo, utilizando um sistema de tubulação que apresenta emissores. Estes fornecem uma vazão fixa e predeterminada de água. A característica principal é o umedecimento de uma parte restrita do perfil do solo, possui alta freqüência e trabalha com baixa pressão. Dentre os sistemas de irrigação localizada está a irrigação por gotejamento (ROMAN, 2002). Segundo Dasberg & Or (1999) a irrigação por gotejamento compreende a aplicação de pequenas quantidades de água diretamente na zona radicular das plantas, através de fonte pontual ou linha de gotejadores sobre ou abaixo do solo, com pressões de operação variando entre 20-200 kPa e baixa vazão (1-30 L h-1). Esta aplicação 12 resulta em um volume de solo molhado, conhecido como bulbo molhado (SOUZA & MATSURA, 2004). Comparado com outros métodos de irrigação (SHRIVASTAVA et al., 1994), o gotejamento possui algumas vantagens, destacando-se o aumento da produtividade e a conservação da água. Somado a isso, os sistemas de gotejamento subsuperficial proporcionam uma redução da perda de água por evaporação direta do solo, maior disponibilidade de nutrientes, quando utilizado como fertirrigação, devido à proximidade do ponto de emissão de água do sistema radicular e menor germinação de ervas daninhas, como conseqüência do baixo teor de água da superfície do solo (ORON et al., 1991). 13 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Dados preliminares O experimento foi conduzido na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento (UPD) de Jaú/SP, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) Pólo Centro-Oeste, localizada na latitude de 22º17’ S (-22,283), e longitude 48º 34’ W(-48,567) e altitude média de 580m. O solo da área é Argissolo eutrófico. Antes da instalação do experimento foram realizadas amostragens do solo na área experimental ao acaso nas camadas de 0-20, 20-40, e 40-80 cm, cujos resultados são apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3. Tabela 1. Características químicas do solo da área experimental, amostragem em setembro 2006 Camadas pH M. O. P S-SO4 cm CaCl2 g dm-3 0-20 5,2 19,0 19,0 3,0 0,9 27,0 14,0 0 22,0 66 20-40 5,3 14,0 11,0 2,0 0,4 21,0 12,0 0 20,0 64 40-80 5,5 7,0 3,0 6,0 0,2 21,0 7,0 0 16,0 66 -----mg dm-3----- K Ca Mg Al H+Al V --------------------mmolc dm-3--------------------- % Tabela 2. Resultado da análise de micronutrientes do solo da área experimental. 14 Camadas pH M.O. ---------g dm-3-------- cm B Cu Fe Mn Zn -------------------------------mmolc dm-3-------------------------------- 0-20 5,2 19,0 0,4 4,0 11,0 61,8 1,2 20-40 5,3 14,5 0,4 4,0 10,0 41,9 0,7 40-80 5,3 7,0 0,5 2,9 6,0 13,3 0,3 Tabela 3. Caracterização física do solo da área experimental. Camadas Cm Areia Silte Argila --------------------------------g kg-1------------------------------- 0-20 660 70 270 20-40 600 60 340 40-80 530 70 400 Análise granulométrica – método do densímetro (BOUYOUCOS, 1927) Nos meses de maio a setembro de 2006 foi realizada a instalação da bomba de água junto ao manancial (lago) (Figura 1), a construção do abrigo para a bomba ao lado da área experimental e a instalação da linha principal levando água do manancial até a área a ser irrigada. 2.2 Montagem do sistema de irrigação Os trabalhos tiveram início no mês de maio de 2006, com a montagem do dispositivo de sucção da bomba que permitia a passagem da água quando a bomba era ligada, por meio de um sistema de vácuo. Esta bomba estava localizada no manancial da UPD Jau (Figura 1). Imediatamente após o desligamento da mesma, o mesmo sistema obstruía a passagem de água, impedindo assim que a água contida na tubulação retornasse ao leito do lago, o que causaria a entrada de ar no sistema. A água era succionada pela bomba principal, através de uma mangueira de 10 cm de diâmetro e de 50 m de comprimento. Posteriormente realizou-se a montagem da bomba de pressurização e do cavalete que controla o sistema de 15 fertirrigação, que consta no experimento de oito tratamentos (sendo utilizados neste trabalho somente quatro), instalando-se posteriormente oito saídas e registros. Figura 1. Vista aérea do manancial da UPD de Jaú. Realizou-se, portanto, a divisão da linha principal em oito tubulações com registros individuais automatizados, os controles de abertura e fechamento de cada linha foram programados previamente pelo sistema. Cada linha possuía um hidrômetro próprio onde era possível acompanhar a vazão, um filtro de discos, um tanque de 200 L no qual eram colocadas as soluções de fertilizantes, sendo estes ligados às linhas por microtúbulos venturi. O sistema de injeção de fertilizante era acionado automaticamente e levava em consideração a vazão da água (Figura 2 ). 16 Figura 2. Vista das linhas dos tratamentos e do cavalete montado. Simultaneamente à montagem do cavalete ocorreu o preparo da área, que foi realizado com três operações: uma subsolagem, uma gradagem pesada e uma gradagem leve (niveladora); deixando a gleba preparada para a abertura dos sulcos de plantio e instalação enterrada das mangueiras de gotejo. Para esta última atividade foi utilizado um sulcador duplo, que simultaneamente realiza a abertura de duas linhas de plantio com sulcos duplos, a colocação da mangueira (Figura 3) e a adubação de base. O espaçamento utilizado foi de 0,40 m entre sulcos e 1,80 m entre linhas gotejadoras. Figura 3. Vista do sulcador e operação de abertura dos sulcos, instalação das mangueiras e adubação de plantio. A adubação de plantio foi realizada, aplicando-se 180 kg ha-1 de P na forma de superfosfato simples no sulco de plantio (Figura 3). Com o implemento devidamente regulado iniciaram-se os trabalhos de abertura dos sulcos. Junto à abertura dos sulcos foram colocados rolos de 700 m da mangueira gotejadora autocompensada DRIPNET PC 22135 FL 17 vazão de 1,0 L h-1, à profundidade de 25 cm. Utilizou-se um controlador NMC-64 para o manejo de fertirrigação. Após a abertura dos sulcos, foram feitas valas com um metro de profundidade entre as parcelas experimentais para a passagem das tubulações da linha principal e das linhas secundárias. A operação foi realizada com uma máquina escavadeira. Com as valas abertas, os canos com 32 mm de diâmetro das linhas principais foram colados até chegarem as suas respectivas divisões com as linhas secundárias de 25 mm de diâmetro (Figura 4). Com as linhas secundárias já devidamente posicionadas foram feitas as perfurações nas mesmas com a finalidade de conectá-las às respectivas mangueiras gotejadoras. Imediatamente após este procedimento, a região entorno às perfurações foi lixada para retirada de algumas imperfeições resultantes da operação de perfuração. Nestes furos foram colocadas peças denominadas “chicotes” que ligam as linhas secundárias às mangueiras gotejadoras. Figura 4. Vista das valas com a linha principal e divisão da mesma Figura 5. Conexão dos “chicotes” às mangueiras gotejadoras e trabalhadores fechando as valas. 18 Após a colocação de todos os chicotes e da conexão destes às mangueiras realizou-se o fechamento das valas e a cobertura da tubulação. Para evitar o trânsito de maquinário e conseqüentes danos aos equipamentos e aos sulcos já abertos, esta operação foi realizada por trabalhadores somente com o auxílio de enxadas (Figura 5). Com as valas fechadas realizou- se o plantio do experimento com a variedade SP80-32080. Primeiramente foi feito o descarte de mudas cujas gemas apresentavam problemas. Posteriormente as mudas foram espalhadas nos sulcos de forma “cruzada” e no sentido denominado “pé com ponta” (parte basal em contato com a parte apical da muda seguinte), com a densidade de 15 gemas m-1, e por último as mesmas foram picadas e recobertas (Figura 6). Após o plantio, procedeu-se a cobertura e à verificação e o conserto dos vazamentos e interrupções no sistema (Figura 7). Figura 6. Plantio do experimento e trabalhador picando as mudas. Figura 7. Fechamento dos sulcos e perfuração em mangueira gotejadora. 19 O experimento foi adubado com doses 220 e 130 Kg ha-1 de K2O na forma de cloreto de potássio no plantio e nas soqueiras respectivamente, durante o período 2006-2008. Neste estudo avaliou-se a segunda soqueira de cana. 2.3 Descrição do “Software” APSIM® APSIM (Agricultural Production System sIMulator) (MCCOWN et al., 1996) é um sistema de “software” que permite realizar simulações de cenários de produção agrícola. A seqüência resumida do processo de simulação segue os seguintes passos: Ajuste do início e do fim da simulação; elaboração do arquivo de clima com banco de dados de 16 anos da estação experimental de Jaú com radiação, temperaturas máxima e mínima e precipitação; preenchimento das características físicas e químicas do Argissolo eutrófico; preenchimento dos dados de adubação no módulo “fertilizer”; do manejo da cultura; do manejo da irrigação; estabelecimento das variáveis de saída do módulo “output”; execução da simulação e leitura e interpretação dos resultados simulados (estimados). 