A era da indústria: a economia baiana na segunda metade do século XX cavalcanti.pmd 1 12/5/2008, 09:15 FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DA BAHIA – FIEB PRESIDENTE Jorge Lins Freire 1º VICE-PRESIDENTE Victor Fernando Ollero Ventin VICE-PRESIDENTES Bernardo Afonso Almeida Gradin Emmanuel Silva Maluf Marcos Galindo Pereira Lopes Sérgio Pedreira de Oliveira Souza DIRETORIA Alberto Cánovas Ruiz Almir Mendes de Carvalho Júnior Antonio Hailton Miranda da Costa Antonio Ricardo Alvarez Alban Carlos Gilberto Cavalcante Farias Élio Luiz Régis de Sousa João Augusto Tararan Josair Santos Bastos Leovegildo Oliveira de Sousa Luciano Mandelli Luiz Antonio de Oliveira Manuel Ventin Ventin Reinaldo Dantas Sampaio Wilson Galvão Andrade cavalcanti.pmd 2 12/5/2008, 09:15 cavalcanti.pmd 3 12/5/2008, 09:15 Copyright © 2008 by Federação das Indústrias do Estado da Bahia Coordenação Geral Assessoria de Comunicação do Sistema FIEB Coordenação editorial Fred Burgos Editoração eletrônica Bete Capinan Foto do autor Leonardo Cavalcante Revisão e normalização Vera Rollemberg Ficha Catalográfica - Biblioteca Sede/Sistema FIEB 330.8142 C376e Cavalcante, Luiz Ricardo Mattos Teixeira. A era da indústria: a economia baiana na segunda metade do século XX / Luiz Ricardo Mattos Teixeira Cavalcante. _ Salvador: FIEB, 2008. 204 p. Prêmio FIEB de Economia - 2007. ISBN: 978-85-86125-22-5 1. Economia - Bahia - Século XX. 2. Desenvolvimento econômico. 3. Industrialização Bahia. I. Título. II. Prêmio FIEB de Economia - 2007. Todos os diretos desta edição reservados à Federação das Indústrias do Estado da Bahia Rua Edístio Pondé, 342 – STIEP CEP: 41.770-395 Salvador – Bahia Fone: (71) 3343-1280/3343-1267 Fax: (71) 3343-1282 home page: www.fieb.org.br e-mail: [email protected] cavalcanti.pmd 4 12/5/2008, 09:15 Luiz Ricardo Cavalcante A er a d a in d ú s t r i a : a economia baiana na segunda metade do século XX Salvador 2008 cavalcanti.pmd 5 12/5/2008, 09:15 cavalcanti.pmd 6 12/5/2008, 09:15 Para meu pai, Simone e Leo cavalcanti.pmd 7 12/5/2008, 09:15 cavalcanti.pmd 8 12/5/2008, 09:15 Agradecimentos Este trabalho resulta da sistematização do conhecimento que adquiri sobre a economia baiana entre o início do meu curso de mestrado, em meados da década de 1990, até a conclusão do meu curso de doutorado, cerca de dez anos depois. Ao longo desse período, pude contar com o apoio de um número tão grande de pessoas e instituições que seria praticamente impossível mencionálas nestes agradecimentos. Gostaria de destacar, entretanto, cinco instituições onde, durante esse intervalo, tive a oportunidade de aprender sobre a economia baiana e seu processo de industrialização: Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia (SECTI), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e University of Illinois at Urbana-Champaign (UIUC). Citar nominalmente todos aqueles que nessas instituições contribuíram para a elaboração deste trabalho equivaleria, praticamente, a copiar suas listas de colaboradores e considerar, inclusive, alguns que já não pertencem a seus quadros. É por isso que peço a meus amigos que entendam o meu agradecimento a essas cinco instituições como um agradecimento dirigido pessoalmente a cada um deles. Em particular, sou grato à Federação, que, ao instituir o Prêmio FIEB de Economia, motivou a sistematização que apresento neste livro, e a seus colaboradores Ricardo Kawabe e Mauricio Pedrão, que me incentivaram a submeter o trabalho ao prêmio. cavalcanti.pmd 9 12/5/2008, 09:15 Tendo em vista que uma parte representativa deste trabalho resultou de minha tese de doutorado, quero agradecer, também, ao Prof. Reginaldo Souza Santos, que a orientou na UFBA, ao Prof. Werner Baer, que a co-orientou na UIUC, e ao Prof. Geoffrey Hewings, que me acolheu no Regional Economics Applications Laboratory (REAL) durante minha permanência em Illinois. Francisco Teixeira, Helder Ribeiro, Noélio Spinola, Rafael Lucchesi e Vladson Menezes tiveram a gentileza de dispor de algumas horas para conversar comigo, em 2005, sobre o a evolução da economia baiana. Seguramente, essas entrevistas contribuíram muito para o formato final deste trabalho. É recorrente a dificuldade que tenho para expressar com palavras o meu agradecimento a Simone Uderman em trabalhos desta natureza. Ainda assim, mais uma vez, posso dizer que, não tivesse eu podido contar com sua perspicácia na análise dos manuscritos e, sobretudo, com seu carinho, nada disso teria existido. cavalcanti.pmd 10 12/5/2008, 09:15 We do not know what will come next, and what the third millennium will be like, even though we can be certain that the Short Twentieth Century will have shaped it. However, there can be no serious doubt that in the late 1980s and early 1990s an era in the world history ended and a new one began. [Não sabemos o que virá a seguir, nem como será o terceiro milênio, embora possamos ter certeza de que ele terá sido moldado pelo Breve Século XX. Contudo, não há como duvidar seriamente de que em fins da década de 1980 e início da década de 1990 uma era se encerrou e uma outra nova começou.] Eric Hobsbawm Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991 cavalcanti.pmd 11 12/5/2008, 09:15 cavalcanti.pmd 12 12/5/2008, 09:15 Sumário Apresentação 15 Prefácio 19 Capítulo 1 Introdução 21 Capítulo 2 Fundamentos: desenvolvimento econômico regional 29 Capítulo 3 A industrialização liderada pelo Estado: o período entre 1950 e 1980 69 Capítulo 4 Competição fiscal e bens finais: a economia baiana na década de 1990 119 Capítulo 5 cavalcanti.pmd Conclusões 169 Referências 177 Apêndices 191 13 12/5/2008, 09:15 14 cavalcanti.pmd 14 12/5/2008, 09:15 Apresentação Instituído em 2000, com o propósito de auxiliar na compreensão do processo de industrialização da Bahia, o Prêmio FIEB de Economia Industrial chega à sua quarta edição com escopo ampliado. Agora denominado Prêmio FIEB de Economia, versão 2007, contempla trabalhos inéditos que não apenas contribuem para uma melhor visão da economia baiana como também apontam novas alternativas de desenvolvimento industrial. Com o estudo A era da indústria: a economia baiana na segunda metade do século XX, Luiz Ricardo Cavalcante foi o vencedor desta versão do Prêmio FIEB. Engenheiro químico com doutorado em Administração pela Universidade Federal da Bahia, o autor descreve como se deu a evolução da economia do estado a partir de uma avaliação crítica das mudanças estruturais ocorridas. Uma das observações é que as políticas de desenvolvimento adotadas apoiaram-se no conceito de aglomerações. Segundo o estudo, na implantação da indústria automobilística, por exemplo, a capacidade do segmento de criar uma demanda por novos investimentos de fornecedores na Bahia motivou os esforços governamentais para atraí-la. O autor procura demonstrar, também, que os governos locais possuem margem de manobra relativamente pequena na determinação das trajetórias de desenvolvimento dos estados. 15 cavalcanti.pmd 15 12/5/2008, 09:15 Como exemplo, cita que a implantação da indústria petroquímica de commodities intermediárias na região de Camaçari decorreu do papel reservado à Bahia na economia brasileira. Ainda assim, o fato de a Bahia procurar se integrar aos mercados nacionais certamente influiu para diferenciar sua trajetória no período entre 1950 e 1980 daquela buscada pelos demais estados nordestinos. De fato, os outros estados da região incentivaram uma industrialização voltada para a produção de bens finais e intensiva de mão-de-obra, em oposição à produção de bens intermediários e intensiva de capital da Bahia. Essa especialização regional levou ao aumento da participação do PIB baiano no PIB nordestino, tornando a economia local resistente, em um primeiro momento, às baixas taxas de crescimento do país na década de 1980. A implantação da indústria automobilística na década seguinte condiz com a retórica marcada pela necessidade de diversificar a matriz industrial e foi amparada na política de atração de investimentos via incentivos fiscais, associada à provisão de infra-estrutura. Essa prática coincide com a crise de instituições federais de suporte ao desenvolvimento regional, especialmente da Sudene. A década de 1990 foi também marcada por certa desconcentração espacial da atividade econômica no Estado, com investimentos nas regiões Oeste, Baixo-Médio São Francisco, Sul e Extremo Sul, sem contar com a implantação pulverizada do setor de calçados no interior. Sendo um processo induzido por incentivos fiscais, restam dúvidas quanto à permanência de algumas das empresas pouco articuladas com a base econômica no estado após o prazo de fruição desses benefícios. Em resumo, diz o autor, se entre as décadas de 1950 e 1980 a industrialização ocorreu mediante a interferência direta do governo no setor produtivo, enfatizando uma base voltada para a produção de commodities intermediárias, a partir da dé16 cavalcanti.pmd 16 12/5/2008, 09:15 cada de 1990 as estratégias de desenvolvimento industrial privilegiaram a produção de bens finais e a interiorização da atividade econômica, ainda que à base de uma política de incentivos que caracterizou a “guerra fiscal” entre os estados. Como resultado, foram 50 anos de vigoroso processo de desenvolvimento, que podem ser resumidos como “a era da indústria”. Salvador, maio de 2008 Jorge Lins Freire Presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado da Bahia 17 cavalcanti.pmd 17 12/5/2008, 09:15 18 cavalcanti.pmd 18 12/5/2008, 09:15 Prefácio É um prazer escrever o prefácio desse importante estudo sobre a industrialização do estado da Bahia. Trata-se de um dos melhores estudos empíricos de uma economia regional, e espera-se que sirva de modelo para estudos similares não somente de outros estados brasileiros, mas também de regiões subnacionais nos países de maior extensão da América Latina. Luiz Ricardo Cavalcante começa com uma revisão da evolução de diferentes abordagens de estudos regionais, partindo de referências clássicas como Von Thünen e Weber, avançando para as contribuições de Myrdal e Hirschman e finalmente discutindo autores contemporâneos como Krugman. Isso é feito com tal lucidez que não somente ajuda a prover uma fundamentação teórica para a análise subseqüente da Bahia, mas serve também como uma excelente revisão da história do pensamento nessa área. Os capítulos empíricos seguintes abordam, com grande riqueza de informações estatísticas e institucionais, a evolução da economia baiana e as políticas que a influenciaram. Cavalcante mostra claramente o impacto das políticas nacionais na economia baiana e as possibilidades e limites da influência dos 19 cavalcanti.pmd 19 12/5/2008, 09:15 formuladores de política locais. Entretanto, aponta, de maneira convincente, para as perspectivas abertas para esses agentes, o que explicaria o processo de diversificação da economia baiana no período recente. Este trabalho servirá como uma referência clássica para qualquer um que se interesse em compreender a economia baiana, além de ser uma importante contribuição para o campo do desenvolvimento econômico regional. Werner Baer University of Illinois 20 cavalcanti.pmd 20 12/5/2008, 09:15 Capítulo 1 Introdução Ainda que uma parte representativa da literatura econômica não estabeleça uma distinção clara entre os processos de crescimento e desenvolvimento econômico, o fato é que cada vez mais tem se reconhecido que a simples evolução da renda per capita (usualmente associada ao crescimento econômico) não é capaz de explicitar a complexidade das mudanças estruturais que caracterizam o processo de desenvolvimento econômico. A distinção entre os dois conceitos ficou mais evidente na medida em que se constatava que os elevados níveis de renda per capita de muitos países produtores de petróleo não se faziam acompanhar por níveis igualmente elevados de desenvolvimento econômico e social. Foram constatações dessa natureza que motivaram a disseminação, a partir da década de 1990, de indicadores como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que resulta da ponderação dos indicadores de renda per capita (ajustada para refletir a paridade do poder de compra), longevidade (expressa pela esperança de vida ao nascer) e grau de maturidade educacional (representada pela taxa de alfabetização de adultos e pela taxa combinada de matrícula nos três níveis de ensino).1 1 Além disso, indicadores de distribuição de renda como o índice de Gini são também cada vez mais importantes nas análises de desenvolvimento econômico. 21 cavalcanti.pmd 21 12/5/2008, 09:15 O desenvolvimento econômico é, portanto, um processo complexo que envolve a interação entre um conjunto de variáveis, não sendo possível associá-lo a uma variável específica, como tem tentado a produção teórica em crescimento econômico de viés neoclássico.2 Na verdade, o encadeamento de eventos que podem contribuir para o desenvolvimento econômico tem assumido importância crescente. É eloqüente, por exemplo, o caso de países com níveis de educação relativamente elevados e que têm o seu desenvolvimento econômico obstruído pela falta de oportunidades de alocação do capital humano. A implicação imediata desse tipo de constatação é que a formulação de políticas públicas de desenvolvimento pressupõe o conhecimento da trajetória econômica e social e da própria história do país ou da região sobre a qual se pretende intervir. Com efeito, não há políticas públicas de aplicação universal, e somente a compreensão da trajetória seguida pela região em estudo pode fornecer elementos para a formulação de formas adequadas de intervenção. É com base nessa visão que o presente trabalho busca resgatar os movimentos associados às mudanças estruturais ocorridas na economia baiana ao longo da segunda metade do século XX, procurando enfatizar o processo de industrialização do estado. Essa proposição apóia-se no fato de que há uma carência de produção acadêmica que sistematize a evolução da economia baiana e suas mudanças estruturais no período recente. Isso não quer dizer que não haja produção bibliográfica sobre o tema. Porém, na maioria dos casos, ou o foco é específico sobre 2 Ver, por exemplo, Barro (1991), Levine e Renelt (1992), Mankiw, Romer e Weil (1992), Jones (2000) e Barro e Sala-i-Martin (2004). Diversos artigos dessa natureza enfatizam a associação entre o crescimento econômico e variáveis como capital humano (PRITCHETT, 2001), instituições (RODRIK; SUBRAMANIAN; TREBBI, 2002), abertura ao comércio internacional (ALESINA; SPOLADORE; WACZIARG, 2003) e intermediação financeira (LEVINE, 1997). 22 cavalcanti.pmd 22 12/5/2008, 09:15 um objeto determinado (análises setoriais, por exemplo)3 ou é muito abrangente, incluindo também aspectos sociais e históricos.4 As exceções são os trabalhos como os de Guerra e Gonzalez (1996; 2001), Teixeira e Guerra (2000) e Spinola (2003), no âmbito acadêmico,5 e a produção patrocinada pelo governo do estado com o propósito básico de subsidiar suas ações de planejamento.6 Contudo, esse conjunto relativamente vasto de publicações sobre o tema parece ressentir-se da falta de uma abordagem analítica que se apóie em elementos conceituais capazes de fornecer uma visão geral das mudanças estruturais que ocorreram na economia do estado ao longo da segunda metade do século XX. Marcada, em meados do século passado, por uma economia predominantemente agrário-exportadora e por um enigma quanto aos fatores que a faziam crescer a taxas menores do que o conjunto da economia brasileira, a Bahia transformou-se, ao longo dos últimos cinqüenta anos, em um estado fortemente industrializado. Há um razoável consenso entre os autores dos trabalhos mencionados no parágrafo anterior quanto ao fato de que, durante o período entre as décadas de 1950 e 1980, fixouse na Bahia uma estrutura industrial concentrada na produção de commodities intermediárias. Nesse sentido, é comum a afirmação de que o estado adotou uma estratégia de industrializa- 3 4 5 6 Análises dessa natureza são extensivamente utilizadas nos Capítulos 3 e 4 deste trabalho. Ver, por exemplo, Tavares (2000). Merecem destaque, ainda, os Estudos de administração pública na Bahia: programa de desenvolvimento (BOAVENTURA; MUNIZ, 1965), desenvolvidos sob o patrocínio da Ford Foundation, e que já trazem uma discussão sobre o papel dos incentivos fiscais e a das instituições de fomento no desenvolvimento econômico do estado. Algumas dessas publicações, que parecem situar-se na interseção entre o ambiente acadêmico e a burocracia do governo do estado, são discutidas ao longo deste trabalho. 23 cavalcanti.pmd 23 12/5/2008, 09:15 ção que se pretendia complementar à estrutura econômica instalada na região Sudeste, uma vez que a Bahia se colocava essencialmente como fornecedora de matérias-primas para a indústria de transformação predominantemente situada naquela região. Embora a opção assumida pelo estado tenha lhe garantido um desempenho superior àquele apresentado pelo conjunto da região Nordeste ao longo do período considerado, a estratégia de desenvolvimento adotada, que resultou em uma economia concentrada do ponto de vista setorial e espacial, começou a dar sinais de esgotamento tão logo se maturaram os investimentos do Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC), em meados da década de 1980. Na verdade, a Bahia parece ter sofrido mais intensamente os efeitos do colapso do modelo de desenvolvimento autárquico e o conseqüente desmantelamento das políticas de desenvolvimento regional que se observaram no Brasil ao longo daquela década. No contexto de abertura comercial e desregulamentação econômica que caracterizou o início da década de 1990 no Brasil, a estratégia de complementaridade com a economia da região Sudeste do país intensificou os sinais de esgotamento já evidenciados desde meados da década de 1980. A partir desse momento, começou a disseminar-se um discurso segundo o qual a Bahia precisaria adotar uma estratégia de desenvolvimento econômico que privilegiasse setores voltados para a produção de bens finais, buscando assim maiores níveis de integração a jusante da indústria de bens intermediários instalada no estado, e enfatizasse a desconcentração espacial da atividade econômica. Em face da crise das instituições federais de suporte ao desenvolvimento regional — especialmente da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) —, os instrumentos empregados na prática para a implantação das estratégias fixadas parecem ter estado, em grande medida, associados à concessão de benefícios de natureza 24 cavalcanti.pmd 24 12/5/2008, 09:15 fiscal pelos estados e, em menor escala, a incentivos financeiros e provisão de infra-estrutura. Esse não parece ter sido um movimento exclusivo da Bahia, uma vez que se estabeleceu no Brasil uma competição entre os estados para a atração de investimentos ao longo da década de 1990. A implantação na Bahia da primeira montadora de automóveis da região Nordeste é, sem dúvida, o principal efeito das políticas agressivas de atração de investimento adotadas pelo estado ao longo do período. Essa breve descrição da evolução da economia baiana ao longo da segunda metade do século XX, todavia, não deixa claros os fatores que estiveram por trás desses movimentos. O aprofundamento da discussão, especialmente quando apoiado em fundamentos teóricos que tratam do desenvolvimento econômico regional, pode esclarecer, por exemplo, os papéis efetivamente desempenhados pelos governos federal e estadual no processo. Além disso, a compreensão da trajetória seguida pela economia do estado pode revelar seus potenciais e suas debilidades para seu desenvolvimento futuro. São questões dessa natureza que este trabalho se propõe a responder ao longo dos próximos capítulos. Do ponto de vista metodológico, a pesquisa apoiou-se na sistematização de informações qualitativas obtidas por meio de entrevistas estruturadas e na coleta de dados secundários. Para as entrevistas, foram selecionados interlocutores diretamente ligados à formulação das estratégias de desenvolvimento do estado e à produção teórica sobre economia baiana, buscando garantir que as visões do setor público, do setor privado e da universidade fossem contempladas.7 A revisão bibliográfica buscou resgatar não somente a produção mais recente, mas também os textos que trazem a perspectiva dos autores de cada época. Esse método contribuiu para que se pudesse acompanhar a evolução da percepção dos autores sobre a economia do estado e reforça 7 Os interlocutores selecionados são citados nominalmente nos agradecimentos. 25 cavalcanti.pmd 25 12/5/2008, 09:15 o sentimento de que a história se faz não somente com uma sucessão de eventos, mas, sobretudo, com uma sucessão de idéias. O trabalho está estruturado em mais quatro capítulos além desta introdução. No Capítulo 2, alguns fundamentos teóricos básicos do desenvolvimento econômico de espaços subnacionais são discutidos. Após a proposição de uma sistematização para a produção teórica em economia regional e em desenvolvimento regional, discutem-se as teorias clássicas da localização, os fatores de aglomeração e as teorias do desenvolvimento regional e a produção recente em desenvolvimento regional. Em seguida, apresenta-se uma breve discussão teórica sobre competição fiscal, uma vez que, ao longo da década de 1990, diversos eventos ocorridos na economia baiana estiveram estreitamente associados a esse fenômeno. No terceiro capítulo, descrevem-se as bases da configuração atual da economia baiana a partir dos movimentos observados entre as décadas de 1950 e 1980. O capítulo é estruturado, inicialmente, de acordo com a ordem cronológica dos principais eventos que marcaram a economia baiana ao longo do período. Dessa forma, discute-se o chamado "enigma baiano", a implantação da indústria extrativa de petróleo, a criação do Centro Industrial de Aratu (CIA) e a implantação do Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC). Ainda no terceiro capítulo descreve-se a estrutura institucional de suporte aos movimentos de industrialização que se observaram no período e discutem-se as implicações dos movimentos descritos sobre a estrutura econômica do estado. Uma vez demonstrado que o modelo de industrialização que se adotou no estado, embora bem-sucedido na obtenção de taxas de crescimento superiores à média da região Nordeste, resultou em uma estrutura econômica concentrada setorialmente na produção de commodities intermediárias e espacialmente na Região Metropolitana de Salvador (RMS), discutem-se, no Capítulo 4, as propostas de políticas de atração de investimentos voltados para 26 cavalcanti.pmd 26 12/5/2008, 09:15 a produção de bens finais e a interiorização do desenvolvimento econômico no estado que marcaram a década de 1990. Em seguida, no mesmo capítulo, resgatam-se os elementos conceituais sobre competição fiscal apresentados na parte teórica deste trabalho com o objetivo de subsidiar a discussão do engajamento da Bahia no processo de atração de investimentos, que, em grande medida, circunscreveu a execução de sua estratégia de diversificação e interiorização da atividade econômica. Ainda no quarto capítulo discutem-se as implicações setoriais dos movimentos observados na década de 1990 e seus desdobramentos. Por fim, as principais conclusões do trabalho são apresentadas no Capítulo 5. 27 cavalcanti.pmd 27 12/5/2008, 09:15 28 cavalcanti.pmd 28 12/5/2008, 09:15 Capítulo 2 Fundamentos: desenvolvimento econômico regional O propósito deste capítulo é fornecer elementos teóricos que permitam a compreensão dos movimentos que marcaram a economia baiana ao longo da segunda metade do século XX. Tratase, na prática, de uma revisão teórica da interseção entre as disciplinas economia regional e desenvolvimento econômico e que se pode chamar de “desenvolvimento regional”. Um exame mais detido da produção teórica nessa área pode ajudar a entender o que determina as trajetórias de desenvolvimento de regiões subnacionais. É claro que, do ponto de vista metodológico, o requisito básico para uma revisão teórica sobre desenvolvimento regional é a definição do que se entende por “região”. Essa é uma questão complexa, uma vez que não há uma definição universalmente aceita. São várias as definições existentes, e dificilmente haverá um consenso a respeito, uma vez que economistas, geógrafos e cientistas políticos, por exemplo, tenderão a adotar padrões distintos de regionalização.8 8 A polêmica a respeito do conceito de região teria levado Higgins (1969 apud FERREIRA, 1989) a afirmar que “poucos esforços em toda a história dos empreendimentos científicos mostraram ser tão estéreis como a tentativa de encontrar uma definição universal aceitável de região. O fracasso reflete o simples fato de que nenhum conceito de região pode satisfazer, ao mesmo tempo, a geógrafos, cientistas políticos, economistas, antropólogos etc.”. 29 cavalcanti.pmd 29 12/5/2008, 09:15 A dificuldade na delimitação do objeto de estudo da economia regional e a ausência de um tratamento sistematizado das diversas abordagens possíveis sobre o tema representam, sem dúvida, um obstáculo às pesquisas que procuram estabelecer relações entre o desenvolvimento de regiões subnacionais e variáveis específicas. É sobre essa constatação que se apóia o presente capítulo, cujo objetivo é propor uma sistematização das principais correntes de pensamento orientadas para o tema. O propósito dessa sistematização é mais ambicioso do que o relato das diversas visões sobre o tema. Na verdade, buscam-se elementos conceituais que possam justificar a opção pela análise da trajetória de desenvolvimento dos espaços subnacionais e apoiar a análise dos capítulos subseqüentes. Além disso, as categorias de análise apresentadas ao longo deste capítulo podem subsidiar a análise da relação entre o desenvolvimento regional e as ações concretas de intervenção do poder público. Na prática, em que pese a controvérsia sobre o conceito de região, optou-se por identificar e sistematizar, no presente trabalho, a produção teórica voltada para a discussão de espaços territorialmente contíguos inseridos em espaços nacionais sobre os quais há possibilidades concretas de intervenção e de levantamento de informações individualizadas. Essa opção tende a direcionar a abordagem para espaços que, embora dispondo de reduzida margem de manobra em políticas de caráter tipicamente nacional (como as políticas monetária, cambial e tarifária), contam com instrumentos concretos para implementação de políticas de desenvolvimento regional cujos efeitos podem ser mensurados de forma objetiva.9 9 A definição aqui proposta coaduna-se não apenas com o conceito operacional de região proposto por Markusen (1987 apud Rolim, 1999, p. 2) como também com a crítica apresentada por Cano (1985, p. 23) à aplicação direta dos pressupostos da escola da Cepal “à problemática inter-regional de uma nação”. 30 cavalcanti.pmd 30 12/5/2008, 09:15 Ao longo das quatro primeiras seções deste capítulo, busca-se, portanto, sistematizar a produção teórica em economia regional e em desenvolvimento regional. Tendo em vista a competição por investimentos em que se envolveram diversas unidades da federação (sobretudo, mas não exclusivamente, ao longo da década de 1990), apresenta-se, ainda, uma breve discussão teórica sobre competição fiscal na Seção 2.5. Essa questão é especialmente importante para dar suporte à discussão posterior sobre competição fiscal em que a Bahia esteve envolvida. 2.1 A sistematização proposta Em que pesem as dificuldades metodológicas associadas à definição do objeto, parece ser razoavelmente consensual que, ao menos até a década de 1970, duas grandes correntes de pensamento sobre o tema podiam ser identificadas: 10 · O conjunto de teorias clássicas da localização que evoluiu de forma mais ou menos contínua da publicação de Der Isolierte Staat in Beziehung auf Landschaft und Nationalökonomie10 (von THÜNEN, 1826) à publicação de Location and space economy (ISARD, 1956); · O conjunto de teorias de desenvolvimento regional com ênfase nos fatores de aglomeração de inspiração marshalliana e keynesiana que floresceram a partir da década de 1950 e cujas principais referências que enfatizaram de alguma forma o desenvolvimento de espaços subnacionais são “Note sur la notion de pôle de croissance” (PERROUX, 1955), Economic theory and underdeveloped regions (MYRDAL, 1957) e The strategy of economic development (HIRSCHMAN, 1958). “O estado isolado em relação à economia regional e nacional” ou, simplesmente, O estado isolado. 31 cavalcanti.pmd 31 12/5/2008, 09:15 A partir da década de 1970, começaram a ser observados esforços para a incorporação de modelos e abordagens que pudessem dar conta dos novos padrões de acumulação baseados na automação integrada flexível e dos movimentos de abertura comercial e desregulamentação econômica, configurando aquilo que aqui se convencionou chamar de produção recente em desenvolvimento regional.11 A Figura 2.1 propõe um diagrama esquemático no qual se procura identificar a evolução das principais correntes de pensamento sobre o tema e a articulação de suas principais influências recebidas ao longo do tempo. No diagrama apresentado, são identificados os três grandes conjuntos de teorias e suas principais influências, indicadas por setas. Alguns autores e correntes teóricas que não tinham como foco central de sua análise a economia regional, mas que terminaram exercendo influências consideradas relevantes nos conjuntos de teorias indicados, foram incluídos e relacionados com as correntes teóricas através de setas contínuas (quando se julgou que a influência era direta e explícita) ou tracejadas (quando se julgou que, embora perceptível, a influência era indireta ou apenas implícita). Além disso, procurou-se dispor a produção teórica em ordem cronológica, tomando-se como base o ano da publicação do trabalho considerado de referência para o tema aqui em questão. Com base nessa segmentação, nas próximas seções discutem-se, respectivamente, as teorias clássicas da localização (Seção 2.2), os fatores de aglomeração e as teorias do desenvolvimento regional (Seção 2.3) e a produção recente em desenvolvimento regional (Seção 2.4). 11 Não foram incluídas na presente revisão as correntes teóricas mais autônomas do ponto de vista macroeconômico, como a escola da regulação. 32 cavalcanti.pmd 32 12/5/2008, 09:15 33 cavalcanti.pmd 33 12/5/2008, 09:15 Krugman (1991): Retornos crescentes Isard (1956): Localização e economia espacial Lösch (1940): A ordem espacial da economia Christaller (1933): Os lugares centrais Weber (1909): Teoria da localização de indústrias Von Thünen (1826): O Estado isolado Piore e Sabel (1984): Distritos industriais CEPAL Marschall (1890) GREMI: Ambientes inovadores Perroux (1955): Pólos de crescimento Teorias do desenvolvimento econômico Storper e Scott (1988): Organização industrial Myrdal (1957): Causação circular e cumulativa Keynes (1936): Teoria geral Fonte: Elaboração própria. Figura 2.1 - Principais teorias em economia regional e desenvolvimento regional 2000 1990 1980 1970 1960 1950 1940 1930 1920 1910 1900 1890 1830 1820 Dosi, Freeman et al. (1988): Evolucionistas Hirschman (1958): Efeitos para a frente e para trás Schumpeter (1911) 2.2 Teorias clássicas da localização O que aqui se define como “teorias clássicas da localização” é um conjunto de trabalhos que evoluiu de forma mais ou menos seqüenciada de von Thünen (1826) a Isard (1956). Esse conjunto de trabalhos é chamado de “teorias neoclássicas da localização”, “ortodoxias teóricas” (CRUZ, 2000, p. 55), “geometria germânica”12 ou simplesmente “eixo da teoria da localização” (ROLIM, 1999). Optou-se por intitulá-las genericamente de “teorias clássicas da localização” em função da visível influência do conceito de “livre mercado” empregado em suas formulações, mas evitou-se qualificá-las de “teorias neoclássicas”, uma vez que von Thünen, por exemplo, foi contemporâneo de David Ricardo e, portanto, anterior à produção que se convencionou chamar de “neoclássica”.13 “Clássicos” ou “neoclássicos”, os autores incluídos nessa seção procuram enfatizar, de uma forma geral, as decisões do ponto de vista da firma que, levando em conta o papel dos custos de transporte, procura determinar sua “localização ótima” ou a “alocação ótima” do território. Trata-se de uma abordagem apoiada em um paradigma funcionalista na qual as externalidades decorrentes da aglomeração de atividades em uma região determinada são, de uma forma geral, desprezadas. Além disso, ao admitirem estruturas de mercado pulverizadas, essas formulações teóricas terminam não conseguindo lidar com o trade-off entre ganhos de escala (que tenderiam a concentrar espacialmente as atividades de produção) e custos de transporte (que tenderiam a 12 13 A expressão, adotada por Krugman (1998, p. 38), refere-se ao grupo de autores aqui mencionados na “teoria clássica da localização”, exceto von Thünen. A tradição da “geometria germânica” mencionada pelo autor inicia-se, dessa forma, com Weber. Spinola (2003, p. 29) assinala, porém, que os trabalhos de Lösch (1954[1940]) e Isard (1956) não se apóiam na hipótese de concorrência perfeita, embora sejam mencionados, na literatura, como “clássicos”. 34 cavalcanti.pmd 34 12/5/2008, 09:15 dispersá-las). Na verdade, essas teorias poderiam ser incluídas na produção teórica em economia regional (na medida em que buscam tratar a questão espacial na teoria econômica), mas não na produção teórica em desenvolvimento regional, uma vez que não há uma preocupação com a evolução dos agregados regionais. 2.2.1 O estado isolado de von Thünen14 O primeiro tratamento formal dado à questão do espaço na literatura econômica parece ter sido aquele de von Thünen (1826) em seu O estado isolado,15 que seria mais tarde reconhecido como o primeiro tratamento sério dado à questão espacial na economia. Pelo pioneirismo e elegância do seu modelo, von Thünen tornou-se o “patrono dos geógrafos econômicos e dos economistas espaciais” (SILVA, 1976, p. 2), o “pai fundador da economia espacial”16 e “referência quase obrigatória nos primeiros livrostexto de economia regional e urbana” (CRUZ, 2000, p. 55). Trata-se de um modelo que, através de uma formulação matemática elegante, procurou determinar o ponto de maximi- 14 15 16 Em uma publicação intitulada Economic theory in retrospect, Mark Blaug (apud Krugman, 1998, p. 37) assinala que Carl Wilhelm Friedrich Launhardt (18321918), embora tendo nascido após a publicação de O estado isolado, teria sido não apenas o verdadeiro autor de boa parte daquilo que se atribui a von Thünen como também teria antecipado muito daquilo que mais tarde seria apresentado por Alfred Weber. No presente trabalho, entretanto, optou-se, assim como o fez Krugman (1998, p. 37), por utilizar referências aos nomes através dos quais as teorias vieram a tornar-se conhecidas. Trata-se, a rigor, do primeiro de três volumes da obra com o mesmo título, tendo sido os dois volumes seguintes publicados em 1850 e 1867, respectivamente (History of economic thought Website, 2001). A tradução em inglês, publicada em 1966, é intitulada von Thünen’s isolatad state. Não há registro de tradução em língua portuguesa da obra de von Thünen. Founding god of spatial economics, em uma expressão atribuída a Samuelson por Bröcker (s.d.). 