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Saberes a um click de distância: a comunicação e a educação a distância online como pilares na construção da cidadania
Eliani de Fátima Covem Queiroz
Resumo
A educação a distância on-line tornou-se um instrumento largamente usado na educação
formal e corporativa na atualidade. Os canais comunicativos presentes na Internet, que favorecem
a interatividade, fizeram com que os cursos na modalidade da educação a distância – EAD, se
transferissem maciçamente para o ambiente virtual. No entanto, as organizações não
governamentais, associações, movimentos populares e sociais só agora começam a despertar para
o uso da Internet na tarefa de educar para a cidadania. A EAD on-line, aliada à força
democratizadora da comunicação, pode possibilitar aos atores sociais o acesso ao conhecimento,
para um posicionamento crítico e autônomo diante das exigências dos novos paradigmas do
mundo do trabalho, das transformações culturais e econômicas da sociedade contemporânea.
Palavras chave: comunicação, educação a distância on-line, saberes, autonomia, cidadania
Introdução
Conceitos educativos e comunicativos sempre ocuparam espaços próximos no âmbito da
produção do conhecimento simbólico. No entanto, muitos pesquisadores (Barbosa Filho et al,
2005; Belloni, 2005; Braga e Calazans, 2001; Braga 2006; Charlot, 2005; Guareschi e Biz 2005a
e 2005b; Hernandez 2006; Martín-Barbero, 2003, Quiroz, 2003) nunca estiveram tão
preocupados em eleger como objeto de investigação elementos desses dois campos do
conhecimento no embate pela cidadania como agora. Essa escolha se deve à importância dada à
educação, como fator preponderante na formação do cidadão que tenha consciência dos seus
direitos e deveres, na tarefa de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e
democrática. Por outro lado, a comunicação ganhou uma dimensão significativa com o
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desenvolvimento tecnológico das mídias digitais e a universalização dos canais comunicativos na
Internet. Com o novo alcance, a comunicação se tornou ferramenta indispensável para auxiliar no
processo de ensino-aprendizagem dos cidadãos.
Dentro dessa perspectiva, Belloni (2005) concebe a educação e a comunicação como
“instrumentos de luta para a emancipação dos indivíduos e das classes, e não apenas como meras
estruturas de dominação e reprodução das desigualdades sociais” (p. 2). Apesar das contradições
vigentes na sociedade contemporânea, principalmente no campo social e econômico, no entender
da autora, “a escola e a mídia desempenham o papel de guardiãs e difusoras de uma espécie de
síntese dos valores hegemônicos que formam o consenso indispensável à vida social” ( p. 33).
A comunicação passa, assim, a ser considerada “um fenômeno com implicações
claramente políticas”, onde os atores que compõem o tecido social não podem ficar impassíveis,
pelo contrário, exige-se uma postura legítima no sentido de contribuir “para desmistificar os
sistemas impostos de representação, colocar abaixo o fetichismo da tecnologia, pensar a democratização
das mídias como algo que deve ir bem além de simples medidas de descentralização geográfica e técnica”
(Tramonte et al, 2005, p. 21), ou seja, que estejam também a serviço da educação do sujeito para o
exercício pleno da cidadania, pensando no bem estar da coletividade.
Dentro das instâncias comunicativas, a Internet surgiu como baluarte da mundialização das
culturas, nas perspectivas local e global. Tornou-se canal difusor do conhecimento e socializador dos
saberes, porém com alcance limitado, porque é acessado por uma parcela mais abastada da sociedade,
configurando um agudo processo de exclusão digital. No entanto, apesar das contradições sociais e
econômicas, os educadores passaram a ver na rede mundial de computadores uma nova ambiência para as
práticas pedagógicas.
Os gestores das Instituições de Ensino Superior, públicas e particulares de todo o mundo,
perceberam o potencial da Internet como uma mídia que permite um alto grau de interatividade. Apoiadas
pelas políticas educacionais e farta legislação criadas pelo braço governamental, com respaldo do
pensamento neoliberal, essas instituições passaram a ofertar um leque variado de cursos na modalidade de
Educação a Distância no espaço virtual, que vão da Graduação à Pós Graduação, em várias áreas do
conhecimento.