20 3. PRODUTIVIDADE E ATRIBUTOS TECNOLÓGICOS EM SOQUEIRA DE CANA-DEAÇÚCAR COM DIFERENTES DOSES DE N-FERTILIZANTE, IRRIGADA POR GOTEJAMENTO SUBSUPERFICIAL 1 RESUMO Objetivou-se neste trabalho, comparar a utilização de água e de N-Fertilizante em soqueira de cana de açúcar nos manejos irrigados e de sequeiro; e verificar o potencial de produção da soqueira de cana-de-açúcar com diferentes doses de N-fertilizante no manejo irrigado por gotejamento subsuperficial. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições para cada experimento, sendo os tratamentos: T1 (Irrigado sem dose de nitrogênio (N)), T2 (irrigado com dose de 70 kg ha-1 de N), T3 (irrigado com dose de 140 kg ha-1 de N), T4 (irrigado com dose de 210 kg ha-1 de N), T5 (não irrigado sem dose de N) e T6 (não irrigado com dose de 140 kg ha-1 de N); todas as doses de N foram aplicadas na forma de Uréia. Para avaliar a produtividade da cultura foi realizado análise de variáveis biométricas, tecnológicas, biomassa seca e produtividade. Os resultados evidenciaram que o sistema de irrigação em conjunto com a aplicação de N-fertilizante (140 kg ha-1), proporcionaram diferenças significativas para acúmulo de matéria seca de colmos e da parte aérea, para produtividade de colmos por hectare (TCH) e produtividade de açúcar por hectare (TPH), sendo 126, 94, 105 e 106% maior, quando comparadas com a testemunha (sem N-fertilizante e sem irrigação). Adicionalmente obtiveram-se efeitos quadráticos significativos das doses de N com relação à fitomassa do colmo e da parte aérea, à TCH, TPH e ao índice Spad. Houve efeito positivo sinérgico da fertirrigação na produtividade e nos atributos tecnológicos. A soqueira de cana irrigada obteve produtividade máxima com a dose de 140 kg ha-1 de N-fertilizante. Palavras-Chave: fertirrigação, nitrogênio, Sacharum spp. 21 2 ABSTRACT PRODUCTIVITY AND TECHNOLOGICAL ATTRIBUTES IN SUGARCANE RATOON WITH DIFFERENT DOSES OF N-FERTILIZER, SUBSURFACE DRIP-IRRIGATED. The aim of this study was to compare the use of water and N-fertilizer on ratoon sugarcane soil management in irrigated and rainfed conditions, and to assess the production potential of ratoon cane sugar with different doses of N-fertilizer on management for subsurface drip-irrigated. The experimental design was a randomized block design with four replications for each experiment, and the treatments: T1 (Irrigated without dose of nitrogen (N)), T2 (irrigated with a dose of 70 kg ha-1 N) T3 (irrigated with a dose of 140 kg ha-1 N), T4 (irrigated with a dose of 210 kg ha-1 N), T5 (non-irrigated without N rate) and T6 (non-irrigated with a dose of 140 kg ha-1 N), all doses of N as urea. To assess the yield held biometric analysis of variables, technology, biomass and yield. The results showed that the irrigation system in conjunction with the application of N-fertilizer (140 kg ha-1) had significant differences in dry matter accumulation of stems and shoots, for cane yield per hectare (TCH) and productivity of sugar per hectare (TPH), being 126, 94, 105 and 106% higher when compared with the control (without N-fertilizer and no irrigation). Additionally we obtained significant quadratic effects of N rates with respect to the biomass of stem and shoot, the TCH, TPH and content Spad. There was a positive synergistic effect of fertigation on yield and attributes. The ratoon cane responded better to the dose of 140 kg ha-1 N-fertilizer. Keywords: TCH, TPH, fertigation, urea. 22 3 INTRODUÇÃO Com a iminência da mudança climática mundial, muitos dos conceitos das cadeias produtivas, têm sido revistos; um deles é a fonte energética utilizada para as diversas atividades do homem. Desenvolver fontes renováveis, não é mais um sonho ecológico e sim uma necessidade real, não só do ponto de vista energético, mas numa variada gama de produtos que continuam ligados a fontes fósseis. É por isso que a cana-de-açúcar ou atualmente melhor definida como cana bioenergética, aparece como alternativa na busca da sustentabilidade. Aumentos na produtividade de cana-de-açúcar e na qualidade (conteúdo de açúcar) são extremamente procurados. A quantidade de cana-de-açúcar produzida, a extensão de terra plantada, o valor dessa produção e, por conseguinte a participação no produto interno bruto (PIB) nacional vem aumentando vertiginosamente a cada nova safra. Em 2007, o Brasil ampliou sua produção de cana-de-açúcar em 15,1%, em relação ao ano anterior, alcançando 549 milhões de toneladas. Além do incremento da produção, a crescente demanda por álcool nos mercados interno e externo influenciou no preço do produto, levando a um crescimento de R$ 3,8 bilhões (29%) no valor da produção, que atingiu quase R$ 19 bilhões em 2007. A área também vem crescendo nos últimos anos, ultrapassando os 7 milhões de hectares em 2007. O Estado de São Paulo (58,8% da safra nacional) teve um crescimento de 5,6% na produção, principalmente pela incorporação de mais 200.000 ha ao processo produtivo, o que corresponde a um crescimento de 6,5% em relação a 2005. Além disso, o Estado possui a maior produtividade média (81.936 kg ha-1), acima da média nacional, que foi de 74.418 kg ha-1. A área colhida representa 12,79% do total nacional e o valor da produção 20,82% (Ibge, 2009). Dentre os tratos culturais mais importantes e mais discutidos está a adubação nitrogenada, principalmente ao ser aplicada às poáceas das quais se espera que com o aumento do teor de nitrogênio na planta haja uma resposta pronunciada na produção de fitomassa (Bolton & Brown, 1980). O crescimento da cana-de-açúcar, num sentido amplo, é determinado por esse aumento de massa material seco, assim como, pelo o aumento em altura (Dillewijn, 1952). 23 Thorburn et al. (2003) estudaram a importância da fertirrigação com N-fertilizante em quatro ciclos de produção (cana planta e três soqueiras), concluindo que a produtividade de colmos e de açúcar responde à adubação nitrogenada via fertirrigação. Wiedenfeld (1995) também estudou o efeito da irrigação e da adubação com N-fertilizante na qualidade e produtividade da cana-de-açúcar em três ciclos de produção (cana planta e duas soqueiras), concluindo que a produtividade da cana-de-açúcar responde à adubação nitrogenada, principalmente em soqueiras e que as maiores respostas estão relacionadas com maiores níveis de irrigação. Ng Kee Kwong et al. (1999) estudaram fertirrigação subsuperficial com doses de nitrogênio, concluindo que com uso da fertirrigação é possível reduzir em até 30% os valores da adubação nitrogenada sem queda significativa da produtividade da cana-deaçúcar, como conseqüência da melhor distribuição do fertilizante ao longo do ciclo da cultura. Faroni (2008), chegou à conclusão de que há efeito significativo das doses de N aplicadas no ciclo da canasoca quando comparadas com a produção de fitomassa seca da parte aérea e, por conseguinte, na produtividade de colmos e de açúcar. Entretanto Suguitane (2006) não constatou grandes aumentos na produtividade com as cultivares R570, RB72454, NCo376 e SP83-2847, utilizando irrigação por aspersão quando comparada com a testemunha não irrigada, usando apenas uma dose de N-fertilizante. Portanto os objetivos deste trabalho foram: Comparar a utilização de água e de N-Fertilizante em soqueira de cana de açúcar nos manejos irrigados e de sequeiro; e verificar o potencial de produção da soqueira cana-de-açúcar com diferentes doses de N-fertilizante no manejo irrigado por gotejamento subsuperficial. 