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De galho em galho
Já conhecidas por serem animais de fácil adaptação a ambientes diversos, onças-pintadas da Amazônia surpreendem pesquisadores: elas de fato vivem em
cima das árvores durante os períodos de cheia na região.
Por: Gabriel Toscano
Publicado em 17/11/2014 | Atualizado em 17/11/2014
O comportamento de viver em árvores nunca havia sido observado em felinos
de grande porte. (foto: Emiliano Ramalho)
De ambientes desérticos a áreas alagadiças. A onça-pintada (Panthera onca) pode viver sob as mais diversas condições. A flexibilidade adaptativa da
espécie já era bem conhecida. Mas um comportamento peculiar desse felino surpreendeu os pesquisadores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá, a 500 km de Manaus (AM). Eles observaram e comprovaram: durante a época de cheia nas florestas de várzea da Amazônia, as onçaspintadas vivem por longos períodos em cima das árvores.
Durante a época de cheia nas florestas de várzea da Amazônia, as onças-pintadas vivem por longos
períodos em cima das árvores
Em 2013, quatro onças foram capturadas para pesquisa. Elas receberam colares com GPS e, em seguida, foram soltas no mesmo local da floresta onde
foram capturadas. Graças ao equipamento, os pesquisadores passaram a receber dados constantes sobre a localização de cada animal. Eles também
instalaram armadilhas fotográficas pela floresta para acompanhar os felinos. Assim, observaram que, realmente, durante os períodos de cheia, as onças
habitam os galhos das árvores da região.
“Em algumas épocas do ano, existe uma variação do nível da água de até 10 metros nas florestas de Mamirauá, deixando as áreas totalmente ‘sem
chão’; e nós queríamos entender o que as onças faziam quando a floresta ficava inundada”, diz o coordenador da pesquisa, o biólogo Emiliano Esterci
Ramalho, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. A entidade realiza estudos com onças-pintadas desde 2004.
Veja onça-pintada brincando com armadilha fotográfica na Reserva de Mamirauá
Certa vez, seguindo as informações que recebiam via satélite, os pesquisadores conseguiram chegar até uma árvore e observar uma onça descansando
nos galhos, junto de um filhote. “Por serem predadores do topo da cadeia alimentar, eles não se sentem nem um pouco ameaçados com a nossa
presença”, explica Ramalho. O filhote inclusive dormiu na frente da equipe de pesquisadores, o que demonstra que não há nenhum estresse do bicho
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com essa condição arbórea.
As onças passam dia após dia nadando de uma árvore para outra, em busca de alimento
Esse local ficava a 12 km de distância da área seca mais próxima. Isso indica que, de fato, as onças podem passar todo esse período da cheia – que pode
durar entre três e quatro meses – sem pisar em terra firme.
Segundo Ramalho, as onças não ficam apenas nos galhos de uma única árvore. Elas, na verdade, passam dia após dia nadando de uma árvore para
outra, em busca de alimento. O cardápio varia entre macacos e preguiças – exatamente animais que vivem dependurados nos galhos.
Esse comportamento nunca havia sido observado antes em nenhum felino de grande porte. Ponderava-se a possibilidade de que as onças-pintadas
fossem para outras áreas secas durante o período de inundação – pois teriam assim mais facilidade na busca por alimento. A comprovação de que elas
permanecem na floresta inundada ressalta a importância de preservar as várzeas da Amazônia. E conhecimentos sobre a ecologia da espécie e sobre
seus hábitos auxiliam pesquisadores a propor estratégias de conservação mais adequadas e mais eficientes para esses grandes felinos.
Confira mais imagens da pesquisa
Gabriel Toscano
Ciência Hoje On-line
Clique aqui para ler o texto que a CHC preparou sobre esse assunto.
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