35 cavalcanti.pmd 35 12/5/2008, 09:15 zação da renda da terra em diferentes localizações, em condições de mercado, levando em consideração os custos de transporte. O modelo procura mostrar que, fixadas as demais condições (inclusive de produtividade), no entorno de uma cidade onde estaria concentrado o mercado, a terra seria usada para plantar o produto com maiores custos de transporte. Na medida em que houvesse um afastamento da cidade, a terra seria usada para produtos cujos custos de transporte fossem menores, resultando em círculos concêntricos em torno da cidade dedicados ao plantio de produtos com custos de transporte inversamente proporcionais a sua distância da cidade. Todavia, embora formalmente elegante, o modelo de von Thünen apóia-se em um conjunto de premissas pouco aderentes ao mundo real, conforme se pode ver a seguir:17 17 · custos de produção uniformes decorrentes da hipótese de homogeneidade das condições naturais e tecnológicas; · fatores de produção (exclusive a terra) perfeitamente móveis e divisíveis, o que significa assumir rendimentos constantes; · comercialização dos produtos agrícolas limitados a um mercado consumidor puntiforme correspondente a uma cidade localizada no centro de um estado isolado de forma circular; · uniformidade da rede de transporte em todo o espaço geográfico; · custos de transporte proporcionais à distância do mercado central e constantes no tempo. Ver, a esse respeito, Silva (1976, p. 2). 36 cavalcanti.pmd 36 12/5/2008, 09:15 2.2.2 A teoria da localização industrial de Weber Em 1909, portanto mais de 80 anos após a publicação de O estado isolado, o economista alemão Alfred Weber publicou seu Über den Standort der Industrien,18 em que, usando uma formulação de caráter neoclássico, admite que a decisão quanto à localização de atividades industriais decorreria da ponderação de três fatores: o custo de transporte, o custo da mão-de-obra e um “fator local” decorrente das forças de aglomeração e desaglomeração (FERREIRA, 1989, p. 78). Com relação aos custos de transporte, Weber (1909) postula que as indústrias tendem a se instalar onde os custos de transporte de matérias-primas e produtos finais sejam mínimos. Essencialmente, assumem-se como dados a localização dos mercados consumidores (considerados perfeitamente elásticos), das fontes de matéria-prima (considerada infinitamente elástica a um preço dado) e da mão-de-obra (considerada também infinitamente elástica a uma taxa de salários dada) e os custos de transporte associados tanto à matéria-prima como ao produto final, procurando determinar a localização “ótima” para a atividade. Weber (1909) classifica as matérias-primas em dois tipos básicos: ubiqüidades, isto é, disponíveis em qualquer parte e não exercendo nenhuma influência na localização de atividades econômicas, e localizadas, isto é, aquelas disponíveis apenas em pontos determinados do espaço. As matérias-primas localizadas, por sua vez, podem ter o seu peso integralmente incorporado ao produto final ou perder peso após o processo de transformação. Havendo apenas um ponto no qual esteja disponível a matéria-prima, a localização seria definida assim em função dos custos de transporte: sendo o custo de transporte da matéria-prima superior ao custo de transporte do produto final, a atividade estaria 18 Sobre a localização de indústrias ou Teoria da localização de indústrias, publicado em inglês com o título de Theory of the location of industries. 37 cavalcanti.pmd 37 12/5/2008, 09:15 localizada o mais próximo possível da fonte de matéria-prima; caso contrário, a atividade tenderia a localizar-se o mais próximo possível do mercado. O problema assume contornos de geometria plana e mecânica vetorial quando se usam, por exemplo, duas matérias-primas M1 e M2, disponíveis apenas em dois pontos distintos do espaço, e um centro de consumo C localizado em um terceiro ponto distinto das fontes de M1 e M2. Nesse caso, conhecidos todos os parâmetros necessários, demonstrase que há um ponto P no espaço que corresponderia à localização “ótima” para a atividade.19 Ao assumir que a mão-de-obra não teria mobilidade espacial, Weber pondera que variações regionais no seu custo exercem também influência na decisão quanto à localização das empresas. Mantendo o caráter neoclássico da formulação, Weber admite que, se os menores custos de mão-de-obra compensarem os maiores custos de transporte, as indústrias tenderão a localizar-se nas regiões onde aquele custo for inferior. Além de sujeito às críticas tipicamente dirigidas às formulações de caráter neoclássico, o modelo de Weber foi severamente criticado por autores ligados à chamada “Nova Geografia Econômica” por sua incapacidade de lidar com os ganhos crescentes de escala (uma vez que a formulação apóia-se no pressuposto de concorrência perfeita). Essa percepção levou Fugita, Krugman e Venables (2000, p. 26) a afirmar secamente, no capítulo dedicado à discussão dos antecedentes da ciência regional, que a produção teórica de Weber e seus seguidores “plays no role in our discussion”.20 19 20 A rigor, essa demonstração foi feita por Georg Pick no apêndice matemático da obra Weber, conforme assinala Ferreira (1989, p. 81). “Não tem relevância em nossa discussão” (tradução livre). É preciso aqui um certo cuidado, pois, na visão desses autores, Christaller e Lösch não seriam seguidores diretos de Weber, e a crítica feita não é, portanto, dirigida a esses dois autores. 38 cavalcanti.pmd 38 12/5/2008, 09:15 2.2.3 Os lugares centrais de Christaller Em 1933, o geógrafo alemão Walter Christaller dá continuidade à produção teórica da escola clássica da localização ao publicar Die zentralen Örte in Süddeutschland.21 Essencialmente, Christaller (1933) procura compreender “as leis que determinam o número, tamanhos e distribuição das cidades” (SILVA, 1976, p. 9), entendidas como “lugares centrais” que distribuiriam bens e serviços para a região no seu entorno. Ao analisar a distribuição espacial das cidades no Sul da Alemanha, Christaller pôde constatar que elas eram aproximadamente eqüidistantes entre si. Isso o levou a definir, então, o conceito de limiar22 (nível mínimo de demanda que asseguraria a produção de um determinado bem ou serviço), a partir do qual se passa a obter rendimentos crescentes. Ao definir o alcance de um bem ou serviço,23 isto é, “a maior distância que a população dispersa se dispõe a percorrer objetivando adquirir um bem ou utilizar um serviço” (SILVA, 1976, p. 9), Christaller pôde então estabelecer uma espécie de hierarquia entre cidades, uma vez que quanto maiores o limiar e o alcance de um bem ou serviço menor será o número de cidades aptas a oferecê-los. Em resumo, Christaller admite que a produção de bens e serviços nas cidades resultaria de “uma escala de produção que alcança um ótimo representado por uma demanda dividida num espaço homogêneo” (CRUZ, 2000, p. 55). Ao aplicar seu método, Christaller conclui que haveria uma tendência à formação de arranjos hexagonais para a distribuição das cidades em uma determinada região. 21 22 23 “Os lugares centrais no Sul da Alemanha”. Não há registro de tradução em português desse livro, que, apenas em 1966, foi publicado em língua inglesa com o título Central places in Southern Germany. “Threshold value”. “The range of a good”. 39 cavalcanti.pmd 39 12/5/2008, 09:15 Adotando uma metodologia similar àquela utilizada por Christaller, o economista alemão Auguste Lösch publicou, em 1940, Die räumliche Ordnung der Wirtschaft,24 onde propõe uma hierarquia entre as áreas de mercado. De acordo com Böventer (1963 apud SILVA, 1976, p. 11), [...] enquanto Christaller partia da cidade de nível hierárquico máximo para logo passar aos bens com áreas de mercado menores, Lösch começa pelas áreas menores e induz sucessivamente áreas de mercado maiores. Assim sendo, no sistema de Lösch obtém-se um número maior de redes, cujos hexágonos giram com respeito à posição do hexágono de tamanho mínimo. Embora a teoria dos lugares centrais venha servindo de inspiração para uma série de trabalhos recentes que procuram empregar modernas ferramentas de processamento de dados — como redes neurais, por exemplo — à compreensão do arranjo espacial das cidades, os pressupostos básicos empregados por von Thünen e Weber são igualmente utilizados tanto por Christaller como por Lösch. Conforme destaca Cruz (2000, p. 56), [...] a idéia descritiva predominante nessa teoria é a de que as cidades centrais constituem nódulos de uma grande rede de cidades e uma “mão invisível” fará com que centros mais importantes sejam hierarquicamente superiores. Ao contestar um modo de análise que despreza a intervenção do Estado — que estaria fora do âmbito da concorrência de mercado —, o mesmo autor argumenta que a hierarquia espacial seria uma resultante e não uma causa (como colocado na teoria dos lugares centrais). Além disso, Fugita, Krugman e Venables (2000, p. 27) qualificam a teoria dos lugares centrais 24 “A ordem espacial da economia”. 40 cavalcanti.pmd 40 12/5/2008, 09:15 “na melhor das hipóteses uma descrição, mas não uma explicação, da estrutura espacial da economia”.25 De qualquer forma, não se deve perder de vista que [...] a teoria dos lugares centrais foi bastante utilizada pelos geógrafos e pelos organismos técnicos especializados como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em projetos de regionalização (SPINOLA, 2003, p. 36). 2.2.4 A teoria da localização e economia espacial de Isard É curioso notar que, até a publicação de Location and space economy, em 1956, pelo economista norte-americano Walter Isard, toda a produção no âmbito das teorias da localização havia sido publicada em alemão, e as traduções em inglês simplesmente não existiam. Krugman (1998, p. 41) assinala que essa seria uma barreira para sua incorporação ao mainstream da tradição anglo-saxônica, e Fugita, Krugman e Venables (2000, p. 25) destacam que essa produção somente se tornou disponível para o “English-speaking world”26 através do trabalho seminal de Walter Isard (1956). Ao propor uma espécie de síntese em língua inglesa das teorias da escola clássica da localização, Isard, percebendo a necessidade de incorporação de novas disciplinas à análise, termina propondo uma linha de pensamento que se convencionou chamar de regional science. Uma vez constituída, diversos autores dedicaram-se a tentativas de confrontar aquilo que poderia ter sido previsto através dessas teorias e a propor novos fatores de localização, objetivando aumentar o seu grau de “adequação” à realidade. Esse é, por exemplo, o objetivo do trabalho 25 26 Tradução livre do original em inglês. “O mundo que fala inglês”. 41 cavalcanti.pmd 41 12/5/2008, 09:15 de Azzoni (1982), que busca evidências empíricas da teoria da localização e procura destacar que, embora o processo não seja tão “racional” quanto se poderia supor à luz dessas teorias, os fatores clássicos de localização não podem ser descartados na compreensão nas decisões empresariais. 2.3 Fatores de aglomeração e teorias de desenvolvimento regional A partir da década de 1950, começam a ser desenvolvidas teorias de desenvolvimento regional que passam a enfatizar algum tipo de mecanismo dinâmico de auto-reforço resultante de externalidades provenientes da aglomeração industrial. É difícil obter um registro definitivo a respeito do primeiro autor que teria explicitado a questão da aglomeração de atividades como um fator de localização de novas atividades e, portanto, de crescimento. Em que pese essa dificuldade, a maioria dos autores tende a mencionar as idéias de Alfred Marshall (1890) como pioneiras nesses aspectos. A esse respeito, Krugman (1998) afirma que A idéia que a aglomeração de produtores27 em uma localização particular traz vantagens, e que estas vantagens, por sua vez, explicam tal aglomeração é antiga. Eu não sei quem primeiro a formulou, mas o economista que mais a empregou foi ninguém mais do que Alfred Marshall (KRUGMAN, 1998, p. 49-50). Essencialmente, Marshall (1890) trata, além dos ganhos de escala internos à firma, a questão das externalidades, conforme demonstra o trecho a seguir, extraído de seu Princípios de economia: 27 No original em inglês, clustering of producers. A citação foi livremente traduzida do original em inglês. 42 cavalcanti.pmd 42 12/5/2008, 09:15 Muitas das economias na utilização de mão-de-obra e maquinaria especializada não dependem do tamanho das fábricas individuais. Algumas dependem do mesmo gênero de fábricas na vizinhança; enquanto outras, especialmente relacionadas com o adiantamento da ciência e o progresso das artes, dependem principalmente do volume global de produção em todo o mundo civilizado. (MARSHALL, 1982 [1890], p. 229). Portanto, ao tratar a questão, Marshall (1890) levou em consideração, conforme assinala Krugman (1998, p. 50), duas externalidades pecuniárias e uma externalidade tecnológica listadas abaixo: · a possibilidade oferecida por um grande mercado local de viabilizar a existência de fornecedores de insumos com eficiência de escala; · as vantagens decorrentes de uma oferta abundante de mão-de-obra; e · a troca de informações que ocorre quando empresas do mesmo setor aglomeram-se. Sobretudo a partir da década de 1950, diversos autores dedicaram-se a tentar compreender o fenômeno do crescimento regional utilizando conceitos de alguma forma relacionados com a questão da aglomeração.28 Em que pese o relevante papel desempenhado pela aglomeração nos “pólos de crescimento” de Perroux (1955), na “causação circular e cumulativa” de Myrdal (1957) e nos “efeitos para frente e para trás” de Hirschman (1958), é curioso observar que esses autores não foram, ao menos do ponto de vista formal, diretamente influenciados pelo trabalho de 28 Krugman (1998, p. 26), ao citar produções teóricas com abordagens similares já na década de vinte, assinala que os livros aqui mencionados de Myrdal (1957) e Hirschman (1958) “mark the end, not the beginning, of high development theory” (“marcam o final, e não o início, da avançada teoria do desenvolvimento”). 43 cavalcanti.pmd 43 12/5/2008, 09:15 Marshall (1890), sendo muito mais presentes e facilmente identificáveis nessas obras as influências exercidas por Keynes e por Schumpeter, esse último, sobretudo, no caso de Perroux (1955). Isso explica porque na Figura 2.1 a ligação entre Marshall e os autores que trabalharam com o conceito de aglomeração na década de 1950 é indicada por meio de uma linha tracejada, enquanto Keynes está ligado a esses autores por uma linha cheia. Os parágrafos seguintes apresentam, com maior grau de detalhe, as principais idéias desses autores a respeito do desenvolvimento regional. 2.3.1 Os pólos de crescimento de Perroux Embora os fatores de aglomeração de inspiração marshalliana desempenhem um importante papel na elaboração do conceito de pólo de crescimento proposto pelo economista francês François Perroux, é sem dúvida de natureza schumpeteriana sua principal influência nessa questão. Com efeito, a crítica de Perroux ao “fluxo circular da vida econômica enquanto condicionado por circunstâncias dadas”29 de inspiração walrasiana é visivelmente influenciada pela crítica originalmente apresentada por Schumpeter (1911).30 A formulação da crítica ao equilíbrio geral walrasiano teria levado Perroux (1977 [1955], p. 146) a afirmar que “nenhum crescimento observável de uma economia exprime-se pelo modelo que se acaba de caracterizar”. Partindo das proposições apresentadas por Schumpeter (1911) a respeito do papel desempenhado pelas inovações na di29 30 A expressão intitula o primeiro capítulo da Teoria do desenvolvimento econômico de Schumpeter (1911). Perroux foi o responsável pela introdução à versão francesa da Teoria do desenvolvimento econômico, editada em 1935. É essa forte influência que justifica uma linha contínua ligando Schumpeter aos autores ligados às teorias discutidas nesta seção. 44 cavalcanti.pmd 44 12/5/2008, 09:15 nâmica capitalista,31 Perroux propõe-se a explorar as relações que se estabeleceriam entre indústrias que ele denominou motrizes — que têm a propriedade de aumentar as vendas e as compras de serviços de outras — e movidas — que têm suas vendas aumentadas em função das indústrias motrizes —, argumentando que o crescimento não ocorre de forma homogênea no espaço, mas “manifesta-se em pontos ou pólos de crescimento, com intensidades variáveis, expande-se por diversos canais e com efeitos finais variáveis sobre toda a economia” PERROUX (1977 [1955], p. 146). Dessa forma, Perroux argumenta que a indústria motriz, além de aportar sua contribuição própria ao crescimento global do produto, também induz em seu ambiente um crescimento que pode ser atribuído às relações que estabelece com as indústrias movidas. Perroux (1977 [1955], p.154) procura demonstrar então que um pólo industrial complexo seria capaz de modificar seu “meio geográfico imediato” e mesmo “a estrutura inteira da economia nacional em que estiver situado”, uma vez que aí se registram “efeitos de intensificação das atividades econômicas” devidos ao surgimento e encadeamento de novas necessidades coletivas. Quando se soma aos argumentos apresentados no parágrafo anterior a constatação de Perroux (1977 [1955], p. 152) de que o aumento das vendas das indústrias motrizes (e, portanto, o estabelecimento dos pólos de crescimento) pode, inclusive, resultar de “um estímulo do Estado sob forma de subvenção, por exemplo, no caso de haver hesitação ou lentidão por parte das indústrias motrizes”, estão dadas as condições para a re31 Convém ressaltar que Perroux (1955) estende sua análise para além das proposições originais de Schumpeter (1911) ao considerar, ao lado dos empresários privados (que seriam, sob seu ponto de vista, o foco da análise de Schumpeter), os “poderes públicos e suas iniciativas [...] bem como as pequenas inovações de adaptação” (PERROUX, 1977 [1955], p. 151). Sem a pretensão de discutir aqui se esses aspectos estariam ou não contemplados na Teoria do desenvolvimento econômico, a observação é válida pela ênfase dada por Perroux ao papel do governo e das inovações incrementais no desenvolvimento econômico. 45 cavalcanti.pmd 45 12/5/2008, 09:15 constituição de uma grande parte das políticas de desenvolvimento local implementadas em países desenvolvidos e em desenvolvimento a partir da década de 1950, contenham elas ou não referências diretas às idéias de Perroux. Conforme assinala Miyoshi (1997), pelo menos 28 países chegaram a implementar ou discutir seriamente estratégias de desenvolvimento regional baseadas nos pólos de crescimento de Perroux. Entre esses países, estão incluídos os Estados Unidos, a França, a Itália, a Rússia — então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas — e o Brasil. Richardson e Richardson (1975, p. 163) chegam a afirmar que, no início da década de 1970, “a confiança na análise de pólos de desenvolvimento foi uma característica dominante do planejamento regional operacional tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento”. Em que pese o fato de terem subsidiado a formulação de políticas de desenvolvimento regional em países desenvolvidos e em desenvolvimento até pelo menos o início da década de 1970, os pólos de crescimento de Perroux passaram a ser severamente criticados já naquele momento. De um modo geral, as críticas baseavam-se no fato de que as experiências de desenvolvimento regional fundamentadas nesse conceito haviam, em sua maioria, falhado, pois as indústrias motrizes implantadas não teriam sido capazes de difundir inovações tecnológicas para as indústrias movidas, tendo sido gerada, em contrapartida, uma maior concentração regional das atividades econômicas nos países que a adotaram. Cruz (2000, p. 57) afirma que vários estudos (sem, entretanto, citá-los) atestariam resultados decepcionantes da adoção de políticas de desenvolvimento industrial e regional baseadas nos pólos de crescimento. Com relação a críticas dessa natureza, o próprio Perroux (1988), em um trabalho publicado postumamente, chegou a defender-se ao levantar a seguinte questão: Sabe-se de algum exemplo, em qualquer lugar da terra, de crescimento e desenvolvimento onde estes processos ocorreram 46 cavalcanti.pmd 46 12/5/2008, 09:15 sem a presença e os efeitos de centros de desenvolvimento, territorializados ou não? (PERROUX, 1988). A questão, entretanto, transcende a simples discussão a respeito dos resultados empíricos da implementação de políticas regionais baseadas nos pólos de crescimento, uma vez que é virtualmente impossível isolar seus efeitos de outras variáveis, e que não parece haver uma unidade metodológica nos conceitos empregados.32 Uma explicação talvez mais simples e coerente do declínio dos pólos de crescimento é aquela que leva em conta o fato de que esses teriam sido concebidos em um ambiente onde a lógica de produção tinha uma base essencialmente fordista. As transformações que começam a ser percebidas na década de 1970 implicariam, portanto, uma impossibilidade de aplicação direta de conceitos formulados para um outro contexto. Conforme afirma Storper (1994), Por volta do início dos anos 70 dissolveram-se, no essencial, as condições que haviam permitido a muitos dos estados nacionais dos países em desenvolvimento se engajar no planejamento econômico nacional, com sua variante regional de pólos de crescimento (STORPER, 1994, p. 25). 2.3.2 A causação circular e cumulativa de Myrdal Embora a natureza circular do problema do crescimento nos países menos desenvolvidos seja familiar aos economistas pelo menos desde a década de 1920,33 o conceito de “causação circular e cumulativa” é freqüentemente atribuído ao sueco Gunnar Myrdal 32 33 Miyoshi (1997) cita cinco diferentes conceitos usados na literatura para definir os pólos de crescimento, demonstrando a grande dificuldade de analisar apenas aqueles correspondentes às idéias originais de Perroux. Krugman (1998, p. 26) assinala que as idéias de causação circular já teriam sido essencialmente tratadas por Young (1928). 47 cavalcanti.pmd 47 12/5/2008, 09:15 (1957). Adotando inclusive uma abordagem subnacional, Myrdal (1957) sustenta, com base em argumentos que vão de referências a Nurkse e a um trabalho desenvolvido pelo próprio Myrdal sobre a questão racial nos Estados Unidos até referências ao folclore popular e à Bíblia, que haveria uma inter-relação causal e circular nos fatores ligados à questão do desenvolvimento. A hipótese da causação circular e cumulativa proposta por Myrdal (1960 [1957], p. 39) teria “validade em todo o campo das relações sociais”. Quando considera os efeitos do processo de causação circular e cumulativa como explicativos não apenas da heterogeneidade observada no desenvolvimento de países, mas também das desigualdades regionais dentro de um país, Myrdal (1960 [1957], p. 42) argumenta que “o jogo das forças de mercado opera no sentido da desigualdade”, o que o coloca na contramão das teorias neoclássicas, de acordo com as quais haveria um processo natural de convergência de renda inter-regional nos países. É com base nessa constatação que Myrdal (1957) defende a intervenção do Estado para conter as forças de mercado, que, de outra forma, tenderiam a acentuar os níveis de desigualdade regional. Convém observar que Myrdal (1960 [1957], p. 35) faz referência a fatores de natureza não-econômica, tais como a qualidade dos fatores de produção e a eficiência dos processos produtivos como determinantes do desenvolvimento. Assim, quando Myrdal (1960 [1957], p. 43) se refere à qualificação da mãode-obra (ou, em suas palavras, à “população obreira treinada nos vários ofícios”), à comunicação, à consciência de crescimento e vizinhança e ao espírito empreendedor, termina lidando com fatores que somente muito mais tarde ganhariam destaque na produção teórica em economia regional. 48 cavalcanti.pmd 48 12/5/2008, 09:15 2.3.3 Os efeitos para frente e para trás de Hirschman Adotando uma linha de pensamento claramente identificada com as questões relativas à aglomeração, Hirschman (1961 [1958], p.18) argumenta que [...] os recursos e circunstâncias cuja existência se demonstrava necessária ao desenvolvimento econômico não são nem escassos nem tão difíceis de obter desde que o desenvolvimento econômico primeiro se manifeste. Dessa forma, o desenvolvimento econômico seria dificultado “por uma série de círculos viciosos entrelaçados” (HIRSCHMAN, 1961 [1958]). Assim, esse autor propõe que se procurem “pressões e processos de incentivo que farão eclodir e mobilizar o maior número possível de recursos escassos, tais como capital e atividade empreendedora” (HIRSCHMAN, 1961 [1958]), sendo esse o argumento básico para sua defesa dos planos de desenvolvimento. Nessa mesma publicação, Hirschman (1961 [1958], p. 23) adota uma visão explicitamente intervencionista, ao argumentar que os países retardatários são forçados a um processo de crescimento menos espontâneo e mais refletido do que o ocorrido nos países onde a expansão primeiramente se verificou. Nesse ponto, Hirschman (1961 [1958], p. 24) critica a visão dos pré-requisitos de Gerschenkron, segundo a qual, nos países atrasados, em um dado momento, os benefícios de vencer o atraso tornam-se maiores do que os custos para vencê-lo. Atribuindo uma maior importância às funções de planejamento, Hirschman (1961 [1958], p.24) afirma que essa visão levaria incorretamente à conclusão de que o desenvolvimento ocorreria de forma mais ou menos espontânea nos países retardatários. No contexto desse arcabouço teórico, Hirschman (1958) discute a questão regional usando os conceitos de efeitos para frente (forward linkages) e para trás (backward linkages). 49 cavalcanti.pmd 49 12/5/2008, 09:15 Krugman (1998, p. 17) assinala que ambos os conceitos (especialmente o de efeitos para trás) tratam da questão das economias de escala necessárias à viabilização de empreendimentos em regiões determinadas. Dessa maneira, os efeitos para trás são a forma encontrada por Hirschman (1958) para expressar as externalidades decorrentes da implantação de indústrias que, ao aumentarem a demanda de insumos no setor a montante, viabilizariam suas escalas mínimas de produção na região. Os efeitos para frente, por sua vez, resultariam da oferta de insumos que tornaria viáveis os setores que se posicionassem a jusante. Embora a mediação do mercado nesse processo esteja evidente, é importante destacar que, ao longo de toda a Estratégia do desenvolvimento econômico, Hirschman (1958) destaca também os aspectos não pecuniários desses efeitos. Isto fica evidente, por exemplo, quando Hirchman (1961 [1958], p. 27-34) procura explicações de natureza “antropológica” para o desenvolvimento, ou quando, ao discutir Schumpeter e a questão do empreendedor, afirma que a capacidade empreendedora envolveria, inclusive, a competência para construir acordos entre as partes interessadas (HIRSCHMAN, 1961 [1958], p.36). 2.4 Produção recente em desenvolvimento regional A sistematização da produção recente em desenvolvimento regional é dificultada pelo fato de se tratar de um material bastante novo e, em certo sentido, ainda em construção. Ainda assim, dois grandes blocos podem ser facilmente identificados: de um lado, os autores que empregam métodos menos formais e que procuram, de alguma maneira, incorporar os fenômenos de reestruturação produtiva e aceleração da divisão internacional; de outro lado, os autores ligados à chamada “nova geografia econômica” que buscam abordar os conceitos de aglomeração e custos de transportes através de modelos matemáticos. Com 50 cavalcanti.pmd 50 12/5/2008, 09:15 relação ao primeiro bloco, podem-se apontar as seguintes características gerais:34 · Uma grande ênfase dada às instituições em geral e às externalidades (inclusive tecnológicas), em particular, com referências explícitas ao trabalho de Marshall (1890). Nesse sentido, as abordagens recentes contrapõem-se às teorias de desenvolvimento regional com ênfase nos fatores de aglomeração discutidas na Seção 2.3, onde a influência de Marshall (1890), na maioria dos casos, pode apenas ser inferida. · Uma forte influência do pensamento de Schumpeter (1911; 1942) e da corrente evolucionista neo-schumpeteriana, sobretudo nos esforços de compreensão dos impactos dos processos de inovação tecnológica e aprendizado no desenvolvimento regional. · Uma ênfase nas relações não comerciais estabelecidas no âmbito das redes e aglomerações, levando em conta aspectos de organização industrial e custos de transação. Entretanto, é fundamental destacar, antes mesmo de se apresentar uma discussão mais detalhada dos trabalhos dos principais autores ligados à produção teórica recente em desenvolvimento regional, a dificuldade de se extrair desses trabalhos proposições de políticas públicas de intervenção voltadas para a promoção do desenvolvimento regional. De fato, ao proporem um tratamento que vai além da decisão puramente microeconômica, incorporando não apenas as externalidades de natureza pecuniária mas também os chamados “ativos relacionais”, temse a impressão de que os requisitos necessários para a promoção do desenvolvimento de determinadas regiões constituiriam uma lista interminável, sendo praticamente impossível a uma única 34 Ver a Figura 2.1 para a indicação das principais influências teóricas (diretas e indiretas) sobre a produção teórica recente em desenvolvimento regional. 51 cavalcanti.pmd 51 12/5/2008, 09:15 região reuni-los a um só tempo. Esse é, possivelmente, o principal contraponto prático entre as teorias que se apóiam no conceito de aglomeração e as teorias mais recentes. Enquanto as primeiras claramente preconizavam a criação de pólos de crescimento como forma de se iniciar um processo virtuoso de desenvolvimento de regiões específicas, as segundas limitam-se, na maioria dos casos, a descrições anedóticas de experiências bemsucedidas que, ao relatarem realidades cuja reprodução em outros espaços é praticamente impossível, pouco acrescentam à prática de planejamento econômico governamental. Na prática, essas abordagens ressentem-se ainda da falta de análises que possam apontar de forma concreta os instrumentos que poderiam ser utilizados pelo setor público para a promoção do desenvolvimento. Selecionar os principais autores e correntes de pensamento de uma produção teórica que está sendo escrita praticamente ao mesmo tempo em que se procura fazer esse esforço de sistematização só pode ser uma tarefa prospectiva. Apesar dessa restrição, alguns autores propuseram-se a realizar esse trabalho, tendo chegado aos seguintes resultados: · Storper (1997, p. 4) identifica três “escolas” principais: (i) a “institucionalista”, que trata dos distritos industriais, que retomam o conceito de distrito marshalliano e incorporam evidências empíricas observadas sobretudo na região da “terceira Itália”; (ii) a escola da organização industrial e dos custos de transação, cujos principais autores são aqueles ligados à “Escola Californiana das Economias Externas” (STORPER, 1997, p. 9); e (iii) a linha que privilegia o papel da mudança técnica e do aprendizado, influenciada pela corrente neo-schumpeteriana e que inclui também as abordagens dos “ambientes inovadores”. · Amaral Filho (1999, p. 8 et seq.) identifica três novas estratégias de desenvolvimento regional ou local: (i) 52 cavalcanti.pmd 52 12/5/2008, 09:15 distritos industriais; (ii) ambientes inovadores; e (iii) clusters, que são apresentados como uma espécie de “síntese” dos dois conceitos anteriores; · Boisier ([199-]), propondo-se a identificar a linguagem emergente em desenvolvimento territorial, discute treze novos conceitos, entre os quais os de learning regions, aprendizagem coletiva, ambientes inovadores, desenvolvimento local, desenvolvimento endógeno (estes dois últimos com um tratamento mais detalhado) e clusters. Optou-se aqui por examinar, nos parágrafos seguintes, a produção associada aos conceitos de “distritos industriais”, “ambientes inovadores” e a produção ligada à “organização industrial e custos de transação”, por serem aqueles mais freqüentemente empregados. Incluiu-se, ainda, uma breve discussão sobre a produção que procura dar maior formalismo às questões associadas à aglomeração e aos custos de transporte. À parte a produção teórica associada à “nova geografia econômica”, o denominador comum da produção recente em desenvolvimento regional, conforme se verá na descrição detalhada de cada um dos escolhidos, parece ser a incorporação de aspectos tecnológicos e institucionais em seus modelos conceituais. 2.4.1 Os distritos industriais De todas as correntes teóricas incluídas na produção recente em economia regional, a discussão sobre “distritos industriais” é aquela na qual a influência de Marshall é mais claramente identificável. Os distritos industriais podem ser definidos como sistemas produtivos locais caracterizados por um grande número de firmas que são envolvidas em vários estágios e em várias vias na produção de um bem homogêneo, aproximando-se, assim, do conceito que ficou conhecido como distrito marshalliano (AMARAL FILHO, 1999, p. 10). Entre as várias características 53 cavalcanti.pmd 53 12/5/2008, 09:15 que se poderiam apontar na descrição dos distritos industriais — muitas delas sujeitas a controvérsias — é a existência de relações não pecuniárias entre empresas do mesmo setor aquela que se destaca. Assim, a maior parte dos autores que se dedicam à questão procura nos aspectos históricos e sociais a explicação para as sinergias observadas entre as empresas desses distritos, embora os spillovers tecnológicos não pareçam constituir-se no ponto central de sua análise. Uma parte significativa da literatura sobre o tema dedicase à análise do desempenho de regiões cujas taxas de crescimento de emprego e renda mantiveram-se, de forma sustentável no tempo, acima das taxas médias nacionais. Esse é caso de algumas regiões da Itália que caracterizam a chamada “vertente italiana” dos distritos marshallianos. Markusen (1996) procura ampliar a discussão sobre distritos industriais ao propor uma tipologia cujos modelos esquemáticos estão indicados na Figura 2.2 a seguir. Dessa forma, Markusen (1996), além dos distritos marshallianos e de sua vertente italiana, inclui também os distritos centro-radiais (isto é, aqueles que se desenvolvem em torno de uma espécie de empresa que desempenharia o papel de âncora) e os distritos “plataforma satélite” (que resultam da aglutinação, em um espaço geográfico determinado, de empresas cujos centros de decisão são mantidos em suas regiões de origem). Além desses, Markusen (1996) discute ainda os distritos a que chama de “suportados pelo Estado”, isto é, que se desenvolvem em torno de ações específicas do poder público como, por exemplo, centros de pesquisa militar ou aeroespacial. 54 cavalcanti.pmd 54 12/5/2008, 09:15 55 55 Fornecedores 12/5/2008, 09:15 Fonte: Markusen (1996, p. 297). Figura 2.2: Tipologia de distritos industriais Distrito Plataforma Satélite Distrito Industrial Marshalliano Clientes cavalcanti.pmd Planta / filial Empresa de grande porte Empresa local Legenda: Distrito Centro-Radial 2.4.2 Os ambientes inovadores O conceito de “ambientes inovadores” tem seu desenvolvimento estreitamente atrelado ao Groupe de Recherche Européen sur les Mileux Innovateurs (GREMI),35 do qual fazem parte, conforme assinala Boisier ([199-], p. 5) e Amaral Filho (1999, p. 10), autores franceses, italianos e suíços como Aydalot, Camagni, Maillat, Perrin, Crevoisier e outros.36 De uma forma geral, esses autores preocupam-se com as externalidades de natureza tecnológica que decorreriam dos vínculos de cooperação e interdependência estabelecidos entre as empresas através da formação de redes de inovação. Nos termos de Moulaert e Sekia (2003, p. 291), “in the theory of the milieu innovateur developed by the GREMI, the firm is not an isolated innovative agent, but part of a milieu with an innovative capacity”.37 Por essa razão, pode-se afirmar, a exemplo do que fez Amaral Filho (1999, p. 11), que, na abordagem dos autores ligados a essa corrente, as inovações desempenham não apenas um papel determinante, mas também gozam de maior autonomia em relação à formulação presente na discussão sobre os distritos industriais e sua vertente italiana. Fica evidente a preocupação dessa abordagem com os processos de desintegração vertical que, ao facultarem a manutenção dos núcleos estratégicos das empresas em regiões distintas daquelas dedicadas à produção, impediram, em algumas experiências de implantação de “pólos de crescimento”, que o desenvolvimento pudesse ser assimilado de forma endógena nas regiões 35 36 37 Grupo Europeu de Pesquisa sobre os Ambientes Inovadores. Amaral Filho (1999, p. 10) assinala que vários autores que se dedicaram ao estudo dos distritos industriais participam também da agenda de pesquisa do GREMI. “[...] na teoria do ambiente inovador desenvolvida pelo GREMI, a firma não é um agente inovador isolado, mas parte de um ambiente dotado de capacidade de inovação” (Tradução livre). 