4 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado no dia 26 de setembro de 2008 e teve duração de 360 dias, na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Jaú/SP, da APTA Pólo Centro-Oeste/SAA, localizada na latitude de 22º17’ S (-22,283), e longitude 48º 34’ W(-48,567) e altitude média de 580 m. O solo da área é Argissolo eutrófico, que apresentou na camada de 0-25 cm: pH (CaCl2) 5,2; P (resina) 19,0 mg 24 dm-3; K 0,9 mmolc dm-3; Ca 27,0 mmolc dm-3; Mg 4,0 mmolc dm-3; CTC 105,0 mmolc dm-3; V (%) 66; e composição em areia, silte e argila de 660, 70, 270 g kg-1, respectivamente. Avaliou-se neste estudo o terceiro ciclo produtivo (segunda soqueira) da cultivar SP80-3280, por apresentar as seguintes características agronômicas e tecnológicas: boa produtividade de canaplanta e soca, sendo 3 e 12% superior a SP79-1011, cultivar padrão de comparação; baixa redução de produção de cana planta para cana soca, de apenas 6%, enquanto na RB72454 foi de 14%; crescimento inicial vigoroso, perfilhamento intermediário com bom fechamento das entrelinhas; alto teor de fibra; média exigência em fertilidade do solo; boa brotação de soqueira; sensibilidade média a herbicidas; alto teor de sacarose; resistência ao mosaico, ao carvão à ferrugem e tolerância à presença da escaldadura (Copersucar, 1997). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições para cada experimento, sendo os tratamentos: T1 (Irrigado sem dose de nitrogênio (N)), T2 (irrigado com dose de 70 kg ha-1 de N), T3 (irrigado com dose de 140 kg ha-1 de N), T4 (irrigado com dose de 210 kg ha-1 de N), T5 (não irrigado sem dose de N) e T6 (não irrigado com dose de 140 kg ha-1 de N); todas as doses de N na forma de Uréia. As parcelas constituíram-se de cinco sulcos de 30 metros de comprimento. Em todos os tratamentos foi utilizado o plantio em linha dupla (plantio “em W” ou plantio em “abacaxi”), com espaçamento de 1,80 m entre as linhas duplas. Nos tratamentos irrigados o tubo gotejador foi enterrado a 25 cm de profundidade da superfície do solo, no meio da linha dupla conforme a Figura 1. O tubo gotejador utilizado foi o DRIPNET PC 22135 FL vazão de 1,0 L h-1 possuindo gotejadores a cada 0,5 m. 25 Figura 1. Instalação dos tubos gotejadores nos tratamentos irrigados. Por meio da contabilização do suprimento de água ao solo, pela chuva (P), e irrigação (I); e a demanda atmosférica, pela evapotranspiração da cana cana-de-açúcar açúcar (ETC), com um nível máximo de armazenamento ou capacidade de água disponível (CAD) de 100 mm, foi elaborada estimativa de balaço hídrico decendial e calculada a deficiência hídrica (DEF), no ano agrícola de 2008-2009, 2008 empregando-se se o método de Penman Penman-Monteith Monteith (Figura 2), a precipitação no período foi de 1740 mm e a lâmina total aplicada nos tratamentos irrigados foi de 293 mm. O manejo da irrigação foi realizado levando em consideração a ETC repondo 100% da lâmina evapotr evapotranspirada anspirada segundo uma bateria de tensiômetros instalados nos experimento a 20, 40 e 60 cm de profundidade. Adicionalmente se apresentam gráficos de parâmetros climáticos (Figura3). 26 Figura 2. Balanço hídrico de sequeiro no ano agrícola 2008 e 2009. Figura 3. Balanço hídrico irrigado no ano agrícola 2008 e 2009. 27 A B Figura 4. (A): precipitação comparada entre a média de 13 anos e a do período. (B): radiação e temperatura do ano agrícola 2008 e 2009. 28 Todos os tratamentos receberam uma dose de 180 kg ha-1 de P na forma de superfosfato simples aplicado no plantio, 220 e 130 kg ha-1 de K2O na forma de cloreto de potássio no plantio e na soqueira respectivamente. A aplicação de N e K nos tratamentos irrigados foi feita por fertirrigação realizada ao longo do crescimento da cultura, e nos tratamentos não irrigados (sequeiro) foi realizada no momento do plantio e após 30 dias, e 40 dias após o corte da soqueira (Figura 5). Figura 5. Distribuição da adubação N, P e K, no ano agrícola 2008-2009. 4.1 Parâmetros biométricos avaliados Antes da colheita final, foram avaliados os componentes de produção realizando medições do comprimento dos colmos; do diâmetro com auxilio de um paquímetro digital, do numero de perfilhos pela contagem dos mesmos; e do número de internódios. Nesta época também se realizaram leituras no medidor portátil de clorofila SPAD-502 (Soil-Plant Analysis Development-502). Para determinação da matéria seca da parte aérea foi realizada a colheita final manualmente em 1 m de linha, separando-se amostras de folhas secas, ponteiros e colmos. Nessas amostras, foi determinada a biomassa. Todo o material foi triturado em picadora mecânica de forragem. Depois da moagem e homogeneização de cada amostra úmida, retiraram-se subamostras que posteriormente foram secadas em estufa de ventilação forçada, com temperatura de 62°C, até que a massa 29 permanecesse constante. Com esses resultados foi estimada a produção média de matéria seca de colmo, ponteiro, folha seca e parte aérea (PA), em Mg ha-1. 4.2 Atributos tecnológicos Na colheita foi realizada a determinação dos atributos tecnológicos, como: Pol, graus Brix, e Fibra, selecionando 10 canas de cada parcela aleatoriamente, no Laboratório de Tecnologia da Associcana (Associação dos Produtores de Cana da Região de Jaú), em Jaú. As amostras de cada tratamento foram trituradas e homogeneizadas em betoneira. A extração do caldo foi feita por uma prensagem, a 250 kgf cm-2 por 1 minuto, de 500 g de amostra desfibrada e homogeneizada. Pesou-se o resíduo úmido (bolo úmido) resultante dessa prensagem e do caldo extraído analisaram-se Brix, Pol, e Fibra (Consecana, 2003). A produtividade de colmos, em tonelada de cana por hectare (TCH), foi obtida por meio da relação proporcional com a área de cada parcela, considerando 5556 plantas ha-1. A tonelada de pol por hectare (TPH) foi obtida pelo produto entre (TCH) e o Pol% da cana (PCC). Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância, utilizando o teste F a 5% e para as causas de variações significativas, foi aplicado o teste de significância de Tukey (p < 0,05), para a comparação entre os tratamentos T1, T3, T5 e T6; e análise de regressão para os tratamentos T1, T2, T3 e T4. Para as análises dos resultados foram utilizados os programas ASSISTAT® e Sigma Plot®. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Água e nitrogênio em cana-de-açúcar Observa-se na Tabela 1 que não houve diferença significativa em todas as variáveis biométricas quando comparadas entre si. Estes resultados diferem dos obtidos por Moura et al. (2005), que verificaram diferenças significativas entre os tratamentos irrigados e não irrigados, com diferentes doses de adubação e com os resultados obtidos por Dalri et al. (2008) que também obtiveram diferenças significativas comparando os sistemas irrigados e de sequeiro. Isto pode ser explicado pela precipitação do ano agrícola 30 2008-2009 na região do estudo. Ao fazer o balanço hídrico observa-se que o déficit hídrico da cultura foi de 142 mm (Figura 2) e que a precipitação foi elevada nos messes de novembro a março, 1720 mm, quando comparada com a média dos últimos 13 anos, 1500 mm (Figura 4a), justamente meses de maior temperatura e radiação (Figura 4b), e consequentemente meses de maior desenvolvimento da cana-soca (Faroni, 2008). Gava et al. (2001) estimaram o período de 60 a 210 DAC (dias após o corte) como sendo, o de maior crescimento, chegando a acumular, neste intervalo, 81% da matéria seca. Neste experimento essas datas representam o período de novembro a abril. Por isso provavelmente a cultura, neste ciclo, respondeu menos ao fornecimento de água pelo sistema de irrigação. Embora não haja diferenças significativas observa-se uma tendência positiva na resposta principalmente da altura dos colmos e do número de perfilhos. O número de perfilhos apresentou valores elevados quando comparado com os resultados de Almeida et al. (2008) que reportou valores médios de 13, 11, 9, 8 e 11 perfilho m-2, para as cultivares RB92579, RB93509, SP79-1011, RB931530; isso pode ser explicado pelo sistema de plantio em “W” (abacaxi) (Figura 1), que possui fileiras duplas, elevando a produtividade. Tabela 1. Efeito da adubação nitrogenada e da irrigação nos parâmetros biométricos. Tratamentos Alturas Diâmetros Perfilhos Internódios (cm) (mm) (Nº.m-1) (Nº) T5 170,05 a 25 a 12 a 17 a T1 162,52 a 25 a 18 a 18 a T6 178,16 a 26 a 16 a 18 a T3 184,36 a 27 a 18 a 19 a CV (%) 16,03 11,95 21,12 11,36 T5 - sem nitrogênio e sem irrigação, T1 - sem nitrogênio e com irrigação, T6 - com nitrogênio e sem irrigação, T3 - com nitrogênio e com irrigação. Medidas seguidas de uma ou mais letras em comum, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. CV: coeficiente de variação. 