Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR A imagem entre o erro e a realidade: o desenho enquanto proposição reflexiva1 2 Halisson Júnior da Silva Resumo: A partir do conceito deescalada da abstração proposto por VilémFlusser, busca-se, no presente trabalho, mapear e problematizar a natureza das imagens que compõem a realidade contemporânea; entendendo tais imagens técnicas e/ou digitais enquanto textos criptografados, e estes, por sua vez, tal qual desenhos criptografados. Desse modo, procura -se reinserir a linguagem do desenho no debate sobre as imagens contemporâneas por meio de sua natureza mais essencial, do desenho como linguagem visual básica que define aquilo que desenha, tal qual linguagem em permanente processo de defi nição. Nesse sentido, serão discutidas algumas proposições artísticas que trabalham com o desenho na intersecção dos erros característicos do esforço de representação visual da realidade. Palavras-chave: Imagem; Desenho; Erro. Abstract: From the Flusser'sconceptof escalationof abstraction, weseek, in thisstudy, map and discuss the nature of the images that make up the contemporary reality; understandingthesetechniquesand/or digital images as encrypted texts, andthese, in turn, like drawings encrypted.Thus, weseekto reinsertthe languageof drawing in the debate oncontemporaryimagesthrough its mostessential nature, thedrawing as basic visual languagethat defines whatdraws, and as such as a language in permanent processof definition of itself. In this sense, some artistic propositionswil l be discussed by working with the drawing at the intersectionof the characteristicerrorsthat emerges with the effort of visual representation of reality. Keywords: Image; Drawing; Error. Introdução Dentre as linguagens produzidas pelo ser humano, a imagem temmsido u meio eficaz para representação e constituição da realidade. Os bisões pintados na caverna de Altamira, na Espanha, por exemplo, são tanto uma bela representação visual pré-histórica de tais animais, quanto uma maneira de constituir uma realidade mágica, a partir da crença de que, ao se dominar a figura do animal, haveria menor dificuldade em dominar o animal real, garantindo o alimento necessário para a sobrevivência. 1 Trabalho apresentado no GT 4- Abordagens Analíticas em Comunicação Visual, do Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI. 2 Professor no curso de Artes Visuais da Universidade Estadual de Maringá. Mestre em Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina. Contato: [email protected] 1 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR Evitemos a armadilha fácil de acreditar que tal comportamento se deve a algumapossível ingenuidade ou simplicidade de pensamento dos povos -históricos. pré Como constata seus processos o historiador de pensar, da com arte Ernst frequência, (GOMBRICH, 1999, p. 39).Fenômenos da crença na correspondência entre imagem e realidade são recorrentes no curso da história, e frequentemente independem de representações realísticas: Outrora, num passado sombrio e distante, era costume, quando morria um homem poderoso, que os seus servos o acompanhassem na sepultura. Sacrificavam-nos para que o senhor chegasse ao além com um séquito condigno. Mais tarde esses horrores foram considerados cruéis, ou quiçá onerosos demais, e a arte acudiu para ajudar. Em vez de servidores de carne e osso, aos poderosos da Terra passaram a ser oferecidas imagens como substitutos. As pinturas e os modelos encontrados em túmulos egípcios estavam associados à ideia de fornecer servos para a alma no outro mundo [...] (idem, p. 58). Apesar da crença no poder vital das imagens no além vida, as características formais da antiga pintura egípcia pouco intencionavam uma reprodução realística da figura humana. A representação de um ser humano com dois pés e duas 3 mãos esquerdas , por exemplo, é comum ente associada à intencionalidade de clareza narrativa mais do que uma suposta incapacidade de representação fiel da anatomia humana. Todavia, tal figura estilizada não diminuía a fé que depositavam nela. Tão ou mais importante do que a imagem em si,ce pare ser o contexto de visualidade da mesma. A partir destas considerações iniciais, pretendemos estabelecer um panoramaem relação às imagens, a partir do conceito escalada de da abstração de Vilém Flusser, que compreende as imagens técnicas, como as fotograf ias, por exemplo, enquanto abstrações de textos; e o texto, por sua vez, enquanto abstração de imagens tradicionais, como o desenho. Assim, abordaremos a linguagem do desenho enquanto expressão visual elementar, seguido de sua utilização no contexto de algumas proposições artísticas autorais. 