As empresas privadas e o governo também encontraram na educação a distância on-line uma
oportunidade perfeita para a atualização técnica e mercadológica dos trabalhadores. A educação
coorporativa - com seus treinamentos e cursos de formação e reciclagem, agora ocorre com mais
freqüência no ambiente on-line. A razão para esta escolha está ancorada, principalmente, no barateamento
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significativo dos custos. No entanto, os resultados de algumas pesquisas apontam para falhas no processo
de ensino e aprendizagem, que exige do aluno virtual outras competências para aprender.
Mesmo diante da constatação de que a educação a distância on-line ainda necessita de ajustes para
cumprir de forma eficaz o seu papel, essa modalidade de ensino é um caminho sem volta (Peters, 2003). A
EAD on-line se consolidou e vem ganhando terreno no âmbito das práticas educativas. Se os canais
comunicativos do espaço virtual são usados pelas IES, pelo governo e pela iniciativa privada para a
educação formal e corporativa, penso que as organizações não governamentais, associações,
movimentos populares e sociais também devem lançar mão desse instrumento – a EAD on-line,
para democratizar os saberes, proporcionar o acesso ao conhecimento, auxiliar na formação do
sujeito para o mundo do trabalho e, sobretudo, para uma postura cidadã. Algumas ONGs
despertaram para essa possibilidade e utilizam os recursos inumeráveis da comunicação virtual
para a educação.
1- A comunicação e a educação como verves socializadoras dos saberes cidadãos
No momento em que tantas vozes se elevam em defesa do exercício da cidadania, a partir
dos processos comunicativos que possam ser vetores da expressão das lutas sociais, cabe aqui um
questionamento: por que a mídia não tem cumprido o papel de multiplicadora dessas conquistas?
Quiroz (2003) assinala que os meios de comunicação de massa são responsáveis por formar
opinião no seio da sociedade. A estes meios somam-se as mídias digitais, “tecnologia do
conhecimento e da comunicação” que afeta o modo de sentir e de pensar das pessoas. As mídias
digitais criam “um novo ambiente comunicacional que modifica ou cria possibilidades da nossa
maneira de perceber e viver no mundo” (p. 19).
Esta nova ambiência proporcionada pelas Tecnologias da Informação e Comunicação
(TICs) - aponta para uma possível democratização do acesso ao saber. Porém, as TICs “não
podem contribuir para os avanços sociais e para a democracia a não ser que sejam mobilizadas
para isso” (Tramonte el al, 2005, p. 30). Esta mobilização ocorrerá caso as novas gerações sejam
educadas na perspectiva de valorizar a humanização das relações sociais. Savater afirma que é a
educação humanista que irá “desentranhar criticamente” a mediação escolar (Savater apud
Martín-Barbero, 2003, p. 16). Uma educação voltada para a humanização dos sujeitos também é
uma das preocupações de Martín-Barbero(2003), quando defende
“uma reeducação em humanidade, de outro tipo de aprendizagem, que permita aos
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homens decifrar, junto ao mapa do genoma que traga os avatares e resultados de nossa
evolução biológica, esse outro mapa que desenha nossos sonhos e pesadelos de
imortalidade individual e coletiva, nossa utopia de comunidade solidária, agora como
nunca antes contraditória, já que junto a sua crescente capacidade de erradicar, em
escala mundial, as discriminações que nos envergonham, o que hoje projeta é um
maior acúmulo de violências y exclusões até fazer/deixar morrer, de fome e outras
misérias, a três quartos da humanidade” (p. 17)
Nesse sentido, a educação e a comunicação podem ser transformadas em fatores
indispensáveis para a formação do cidadão crítico e autônomo, desde que sejam dadas as
condições necessárias para novas práticas e sejam criadas políticas voltadas para essa finalidade.