56 cavalcanti.pmd 56 12/5/2008, 09:15 onde se instalaram “indústrias motrizes”. Em que pese esse esforço, Storper (1997, p. 17) afirma que [...] the GREMI group, however, has never been able to identify the economic logic by which milieux foster innovation. There is a circularity: innovation occurs because of a milieu, and a milieu is what exists in regions where there is innovation.38 2.4.3 Organização industrial e custos de transação Estreitamente vinculada aos trabalhos desenvolvidos pela chamada “Escola Californiana das Economias Externas” (STORPER, 1997, p. 9), essa abordagem privilegia a corrente teórica da organização industrial e dos custos de transação na compreensão dos fenômenos associados ao desenvolvimento regional. Apoiados no conceito de “janelas de oportunidades” formulado pela corrente neo-schumepetriana, os autores desse grupo assinalam que a competição e o processo de inovação abrem “janelas locacionais” para as regiões. Buscando identificar os componentes principais das especificidades que garantiam o sucesso na promoção do desenvolvimento endógeno, Storper (1994, p. 26) assinala a existências de dois tipos de externalidades: 38 · externalidades hard, que correspondem àquelas relativas à tecnologia de produção e às relações insumo-produto; · externalidades soft, que contemplam as interdependências não-comerciais da economia local. “[...] o GREMI, contudo, jamais foi capaz de identificar a lógica econômica através da qual os ambientes estimulam a inovação. Há uma circularidade: a inovação ocorre por causa do ambiente, e o ambiente é o que existe em regiões onde há inovação” (Tradução livre). 57 cavalcanti.pmd 57 12/5/2008, 09:15 Os “ativos relacionais” presentes nas externalidades soft propostas por Storper (1994) não parecem ser essencialmente diferentes daqueles apresentados na análise dos “distritos industriais”. Por sua vez, as externalidades hard são aquelas que receberam ênfase nas proposições de autores como Perroux (1955). A análise de Storper (1994), entretanto, propõe-se a ir além ao considerar o aspecto dinâmico desses dois tipos de especificidades. Embora apresentem trabalhos que se propõem mais abrangentes, os autores associados à corrente aqui denominada de “organização industrial” não parecem ter ainda conseguido obter sucesso na proposição de uma agenda que possa dar apoio à formulação de políticas de desenvolvimento regional. Nas palavras do próprio Storper (1994, p. 59), “a agenda proposta aqui pode soar utópica, senão impossível”. De fato, as dificuldades não são pequenas: ao atribuírem aos “ativos relacionais” um papel-chave na promoção do desenvolvimento endógeno, os autores não conseguem ultrapassar a barreira da descrição de experiências bem e malsucedidas. Isto quer dizer que esses autores não conseguem propor ações de políticas públicas capazes de atuar sobre as externalidades soft de modo a utilizálas como um instrumento de promoção do desenvolvimento. 2.4.4 Nova geografia econômica Em oposição às abordagens ligadas aos conceitos de “distritos industriais” e “ambientes inovadores” e à produção teórica ligada à “organização industrial e custos de transação”, que adotam uma perspectiva predominantemente não-formal, a chamada “nova geografia econômica” emprega um tratamento matemático nas questões relativas ao desenvolvimento regional. Embora elogiando seu grau de formalização, Krugman (1998, p. 41) argumenta que as teorias clássicas da localização, por não lidarem com a questão da estrutura de mercado e dos retornos 58 cavalcanti.pmd 58 12/5/2008, 09:15 crescentes, terminam não contemplando o verdadeiro trade-off que existiria entre a aglomeração e a dispersão de atividades econômicas. Como os autores das teorias clássicas da localização apóiam-se na premissa de concorrência perfeita, haveria então uma contradição em seus modelos, pois, na ausência de ganhos de escala, os custos de transporte tenderiam a disseminar as atividades ao longo de todo o espaço. Com relação às teorias de desenvolvimento regional que enfatizam os fatores de aglomeração, Krugman (1998, p. 6) argumenta que “a inabilidade de seus autores em expressar suas idéias de forma adequada às técnicas de modelagens disponíveis na época”39 as impediu de serem definitivamente incorporadas ao mainstream do pensamento econômico. A despeito desse fato, Krugman (1998, p. 17) vê, nas abordagens que classifica como “teorias do desenvolvimento de cerca de 1958”, as economias de escala como um conceito central, não apenas ao nível de uma planta individual, mas também de forma agregada. Assim, foi a partir da proposta de fornecer um tratamento formal ao trade-off entre ganhos de escala e custos de transporte que se configurou a escola da “nova geografia econômica”, cujas primeiras referências são os trabalhos de Krugman do início da década de 1990 (KRUGMAN, 1991). Daí em diante, várias publicações têm se dedicado ao tratamento formal da questão do desenvolvimento regional.40 Em que pese o elevado grau de formalismo das publicações dos autores vinculados a essa corrente, a “nova geografia econômica” não consegue explicar o que dá início às economias de aglomeração em uma determinada região. 39 40 Krugman (1998, p. 6). Ver, por exemplo, Fugita, Krugman e Venables (2000) e Fugita e Thisse (2002). Ver também Brakman, Garretsen e Marrewijt (2001), para uma análise dos modelos formais, e Krugman (1998), para uma síntese conceitual. 59 cavalcanti.pmd 59 12/5/2008, 09:15 2.5 Competição fiscal: aspectos teóricos O debate sobre as vantagens e desvantagens da competição fiscal entre países ou regiões por investimentos é complexo e controverso, tanto em nível estritamente teórico como em nível empírico. Ainda que o tema possa ser claramente incluído nas discussões sobre finanças públicas, as revisões teóricas recentes sobre o tema (WILSON; WILDASIN, 2004) situam o início dos debates formais sobre competição fiscal nos trabalhos originais de Tiebout (1956) e Oates (1972), que desenvolvem uma abordagem especificamente voltada para a questão. Ao longo de mais de meio século de discussão, todavia, a produção teórica não chegou a um consenso sobre a questão, mesmo nas circunstâncias em que o tema é tratado de forma puramente conceitual. Wilson e Wildasin (2004, p. 1066) assinalam que a competição fiscal é muitas vezes definida de forma abrangente como qualquer forma não-cooperativa de fixação de tributos por governos independentes. Contudo, a maioria dos trabalhos efetivamente se preocupa com os efeitos dos diferentes níveis de tributação sobre as decisões de alocação do capital nas diferentes regiões.41 Esses trabalhos podem ser segmentados em dois tipos principais: · 41 Trabalhos que procuram analisar os efeitos de incrementos diferenciais no estoque de capital como conseqüência de alterações também incrementais nos níveis de tributação. Nesses casos, o tratamento formal é semelhante a modelos de mercados competitivos e tanto o capital como o nível de tributação são tratados de forma agregada. Em geral, os trabalhos conceituais empregam o termo “jurisdição”, buscando assinalar a presença de governos que detêm algum nível de soberania na fixação dos níveis de tributação. Neste trabalho, contudo, optou-se pelo uso do termo “região” tal como definido no início deste capítulo. 60 cavalcanti.pmd 60 12/5/2008, 09:15 · A produção teórica sobre a competição que se estabelece entre regiões por investimentos elevados e indivisíveis que detêm o poder de barganha frente aos governos que procuram atraí-los. Assim, nas chamadas bidding wars,42 as regiões competem através de um conjunto de subsídios especificamente ajustados aos investimentos que desejam trazer. Nesses casos, os subsídios, em geral, envolvem não apenas menores níveis de tributação, mas também incentivos financeiros, provisão da infra-estrutura requerida para a operação dos empreendimentos, treinamento de mão-de-obra e outras vantagens. Conforme mencionou-se acima, o primeiro tratamento formal dado à competição entre regiões com autonomia para a fixação de seus níveis de tributos foi proposto por Tiebout (1956), que argumentava que os indivíduos tenderiam a optar por viver onde identificassem a melhor relação entre a provisão de bens públicos e o nível de tributos a que estariam sujeitos. Nesse modelo, os indivíduos [...] votariam com seus pés ao selecionarem a jurisdição que julgassem eficiente e os governos locais responderiam ajustando seus tributos e gastos às preferências dos seus habitantes (WILSON; WILDASIN, 2004, p. 1068). A lógica do argumento é facilmente estendida às decisões de localização tomadas por firmas. Nesse caso, admite-se que as empresas ponderam, ao definir sua localização, os bens públicos oferecidos e os níveis de tributos praticados para a definição quanto à localização ótima. O resultado seria, então, uma dis42 Usualmente, bidding war é simplesmente referida em português como “guerra fiscal”. A expressão em português, todavia, não explicita que se trata, na verdade, de uma espécie de leilão entre as regiões que desejam atrair o investimento. Além disso, essas “guerras” não se limitam ao aspecto puramente fiscal e envolvem outras formas adicionais de incentivos. 61 cavalcanti.pmd 61 12/5/2008, 09:15 tribuição eficiente do capital nas diferentes regiões. Nos termos de Stigler (1957, p. 216 apud OATES, 2001, p. 135), “competition among communities offers not obstacles but opportunities to various communities to choose the type and scale of government functions they wish”.43 É claro que o modelo assume uma série de hipóteses tipicamente neoclássicas de difícil aderência ao mundo real, especialmente quanto ao fato de que decisões tomadas por um determinado governo afetam apenas marginalmente o resultado geral do sistema. A visão positiva sobre a competição fiscal que se pode inferir dos argumentos de Tiebout (1956) não é compartilhada por Oates (1972) que, na publicação intitulada Federalismo fiscal, posicionou-se contrariamente à competição entre jurisdições por julgar que suas conseqüências seriam níveis de arrecadação ineficientemente baixos e, portanto, uma oferta de bens públicos abaixo do mínimo necessário. A premissa fundamental subjacente a esse argumento é que os governos estariam unicamente interessados na promoção do bem-estar social (isto é, seriam governos benevolentes) e a competição fiscal restringiria sua capacidade de prover bens públicos. Oates (2001), em um trabalho publicado cerca de trinta anos depois, torna a afirmar que somente em condições muito específicas a competição fiscal poderia levar a resultados positivos, conforme assinala o trecho a seguir. If one takes a more neoclassical approach with public decisionmakers who seek to promote social welfare, then we find that fiscal competition leads to efficient outcomes only for a class of relatively special cases where jurisdictions are small with respect to the relevant capital markets, where strategic elements are relatively unimportant, and where the public 43 “[...] a competição entre comunidades não coloca obstáculos, mas oferece oportunidades para que elas escolham o tipo e a escala das funções de governo que desejam” (Tradução livre). 62 cavalcanti.pmd 62 12/5/2008, 09:15 sector has access to the right sorts of fiscal instruments. Otherwise, as the literature has shown, various kinds of distortions are likely to result. Public programs, for example, may often tend to be suboptimal (OATES, 2001, p. 134).44 Este ponto de vista é compartilhado por Wilson (1986) e Zodrow e Mieszkowski (1986), que apresentam modelos formais nos quais associam a competição fiscal à redução do Estado e à transferência de recursos públicos para agentes privados. Trata-se de modelos relativamente simples, nos quais o capital é dotado de mobilidade regional, e a arrecadação proveniente dos impostos sobre esse capital financia a provisão de bens públicos. Ao final, Zodrow e Mieszkowski (1986) e Wilson (1986) reafirmam o ponto de vista segundo o qual a competição fiscal tenderia a gerar distorções na alocação de recursos e níveis subótimos de provisão de bens públicos. Em oposição, autores como Edwards e Keen (1996) alegam que a ausência de competição fiscal resultaria em governos inchados e ineficientes, uma vez que não haveria restrições para seu apetite por extrair mais recursos do setor privado da economia. A competição fiscal emerge, nesse argumento, como uma forma de disciplinar a expansão indesejada do setor público ou de “domar o Leviatã”,45 e a harmonização das taxas praticadas 44 45 “Se se adota uma abordagem mais neoclássica na qual os agentes públicos habilitados a tomar decisões pretendem promover o bem-estar social, então pode-se concluir que a competição fiscal leva a resultados positivos somente em casos relativamente especiais, nos quais as jurisdições são pequenas em relação aos mercados relevantes de capital e o poder público tem acesso às modalidades adequadas de instrumentos fiscais. Caso contrário, como a literatura tem mostrado, podem ocorrer vários tipos de distorções. Programas públicos, por exemplo, freqüentemente tendem a ser subótimos” (OATES, 2001, p. 134) (Tradução livre). Monstro bíblico associado por Thomas Hobbes aos governos absolutos. A expressão é aplicada pelos autores que estudam a competição fiscal em referência ao crescimento desmesurado do setor público mediante níveis elevados de tributação. 63 cavalcanti.pmd 63 12/5/2008, 09:15 por diferentes jurisdições seria um fenômeno tão indesejado quanto a formação de cartéis entre agentes privados.46 Embora os debates ocorridos a partir da década de 1980 tenham se apoiado em modelos matemáticos formais que, em geral, se pretendem neutros do ponto vista ideológico, o fato é que as visões antagônicas dos trabalhos discutidos até aqui deixam claro que, por trás do julgamento que se pode fazer sobre a competição fiscal, está a própria visão sobre o papel do Estado (EDWARDS; KEEN, 1996; OATES, 2001, p. 134). Nesse sentido, a competição fiscal poderia, por um lado, restringir a capacidade dos governos benevolentes de prover bens públicos ou, por outro lado, impor restrições ao crescimento de Leviatãs. Com relação ao caso particular das bidding wars, há uma quantidade relativamente reduzida de trabalhos estritamente teóricos sobre o assunto, sendo os mais citados os de Black e Hoyt (1989), King, McAfee e Welling (1993) e Biglaiser e Mezzetti (1997). Black e Hoyt (1989) propõem que governos benevolentes engajam-se em bidding wars nas circunstâncias em que os custos fixos associados à provisão de bens públicos são elevados. Os autores argumentam que os grandes investimentos atraem novos residentes para a região vencedora (isto é, para a região que conseguiu atraí-los) e lhe permitem reduzir o custo médio de provisão de bens públicos (na medida em que se dividem os custos fixos por uma contingente maior). Esse argumento os leva a concluir que os subsídios oferecidos para atrair o investimento podem gerar um resultado positivo para o bem-estar social. O modelo de Black e Hoyt (1989), embora formalmente elegante, tem sua aplicação limitada às circunstâncias em que os custos fixos associados à provisão de bens públicos sejam 46 Na verdade, Edwards e Keen (1996, p. 118) admitem, no seu modelo formal, que as preferências dos formuladores de política estariam contidas no intervalo que vai da maximização do bem-estar à maximização da arrecadação. 64 cavalcanti.pmd 64 12/5/2008, 09:15 particularmente elevados e que não haja deseconomias de aglomeração em grandes centros urbanos, por exemplo. King, McAfee e Welling (1993) apóiam-se também na premissa de governos benevolentes que participam de leilões por investimentos e definem os seus lances (isto é, os subsídios que oferecerão) com base em suas expectativas a respeito do excedente que os empreendimentos serão capazes de gerar em suas jurisdições. O modelo incorpora ainda a possibilidade de que os investimentos possam redefinir sua localização como conseqüência dos níveis de produtividade que efetivamente observem na região inicialmente escolhida. O interesse político pela atração de grandes investimentos é tratado por Biglaiser e Mezzetti (1997), que argumentam que a reeleição pode distorcer a propensão dos políticos a oferecer subsídios, levando as bidding wars a produzirem efeitos negativos em termos de bem-estar social. Os autores admitem, entretanto, que os efeitos do projeto sobre a economia local e o aprendizado dos eleitores sobre o comportamento dos políticos podem ser considerados aspectos positivos dos leilões. A breve revisão dos modelos teóricos de competição fiscal aqui apresentada deixa claras suas limitações em retratar a complexa realidade que circunscreve decisões de concessão de benefícios fiscais para a atração de investimentos. Isso explica, ao menos em parte, por que os modelos teóricos não se prestam, em geral, à validação empírica. De uma forma geral, os trabalhos, independentemente de seu grau de complexidade, fornecem “modelos mentais” para a reflexão sobre o tema. Os trabalhos empíricos, de fato, tendem a ser anedóticos e, muitos deles, fortemente contaminados pela posição ideológica de seus autores. Ainda assim, foram identificados alguns trabalhos que transcendem a dimensão puramente anedótica ao compararem o desempenho de um conjunto de regiões subnacionais que competem por investimentos. 65 cavalcanti.pmd 65 12/5/2008, 09:15 Entre os trabalhos empíricos, destaca-se aquele de Cobb (1993) intitulado The selling of the South: the Southern crusade for industrial development, 1936-1990.47 Trata-se da descrição dos incentivos fiscais concedidos pelos estados do Sul dos Estados Unidos. A relevância desse trabalho para a presente discussão é o fato de que fica claro que o desenvolvimento regional das regiões tradicionalmente mais pobres dos Estados Unidos requereu a concessão de incentivos fiscais e financeiros, independentemente do fato de que essas regiões contavam com menores custos de mãode-obra. Na prática, ao longo da década de 1960, disseminaramse os incentivos conhecidos como bond programs,48 não somente nos estados do Sul mas também em outros estados americanos, instituídos como “medida defensiva” (COBB, 1993, p. 36). Cobb descreve ainda os esforços para manter os custos de mão-deobra nos estados do Sul abaixo dos níveis dos estados mais desenvolvidos por meio de ações que desestimulassem a sindicalização dos trabalhadores. Luger (1987), ao descrever os programas adotados pelos estados que compõem os Estados Unidos para atrair investimentos, trabalha com oito categorias principais: · · · · · · 47 48 subsídios de terreno e construção; programas de crédito e aporte de capital; incentivos fiscais em nível estadual; assistência na educação após o segundo grau; treinamento de mão-de-obra; regulação da atividade econômica exercida; Alguns trabalhos sobre o tema que tratam da realidade brasileira (TENDLER, 2000; ROCHA, 2004; CAVALCANTE; UDERMAN, 2005, 2006) são discutidos nas Seções 4.2 e 4.3 deste trabalho. Esses programas envolviam, como regra geral, o pagamento de juros menores sobre as obrigações emitidas e a permissão de práticas contábeis que reduziam os impostos a serem recolhidos. 66 cavalcanti.pmd 66 12/5/2008, 09:15 · · recrutamento; apoio a atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). O autor busca então verificar, por meio de regressões cross-section, a efetividade das políticas adotadas. Um outro trabalho econométrico especialmente interessante sobre o tema é aquele de Greenstone e Moretti (2003). Esses autores trabalham com a competição que se estabelece entre os counties norte-americanos49 por investimentos. Essas jurisdições competem por investimentos por meio da concessão de subsídios com o propósito fundamental de gerar empregos. A questão a que os autores buscam responder no trabalho e que lhe serve de título é “a atração de uma planta de um milhão de dólares aumenta o bem-estar?”. Dispondo de uma base de dados extensa, os autores comparam o county vencedor com um ou dois outros counties perdedores.50 Os autores não apenas verificam, nos counties vencedores, um incremento no indicador de bem-estar que empregam (o preço da terra, que supõem associado aos benefícios em atrair a planta), como não encontram nenhuma evidência de deterioração da capacidade financeira dos governos daquelas localidades. 49 50 Trata-se de unidades administrativas maiores do que municípios, porém menores do que estados. Na terminologia empregada por Greenstone e Moretti (2003), vencedores são os counties que, ao final da disputa, conseguiram atrair o investimento. Perdedores são aqueles que sobreviveram a uma seleção longa, tendo perdido por pouco a disputa. 67 cavalcanti.pmd 67 12/5/2008, 09:15 68 cavalcanti.pmd 68 12/5/2008, 09:15 Capítulo 3 A industrialização liderada pelo Estado: o período entre 1950 e 1980 O processo de industrialização por substituição de importações que marcou a economia brasileira por cerca de meio século tem suas origens na década de 1930, quando a depressão mundial motivou um maior engajamento do governo na atividade econômica diante do reconhecimento da incapacidade do setor privado de realizar o conjunto de investimentos requeridos para a industrialização do país, especialmente nos setores de base (BAER, 2002, p. 290-291). É indiscutível que a política adotada, especialmente entre as décadas de 1950 e 1970, efetivamente resultou em taxas médias de crescimento situadas entre as mais altas do mundo e em uma estrutura industrial que “não diferia de modo significativo da maior parte das economias da OCDE” (FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1996, p. 55). Embora o golpe militar de 1964 tenha alterado substancialmente a retórica estatizante praticada pelo governo até então, podese afirmar que o período como um todo foi marcado por um elevado nível de intervenção do Estado na economia, seja por meio de investimentos diretos em infra-estrutura, seja através de sua atuação direta em vários setores da produção e no siste- 69 cavalcanti.pmd 69 12/5/2008, 09:15 ma financeiro. Conforme destaca Shapiro (1994, p. 146) ao se referir aos governos militares, “a despeito de sua retórica inicial no sentido contrário, o Estado cresceu em tamanho e escopo”. O processo de industrialização liderado pelo governo marcou a economia brasileira até a década de 1980, quando a crise fiscal fez o país surpreender ortodoxos e heterodoxos ao combinar, de maneira prolongada, baixas taxas de crescimento e elevadas taxas de inflação, incorrendo em um fenômeno conhecido como estagflação. Na Bahia, em particular, o período delimitado pelas décadas de 1950 e 1980 marca a transição de uma economia predominantemente agrário-exportadora que vinha apresentando um desempenho inferior à média nacional para uma economia industrializada e concentrada na produção de commodities intermediárias. Pode-se considerar a implantação da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na década de 1950, o marco inicial do processo de industrialização do estado. Esse processo, ainda que marcado por fortes descontinuidades, estendeu-se até os primeiros anos de operação do Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC), no final da década de 1970 e no início da década de 1980. Nesse sentido, a Bahia conseguiu estender o ciclo de industrialização por alguns anos a mais do que o conjunto da economia brasileira. De forma similar aos movimentos que marcaram o processo de industrialização por substituição de importações no país como um todo, a industrialização da Bahia esteve também fortemente associada ao papel desempenhado pelo Estado. Este capítulo tem, desse modo, o objetivo de apresentar uma sistematização da evolução da economia baiana entre as décadas de 1950 e 1980, buscando identificar como se constituiu a base de sua estrutura industrial e argumentando que se tratou de um processo de industrialização liderado pelo Estado. Entre as Seções 3.1 e 3.4, adota-se, para a estruturação do capí- 70 cavalcanti.pmd 70 12/5/2008, 09:15 tulo, a ordem cronológica dos eventos. Discute-se, na Seção 3.1, o chamado “enigma baiano”, isto é, as razões que teriam impedido a Bahia de apresentar um desempenho econômico satisfatório no período que antecede a década de 1950. As seções 3.2, 3.3 e 3.4 discutem, respectivamente, a implantação da indústria extrativa de petróleo, a criação do Centro Industrial de Aratu (CIA) e a implantação do COPEC. Em seguida, na quinta seção, descreve-se a estrutura institucional de suporte aos movimentos de industrialização que se observaram no período. Finalmente, na Seção 3.6, discutem-se as implicações dos movimentos descritos sobre a estrutura econômica do estado. 3.1 O enigma baiano Até o início do século XX, a Bahia havia tido uma seqüência de ciclos agrícolas tradicionais, com destaque para as culturas de cana-de-açúcar, fumo, fibras e cacau, mais ou menos ordenados cronologicamente em termos de sua importância relativa na economia do estado, embora, naturalmente, a predominância de uma atividade não eliminasse as demais.51 O fato é que a Bahia mantinha uma policultura exportadora e, durante o período colonial, dispunha de um porto dinâmico em Salvador (ALMEIDA, 1952; MARIANI, 1957; AGUIAR, 1958), tendo chegado a engendrar um processo de acumulação de capital que começava a se reproduzir no final do século XIX, quando “aborta quase misteriosamente” (OLIVEIRA, 1987, p. 27). Embora a carência de dados estatísticos não permita que se determine com precisão o momento em que se iniciou o período 51 Regionalmente, já no século XVIII, havia se estabelecido no estado uma espécie de distribuição das atividades agrícolas, conforme o seguinte esquema: Recôncavo, para a cana-de-açúcar; Jaguaribe e Camamu, para a farinha de mandioca; Tabuleiros ou Areais, para fumo e mandioca; e Sertão, para o gado. 71 cavalcanti.pmd 71 12/5/2008, 09:15 marcado pela estagnação econômica do estado e por sua conseqüente perda de representatividade na economia nacional, o intervalo que se estende de algum momento do século XIX até a década de 1950 é referido como “problema econômico baiano” (MARIANI, 1957), “relativa decadência baiana” (MARIANI, 1957), “involução industrial da Bahia” (TAVARES, 1966) ou “enigma baiano” (AGUIAR, 1958; ALMEIDA, 1986).52 Esse último autor sintetiza a idéia do enigma com uma série de questões: “por que é que a Bahia não vai para frente? Por que não se faz nada na Bahia? Por que é que as coisas na Bahia não caminham? Nada dá certo?” (ALMEIDA, 1986, p. 93). Ainda que dados estatísticos para o período anterior à década de 1950 sejam efetivamente escassos, alguns indicadores disponíveis deixam claro o processo de “desindustrialização” do estado ao longo da primeira metade do século XX. Teixeira e Guerra (2000, p. 88) e Spinola (2003, p. 102), por exemplo, subsidiam a proposição do enigma baiano com dados sobre a queda da participação da indústria baiana na indústria brasileira, conforme indicado na Tabela 3.1. Embora seguramente associado à primeira metade do século XX, permanecem ainda divergências quanto o momento em que teria se iniciado o declínio da economia do estado. Almeida (1952) refere-se à alteração, no início do século XIX, da situação favorável da economia baiana, conforme indica o trecho abaixo: A situação favorável, apesar dos pesares, da economia baiana no começo do século [XIX] se altera depois profundamente, em razão principalmente de dois fatores: os prejuízos materiais da guerra da independência e a mudança da conjuntura internacional (ALMEIDA, 1952, p. 64). 52 A expressão “enigma baiano” é atribuída por Spinola (2003, p. 102) a Octávio Mangabeira. 72 cavalcanti.pmd 72 12/5/2008, 09:15 Tabela 3.1 - Participação da indústria baiana na indústria brasileira 1920 1940 Capital aplicado 3,50% 1,90% Força motriz utilizada 4,00% 2,30% Número de trabalhadores 5,70% 3,30% Valor da produção 2,80% 1,30% Fonte: Almeida (1977) apud Teixeira e Guerra (2000, p. 88) e Spinola (2003, p. 102). Mariani (1977 [1957], p. 61), por sua vez, argumenta que, com o avanço do século XIX, a economia baiana começou a declinar, tendo chegado “economicamente exausta” ao final da Segunda Guerra Mundial. Esse autor atribui a exaustão a um desequilíbrio relativo de preços sancionado pelo governo federal, uma vez que os produtos de exportação eram vendidos a preços relativamente reduzidos quando comparados aos preços dos produtos industrializados adquiridos no mercado interno (MARIANI, 1977 [1957], p. 67). Esse diagnóstico consolidou-se e foi resgatado, anos mais tarde, pelo próprio Rômulo Almeida (1986): A Bahia exportava para o exterior uma quantidade avançada relativamente, mas importava muito pouco do exterior, porque todos os produtos básicos de consumo já eram produzidos no sul do país. Ora, como já falei, a Bahia vendia as divisas a um preço baixo e tinha que comprar a um preço mais alto o que vinha do sul; os preços na fábrica eram muito mais altos que os produtos importados e os transportes internos muito mais caros que os transoceânicos (ALMEIDA, 1986, p. 94). O argumento, a que se convencionou chamar de “termos de intercâmbio”, deixava claro que a política cambial adotada 73 cavalcanti.pmd 73 12/5/2008, 09:15 na época definitivamente não era neutra do ponto de vista regional.53 Além disso, em um contexto no qual os custos de transporte eram mais relevantes do que aqueles que se observam atualmente,54 os produtos da região Sudeste tinham melhores condições de competir na Bahia do que, por exemplo, em Pernambuco, onde chegavam a preços maiores. Isso explica a desvantagem da Bahia em relação àquele estado e porque, mais tarde, Pernambuco conseguiria desenvolver uma indústria de bens finais que relutaria em implantar-se na Bahia. Todavia, os termos de intercâmbio e os custos de transporte parecem explicar apenas parcialmente o fraco desempenho da economia baiana ao longo da primeira metade do século XX. Na verdade, o processo de industrialização que se iniciara de forma mais ou menos espontânea na região Sudeste (particularmente em São Paulo) como resultado da articulação entre excedentes gerados pela economia cafeeira e a atividade manufatureira terminaria sendo, após a Revolução de 1930, legitimado politicamente.55 Nesse contexto, as políticas econômicas, fossem elas aparentemente neutras do ponto de vista regional (como a política cambial ou a proteção tarifária), fossem elas de caráter mais afirmativo 53 54 55 O argumento tornaria a ser resgatado no âmbito dos debates políticos que envolveram a concessão de incentivos federais para a instalação do Complexo Industrial Ford Nordeste na Bahia. Em virtude das deficiências da infra-estrutura viária existente antes da abertura da rodovia BR-116, conhecida como Rio-Bahia. Na Bahia, ao contrário do que havia sido observado em São Paulo com a produção de café, “as atividades tradicionais e a estrutura cultural decorrente não propiciaram os níveis de interdependência essenciais à partida da industrialização” (MASCARENHAS, 1978, p. 3). Assim, não houve, no estado, um processo de industrialização resultante da transferência dos excedentes da produção de cacau para a atividade manufatureira. Há várias possíveis hipóteses para essa desarticulação que vão do “consumo suntuário” dos proprietários de terras, passando por uma suposta “aversão cultural” à atividade manufatureira e chegando à ausência de condições institucionais e à falta de mão-de-obra qualificada. 74 cavalcanti.pmd 74 12/5/2008, 09:15 (como a infra-estrutura viária e os investimentos diretos), voltaram-se para a consolidação no núcleo de acumulação industrial que começava a se constituir na região Sudeste do Brasil. A própria infra-estrutura viária que começava a integrar a economia brasileira — subvertendo a lógica dos “arquipélagos” que prevalecera até então — parece ter se desenvolvido em torno do núcleo central, permitindo a expansão de seus mercados com a conseqüente ampliação de suas escalas de produção. Essa visão é convergente com a percepção de Mariani (1957), para quem, ao menos entre as décadas de 1930 e 1950, o enigma resultava de um descompasso entre a política de industrialização promovida pelo governo federal e a estrutura econômica agroexportadora da Bahia. O fato é que o período de estagnação perdurou até a metade do século XX, e a expressão “enigma baiano” terminou se consagrando, sendo sistematicamente empregada para descrever o comportamento da economia do estado que antecedeu os movimentos de industrialização. Como resultado, a atividade industrial da Bahia chegou à metade do século XX dominada ainda pelos segmentos de produtos alimentares, minerais nãometálicos (que juntos representavam 71% do número de estabelecimentos e 48% do pessoal empregado), têxtil e fumo. Tratava-se de uma estrutura econômica “baseada quase exclusivamente em pequenos estabelecimentos, que empregavam em média 9 pessoas por empresa” (FUNDAÇÃO DE PLANEJAMENTO – CPE, 1974, p. 489). A percepção do enigma terminou incentivando a discussão teórica que se propunha a decifrá-lo e a proposição de ações com o objetivo de revertê-lo. Na verdade, trabalhos como aqueles de Almeida (1952), Mariani (1957) e Aguiar (1958) já trazem, além do diagnóstico dos movimentos que se observaram no estado no período anterior à década de 1950, a semente de proposições de intervenção para garantir seu desenvolvimento 75 cavalcanti.pmd 75 12/5/2008, 09:15 econômico.56 Mariani (1977 [1957], p. 75), por exemplo, discorre sobre as “bases da recuperação econômica da Bahia” sugerindo, entre outras ações, o aproveitamento das fontes locais de petróleo e gás natural e do potencial hidroelétrico da usina de Paulo Afonso. Aguiar (1977 [1958], p. 131) propõe também “a política a adotar-se” em face do enigma. Na prática, a proposta é a transferência não apenas de recursos financeiros (ou monetários, nos termos do autor) mas também técnicos. A idéia de Aguiar (1958, p. 131) é claramente convergente com o conceito de pólo de crescimento tal como proposto pelos autores discutidos na Seção 2.3. Com efeito, o autor argumenta que O fato de termos, segundo parece, um subsolo riquíssimo pode, por exemplo, propiciar a instalação de uma cadeia de empresas básicas em torno das quais se desenvolva uma constelação de indústrias subsidiárias e complementares (AGUIAR, 1977 [1958], p.131). Foi o aprofundamento de análises dessa natureza que permitiu a formulação, na década de 1950, de diagnósticos e proposições de políticas para a retomada do desenvolvimento econômico do estado. Uma evidência disto é que as primeiras páginas das chamadas “Pastas Rosas” ([BAHIA], 1955) explicitam uma preocupação com a institucionalização da função planejamento na Bahia. As “Pastas Rosas” traziam, nos termos de Almeida (1986, p. 93) uma “coletânea de informações, opiniões e proposições preliminares sobre a economia baiana na ocasião”. Dessa forma, no documento, elaborado em 1955 por solicitação do governador eleito Antônio Balbino, argumentava-se que a 56 [Paim] (s.d., p. 10) segmenta os trabalhos de Mariani (1957) e de Aguiar (1958) dos trabalhos de Almeida (1952; 1970; 1986), uma vez que considera os primeiros a “elite baiana” da época, enquanto Rômulo Almeida seria mais adequadamente associado à “elite técnica”. Na prática, a distinção seria uma visão mais descritiva nos trabalhos de Mariani (1957) e Aguiar (1958) e mais técnica nos trabalhos de Almeida (1952; 1970; 1986). 