ENCONTRO ENTRE CICLONE TÉRMICO E UM SISTEMA FRONTAL PARTE I: ANÁLISE SINÓTICA E ANÁLISE DA TEMPERATURA Elizabeth Signorini1 e-mail: [email protected] Natália Fedorova e-mail: [email protected] Rogério de Souza e Silva e-mail: [email protected] Centro de pesquisas Meteorológicas - Faculdade de Meteorologia Universidade Federal de Pelotas Abstract The junction of thermal cyclone and the cyclone frontal zones is investigated using satellite and conventional data. It is observed one warm air kernel in the low levels of atmosphere, large vertical temperature gradients and highest tropopause in the junction region. 1 Introdução Ciclone térmico ou baixa quente é definido por Garbel (1947), quando o aquecimento desigual sobre uma região, provoca uma deformação das superfícies isobáricas originalmente horizontais (superfície de igual pressão). Sobre a América do Sul encontramos alguns trabalhos, como por exemplo Ferreira (1995) e Gan (1993), que descrevem um processo semelhante, com importância especial no verão, ou seja, a Alta da Bolívia. Próximo ao centro quente, em baixos níveis, a pressão atmosférica é menor que arredores e maior em altos níveis provocando com isto, a ocorrência de intensa atividade convectiva com precipitação. As frentes frias são descritas em muitos trabalhos, como faz Cavalcanti (1995), mas ainda não se tem informação sobre a mudança de suas estruturas, quando encontram com outros processos sinóticos. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a estrutura espacial da temperatura, quando a frente fria encontra com o ciclone térmico. 2 Dados e Métodos Utilizamos neste trabalho dados sinóticos do horário 00:00 TMG, obtidos dos campos de temperatura para os níveis de superfície, 1000, 925, 850, 700, 500, 400, 300, 250, 200 e 150 hPa, pressão reduzida (NMM) e altura geopotencial para os níveis de 1000, 925, 850, 700, 500, 400 e 300 hPa, dados estes oriundos do NCEP, e imagem infravermelha do satélite GOES. Estas informações em geral, foram utilizadas para identificar a ocorrência do processo sinótico causado pelo encontro da frente fria com o ciclone térmico. Através do campo de pressão e altura geopotencial (veja figura 1a, b) pode-se confirmar a posição do ocorrência do mesmo. Com a imagem de satélite pode-se visualizar o processo e localizar 5 linhas (veja figura 2), da seguinte forma: linha 1 (sul do ciclone e nebulosidade intensa de oeste), linha 2 (sudeste do ciclone e vanguarda da nebulosidade intensa central), linha 3 (frente fria e parte leste da nebulosidade intensa), linha 4 (vanguarda da frente oclusa tipo frente fria, em superfície) e linha 5 (prolongamento da linha da frente quente). Cada uma possui 5 pontos distribuídos em ordem crescente no sentido sul-norte, com exceção das linhas 4 e 5, cuja numeração cresce conforme nos afastamos do continente. Usando-se os campos de temperatura, pode-se fazer uma análise de sua estrutura espacial, construindo secções verticais 1 Aluna de Pós-graduação em Meteorologia sobre a região do encontro. Com isto, foi possível a observação do comportamento da temperatura (veja figura 3), tais como núcleos de calor e níveis significativos de gradientes verticais de temperatura, além do cálculo dos gradientes horizontais sobre a região do encontro, para os níveis citados. 3 Resultados 3.1 Posição do sistema frontal e ciclone térmico Através da análise dos campos de Pressão e Altura geopotencial (fig.1a,b), encontramos o centro do ciclone em superfície ao norte do Paraguai (isóbaras fechadas), a frente fria à sudeste do RS e costa (em torno do cavado) e a frente quente na periferia oeste do anticiclone (em torno do cavado). Pode-se observar, em outros níveis do campo de Altura geopotencial, que as isolinhas fechadas permanecem até 925 hPa, e acima até 700 hPa temos então o cavado sobre esta região. Ao sul da Argentina temos o cavado até 700 hPa, sendo que acima disto, encontramos a zona frontal ao sul do Uruguai e centro da Argentina. Com a imagem de satélite, podemos fazer uma associação entre a nebulosidade e os processos ocorridos, constatando que a mais intensa cobertura de nuvens encontra-se sobre a região de encontro entre frente fria e ciclone, de forma que a parte mais significativa desta é encontrada ao sul e sudeste do ciclone em superfície . Figura 1: Pressão atmosférica (nível médio do mar) (a.), altura geopotencial 100 hPa (b.) Figura 2: Imagem de satélite GOES, IR , no dia 28 de outubro 1997, 02:45 h., com as cinco linhas de análise da distribuição vertical de temperatura. 