De acordo com Schaun “comunicar para a educação e educar para a comunicação são processos
inter-relacionados, cujos princípios hoje desestabilizam as certezas e verdades definitivas e se
expandem na construção permanente de devires” (Schaun apud Guareschi e Biz, 2005, p. 93).
No entender de Martín-Barbero, pode haver o uso alternativo das TICs “na reconstrução da
sociabilidade e da esfera pública” a partir da ocorrência de “profundas mudanças nos mapas
mentais, nas linguagens e nos projetos políticos” para favorecer a visibilidade permitida pela
Internet. Na rede de computadores é possível “mobilizar a mais heterogênea quantidade de
comunidades, associações, tribos” com suas narrativas, “despontencializando o centralismo
burocrático da maioria das instituições e potencializando a criatividade social no projeto da
participação cidadã” (p. 113).
Lima et al explicitam que as TICs levaram a profundas mudanças de paradigma na forma
de educar e por isso mesmo o novo ambiente digitalizado clama por uma pedagogia que
“favoreça o aprendizado individual e coletivo de modo cooperativo, em rede” (2005, p. 240-241).
Hoje o aluno aprende na escola e fora dela. A educação informal possibilita aprender navegando
em uma multiplicidade de links, com acesso a fluxos de conhecimentos, sem barreiras de tempo
ou espaço. Todo esse universo permite “que os sujeitos possam construir sua autonomia em um
clima de partilha, de negociação e de democracia” (p. 241). O espaço virtual reserva inúmeras
possibilidades, sobretudo de apropriação de elementos para a “produção de subjetividades”, e
gera oportunidades para que o sujeito deixe de ser mero receptor de informação e passe a ser
construtor “de cultura e conhecimentos através de uma infra-estrutura tecnológica e com outras
concepções de educação (...) de tal forma que as ações na escola se amplifiquem e passem a ser
ações na sociedade” (p. 251).
De acordo com Braga e Calazans (2001), existe uma interface entre os campos da
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comunicação e da educação dentro do seio da sociedade mediatizada, “funcionando largamente
através de processos de interacionalidade diferida e difusa, assim como de interatividade dialogal
mediática”. Diante desse cenário, “o sistema escolar é urgentemente solicitado a fornecer
conhecimentos e competências requeridas para uma participação eficaz nessa sociedade – e para
o enfrentamento das questões e dificuldades por ela colocadas” (p. 58-59).
Aproveitando a potencialidade do ambiente virtual com seus canais comunicativos, que
permitem um alto nível de interatividade, as instituições de ensino superior passaram a oferecer
uma nova modalidade de educação a distância: a EAD on-line, que, no entender de Braga e
Calazans, requerem um saber fazer pedagógico diferenciado
“O sistema escolar, enquanto espaço socialmente legitimado para a organização da
aprendizagem, se articula então para absorver ou direcionar os processos mediatizados
– através da educação a distância, do uso dos meios no processo educativo, pelo
desenvolvimento de novas metodologias de ensino” (p. 66).
No entender dos autores, a proliferação da EAD on-line também aponta para a
necessidade de “uma reestruturação geral da complexidade dos modos de interação social
educacional, para desenvolver redes e sistemas com maior diversidade que o atual ‘sistema
escolar’” (p. 79). Independente da concepção que as IES e o setor privado têm da EAD on-line,
os dois setores investem maciçamente nessa modalidade de ensino.
2 – A consolidação da educação a distância on-line nas IES e na versão coorporativa
A educação a distância pela Internet tornou-se, na atualidade, a última modalidade educativa
que as instituições de ensino superior lançaram mão, na tentativa de ampliar a clientela e aferir
mais lucro. A disseminação da EAD on-line tem sido incentivada por organismos internacionais
como, por exemplo, o Banco Mundial e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco), principalmente junto aos países periféricos. No Brasil a educação a
distância em diversas modalidades – entre elas a on-line, faz parte das políticas educacionais do
governo federal, comandada pela Secretaria de Educação a Distância (SEED) do Ministério da
Educação. A SEED tem uma legislação específica que autoriza a criação de cursos de graduação
Lato Sensu e Stricto Sensu on-line em instituições públicas e privadas.