76 cavalcanti.pmd 76 12/5/2008, 09:15 instabilidade da economia baiana decorria de sua dependência da agricultura (vulnerável a secas) e do comércio exterior (termos de intercâmbio) e propunha-se a diversificação da produção, o desenvolvimento da indústria e o estabelecimento de maiores vínculos com os mercados locais e nacionais. Poucos anos mais tarde, no Plano de Desenvolvimento da Bahia (Plandeb), elaborado em 1959 e considerado por Souza (1991) o ponto de partida da atual configuração econômica e social da Bahia, propunham-se medidas destinadas a alterar a estrutura básica da economia baiana através de uma industrialização intensiva (BAHIA, 1960, p. 109). O Plano, apresentado como uma contribuição ao Plano Diretor do Desenvolvimento do Nordeste da SUDENE, traz propostas de ação para o governo local e indicações para ações do governo federal no estado, formata programas básicos de desenvolvimento municipal e trata ainda da promoção de investimentos privados. O fato de não ter sido formalmente aprovado pela Assembléia Legislativa pode ter levado Azevêdo (2000, p. 54) a argumentar que o sistema estadual de planejamento “desenhou, mas não conseguiu implementar, o Plandeb”. Contudo, ainda que não tenha sido aprovado e que tenha enfrentado “reações contrárias dentro da própria equipe do governo Juracy Magalhães”, o Plandeb teve várias de suas proposições gradativamente implementadas na Bahia até a década de 1980 (SPINOLA, 2003, p. 108).57 De fato, no Plandeb, consideram-se de interesse prioritário os setores intensivos em capital produtores de bens intermediários,58 57 58 Essa percepção o leva a afirmar que “o planejamento estadual, no período 1964/1983, limitou-se à implementação de diversas diretrizes do Plandeb no âmbito dos planos nacionais, e à realização de programas e projetos derivados desses planos ou neles oportunamente enquadrados pelos negociadores do governo estadual” (SPINOLA, 2003, p. 113). No Plandeb (BAHIA, 1960, p. 110), são citados como prioritários os seguintes setores: indústria petroquímica, indústria siderúrgica, outras metalurgias básicas, indústria de embalagens, produtos alimentícios, materiais de construção, 77 cavalcanti.pmd 77 12/5/2008, 09:15 configurando, ainda na década de 1950, uma opção do estado por um modelo de industrialização complementar às regiões Sul e Sudeste do país. Daquele momento em diante, consolidou-se o chamado sistema estadual de planejamento (SOUZA, 1991), que daria origem a uma sucessão de planos de governo e a um conjunto de instituições de suporte ao desenvolvimento do estado, conforme evidenciado na Seção 3.5 adiante. Foi com base nesse sistema e em sua articulação com os movimentos que vinham ocorrendo em nível nacional que importantes transformações estruturais ocorreram na economia baiana no período entre 1950 e 1980, fundamentando-se, ainda que não explicitamente, no conceito de “pólo de crescimento” originalmente proposto por Perroux (1955). Com efeito, a percepção de Aguiar (1977 [1958], p. 131) quanto ao desenvolvimento de uma constelação de indústrias subsidiárias e complementares era compartilhada por Rômulo Almeida que, anos mais tarde, referir-se-ia ao Complexo Petroquímico de Camaçari nos seguintes termos: É preciso que se tenha um sistema de indústrias de base, indústrias de escala nacional, que possam ter custos competitivos e, a partir daí, desenvolver atividades que resultem delas, tanto a montante como a jusante (ALMEIDA, 1986, p. 159). Este mesmo autor destacava também a necessidade de intervenção do Estado no processo, ao afirmar que Há que corrigir, por intervenção deliberada, esta perversa tendência acumulativa, concentradora e desequilibrante, que termina não sendo vantagem nem mesmo para a região aparentemente beneficiada (ALMEIDA, 1970, p. 2). gráficas, indústria mecânica e fundição, forjaria, usinagem, ferramental e matrizes e manutenção. 78 cavalcanti.pmd 78 12/5/2008, 09:15 Pareciam estar reunidos, portanto, os elementos que norteariam o processo de industrialização da Bahia entre as décadas de 1950 e 1980: a criação de pólos de crescimento a partir dos quais se esperava que o desenvolvimento econômico se irradiasse e a liderança do governo, uma vez que se entendia que seria preciso vencer a inércia inicial que condenava o estado à condição de produtor de bens primários. 3.2 Os primeiros passos: refino de petróleo e produção e distribuição de commodities agrícolas A primeira grande intervenção do Estado na economia local foi a implantação da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), motivada essencialmente pela disponibilidade de petróleo na região. Esse evento marcou, no início da década de 1950, o início do processo de industrialização intensivo em capital voltado para a produção de bens intermediários na Bahia. Não há dúvida que a implantação da RLAM trouxe repercussões tanto no que diz respeito à criação da infra-estrutura física para a operação de uma indústria de grande porte nos arredores de Salvador como na criação de demanda para uma indústria mecânica local voltada para o suprimento e a manutenção de equipamentos utilizados na atividade de refino de petróleo.59 De acordo com Teixeira e Guerra (2000, p. 89), antes mesmo da criação da Petrobras, o Conselho Nacional de Petróleo (CNP) já havia elaborado um projeto para a implantação de uma refinaria com capacidade de processamento de 2,5 mil barris por dia. Esses mesmos autores registram que a Petrobras, tão logo 59 Mais tarde, uma indústria metal-mecânica vinculada à Petrobras e à produção de plataformas de águas rasas seria criada no CIA. Na década de 1990, com a abertura comercial e as alterações ocorridas na política de compras da Petrobras, essa base industrial seria praticamente desmantelada. 79 cavalcanti.pmd 79 12/5/2008, 09:15 criada, em 1954, encampou o projeto e decidiu expandir sua capacidade produtiva para 5 mil barris por dia. A RLAM entrou em operação em 1956, e, já em 1961, um novo programa de expansão elevaria a capacidade da refinaria para 42 mil barris por dia. Embora decorrente de uma intervenção deliberada do governo através da Petrobras — o que sugere a criação de uma espécie de pólo de crescimento —, os fundamentos teóricos que justificam a implantação da refinaria naquele momento não parecem ter se apoiado ainda nas idéias intervencionistas de Perroux (1955), Myrdal (1957) ou Hirschman (1958). Com efeito, a idéia de se criar um pólo de crescimento não é, por si, capaz de explicar o porquê da opção pela Bahia em oposição a outras regiões cujo desenvolvimento requeresse uma intervenção deliberada do governo. Na verdade, a implantação da RLAM na Região Metropolitana de Salvador (RMS) apoiou-se em razões logísticas facilmente explicáveis com conceitos das teorias clássicas da localização. Com efeito, tratou-se da opção pela região próxima à fonte de matéria-prima, remetendo ao trabalho de Weber (1909) discutido na Seção 2.2. Assim, ainda que em um momento posterior a RLAM tenha trazido benefícios facilmente associáveis à idéia de “pólo de crescimento”, o fato é que, no momento de sua implantação, a iniciativa visava ao aproveitamento da matéria-prima disponível na Bahia. Esse argumento é convergente com aquele de Pedrão (1996), para quem O modelo de industrialização da década de 1950 constitui, essencialmente, na captação do possível mercado interno para a transformação de matérias-primas locais abundantes e baratas, ignorando as possibilidades de vantagens de localização, ou de criação de mercado, como passaria a ser norma nos decênios seguintes (PEDRÃO, 1996, p. 77 apud SPINOLA 2003, p. 137). Contudo, as repercussões da implantação da RLAM na economia local puderam ser sentidas muito rapidamente: já em 80 cavalcanti.pmd 80 12/5/2008, 09:15 1960 (antes, portanto, da primeira grande ampliação da refinaria) a participação da indústria química no total do valor da produção da indústria de transformação na Bahia atingiu, segundo Teixeira e Guerra (2000, p. 89), mais de 30%, cabendo mais da metade desse valor à própria refinaria. Os efeitos da RLAM como centro irradiador de novas oportunidades de negócios também podem ser percebidos ao se verificar que empresas como a Companhia de Carbonos Coloidais, a Companhia Brasileira de Lubrificantes e a Fábrica de Vaselina da Bahia instalaram-se no entorno da refinaria para aproveitar a oferta de matérias-primas. Contudo, contrariamente ao que seria observado quando o Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC) entrou em operação, as taxas de crescimento alcançadas pela Bahia no período imediatamente posterior à implantação da RLAM não foram superiores àquelas exibidas pelo conjunto da economia brasileira. Na verdade, as participações relativas da economia baiana na economia brasileira e, em particular, na economia nordestina, não apresentaram tendência definida ao longo dos dez anos que se seguiram à implantação da refinaria, tendo se mantido praticamente estável no decênio entre 1956 e 1966 (ver Apêndices 1 e 2). Ainda que o investimento na RLAM seja evidentemente inferior àquele associado ao COPEC, a expectativa é que seus efeitos fossem similares, uma vez que o empreendimento estaria repercutindo sobre uma base muito menor (considerando que a economia baiana em meados da década de 1950 era bem menor do que em meados da década de 1970). Embora as razões pelas quais os impactos da RLAM no PIB do estado tenham sido menores do que os esperados não estejam ainda suficientemente claras, pode-se especular que: (i) os procedimentos associados à obtenção dos dados do PIB regional da época tenham deficiências que não permitiram que os efeitos da refinaria fossem percebidos em sua plenitude; e (ii) o controle de preços dos 81 cavalcanti.pmd 81 12/5/2008, 09:15 derivados do petróleo que prevalecia na época pode ter contribuído para a redução das margens de lucro e do valor agregado bruto da refinaria, implicando reflexos reduzidos no PIB. Além disso, as repercussões do projeto estavam claramente limitadas tanto do ponto de vista setorial como geográfico. Assim, para o restante do estado, o que se observou foram ações voltadas para o incentivo à montagem de complexos agroindustriais (SANTOS; OLIVEIRA, 1988). Usando fundamentalmente recursos do Fundo de Desenvolvimento Agroindustrial (Fundagro),60 foram criados sistemas de matadouros, sistemas de produção de insumos básicos e um sistema de armazéns. O propósito fundamental era “organizar a economia agrícola e o abastecimento” (ALMEIDA, 1986, p. 99). Esse mesmo autor destaca, contudo, que a cobiça das lideranças políticas por essas empresas quando seus resultados começaram a aparecer fizeram com que os empreendimentos fossem loteados e empregados para fins distintos daqueles que haviam motivado sua criação, levando sua maioria (e o próprio Fundagro) a dificuldades financeiras severas. Independentemente de seus desdobramentos posteriores, em ambos os casos — refino de petróleo e produção e distribuição de commodities agrícolas — pode-se identificar a característica complementar que a economia baiana começava a adquirir em relação à região Sudeste do país. Com efeito, as iniciativas estão muito mais voltadas para a produção de intermediários do que de bens de consumo final. Além disso, as duas iniciativas reafirmam a percepção do papel de liderança exercido pelo Estado no processo de industrialização, que se reforçaria em duas iniciativas subseqüentes: a implantação do Centro Industrial de Aratu e do Complexo Petroquímico de Camaçari. 60 Ver a Seção 3.5 adiante para uma descrição das instituições estaduais de suporte ao desenvolvimento econômico. 82 cavalcanti.pmd 82 12/5/2008, 09:15 3.3 O Centro Industrial de Aratu Já em um contexto marcado pelos incentivos concedidos através do mecanismo 34/18 da SUDENE61 e pelos créditos fiscais relativos ao então Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM),62 concedidos pelo governo estadual, foi implantado na Bahia, na segunda metade da década de 1960, o CIA. A iniciativa contou ainda com outros incentivos estaduais por meio da criação de infra-estrutura destinada a instalações industriais, incluindo o acesso ao Porto de Aratu, anéis rodoviários para acesso aos canais de escoamento, ferrovia e insumos industriais como água e energia. Diante da magnitude dos incentivos oferecidos, um número expressivo de projetos instalou-se no centro. De acordo com Teixeira e Guerra (2000, p. 90), “em dezembro de 1969, havia 100 projetos aprovados pela SUDENE, dos quais 37 em funcionamento, 43 em análise e 33 com carta de opção para virem a se instalar”. Em 1973, contabilizavam-se 142 projetos, sendo 52 em fase de produção, 29 em fase de implantação e o restante nos estágios de elaboração, análise ou aprovação. Os projetos em fase de produção e de implantação gerariam, de acordo com estimativas da época, mais de 12 mil empregos. Esse total ultrapassava 21 mil se se considerassem também os projetos ainda em fase de elaboração, análise ou aprovação (FUNDAÇÃO DE PLANEJA61 62 Ver a Seção 3.5 para o detalhamento dos instrumentos então empregados. Convém observar, também, que, conforme assinalado no Documento Síntese do Plano Diretor do Centro (elaborado em 1980), “o CIA já surgiu inserido no programa da SUDENE” (CONDER, 1980). Rigorosamente, ICM era a sigla para o “Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias” (Emenda Constitucional n. 18, de 1965, art. 12). Esse imposto foi substituído, na Constituição de 1988 (Art. 155, inciso I, alínea “b”) e na Emenda Constitucional n. 3, de 17 de março de 1993, pelo “Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação” (ICMS). 83 cavalcanti.pmd 83 12/5/2008, 09:15 MENTO – CPE, 1974, p. 508). Nessa mesma publicação (p.509), estima-se que os empregos a serem gerados pelo CIA corresponderiam a cerca de 1/3 do total de empregos gerados pela indústria de transformação no estado em 1970. Trata-se, sem dúvida, de números expressivos e da ordem de grandeza do número de empregos que seriam gerados alguns anos mais tarde com a implantação do Complexo Petroquímico de Camaçari. Ao contrário da expectativa inicial, os projetos que se instalaram no CIA destinaram-se majoritariamente à produção de bens intermediários, e não à produção de bens finais. Com efeito, o centro e seu entorno passaram a abrigar investimentos nos segmentos metal-mecânico (como a USIBA, a SIBRA e a Ferbasa) e químico (mesmo antes da implantação do Complexo Petroquímico de Camaçari), como a CQR, a Paskin, a Tibrás, a Ciquine, a FISIBA e, posteriormente, a Dow (TEIXEIRA; GUERRA; 2000, p. 90). Da mesma forma, em um documento editado pela então Secretaria da Indústria e Comércio (BAHIA, 1983, p. 31), estima-se que os segmentos metal-mecânico, químico e petroquímico e de minerais não-metálicos respondessem por mais de ¾ do valor da produção e da ocupação de mão-de-obra no distrito. Entretanto, um obstáculo ao desenvolvimento do CIA foi o freqüente uso indevido dos incentivos fiscais e financeiros oferecidos. Com efeito, são recorrentes os relatos segundo os quais galpões eram ocupados apenas para que as empresas tivessem acesso aos incentivos, embora suas atividades produtivas não estivessem efetivamente sendo executadas no centro. Essa estratégia — que Teixeira e Guerra (2000, p. 90) chamam de “rentista” — resultava das distorções do sistema de incentivos, que não conseguia manter uma estrutura de acompanhamento e fiscalização capaz de evitar esse tipo de fraude.63 63 Ver a Seção 3.5 para uma análise crítica dos mecanismos adotados pela SUDENE e extensivamente empregados no CIA. 84 cavalcanti.pmd 84 12/5/2008, 09:15 Embora avaliações posteriores tenham afirmado que, pela ausência de uma vocação setorial mais clara, o CIA não teria logrado obter os resultados inicialmente planejados (MENEZES, 2001), é inegável que a iniciativa foi o elemento-chave, na história recente da economia baiana, para a atração de empreendimentos, também complementando o sistema de estímulos financeiros criado pelo Governo Federal para a região nordestina (SIMÕES, 1978, p. 474). O CIA chegou a representar, ainda de acordo com Simões (1978, p. 474) cerca de 20% da estrutura industrial no estado em 1977. Esse mesmo autor, entretanto, já destacava a tendência de redução da importância relativa do CIA na economia baiana a partir do final da década de 1970, em função da criação do Complexo Petroquímico de Camaçari, que consolidou a posição da Bahia como um estado produtor de bens intermediários (SIMÕES, 1978, p. 475). Na verdade, a implantação do CIA na segunda metade da década de 1960 inaugura aquilo que Spinola (2003, p. 137) chama de “segundo período do processo de industrialização da Bahia”, que se estendeu até o início da década de 1980. Além do CIA, houve algumas iniciativas de criação dos chamados “Pólos de Industrialização” no interior do estado entre as décadas de 1960 e 1970. Esse é o caso, por exemplo, do Centro Industrial do Subaé, que, no início da década de 1970, de acordo com a Fundação de Planejamento – CPE (1974, p. 512), já contaria “com algumas indústrias com um nível de absorção de mão-de-obra local bastante alentador”. Foram implantados ainda distritos representativos em Ilhéus, Vitória da Conquista, Juazeiro, Jequié, Alagoinhas e Itabela (Porto Seguro), que, de acordo com documento editado pelo governo do estado (BAHIA, 1983, p. 13) abrigavam, juntamente com o Centro Industrial do Subaé, 205 unidades que geravam mais de 15 mil empregos dire- 85 cavalcanti.pmd 85 12/5/2008, 09:15 tos.64 Em 1980, esses distritos respondiam, ainda de acordo com o documento citado, por quase ¼ das exportações do estado e mais de 10% do ICM gerado em suas áreas industriais (BAHIA, 1983, p. 33). Concebidos com o propósito de promover o desenvolvimento industrial do interior da Bahia com base nas vocações regionais e redirecionar os fluxos migratórios para cidades de porte médio, reduzindo os movimentos em direção à Região Metropolitana de Salvador (RMS), esses centros, embora com razoável impacto nas economias locais, terminaram detendo reduzida participação no conjunto da economia do estado, cujo segmento industrial manteve-se concentrado na RMS ao longo do período. Algumas análises registram ainda que essas iniciativas poderiam ter “sufocado” a incipiente industrialização urbana dos municípios onde se instalaram os distritos. Basicamente, argumentava-se que os capitais locais competiriam em condições desfavoráveis com os capitais exógenos que se instalaram nos centros e distritos industriais em função dos incentivos fiscais, financeiros e de infraestrutura que teriam recebido esses últimos. Embora o argumento seja bem engendrado e seja razoável supor que, de fato, tenham ocorrido situações dessa natureza, ressente-se ainda da falta de evidências estatísticas que permitam sua generalização. 3.4 O Complexo Petroquímico de Camaçari e a produção de bens intermediários O COPEC foi, no conjunto das iniciativas até aqui mencionadas, aquela que teve o maior impacto na economia baiana, seja por seus efeitos nas taxas de crescimento do PIB, seja em decor64 A rigor, conforme assinala Spinola (2003, p. 44-48), os conceitos de “complexo industrial”, “centro industrial” e “distrito industrial” são distintos. Esse autor classifica as concentrações industriais da Bahia da seguinte forma: Complexo Industrial: Camaçari; Centros Industriais: Aratu e Subaé; Distritos Industriais: Ilhéus, Vitória da Conquista, Jequié. 86 cavalcanti.pmd 86 12/5/2008, 09:15 rência das mudanças estruturais que ocorreram no estado como conseqüência de sua instalação. Com efeito, o investimento inicial, estimado em cerca de US$ 2,5 bilhões de dólares, era enorme em relação ao porte da economia baiana na época. Um cálculo grosseiro indica que o PIB do estado correspondia, em meados da década de 1970, a cerca de US$ 8,4 bilhões,65 o que sugere que o investimento inicial significava cerca de 30% da renda do estado na época. O COPEC configurou uma espécie de paradigma do modelo de industrialização baseado no tripé constituído pela empresa estatal, pela empresa estrangeira e pela empresa nacional. Conforme assinala Cavalcante (1998, p. 68), os critérios de constituição dos empreendimentos na forma de joint ventures no pólo baiano foram os seguintes: · a participação da Petroquisa seria sempre pelo menos igual à participação do maior acionista privado; · nenhum capital deteria sozinho a participação majoritária do empreendimento; · o sócio multinacional seria o fornecedor da tecnologia, aportando seu capital através dela. Em que pese seu caráter tripartite, o COPEC foi implantado com forte apoio do Estado, conforme destaca Erber (1995): A intervenção do Estado na constituição financeira do Pólo de Camaçari foi igualmente abrangente. Os incentivos fiscais concedidos pelo CDI para aquisição de equipamentos 65 O PIB da Bahia em dólares norte-americanos pode ser obtido simplesmente multiplicando-se a participação da Bahia no PIB nacional em 1975 pelo valor em dólares do PIB ao câmbio médio daquele ano (US$ 130 bilhões) disponível no site do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Nesse caso, o PIB da Bahia, em 1975, seria da ordem de US$ 4,87 bilhões. Quando se considera o PIB brasileiro com base na paridade do poder de compra (US$ 223 bilhões, mais uma vez de acordo com dados do IPEA), o PIB da Bahia alcança US$ 8,36 bilhões. 87 cavalcanti.pmd 87 12/5/2008, 09:15 nacionais e importados foram ampliados e a estes somaram-se os incentivos regionais que envolviam a isenção de imposto de renda, a redução do imposto de circulação de mercadorias para aplicação em programas de expansão e mecanismos de capitalização das empresas através de participações acionárias vinculadas a incentivos fiscais (principalmente o FINOR – Fundo de Investimentos do Nordeste) (ERBER, 1995, p. 9). Como resultado, a estrutura de capital das empresas do COPEC revela uma reduzida participação do setor privado nas fontes de financiamento utilizadas para sua implantação. Guerra e Gonzalez (1996, p. 39) assinalam que o conjunto de incentivos fiscais e financeiros “possibilitou ao capital privado reduzir drasticamente o risco de sua participação nos empreendimentos e garantiu vantagens comparativas à Bahia”. Com efeito, Teixeira (1985, p. 197-198) assinala que o capital efetivamente investido pelos parceiros privados nas empresas do Pólo Petroquímico correspondia a apenas 12,5% do investimento total, sendo 9,1% de parceiros locais e 3,4% dos sócios externos.66 Em oposição, a participação do então Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE) no financiamento dos investimentos alcançou cerca da metade dos aportes totais.67 Esses dados podem ser vistos na Tabela 3.2, extraída de Teixeira (1985, p. 197), que apresenta as fontes de financiamento dos investimentos nas empresas do COPEC. Além dos incentivos fiscais e financeiros, outros fatores contribuíram para a localização do COPEC na Bahia. Embora 66 67 Convém lembrar que, além dos recursos financeiros diretamente alocados, os sócios externos detinham parte do capital das empresas pelo fato de terem cedido as tecnologias empregadas. Ao se somarem os recursos financiados pelo então BNDE (40,4% do total) com os endossos (7,6%), chega-se a 48,0% do total, exclusive os financiamentos indiretos concedidos através da Financiadora de Insumos Básicos (FIBASE). 88 cavalcanti.pmd 88 12/5/2008, 09:15 Tabela 3.2 -Fontes de financiamento dos investimentos nas empresas do Complexo Petroquímico de Camaçari Fonte US$ Milhões Participação Investimentos (recursos próprios) 979.571 41,1% Petroquisa 279.146 11,7% Parceiros locais (FIBASE)68 216.355 9,1% 81.320 3,4% 402.750 19,9% 1.406.242 58,9% BNDE 965.521 40,4% Endossos do BNDE 180.743 7,6% 28.821 1,2% 231.157 9,7% 2.385.813 100% Parceiros externos Concessões fiscais (FINOR, etc) Recursos financeiros (recursos de terceiros) Outras fontes locais de financiamento Outras fontes externas de financiamento Total Fonte: Martins (1982) apud Teixeira (1985, p. 197). distante dos maiores centros de consumo em nível nacional e contando com uma infra-estrutura relativamente limitada, a Bahia, conforme aponta Cavalcante (1998), “dispunha então das melhores condições do país em termos de fornecimento de matéria-prima”, sendo, naquele momento, “o maior produtor de petróleo e praticamente o único de gás natural do país” e possuindo “a primeira grande refinaria nacional, a Refinaria Landulpho Alves — RLAM” (CAVALCANTE, 1998, p. 69). Além disso, o governo do estado investiu cerca de US$ 125 mi68 Subsidiária do então BNDE para investimentos na indústria de base. Conforme destaca Teixeira (1985, p. 218), a FIBASE “podia tanto adquirir ações com direito a voto ou financiar a aquisição de ações por investidores privados”. 89 cavalcanti.pmd 89 12/5/2008, 09:15 lhões de dólares na infra-estrutura em torno do Pólo (ALMEIDA, 1986, p. 163).69 Todavia, a localização do COPEC a cerca de 15 quilômetros do porto (em oposição à sua instalação na Baía de Aratu) foi objeto de contestação, seja em virtude da existência de um lençol freático na região onde o pólo terminou sendo instalado, seja por razões de natureza logística. O fato é que o COPEC definitivamente alterou a estrutura econômica do estado. Conforme discutido na Seção 3.6, a participação do setor industrial na composição do PIB do estado passou, ao longo da década de 1970, de 12,4% para 31,6%. Dados um pouco mais recentes indicam que, em meados da década de 1980, os segmentos químico e petroquímico respondiam por cerca de metade do valor agregado bruto da transformação industrial no estado e mais de 60% da arrecadação do então ICM. Quando em plena operação, em meados da década de 1980, o COPEC gerava um total estimado de 24 mil empregos. Ainda assim, o COPEC (mesmo no período que antecedeu o processo de reestruturação produtiva da década de 1990 que implicou redução substancial de postos de trabalho) demonstrou baixa capacidade de absorção de mão-de-obra, uma vez que o segmento químico e petroquímico respondia, em meados da década de 1980, por menos de 15% do total do pessoal ocupado na indústria do estado. Entretanto, mesmo se tratando de um número reduzido quando confrontado com os investimentos totais, o número é expressivo quando comparado com as iniciativas que precederam o COPEC, especialmente quando se levam em conta os empregos indiretos e os chamados empregos efeito-renda decorrentes da injeção de uma massa salarial bastante representativa em relação à economia do estado. 69 Na verdade, desse total apenas 20% foram efetivamente investidos pelo governo do estado, tendo cabido o restante ao governo federal por meio de financiamentos sem retorno. 90 cavalcanti.pmd 90 12/5/2008, 09:15 Dessa forma, as repercussões da implantação do COPEC não se limitaram ao setor industrial e à arrecadação do estado. Com efeito, desenvolveu-se, no entorno das empresas ali situadas, uma razoável infra-estrutura de serviços industriais, e o comércio, sobretudo em Salvador, experimentou uma expansão como conseqüência do efeito-renda gerado pelo investimento. Pretendia-se, explicitamente, que o COPEC exercesse um feito indutor tipicamente atribuído aos pólos de crescimento discutidos na Seção 2.3 deste trabalho, uma vez que se esperam efeitos para frente em diversos segmentos. Nos termos de Mascarenhas (1978), O Pólo Petroquímico [...] não deve esgotar suas potencialidades sobretudo no que tange à sua capacidade germinativa. Espera-se que possa este viabilizar para o Nordeste um parque produtor de fertilizantes, de químicos finos e plásticos, já assegurando presentemente a produção de toda a matéria-prima básica da indústria têxtil sintética (MASCARENHAS, 1978, p. 96). Além disso, o crescimento de Salvador em direção ao norte e o boom imobiliário observado na costa atlântica da península (em oposição à concentração histórica da cidade na face voltada para o interior da Baía de Todos os Santos) mantêm forte associação com a implantação do Complexo em Camaçari. Uma outra iniciativa importante para a chamada especialização regional (que consolidava a Bahia como um estado produtor de bens intermediários) foi o início das operações da unidade da Caraíba Metais voltada para a metalurgia do cobre em 1982. Esse evento elevou a participação do setor na estrutura da indústria de transformação no estado de 5,8%, em 1982, para 8,6%, em 1983 e, em 1988, o setor já havia atingido seu nível atual de participação no conjunto da atividade de transformação industrial na Bahia (cerca de 15%). 91 cavalcanti.pmd 91 12/5/2008, 09:15 Não há dúvida que essas iniciativas somadas elevaram definitivamente a Bahia a uma condição diferenciada em relação aos demais estados da região Nordeste. Não somente o peso do segmento industrial na composição do PIB do estado elevou-se de forma representativa como também se estabeleceu, na Bahia, a produção de um conjunto de bens intermediários empregados na indústria de bens finais ainda incipiente no estado. Dessa forma, a economia baiana consolidava um caráter de complementaridade em relação à economia da região Sudeste do país. 3.5 O suporte institucional ao processo de industrialização Conforme evidenciado nas seções anteriores, os principais movimentos que marcaram o processo de industrialização da Bahia entre as décadas de 1950 e 1980 (particularmente a criação do Centro Industrial de Aratu e a implantação do Complexo Petroquímico de Camaçari) estiveram diretamente associados aos conceitos de aglomeração e pólos de crescimento. Esses movimentos claramente apoiaram-se em estímulos do Estado, uma vez que se julgava que haveria, conforme já antecipara Perroux (1977 [1955], p. 152) ao discutir os pólos de crescimento, “hesitação ou lentidão” por parte das chamadas indústrias motrizes em se instalarem de maneira espontânea. Na prática, o que se observou foi uma combinação de: (i) investimentos do governo federal por meio de empresas estatais; (ii) implantação da infra-estrutura básica de suporte ao processo de industrialização, com destaque para a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF) e o asfaltamento integral da rodovia RioBahia; (iii) uso extensivo de incentivos fiscais e financeiros concedidos por instituições federais de desenvolvimento regional, especialmente o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e a SUDENE; e (iv) criação e manutenção de um sistema estadual razoavel- 92 cavalcanti.pmd 92 12/5/2008, 09:15 mente articulado de planejamento e suporte ao desenvolvimento econômico. Assim, à parte os investimentos diretos no setor produtivo e em infra-estrutura, o processo de industrialização ocorrido na Bahia entre as décadas de 1950 e 1980 contou, principalmente, com o suporte de duas instituições federais (BNB e SUDENE) e de um conjunto de instituições estaduais de planejamento e suporte ao desenvolvimento econômico. É dessas instituições que tratam as subseções seguintes. 3.5.1 O Banco do Nordeste do Brasil e a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste Ao longo da década de 1950, o governo federal criou duas instituições de suporte ao desenvolvimento regional que, de maneira articulada, atuaram na concessão de incentivos fiscais e financeiros com o propósito de criar condições favoráveis à migração de capitais para a região Nordeste. O Banco do Nordeste do Brasil (BNB) foi criado em 195270 e iniciou suas operações em 1954, após sua Assembléia Geral de Constituição (que ocorreu em 18 de janeiro daquele ano). Ao longo de seu período inicial de atuação, o BNB empregou recursos do Fundo das Secas, extinto após a criação e fortalecimento do sistema de incentivos fiscais (ABDE, 1994, p. 99). Na prática, o BNB atuou como uma instituição mista, uma vez que captava depósitos do público e repassava recursos de longo prazo, viessem esses do BNDES ou de fundos constitucionais. Nos termos de Lees, Botts e Cysne (1990): O BNB apresenta características híbridas de um banco comercial e de desenvolvimento. Com efeito, a instituição, ao contrário dos bancos estaduais de desenvolvimento, configurou-se como captadora de depósitos e, ao mesmo tempo, 70 Lei n. 1.649, de 19/07/1952. 93 cavalcanti.pmd 93 12/5/2008, 09:15 provedora de recursos de longo prazo. O funding do BNB para estas operações, entretanto, provinha de programas de incentivos fiscais (uma vez que era o agente financeiro da SUDENE), contribuições do governo, operações em moeda estrangeira e agências de empréstimos internacionais (LEES; BOTTS; CYSNE, 1990, p. 143). Em virtude de seu menor custo financeiro, os fundos constitucionais foram o principal diferencial do banco no mercado de crédito, levando-o a disputar com outras instituições o acesso aos recursos públicos disponíveis. Em 1974, por exemplo, o então presidente do BNB, Nilson Holanda, apelou para “os líderes políticos da região” para que fosse garantido o acesso da instituição “aos fundos de exigibilidade a longo prazo e baixo custo financeiro” (HOLANDA, 1974, p. 80). Cerca de dois anos após iniciadas as atividades do BNB, foi implantado, em 1956, o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN),71 cujas análises e propostas forneceriam os fundamentos para a criação, em 1959, da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).72 Araújo (1997, p. 452) destaca que o GTDN reservava ao setor público um papel fundamental na promoção do desenvolvimento da região, que deveria apoiar-se fundamentalmente na industrialização. De fato, como colocado no documento, Tendo em conta a elevada densidade demográfica da faixa litorânea [da região Nordeste], para elevar a produtividade do trabalho nessa região é mister aumentar a densidade de 71 72 O site da SUDENE (<http://www.sudene.gov.br/gti/index.html>. Acesso em: 23/08/2005) registra a criação do GTDN em 1957. O GTDN, posteriormente transformado no Conselho de Desenvolvimento do Nordeste (CODENO), ensejou, em 1959, a criação da SUDENE (Lei n. 3.692, de 15/12/1959). O documento base que deu origem à SUDENE (Uma política de desenvolvimento para o Nordeste) é de 1959 (GTDN, 1959) e, embora atribuído ao grupo, é, possivelmente, de autoria de Celso Furtado (ALBUQUERQUE, 1997, p. 470). 94 cavalcanti.pmd 94 12/5/2008, 09:15 capital por pessoa ocupada, o que implica, necessariamente, a industrialização (GTDN, 1997 [1959], p.426). Assim, não surpreende que a SUDENE tenha se voltado para uma estratégia de industrialização intensiva da região. Embora Teixeira e Guerra (2000, p. 89) afirmem que “a idéia inicial, contida no relatório do GTDN, era, sobretudo, a de promover as indústrias de consumo final, replicando a estrutura industrial existente no Centro-Sul”, e Spinola (2003, p. 109) destaque que “o GTDN objetivava um processo regional de substituição de importações”, o fato é que o documento do GTDN é bastante abrangente na indicação dos setores industriais prioritários, propondo desde a instalação de uma indústria siderúrgica, passando pelas indústrias mecânicas a jusante e pelas indústrias que se apoiariam em uma base favorável de matériasprimas locais até as indústrias tradicionais como aquelas do setor têxtil (GTDN, 1997 [1959], p.427). Os instrumentos empregados, no período inicial, ficaram conhecidos como Sistema 34/18. Trata-se, na prática, de uma referência ao Artigo 34º da Lei n. 3.995, de 14/12/1961, que permitia a dedução do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas de recursos destinados a investimentos na região, e ao Artigo 18º da Lei n. 4.239, de 27/06/1963, que estendia essa dedução à aquisição de obrigações emitidas pela SUDENE para ampliar os recursos do Fundo de Investimentos para o Desenvolvimento Econômico e Social do Nordeste (FIDENE). Esse fundo, cujas fontes envolviam também recursos orçamentários, era utilizado na subscrição, pela SUDENE, de capital de empresas instaladas no Nordeste.73 As73 A Lei n. 4.239, de 27/06/1963, que criou o FIDENE, permitiu também o seu uso no financiamento de atividades destinadas ao aproveitamento de recursos minerais da região e de construção de habitações populares, bem como na cobertura de riscos cambiais assumidos pela SUDENE. Convém ressaltar ainda que era permitida a aplicação de recursos do 34/18 na compra de Obrigações da SUDENE, mas, em contrapartida, exigia-se que o depositante aportasse determinado volume de recursos próprios no empreendimento incentivado. 