31 Verifica-se na Tabela 2 que não houve diferença significativa nos parâmetros tecnológicos quando comparados entre si, demonstrando que o sistema de irrigação não reduz a qualidade da canade-açúcar conforme relatado por Moura et al. (2005). Tabela 2. Efeito da adubação nitrogenada e da irrigação nos parâmetros tecnológicos. Tratamentos PCC Fibra Brix Pol (%) T5 16,66 a 13,01 a 21,37 a 20,02 a T1 17,25 a 13,65 a 22,36 a 20,97 a T6 16,83 a 12,95 a 21,74 a 20,21 a T3 16,29 a 13,60 a 21,44 a 19,79 a CV (%) 3,23 3,01 2,25 3,06 T5 - sem nitrogênio e sem irrigação, T1 - sem nitrogênio e com irrigação, T6 - com nitrogênio e sem irrigação, T3 - com nitrogênio e com irrigação. Medidas seguidas de uma ou mais letras em comum, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. CV: coeficiente de variação. Faroni (2008) observou efeito significativo das doses de N aplicadas no ciclo da cana-soca quando comparadas com a produção de fitomassa seca da parte aérea; entretanto os valores máximos encontrados por ele com a cultivar SP81-3250, utilizando doses de 150 kg ha-1 de N, foram de 41,35 Mg ha-1, sendo o valor de 61,8 Mg ha-1, encontrado neste estudo, aproximadamente 50% maior, com a dose de 140 kg ha-1 de N. Estes valores podem ser explicados pelo efeito sinérgico da adubação com nitrogênio somada ao fornecimento adequado de água através do sistema de irrigação (aplicação de 293 mm). Já ao avaliar o ponteiro, a folha seca e a soma dos dois (P+FS), não houve diferença devido ao elevado coeficiente de variação (CV), entretanto observa-se uma tendência positiva da resposta à fertirrigação (Tabela 3). 32 Tabela 3. Efeito da adubação nitrogenada e da irrigação na produção de fitomassa seca. Tratamentos Colmos Ponteiros Folhas Secas (C) (P) (FS) P+FS PA (C+P+FS) (Mg.ha-1) T5 17,6 d 4,3 a 9,9 a 14,2a 31,8 b T1 24,1 c 6,1 a 11,2 a 17,4a 41,4 b T6 26,9 b 4,6 a 13,2 a 17,9a 44,8 b T3 39,9 a 8,2 a 13,7 a 21,9a 61,8 a CV (%) 14,8 34,8 31,6 27,0 15,0 T5 - sem nitrogênio e sem irrigação, T1 - sem nitrogênio e com irrigação, T6 - com nitrogênio e sem irrigação, T3 - com nitrogênio e com irrigação. Medidas seguidas de uma ou mais letras em comum, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. CV: coeficiente de variação. Pode-se observar na Tabela 4 que ambas as variáveis TCH e TPH responderam positivamente à aplicação de N por meio do sistema de fertirrigação. A adubação com nitrogênio influencia significativamente os rendimentos de colmo em áreas onde não há restrição hídrica (Moura Filho et al., 2007). O aumento da produtividade de colmos foi 66% superior quando comparado à média dos tratamentos considerados como iguais pelo teste Tukey (T5, T1 e T6). Thorburn et al. (2003) obtiveram produtividades de 65 Mg ha-1 no terceiro corte da cana e de 52 Mg ha-1 (25% menor) utilizando fertirrigação e adubação de cobertura para aplicar 140 kg ha-1 de N, respectivamente. Estes resultados indicam que a eficiência de absorção do nitrogênio é menor quando a aplicação do mesmo é feita por cobertura (sem sistema de fertirrigação). A mesma tendência foi observada nas Ilhas Maurícios avaliando sistemas de fertirrigação em cana-de-açúcar (Ng Kee Kwong & Deville, 1994). Ao comparar com a testemunha sem irrigação e sem adubação o aumento foi de 71%, demonstrando a importância da distribuição adequada do fornecimento de nitrogênio ao longo do ciclo da cultura. 33 Consequentemente, a TPH que é o resultado da TCH e do pol, também obteve a mesma resposta sendo superior no tratamento fertirrigado (T3) em 45, 54 e 106% quando comparado com tratamento só adubado (T6), só irrigado (T1) e com a testemunha (T5), respectivamente. Este resultado possui uma tendência similar ao encontrado por Wiedenfeld (1995) que obteve aumentos de 39% em cana-de-açúcar fertirrigada com 168 kg ha-1 de N. O índice spad não teve diferenças significativas entre os tratamentos. Estudos mais completos relacionados à compartamentalização do N na planta deverão ser feitos para avaliar a atividade fotossintética através da concentração de clorofila. De qualquer forma a irrigação só não pressupõe o aumento da produtividade, mas também de outros fatores (não avaliados neste estudo) que possivelmente resultarão em benefícios como a maior longevidade das soqueiras, redução: de preparo do solo e plantio, dos tratos culturais (Santos et al. 2006), e em aumentos na mineralização do N que poderia ser perdido. Tabela 4. Efeito da adubação nitrogenada e da irrigação nos parâmetros produtivos. Tratamentos TCH TPH Spad (Mg.ha-1) T5 64,72 b 10,8 b 33,33 a T1 83,61 b 14,4 b 32,82 a T6 91,3 b 15,3 b 35,36 a T3 132,8 a 22,3 a 37,48 a CV (%) 14,9 10,48 4,81 T5 - sem nitrogênio e sem irrigação, T1 - sem nitrogênio e com irrigação, T6 - com nitrogênio e sem irrigação, T3 - com nitrogênio e com irrigação. Medidas seguidas de uma ou mais letras em comum, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. CV: coeficiente de variação. Segundo Gava et al. (2002), o fornecimento adequado de água contribuiu para o aumento da mineralização bruta da matéria orgânica, elevando a disponibilidade de N no solo. Neste trabalho os autores verificaram em um Latosolo vermelho na camada de 0-10 cm, uma taxa de mineralização bruta 34 de 0,31 e 2,04 mg kg-1 dia-1 de N, para teor de água do solo de 9% e 28% (m/m) respectivamente. A disponibilidade de água no solo é uma variável de extrema importância, pois afeta a diversidade, a sobrevivência, o movimento e a atividade dos microorganismos (Lynch, 1986). 5.2 Doses de nitrogênio em cana-de-açúcar irrigada Nos resultados das variáveis biométricas só ocorreu efeito significativo da adubação nitrogenada na altura de plantas (Tabela 5). Dantas et al. (2006) encontraram respostas similares, obtendo resultados não significativos para as variáveis: diâmetro e número de internódios e significativos para altura de plantas, com doses de 44 e 157 kg ha-1 de N obtiveram valores de 170 e 204 cm respectivamente. Tabela 5. Parâmetros biométricos da cana-de-açúcar avaliados em função das doses de N aplicadas. Tratamentos de N Alturas Diâmetros Perfilhos Internódios kg ha-1 (cm) (mm) (Nº.m-1) (Nº) 0 162,52 25 18 16,7 70 162,76 26 18 18,0 140 184,36 27 18 18,0 210 212,03 28 18 18,7 Média 180,42 26 18 17,85 CV (%) 15,66 9,56 20,45 13,41 F – reg. 1º grau 8,98* 2,96 ns 0,00 ns 1,24 ns R2 0,39 - - - F – reg. 2º grau 5,14* 0,00 ns 0,07 ns 0,07 ns 0.44 - - - 2 R * significativo a 5% de probabilidade, ns - não significativo, R2 coeficiente de determinação. Foi observada uma resposta quadrática similar à aplicação de N, via sistema de irrigação subsuperficial, por Wiedenfeld e Enciso (2008) obtendo valores de 165 e 170 cm para doses de 60 e 35 140 kg ha-1 de N. O efeito da adubação nitrogenada também foi estudado por Wiedenfeld, (1995) estabelecendo que o crescimento das plantas, é dependente da quantidade de N, pois este compõe a molécula de clorofila, que é responsável pela taxa fotossintética e pelo acúmulo de fotossintetatos, que derivam em crescimento celular. Observa-se na Tabela 6 o efeito da adubação com N, na Pol e, por conseguinte no PCC. Efeito quadrático também foi observado por Dantas et al. (2006) na Pol. Verifica-se que a elevação das doses de nitrogênio afeta a compartamentalização dos fotoassimilados produzidos pela planta; até certo ponto o suprimento de N faz com que a cana cresça e tenha mais capacidade para produzir carboidratos (Korndörfer e Martins, 1992), porém mantendo-se doses elevadas, estas podem continuar estimulando o crescimento e não a transformação e concentração de açúcares no colmo (comportamento quadrático). Tabela 6. Parâmetros tecnológicos da cana-de-açúcar avaliados em função das doses de N aplicadas. Tratamentos de N PCC Fibra kg ha-1 Brix Pol (%) 0 17,3 13,7 22,4 21,0 70 17,1 13,1 22,3 20,6 140 16,3 13,6 21,4 19,8 210 16,6 13,6 22,00 20,1 Média 16,8 13,5 22,0 20,37 CV (%) 2,90 5,41 1,97 2,83 F – reg. 1º grau 6,50* 0,05 ns 3,98 ns 6,51* R 0,32 - - 0,32 F – reg. 2º grau 0,54 ns 0,63 ns 2,10 ns 3,88* R2 - - - 0,37 2 * significativo a 5% de probabilidade, ns - não significativo, R2 coeficiente de determinação. Não houve efeito no conteúdo de fibra e Brix, estes resultados concordam com os obtidos por Faroni (2008), Franco (2008) e Bologna-Campbell (2007) em sistema de cana de sequeiro. 