A EAD é tida como uma modalidade de ensino de menor prestígio, de pequena eficácia no
que diz respeito a aprendizagem e é voltada para a população pobre que não teve acesso ao
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ensino tradicional (Lima et al, 2007). Apesar disso, a EAD se tornou um elo valioso no processo
de mercantilização da educação, porque aponta para um rico nicho de mercado, quando
possibilita o atendimento a um número cada vez maior de alunos, por um custo reduzido, se
comparado ao ensino presencial.
No ambiente virtual proporcionado pela Internet, onde as novas práticas educativas se
desenvolvem, as relações humanas também adquiriram um status diferenciado. Para Lévy (1999),
“O ciberespaço oferece objetos que rolam entre os grupos, memórias compartilhadas, hipertextos
comunitários para a constituição de coletivos inteligentes” (p. 129). De acordo com o autor, no
ambiente virtual “cada um é potencialmente emissor e receptor” de mensagens, onde os
encontros acontecem “segundo centros de interesses” específicos (p. 113). Na EAD on-line, em
cada curso forma-se uma “comunidade virtual” com alunos, professores e tutores. A programação
desses cursos prevê a disponibilização de conteúdos em forma de textos, hipertextos,
teleconferências, arquivos sonoros e de vídeo.
Diante dessa variedade de recursos pedagógicos, o aluno precisa assumir um perfil
autônomo, de automotivação e autodisciplina (Palloff e Pratt, 2004) acessar o ambiente onde os
conteúdos são disponibilizados e, individualmente, estudar. Embora o ensino on-line ainda
apresente problemas de cunho metodológico e didático, que muitas das vezes dificulta a
aprendizagem, as empresas privadas, seguindo o rastro deixado pelas IES e em alguns casos se
antecipando a elas, têm investido pesado no treinamento e capacitação da mão de obra na
modalidade EAD, a chamada e-learning. O investimento ocorre nos setores de serviços,
indústria, comércio e também em órgãos governamentais.
Diante das mudanças de paradigma no setor econômico e no mundo do trabalho, “a
formação inicial torna-se rapidamente insuficiente” e “as tendências mais fortes apontam para a
educação ao longo da vida (...), mais integrada aos locais de trabalho e às expectativas e
necessidades dos indivíduos” (Belloni, 2001, p. 5). De Luca aponta sete competências exigidas
atualmente pelos empregadores: “Aprendendo a aprender, comunicação e colaboração, raciocínio
criativo e resolução de problemas, conhecimento tecnológico, conhecimento de negócios globais,
desenvolvimento de liderança e autogerenciamento da carreira” (De Luca, 2006, p. 476). Diante
das novas perspectivas, as empresas treinam os funcionários sem se afastarem do trabalho. Os
cursos são elaborados com “conteúdos customizados, isto é, desenvolvidos especificamente para
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o negócio”, abordando “detalhes da estratégia negocial” e reforçando “pontos importantes da
cultura da empresa” (p. 480).
No setor estatal, tanto no que diz respeito aos diversos escalões do governo federal como
nas gestões estaduais e municipais, existem vários tipos de treinamento e cursos de reciclagem
em desenvolvimento. A Escola Nacional de Saúde Pública, em parceria com a Fundação
Oswaldo Cruz tem utilizado a Universidade Aberta do MEC para a oferta de cursos sobre a saúde
do trabalhador, ecologia humana e impactos da violência na saúde (Fiocruz, 2007).
No ano de 2006, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
(Secad) do Ministério da Educação (MEC) e a Universidade de Brasília (UnB) promoveram um
curso em EAD on-line sobre “educação e diversidade étnico-raciais para 50 mil professores e
professoras da educação infantil, ensinos fundamental e médio das escolas públicas dos 26
estados brasileiros e do Distrito Federal”. O curso foi oferecido para auxiliar os governos
estaduais e municipais “no cumprimento da Lei Federal n° 10.639/03, proporcionando a
capacitação de professores para o ensino de História e Cultura Africanas e Afro-brasileiras nos
estabelecimentos de educação básica” (Cedefes, 2007).