95 cavalcanti.pmd 95 12/5/2008, 09:15 sim, o Sistema 34/18 combinava incentivos fiscais (especialmente para a capitalização do FIDENE) e financeiros (através da subscrição de capital pela SUDENE). É conveniente enfatizar que Sistema 34/18 referia-se a operações de capital de risco, uma vez que o incentivo concedido ao depositante deveria ser aplicado no investimento, com todos os riscos inerentes à iniciativa. As operações diferiam, portanto, das do chamado capital de empréstimo, nas quais se requeria reembolso fixo e obrigatório. A retórica subjacente à criação dos incentivos do Sistema 34/18 era que se buscava atrair para o Nordeste o know-how ou a capacidade empresarial do Centro-Sul necessária para promover a industrialização da região e, subsidiariamente, se buscava também atrair capital para aplicação em projetos de interesse regional. Conforme assinala Hirschman (1967), o Sistema 34/18 permitiria a aplicação de recursos incentivados em projetos de desenvolvimento da região, objetivando, entre outras finalidades: · · elevar a poupança interna do país e da região; · evitar interferências nas decisões relativas ao funcionamento das empresas; · reduzir as perspectivas de riscos e prejuízos futuros dos empreendimentos localizados na região; e · quantificar os custos sociais inerentes aos programas de desenvolvimento regional. ampliar o efeito multiplicador dos investimentos, induzindo a criação de novas fontes de formação de capital; Entretanto, apesar de seus objetivos ambiciosos e do aprendizado institucional que proporcionou, o Sistema 34/18 gerava distorções, sobretudo devidas a conflitos de interesses entre depositantes, intermediários e investidores. Argumentava-se que a situação ideal seria a eliminação da figura do intermediário, de modo que o depositante investisse em seu próprio 96 cavalcanti.pmd 96 12/5/2008, 09:15 projeto ou em uma associação de projetos de empreendimentos locais. Outra distorção apontada é que o sistema penalizava, sobretudo, o pequeno depositante e a pequena empresa, que pagavam elevadas comissões aos agenciadores, corretores e escritórios de projetos. Conforme assinala Holanda (1975), [...] em fins de 1973, por exemplo, 94% do total dos depositantes do 34/18 na área do Nordeste (cerca de 162.763 para um total de 171.592 depositantes ativos) possuíam depósitos de valor não superior a Cr$ 15.000 e representativos de não mais que 26% do total dos depósitos. Na prática, portanto, o Sistema 34/18 beneficiava os grandes depositantes, que aplicavam em seus próprios projetos e não pagavam qualquer tipo de comissão aos corretores, e os grandes projetos, que conseguiam mobilizar recursos a taxas bastante inferiores às praticadas no mercado. Além disso, argumentava-se freqüentemente que o sistema de incentivos era oneroso, ineficaz e de baixa eficácia social porque contribuía para a concentração de renda e beneficiava, em primeiro lugar, a classe empresarial do Centro-Sul, para onde era canalizada a massa dos recursos financeiros oriundos do Sistema 34/18.74 Com base no diagnóstico das debilidades do Sistema 34/18 e em um contexto de fortalecimento da SUDENE, foi criado, em 1974, o Fundo de Investimentos do Nordeste (FINOR),75 que daria nome àquilo que ficaria conhecido como Sistema FINOR. A bem da verdade, o fundo propriamente dito, que pode ser considerado um desdobramento do antigo FIDENE, destinava-se ao apoio financeiro através de participação acionária e/ou aquisição de debêntures conversíveis ou não em ações. A 74 75 Ver também a Seção 3.3 para uma discussão sobre o comportamento “rentista” adotado por algumas empresas que se instalaram no CIA. Decreto-Lei n. 1.376, de 12/12/1974. 97 cavalcanti.pmd 97 12/5/2008, 09:15 mesma lei que o instituiu estabeleceu que o FINOR seria operado pelo Banco do Nordeste.76 Conforme indicado nos documentos Incentivos fiscais e financeiros para o Nordeste (MINISTÉRIO DO INTERIOR – SUDENE/BNB, 1979) e Incentivos fiscais e financeiros para investimentos no Nordeste do Brasil (MINISTÉRIO DO INTERIOR – SUDENE/BNB, 1982), a participação acionária era feita mediante a subscrição de ações nominativas e intransferíveis pelo prazo de quatro anos, enquanto as debêntures, nominativas ao FINOR e intransferíveis, tinham duração total máxima de sete anos, sendo tolerada uma carência não superior à metade do prazo total de resgate e taxas equivalentes a 4% mais correção monetária. A participação do FINOR podia atingir até 75% dos recursos necessários para a implantação do projeto, variando conforme o investimento e sua faixa de prioridade. O fundo não apoiava saneamento financeiro de empresas, não podia ser utilizado para captação de capital de giro puro e não assumia controle acionário das empresas apoiadas. Convém observar que, na prática, de maneira análoga ao Sistema 34/18, o Sistema FINOR foi essencialmente concebido para apoiar empresas de maior porte, uma vez que havia um limite mínimo para os investimentos que podiam beneficiar-se de seus incentivos. Mas o conjunto de incentivos ia muito além do apoio do fundo: admitia-se também a isenção ou redução do Imposto de Importação (II) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), conforme a natureza do empreendimento. Previa-se ain76 Embora o Banco do Nordeste recebesse, desde 1962, depósitos oriundos do Sistema 34/18 (<http://www.bancodonordeste.gov.br/banco/historia/dec60.html>), sem dúvida a instituição do FINOR confere ao banco um papel de maior destaque no processo. Do ponto de vista legal, o Banco do Nordeste manteve o monopólio da operação do FINOR (e também do FNE, criado em 1988) até 2001, quando a Medida Provisória n. 2.156-5, de 24/08/2001, e a Portaria 460 passaram a permitir sua operação por “outras instituições financeiras oficiais federais”. 98 cavalcanti.pmd 98 12/5/2008, 09:15 da a isenção do Imposto de Renda (IR) por dez anos (prorrogáveis até quinze) e sua redução para as empresas que, operando na área de atuação da SUDENE, não houvessem sido beneficiadas com redução total ou não tivessem obtido a prorrogação mencionada. As empresas que tinham IR a recolher, por sua vez, poderiam utilizá-lo para reinvestimentos no FINOR. Se a esse conjunto de incentivos forem adicionados os financiamentos ou avais concedidos pelo então Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE)77 ou pelo BNB e os incentivos estaduais e municipais, chega-se a um pacote razoavelmente articulado de incentivos fiscais e financeiros no âmbito do Sistema FINOR. Dados mencionados por Monte e Távora Júnior (2000, p. 684) indicam que, entre 1980 e 1995, os desembolsos do FINOR ultrapassaram R$ 5 bilhões e evidenciam sua especial concentração no setor industrial. Convém observar, entretanto, que, em apenas oito anos de funcionamento, o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) aplicou um volume de recursos 50% maior (R$ 7,5 bilhões) do que aquele do FINOR ao longo de quinze anos (período 1980-1995). Além disso, dados organizados por Monte e Távora Júnior (2000) não deixam dúvida quanto ao fato de que, do ponto de vista da distribuição interestadual de recursos do FINOR no período, “os estados do Ceará e Pernambuco foram os que apresentaram os maiores índices de orientação do FINOR, em contraposição aos estados de Alagoas e Bahia” (MONTE; TÁVORA JÚNIOR, 2000, p. 684). Uma outra importante fonte de recursos empregada pelo BNB em paralelo ao FINOR foi o FNE.78 Essencialmente, esse 77 78 Hoje Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Criado em 1988 através do Artigo 159º, Inciso I, Alínea “c” da Constituição Federal (que destinou 3% do produto da arrecadação dos impostos sobre a renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados para aplicação em programas de financiamento aos setores produtivos das regiões Norte, 99 cavalcanti.pmd 99 12/5/2008, 09:15 fundo utilizava recursos orçamentários vinculados correspondentes a 1,8% da arrecadação do IR e do IPI, o que evitava a possibilidade de cortes associados a contingências. O FNE foi usado como fonte de recursos para alguns programas do BNB, como o Programa de Fomento à Geração de Emprego e Renda no Nordeste, que mais tarde passaria a empregar recursos do FAT. Condições diferenciadas aplicavam-se aos financiamentos concedidos com recursos do FNE nas regiões do semi-árido nordestino. De acordo com Monte e Távora Júnior (2000, p. 685), entre 1990 e 1998, o FNE aplicou mais de R$ 7,5 bilhões, que foram desembolsados, de modo bastante irregular ao longo do período. Esses mesmos autores demonstram claramente que o Ceará teve acesso diferenciado aos recursos do FNE e indicam o fato de a sede do Banco do Nordeste estar situada em Fortaleza como possível razão para esse fenômeno (MONTE; TÁVORA JÚNIOR, 2000, p. 686). Conforme indicado em SUDENE/BNB (1986), em 1986, o Ministério do Interior instituiu a Comissão de Avaliação de Incentivos Fiscais (COMIF), fórum de abrangência interministerial, com a finalidade de avaliar e oferecer sugestões para o aperfeiçoamento dos Fundos Regionais de Investimentos. No Nordeste, a avaliação do FINOR ficara a cargo do BNB e da SUDENE, que elaboraram estudos econômicos, financeiros e institucionais para a consolidação das propostas de reformulação. Os estudos enfatizaram a importância do FINOR para o desenvolvimento industrial do Nordeste, sublinhando que a indústria implantada possibilitou a modernização e diversificação da estrutura produtiva regional, em condições de competir com os mercados extraNordeste e Centro-Oeste) e regulamentado através da Lei n. 7.827, de 27/09/1989. Além do FNE, essa mesma lei regulamentou o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) e o Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO). Os 3% previstos na Constituição Federal seriam assim distribuídos: 1,8% para o FNE, 0,6% para o FNO e 0,6% para o FCO. 100 cavalcanti.pmd 100 12/5/2008, 09:15 regionais. De fato, diversos autores (CANO, 1995; FERREIRA; DINIZ, 1995) reconhecem que, entre 1970 e 1985 — não por coincidência o período durante o qual a SUDENE teve mais força —, houve um vigoroso processo de desconcentração regional de renda no país. Entretanto, no que diz respeito à alocação setorial e regional dos recursos incentivados, bem como a questões de dimensões institucionais, as análises realizadas pela própria SUDENE (SUDENE/BNB, 1986) identificaram um conjunto de falhas e/ou imperfeições que demandavam correções. As sugestões apresentadas foram destacadas em seis grupos distintos, envolvendo subconjuntos de medidas e linhas de ação que objetivavam: (i) fortalecimento do FINOR; (ii) incentivo à efetiva criação de mercado regional de ações; (iii) distribuição mais eqüitativa do crescimento e diminuição da concentração espacial e setorial da renda; (iv) apoio e recuperação de empresas incentivadas; (v) aperfeiçoamento de ordem jurídica e administrativa; e (vi) avaliação e acompanhamento periódico do Sistema FINOR. Pela sua contemporaneidade, esses diagnósticos deixam de perceber que a crise à qual se referiam tinha fundamentos que iam muito além dos aspectos puramente instrumentais. De fato, é em meados da década de 1980 que o desmantelamento da SUDENE é iniciado. Não por acaso, a queda dos índices de desigualdade regionais de renda entre os estados do Brasil passou a decorrer, a partir daquele momento, de uma homogeneização no interior das grandes regiões, e não da redução das desigualdades entre as grandes regiões (CAVALCANTE, 2003a).79 A agonia da SUDENE estendeu-se por mais cerca de quinze anos. Finalmente, em 2001, a superintendência foi extinta e convertida na Agência de Desenvolvimento do Nordeste (ADENE).80 Nesse mesmo ano, foi criado o Fundo de Desenvolvimento do 79 80 Na parte inicial do Capítulo 4, é apresentada uma análise mais detalhada dessa proposição. Medida Provisória n. 2.156-5, de 24/08/2001. 101 cavalcanti.pmd 101 12/5/2008, 09:15 Nordeste (FDN),81 que pressupunha que os recursos aprovados fossem convertidos em debêntures. O FDN apoiava-se essencialmente em dotações orçamentárias (R$ 660 milhões previstos para o exercício de 2002, de acordo com o Artigo 4º da MP 2.156-5) e exigia contrapartida, em igual montante, dos estados e municípios. Além disso, convém observar que do montante previsto no Artigo 4º da MP 2.156-5 seriam dedutíveis [...] as parcelas equivalentes às opções de incentivo fiscal, relativas ao IRPJ, exercidas pelas empresas, bem como quaisquer comprometimentos de recursos decorrentes de opções de incentivos fiscais no âmbito do FINOR.82 Na prática, contudo, o que se observou foi a continuidade do processo de desmantelamento da instituição e o fracasso da tentativa de recriação da SUDENE no período entre 2002 e 2003. 3.5.2 Instituições estaduais de planejamento e suporte ao desenvolvimento econômico No âmbito do governo do estado, um conjunto razoavelmente vasto e articulado de instituições esteve envolvido no planejamento e suporte ao desenvolvimento econômico. Em particular, destacam-se, conforme assinalam Santos e Oliveira (1988):83 · 81 82 83 A Comissão de Planejamento Econômico (CPE), criada em 1955 com o propósito de elaborar pesquisas econômicas voltadas para a proposição de estratégias de desenvolvimento da Bahia. A CPE foi constituída a Artigo 3º da Medida Provisória n. 2.156-5, de 24/08/2001. Artigo 5º da Medida Provisória n. 2.156-5, de 24/08/2001. Também o Plandeb (BAHIA, 1960, p. 176) cita os órgãos de pesquisa e planejamento atuantes na Bahia no final da década de 1950, incluindo as instituições federais. 102 cavalcanti.pmd 102 12/5/2008, 09:15 partir de convênio celebrado com o Banco do Nordeste e com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que permitiu a edição de um Curso de Desenvolvimento Econômico (ALMEIDA, 1986, p. 95). 84 · O Instituto de Economia e Finanças da Bahia (IEFB), vinculado à Universidade Federal da Bahia e voltado para discussões de caráter mais acadêmico. O IEFB recebeu, em seus quadros, uma parte dos técnicos treinados no âmbito do convênio citado acima. · O Conselho de Desenvolvimento Econômico (CONDEB), instância deliberativa das políticas propostas. · O Fundo de Desenvolvimento Agroindustrial (Fundagro), criado em 195684 e transformado, dez anos mais tarde, no Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia (Desenbanco). O Fundagro havia sido criado para atuar em circunstâncias nas quais não fosse possível mobilizar a iniciativa privada, o que caracteriza uma intervenção direta do governo no segmento produtivo, particularmente na área de abastecimento. A criação do Desenbanco, que assumiu as operações ativas e passivas do antigo Fundagro, marcou uma transição na retórica empregada pelo Estado até então. Aparentemente, a mensagem era de que, pelo menos teoricamente, caberia ao setor privado identificar as oportunidades de investimentos e selecioná-las, restando à rede pública de bancos oficiais conceder crédito de longo prazo para financiar essas iniciativas, enquanto o sistema financeiro privado e o mercado de capitais não estivessem aptos a prover o financiamento necessário. O risco des- Lei Estadual n. 849, de 19/10/1956. 103 cavalcanti.pmd 103 12/5/2008, 09:15 sas operações seria, em tese, menor para o Estado (que se colocava como provedor de recursos de terceiros, e não de recursos próprios) do que para o segmento privado, a quem caberia honrar a amortização dos créditos mesmo em caso de fracasso do empreendimento.85 · O Instituto de Fomento Econômico da Bahia (IFEB), que, mais tarde, seria transformado no Banco do Estado da Bahia (BANEB). A rigor, conforme descreve Lima (2001, p. 66), a Bahia contava, desde 1937, com o Instituto Central de Fomento Econômico da Bahia (ICFEB), transformado mais tarde no Instituto de Fomento Econômico da Bahia (IFEB). O IFEB, por sua vez, daria origem, em 1959/1960, ao Banco de Fomento do Estado da Bahia (BANFEB), cujo nome seria alterado, em seguida, para Banco do Estado da Bahia (BANEB), de modo a caracterizá-lo claramente como um banco comercial e permitir seu acesso sumário a fontes de recursos vedadas aos bancos de desenvolvimento. Essas instituições (em particular a CPE) estiveram associadas à produção de estudos com o propósito básico de subsidiar as ações de planejamento do governo do estado. De uma forma geral, essas publicações traziam um diagnóstico econômico (e muitas vezes também demográfico, físico e de várias outras naturezas) e, em seguida, proposições de ação. Embora produzidos no âmbito do próprio governo do estado (o que poderia sugerir que essas publicações estariam associadas a influências políticas), o fato é que, de uma forma geral, o conteúdo dos diagnósticos era bastante técnico, e a linguagem essencialmente acadêmica. Por outro lado, as proposições de ação, embora enfáticas em questões-chave (como a necessidade de industrialização e de redução das desigualdades regio85 Para uma descrição detalhada da atuação do Desenbanco, ver Cavalcante (2004). 104 cavalcanti.pmd 104 12/5/2008, 09:15 nais), mantinham, de uma forma geral, uma maior flexibilidade.86 Uma listagem não exaustiva de publicações desse tipo inclui [Bahia] (1955), Bahia (1960), Fundação de Planejamento – CPE (1974), CEPLAB – Centro de Planejamento da Bahia (1978), Bahia (1983), Bahia (1987), Bahia (1991), Bahia (1999), Avena (2002) e Bahia (2003). É fácil perceber que muitas delas são citadas ao longo desse documento, constituindo-se hoje em fonte de pesquisa essencial, uma vez que não apenas trazem informações sobre a realidade da economia do estado nos momentos em que foram produzidas, mas também permitem a reconstituição da trajetória das idéias que marcaram as ações de planejamento do desenvolvimento econômico ao longo do tempo. 3.6 A estrutura resultante Conforme evidenciado nas Seções 3.2, 3.3 e 3.4, a estrutura que resultou do processo de industrialização das décadas de 1950, 1960 e 1970 caracterizava-se por sua concentração em commodities intermediárias, decorrente de uma estratégia de industrialização que se propunha complementar àquela das regiões mais desenvolvidas do país, em um contexto de integração produtiva de uma economia fechada. Essa trajetória distingue-se do caminho adotado pelos demais estados da região Nordeste, que optaram por uma estrutura que, em certa medida, replicasse aquela observada na região Sudeste do país ao buscar uma industrialização intensiva em mão-de-obra (ALBUQUERQUE, 1997). 86 Isso não quer dizer que alguns trabalhos não tenham sido bastante prescritivos. Esse é o caso, por exemplo, da Proposta de Política Industrial (BAHIA, 1983), que chega a apresentar uma minuta da Lei que instituiria e do decreto que regulamentaria o “Fundo de Desenvolvimento Industrial e Agroindustrial do Estado da Bahia” (BAHIA, 1983, p. 297). Na verdade, propunha-se a integração do planejamento do desenvolvimento industrial com o financiamento de fomento e com a promoção industrial. 105 cavalcanti.pmd 105 12/5/2008, 09:15 Apoiada na crescente integração dos mercados do país em virtude da implantação de uma malha rodoviária que terminou articulando a região Nordeste com as regiões Sul e Sudeste, tratava-se, a bem da verdade, de uma estratégia de “especialização regional” (GUERRA; GONZALEZ, 1996, p. 38) explicitamente colocada já em 1970, quando Almeida (1970) destacava que “a industrialização da Bahia se fará dominantemente com destino às exportações interestaduais e, em certos casos, para fora do país”. Ao se examinarem as repercussões desse processo sobre as taxas de crescimento locais em relação às taxas nacionais (o que, na prática, significa acompanhar a evolução da participação do PIB da Bahia no PIB do Brasil) e regionais (evolução do PIB da Bahia no PIB da região Nordeste), é indiscutível que as iniciativas mencionadas — especialmente a implantação do Complexo Petroquímico de Camaçari — lograram obter resultados bastante positivos, seja através da elevação da participação do PIB da Bahia no PIB do Nordeste e do Brasil, consolidando sua posição de sexta economia do país, seja atuando contraciclicamente nos momentos em que a região Nordeste via reduzir-se sua participação no PIB nacional, conforme evidenciam as Figuras 3.1 e 3.2 a seguir e os Apêndices 1 e 2. As Figuras 3.1 e 3.2 confirmam a hipótese de que, em um contexto marcado pela crescente integração dos mercados nacionais através de uma malha rodoviária razoavelmente articulada, a estratégia de industrialização complementar à região Sudeste, adotada pela Bahia, foi bem-sucedida quando comparada ao desempenho apresentado por Pernambuco, que parece ter pretendido replicar a estrutura industrial existente nas regiões mais desenvolvidas do país. Em particular, durante a década de 1970, a taxa média de crescimento real do PIB da Bahia foi de 11,4%, contra 9,7% do conjunto da região Nordeste e 8,6% do Brasil (GUERRA; GONZALEZ, 2001, p. 309). Ainda assim, os efei- 106 cavalcanti.pmd 106 12/5/2008, 09:15 107 cavalcanti.pmd 107 12/5/2008, 09:15 1950 1955 1960 1965 1970 Nordeste 1975 1980 Pernambuco Bahia 1985 1990 Ceará 1995 2000 2005 Fonte: Elaboração própria, usando dados do IBGE (1985-2002) e dados gentilmente cedidos pelo Professor Carlos Roberto Azzoni para o período 1947-1984. Figura 3.1 - Nordeste, Bahia, Pernambuco e Ceará: % PIB do Brasil, 1947-2002 1945 0,00% 2,00% 4,00% 6,00% 8,00% 10,00% 12,00% 14,00% 16,00% 18,00% 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 1945 0,00% 1950 1955 1960 1965 1970 1975 Bahia 1980 1985 1995 Ceará Pernambuco 1990 2000 2005 12/5/2008, 09:15 108 cavalcanti.pmd Figura 3.2 - Bahia, Pernambuco e Ceará: % PIB do Nordeste, 1947-2002 Fonte: Elaboração própria, usando dados do IBGE (1985-1999) e dados gentilmente cedidos pelo Professor Carlos Roberto Azzoni para o período 1947-1984. 108 tos da integração do mercado brasileiro através de um sistema rodoviário razoavelmente articulado não podem ser considerados homogêneos para o conjunto das iniciativas de industrialização adotadas na Bahia ao longo da segunda metade do século XX: se, por um lado, esse movimento colocou o Complexo Petroquímico de Camaçari na condição de fornecedor de insumos para a indústria instalada na região Sudeste, por outro colocou em xeque as empresas do CIA voltadas para a produção de bens finais. Um aspecto que se deve considerar, ainda, é que a Bahia parece ter se beneficiado do maior enraizamento dos segmentos produtores de bens intermediários em virtude dos maiores sunk costs associados a sua implantação e de sua intensidade em capital. Nesse sentido, a estrutura que se fixou no estado entre as décadas de 1950 e 1980 parece ter sido mais resistente às baixas taxas de crescimento do final da década de 1980 do que teriam sido segmentos voltados para a produção de bens finais. Com efeito, a partir de meados da década de 1970, a participação média do PIB da Bahia no PIB do Brasil passa de um patamar inferior a 3,8% para mais de 4,5%, conforme indicado na Figura 3.3 a seguir. Embora a diferença em pontos percentuais possa parecer pequena, é preciso ter em mente que se trata de um desvio da ordem de mais de 15% do percentual atribuído à Bahia. Esses dados mostram que, embora a participação média do PIB da Bahia no PIB do Brasil tenha se situado em torno de 4,1% ao longo do período entre 1947 e 2002, houve, de fato, uma elevação de patamar após a metade da década de 1970. Essa percepção diverge, portanto, daquela de Azevêdo (2000), para quem a participação do PIB da Bahia no PIB do Brasil teria se mantido relativamente constante. Nos termos desse autor: Na segunda metade do século XX várias políticas de incentivos foram implementadas com o objetivo de alavancar o crescimento estadual. Agora, em finais do século, quase 50 109 cavalcanti.pmd 109 12/5/2008, 09:15 6,00% 5,50% 5,00% 4,50% 4,00% 3,50% 1945 3,00% 1955 Média 1947-2002 Média 1947-1975 1965 1975 1985 Média 1976-2002 1995 2005 12/5/2008, 09:15 110 cavalcanti.pmd Figura 3.3 - Bahia: % PIB do Brasil (Média 1947-2002) Fonte: Elaboração própria, usando dados do IBGE (1985-1999) e dados gentilmente cedidos pelo Professor Carlos Roberto Azzoni para o período 1947-1984. 110 anos depois dessas controvérsias, os analistas se surpreendem com a duradoura estabilidade da participação da renda baiana na renda nacional [...] indicando sua relativa constância em torno de 4,5% ao longo dos últimos 60 anos, desde 1939 até 1999 (AZEVÊDO, 2000, p. 49). Azevêdo (2000) empregou, porém, séries que não contemplavam todos os anos que compõem a amostra. Mesmo com as ressalvas metodológicas que se deve fazer a respeito do emprego da série utilizada no presente trabalho, pôde-se aqui, em decorrência da disponibilidade da série consolidada por Azzoni (2001) e gentilmente cedida por esse autor, chegar a conclusões distintas. A análise do desvio padrão, contudo, mostra, no período entre 1976 e 2002, uma trajetória mais instável, típica de uma economia concentrada em commodities intermediárias cujos preços estão sujeitos a elevados níveis de oscilação (Tabela 3.3). Embora consistente com a vulnerabilidade da economia local às oscilações típicas dos preços das commodities intermediárias, a constatação de que a participação da Bahia na economia brasileira teve maior variância após a consolidação do seu parque industrial contradiz a expectativa segundo a qual, por seus maiores níveis de integração com a economia brasileira, a Bahia apresentaria uma trajetória mais estável quando confrontada com o restante do país. Um outro aspecto a ser levado em consideração é a comparação do desempenho da Bahia com o desempenho dos demais estados da região Nordeste. Uma vez que a economia da Bahia compartilha determinados problemas com outros estados da região (parte representativa de seu território sujeita ao clima semi-árido, estrutura fundiária concentrada em grandes propriedades e uma série de outras características que justificam a inclusão da Bahia na região Nordeste), seu desempenho é afetado pelo desempenho do conjunto da região. Assim, ao conseguir 111 cavalcanti.pmd 111 12/5/2008, 09:15 Tabela 3.3 - Bahia: % PIB do Brasil (média e desvio padrão), 1947-2002 Média Desvio padrão 1947-2002 4,14% 0,53% 1947-1975 3,76% 0,22% 1976-2002 4,54% 0,48% Fonte: Elaboração própria. elevar sua participação no PIB da região, a Bahia fornece evidências de que, na conjuntura da época, a opção adotada pelo estado pode ter sido mais interessante do que tentar replicar a estrutura industrial instalada na região Sudeste. Os picos indicados para a Bahia nas Figuras 3.1, 3.2 e 3.3 evidenciam ainda que, como um desdobramento natural de seu processo de industrialização baseado em pólos de crescimento, o desenvolvimento econômico do estado deu-se em “ciclos” (UDERMAN, 1996; UDERMAN; MENEZES, 1997; 1998), “espasmos” (TEIXEIRA; GUERRA, 2000) ou “saltos” (MENEZES, 2000), terminando por configurar, já em 1980, uma estrutura produtiva que pouco se alteraria nos anos subseqüentes (MENEZES, 2001), conforme evidenciado na Figura 3.4. Se as iniciativas datadas do período compreendido entre 1950 e 1970 não haviam sido capazes de colocar o setor secundário em posição de destaque na composição do PIB do estado,87 a entrada em operação do Complexo Petroquímico de Camaçari e alguns outros movimentos observados (especialmente no setor metalúrgico) conseguiram consolidar a produção in87 Nas décadas de 1960 e 1970, o setor industrial é, de longe, o menos representativo na economia baiana, respondendo por pouco mais de um décimo da economia do estado. 112 cavalcanti.pmd 112 12/5/2008, 09:15 Fonte: Dados da SEI tabulados por Menezes (2001). 40,0 1960 12,4 21,2 1970 Primário 52,0 31,6 16,4 1980 Secundário Figura 3.4 - Composição setorial do PIB da Bahia, 1960-2000 0 20 40 12,0 0000000000000000000000000000000000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 0000000000000000000000000000000000 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 60 65,4 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 0000000000000000000000000000000000 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00 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00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000000000000000000000000000000000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000000000000000000000000000000000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000000000000000000000000000000000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 12/5/2008, 09:15 113 cavalcanti.pmd 80 Terciário 1990 12,8 38,1 48,9 0000000000000000000000000000000000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 0000000000000000000000000000000000 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 100 2000 10,1 41,3 48,6 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000000000000000000000000000000000 000000000000000000000000000000000 000000000000000000000000000000000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000000000000000000000000000000000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000000000000000000000000000000000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000000000000000000000000000000000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000000000000000000000000000000000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 113 dustrial na Bahia, elevando a participação do setor na economia do estado para cerca de um terço. Com o início das operações da Caraíba Metais, no segmento de metais não-ferrosos, e a consolidação das empresas do COPEC, sobretudo na primeira metade da década de 1980, o que se observou, no início da década seguinte, foi a elevação da participação do setor industrial no PIB do estado para quase 40%. Ao longo desse período de expansão do setor secundário, houve anos nos quais as atividades de transformação industrial cresceram a taxas da ordem de 30%, como em 1977 (32,0%), 1979 (29,4%) e 1980 (26,6%) (GUERRA; GONZALEZ, 1996, p. 39). Além da composição do PIB, outro indicador eloqüente do crescimento do setor industrial na Bahia entre as décadas de 1970 e 1980 é a arrecadação do ICM, em cujo total a participação da indústria elevou-se de cerca de 30%, em 1975, para mais de 55% em 1985. Desse total, a petroquímica respondia, de acordo com dados de Guerra e Gonzalez (2001, p. 309), por cerca de 64%. Ainda que tenha sido entre meados da década de 1970 e meados da década de 1980 que a Bahia exibiu taxas de crescimento bastante elevadas e transformou-se em uma economia industrializada, foi no período precedente, que se inicia na década de 1950, que se criaram as condições para que o estado lograsse obter aqueles resultados. Não se deve perder de vista que um dos principais motivos pelos quais a Bahia viria a abrigar o segundo Pólo Petroquímico do país foi justamente o fato de contar com uma refinaria em operação. Não seria exagero afirmar que o COPEC foi uma espécie de “efeito para a frente” da refinaria que o precedeu, não somente graças à oferta de insumos, mas também em virtude da existência de uma razoável infra-estrutura física no estado. Assim, à parte as discussões de caráter semântico, pode-se argumentar que, mais do que ter crescido em “espasmos”, “saltos” ou “ciclos”, a Bahia parece ter experimentado, ao longo da segunda metade do século XX, 114 cavalcanti.pmd 114 12/5/2008, 09:15 Fonte: Elaboração própria usando dados gentilmente cedidos por Edgard Porto. 2,9% 20,0% 31,0% 1975 Salvador Camaçari 12,6% 24,4% 1980 São Francisco do Conde Figura 3.5 - Participação da RMS na Economia Baiana, 1975-1985 0% 10% 20% 30% 40% 50% 6,9% 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00000000000000000000000000000000000000000000000000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000 12/5/2008, 09:15 115 cavalcanti.pmd 60% 18,7% 9,0% 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 70% Demais Municípios da RMS 1985 19,8% 13,0% 25,1% 8,7% 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 0 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 00 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 115 um processo de crescimento em “camadas” que se sobrepuseram, ainda que de forma irregular. As implicações espaciais desses movimentos estiveram associadas, sobretudo, a uma elevada concentração das atividades econômicas na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Com efeito, de acordo com dados estimados por Porto (2002), já em 1975, mais de 60% da atividade econômica da Bahia concentrava-se nessa região. Dados estimados por esse mesmo autor mostram ainda o aumento da participação relativa da RMS na economia baiana no período que se estende até 1985, o que pode, sem dúvida, ser atribuído ao extraordinário crescimento observado no município de Camaçari após o início das operações do Complexo Petroquímico ali situado, conforme evidenciado na Figura 3.5. Os dados mostrados na Figura 3.5 podem ser atribuídos a um conjunto de eventos ocorridos ao longo do período compreendido entre as décadas de 1950 e 1980. Entre eles, os seguintes podem ser citados: · O modelo de industrialização adotado apoiou-se largamente na criação de pólos de crescimento na região em torno da capital do estado. · As iniciativas de montagem, no interior do estado, de complexos agroindustriais voltados para a produção e distribuição de produtos agrícolas adotadas nas décadas de 1950 e 1960 não foram, em sua maioria, bem-sucedidas. · Os distritos industriais criados em cidades de médio porte no interior do estado, embora com impactos razoáveis nas regiões geográficas onde foram implantados, mantiveram-se em uma posição pouco representativa em relação à economia do estado. · O Complexo Petroquímico de Camaçari articulou-se muito pouco com o restante das regiões da Bahia, e mesmo Camaçari, embora tenha se beneficiado do ponto 116 cavalcanti.pmd 116 12/5/2008, 09:15 de vista da arrecadação, não internalizou seus efeitos no crescimento urbano.88 Independentemente de suas implicações setoriais, a estratégia de desenvolvimento adotada no estado começou a dar sinais de esgotamento tão logo se maturaram os investimentos do Complexo Petroquímico de Camaçari em meados da década de 1980. A queda na participação relativa do estado no PIB do Brasil, a partir de 1984 (Figuras 3.1 e 3.3 e Apêndice 1), e no PIB da região Nordeste, a partir de 1983 (Figura 3.2 e Apêndice 2), permite concluir que a Bahia sofreu mais intensamente os efeitos do colapso do modelo de desenvolvimento autárquico e o conseqüente desmantelamento das políticas de desenvolvimento regional, motivados pela aguda crise fiscal e financeira vivida pelo país, que terminaria determinando uma redução significativa dos investimentos públicos diretos. Para um estado cujo processo de industrialização apoiou-se, em larga medida, em capitais exógenos (isto é, de fora do estado) em oposição a um modelo apoiado em uma dinâmica endógena (TEIXEIRA E GUERRA, 2000, p. 87), as repercussões da crise das instituições de suporte ao desenvolvimento regional seriam, conforme se verá no próximo capítulo, particularmente severas. 88 Almeida (1986, p. 163) alega que as políticas propostas para internalizar mais os efeitos do COPEC (como os investimentos na parte urbana de Camaçari) não foram implementadas. 