36 Houve efeito pronunciado da adubação com relação à produção de fitomassa seca de colmos e PA (Tabela 7). Bologna-Campbell (2007) também observou valores superiores relacionados diretamente com a quantidade de nitrogênio fornecida à cultura, sendo 56% superior na massa de matéria seca da parte aérea, comparando a doses de 120 kg ha-1 com o tratamento sem nitrogênio. Neste estudo obtiveram-se valores muito próximos (55%). Faroni (2008) obteve também relação quadrática e linear da adubação com N e o acúmulo de massa seca na parte aérea (PA) e no colmo (C). Observa-se na Figura 6 e 7 o efeito quadrático (R2 0,65 e 0,75) para o acúmulo de fitomassa seca na PA e do colmo. Uma das funções do nitrogênio nas plantas é aumentar a multiplicação e a diferenciação celular (Taiz e Zeiger, 2004), estes processos fisiológicos estão diretamente relacionados com o aumento da matéria seca da planta até o nível em que mesmo com aumento no fornecimento de N não se observam respostas, também chamado de consumo de luxo (Muchow et al. 1996) (comportamento quadrático). Tabela 7. Produção de fitomassa seca da cana-de-açúcar em função das doses de N aplicadas. Colmos Ponteiros Folhas Secas (C) (P) (FS) P + FS PA Tratamentos de N kg ha-1 (C+P+FS) (Mg.ha-1) 0 24,1 6,1 11,2 17,4 41,4 70 25,7 8,8 14,8 21,5 49,3 140 39,9 8,2 13,7 21,9 61,8 210 39,8 7,8 16,4 24,2 64,1 Média 32,4 7,7 14,1 21,2 54,2 CV (%) 11,5 41,5 23,7 24,0 12,6 F – reg. 1º grau 37,92* 0,59 ns 4,82 ns 3,45ns 23,84* R 0,73 - - 0,20 0,63 F – reg. 2º grau 1,3 * 0,52 ns 2,26 ns 1,68* 12,00* R2 0,75 - - 0,21 0,65 2 * significativo a 5% de probabilidade, ns - não significativo, R2 coeficiente de determinação. 37 Ao somar a massa seca do ponteiro e da folha seca (P+FS) se obteve efeito quadrático significativo. Ao aumentar o valor da massa seca da variável, se diminuiu o coeficiente de variação (CV). Estes resultados são coerentes pois a adubação nitrogenada propicia aumento no acúmulo de biomassa. 80 2 -1 PA (Mg.ha ) 70 Y=40,7888+0,1800*x+-0,0003*x 2 R =0,65* * significativo p<0,05 60 50 40 30 0 50 100 150 200 -1 Dose de N-fertilizante (kg.ha ) Figura 6. Massa seca da parte aérea (PA) relacionada com doses de N - Fertilizante. 50 Y=23,1582+0,1303*x+-0,0002*x2 R2=0,75* * significativo p<0,05 -1 Massa seca Colmo (Mg.ha ) 45 40 35 30 25 20 0 50 100 150 -1 Dose de N-fertilizante (kg.ha ) Figura 7. Massa seca do colmo relacionada com doses de N - Fertilizante. 200 38 Os três valores mostrados na Tabela 8, apresentaram efeito positivo das doses de nitrogênio. Os valores de TCH são coerentes com Doorembos e Kassam, (1979) que consideram como bons rendimentos acima de 100 Mg ha-1 em áreas irrigadas. Observa-se na tabela 8 que o maior valor de TCH foi obtido com a doses de 140 kg ha-1 e que adicionalmente o valor obtido com a dose de 70 kg ha-1, 97,5 Mg ha-1 é superior ao valor de 91,3 Mg ha-1 obtido com a adubação de cobertura (Tabela 4), evidenciando assim a eficiência do uso do nitrogênio aplicado via fertirrigação. Ng Kee Kwong et al. (1999) reportaram comportamentos similares quando comparadas adubações de 80 e 120 kg ha-1 via fertirrigação e cobertura respectivamente. Wiedenfeld (2000) mostrou comportamento quadrático da TCH e TPH a partir da segunda soca com valores máximos de 140,7 kg ha-1 e 136,8 kg ha-1 de N para produtividades de 78 e 10 Mg ha-1 de TCH e TPH respectivamente (Figura 8 e 9). Resultados semelhantes para TCH também foram reportados na literatura (Bolgna-Campbell, 2007; Dantas et al., 2006; Faroni, 2008; Korndörfer et al., 1997; Vitti et al., 2007) em sistemas de sequeiro. Segundo Demateê (2009) a produtividade média para Jaú -SP no ano agrícola 2006-2007 foi de 82 Mg ha-1 para cana adubada com 75 kg ha-1 de N. Estes resultados indicam que o N injetado por sistema de gotejamento em diversas doses menores ao longo do tempo, pode aumentar a eficiência de utilização do N-fertilizante quando comparado com uma única aplicação em faixas (Figura 5), e que a necessidade de nutrientes da cultura pode ser maior do que se pensava anteriormente (Wiedenfeld e Enciso, 2008). Observa-se na Tabela 8 e na Figura 10 a resposta linear positiva do índice Spad à adubação nitrogenada. Segundo Piekielek et al. (1995), a estimativa do teor de clorofila na folha é utilizada para predizer o nível nutricional de nitrogênio nas plantas, devido ao fato da quantidade desse pigmento correlacionar-se positivamente com o teor de N na planta. 39 Tabela 8. Produção de colmos (TCH) e de açúcar (TPH) por hectare, e leitura Spad em função das doses de N aplicadas. TCH TPH Spad Tratamentos de N kg ha-1 (Mg.ha-1) 0 83,6 14,4 32,82 70 97,5 16,7 34,44 140 132,8 22,3 35,95 210 130,4 21,6 37,49 Média 111,1 18,8 35,17 F – reg. 1º grau 30,7* 25,5* 19,0* r2 0,69 0,65 0,58 F – reg. 2º grau 16,4 * 14,26 * 8,8 * 2 0,72 0,69 r 0,58 2 * significativo a 5% de probabilidade, ns - não significativo, R coeficiente de determinação. Estes dados estão de acordo com Argenta et al. (2001), que afirmam que a leitura realizada com clorofilômetro estima com boa precisão o teor de clorofila nas folhas de milho, sendo eficiente este parâmetro para separar plantas com deficiência e com nível adequado desse nutriente. Portanto observa-se como plantas adubadas com maior quantidade de N apresentam provavelmente maior conteúdo de clorofila e por isso maior produtividade de fotoassimilados, de TCH e de TPH conforme verificado na Tabela 8. 40 160 2 Y=80,6662+0,4251*x+-0,0008*x 2 R =0,72* * significativo p<0,05 -1 TCH (Mg.ha ) 140 120 100 80 60 0 50 100 150 200 -1 Dose de N-fertilizante (kg.ha ) Figura 8. Produtividade de colmos (TCH) da cana-de-açúcar relacionada com doses de N. 26 2 Y=13,9475+0,0713*x+-0,0002*x 2 24 R =0,69* * significativo p<0,05 -1 TPH (Mg.ha ) 22 20 18 16 14 12 0 50 100 150 200 -1 Dose de N-fertilizante (kg.ha ) Figura 9. Produtividade de açúcar (TPH) da cana-de-açúcar relacionada com doses de N. 41 38 -6 2 Y=32,8278+0,0230*x+-3,9328E *x 2 R =0,58* 37 Indice SPAD * significativo p<0,05 36 35 34 33 32 0 50 100 150 200 -1 Dose de N-fertilizante (kg.ha ) Figura 10. Índice Spad relacionado com doses de N. 6 CONCLUSÕES Houve efeito positivo da irrigação e da adubação na produtividade e nos atributos da cana-deaçúcar, principalmente quando aplicados em conjunto (efeito sinérgico). Em anos agrícolas com pouco déficit hídrico o papel mais importante do sistema de irrigação é distribuir uniformemente a adubação ao longo do ciclo, podendo reduzir as quantidades utilizadas. A soqueira de cana respondeu melhor à dose de 140 kg ha-1 de N-fertilizante, obtendo na maioria dos casos resultados melhores ou semelhantes aos obtidos com doses maiores. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA. A. C.; SOUZA, J. L.; TEODORO, I.; BARBOSA, G. V. S.; MOURA, G.; FERREIRA, R. A. J. Desenvolvimento vegetativa e produção de cultivars de cana-de-açúcar em relação à disponibilidade hídrica e unidades térmicas. Ciência Agrotécnica Lavras, v. 32, n. 5, p. 1441-1448, 2008. ARGENTA. G. S. SILVA, P. R. F.; BORTOLINI, C. G.; FORSTHOFER, E. L.; MANJABOSCO, E. A.; BEHEREGARAY NETO, V. 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Como resposta surgem os modelos de simulação. Assim, este trabalho teve como objetivos: utilizar e validar um modelo de simulação de crescimento de cana-de-açúcar e realizar estimativas (simulações) de acúmulo da biomassa e produtividade em soqueira de cana, nos manejos irrigados e de sequeiro com diferentes doses de N-fertilizante. O experimento foi conduzido no campo num solo Argissolo eutrófico no município de Jau-SP, com 6 tratamentos: T1 (Irrigado sem dose de nitrogênio (N)), T2 (irrigado com dose de 70 kg ha-1 de N), T3 (irrigado com dose de 140 kg ha-1 de N), T4 (irrigado com dose de 210 kg ha-1 de N), T5 (não irrigado sem dose de N) e T6 (não irrigado com dose de 140 kg ha-1 de N); todas as doses de N foram aplicadas na forma de Uréia. Foram realizadas comparações de produtividade da cultura, toneladas de cana por hectare (TCH), toneladas de açúcar por hectare (TPH), peso da matéria seca da parte aérea (PA) e do colmo (C). Para fazer as simulações foi utilizado o Programa APSIM® (Sistema simulador de produção agrícola). O modelo APSIM pode predizer, com uso de modelagem, a produtividade da cana-de-açúcar, tendo como base de dados um registro confiável e duradouro de elementos climáticos, biométricos e de manejo. As curvas de acúmulo de biomassa seguiram a tendência sigmoidal característica e evidenciaram o efeito positivo da irrigação e da adubação nitrogenada. Palavras-Chave: APSIM, Saccharum spp., irrigação, nitrogênio, modelagem. 