3 A pintura no Egito Antigo obedecia a uma série de normas estéticas conhecida posteriormente como Lei da frontalidade. Por sua função essencialmente narrativa, as figuras deveriam ser claramente reconhecíveis. Assim, as partes do corpo humano, por exemplo, eram representadas da maneira em que poderiam ser mais facilmente identificadas: olhos e troncos eram mostrados de frente, enquanto cabeça, braços e pernas eram vistos de lado. 2 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR Escalada da abstração No princípio, nossos antepassados-históricos pré interagiam entre si e com a natureza através de gestos e sons que seu corpo era capaz de produzir no espaço tridimensional e no tempo presente. Nesse mundo, o homem –ao contrário dos outros animais–possuimãos que conseguem segurar volumes e, por meio da manipulação dos objetos, passa a transformar o mundo em circunstância. Ao fazer isto, o homem começa a criar cultura: “a manipulação é o gesto tempo do mundo conc reto e transforma a si próprio em ente abstraidor, isto é, em homem propriamente dito” (FLUSSER, Baitello Jr. 2008, p. nos mostra que, ao passo que o homem começou a produzir marcas, representações imagéticas, que permitiam umatura lei de mundo além do espaço -tempo conhecido até então, “desencadeia -se uma revolução de consequências imprevisíveis: suas imagens criam um novo olhar e uma nova percepção do tempo, um tempo circular que permite ao observador retornar sempre a um ponto cial” ini Porém, continua (BAITELLO Baitello JR., Jr., 2010 “uma perde nesta passagem. A dimensão da profundidade (que dá a materialidade palpável, corpórea) perde -se no universo das imagens ). Primeiro, planas a [ dimensão do tempo ficou comprometida com a manipulação dos objetos palpáveis; em seguida a dimensão de profundidade do espaço se perdeu na mediação realizada pelas imagens planas tradicionais, fixas sobre superfícies, como no caso dososdesenh e das pinturas, por exemplo. O espaço tridimensional se tornou bidimensional com as imagens e, quando de tais imagens começaram a surgir progressivamente símbolos não figurativos, se abstrai mais uma dimensão do espaço. Com a invenção da escrita, ensão a dim da largura desaparece da leitura de mundo que existia até então, criando um universo unidimensional. “As representações -se em planas representações lineares. O olhar não mais circula sobre a imagem, mas segue uma linha. [...] Com a escrita o mundo passa a ser descritível, o que abre os caminhos para o pensamento lógico, linear e-seconceitual” aqui que falamos 3 (ib Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR da trajetória da linguagem no ocidente. A escrita oriental, por exemplo, conduz o olhar de maneira não linear e, embora tal aproximação possa ser frutífera, nos centraremos, neste momento, nas transformações do pensamento ocidental. Para Flusser (2009, p. 09), mais do que uma evolução natural das imagens, a escrita surgiu como uma reação a, quando elas tais imagens que deviam ser “mapas do imagens mundo, em função [...] do passam mundo, a ser passa a biombo viver e Assim, os textos surgem para acabar com essa inversão a função d das imagens, para “rasgá -las a fim de abrir a visão para o mundo Ironicamente, o mesmo pensamento lógico e linear que buscava desmagicizar as imagens tradicionais, acabou por criar as condições necessárias para o surgimento de outro tipo de imagem, denominada por Flusser de imagem técnica ou tecnoimagem: Trata-se de imagem produzida por aparelhos. Aparelhos são produtos da técnica que, por sua vez, é texto científico aplicado. Imagens técnicas são, portanto, produtos indiretos de textos – o que lhes confere posição histórica e ontológica diferente das imagens tradicionais. [...] Elas são dificilmente decifráveis pela razão curiosa de que aparentemente não necessitam ser decifradas. [...] O mundo representado parece ser a causa das imagens técnicas e elas próprias parecem ser o último efeito de complexa