117 cavalcanti.pmd 117 12/5/2008, 09:15 118 cavalcanti.pmd 118 12/5/2008, 09:15 Capítulo 4 Competição fiscal e bens finais: a economia baiana na década de 1990 Conforme se demonstrou no final do capítulo anterior, após a maturação dos investimentos do Complexo Petroquímico de Camaçari, há uma inflexão na trajetória ascendente da participação da Bahia no PIB nacional e no PIB da região Nordeste. Esse fenômeno pode ser creditado à redução da taxa de investimento decorrente da crise fiscal e financeira que se abateu sobre o país89 e que marcou o desmantelamento de suas instituições de suporte ao desenvolvimento regional. O desfecho da crise fiscal e financeira da década de 1980 somente viria na década seguinte, com os movimentos de desregulamentação do Estado, a abertura comercial e o início do processo de privatizações. Com efeito, em um ambiente marcado pela crescente exposição da indústria brasileira à concorrência externa, não surpreende que a estratégia de complementaridade com a economia da região Sudeste do país intensificasse seus sinais de esgotamento já evidenciados desde meados da década de 1980, uma vez que a produção estadual de commodities expunha-se à com89 De fato, durante a década de 1980 e os primeiros anos da década de 1990, a renda per capita do país caiu 3,7%, em virtude de um aumento de apenas 23,5% do PIB contra um crescimento populacional de 28,2%, enquanto a inflação média se manteve em níveis elevados (BONELLI; PINHEIRO, 1994, p. 18). São esses números que justificam, inclusive, a atribuição da denominação “década perdida” à década de 1980. 119 cavalcanti.pmd 119 12/5/2008, 09:15 petição internacional sem a proteção das elevadas alíquotas de importação que marcaram, de uma forma geral, o período entre 1950 e 1980. Essa sucessão de eventos tornou evidente a ausência de uma dinâmica endógena de crescimento na Bahia e o papel dos capitais exógenos em seu processo de industrialização. É claro que os efeitos do processo descrito acima não se restringiram à Bahia. Na verdade, a ausência de uma política nacional de desenvolvimento regional é, seguramente, uma das principais razões que motivaram a interrupção dos movimentos de convergência regional de renda que vinham sendo observados no Brasil durante as décadas de 1970 e 1980. Esse contexto acabou motivando o engajamento de diversas unidades da federação em uma competição por investimentos que se convencionou chamar de “competição fiscal” ou “guerra fiscal” (ROCHA, 2004; TENDLER, 2000). Assim, é com uma configuração estrutural que apontava, de maneira cada vez mais eloqüente, a necessidade de diversificação e interiorização de sua matriz industrial que a Bahia se depara com a reduzida capacidade de coordenação do governo federal, o que termina levando o estado a engajar-se, de forma agressiva, na competição fiscal por novos investimentos. Neste capítulo, discute-se a trajetória da economia baiana ao longo da década de 1990. Descreve-se, inicialmente, na Seção 4.1, a interrupção do processo de convergência de renda entre as unidades da federação naquele momento e como esse fenômeno termina levando diversos estados a se envolverem com a chamada guerra fiscal. Os desafios que se colocavam para a economia baiana naquele momento são discutidos na Seção 4.2. O formato dos incentivos concedidos e a extensão em que esses instrumentos se prestavam à implementação das estratégias propostas para o estado são o objeto da Seção 4.3; em seguida, discutem-se, na Seção 4.4, as implicações setoriais desses movimentos e, na Seção 4.5, seus desdobramentos. 120 cavalcanti.pmd 120 12/5/2008, 09:15 4.1 A convergência interrompida e a competição fiscal Autores como Cano (1995) e Ferreira e Diniz (1995) haviam constatado um processo de convergência de renda per capita entre estados brasileiros no período entre 1970 e 1985. De fato, Cano (1995, p. 628) refere-se ao período entre 1970 e 1985 como o “auge da desconcentração regional”, atribuindo o fenômeno a um conjunto de razões: · o sucesso do processo de integração nacional, que impôs transformações estruturais sobre as bases produtivas periféricas; · · a marcha para o Oeste e a expansão da fronteira agrícola; · as políticas de exportação, que promoveram a modernização da agroindústria em regiões além de São Paulo e da região Sudeste; · os incentivos e investimentos no âmbito do II PND, que impuseram maior uso das bases de recursos naturais das regiões periféricas; e · a crise da década de 1980, que afetou mais intensamente a economia de São Paulo. as políticas de desenvolvimento regional, que motivaram a migração de capital produtivo para as regiões menos desenvolvidas; Ao se examinar esse conjunto de fatores, pode-se perceber que, na década de 1990, alguns dos elementos que vinham contribuindo para a desconcentração regional de renda deixaram de existir efetivamente ou foram minimizados, seja, em um momento inicial, em decorrência da crise fiscal e financeira, seja, mais tarde, em virtude da severa disciplina macroeconômica que se adotou no país. Esse é o caso da política de desenvolvimento regional e dos incentivos e investimentos do governo federal dirigidos às regiões periféricas. 121 cavalcanti.pmd 121 12/5/2008, 09:15 Ainda assim, os indicadores de desigualdade continuaram exibindo uma trajetória descendente até meados da década de 1990, uma vez que, somente a partir de 1994, o processo de convergência de renda entre os estados brasileiros foi efetivamente interrompido. A análise dos indicadores de concentração regional de renda leva Cavalcante (2003a) a propor que a desconcentração que se observou até 1994 não decorreu de uma redução significativa das desigualdades inter-regionais no país, mas sim da redução dos níveis de desigualdades intra-regionais. De maneira análoga, a interrupção do processo de desconcentração observada em 1994 decorreu simplesmente da estabilização dos níveis de desigualdade intra-regionais. Em particular, quando foi interrompido o processo de convergência no interior das regiões Nordeste e Sudeste, cessou também a redução dos indicadores de desigualdades regionais para o conjunto dos estados brasileiros. Na prática, portanto, a convergência que se observou a partir de meados da década de 1980 decorreu não da aproximação entre os estados do Nordeste e dos estados do Sudeste, mas sim de uma maior homogeneidade entre os estados que compõem essas regiões. Dessa forma, é razoável afirmar que a interrupção do processo de convergência tenha sido uma conseqüência dos menores fluxos relativos de capital para a região Nordeste em virtude do colapso de instituições como a SUDENE. De fato, Araújo (1999) refere-se ao enfraquecimento do aparato de suporte institucional ao desenvolvimento regional como o elemento que motivou a manutenção dos níveis de desigualdade regional no Brasil. A ausência de uma política nacional de desenvolvimento regional e as mudanças na Constituição de 1988 — que fortaleceu as jurisdições subnacionais — são, por sua vez, as principais explicações para a competição fiscal que se estabeleceu entre os estados brasileiros ao longo da década de 1990. Com efeito, em um contexto de crise fiscal (ou, após a edição do Plano Real, de 122 cavalcanti.pmd 122 12/5/2008, 09:15 políticas macroeconômicas restritivas), os estados (principalmente das regiões menos desenvolvidas) já não dispunham dos tradicionais instrumentos empregados para a atração de capitais (captação de recursos junto ao governo federal, investimentos diretos do governo, crédito subsidiado e repassado por bancos de desenvolvimento). Com a elevação do fluxo de investimentos estrangeiros diretos dirigidos ao país que se observou após a edição do Plano Real, em 1994, a competição fiscal entre as unidades da federação por investimentos produtivos intensificou-se ainda mais. Nos termos de Rocha (2004): Contudo, o tema da “guerra fiscal” só explode na mídia e no meio acadêmico e político na década de 90 com o advento da disputa pelos vultosos investimentos da indústria automobilística, que, ademais, foram bastante concentrados no tempo, o que os tornou mais notórios (ROCHA, 2004, p. 21). É nesse contexto que a competição fiscal passou a ser o principal instrumento de política empregado pelo governo da Bahia. Não por acaso, o debate teórico discutido na Seção 2.5 ganha evidência ao longo desse período, passando a ocupar tanto os jornais de grande circulação como as páginas de periódicos acadêmicos. 4.2 As estratégias de desenvolvimento Na Bahia, diante das limitações de utilização de capitais locais (GUERRA; GONZALEZ, 2001, p. 312), a competição fiscal passou a ser principal instrumento de implementação de uma política cujo discurso fundamental era a atração de investimentos voltados para a produção de bens finais e capazes de promover a descontração espacial da atividade econômica no estado. Na prática, essa retórica decorria do diagnóstico segundo o qual 123 cavalcanti.pmd 123 12/5/2008, 09:15 os movimentos observados entre as décadas de 1950 e 1980 teriam convertido a Bahia em um estado produtor de bens intermediários, cuja matriz econômica era setorial e espacialmente concentrada.90 É claro que se reconhecia que, ao longo daqueles cerca de trinta anos, o estado havia consolidado sua posição como sexta economia do país, e uma razoável infra-estrutura de serviços no entorno da capital do estado havia sido implantada, mas a diversificação da matriz industrial e a interiorização do desenvolvimento eram questões que se colocavam como desafios para a política econômica do governo do estado. O desafio de reduzir a concentração setorial ficava claro ao se levar em conta que, desde o momento em que os investimentos do Complexo Petroquímico de Camaçari atingiram sua maturidade (em meados da década de 1980), o setor químico passou a responder por cerca da metade da estrutura da indústria de transformação no estado, conforme indicado na Figura 4.1. Já a metalurgia, que, em 1985, respondia por cerca de 10% do valor agregado da transformação industrial, passou a deter uma participação em torno de 15% ainda antes do início da década de 1990. Ao se considerar o setor de papel e papelão (concentrado, na Bahia, na produção de celulose), verifica-se que os segmentos tipicamente produtores de bens intermediários (química, metalurgia e papel e papelão) respondiam, na segunda metade da década de 1980, por cerca de 60% do valor agregado bruto da produção industrial no estado. Do ponto de vista espacial, os desafios efetivamente não pareciam menores, uma vez que, conforme demonstrado na 90 Menezes (2001, p.50) refere-se ainda à concentração empresarial, que o leva a caracterizar um fenômeno que chama de “tríplice concentração”. Lima, Nascimento e Cavalcante (2003), entretanto, ao compararem uma amostra de 11 estados brasileiros, contestam a hipótese de que a economia baiana apresentaria níveis de concentração empresarial especialmente altos e sugerem que o problema estaria no grau de articulação das grandes empresas com a economia local. 124 cavalcanti.pmd 124 12/5/2008, 09:15 125 cavalcanti.pmd 125 12/5/2008, 09:15 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 (*) (*) Média 1985 - 2004 Fonte: <http://www.sei.ba.gov.br/pib/estadual/xls/t263.xls>. Nota: Dados referentes a 2003 e 2004 sujeitos a retificação depois de consolidados os resultados de todas as UFs (Projeto de Contas Regionais - SEI/IBGE) Figura 4.1 - Participação do setor químico no valor agregado bruto da tansformação industrial na Bahia, 1985 –2004 40% 45% 50% 55% 60% Seção 3.6, o processo de industrialização ocorrido entre as décadas de 1950 e 1980 resultou em uma elevada concentração das atividades econômicas na RMS. Foi com base nesses diagnósticos que se fortaleceu, a partir de meados da década de 1990, o diagnóstico segundo o qual seria preciso atingir um maior grau de integração vertical de cadeias de produção no estado, especialmente através do estímulo à produção de bens finais. Embora essa estratégia já estivesse delineada em trabalhos de Rômulo Almeida, publicados ainda na década de 1970 (ALMEIDA, 1970), e, em 1991, documento publicado pelo então Centro de Projetos e Estudos (BAHIA, 1991) já fizesse alusão direta a essa necessidade, é apenas em meados da década de 1990 que a integração de cadeias produtivas incorporou-se definitivamente às estratégias locais de desenvolvimento econômico, ao menos do ponto de vista retórico. Assim, o Programa estratégico de desenvolvimento industrial do estado da Bahia (FIEB; SEI, 1998) e o Plano plurianual 2000-2003: Bahia de Todos os Tempos (PPA)91 faziam referências explícitas à necessidade de integrar cadeias de produção no estado. Esse diagnóstico, em linhas gerais, não se alterou nos anos subseqüentes. De fato, a FIEB (2003, p. 24) reconhece que a estratégia proposta cerca de cinco anos antes pela FIEB/SEI (1998) continua atual, ainda que possa requerer “atualização em sua parte factual”. Em todos os casos, entretanto, as proposições não chegavam a explicitar escolhas claras de prioridades setoriais. O próprio PPA permaneceu bastante vago quanto aos setores prioritários para o desenvolvimento econômico do estado, apresentando uma listagem praticamente exaustiva das atividades que teriam alguma possibilidade de instalar-se no estado (BAHIA, 1999). 91 Bahia (1999). Esse trabalho constitui o documento oficial de planejamento do estado. 126 cavalcanti.pmd 126 12/5/2008, 09:15 Também a intenção de promover a desconcentração espacial da economia baiana passou a compor de maneira mais aparente as estratégias de desenvolvimento propostas para a Bahia. A desconcentração proposta estaria apoiada, entretanto, no desenvolvimento integrado das diversas regiões do estado, daí resultando sua subdivisão em eixos de desenvolvimento cujos critérios de definição estão associados aos corredores de escoamento disponíveis, conforme mostrado na Tabela 4.1. No período mais recente, a publicação intitulada Bahia século XXI (AVENA, 2002) enfatiza mais uma vez essa necessidade, procurando, entretanto, estabelecer ações mais detalhadas para a intervenção em nível regional. Nessa publicação, Porto (2002) volta a defender uma política de fortalecimento daquilo que chamou de “rede principal de cidades” e Uderman (2002) explicita o papel da atividade de planejamento na promoção do desenvolvimento econômico da Bahia, propondo uma metodologia de ação que agregue as dimensões espacial (segmentando o estado em RMS, rede principal de cidades e espaços de limitado dinamismo) e setorial. Proposições dessa natureza terminariam sendo incorporadas no Plano Estratégico da Bahia (BAHIA, 2003), onde se estabelecem linhas de intervenção voltadas para a articulação territorial do estado. A premissa subjacente às ações propostas é que as intervenções requeridas nas áreas denominadas “dinâmicas” (que compreendem as regiões polarizadas por Salvador, Juazeiro, Barreiras e Ilhéus e Itabuna, além do Extremo Sul do estado) são distintas das intervenções requeridas no semi-árido. Buscando resgatar proposições convergentes com a produção recente em desenvolvimento regional, Teixeira e Guerra (2002) propõem intervenções específicas para a RMS, enfatizando políticas de caráter sistêmico (estabelecimento de parcerias público-privadas, financiamento do investimento, desenvolvimento tecnológico, infra-estrutura, etc.) e ações voltadas 127 cavalcanti.pmd 127 12/5/2008, 09:15 12,0% 13,0% 5,0% 4,0% 2,6% 6,0% Papel e celulose, agropecuária e policultura (mamão, café, coco, abacaxi, melancia e mandioca). Turismo, cafeicultura e horticultura irrigada (em menor escala a cunicultura, a apicultura, a floricultura, a fruticultura irrigada, agropecuária, extração de ouro e pedras semipreciosas). Produção de frutas e grãos, principalmente soja, milho e feijão. BR-101 e Porto de Malhado (Ilhéus). BR-101 BR-242 e BA-052. BR-242 e BR-349. Principais corredores de escoamento da produção 7,0% 21,5% 9,8% Setor agrícola: laranja e fumo; indústrias de calçados e bebidas estão sendo atraídas para alguns de seus municípios. 63,0% Indústria química, metalúrgica, siderúrgica, de plásticos, bebidas, fertilizantes. Prevista a implantação de unidade industrial da Ford. Turismo e indústria cultural. BR-116. Entroncamento Rodoviário do Nordeste (BA-052, BR-242, BR-116 e BR-324), além dos Portos de Aratu e Salvador. 9,5% 16,6% 5,0% 13,4% Cafeicultura, pecuária, cacau e algodão. Implantação recente da indústria de calçados nos municípios de Itapetinga e Jequié. BR-324 e Portos de Aratu e Salvador. Cacau e pecuária bovina. Outras atividades agrícolas (cravoda-índia, guaraná etc), turismo, o Pólo de Informática de Ilhéus, indústrias de vestuário, tecidos, calçados e derivados do cacau, além do ecoturismo. População Renda Principais atividades econômicas (% do (% do Estado) Estado) Tabela 4.1 - Eixos de desenvolvimento: características e corredores de escoamento Eixo de desenvolvimento São Francisco Chapada Extremo Sul Mata Atlântica Metropolitano Grande Recôncavo Planalto Pecuária bovina e caprina. Produção de grãos (feijão, milho, arroz, amendoim e algodão). BR-101 e BR-242. 2,6% 9,0% 12/5/2008, 09:15 128 cavalcanti.pmd Nordeste Fonte: Bahia (1999) 128 para as cadeias química e petroquímica, metal-mecânica, eletroeletrônica e de serviços industriais. Embora de fato esses autores ressaltem a importância dos aspectos institucionais do desenvolvimento regional, percebe-se, no trabalho, a dificuldade de se traduzir essa percepção em proposições de ações concretas que poderiam ser adotadas pelo setor público. Pedreira, Fagundes e Andrade (2002), por sua vez, formulam proposições voltadas para o desenvolvimento das cadeias agroindustriais no estado. Nesse caso, porém, o tratamento apóia-se muito mais no desenvolvimento de aglomerações, na proposição de encadeamentos a jusante e na criação de infra-estrutura de escoamento da produção do que propriamente em políticas convergentes com a produção recente em economia regional. 4.3 Incentivos fiscais e atração de investimentos Conforme se indicou na Seção 4.1, o desmantelamento do aparato de suporte institucional que havia garantido às regiões periféricas taxas de investimento superiores à média nacional foi o argumento usado pelos governos estaduais para engajarem-se na competição fiscal. Na prática, uma vez que os estados não podiam simplesmente reduzir suas alíquotas de ICMS de forma unilateral — o que requereria uma impossível unanimidade no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ) —, o que se observou foi a utilização de mecanismos indiretos de incentivo, apoiados no financiamento de parcelas do ICMS apurado, no crédito presumido de ICMS ou — especialmente no final da década — na dilação de prazo de recolhimento de ICMS. Na Bahia, o principal instrumento utilizado para atração de investimentos ao longo da década de 1990 foi o Programa de Desenvolvimento da Bahia (Probahia), criado em 1991. O Probahia permitia o financiamento de até 75% do ICMS apura129 cavalcanti.pmd 129 12/5/2008, 09:15 do pela empresa em condições de amortização bastante favoráveis: juros nominais de 3% ao ano, períodos de carência entre três e cinco anos e descontos significativos por pagamento antecipado. Contrariamente à visão simplista de que os incentivos de ICMS concedidos às novas empresas não teriam impactos negativos nos orçamentos estaduais,92 o Probahia, de forma similar a grande parte dos programas de incentivos fiscais adotados pelas unidades da federação ao longo da década de 1990, gerava custos fiscais, uma vez que se apoiava no financiamento de parcelas do ICMS apurado. Na verdade, para contornar os impedimentos colocados no âmbito do CONFAZ, o Probahia, de forma similar a grande parte dos programas de incentivos fiscais adotados pelas demais unidades da federação ao longo da década de 1990, pressupunha, inicialmente, a apuração do ICMS devido, financiando em seguida uma parcela do imposto recolhido. Uma vez que as vinculações constitucionais, como aquelas destinadas ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF), incidem sobre o ICMS apurado (e não sobre o apurado menos a parcela financiada), a concessão de benefícios dessa natureza não era neutra do ponto de vista orçamentário, na medida em que criava obrigações não cobertas pelos recursos efetivamente embolsados pelo estado.93 92 93 Essa visão apóia-se no argumento de que o estado, nesse caso, estaria renunciando à apuração de um imposto que não existiria caso a empresa não se instalasse em seu território. Cavalcante e Uderman (2006, p. 30) destacam que “according to the Brazilian Constitution, from the total VAT collected by the states, 25% must be directed to the municipalities, 18,75% to a fund for education (actually 25% of the remaining 75%) and 5,25% (actually 7% of the remaining 75%) to a fund for health”. “De acordo com a legislação brasileira, do ICMS apurado pelos estados, 25% devem ser destinados aos municípios, 18,75% (correspondentes a 25% dos 75% restantes) devem ser aplicados em educação e 5,25% (correspondentes a 7% dos 75% restantes) em saúde” (Tradução livre). 130 cavalcanti.pmd 130 12/5/2008, 09:15 Ano Número de projetos Mão-deobra Investimento Geração de ICMS Financiamento 1992 25 3.904 409.700 386.531 183.817 1993 31 1.597 189.469 170.536 84.280 1994 44 3.430 390.501 199.570 75.306 1995 24 1.159 51.616 97.142 35.954 1996 31 4.709 342.419 405.735 138.226 1997 17 1.000 341.295 402.914 164.014 1998 52 20.385 850.981 1.030.556 216.113 1999 14 821 125.948 63.835 24.937 Total 238 37.005 2.701.929 2.756.819 922.647 Quadro 4.1 - Probahia: projetos aprovados 1992-1999 Fonte: Lopes (1999, p. 5) O Probahia, entre os anos de 1992 e 1999, contribuiu para a atração para a Bahia de um total de 238 projetos de investimento. O Quadro 4.1, extraído de Lopes (1999, p. 5), registra, além do número de projetos, projeções sobre o número de empregos a serem gerados, os investimentos totais, a geração de ICMS e o financiamento concedido. Embora os dados apresentados requeiram alguma cautela em sua utilização, seja pelo fato de se referirem a projetos aprovados pela Secretaria Executiva do Probahia (e não àqueles efetivamente implantados e operando), seja pelo fato de consolidar os valores projetados para as variáveis (e não aqueles efetivamente observados após a implantação dos projetos), pode-se verificar que, para o conjunto dos projetos, cerca de um terço da geração de ICMS seria financiada. Embora esse número em si 131 cavalcanti.pmd 131 12/5/2008, 09:15 não pareça elevado (ainda que esteja longe da neutralidade do ponto de vista orçamentário), seria preciso verificar, em pesquisas posteriores, a relação efetiva entre financiamento e geração de ICMS, bem como o número de novos empregos efetivamente criados pelas empresas implantadas. Ainda assim, não há dúvidas que o Probahia foi o principal instrumento utilizado pelo governo do estado para atrair investimentos em um contexto marcado pela competição fiscal ao longo da década de 1990. Além do Probahia, que se constituiu em um instrumento geral de atração de investimentos, programas de caráter setorial, voltados, por exemplo, para os segmentos de transformação plástica, beneficiamento de cobre, informática, calçados, têxteis, confecções e automotivo, foram implementados, especialmente na segunda metade da década de 1990. Muitos desses programas ofereciam, em lugar do financiamento de parcela do ICMS, o crédito presumido como principal incentivo para a atração de investimentos. Esse foi o caso, por exemplo, do Programa de Incentivo à Transformação Plástica (Bahiaplast) e do Programa Estadual de Desenvolvimento da Mineração, da Metalurgia e da Transformação do Cobre (Procobre). Em um contexto de competição fiscal, quando os ânimos políticos nem sempre são serenos, alguns desses programas estiveram sujeitos a questionamentos de ordem legal e foram objeto de ações diretas de inconstitucionalidade por outras unidades da Federação. Embora os incentivos fiscais tenham sido o principal instrumento de implementação da política de desenvolvimento econômico da Bahia ao longo da década de 1990, e em que pese a existência de programas de natureza setorial específicos, os esforços e os efeitos identificados parecem estar mais associados ao aparecimento de oportunidades específicas do que propriamente a um processo estruturado de seleção de projetos de investimentos que preenchessem os requisitos estabelecidos pelo planejamento estadual. Ainda assim, as ações voltadas para a atração de 132 cavalcanti.pmd 132 12/5/2008, 09:15 indústrias de calçados, o Pólo de Informática de Ilhéus e, principalmente, o Complexo Industrial Ford Nordeste (CIFN) terminaram se enquadrando na estratégia de incentivo à produção de bens finais com potencial de integração a montante com a indústria de bens intermediários já instalada no estado. Por outro lado, os incentivos adotados não deixaram de reforçar a produção de bens intermediários especialmente no que diz respeito aos investimentos que ocorreram no setor petroquímico. No final da década, entretanto, os custos fiscais associados ao Probahia e a fragilidade jurídica dos programas setoriais apoiados no crédito presumido levaram o estado a adotar um novo modelo de incentivos fiscais, baseado na dilação de prazos de pagamento do ICMS através do Programa de Desenvolvimento Industrial e de Integração Econômica do Estado da Bahia (Desenvolve).94 Na verdade, a idéia é que o Desenvolve conciliasse os três requisitos para uma política “ótima” de incentivos fiscais: · atratividade, isto é, a capacidade de oferecer compensações pelo deslocamento do capital dos centros nos quais se podem obter maiores níveis de produtividade em virtude das economias de aglomeração e da disponibilidade de infra-estrutura; · sustentabilidade jurídica, tendo em vista que os incentivos não podem ferir os dispositivos legais que regulamentam a questão tributária em nível federal; e · viabilidade econômica, tendo em vista o não-comprometimento do equilíbrio orçamentário do estado. Na prática, portanto, o programa criado propôs-se, assim, a equacionar os problemas de viabilidade econômica que poderiam vir a ser causados por programas de financiamento de parce94 O programa permitia a dilação do prazo de pagamento de até 90% do saldo devedor mensal do ICMS normal, limitada a 72 meses e diferimento do lançamento e pagamento do ICMS devido. 133 cavalcanti.pmd 133 12/5/2008, 09:15 las do ICMS como o Probahia, e de sustentabilidade jurídica que poderiam ser apresentados por programas que se apóiam no crédito presumido, sem comprometer a capacidade de o estado atrair investimentos. Além disso, em paralelo à implantação do novo programa, o governo do estado deu sinais de que o processo de atração de investimentos tenderia a adquirir um caráter mais seletivo, uma vez que o enquadramento dos projetos no Desenvolve dependeria de uma análise objetiva de seus impactos na economia local, por meio da ponderação de fatores como geração de empregos, uso de insumos locais e prioridade setorial. Rocha (2004, p. 82-90), ao apresentar uma descrição detalhada dos programas de incentivos adotados na Bahia, argumenta em favor de um processo de aprendizado pelos governos locais como condicionante para a evolução das políticas industriais adotadas pelas instâncias subnacionais. Na verdade, esse autor termina constatando que os elevados custos fiscais gerados por esses programas levaram as burocracias estaduais da Bahia, de Pernambuco e do Ceará a buscar o aperfeiçoamento de seus instrumentos de incentivos. 4.4 Desempenho setorial As repercussões das estratégias de diversificação da matriz industrial e de interiorização do desenvolvimento adotadas em um contexto marcado pela chamada integração competitiva da economia brasileira à economia internacional e pela competição fiscal por novos investimentos entre as unidades da federação sobre a estrutura da indústria de transformação no estado podem ser examinadas com base na Tabela 4.2 a seguir, que traz a participação dos principais segmentos no valor agregado bruto da transformação industrial no estado. Os dados indicados na Tabela 4.2 deixam claro que, a despeito da retórica de diversificação setorial, os segmentos de 134 cavalcanti.pmd 134 12/5/2008, 09:15 Tabela 4.2 - Bahia: estrutura da indústria de transformação, 1985-2003 Ano Química Metalúrgica Produtos alimentares Papel e papelão Outros 1985 54,20% 10,10% 13,10% 0,70% 21,90% 1986 50,00% 10,80% 14,50% 0,80% 23,90% 1987 53,20% 12,50% 11,40% 0,80% 22,10% 1988 48,00% 14,70% 12,20% 1,20% 23,90% 1989 45,10% 17,10% 11,40% 1,20% 25,30% 1990 45,90% 14,30% 14,80% 0,80% 24,10% 1991 47,90% 14,00% 15,30% 0,90% 21,80% 1992 52,00% 15,00% 11,40% 1,90% 19,70% 1993 54,90% 12,90% 10,20% 3,10% 18,90% 1994 51,00% 14,50% 10,50% 3,60% 20,40% 1995 47,30% 15,30% 10,20% 5,10% 22,10% 1996 46,20% 17,40% 10,40% 4,30% 21,80% 1997 49,40% 16,80% 9,10% 3,90% 20,80% 1998 51,80% 17,20% 8,30% 2,80% 19,90% 1999 56,60% 16,80% 6,90% 3,10% 16,50% 2000 57,10% 16,80% 6,00% 3,40% 16,60% 2001 57,40% 15,40% 5,10% 3,60% 18,50% 2002 55,60% 12,50% 4,60% 3,70% 23,50% 2003 (1) 51,40% 12,60% 3,90% 3,10% 29,00% 2004 (1) 49,90% 14,50% 3,90% 2,60% 29,10% Nota 1: Dados sujeitos a retificação depois de consolidados os resultados de todas as unidades da federação (Projeto de Contas Regionais SEI/IBGE) Fonte: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (Disponível em: <http://www.sei.ba.gov.br>. Acesso em: 16/08/2005). 135 cavalcanti.pmd 135 12/5/2008, 09:15 bens intermediários mantiveram sua participação na estrutura da indústria de transformação do estado ao longo da década de 1990. Contudo, há movimentos que parecem estar ocultos nas estatísticas e que requerem uma discussão qualitativa para a sua compreensão. Esse é o propósito das subseções seguintes, onde se discute o desempenho dos principais segmentos da indústria na Bahia, inclusive daqueles cuja representatividade em termos percentuais é ainda reduzida (em virtude, inclusive, dos elevados valores associados à indústria petroquímica), mas que estiveram associados a movimentos importantes ocorridos na economia do estado ao longo dos últimos anos. 4.4.1 Os setores tradicionais: química e petroquímica e metalurgia O setor químico (que inclui a petroquímica) responde, ainda hoje, por cerca de metade do valor agregado bruto da produção industrial do estado. Assim, ao contrário da expectativa inicial de que o processo de abertura comercial reduziria a representatividade do segmento na economia do estado, o que se observou, ao longo da década de 1990, foi apenas a oscilação típica das commodities intermediárias. Estima-se que, somente no COPEC, os investimentos acumulados alcancem cerca de US$ 8 bilhões. Trata-se, portanto, do maior empreendimento instalado na Bahia, mesmo após a chegada da indústria automobilística (cujos investimentos totais são estimados em pouco menos de US$ 2 bilhões). Ao longo do final da década de 1980 e, principalmente, da década de 1990, em um contexto marcado pela abertura comercial e pela súbita exposição das empresas à concorrência externa, as alíquotas modais de importação de diversos produtos caíram de níveis entre 40% e 50%, no final da década de 1980, para 2%, em 1994, voltando a uma alíquota média de 14% no início do ano seguinte, conforme mostrado na Tabela 4.3. 136 cavalcanti.pmd 136 12/5/2008, 09:15 Tabela 4.3 - Evolução do imposto de importação (alíquotas “ad valorem”), 1987-1995 Produto 1987 1988 1989 1990 1991 out/92 jul/93 dez/94 mar/95 Metanol 45% 60% 60% 50% 30% 20% 15% 12% 12% Etileno 30% 5% 5% – – – – – 2% Propileno 30% 5% 5% – – – – – 2% Polietileno de baixa densidade (PEBD) 45% 40% 40% 20% 20% 15% 15% 2% 14% Polietileno de alta densidade (PEAD) 45% 40% 40% 20% 20% 15% 15% 2% 14% Polipropileno 55% 40% 40% 20% 20% 15% 15% 2% 14% Policloreto de vinila (PVC) 55% 40% 40% 20% 20% 15% 15% 2% 14% Fonte: Cavalcante (1998, p 71). Essa súbita exposição à concorrência externa obrigou o segmento a adotar uma reação defensiva por meio da redução de custos. Não surpreende, portanto, a rápida disseminação de técnicas neofordistas poupadoras de mão-de-obra pelas empresas do segmento. Com efeito, técnicas como qualidade total, reengenharia e downsizing estiveram no centro das preocupações dos gestores das empresas instaladas no estado ao longo da década de 1990, especialmente no período entre 1990 e 1995.95 A implicação desses movimentos pôde ser facilmente verificada no número de empregos gerados pelo COPEC, que caiu de cerca de 24 mil, em meados da década de 1980, para um total seguramente abaixo de 10 mil, cerca de dez anos depois.96 Nesse 95 96 Além das técnicas neofordistas, disseminou-se também o uso de técnicas “japonesas” (ou, pelo menos, descritas com termos naquele idioma) que, embora “flexíveis” no discurso, privilegiavam a racionalização dos processos produtivos visando à redução dos custos de produção. Guerra e Gonzalez (1996, p. 41) registram cerca de nove mil empregos diretos. A carência de um número preciso decorre da inclusão (ou não) da mãode-obra terceirizada, que responde hoje por elevado contingente da força de trabalho alocada no COPEC. 137 cavalcanti.pmd 137 12/5/2008, 09:15 mesmo período, por conta, inclusive, de alguns investimentos em ampliação de capacidade e desgargalamento, o quantum da produção elevou-se de forma significativa. Um outro movimento observado na década de 1990 foi a aquisição, pelo consórcio Odebrecht-Mariani, do controle acionário da Norquisa na central petroquímica do Pólo de Camaçari. Com isto, integraram-se a primeira e a segunda geração de produtos petroquímicos no estado, contribuindo para a elevação dos níveis de eficiência do segmento, em função da eliminação de custos e ineficiências da cadeia produtiva, de ganhos fiscais e de escala. Entretanto, esse mesmo processo incitou a eliminação de postos de trabalho, especialmente nas funções administrativas. A nova empresa que resultou da solução do imbroglio do controle acionário do Pólo de Camaçari reúne as seguintes unidades: · Copene, OPP e Trikem (cujo controlador original era o Grupo Odebrecht); · · Proppet e Nitrocarbono (Grupo Mariani); Polialden (antigo Grupo Econômico). Uma vez reunidas em uma única empresa, essas unidades passaram a compor uma megaempresa petroquímica, com faturamento estimado de cerca de US$ 8 bilhões e participação da ordem de 39% do mercado de polipropileno, 25% do mercado de polietileno e 51% do mercado de PVC no Mercosul. Todavia, o segmento mantém uma reduzida capacidade de encadeamento a jusante, uma vez que o desenvolvimento da indústria de transformação plástica no estado é ainda bastante tímido.97 De fato, conforme argumentam Teixeira e Guerra (2000, p. 93), os principais desdobramentos do setor estão ainda nos segmentos de serviços e de construção civil. 97 Ver, a esse respeito, a Subseção 4.4.5. 138 cavalcanti.pmd 138 12/5/2008, 09:15 Em que pese a vigorosa retórica em favor da diversificação da matriz industrial instalada na Bahia, convém notar que o segundo maior projeto atraído para o estado no âmbito da política de incentivos adotada ao longo da década de 1990 foi justamente no setor petroquímico. Com efeito, as inversões totais da Monsanto no estado atingiram cerca de US$ 550 milhões, estando abaixo apenas dos investimentos realizados pela Ford e suas empresas sistemistas. Analogamente ao que se observou no segmento petroquímico, o setor metalúrgico também manteve estável (em torno de 15%) sua participação no valor agregado bruto da transformação industrial ao longo da década de 1990. Assim é que os segmentos químico e metalúrgico representaram mais de 60% da estrutura da indústria de transformação na Bahia ao longo da década e, em 1999, já representavam mais de 70%. Trata-se de um segmento bastante concentrado do ponto de vista empresarial: Guerra e Gonzalez (1996, p. 42) estimam que somente a Caraíba Metais e as grandes siderúrgicas respondem por quase 80% do valor agregado pelo setor. O segmento passou também por um processo de reestruturação ao longo da década de 1990 que significou uma redução expressiva da mão-de-obra empregada. Guerra e Gonzalez (2001, p. 313) destacam que “na metade da década de 80, esse setor e o mecânico empregavam 20 mil pessoas, número que em meados de 1995 tinha caído para algo em torno de 8 mil”. 