46 2 ABSTRACT ESTIMATE OF ACCUMULATION OF BIOMASS RATOON CANE USING SIMULATION MODEL IN MANAGEMENTS: IRRIGATED AND RAINFED WITH DIFFERENT DOSES OF N-FERTILIZER With the key role that the sugar cane industry has on the national level is vital to know how the quantity and quality of raw material produced is affected by climate, the cultural practices and the region. However it is not always possible to obtain real data, for several reasons, time, cost, difficulty of access, among others. How come the response simulation models. So this study aimed to: use and validate a simulation model of growth of cane sugar and make estimates (simulations) of accumulation of biomass and productivity of ratoon cane, the managements irrigated and rainfed conditions with different doses of N fertilizer. The experiment was carried in a Podzolic soil nourished the city of JauSP, with 6 treatments: T1 (Irrigated without dose of nitrogen (N)), T2 (irrigated with a dose of 70 kg ha-1 N), T3 (irrigated with a dose of 140 kg ha-1 N), T4 (irrigated with a dose of 210 kg ha-1 N), T5 (non-irrigated without N rate) and T6 (non-irrigated with a dose of 140 kg ha-1 N), all doses of N as urea. Comparisons were made of crop productivity, tons of cane per hectare (TCH), tons of sugar per hectare (TPH), dry weight of shoot (PA) and stem (C). To make the simulations we used the program Apsim ® (Agricultural Production System sIMulator). The model Apsim can predict through modeling the productivity of cane sugar, based on data from a reliable and lasting record of climatic elements, features and management. The curves of biomass accumulation followed the sigmoidal characteristic trend and show the positive effect of irrigation and nitrogen fertilization. Keywords: Apsim, Saccharum spp., Irrigation, nitrogen, modeling. 47 3 INTRODUÇÃO A indústria canavieira exerce hoje um papel fundamental na economia nacional, O fornecimento de matéria prima em níveis e freqüências adequadas é imprescindível para otimizar o uso das infra-estruturas disponíveis. Portanto, é de vital importância saber como a quantidade e a qualidade produzidas são afetadas pelo clima, pelos tratos culturais e pela região, e a partir dessas informações fazer predições de safra para aperfeiçoar os processos envolvidos. A água e o nitrogênio exercem papéis fundamentais no desenvolvimento vegetal. A água como constituinte do 70% da massa dos vegetais, como doador de elétrons para o processo de fotossíntese e como reguladora da abertura estomática nas plantas, entre outras (Taiz e Zeiger, 2004); o nitrogênio por sua vez é parte fundamental dos aminoácidos, bases químicas das proteínas (David et al. 2008). A cana-de-açúcar, por ser uma poácea de mecanismo fotossintético C4, responde à adubação nitrogenada e ao fornecimento de água. Thorburn et al. (2003), Wiedenfeld (1995) e Ng Kee Kwong et al. (1999) estudaram a importância da fertirrigação com N-fertilizante na produtividade da cana-de-açúcar. Nem sempre é possível obter dados reais, por várias razões, tempo, custo, dificuldade de acesso, entre outros. Como resposta surgem os modelos de simulação, que são programas de computador que fornecem para os pesquisadores, engenheiros e técnicos, ferramentas valiosas, que ajudam na tomada de decisões sem a necessidade de implementar o experimento e esperar pelo seu ciclo. Além disso, propiciam a possibilidade de prever situações futuras, gerando decisões que podem resultar em menores custos e maiores produtividades (Hamid e Abdullah, 2008). Estudos recentes mostram a importância da modelagem em cana-de-açúcar, Gouvêa et al. (2008), simulou condições de produtividade para o município de Piracicaba-SP, avaliando a mudança climática para os anos 2020, 2050 e 2080, obtendo valores de produtividade real de 12, 32 e 47% superiores à condição atual, respectivamente. Entretanto os modelos de simulação devem ser avaliados e validados, com dados reais, estabelecendo as similaridades entre eles (Martin et al. 2007). 48 Vários estudos foram feitos para validar o uso do modelador Apsim, como ferramenta na estimativa de crescimento de cana-de-açúcar e da produtividade da mesma (Asseng et al., 1998; Cheeroo-Nayamuth, 1998; Probert et al., 1998; Cheeroo-Nayamuth et al., 2000; O’Leary, 2000; Thorburn et al., 2001). No crescimento da cana-de-açúcar, segundo Machado (1987), existem três fases perfeitamente caracterizadas: uma fase inicial de crescimento lento; uma fase de crescimento rápido em que 70% a 80% de toda matéria seca é acumulada, e uma última fase na qual o crescimento é novamente lento acumulando cerca de 10% da matéria seca total. Uma possível interpretação fisiológica dessas diferentes fases de crescimento poderia ser que a cana-de-açúcar, no início, depende de reservas do rizoma para a síntese dos tecidos que compõem os perfilhos. Após a emergência das folhas, os processos anabólicos, dependentes da fotossíntese, se traduzem por um rápido crescimento, atingindo o estádio de maturação e, posteriormente, a planta inicia uma fase de senescência, refletindo na paralisação da produção de matéria orgânica (Gava, 1999). Essas três fases de crescimento de matéria seca da cana-de-açúcar, representadas graficamente, formam uma curva de característica sigmoidal (Silveira, 1985; Brzesowsky, 1986; Alvarez, 1998; Suguitani, 2006; Vitti et al., 2008). Diante do exposto o objetivo deste trabalho foi: utilizar e validar um modelo de simulação de crescimento de cana-de-açúcar; realizar estimativas (simulações) de acúmulo da biomassa e produtividade em soqueira de cana, nos manejos irrigados e de sequeiro com diferentes doses de Nfertilizante. 4 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado no dia 26 setembro de 2008 e teve duração de 360 dias na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Jaú/SP, da APTA Pólo Centro-Oeste/SAA, localizada na latitude de 22º17’ S (-22,283), e longitude 48º 34’ W(-48,567) e altitude média de 580 m. O solo da área é 49 Argissolo eutrófico, que apresentou na camada de 0-25 cm: pH (CaCl2) 5,2; P (resina) 19,0 mg dm-3; K 0,9 mmolc dm-3; Ca 27,0 mmolc dm-3; Mg 4,0 mmolc dm-3; CTC 105,0 mmolc dm-3; V (%) 66; e composição em areia, silte e argila de 660, 70, 270 g kg-1, respectivamente. Avaliou-se neste estudo o terceiro ciclo produtivo (segunda soqueira) da cultivar SP80-3280, por apresentar as seguintes características agronômicas e tecnológicas: boa produtividade de canaplanta e soca, sendo 3 e 12% superior a SP79-1011, variedade padrão de comparação; baixa redução de produção de cana planta para cana soca, de apenas 6%, enquanto na RB72454 foi de 14%; crescimento inicial vigoroso, perfilhamento intermediário com bom fechamento das entrelinhas; alto teor de fibra; média exigência em fertilidade do solo; boa brotação de soqueira; sensibilidade média a herbicidas; alto teor de sacarose; resistência ao mosaico, carvão e ferrugem; tolerância à presença da escaldadura (Copersucar, 1997). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições para cada experimento, sendo os tratamentos: T1 (irrigado sem dose de nitrogênio (N)), T2 (irrigado com dose de 70 kg ha-1 de N), T3 (irrigado com dose de 140 kg ha-1 de N), T4 (irrigado com dose de 210 kg ha-1 de N), T5 (não irrigado sem dose de N) e T6 (não irrigado com dose de 140 kg ha-1 de N); todas as doses de N-fertilizante na forma de Uréia. As parcelas constituíram-se de cinco sulcos de 30 metros de comprimento. Em todos os tratamentos foi utilizado o plantio em linha dupla (plantio “em W” ou plantio em “abacaxi”), com espaçamento de 1,80 m entre as linhas duplas. Nos tratamentos irrigados o tubo gotejador foi enterrado a 20 cm de profundidade da superfície do solo, no meio da linha dupla conforme a Figura 1. O tubo gotejador utilizado foi o DRIPNET PC 22135 FL vazão de 1,0 L h-1 possuindo gotejadores a cada 0,5 m. 50 Figura 1. Instalação dos tubos gotejadores nos tratamentos irrigados. Todos os tratamentos receberam uma dose de 180 kg ha-1 de P na forma de superfosfato simples aplicado no plantio, 220 e 130 kg ha-1 de K2O na forma de cloreto de potássio no plantio e na soqueira respectivamente. A aplicação de N e K nos tratamentos irrigados foi feita por fertirrigação realizada ao longo do crescimento da cultura, e nos tratamentos não irrigados (sequeiro) foi realizada no momento do plantio e após 30 dias, e 40 dias após o corte da soqueira (Figura 2). Figura 2. Distribuição da adubação N, P e K, no ano agrícola 2008 2008-2009. 