3.2 Análise tridimensional da temperatura Encontramos na periferia sul do ciclone, até o nível de 925 hPa, um núcleo de calor com 28 °C, não em superfície, mas acima no nível de 1000 hPa (fig.3a). Núcleos de ar quente similares foram percebidos por Chang et al (1995), os quais mostraram um modelo de frente quente para o hemisfério norte, cujo núcleo à sua retaguarda localiza-se em níveis acima da superfície (centro em 925 hPa). No nosso estudo, o núcleo se extende para leste, sobre a vanguarda da nebulosidade intensa e central, onde verificamos a temperatura de 24,2 °C em 1000 hPa (fig.3b). Sobre a frente fria e parte leste da nebulosidade intensa, não temos mais o núcleo quente e sim temperaturas decrescendo com a altitude (fig.3c). Também sobre esta região, através da análise dos campos de temperatura, observamos a invasão de uma língua de ar quente, sobre regiões mais frias (fig.4a). Próximo à nebulosidade da vanguarda da frente oclusa, observa-se uma temperatura de 14°C à superfície, declinando na direção sudeste (fig.3d). No prolongamento da frente quente, temos a maior temperatura de superfície (17,9° C), no ponto mais distante do continente (fig.3e). A análise vertical dos campos de temperatura mostra gradientes verticais de temperatura, intensos em duas camadas (700-500 e 400-300 hPa). Na região sul do ciclone térmico e nebulosidade intensa de oeste, observa-se entre os níveis de 700-500 hPa um gradiente vertical de temperatura de 0,4°C/100m e outro entre 400-300 hPa de 0,78°C/100m (fig. 3a), valores estes, também encontrados sobre a região do encontro entre frente fria e ciclone (nebulosidade intensa e central) (fig.3b). Sobre a frente fria e parte leste de nebulosidade intensa, os valores respectivos encontrados, foram de 0,36°C/100m e 0,68°C/100m (fig.3c). Na vanguarda da frente oclusa estes gradientes também declinam nestes níveis, para 0,32 e 0,59°C/100m, respectivamente (fig.3d). Sobre a frente quente, os valores dos gradientes verticais assemelham-se aos da região anterior (fig.3e). Uma análise vertical dos campos horizontais mostra também, em alguns níveis da atmosfera, valores significativos de gradientes horizontais de temperatura, à retaguarda do núcleo quente (nebulosidade intensa de oeste); em superfície temos 11,3 °C/500 Km (fig.4a), em 700 hPa encontramos 11,6 °C (fig.4b), e ao nível de 500 hPa, 10.8 °C/500 Km (fig.4c). Sobre a região de encontro entre frente fria e ciclone, observamos um declínio no valor do gradiente horizontal em superfície para 9°C/500 Km e também para os demais níveis (fig.4a,b,c). Podemos ver que conforme nos dirigimos para leste, estes valores diminuem rapidamente. A tropopausa sobre a região sul do ciclone em superfície, e sobre a vanguarda da nebulosidade intensa e central, encontra-se acima de 150 hPa (figs.3a e 3b, respectivamente). Sobre a frente fria (parte leste da nebulosidade intensa) é identificada a partir de 200 hPa, se inclinando e se elevando na direção nordeste (fig.3c). Na vanguarda da oclusão é observada a partir de 300 hPa e como na região anterior, também se inclina e aumenta de altitude para nordeste (fig.3d). No prolongamento da frente quente nós a encontramos a partir de 250 hPa (fig.3e). a. b. d. c. e. Figura 3: Secções verticais de temperatura para cinco linhas: a.( linha 1), b.(linha 2), c.(linha 3), d. (linha 4), e.(linha 5) 4 Conclusões A análise tridimensional dos campos de temperatura, no processo de encontro entre frente fria e ciclone térmico, mostra que o núcleo de ar quente é observado acima da superfície (até 925 hPa), na periferia sul do ciclone e se extende para leste (vanguarda da região do encontro). Sobre a região do ciclone encontramos seu valor máximo, de 28°C em 1000 hPa. A tropopausa mais alta (acima de 150 hPa), está localizada sobre a região sul do ciclone e vanguarda da região do encontro, e a mais baixa sobre a a vanguarda da frente oclusa. Tanto os gradientes horizontais de temperatura mais significativos (na superfície encontramos 11.3°C/500 Km, em 700 hPa temos 11.6°C/500 Km e no nível de 500 hPa, 10,8°C/500 Km) assim como, os gradientes verticais de temperatura de maiores valores (na camada que vai de 700 a 500 hPa temos 0,4°C/100m e na camada entre 400-300 hPa, 0,78°C/100m), também são observados na região do encontro. a. b. c. Figura 4: Campos de temperatura à superfície (a.), em níveis de 700 (b.) e 500 hPa (c.) 5 Revisão Bibliográfica Cavalcanti, I.A.F., 1995: Sistemas frontais e ciclones extratopicais. IV Curso de interpretação de imagens e análise meteorológica, CPTEC/INPE, São José dos Campos, SP, pp 14. Chang, S.W., Holt, T.R. e Sashegyi, K.D., 1995: A Numerical Study of the ERICA IOP 4 Cyclone. Monthly Weather Review, V.124, 27-46. Marine Ferreira, N.J., 1995: Alta da Bolívia. IV Curso de interpretação de imagens e análise meteorológica, São José dos Campos, SP, pp 18. Gan, M.A., 1993: Alta da Bolívia. III Curso de interpretação de imagens e análise meteorológica. Universidade do Vale do Paraíba. Capítulo B5, 1-12. Garbell, M.A., 1947: General Circulation. Tropical and Equatorial Meteorology, Pitman publishing corporation, New York, Chicago, 7-27 .