cadeia causal que parte do mundo. O mundo a ser representado reflete raios que vão sendo fixados sobre superfícies sensíveis, graças a processos óticos, químicos e mecânicos, assim surgindo a imagem. Aparentemente, pois, imagem e mundo se encontram no mesmo nível do real: são unidos por cadeia ininterrupta de causa e efeito, de maneira que a imagem parece não ser símbolo e não precisar de deciframento (FLUSSER, 2009, p. 13/14). Fruto de textos, que por sua vez são unidimensionais, as imagens técnicas - como a fotografia ou o cinema, por exemplo - são, portanto, nulo dimensionais, já que “a última dimensão esp As tecnoimage ns não são mais uma superfície, mas a construção conceitual de um plano por meio da constelação de grânulos [...] que, reunidos, oferecem a ilusão de uma superfície [...]” (BAITELLO JR., 2010, p. estar no mesmo níve l da realidade concreta é a mais irreal das imagens. Assim, a partir desta perspectiva, pode -se dizer que a mais "avançada" das linguagens criadas pelo ser humano, a mais “real”, é a imagem técnica, 4 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR digital. Flusser denomina tal “progresso” escalada da abstração da . lingu Entretanto: Os quatro passos rumo à abstração [...] não formam série ininterrupta: foram sempre interrompidos por passos de volta para o concreto. O propósito de toda abstração é o de tomar distância do concreto para poder agarrá-lo melhor. [...] De maneira que a história da cultura não é série de progressos, mas dança em torno do concreto. No decorrer de tal dança, tornou-se sempre mais difícil, paradoxalmente, o retorno para o concreto (FLUSSER, 2008, p. 20, grifo meu). Logo, seria equivocado dizer que a noção de realidade que nós temos da fotografia seja maior do que o realismo que as pessoas dos séculos passados percebiam nas imagens tradicionais. É preciso considerar que o realismo ue vemos q em determinadas imagens depende “tanto da mat biológico da espécie humana quanto dos regimes de visualidade que permitem que o espectador veja tal materialidade como imageme, acima de tudo,como imagem realista”, nos diz o pesquisador Daniel Portuga um bisão de Altamira, como já mencionado, era tão real para nossos antepassados distantes quanto a fotografia de um boi é para nós. O pensamento mágico de tempos passados cr iava determinado ambiente propício à crença de que uma pintura equivaleria à realidade concreta. Se hoje tal crença em imagens tradicionais parece ser difícil de acontecer, o mesmo não pode ser dito em relação às imagens técnicas. Como constata o historiador da arte, Ernst Gombrich (1999, p. consideramos tão axiomáticas quanto os primitivos consideram as–deles usualmente a um ponto tal que delas nem nos conscientizamos, a menos que deparemos com gente que as question e”. Nesse sentido, podemos considerar que a fotografia é, em essência, texto criptografado; e o texto, por sua vez, é desenho criptografado. Assim sendo, a arte do desenho pode ser considerada como linguagem visual elementar e, desta maneira, as represent ações da realidade contemporânea, por mais diversas que sejam, podem ser compreendidas como reelaborações e recombinações de desenhos já feitos. O próprio mundo social com suas edificações, mapas e fronteiras não deixa de ser também resultados de desenhos. Ao mesmo tempo em que a linha entre dois países, duas cidades, ou mesmo a linha de uma porta, estabelece parâmetros para a convivência 5 43 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR social, estabelecem também linhas passíveis de serem transpostas e subvertidas na medida em que tais parâmetros estabele cidos deixam de atender aos desejos e necessidades humanas. A partir de tais considerações, considera -se oportuno considerar tal linguagem como instrumento de investigação. Desenho como instrumento de investigação Quando o poeta Octavio Paz (1982, p.) diz 36 que o homem é um ser de palavras, que sem elas ele é inapreensível, ele pretende mostrar que a condição do ser humano como tal é indissociável da linguagem. O sujeito humano só é possível quando dá significado à própria existência. E tal significação , por sua vez, só é possível na medida em que dá significado à realidade natural conforme cria sua própria realidade a partir dela. Desse modo, a possibilidade de algo existir depende da capacidade da