51 4.1 Dados de acúmulo de matéria seca e de produtividade Para determinação da matéria seca da parte aérea foi realizada a colheita final manualmente em 1m de linha, separando-se amostras de folhas secas, ponteiros e colmos. Nessas amostras foi determinada a biomassa. Todo o material foi triturado em picadora mecânica de forragem. Depois da moagem e homogeneização de cada amostra úmida, retiraram-se subamostras que posteriormente foram secadas em estufa de ventilação forçada, com temperatura de 62°C, até que a massa permanecesse constante. Com esses resultados foi estimada a produção média de matéria seca de colmo, ponteiro, folha seca e parte aérea (PA), em Mg ha-1. Na colheita foi realizada a determinação dos atributos tecnológicos, como: Pol, graus Brix, Fibra e Pol da cana corrigida (%PCC), selecionando 10 canas de cada parcela aleatoriamente, no Laboratório de Tecnologia da Associcana (Associação dos Produtores de Cana da Região de Jaú), em Jaú. As amostras de cada tratamento foram trituradas e homogeneizadas em betoneira. A extração do caldo foi feita por uma prensagem, a 250 kgf cm-2 por 1 minuto, de 500 g de amostra desfibrada e homogeneizada. Pesou-se o resíduo úmido (bolo úmido) resultante dessa prensagem e do caldo extraído analisaram-se Brix, Pol, e Fibra (Consecana, 2003). A produtividade de colmos, em tonelada de cana por hectare (TCH), foi obtida por meio da relação proporcional com a área de cada parcela, considerando 5.556 plantas ha-1. A tonelada de pol por hectare (TPH) foi obtida pelo produto entre (TCH) e o Pol% da cana (PCC). Para validar os processos de simulação, utilizaram-se, complementarmente, indicadores estatísticos como: o coeficiente de correlação de Pearson (r), entre os valores observados e os valores simulados por cada um dos processos (Morettin & Bussab, 2003); o índice de concordância de Willmott (Id), dado por uma aproximação matemática que avalia a exatidão e avalia o afastamento dos valores simulados em relação aos observados (Willmott, 1981), onde a variação é de zero (nenhuma concordância) até um (concordância perfeita); e o coeficiente de determinação da regressão R2 . 52 As variáveis de saída do modelo estudadas foram: produtividade de colmos por hectare (TCH), produtividade de açúcar por hectare (TPH), massa seca do colmo (C) e massa seca da parte aérea (PA), todas em Mg ha-1. Com os dados simulados validados com R2 acima de 0,75 provenientes do modelo Apsim, foram construídos gráficos de acúmulo de biomassa ao longo do ciclo da cultura até 360 dias após o corte (DAC), realizando regressões sigmóides utilizando o programa Sigma Plot® segundo a função: Y = Ymax/(1 + exp(-(DAC-A)/ B)), em que:Y: acúmulo da variável simulada em Mg ha-1, Ymax: valor máximo da variável simulada (assintota horizontal), A e B são as constantes da função. 4.2 Simulação no APSIM APSIM (Agricultural Production Systems Simulator) é um sistema de software que permite realizar simulações de modelos de produção agrícola. A principal inovação é a mudança de um conceito central de que uma cultura responde às fontes de recursos para o conceito de que um solo como base do processo responde ao clima, ao manejo e às culturas (Mccown et al., 1999). O APSIM está estruturado em torno do solo, da planta e dos módulos de gestão (Figura 3). Estes módulos incluem: uma gama diversificada de culturas, pastagens e árvores; os processos do solo que incluem balanço de água, de N e transformações de P; o pH do solo; a erosão; e vários controles de manejo. O APSIM resultou de uma necessidade de ferramentas que forneçam previsões precisas de produção vegetal em relação ao clima, ao genótipo, ao solo e ao fator de manejo, dando simultaneamente respostas em longo prazo de problemas de manejo e de recursos (Cheeroo-Nayamuth et al., 2000). A estrutura do modelo APSIM é constituída pelos seguintes componentes: um conjunto de módulos que simulam processos biológicos e físicos em sistemas agrícolas; um conjunto de módulos de gestão que permitem ao usuário especificar as regras de manejo pretendidas que caracterizam o cenário que está sendo simulado e que controla a simulação; diversos módulos para facilitar a entrada e saída de dados da simulação; e um motor de simulação que conduz o processo de simulação e facilita a comunicação entre os módulos interdependentes (Figura 3). 53 Figura 3. Módulos associados à modelagem no APSIM® Um dos principais benefícios do APSIM é a capacidade de integrar os modelos derivados dos esforços de investigação fragmentada. Isso permite que a pesquisa de uma disciplina ou domínio possa ser transportada para o benefício de alguma outra disciplina ou domínio. Também facilita a comparação de modelos ou sub-modelos em uma plataforma comum (Mccown et al., 1999). Fundamentalmente o programa deve ser preenchido com dados climatológicos (no mínimo com temperaturas mínima e máxima em °C, radiação global em MJ.m-2, precipitação em mm), dados edafológicos (peso específico do solo em g cm-3, conteúdo de água volumétrico: no ponto de saturação, no limite superior da água disponível, no limite inferior (15 bar) e no solo seco (água estrutural), todos em mm água.mm solo-1; conteúdo de carbono orgânico em %, boro, fósforo e manganês em mg kg-1, capacidade de troca de cátions (CTC), cálcio, magnésio, sódio e potássio em cmol+ kg-1, sódio trocável em % (V), pH do solo, alumínio em meq 100g-1, composição de areia, silte e argila em %, NO3 e NH4 em ppm), dados de manejo da cana-de-açúcar (data de plantio, duração do ciclo da cana planta, densidade de perfilhos por m2 na cana planta, cultivar de cana-de-açúcar, profundidade de plantio em mm, número de socas, duração do ciclo da cana soca e densidade de perfilhos por m2 na soca), dados de manejo da adubação (data, quantidade e tipo de fertilizante usado), e dados de irrigação (fração crítica da água disponível no solo abaixo da qual se aplica a irrigação, capacidade do reservatório de 54 água, eficiência da irrigação, quantidade de solutos aplicados em ppm, assim como a freqüência). Depois da obtenção dos dados necessários para fazer a simulação no programa APSIM®, o mesmo foi rodado, obtendo-se estimativas de acúmulo de matéria seca do colmo e da parte aérea, produção para a cultura de cana-de-açúcar nos diferentes tratamentos. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Validação do modelo Visualiza-se na Tabela 1 os valores reais e simulados de TCH, TPH, matéria seca do colmo e da parte aérea. Conforme discutido no primeiro trabalho desta tese observa-se o efeito positivo e sinérgico da adubação nitrogenada e da irrigação no rendimento de colmos e de açúcar por hectare e no acúmulo de matéria seca da parte aérea e do colmo. Casagrande (1991) cita a importância do nitrogênio na adubação da cana-de-açúcar, como sendo o primeiro elemento na ordem de absorção dos nutrientes. Wiedenfeld e Enciso, (2008) reportaram a importância da aplicação de nitrogênio via fertirrigação obtendo valores de 100 Mg ha-1 de TCH com doses de 140 kg ha-1, para a terceira soqueira. Ng Kee Kwong et al. (1999) reportaram comportamentos similares quando comparadas adubações de 80 e 120 kg ha-1 via fertirrigação e cobertura respectivamente, evidenciando assim a importância da aplicação do nitrogênio de forma fracionada através do sistema de irrigação, como ferramenta de redução da aplicação de N. Estes valores são coerentes com os obtidos neste estudo (Tabela 1). Somente os valores de TPH (açúcar por hectare), apresentaram resultados abaixo do esperado. A diferença entre os valores medidos e os simulados provavelmente deve-se ao cálculo da TPH (TPH=TCH*PCC) o PCC ou Pol da cana é a porcentagem de massa de sacarose aparente no caldo, e como tal é dependente das condições de manejo, ambientais e edáficas, entre outras. No modelo Apsim não há possibilidade de modificar essa variável, assumindo-se constante a relação de acúmulo de 55 sacarose, sendo de um grama de sacarose por cada grama de água perdida, na etapa de maturação (Keating et al. 1999). Nota-se que os valores de TPH, acúmulo de massa seca do colmo e da parte aérea obtiveram índices de validação satisfatórios. Keating et al. (1999) reportaram coeficientes de determinação (R2) para as previsões do modelo Apsim em comparação com dados observados de 0,93 para a biomassa da cultura e 0,83 para sacarose do colmo, e definiram como satisfatórios valores acima de 0,75. Tabela 1. Validação do modelo para as variáveis: produtividade de colmos por hectare (TCH), toneladas de açúcar por hectare (TPH) e fitomassa seca dos colmos (C) e da parte aérea (PA). TCH TPH C PA Real Apsim Real Apsim Real Apsim Real Apsim Trats Mg ha-1 T1 83,6 (±4,7*) 77,9 14,3 (±1,0) 15,8 24,1 (±2,5) 24,8 41,4 (±4,2) 31,5 T2 97,5(±9,2) 100,9 16,7 (±1,7) 16,9 28,4 (±7,4) 31,9 49,9 (±11,1) 40,6 T3 132,8 (±9,2) 120,7 22,3(±1,6) 17,3 39,9 (±2,9) 39,6 61,8 (±6,6) 51,1 T4 130,4 (±12,4) 120,3 21,6(±1,9) 16,9 39,8 (±4,3) 39,4 64,1 (±7,8) 50,8 T5 64,7 (±12,4) 67,6 10,8(±2,0) 13,4 17,6 (±4,2) 21,8 31,8 (±6,6) 28,1 T6 91,3 (±15,7) 85,4 15,3(±2,4) 13,4 26,9 (±5,0) 27,8 44,8 (±7,0) 35,1 2 R 0,76 0,52 0,82 0,75 Id 0,90 0,62 0,93 0,76 r 0,87 0,71 0,9 0,86 T1 - sem nitrogênio (N) e com irrigação, T2 – com 70 kg ha-1 de N e com irrigação, T3 - com 140 kg ha-1 de N e com irrigação, T4 - com 210 kg ha-1 de N e com irrigação, T5 - sem nitrogênio e sem irrigação, T6 - com 140 kg ha-1 de N e sem irrigação. R2 coeficiente de determinação, Id índice de concordância de Willmott, r coeficiente de correlação de Pearson, * desvio padrão da média. Devido ao alto índice de Willmott obtido pelas variáveis TCH e PA, estas foram utilizadas para realizar gráficos de produtividade de colmos e acúmulo de matéria seca (Figuras 4 a 7). 