Usando o sistema “Interlegis”, Assembléias Legislativas de vários Estados ministram
cursos à distância pela Internet. São cursos com temáticas sobre busca da qualidade, o papel do
vereador, EAD, orçamento público e responsabilidade social, voltados principalmente para
vereadores de pequenas cidades do interior. O sistema Interlegis atingiu em 2005 mil cidades
brasileiras e treinou 7.100 pessoas. (Nascimento, 2007).
Todas estas práticas têm aproveitado o ambiente virtual para se concretizarem em
oportunidades de ensino, formação e treinamento, sobretudo profissional. Porém, outras
organizações – as não governamentais, começam a explorar as possibilidades interativas da
Internet para a formação do cidadão.
3- A Internet como mídia para uma possível emancipação do cidadão
O uso cada vez maior dos canais comunicativos e interativos da Internet para a educação
formal e corporativa aponta para um nicho a ser mais explorado pelas organizações não
governamentais, associações, movimentos populares e sociais, na tarefa de democratizar saberes
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e socializar práticas para que cada pessoa possa constituir-se como cidadão e assumir-se como
protagonista do processo histórico. (Signorelli, 2007). De um total de 35 ONGs brasileiras que
possuem sites na Internet que foram pesquisadas, apenas duas delas, o Instituto Paulo Freire e o
Instituto Brasileiro de Direito Eletrônico, oferecem curso em EAD on-line.
O Instituto Brasileiro de Direito Eletrônico oferece uma série de cursos virtuais em EAD voltados
para o campo das ciências jurídicas. O objetivo dos criadores dos cursos virtuais do Instituto é,
em um primeiro momento, “divulgar este novo ramo do Direito e, através de nossos cursos,
ambientar profissionais e estudantes de Direito a uma nova perspectiva que é presente, marcante
e se fortalece com a implantação do proceso eletrônico no Brasil (informatização judicial)”
(IBDE, 2007)
Atualmente, quem acessa o site do IBDE pode inscrever-se em cursos de Processo
Eletrônico, Informática Jurídica e de Privacidade na Internet. O IBDE é pioneiro na pesquisa
desse novo ramo do Direito, com reconhecimento internacional. (Instituto Brasileiro de Direito
Eletrônico, 2007).
O Instituto Paulo Freire criou vários cursos voltados para a formação continuada de
professores. Para seus organizadores, “essa modalidade de educação pode ajudar a resolver
demandas educacionais específicas que os sistemas tradicionais de ensino têm dificuldades de
atender” (Instituto Paulo Freire, 2007). Dentre os cursos oferecidos estão “Metodologia do
ensino da matemática”, “Formação de educadores de jovens e adultos” e “Cruzando fronteiras:
iniciação à obra de Paulo Freire”. Este último curso foi realizado on-line, em parceria com o
Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais, com oferta de bolsa de estudos para 50
professores de vários países da América Latina.
No âmbito dos movimentos sociais urbanos e rurais do país, não tem como negar que nas
últimas décadas eles deram uma grande contribuição ao “alargamento do exercício do campo da
política e ao processo de redemocratização da sociedade” (Peruzzo, 2007). Levando-se em
consideração que estes movimentos ainda não utilizam a EAD on-line para a formação política,
penso que outras relações poderão permear os processos políticos como, por exemplo, a
disponibilização de cartilhas e informações para a educação do cidadão. Alguns desses
movimentos fazem isso. Muitas ONGs que possuem foco na educação para a atuação política,
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fornecem uma grande variedade de informações em seus sites, algumas delas em formato de
manuais, todas com o mesmo propósito: o de socializar o conhecimento.