4.4.2 A expansão da fronteira agrícola: agroindústria no Oeste e no Baixo-Médio São Francisco A expansão da fronteira agrícola em direção à região Oeste do estado colocava, ainda na década de 1980, uma expectativa de desconcentração especial da atividade econômica no estado. De fato, já naquele momento, análises da região Oeste indicavam que: 139 cavalcanti.pmd 139 12/5/2008, 09:15 O Oeste da Bahia teria condições de começar a equilibrar o mapa socioeconômico do estado, inclinado, até o presente, em direção às zonas litorâneas, ocupando assim o lugar que suas promissoras condições naturais merecem (BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DA BAHIA – DESENBANCO, 1988). Esse movimento em direção ao oeste é uma manifestação do fenômeno nacional de expansão da fronteira agrícola e que, na Bahia, contou com o apoio do governo do estado. Com efeito, ainda na década de 1980, alguns estudos promovidos pelo governo do estado buscaram projetar os requisitos de infra-estrutura que seriam necessários para garantir o desenvolvimento da região Oeste do estado, e já se desenhavam estratégias multimodais de escoamento da produção.98 Esse esquema, virtualmente o mesmo que vem sendo sistematicamente proposto, pressupõe o transporte rodoviário da produção até o porto situado no Rio São Francisco (Muquém do São Francisco / Ibotirama), seguindo por via fluvial até Juazeiro e, em seguida, por via ferroviária até o Porto de Salvador, de onde os produtos seriam embarcados para transporte marítimo. Trata-se, assim, de um esquema alternativo ao modelo de escoamento usado atualmente, que simplesmente escoa a produção pela BR-242, desviando em seguida para Ilhéus (Porto de Malhado), de onde a produção é escoada. Essa alternativa implica maiores custos de transporte e o uso de rodovias não compatíveis com o tráfego sistemático de carretas de elevada tonelagem. Independentemente da forma de escoamento da produção, durante a década de 1990, consolidou-se, na região Oeste 98 Para o modelo que pressupõe o escoamento rodoviário até o proposto “Porto Fluvial de Barreiras”, daí seguindo por via fluvial até Juazeiro, de onde a produção seria escoada por via ferroviária até o Porto de Salvador, ver Dominoni e Garra (1988, p. 14). Antes, no início da década de 1980, a então Seplantec já havia proposto um programa básico de ocupação do Oeste (BAHIA, 1980) que tratava, também, da questão do escoamento da produção. 140 cavalcanti.pmd 140 12/5/2008, 09:15 do estado, a produção de grãos — especialmente a sojicultura — que havia sido iniciada na década anterior. O crescimento exponencial dessa produção na região de Barreiras elevou sua participação no valor bruto da produção do setor primário do estado de 1,1%, em 1985, para cerca de 11%, em 1996 (PEDREIRA; FAGUNDES; ANDRADE, 2002). Além da sojicultura, a região Oeste do estado passou a contar com uma produção primária dinâmica e relativamente diversificada, destacando-se as culturas de milho, algodão e café em unidades de elevado nível tecnológico e que contam com gestão profissionalizada. Contudo, essas culturas parecem apresentar ainda excessiva vulnerabilidade às crises motivadas pelo excesso de oferta no mercado mundial e às oscilações de preços das commodities agrícolas. Além disso, embora algumas iniciativas já possam ser observadas, a integração vertical com a produção de carne nos segmentos bovino e avícola ainda está longe de se consolidar. Também a região do Baixo Médio São Francisco experimentou um crescimento significativo da agroindústria durante a década de 1990, a partir da expansão da produção agrícola irrigada. Contando com uma boa infra-estrutura de beneficiamento e serviços (PEDREIRA; FAGUNDES; ANDRADE, 2002) e um bom suporte institucional,99 a região consolidou-se como um pólo exportador de uva e manga. 4.4.3 Arquipélagos industriais: celulose no Extremo Sul O setor de papel e papelão foi o quarto segmento mais importante da indústria de transformação na Bahia na década de 1990 (Tabela 4.2), como resultado da expansão da produção de celu99 Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e Associação de Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport), por exemplo. 141 cavalcanti.pmd 141 12/5/2008, 09:15 Tabela 4.4: Produção de celulose de fibra curta, 1992–1999 Estados selecionados 1992 Part 1999 Part. São Paulo 1.392.333 29,2% 1.950.768 36,4% Espírito Santo 1.013.291 21,2% 1.262.536 23,6% Minas Gerais 390.667 8,2% 783.547 14,6% Bahia 277.470 5,8% 578.491 10,8% Rio Grande do Sul 287.400 6,0% 297.526 5,6% Pará 283.000 5,9% 290.381 5,4% Paraná 545.670 11,4% 151.152 2,8% Santa Catarina 582.118 12,2% 45.124 0,8% 4.771.949 100 5.359.525 100 Total Fonte: Oliveira e Souza (2002, p. 81). lose no Extremo Sul do estado, região que apresenta dotação natural de fatores favorável ao crescimento do setor. Por conta disso, entre 1992 e 1999, a Bahia elevou sua participação na produção nacional de celulose de fibra curta de 5,8% para 10,8% da produção nacional, passando do oitavo para o quarto maior produtor nacional de celulose de fibra curta, conforme mostrado na Tabela 4.4. De fato, o Extremo Sul do estado reúne vantagens naturais como insolação, precipitação pluviométrica e condições de solo bastante apropriadas ao cultivo do eucalipto, o que lhe permite obter níveis de produtividade bastante elevados. De acordo com Guerra e Gonzalez (1996, p. 52), em outros países produtores, como a Suécia, a idade para corte das árvores é de setenta anos, enquanto, na Bahia, é de apenas sete anos. Oliveira e Souza (2002, p. 81) assinalam que “a Bahia apresenta uma produtividade superior em 25% à média nacional, mas pode explorar 142 cavalcanti.pmd 142 12/5/2008, 09:15 ainda mais suas potencialidades”. As autoras referem-se à área plantada de eucalipto no estado (correspondente a 450 mil hectares) contra um potencial de 4 milhões de hectares. Embora disponha de três distritos florestais (Distrito Florestal Norte, Distrito Florestal Sul e Distrito Florestal Oeste) capazes de abrigar unidades de produção de celulose, é o Distrito Florestal Sul o responsável pela maior parte do valor agregado pelo segmento no estado. Similarmente ao que se observa nos setores petroquímico e metalúrgico, cujo maior volume da produção concentra-se em poucas empresas, no setor de papel e papelão é a Bahia Sul, cujas operações iniciaram-se em 1992, a responsável pela representatividade do segmento no estado. Guerra e Gonzalez (1996, p. 53) mencionam as limitações que se colocam pelas questões ambientais e relativas ao desenvolvimento do turismo para a exploração do Distrito Florestal Norte. Uma das principais características da produção de celulose na Bahia é sua reduzida articulação com a economia do estado. Nesse sentido, trata-se de um setor que tem dificuldades em gerar efeitos para frente. Além disso, por sua intensidade em capital, o número de empregos gerados por unidade de investimento é reduzido. Investimentos anunciados para o Distrito Florestal Sul, embora tendo ficado em suspenso durante alguns anos, deverão estar operando em breve. Esses investimentos, entretanto, deverão replicar as características dos já existentes: efeitos positivos na balança comercial e nos índices de desconcentração da produção, mas reduzidos níveis de articulação com a economia local e de geração de empregos. Assim, embora esses investimentos efetivamente tenham contribuído para a desconcentração da atividade econômica no estado, sua implantação terminou criando “arquipélagos industriais” com reduzidos efeitos para frente na região que os abrigou. 143 cavalcanti.pmd 143 12/5/2008, 09:15 4.4.4 Setores intensivos em mão-de-obra: têxtil e calçados De maneira similar ao que se observou em nível nacional, o setor têxtil na Bahia, ao longo da primeira metade de década de 1990, foi um daqueles que sentiu com maior intensidade os efeitos da abertura comercial e da exposição à concorrência internacional. Na segunda metade da década, em alguns estados da região Nordeste, o setor voltou a crescer, apoiado, dessa vez, em bens de capital mais modernos e competitivos (cuja aquisição foi facilitada pelo câmbio sobrevalorizado que prevaleceu do lançamento do Plano Real até o início do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso), em incentivos ficais (ver a Seção 4.2) e em custos reduzidos de mão-de-obra. Na Bahia, porém, esses movimentos não parecem ter sido particularmente relevantes em relação àqueles observados, por exemplo, no setor de calçados, uma vez que, no agregado da década, observou-se uma substancial redução da participação do setor na estrutura da indústria de transformação no estado. Com efeito, o setor têxtil, que, em 1989, chegou a representar mais de 5% do valor agregado bruto da transformação industrial na Bahia, representava, em 2001, pouco mais de 0,5%. Mas é sem dúvida o setor de calçados que, entre aqueles intensivos em mão-de-obra, experimentou a maior expansão no estado ao longo da década de 1990. Como resultado de uma política agressiva de atração de investimentos apoiada fundamentalmente no crédito presumido de ICMS,100 nos benefícios concedidos no âmbito do Programa de Incentivo ao Comércio Exterior (Procomex)101 e na provisão de infra-estrutura (construção de galpões industriais, obras de terraplenagem, redes de distribuição de energia elétrica, telecomunicações, abastecimento 100 101 Regulamentado pelas Leis n. 7.025/97 e 7.138/97. No caso dos incentivos concedidos à indústria de calçados, permitiram-se reduções de até 90% na amortização dos financiamentos contratados no âmbito do Procomex. 144 cavalcanti.pmd 144 12/5/2008, 09:15 de água e interligação de efluentes industriais), a Bahia atraiu mais de quarenta empresas do segmento ao longo da década de 1990 e dos primeiros anos da década seguinte. Do ponto de vista geográfico, essas empresas distribuíram-se por diversos municípios do estado, de modo a evitar pressões sindicais que poderiam decorrer de sua concentração em uma única região. Pelo fato de estarem pulverizadas pelo território do estado, essas empresas não apresentaram sinais de que estariam estabelecendo elos a montante ou a jusante da cadeia produtiva (BAHIA, 2000, p. 96). Nesse sentido, embora interiorizadas, as empresas do setor não parecem estar de fato criando vínculos capazes de promover o desenvolvimento endógeno nas regiões onde se instalaram. É claro que, por sua característica footloose, a indústria de calçados, se não construir vantagens competitivas dinâmicas que vão além dos incentivos oferecidos e do custo reduzido de mão-de-obra, poderá ter sua permanência no estado comprometida. Embora a atração de empresas de componentes já integre a pauta de prioridades do governo do estado com relação ao setor — justamente para promover a integração do segmento com a oferta local nos segmentos petroquímico e coureiro —, não há ainda indícios claros de fixação da indústria no estado a longo prazo. Isso não quer dizer que o segmento não tenha tido impactos de curto prazo significativos no que diz respeito à geração de empregos diretos. A bem da verdade, entre os segmentos que o governo do estado buscou incentivar ao longo da década de 1990, o setor de calçados é aquele mais intensivo em mão-de-obra. Com efeito, levantamento de intenções de investimentos industriais realizado por Uderman (2000, p. 100) para o período entre 2000 e 2003 mostra que o setor de calçados (juntamente com os segmentos têxtil e de confecções), embora representando menos de 7% dos investimentos anunciados em valor, seria responsável pela geração de quase metade dos empregos previstos. 145 cavalcanti.pmd 145 12/5/2008, 09:15 4.4.5 O paradoxo da transformação plástica O segmento de transformação plástica, isto é, aquele que se encontra a jusante da produção petroquímica de segunda geração (daí porque alguns autores o chamam de terceira geração petroquímica), passou a ser considerado estratégico para a Bahia desde a implantação do Complexo Petroquímico de Camaçari. Com efeito, considerava-se que o desenvolvimento do setor no estado seria um desdobramento natural da oferta local de resinas termoplásticas e poderia, por sua relativamente elevada capacidade de geração de empregos, contrabalançar a intensidade em capital da indústria petroquímica de primeira e de segunda geração. Entretanto, apesar da oferta local de matérias-primas e algumas políticas de incentivos fiscais e financeiros implementadas, o fato é que o setor é ainda pouco representativo no estado. Com efeito, estima-se que a Bahia responda por apenas 2,1% dos estabelecimentos e 2,4% dos empregos gerados pelo setor no país. A razão para esse aparente paradoxo parece ser puramente físico-química: enquanto as resinas termoplásticas (isto é, os produtos oriundos da segunda geração petroquímica) revelam uma relação massa/volume adequada para o transporte a longas distâncias (na medida em que atingem um elevado grau de empacotamento), os produtos moldados da terceira geração apresentam espaços vazios desfavoráveis ao transporte a longas distâncias. É por essa razão que a indústria de transformação plástica situa-se, em geral, mais próxima dos mercados consumidores do que de seus fornecedores de matéria-prima, confirmando, nesse caso, a hipótese formulada por Weber (1909), de acordo com a qual as indústrias tenderiam a instalar-se onde os custos totais de transporte de matérias-primas e produtos finais fossem mínimos (ver a Seção 2.2.2). É claro que há outros fatores de localização envolvidos, com destaque para a oferta local de moldes, que, ao incorporarem o design da peça final, são responsáveis por uma 146 cavalcanti.pmd 146 12/5/2008, 09:15 Tipo Localização Número de Empregos 1 gerados projetos Implantação Ampliação Total Investimento total (US$ mil )1 Geração de ICMS 12 (US$ mil) Renúncia fiscal 12 (US$ mil) RMS 29 2.679 204.706 170.124 345.255 Interior 3 257 16.071 19.249 21.378 RMS 15 474 46.526 89.342 67.193 Interior 1 52 3.661 10.165 7.047 RMS 44 3.153 251.232 259.466 412.448 Interior 4 309 19.732 29.414 28.425 48 3.462 270.964 288.880 440.873 Total geral Quadro 4.2: Bahiaplast: projetos aprovados segundo a localização 1999/2001 Nota 1: Incremental. Nota 2: No Período de fruição do benefício. Fonte: Secretaria Executiva do BAHIAPLAST. fatia significativa da competitividade que pode ser alcançada pelas empresas do segmento. Ainda assim, no período entre 1999 e 2001, após o lançamento de um agressivo programa de atração de investimentos no setor (Bahiaplast), foram aprovados pela Secretaria Executiva do programa 48 projetos (32 de implantação e 16 de ampliação), cujos investimentos alcançavam, de acordo com Lopes (1999), US$ 270 milhões e deveriam gerar cerca de 3,5 mil empregos diretos (Quadro 4.2). Embora os critérios adotados nessas estimativas não tenham sido explicitados, esse autor afirma que a renúncia fiscal durante o período de fruição do benefício seria cerca de 1,5 vezes maior do que a geração prevista de ICMS. Dois aspectos devem ser considerados, entretanto: em primeiro lugar, os projetos estavam majoritariamente dirigidos para a RMS (92%), e a renúncia fiscal durante o período de fruição do benefício, estimada em US$ 441 milhões, deveria exceder o valor que se estima que o segmento recolheria sob a forma de 147 cavalcanti.pmd 147 12/5/2008, 09:15 impostos estaduais (US$ 290 milhões), indicando que as forças de mercado não eram ainda suficientes para garantir o desenvolvimento da indústria de transformação plástica no estado. 4.4.6 A mudança estrutural: a indústria automobilística O Projeto Complexo Industrial Ford Nordeste (também chamado de Projeto Amazon Ford) é indiscutivelmente um caso particular da política de atração de investimentos que ocorreu na Bahia ao longo da década de 1990, em razão da magnitude do investimento, seja de seus impactos na economia do estado. Estima-se que os investimentos totais da montadora e de seus fornecedores diretos tenham atingido U$ 1,9 bilhão. Embora possa haver controvérsias quanto à taxa de câmbio adequada para converter esses valores para Reais, estimativas oficiais registram valores da ordem de R$ 3,5 bilhões. Trata-se, assim, de um investimento cujo valor total pode oscilar entre 5% e 10% do PIB do estado na época. Cavalcante e Uderman (2006, p. 36) estimam que o valor presente dos incentivos concedidos pelo governo do estado à montadora e seus fornecedores diretos tenha alcançado, em valores de 2000 (diretamente comparáveis, portanto, aos investimentos totais), cerca de R$ 2,6 bilhões. Esses autores segmentaram os incentivos em fiscais, financeiros (créditos oferecidos em condições mais favoráveis do que as de mercado, ou equalização de taxas de juros por um percentual inferior ao praticado pelo mercado) e orçamentários (investimentos em infra-estrutura, por exemplo) e calcularam, nos três casos, seus valores presentes. Esses autores destacam que, embora elevados em termos absolutos, os incentivos totais, quando comparados aos investimentos totais, não são superiores àqueles concedidos, por exemplo, pelo governo do Rio Grande do Sul à GM ou pelo governo de Minas Gerais à Mercedes-Benz (Tabela 4.5). 148 cavalcanti.pmd 148 12/5/2008, 09:15 Tabela 4.5: Incentivos fiscais: comparação Ford (BA) MercedesBenz (MG) GM (RS) Renault (PR) 1,878 556 520 1881 Incentivos financeiros 331 85 98 0 Incentivos orçamentários 193 51 141 165 Incentivos totais 2,402 691 760 3531 Investimento 3,515 845 600 1 68% 82% 127% 35% Incentivos fiscais Incentivos / Investimento Nota 1: Incentivos fiscais não incluem aqueles concedidos aos fornecedores. Incentivos totais podem ser bem maiores (Alves, 2001, p. 79) Fonte: Cavalcante e Uderman (2006, p. 36). Grande parte da atenção dedicada ao projeto resultou do fato de que a Ford pretendia inicialmente instalar uma unidade no Rio Grande do Sul. Ao desistir daquele investimento e optar pela instalação de uma unidade na Bahia, o projeto acabou se tornando um símbolo da guerra fiscal que naquele momento ocupava as primeiras páginas dos jornais. Cavalcante e Uderman (2006, p. 24-28) argumentam que a opção por um estado relativamente distante do centro econômico do país teria decorrido não apenas dos incentivos fiscais oferecidos, mas também da crise do Mercado Comum do Sul (Mercosul) que sucedeu à desvalorização do Real, em janeiro de 1999, e da própria estratégia global da companhia em um contexto marcado por processos de produção “enxutos” em oposição à produção “em massa”. A mudança dos padrões de produção, ao alterar as relações estabelecidas entre fornecedores e montadora, tornou viáveis novos padrões de localização que no sistema fordista de produção não teriam sido possíveis. Com efeito, até a década de 1980, os fornecedores competiam entre si, o que impunha a 149 cavalcanti.pmd 149 12/5/2008, 09:15 necessidade de grandes escalas de produção. Por essa razão, as montadoras e seus fornecedores tendiam a aglomerar-se em regiões determinadas. Assim é que Detroit, nos Estados Unidos, e São Paulo, no Brasil, eram, até a década de 1980, centros nacionais de produção automobilística. No modelo de produção que sucedeu o fordismo, as relações entre montadora e fornecedores passou a apoiar-se progressivamente em contratos de longo prazo, e os fornecedores passaram a estar integrados com o processo produtivo da montadora (especialmente em função dos requisitos de redução de estoques e tempos mortos), daí porque a montadora passou a ser acompanhada pelos seus fornecedores ao escolher um novo destino. Nesse novo contexto, os investimentos já não necessariamente deveriam se dirigir para os destinos tradicionais. Este movimento pode ser observado no Brasil, conforme mostrado na Figura 4.2 a seguir, na qual as montadoras instaladas no país são identificadas com padrões distintos conforme a sua data de implantação.102 Com efeito, conforme evidencia a Figura 4.2, até a década de 1970 as montadoras localizavam-se apenas em São Paulo. Na década de 1970, um leve movimento de desconcentração é observado com a instalação da Fiat em Minas Gerais e da Volvo no Paraná. Mas é na década de 1990 que se observa, no padrão de produção enxuta, um movimento de desconcentração regional da produção automobilística no país, especialmente em direção aos estados da área de influência do Mercosul. No caso da Ford, o argumento fundamental é que, entre meados da década de 1990 e a crise do Mercosul em 1999, os padrões de localização seguidos pela indústria automobilística podiam ser descritos como uma espécie de desconcentração em 102 Convém notar que há, na Figura 4.3, três períodos distintos: o período anterior à década de 1970, a década de 1970 e a década de 1990. A década de 1980 não foi considerada porque naquele momento não houve investimentos expressivos no setor no país. 150 cavalcanti.pmd 150 12/5/2008, 09:15 Figura 4.2 - Grandes montadoras instaladas no Brasil Fonte: Elaboração própria. 151 cavalcanti.pmd 151 12/5/2008, 09:15 torno de São Paulo, buscando explorar, inclusive, o potencial do mercado argentino.103 Como resultado, as plantas estabelecidas antes de 1999 (Tabela 4.6) parecem ter se distribuído no interior do polígono proposto por Diniz (1993). Para esse autor, o crescimento da economia brasileira na década de 1990 tenderia a concentrar-se, do ponto de vista territorial, em uma área poligonal entre Belo Horizonte (MG), Uberlândia (MG), Londrina (PR), Porto Alegre (PR) e Florianópolis (SC). Não por coincidência, o único ponto fora do polígono proposto por Diniz (1993) é justamente a planta da Ford em Camaçari, anunciada já em um contexto de crise do Mercosul.104 Os problemas que se colocavam no âmbito do Mercosul após a desvalorização do Real, em 1999, parecem ter alterado de forma significativa os planos inicialmente traçados pela Ford para seus investimentos no Brasil. Com efeito, ao se compararem o projeto da Ford como originalmente concebido para instalação no Rio Grande do Sul e o Projeto do Complexo Industrial Ford Nordeste (Quadro 4.3), verifica-se que, na verdade, se trata de dois investimentos distintos. A distinção entre os projetos é eloqüente: enquanto o primeiro parece ter sido concebido para abastecer o mercado que iria, em linhas gerais, de Buenos Aires a Belo Horizonte, o segundo parece ser uma plataforma mundial cujos requisitos de localização envolvem incentivos fiscais e disponibilidade de infraestrutura (inclusive portuária). Um outro aspecto que reforça esse argumento é o fato de que a Bahia não parece ter sido uma localização considerada para o primeiro projeto, em que pese o 103 104 Ver, a esse respeito, Alban, Souza e Ferro (2000). Também a MMC Automotores (licenciada pela Mitsubishi) foi implantada fora do polígono indicado. Contudo, por se tratar de um investimento de menor porte destinado à produção de automóveis comerciais leves e por se situar bem próxima à região de Uberlândia (MG), sua instalação em Catalão (GO) não invalida o argumento apresentado. 152 cavalcanti.pmd 152 12/5/2008, 09:15 153 cavalcanti.pmd 153 12/5/2008, 09:15 1 2 148 Land Rover / BMW 120 600 600 Iveco/Fiat4 Peugeot Citroën General Motors5 250 120 100 12 70 160 120 5 15 12 8 30 50 5000 2000 1000 n.a. 2000 1000 2000 800 350 400 500 450 1500 Empregos jun/99 dez/97 jul/97 abr/97 abr/96 dez/96 mar/96 dez/97 ago/96 mar/97 jul/96 abr/96 n.a. out/01 jul/01 fev/01 nov/00 abr/99 jan/99 dez/98 out/98 set/98 jul/98 jun/98 out/97 nov/96 Data do Início das anúncio do operações investimento Camaçari Gravataí Porto Real Sete Lagoas Juiz de Fora São José dos Pinhais São José dos Pinhais São Bernardo do Campo Indiatuba Campo Largo Catalão Sumaré Resende Cidade Fonte: Cavalcante e Uderman (2006, p. 21). Nota 1: Caminhões e ônibus; Nota 2: Licenciamento da Mitsubishi; comerciais leves; Nota 3: Em Janeiro de 2001, anunciou-se a suspensão das operações dessa planta; Nota 4: Comerciais leves, caminhões e ônibus; Nota 5: Incentivos renegociados em maio de 1999. 1900 820 Mercedes-Benz (DaimlerChrysler) Ford 750 Volkswagen / Audi 1000 150 Renault 315 Toyota 35 100 250 Investimento Capacidade (US$ milhões) nominal (1.000 veículos) DaimlerChrysler3 MMC Automotores Honda Volkswagen Companhia Tabela 4.8: Brasil: plantas automobilísticas implantadas, 1995-1999 BA RS RJ MG MG PR PR SP SP PR GO SP RJ Estado Projeto Ford que seria instalado no Rio Grande do Sul Investimento Capacidade Nominal (veículos/ano) Empregos Diretos Complexo Industrial Ford Nordeste US$ 1,0 bilhão US$ 1,9 bilhão 150.000 250.000 1.500 5.000 Quadro 4.3: Comparação dos projetos Ford (RS) e Ford (BA) Fonte: Cavalcante e Uderman (2006, p. 26). fato de, na época de seu anúncio, oferecer os mesmos incentivos que seriam dados em 1999. A opção pela Bahia pode ter sido ainda uma conseqüência da disponibilidade de melhores condições em relação aos demais estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o que reforça o argumento da industrialização em camadas proposto na Seção 3.6. Os efeitos da montadora sobre a economia local já podem ser sentidos. A montadora gerava, em conjunto com seus fornecedores de primeiro nível (conhecidos como sistemistas), 7.039 empregos diretos em agosto de 2004. Trata-se de um número 40% maior do que o número originalmente previsto (5.000). Entretanto, não se deve perder de vista que, entre os benefícios do projeto, pela crescente intensidade em capital da indústria automobilística, a geração de empregos diretos não pode ser considerada o mais importante. Com efeito, um cálculo grosseiro indica que o custo para o governo do estado de cada emprego criado é da ordem de R$ 375 mil.105 É claro que há formas mais baratas de se criar empregos, como o apoio a empresas de pe105 É claro que, ao se considerarem os empregos indiretos, esse custo seria bem menor. Ainda assim, não há evidências de que esse seria o meio mais barato de se gerar empregos no estado. 154 cavalcanti.pmd 154 12/5/2008, 09:15 queno porte intensivas em mão-de-obra.106 Da mesma forma, poder-se-ia argumentar que esses recursos seriam mais bem alocados em projetos de assistência social ou, mais genericamente, na provisão de bens públicos.107 Na verdade, o principal efeito da implantação da montadora na Bahia não é a geração de empregos diretos, mas uma mudança estrutural na sua economia, com a implantação de fornecedores de segunda, terceira e quarta linha (isto é, os fornecedores dos fornecedores), alterando assim a matriz insumo-produto do estado. Um desdobramento interessante seria, por exemplo, a integração da cadeia petroquímica com a produção automobilística. Embora o consumo de resinas termoplásticas em volume, mesmo para a produção de 250.000 veículos por ano, não represente, para o Complexo Petroquímico de Camaçari, um mercado de grande relevo, ele é sem dúvida bastante significativo quando confrontado com a produção local de petroquímicos de terceira geração, isto é, os produtos que resultam das atividades de transformação plástica.108 É elucidativo, por exemplo, o caso observado em Minas Gerais após a instalação da Fiat na região de Betim, para onde, a partir da década de 1990 (cerca de quinze anos após o início das operações da montadora) passaram a se dirigir fornece- 106 É esse tipo de constatação que leva Teixeira e Vasconcelos (1999) a manifestarem o seu ceticismo em relação aos impactos da montadora no estado. 107 Esse é, fundamentalmente, o argumento, discutido na Seção 2.5, segundo o qual o governo seria considerado benevolente. 108 Ao se assumir que um automóvel incorpora cerca de 100 quilos de matéria plástica, pode-se estimar um consumo da ordem de grandeza de 25 mil toneladas por ano desse produto na unidade da Ford na Bahia. Como as escalas de produção de unidades de segunda geração são mais de dez vezes maiores do que esse valor, os impactos da indústria automobilística na segunda geração petroquímica podem ser considerados reduzidos. Contudo, 25 mil toneladas por ano é uma quantidade bastante grande quando confrontada com a capacidade local de produção de produtos petroquímicos de terceira geração (isto é, do segmento de transformação plástica). 155 cavalcanti.pmd 155 12/5/2008, 09:15 dores e novas unidades de produção de automóveis.109 As implicações desses movimentos sobre a economia local são, efetivamente, de grande peso. De acordo com Montero (2001), como resultado do movimento de fornecedores para os arredores da Fiat, entre 1992 e 1994, Betim conseguiu atrair US$ 130 milhões em novos investimentos, aumentou sua arrecadação em US$ 150 milhões e foram criados cerca de 5 mil novos empregos. A criação de um ambiente mais atrativo para fornecedores da Ford tem sido, de fato, uma preocupação recorrente no estado. Entretanto, os potenciais são distintos conforme a natureza dos componentes que produzem, as matérias-primas que empregam, e as escalas econômicas de produção que prevalecem em seus segmentos de atuação. Levantamento feito por Lima, Nascimento e Cavalcante (2003a, p. 17) segmenta os fornecedores de primeiro nível em quatro grandes blocos quanto à possibilidade de atraírem para a Bahia seus fornecedores: · · · 109 Grupo 1: Dotação de Fatores Naturais (empresas cujos fornecedores não deverão instalar-se no estado em virtude de exigirem dotação natural de fatores não disponível na Bahia). Grupo 2: Pólo Automotivo (empresas cujos fornecedores poderão instalar-se no estado apenas em caso de um aumento substancial do volume de produção na Bahia, requerendo, portanto, a instalação de novas montadoras no estado para sua implantação). Grupo 3: Consolidação da Ford (empresas que podem instalar-se no estado e estão aguardando a definição da A concentração dos efeitos da Fiat na economia mineira na década de 1990 está associada a mudanças nos padrões de produção (que afetaram os padrões de localização dos fornecedores) e a políticas públicas de atração de investimentos. Com resultado, entre 1989 e 1998, a participação dos fornecedores locais nas compras da montadora passou de 35% para 90% (LEMOS; GUERRA; MORO, 2000, p. 3-7). 156 cavalcanti.pmd 156 12/5/2008, 09:15 · capacidade efetiva da planta da Ford para subsidiar a decisão de investimento). Grupo 4: Oportunidades a Curto Prazo (empresas cujos fornecedores principais podem instalar-se a curto prazo no estado). Na prática, isto significa dizer que os efeitos mais relevantes do projeto podem requerer algum tempo para atingirem sua maturação, mas que, uma vez alcançados, poderão representar uma efetiva mudança estrutural da economia do estado, elevando-a da condição de fornecedora de commodities intermediárias para a condição de uma economia mais integrada que contemple também a produção de bens finais. Ainda assim, há indícios de que os efeitos da montadora no PIB do estado já podem ser percebidos. Dados ainda preliminares coletados por Cavalcante e Uderman (2005, p. 13) indicam que, entre 1999 e 2004, enquanto o PIB do Brasil cresceu 13,1%, a Bahia apresentou uma taxa correspondente a 19,1%. Entre 2003 e 2004, a participação do segmento automotivo no valor agregado bruto da transformação industrial da Bahia elevou-se de 6,5% para 13,3%. Estima-se que esse número possa dobrar à medida que as estatísticas passem a incorporar os níveis de produção correspondentes à capacidade nominal da planta. Da mesma forma, a participação do segmento nas exportações do estado já atingiu, em 2004, cerca de 16%. 4.4.7 O Pólo de Informática de Ilhéus No âmbito das ações voltadas para a descontração regional da atividade industrial na Bahia, uma iniciativa singular foi a criação, em 1995, do chamado Pólo de Informática de Ilhéus.110 Na verdade, a opção do governo do estado por um programa setorial 110 Há também referências ao Pólo de Informática, Eletroeletrônicos e Telecomunicações de Ilhéus e ao Pólo Tecnológico de Ilhéus. 157 cavalcanti.pmd 157 12/5/2008, 09:15 especificamente voltado para Ilhéus foi motivada, fundamentalmente, pela necessidade de se criar uma alternativa econômica para a região diante da crise prolongada da produção de cacau que, por um longo período, respondeu pela dinâmica da economia local. Guerra e Gonzalez (s.d., p. 55) registram que “a crise da lavoura do cacau, provocada pela vassoura de bruxa e pela forte concorrência dos produtores internacionais, havia deixado mais de 250 mil pessoas desempregadas”. Embora esses números requeiram cautela em sua utilização, em virtude de não se limitarem a Ilhéus (cuja população total, em 2000, era da ordem de 220 mil habitantes), e de agregarem, provavelmente, efeitos indiretos da produção cacaueira, o fato é que sua magnitude seguramente contribuiu para que o programa de atração de indústrias do segmento de informática tivesse — ao contrário dos demais programas setoriais adotados pelo estado ao longo da década de 1990 — um explícito direcionamento espacial. Estima-se que, em 2003, o Pólo de Informática de Ilhéus respondia por 40% dos computadores comercializados no mercado formal e 15% do total de equipamentos vendidos no país, se levadas em conta as vendas do chamado “mercado cinza”.111 Nesse mesmo ano, contavam-se 67 empresas ativas no pólo com faturamento bruto anual superior a R$ 900 milhões. Essas empresas geravam um total estimado de cerca de 1.400 empregos diretos.112 Trata-se, fundamentalmente, de empresas integradoras de tecnologia, cuja ênfase é a montagem de equipamentos de informática e eletroeletrônicos. É claro que a opção por Ilhéus não deixou de suscitar críticas, apoiadas, sobretudo, na alegação de que os requisitos 111 O “mercado cinza” inclui também a pirataria de softwares e contrabando de produtos de informática. 112 As informações do parágrafo estão disponíveis em <http:// www.bahiainvest.com.br/port/segmentos/informatica_analise.asp?pai=3h.>. Acesso em: 9 set. 2005. 