5.2 Estimativa do acúmulo de fitomassa seca relacionada com água e nitrogênio em soqueira de cana Na Figura 4 observam-se as curvas de acúmulo de matéria seca da PA. Todas as curvas seguem a tendência sigmoidal descrita por Silveira, (1985); Brzesowsky, (1986); Alvarez, (1998) e 56 Gava, (1999). Similarmente todas as curvas representam as três fases de crescimento reportadas por Machado (1987), como sendo: fase inicial com crescimento lento e acúmulo médio de 10%, fase de crescimento rápido em que se acumula 70 a 80% de toda a matéria seca e uma fase final na qual o crescimento volta ser lento e se acumula 10% da metéria seca total aproximadamente. Verifica-se também que o tratamento fertirrigado com doses de 140 kg ha-1 de N antecipou e o mesmo se manteve na fase de crescimento rápido por mais tempo, acumulando desta forma mais matéria seca. Provavelmente esse aumento deve-se à resposta da planta à adubação nitrogenada, a qual se mantém com as folhas verdes por mais tempo, produzindo desta forma maiores níveis de fotoassimilados. Comportamento similar foi observado por Vitti et al. (2008), em cana-planta de sequeiro adubada com 120 kg ha-1 de N e por Farias et al. (2008), em cana irrigada adubada com 67,5 kg ha-1 de N. Silva (1995) obteve resposta similares estudando cinco cultivares (RB855113, RB928064, RB845210, RB845197 e RB855536), demonstrando assim a validez do modelo Apsim. Uma das limitações da regressão sigmoidal é que em tratamentos com elevadas doses de nitrogênio o acúmulo de biomassa se inicia com um valor diferente de zero, o que não é verdade, pois nos dados de saída do modelo Apsim o acúmulo da mesma começa com 1000 graus dias, sendo esse valor correspondente a 65 DAC, aproximadamente. Na Tabela 2 apresentam-se as equações da regressão sigmoidal para as variáveis TCH e PA. Os valores de Ymax para as equações são coerentes com os máximos de acúmulo de matéria seca e de produtividade reportados na literatura (Faroni, 2008; Thorburn et al., 2003; Ng Kee Kwong & Deville, 1994; Wiedenfeld, 1995; Bolgna-Campbell, 2007; Doorembos & Kassam, 1979). Gava (1999) obteve valores de Ymax=32 Mg ha-1 para soqueira de cana em sistema de sequeiro adubada com 100 kg ha-1 e 100 m3 ha-1 de vinhaça. Este valor pode ser comparado ao obtido no tratamento 6, sequeiro com doses de 140 kg ha-1 (Tabela 2) de 31,42 Mg ha-1. 57 Tabela 2. Equações de regressão sigmoidal das variáveis: produtividade de colmos por hectare (TCH), e fitomassa seca da parte aérea (PA) em Mg ha-1. Matéria seca da parte aérea (PA) Trats R2 R2 TCH 1 Y= 77,90/(1+exp(-(**x-226,96)/51,06)) 0,99* Y= 31,03/(1+exp(-(x-205,19)/54,49)) 0,99* 3 Y= 117,56/(1+exp(-(x-220,45)/52,66)) 0,99* Y= 47,38/(1+exp(-(x-174,69)/56,89)) 0,97* 5 Y= 61,83/(1+exp(-(x-208,36)/42,24)) 0,99* Y= 25,94/(1+exp(-(x-183,67)/47,37)) 0,99* 6 Y= 75,63/(1+exp(-(x-189,11)/37,88)) 0,99* Y= 31,42/(1+exp(-(x-160,61)/37,50)) 0,99* * Significativo com (p<0,05). determinação. 2 **X=DAC (dias após o corte da soqueira). R = coeficiente de 0N_irri. 140N_irri. 44 0N_seq 140N_seq Materia Seca da parte aérea (Mg ha-1) 40 36 32 28 24 20 16 12 8 4 0 10 40 70 100 130 160 190 220 250 280 310 340 370 Dias apos o corte (DAC) Figura 4. Massa seca da parte aérea (PA) da cana-de-açúcar. 0N_irri. 120 140N_irri. 0N_seq Produção de colmos (Mg.ha-1) .......... 105 140N_seq 90 75 60 45 30 15 0 0 30 60 90 120 150 180 210 240 Dias apos o corte (DAC) Figura 5. Produção de colmos da cana-de-açúcar. 270 300 330 360 58 Ramesh et al. (2000), estudando cana planta na Índia adubada com 220 kg ha-1 de N, com três níveis de estresse hídrico, obtiveram resultados de TCH de 117 (sem estresse) e 71 Mg ha-1 (estresse alto), correspondendo à irrigação quando a capacidade de água disponível (CAD) do solo diminuísse 50% e sem irrigação, respectivamente. Resultados similares foram obtidos neste estudo, 117,56 e 75,63 Mg ha-1 no tratamento 3 e 6, respectivamente (Figura 5 e Tabela 2). 5.3 Estimativa do acúmulo de fitomassa seca relacionada com doses de nitrogênio em soqueira de cana Observam-se na tabela 3 as equações de regressão sigmoidal para as variáveis TCH e PA, e nas Figuras 6 e 7, as curvas de acúmulo de massa seca da parte aérea e de produtividade de colmos por hectare, respectivamente. Ng Kee Kwong et al. (1999) trabalhando com primeira e segunda soqueira da cultivar R570, obtiveram valores de acúmulo de fitomassa seca da parte aérea de 43,1 e 45,7 Mg ha-1 para doses de 80 e 120 kg ha-1 de N via sistema de gotejo subsuperficial. Resultados semelhantes foram obtidos neste trabalho, 40,83 e 47,38 Mg ha-1 de acúmulo de fitomassa seca da parte aérea, para T2 (70 kg ha-1 de N) e T3 (140 kg ha-1 de N), respectivamente (Tabela 3 e Figura 6). Tabela 3. Equações de regressão sigmoidal das variáveis: produtividade de colmos por hectare (TCH), e fitomassa seca da parte aérea (PA) em Mg ha-1. Matéria seca da parte aérea (PA) Trats R2 R2 TCH 1 Y= 77,90/(1+exp(-(**x-226,96)/51,06)) 0,99* Y= 31,03/(1+exp(-(x-205,19)/54,49)) 0,99* 2 Y= 104,83/(1+exp(-(x-239,26)/55,56)) 0,99* Y= 40,83/(1+exp(-(x-216,99)/58,01)) 0,99* 3 Y= 117,56/(1+exp(-(x-220,45)/52,66)) 0,99* Y= 47,38/(1+exp(-(x-174,69)/56,89)) 0,97* 4 Y= 117,31/(1+exp(-(x-220,91)/52,74)) 0,99* Y= 47,03/(1+exp(-(x-177,95)/56,43)) 0,97* * Significativo com (p<0,05). determinação. 2 **X=DAC (dias após o corte da soqueira). R = coeficiente de 59 Materia Seca da parte aérea (Mg ha-1) 0_N 45 70_N 42 140_N 39 210_N 36 33 30 27 24 21 18 15 12 9 6 3 0 10 40 70 100 130 160 190 220 250 280 310 340 370 Dias apos o corte (DAC) Figura 6. Massa seca da parte aérea (PA) da cana-de-açúcar. 0_N 70_N 140_N 210_N Produção de colmos (Mg ha-1) 105 90 75 60 45 30 15 0 0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 Dias apos o corte (DAC) Figura 7. Produção de colmos da cana-de-açúcar. As doses de N-fertilizante sem restrição hídrica afetaram a taxa de produção de matéria seca. A taxa máxima (21 g m-2 dia-1) ocorreu 180 DAC para doses de 140 e 210 kg ha-1 de N. Para 70 e 0 kg ha-1 de N a máxima ocorreu por volta dos 207 DAC e a taxa máxima foi de 17 e 14 g m-2 dia-1, respectivamente (Figura 6). 60 Produtividades de 115 e 108 Mg ha-1 de TCH foram obtidas na segunda soqueira de cana com doses de 140 e 70 kg ha-1 de N-fertilizante via gotejo subsuperficial por Wiedenfeld e Enciso (2008). Observa-se na Figura 7 e na Tabela 3 valores de 117, 56 e 104,83 Mg ha-1 de TCH com doses de 140 e 70 kg ha-1 de N-fertilizante. A dose de 140 kg ha-1 de N-fertilizante obteve resultados similares à dose de 210 kg ha-1 de N-fertilizante. Segundo Muchow et al. (1996) a produção de colmos por hectare responde à adubação nitrogenada até uma certa dose, após esse limite não se observam respostas e este nutriente pode ser classificado como consumo de luxo, passando a limitar a produção outro nutriente e/ou fator edafo - climatológico. A mesma tendência foi observada por Ng Kee Kwong et al. (1999). 6 CONCLUSÕES O modelo APSIM pode predizer com o uso de modelagem a produtividade da cana-de-açúcar, tendo como base de dados um registro confiável e duradouro de elementos climáticos, biométricos e de manejo. As curvas de acúmulo de biomassa seguiram a tendência sigmoidal característica e evidenciaram o efeito positivo da irrigação e da adubação nitrogenada. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVAREZ, I.A. Comparação entre o desenvolvimento de cana crua e cana queimada em dois ciclos de crescimento. 1998. 116f. 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