O site do Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia tem como lema a
“educação para a cidadania”. Na barra de ferramentas no alto da página principal, existe um link
para um dicionário político de “A a Z” que traz conceitos detalhados de termos fundamentais
para a conquista da autonomia, como “Democracia”, “Capitalismo”, “Comunidade” ,
“Ideologia”, entre outros. O site oferece ainda ao internauta a “Cartilha do eleitor” e outros links
para dezenas de ONGs que possuem, entre suas metas, educar o cidadão. (Instituto Ágora em
Defesa do Eleitor e da Democracia, 2007). A cartilha eletrônica "Educação para a Cidadania",
criada pela Escola do Legislativo, é dividida em quatro módulos com dezenas de lições
esclarecedoras do papel de cada ator social no processo de democratização do país. (Cedis, 2007)
Seja a oferta de material informativo sobre o papel do cidadão na esfera pública
contemporânea, seja nas experiências iniciantes na modalidade da educação a distância on-line
pelas ONGs, a formatação desses cursos com o objetivo de educar para a cidadania também
necessita ser pensada de maneira diferenciada dos cursos comuns, que normalmente são
direcionados para a educação formal ou corporativa. No entender de Balestreri
“Não se educa para a cidadania com retórica profusa de academia - ainda que com
pretensões a crítico-científica - sobre alunos objetos, passivos, despersonalizados, sem
espaços para a liberdade (que continua sendo sempre a liberdade de discordar),
coletores de informações, repetidores de elaborações e análises alheias, alienados de
tempo reflexivo para a formação de auto-conceito” (2007).
O foco do conteúdo desses cursos deve ser o de formar para o exercício da cidadania de
forma emancipada. De acordo com Signorelli, possibilitar o pleno esclarecimento de que “o
cidadão não delega responsabilidades, não deixa parte de si para outrem”, pelo contrário, “ele luta
pelo bairro onde está, participa politicamente, não aceita perder conquistas já efetuadas”. O
trabalho educativo também deve acontecer na perspectiva de conscientizar que o cidadão deve
exigir “salário digno para aquilo que faz”, exigir “justiça para si e para os outros” e construir uma
democracia participativa, já que “a democracia representativa é alienante e redutora de seu ser”
(Signorelli, 2007). Todos estes pontos, impreterivelmente, têm que estar na pauta dos educadores
cidadãos.
Considerações finais
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Auxiliar no processo que torne o cidadão cada vez mais autônomo e emancipado, diante
das incertezas do cenário atual, é uma das preocupações de educadores e comunicadores
contemporâneos. Muitos deles estão engajados em pesquisas e projetos que favoreçam novas
conquistas coletivas. No entender de Soares (2007), “é pela comunicação que a educação vai se
transformar e a cidadania vai se consolidar como fato cultural e político nas próximas décadas”.
As ONG´s, os movimentos sociais e populares, além das associações, não podem prescindir do
instrumental da Internet para práticas educativas emancipadoras.
Peruzzo defende que os meios de comunicação têm “potencial de ser, ao mesmo tempo,
parte de um processo de organização popular e canais carregados de conteúdos informacionais,
produção e gestão” (2007). A autora acredita que os meios de comunicação contribuem para a
construção da cidadania já que “por seus conteúdos podem dar vazão à socialização do legado
histórico do conhecimento, facilitar a compreensão das relações sociais, dos mecanismos da estrutura
do poder(...), dos assuntos públicos do país, esclarecer sobre os direitos da pessoa humana e discutir
os problemas locais” (2007).
Todas essas vertentes das práticas sociais e do conhecimento sistematizado podem ser
trabalhadas em cursos oferecidos pelas organizações que lutam pela democratização dos saberes
cidadãos que levem à “praxis” desses saberes. Se a EAD on-line tem contribuído para a formação
escolar e corporativa dos educandos, penso as ONGs e os movimentos sociais devem utilizar
mais esse instrumento para a educação do cidadão. Sob pena de perder mais uma instância onde
as práticas sociais agora acontecem com mais freqüência e intensidade. Onde parte da população
tem acesso, na busca de informações e cursos de qualidade, que ajudem no processo de
emancipação dos sujeitos.
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