158 cavalcanti.pmd 158 12/5/2008, 09:15 para a implantação e fixação de indústrias do segmento de informática — qualificação da mão-de-obra, proximidade de universidades e centros de pesquisa e desenvolvimento e facilidades logísticas (inclusive a proximidade de um aeroporto internacional de grande porte) — seriam mais facilmente encontrados na RMS do que na região de Ilhéus. Além disso, por maior que seja a intensidade em mão-de-obra das empresas instaladas no pólo (em virtude, sobretudo, do fato de se tratar da montagem de equipamentos e não da produção de componentes microeletrônicos), os 1.400 empregos gerados não chegam perto dos emblemáticos 250 mil desempregados pela crise do cacau. Contudo, em um contexto marcado por incentivos fiscais atrativos e após a superação da crise cambial de 1999 (que afetou negativamente as empresas pela sua forte vulnerabilidade aos preços da matéria-prima em dólar), o fato é que o Pólo tem dado sinais de crescimento: não somente os indicadores quantitativos (número de empresas, faturamento e empregos diretos) têm exibido um comportamento ascendente, como também há indícios de que, com a criação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico em Informática e Eletro-Eletrônico de Ilhéus (CEPEDI), possa haver maiores níveis de agregação local de valor e formação local de mão-de-obra. 4.5 Desdobramentos Embora os movimentos observados na década de 1990 sejam ainda recentes, e muitos investimentos estejam ainda em fase de consolidação, pode-se avaliar, ainda que em caráter preliminar, seus desdobramentos sobre a atividade industrial no estado. Assim, não há dúvida que o principal movimento ocorrido na economia baiana na década de 1990 foi o investimento no Complexo Industrial Ford Nordeste, seja pela sua magnitude, seja pelos efeitos esperados na estrutura econômica do estado, 159 cavalcanti.pmd 159 12/5/2008, 09:15 seja ainda pela sua aderência à proposta de diversificação da matriz industrial da Bahia. De fato, os números recentes apontam para a consolidação do projeto, uma vez que a capacidade nominal da planta foi atingida antes da data programada (este evento estava previsto para 2006), o número de empregos diretos gerados (mais de sete mil) supera as estimativas iniciais de cinco mil, já se instalaram na Bahia 33 fornecedores diretos (superando a expectativa inicial de 17 fornecedores de primeira linha), e a empresa instalou no estado o seu Centro de Design, que permitiu a fixação de uma equipe de centenas de engenheiros envolvidos com o projeto de automóveis e componentes. Além disso, novos fornecedores (especialmente aqueles enquadrados nos Grupos 3 e 4 discutidos na Subseção 4.4.6) já se instalaram no estado. Porém, a ponderação sobre os custos e benefícios do projeto deve levar em conta que os desembolsos incorridos pelo governo do estado para atrair o projeto foram especialmente elevados (superiores, em valor presente, a R$ 2,5 bilhões) e que o sucesso do empreendimento esteve associado à própria aceitação dos produtos da empresa no mercado, sendo, portanto, um fator que os técnicos do governo do estado dificilmente teriam conseguido capturar ex ante. Além disso, alguns benefícios esperados do projeto (a atração de novos fornecedores, por exemplo) têm demandado a concessão de novos incentivos. Essas demandas, em certo sentido, contradizem a hipótese de que a atração da Ford criaria condições que tornariam o processo de atração de novos empreendimentos espontâneo. Um outro desdobramento já bastante evidente da implantação do Complexo Industrial Ford Nordeste são os fluxos de comércio exterior e sua composição. Com efeito, até recentemente, as exportações baianas eram predominantemente compostas de bens intermediários — agrícolas, em um primeiro momento, e industriais, de cerca de duas décadas para cá. De fato, Mascarenhas (1978, p. 60) registra que o cacau respondia por 160 cavalcanti.pmd 160 12/5/2008, 09:15 mais da metade das exportações do estado ainda na primeira metade da década de 1970. Contudo, entre 1978 (quando se iniciaram as operações do COPEC) e 1994, a participação do segmento petroquímico nas exportações do estado elevaram-se de 1,6% para 24,6% (GUERRA; GONZALEZ, s.d., p. 29). Esse valor é da mesma magnitude da participação do segmento químico e petroquímico em 2004, conforme indicado na Figura 4.3.113 O fato é que, em cerca de 30 anos, o cacau teve sua participação nas exportações baianas reduzida de 50% para 5%, enquanto os bens intermediários (petroquímicos, derivados de petróleo, metalúrgicos e celulose) viram sua participação elevar-se de forma expressiva. Além disso, a Figura 4.3 revela também que, nos primeiros anos da década de 2000, o início da produção automobilística no estado ampliou a participação desse segmento nas exportações do estado a um patamar já bastante representativo. Com efeito, em 2004 (quando a capacidade de produção acumulada da Ford não tinha ainda atingido sua capacidade nominal), 16% das exportações do estado foram relativas ao setor automotivo. Além de contribuir para uma mudança na composição das exportações do estado, o início das operações do CIFN contribuiu também para que a Bahia começasse a recuperar sua participação nos fluxos comerciais e nas exportações do Brasil. De fato, ao se examinar a Figura 4.4 (e o Apêndice 4), observa-se que 1999 é claramente uma inflexão da tendência de queda da participação da Bahia nos fluxos comerciais e nas exportações. Na verdade, a tendência de queda da Bahia até 1999 pode ser explicada pelo crescimento dos fluxos comerciais do Brasil com os países que compõem o Mercosul, uma vez que esses fluxos, evidentemente, tendiam a concentrar-se nos estados mais bem posicionados do ponto de vista geográfico. A recuperação das exportações e 113 Ver também o Apêndice 3. 161 cavalcanti.pmd 161 12/5/2008, 09:15 Cacau e Derivados 5% Papel e Celulose 7% Grãos, Óleos e Ceras Vegetais 8% Outros 18% Metalurgia 9% Automotivo 16% Química e Petroquímica 23% Derivados de Petróleo 14% Figura 4.3 - Exportações baianas – principais segmentos, 2004 Fonte: Promo Centro Internacional de Negócios (<http://www.promoba.com.br>). 12/5/2008, 09:15 162 cavalcanti.pmd cavalcanti.pmd 163 12/5/2008, 09:15 Exportações. Importações. Corrente de Comércio 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Fonte: Promo Centro Internacional de Negócios (<http://www.promoba.com.br>). Figura 4.4 - Participação da Bahia nas exportações, importações e corrente de comércio, 1980 - 2004 0,0% 1,0% 2,0% 3,0% 4,0% 5,0% 6,0% 7,0% 8,0% dos fluxos de comércio observada a partir de 1999 pode ser atribuída, pelo menos em parte, ao início das operações do CIFN, e elevou a participação da Bahia nesses indicadores ao nível de sua representatividade no PIB nacional.114 Os efeitos da política de atração de investimentos, no entanto, não se limitaram ao segmento automotivo. Além dos resultados observados nas atividades mais tradicionais do estado (o segundo maior investimento atraído para a Bahia na década de 1990 foi o do segmento petroquímico, confirmando a hipótese de reduzida margem de manobra do governo na seleção dos setores de atividade dos investimentos que pôde atrair), o setor de calçados efetivamente se espalhou pelo interior da Bahia. Contudo, pela ausência de aglomerações espaciais, o segmento continua colocando desafios para sua fixação a longo prazo (isto é, após o período de fruição dos incentivos). O segmento de transformação plástica — que tem apresentado um crescimento razoável por conta da implantação de algumas empresas de maior porte — vem mostrando um bom desempenho agregado, embora reafirme uma espécie de vocação do estado para atrair investimentos intensivos em escala, uma vez que são as empresas de maior porte aquelas que têm se fixado na Bahia. Com relação à segunda grande estratégia fixada na década de 1990 (a interiorização do desenvolvimento), pode-se afirmar que houve, efetivamente, um processo de desconcentração intermunicipal de renda no estado. Todavia, conforme constatou Cavalcante (2003b), a maioria dos investimentos ainda não foi capaz de criar uma dinâmica de desenvolvimento endógeno nos municípios do interior. Na verdade, o que se pode verificar 114 Convém observar que, ainda que a Bahia somente recentemente tenha retornado a deter uma participação nas exportações e nos fluxos de comércio do Brasil similar a sua participação no PIB, no conjunto da região Nordeste a Bahia representa cerca de metade das exportações, embora sua economia corresponda a cerca de 1/3 da economia da região. 164 cavalcanti.pmd 164 12/5/2008, 09:15 165 cavalcanti.pmd 165 12/5/2008, 09:15 Fonte: Cavalcante (2003b, p. 325). Figura 4.5 - Municípios da Bahia: renda per capita estimada, 1990 e 2000 20.204 ,4 - 45.141 ,4 (7) 9.043 ,1 - 20.204 ,4 (3) 4.047 ,5 - 9.043 ,1 (11) 1.811 ,6 - 4.047 ,5 (69) 810,8 - 1.811 ,6 (221) 362,9 810,8 (92) 162,4 362,9 (9) 0 162,4 (3) 20.204 ,4 - 45.141 ,4 (3) 9.043 ,1 - 20.204 ,4 (9) 4.047 ,5 - 9.043 ,1 (24) 1.811 ,6 - 4.047 ,5 (81) 810 ,8 - 1.811 ,6 (253) 362 ,9 810,8 (43) 162 ,4 362,9 (2) 0 162,4 (0) é que as regiões do estado que apresentaram maiores níveis de crescimento apresentaram também maior tendência à concentração intra-regional de renda. Isso significa que os investimentos atraídos para um determinado município ainda não foram capazes de irradiar o desenvolvimento econômico para os municípios vizinhos. Essa constatação fica mais clara ao se examinar a Figura 4.5. Nos mapas, referentes aos anos de 1990 e 2000, os municípios com maiores níveis de renda per capita são indicados com cores mais escuras, ao passo que os municípios com menores níveis de renda per capita são indicados com cores mais claras.115 A Figura 4.5 deixa claro, em primeiro lugar, que o estado como um todo adquire uma coloração mais escura, decorrente do crescimento real da renda per capita.116 Aparentemente, a Bahia torna-se também mais homogênea, uma vez que o crescimento de municípios, especialmente nas regiões Oeste, do Baixo Médio São Francisco e Extremo Sul, parece escurecer mais os extremos estaduais. Contudo, há indícios quantitativos (CAVALCANTE, 2003b) de que os elevados níveis de renda per capita observados em alguns municípios estariam associados à presença de um reduzido número de empresas cujas articulações com a economia local são pequenas e que apresentam pouca capacidade de disseminação do desenvolvimento econômico no seu entorno. Esse é claramente o caso dos investimentos no segmento produtor de celulose, no Extremo Sul do estado, que têm claramente uma dificuldade de se articular com a base econômica local. Em certa medida, mesmo o setor de calçados tem ainda dificuldade de irradiar seus efeitos para os municípios vizinhos àqueles onde se instalaram as plantas, embora se possa 115 Uma síntese dos dados empregados na construção da Figura 4.7 está disponível nos Apêndices 5 a 9. 116 Convém lembrar que os dados de renda per capita foram calculados a preços constantes de 2000. 166 cavalcanti.pmd 166 12/5/2008, 09:15 esperar que, no médio prazo, o efeito-renda do grande número de empregos gerados possa garantir essa articulação. Finalmente, há indícios de que, especialmente após a consolidação do CIFN de alguns outros empreendimentos voltados para a produção de bens finais, o governo do estado estaria se engajando em iniciativas voltadas para o desenvolvimento tecnológico. A criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), em 2001, da Secretaria Extraordinária de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI), em 2003, e sua posterior institucionalização como secretaria permanente, em 2004, evidenciam uma crescente aderência dessa percepção à estrutura organizacional do governo do estado. Além disso, o crescimento dos gastos estaduais em Ciência e Tecnologia (C&T), que alcançaram, em 2004, R$ 158 milhões, contra R$ 73 milhões em 2000 (CAVALCANTE; AQUINO, 2005, p. 9) e a atração de alguns investimentos de base tecnológica sugerem que a estratégia de desenvolvimento econômico do estado, depois de ter sido marcada pela atração de investimentos voltados para a produção de bens intermediários e, em seguida, pela atração de investimentos voltados para a produção de bens finais, poderia estar incorporando também a atração de investimentos com maior intensidade tecnológica. 167 cavalcanti.pmd 167 12/5/2008, 09:15 168 cavalcanti.pmd 168 12/5/2008, 09:15 Capítulo 5 Conclusões Neste trabalho, buscou-se discutir a evolução da economia baiana ao longo da segunda metade do século XX com base em uma revisão teórica sobre desenvolvimento econômico regional e competição fiscal e em uma descrição crítica das mudanças estruturais que ocorreram na economia do estado durante o período, buscando enfatizar os movimentos associados ao processo de industrialização do estado. A idéia central que motivou a produção desta monografia é que o desenvolvimento econômico constitui-se em um processo complexo, que envolve a interação entre um conjunto de variáveis e seu encadeamento cronológico, não sendo possível associá-lo exclusivamente a uma variável específica. Nesse sentido, buscou-se evidenciar que a formulação de políticas públicas de desenvolvimento pressupõe o conhecimento da trajetória econômica e social e da própria história do país ou da região sobre a qual se pretende intervir. O trabalho foi estruturado em uma parte teórica sobre desenvolvimento econômico regional e competição fiscal e em uma parte empírica sobre a evolução da economia baiana ao longo da segunda metade do século XX, tendo se apoiado na sistematização de informações qualitativas obtidas por meio de entrevistas estruturadas e na coleta de dados secundários. Para 169 cavalcanti.pmd 169 12/5/2008, 09:15 as entrevistas, foram selecionados interlocutores diretamente ligados à formulação das estratégias de desenvolvimento do estado e à produção teórica sobre economia baiana, buscando garantir que as visões do setor público, do setor privado e da universidade fossem contempladas. Na revisão bibliográfica sobre economia baiana, buscou-se resgatar não apenas a produção mais recente, mas também os textos que trazem a perspectiva dos principais autores de cada época, permitindo que se pudesse acompanhar a evolução de sua percepção sobre a economia do estado. Os fundamentos teóricos que subsidiaram a análise foram apresentados no Capítulo 2, onde se discutiu o desenvolvimento econômico de espaços subnacionais. Com base em uma breve análise da evolução do pensamento em economia regional e em desenvolvimento regional, discutiram-se: (i) as teorias clássicas da localização, cujo foco são as decisões tomadas pelas firmas; (ii) a associação entre os fatores de aglomeração e as teorias do desenvolvimento regional; e, finalmente, (iii) a produção recente sobre o tema. Ao se confrontarem essas perspectivas teóricas com os movimentos observados na economia do estado ao longo da segunda metade do século XX, pôde-se verificar que as políticas de desenvolvimento adotadas apoiaram-se largamente no conceito de aglomerações. Fundamentalmente, buscavam-se criar, por meio da intervenção do governo, as condições iniciais a partir das quais o desenvolvimento poderia irradiar-se. Mesmo em um contexto no qual se questionava a aplicação dos conceitos de “pólos de crescimento”, “causação circular e cumulativa” e “efeitos para frente e para trás” (especialmente em virtude do fato de não incorporarem a dimensão institucional associada ao desenvolvimento econômico), o que se observou foi seu uso extensivo nas ações de governo. No caso da implantação da indústria automobilística, por exemplo, o argumento que prevaleceu para justificar os investimentos do governo do estado para atraí-la foi a capacidade do segmento de 170 cavalcanti.pmd 170 12/5/2008, 09:15 criar uma demanda que justificasse novos investimentos de fornecedores no estado. A ênfase no conceito de aglomerações observada nas ações concretas não quer dizer que os documentos de planejamento produzidos no final do período analisado (isto é, ao longo da década de 1990) já não trouxessem diversas evidências de que a produção teórica recente em desenvolvimento regional era do conhecimento dos técnicos envolvidos no processo. Na verdade, trata-se menos de negligenciar a produção teórica recente e mais de reconhecer a dificuldade de sua aplicação prática. Com efeito, enquanto a produção teórica que privilegia os conceitos de aglomeração é facilmente convertida em prescrições de ações de intervenção governamental, as visões que privilegiam conceitos de “distritos marshallianos”, “ambientes inovadores” e “organização industrial”, por exemplo, têm um caráter mais descritivo de experiências bem-sucedidas e oferecem grande dificuldade para que delas se extraia uma agenda de ações concretas. A discussão das mudanças estruturais que ocorreram na economia do estado durante a segunda metade do século XX, apresentada nos Capítulos 3 e 4, deixou claro, em primeiro lugar, que há uma convergência de visões sobre o tema. De fato, tanto as entrevistas como a revisão bibliográfica efetuada demonstraram haver um razoável consenso sobre a relevância dos principais movimentos que marcaram a economia do estado ao longo do período. Essa constatação parece ser um sintoma da margem de manobra relativamente reduzida que resta aos governos dos espaços subnacionais para determinarem suas trajetórias de desenvolvimento. Nesse sentido, a implantação de uma indústria voltada para a produção de commodities intermediárias no estado, por exemplo, esteve muito mais associada ao papel que se reservava à Bahia na economia brasileira do que a uma deliberação local. É claro que isso não elimina o fato de que a adequada compreensão dos movimentos em escala nacio- 171 cavalcanti.pmd 171 12/5/2008, 09:15 nal e a capacidade do estado em se reposicionar efetivamente contribuíram para validar essas iniciativas e para que se pudessem amplificar seus resultados. Como resultado, a trajetória seguida pela Bahia ao longo do período entre 1950 e 1980 foi claramente distinta daquela adotada pelos demais estados da região Nordeste, que buscaram uma industrialização voltada para a produção de bens finais e intensiva em mão-de-obra, em oposição ao estímulo à produção de commodities intermediárias que norteou as políticas públicas formuladas na Bahia. Apoiada na crescente integração dos mercados do país e aproveitando-se da implantação de uma malha rodoviária que terminou articulando a região Nordeste com as regiões Sul e Sudeste, a estratégia de “especialização regional” terminou resultando na elevação da participação do PIB da Bahia no PIB do Nordeste e do Brasil no período e atuou contraciclicamente nos momentos em que a região Nordeste via reduzir-se sua participação no PIB nacional. Além disso, a Bahia parece ter se beneficiado do maior enraizamento dos segmentos produtores de bens intermediários, em virtude de seus maiores sunk costs e de sua elevada intensidade em capital. Nesse sentido, a estrutura que se fixou no estado entre as décadas de 1950 e 1980 parece ter sido mais resistente às baixas taxas de crescimento do final da década de 1980 do que teriam sido segmentos voltados para a produção de bens finais. Por trás dos diferenciais nas taxas de crescimento que se observaram entre as décadas de 1950 e 1980, todavia, está uma mudança estrutural na economia do estado. Na verdade, postulou-se aqui que, à parte as discussões de caráter semântico, mais do que ter crescido em “espasmos”, “saltos” ou “ciclos”, a Bahia parece ter experimentado, ao longo do período, um processo de crescimento em “camadas” que se sobrepuseram, ainda que de forma irregular. Essa proposição é validada pelo fato de que um dos principais motivos pelos quais a Bahia viria a abrigar o COPEC, na década de 1970, foi justamente o fato de contar 172 cavalcanti.pmd 172 12/5/2008, 09:15 com uma refinaria cuja implantação se dera cerca de vinte anos antes. Assim, embora o processo de industrialização tenha se iniciado na década de 1950, suas grandes repercussões ocorreram após o início das operações do COPEC, no final da década de 1970. O argumento da industrialização em camadas é também válido para a década de 1990 e é reforçado pela percepção de que a implantação da indústria automobilística no estado, embora associada à estratégia da própria montadora, aos movimentos ocorridos no conjunto da economia brasileira e à concessão de um representativo pacote de incentivos fiscais, foi também favorecida pela presença, no estado, de um parque industrial já relativamente desenvolvido. Na verdade, a implantação da indústria automobilística na Bahia foi o principal evento econômico de uma década marcada por uma retórica de diversificação da matriz industrial e por uma prática de atração de investimentos por meio da concessão de benefícios fiscais em nível estadual. Postulou-se aqui que as estratégias de desenvolvimento formuladas para o estado, além de apoiarem a implantação de atividades voltadas para a produção de bens finais, buscando assim maiores níveis de integração intersetorial nas cadeias de produção instaladas no território baiano, incluíam também mecanismos de estímulo à desconcentração espacial da atividade econômica, tendo sido circunscritas pelo contexto de competição fiscal por investimentos em que as unidades da federação estiveram envolvidas. De fato, em face da crise das instituições federais de suporte ao desenvolvimento regional — especialmente da SUDENE —, os instrumentos empregados na prática para a implantação das estratégias fixadas parecem ter estado em grande medida associados à concessão de benefícios de natureza fiscal e, em menor escala, a incentivos financeiros e provisão de infra-estrutura. Uma vez que a implementação das estratégias estava diretamente associada à atração de investimentos por meio da 173 cavalcanti.pmd 173 12/5/2008, 09:15 concessão de benefícios fiscais, o governo do estado teve uma margem de manobra relativamente reduzida para eleger os setores prioritários. Assim, embora houvesse uma estratégia claramente desenhada e que podia ser considerada razoavelmente consensual, o fato é que os resultados da política de atração de investimentos foram determinados muito mais pelo aproveitamento de oportunidades surgidas do que por uma ação efetivamente seletiva. É eloqüente, por exemplo, a constatação de que, apesar da vigorosa retórica em favor da diversificação da matriz industrial instalada na Bahia, o segundo maior projeto atraído para o estado no âmbito da política de incentivos adotada ao longo da década de 1990 foi justamente no setor petroquímico. Diante disso, não surpreende que os segmentos de bens intermediários tenham mantido sua participação na estrutura da indústria de transformação do estado ao longo da década de 1990. Isso, todavia, não elimina a representatividade de segmentos intensivos em mão-de-obra (como os segmentos têxtil e de produção de calçados), que, embora detendo individualmente uma participação reduzida no valor agregado bruto da transformação industrial no estado, adquirem maior peso quando examinados de forma agregada. Com relação à desconcentração espacial da atividade econômica, o que se pôde observar foi, ao longo da década de 1990, uma redução dos níveis de desigualdade, sobretudo em iniciativas como as que se relacionam aos investimentos nas regiões Oeste, Baixo-Médio São Francisco, Extremo Sul e de Ilhéus (por conta da implantação do Pólo de Informática), além, é claro, da pulverização da indústria de calçados pelo interior do estado. Contudo, parece ter havido, ao longo da década, uma associação direta entre crescimento do PIB per capita e crescimento da desigualdade intra-regional. Acredita-se, assim, que o crescimento da renda per capita em alguns municípios pode ter resultado da implantação de novos investimentos atraídos pela política de concessão de benefícios fiscais e financeiros do estado, sem que 174 cavalcanti.pmd 174 12/5/2008, 09:15 se tenham estabelecido vínculos econômicos com as localidades próximas daquela onde o investimento foi implantado. Nesse sentido, há indícios de que a atração de grandes investimentos para o interior do estado possa não estar associada, em diversos casos, a um processo de promoção do desenvolvimento endógeno. De outra parte, restam ainda dúvidas quanto à fixação de algumas empresas que se destinaram ao interior — sobretudo daquelas que mantêm reduzidos níveis de articulação com a base econômica existente no estado — após o prazo de fruição dos incentivos fiscais que lhes foram concedidos. Para concluir, pode-se afirmar que, ao se examinar em perspectiva histórica a trajetória seguida pela economia baiana ao longo da segunda metade do século XX, a idéia da industrialização é tão vigorosa e traz implicações tão eloqüentes que a expressão “a era da indústria” parece ser a mais adequada para descrever o período. De fato, entre 1950 e 2000, o que se observou foi uma sucessão de iniciativas voltadas para a industrialização do estado, com implicações econômicas e sociais talvez tão grandes que ainda não puderam ser plenamente assimiladas. Porém, é certo que, de maneira análoga à idéia de Eric Hobsbawm utilizada como epígrafe deste trabalho, os movimentos que serão observados na economia baiana ao longo do século XXI terão sido moldados pelos eventos que marcaram o qüinqüênio que o antecedeu e que, entre as décadas de 1980 e 1990, o modelo de industrialização adotado modificou-se intensamente. Dessa forma, se, entre as décadas de 1950 e 1980, a industrialização ocorreu mediante a participação direta do governo no setor produtivo e enfatizou a implantação de uma base voltada para a produção de commodities intermediárias, a partir da década de 1990, as estratégias de desenvolvimento passaram a privilegiar a produção de bens finais e a interiorização da atividade econômica, ainda que essas ações tenham sido circunscritas pelo contexto de competição fiscal por investimentos em que as unidades da federação estiveram envolvidas no período. 175 cavalcanti.pmd 175 12/5/2008, 09:15 176 cavalcanti.pmd 176 12/5/2008, 09:15 Referências ABDE. Financiamento do desenvolvimento: políticas de financiamento de longo prazo, funding e formatação das instituições financeiras de desenvolvimento. Rio de Janeiro, 1994. AGUIAR, Manuel Pinto de. Notas sobre o “enigma baiano”. Planejamento, Salvador, v. 5, n. 4, p. 123-136, out./dez. 1977 (Edição original: 1958). ALBAN, M.; SOUZA, C.; FERRO, J. R. 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1968 13,65% 3,91% 1,99% 3,36% 1969 12,79% 3,87% 1,73% 3,16% 1970 11,92% 3,82% 1,48% 2,95% 1971 11,76% 3,68% 1,47% 2,86% 1972 11,96% 3,70% 1,50% 2,90% 1973 11,95% 3,68% 1,52% 2,87% 1974 10,86% 3,54% 1,20% 2,69% Fontes: Elaboração própria, usando dados do IBGE (1985-2002) e dados gentilmente cedidos pelo Professor Carlos Roberto Azzoni para 1939 e para o período 1947-1984. 193 cavalcanti.pmd 193 12/5/2008, 09:15 continua Apêndice 1: Participação do Nordeste, da Bahia, de Pernambuco e do Ceará no PIB do Brasil continuação Nordeste Bahia Pernambuco Ceará 1975 11,28% 3,75% 1,32% 2,70% 1976 11,43% 3,65% 1,42% 2,71% 1977 12,05% 3,83% 1,50% 2,75% 1978 12,68% 4,29% 1,58% 2,80% 1979 12,78% 4,37% 1,61% 2,76% 1980 12,17% 4,44% 1,53% 2,55% 1981 12,92% 4,67% 1,54% 2,63% 1982 14,25% 5,06% 1,88% 2,67% 1983 14,29% 5,68% 1,63% 2,60% 1984 15,55% 5,59% 2,26% 2,66% 1985 14,10% 5,35% 1,72% 2,62% 1986 14,07% 5,14% 1,74% 2,83% 1987 13,13% 4,71% 1,60% 2,77% 1988 12,83% 4,78% 1,61% 2,61% 1989 12,30% 4,52% 1,54% 2,53% 1990 12,86% 4,49% 1,62% 2,66% 1991 13,37% 4,40% 1,83% 2,89% 1992 12,92% 4,39% 1,83% 2,67% 1993 12,82% 4,34% 1,82% 2,58% 1994 12,87% 4,29% 1,89% 2,59% 1995 12,78% 4,14% 1,93% 2,70% 1996 13,17% 4,24% 2,01% 2,75% 1997 13,09% 4,25% 2,02% 2,69% 1998 13,05% 4,24% 2,06% 2,71% 1999 13,11% 4,32% 2,00% 2,67% 2000 13,09% 4,38% 1,89% 2,64% 2001 13,12% 4,36% 1,80% 2,65% 2002 13,52% 4,61% 1,80% 2,71% Fontes: Elaboração própria, usando dados do IBGE (1985-2002) e dados gentilmente cedidos pelo Professor Carlos Roberto Azzoni para 1939 e para o período 1947-1984. 194 cavalcanti.pmd 194 12/5/2008, 09:15 Apêndice 2: Participação da Bahia, de Pernambuco e do Ceará no PIB do Nordeste Bahia Pernambuco Ceará 1939 26,58% 26,80% 12,45% 1947 27,67% 26,77% 11,75% 1948 26,71% 27,59% 11,87% 1949 26,01% 27,35% 12,66% 1950 25,49% 26,99% 14,07% 1951 25,22% 28,43% 11,16% 1952 25,52% 26,42% 13,06% 1953 28,10% 26,88% 11,82% 1954 30,11% 26,47% 11,38% 1955 29,86% 25,89% 11,79% 1956 27,95% 26,50% 12,74% 1957 28,21% 26,98% 12,92% 1958 31,24% 28,25% 8,71% 1959 29,11% 24,90% 12,48% 1960 28,66% 24,01% 13,06% 1961 26,20% 25,39% 13,14% 1962 24,04% 24,95% 14,00% 1963 23,22% 27,21% 14,08% 1964 25,54% 25,79% 14,49% 1965 26,53% 25,08% 14,47% 1966 27,84% 25,48% 13,62% 1967 27,26% 25,29% 13,91% 1968 28,65% 24,59% 14,58% 1969 30,23% 24,67% 13,55% 1970 32,04% 24,77% 12,37% 1971 31,26% 24,32% 12,53% 1972 30,92% 24,27% 12,57% 1973 30,79% 24,06% 12,70% 1974 32,60% 24,74% 11,01% Fontes: Elaboração própria, usando dados do IBGE (1985-2002) e dados gentilmente cedidos pelo Professor Carlos Roberto Azzoni para 1939 e para o período 1947-1984. continua 195 cavalcanti.pmd 195 12/5/2008, 09:15 Apêndice 2: Participação da Bahia, de Pernambuco e do Ceará no PIB do Nordeste continuação Bahia Pernambuco Ceará 1975 33,27% 23,91% 11,70% 1976 31,98% 23,73% 12,39% 1977 31,80% 22,85% 12,44% 1978 33,81% 22,07% 12,49% 1979 34,22% 21,62% 12,58% 1980 36,49% 20,98% 12,58% 1981 36,11% 20,36% 11,89% 1982 35,50% 18,75% 13,18% 1983 39,76% 18,18% 11,38% 1984 35,96% 17,12% 14,53% 1985 37,94% 18,58% 12,20% 1986 36,53% 20,11% 12,37% 1987 35,82% 21,06% 12,17% 1988 37,29% 20,36% 12,56% 1989 36,72% 20,55% 12,51% 1990 34,89% 20,67% 12,59% 1991 32,91% 21,62% 13,69% 1992 33,98% 20,67% 14,16% 1993 33,83% 20,11% 14,19% 1994 33,33% 20,12% 14,69% 1995 32,45% 21,16% 15,13% 1996 32,19% 20,88% 15,26% 1997 32,47% 20,55% 15,43% 1998 32,52% 20,78% 15,80% 1999 32,93% 20,38% 15,28% 2000 33,44% 20,21% 14,43% 2001 33,22% 20,17% 13,72% 2002 34,10% 20,04% 13,31% Fontes: Elaboração própria, usando dados do IBGE (1985-2002) e dados gentilmente cedidos pelo Professor Carlos Roberto Azzoni para 1939 e para o período 1947-1984. 196 cavalcanti.pmd 196 12/5/2008, 09:15 Apêndice 3: Exportações baianas principais segmentos, 2003/2004 Segmentos Valores (US$ Valores (US$ Variação 1000 FOB), 1000 FOB), 2003/2004 2003 2004 Participação, 2004 Químicos e petroquímicos 800.578 960.171 19,93% Automotivo 398.673 640.719 60,71% 23,63% 15,77% Derivados de petróleo 609.267 549.770 -9,77% 13,53% Metalúrgicos 249.806 384.872 54,07% 9,47% Grãos óleos e ceras vegetais 160.819 343.089 113,34% 8,44% Papel e celulose 262.050 277.775 6,00% 6,84% Cacau e derivados 213.271 194.045 -9,01% 4,78% Minerais 104.008 103.588 -0,40% 2,55% 80.482 74.884 -6,96% 1,84% Frutas e suas preparações Couros e peles 58.455 72.406 23,87% 1,78% Café e especiarias 39.021 68.065 74,43% 1,68% Sisal e derivados 53.925 62.548 15,99% 1,54% Calçados e suas partes 27.840 50.816 82,53% 1,25% Pesca e aqüicultura 27.053 27.539 1,80% 0,68% Fumo e derivados 17.263 16.699 -3,27% 0,41% Demais segmentos 156.261 235.930 50,98% 5,81% 3.258.772 4.062.916 24,68% 100,00% Total Fonte: PROMO Centro Internacional de Negócios da Bahia. 197 cavalcanti.pmd 197 12/5/2008, 09:15 Apêndice 4: Balança Comercial Bahia 1980–2004 (US$ milhões FOB) Anos Exportações Importações Saldos Corrente de comércio 1980 1.113 824 289 1.937 1981 1.290 571 719 1.861 1982 1.075 609 466 1.684 1983 1.534 441 1.093 1.975 1984 1.739 329 1.410 2.068 1985 1.636 408 1.228 2.044 1986 1.133 454 679 1.587 1987 1.271 484 787 1.755 1988 1.476 677 799 2.153 1989 1.524 648 876 2.172 1990 1.453 766 687 2.219 1991 1.277 632 645 1.909 1992 1.491 534 957 2.025 1993 1.450 615 835 2.065 1994 1.721 753 968 2.474 1995 1.919 1.208 711 3.127 1996 1.846 1.343 503 3.189 1997 1.868 1.590 278 3.458 1998 1.829 1.500 329 3.329 1999 1.581 1.472 109 3.053 2000 1.943 2.256 -313 4.199 2001 2.120 2.274 -154 4.394 2002 2.410 1.878 532 4.288 2003 3.259 1.945 1.314 5.204 2004 4.063 3.013 1.050 7.076 Fonte: PROMO Centro Internacional de Negócios da Bahia. 198 cavalcanti.pmd 198 12/5/2008, 09:15 199 cavalcanti.pmd 199 12/5/2008, 09:15 608.869,30 359.857,86 476.673,33 520.346,23 308.620,44 433.762,11 11.740.468,52 Baixo Médio São Francisco Piemonte da Diamantina Irecê Chapada Diamantina Serra Geral Médio São Francisco Oeste Total 12.204.320,86 452.534,19 319.239,49 536.609,48 487.069,45 364.492,53 590.370,45 361.396,60 1.045.155,50 1.207.919,20 1.122.077,59 564.679,40 1.372.301,73 645.639,81 483.851,78 2.650.983,65 Pop. Estimada 01/07/1994 Fonte: Estimativas do autor com base em interpolações. Apêndice 5: Regiões econômicas: populações estimadas 996.279,99 335.226,16 Sudoeste 1.188.020,65 Paraguaçu 522.232,65 1.089.766,91 Extremo Sul Nordeste 1.386.796,41 Litoral Sul 455.744,54 622.328,40 Recôncavo Sul 2.435.943,53 Pop. Estimada 01/07/1990 Litoral Norte Metropolitana de Salvador Região 12.466.003,67 463.012,82 324.952,00 545.438,45 493.123,00 367.094,49 582.429,63 375.662,28 1.072.562,14 1.220.238,57 1.139.185,98 591.865,32 1.367.096,91 657.953,53 498.720,46 2.766.668,09 Pop. Estimada 01/07/1996 12.749.552,36 474.291,29 330.947,60 554.764,50 499.786,83 369.885,59 575.304,25 390.782,57 1.102.121,55 1.234.102,04 1.156.958,00 624.251,36 1.363.211,20 670.729,63 514.166,15 2.888.249,81 Pop. Estimada 01/07/1998 13.056.894,76 486.428,71 337.238,29 564.614,77 507.094,97 372.865,72 568.956,16 406.812,49 1.133.982,16 1.249.489,06 1.175.416,63 663.071,07 1.360.619,24 683.986,89 530.215,75 3.016.102,84 Pop. Estimada 01/07/2000 Litoral Norte Metropolitana de Salvador Região 1.477.374.823 2.848.118.339 18.850.834.371 PIB Estimado 1990 3.094.882.336 2.032.707.820 2.738.926.195 18.624.316.597 PIB Estimado 1994 3.218.834.478 2.157.659.216 2.729.605.452 19.086.324.452 PIB Estimado 1996 3.480.930.243 2.021.097.188 3.042.146.211 21.058.064.712 PIB Estimado 1998 3.361.198.020 1.891.489.986 3.547.694.509 21.183.008.790 PIB Estimado 2000 Apêndice 6: Regiões econômicas: PIB estimado Recôncavo Sul 2.897.337.752 3.262.180.306 Litoral Sul 2.077.462.780 2.115.069.628 3.120.468.982 916.939.216 2.591.682.279 1.939.633.148 1.361.826.943 1.968.721.258 2.816.142.066 890.049.481 2.359.263.214 1.832.508.283 1.435.724.165 1.909.738.726 2.645.544.216 921.487.041 2.068.947.106 1.873.674.697 1.332.602.299 1.707.082.349 2.664.692.464 928.744.835 629.751.320 622.689.225 1.615.628.758 1.545.318.728 1.284.166.494 491.080.031 461.851.667 1.414.770.777 670.706.472 493.403.242 533.555.435 1.275.343.653 Paraguaçu 1.326.409.395 440.714.190 449.650.760 Extremo Sul Sudoeste 432.063.820 479.695.658 Nordeste Irecê Piemonte da Diamantina Baixo Médio São Francisco Chapada Diamantina 1.502.125.713 391.468.543 45.506.602.225 1.715.243.762 386.282.270 47.693.661.360 2.226.802.779 512.829.325 1.393.036.255 462.089.559 41.995.422.098 1.136.045.892 1.500.096.281 1.001.020.043 302.419.654 40.486.295.045 1.088.069.957 695.208.595 932.205.006 Médio São Francisco 37.812.499.507 Serra Geral Oeste 12/5/2008, 09:15 200 cavalcanti.pmd Total Fonte: Porto (2002). 200 Apêndice 7: Regiões econômicas: PIB (SEI, 2003) Região Metropolitana de Salvador PIB Estimado 1998 PIB Estimado 2000 18.000.075.513 20.761.353.625 Litoral Norte 1.933.091.607 2.854.970.826 Recôncavo Sul 1.038.249.853 1.357.553.945 Litoral Sul 2.345.546.464 2.280.683.288 Extremo Sul 2.077.565.530 2.439.915.703 Nordeste 1.748.084.941 2.958.387.550 Paraguaçu 2.034.432.596 2.461.079.758 Sudoeste 1.893.960.574 2.014.009.447 Baixo Médio São Francisco 716.712.836 1.355.485.974 1.020.740.008 1.083.827.186 Irecê 509.077.117 632.691.526 Chapada Diamantina 627.965.136 826.841.945 Serra Geral 887.238.100 1.093.786.470 Médio São Francisco 392.535.515 549.953.274 Oeste 1.208.536.590 1.720.845.208 Total 36.433.812.382 44.391.385.727 Piemonte da Diamantina Fonte: SEI (2003) 201 cavalcanti.pmd 201 12/5/2008, 09:15 Apêndice 8: Regiões econômicas: PIB per capita estimado PIB per capita estimado 1990 PIB per capita estimado 1994 PIB per capita estimado 1996 PIB per capita estimado 1998 PIB per capita estimado 2000 Metropolitana de Salvador 7.739 7.025 6.899 7.291 7.023 Litoral Norte 6.249 5.661 5.473 5.917 6.691 Recôncavo Sul 2.374 3.148 3.279 3.013 2.765 Litoral Sul 2.089 2.255 2.355 2.553 2.470 Extremo Sul 2.442 2.861 3.496 3.779 3.909 Nordeste 1.298 1.521 1.676 1.702 1.799 Região Paraguaçu 2.243 2.190 2.308 2.529 2.611 Sudoeste 1.551 1.793 1.709 1.760 1.832 Baixo Médio São Francisco 2.001 2.570 2.453 2.278 2.254 Piemonte da Diamantina 2.178 2.175 2.288 2.496 2.394 Irecê 1.333 1.234 1.453 1.249 1.670 Chapada Diamantina 906 905 1.001 983 1.242 Serra Geral 1.792 2.028 1.835 2.048 2.467 Médio São Francisco 980 1.447 1.205 1.167 1.521 Oeste 1.603 3.315 3.244 3.616 4.578 Total 3.221 3.317 3.369 3.569 3.653 Fonte: Estimativas do autor com base nos dados de Porto (2002). 202 cavalcanti.pmd 202 12/5/2008, 09:15 Apêndice 9: Regiões Econômicas: PIB per capita (SEI, 2003) Região Metropolitana de Salvador PIB per capita estimado 1998 PIB per capita estimado 2000 6.232 6.884 Litoral Norte 3.760 5.385 Recôncavo Sul 1.548 1.985 Litoral Sul 1.721 1.676 Extremo Sul 3.328 3.680 Nordeste 1.511 2.517 Paraguaçu 1.649 1.970 Sudoeste 1.718 1.776 Baixo Médio São Francisco 1.834 3.332 Piemonte da Diamantina 1.774 1.905 Irecê 1.376 1.697 Chapada Diamantina 1.256 1.631 Serra Geral 1.599 1.937 Médio São Francisco 1.186 1.631 Oeste 2.548 3.538 Total 2.858 3.400 Fonte: Estimativas do autor com base nos dados da SEI (2003). 203 cavalcanti.pmd 203 12/5/2008, 09:15 A era da indústria: a economia baiana na segunda metade do século XX de Luiz Ricardo Cavalcante III Prêmio FIEB de Economia Industrial, é uma edição da Federação das Indústrias do Estado da Bahia. Impressão e acabamento: Qualigraf Serviços Gráficos e Editora Ltda. Salvador, maio de 2008 cavalcanti.pmd 204 12/5/2008, 09:15