mente humana de perceber e significar tal existência, onstruindo c -a. Assim sendo, o desenho parece ter localização privilegiada dentro do contexto que se expõe, seja pela percepção do mesmo enquanto linguagem visual elementar, seja por suas características particulares enquanto linguagem artística que o diferencia ao mesmo tempo que o intersecciona com outras áreas e outras artes. No sentido da primeira afirmação, a artista Edith Derdyk argumenta: Da intersecção entre a representação gráfica que fixa e a fala fugaz que escapa, a escrita foi sendo elaborada ao longo das primeiras tentativas humanas por meio de registros visuais em direção à formalização do conhecimento. O desenho do signo, aos poucos, foi se desencarnando da imagem-figura para adquirir um valor fonético, abstrato, universal. Mas, em seus primórdios, o desenho da palavra - os pictogramas, os hieróglifos, os ideogramas, escritas analógicas e visuais - explicita sensivelmente a natureza mental e inteligível do desenho como ato de expressão do pensamento (DERDYK, 2010, p. 23, grifo meu). Sobre essa percepção do desenho como forma de pensamento, observa a pesquisadora Cecília Almeida Salles: É importante destacar que o desenho, como reflexão visual, não está limitado à imagem figurativa, mas abarca formas de representação visual de um pensamento, isto é, estamos falando de diagramas, em termos bastante amplos, como desenhos de um pensamento, uma concepção visual ou um 6 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR pensamento esboçado. Não é um mapa do que foi encontrado, mas um mapa confeccionado para encontrar alguma coisa (SALLES, 2010, p. 35). Assim, possuindo também a capacidade de exercer a função de mapa, o desenho reafirma sua característica transdisciplinar no processo stigação de inve tanto em campos distintos das artes, quanto em outras linguagens artísticas, oferecendo a possibilidade de "dar concretude a uma ima (idem, p. 36). Como aponta o artista Diego Rayck: Um levantamento histórico sobre desenho, sem muita dificuldade, pode situar a posição deste na tradição da arte ocidental. A trajetória histórica do desenho privilegia sua relação com a pintura, escultura e arquitetura, assim como seu papel especial na concepção da obra, esta compreendida, durante um longo período, em termos de um processo que tem início em uma idealização e culmina em uma finalização materializada e conclusiva. No contexto contemporâneo, tendo sido problematizadas as noções conclusivas e as hierarquias técnicas no processo artístico, o desenho parece ocupar uma posição diferente, discreta apesar de insistente (RAYCK, 2009, p. 28). Desse modo, se pode observar que a linguagem do desenho é, ao mesmo tempo, "tão antiga e tão permanente, em contínua resolução. como Talo fluxo contínuo do rio de Heráclito, nunca se desenha o mesmo desenho, nunca o traço da linha será igual. Em permanente mutação, a natureza do desenho é sempre a mesma e sempre outra!" (DERDYK, 2010, p. 17)”. a Tal "difícil encontrar uma forma de abordá -lo sem reduzir sua complexidade. O desenho parece fugidio às tentativas de apreendê -lo […]” (2009, p. 26). Segu Isto, parcialmente, parece se explicar por esta posição paradoxal do desenho enquanto conceito amplo, interdisciplinar e dinâmico e, simultaneamente, conjunto de práticas com certas particularidades que podem ser tratadas sob esta mesma designação: desenho. [Tais características] não apresentam uma dicotomia estanque, nem sequer um ponto fronteiriço nítido, mas [afirmam] que esta condição complexa e conflituosa é constitutiva do desenho (RAYCK, 2009, p. 26-27). Considera -se assim, que uma proposta de investigação a partir da linguagem do desenho não tem a pretensão de criar um novo modo presentação de re visual ou uma pretensa representação unívoca por meio do desenho - embora, de certa forma, tal postura não deixe de ser pretensiosa a seu modo. Assim, nesse caso, o que se 7 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR pretende é evidenciar por meio do próprio trabalho a se instauraridade a realenquanto possibilidade poética, utilizando a arte do desenho como instrumento de investigação, e não apenas como objeto. O desenho então, nesse contexto, se instaura como uma linguagem que abarca não só o que existe, o que é visível, mas também a visível, torn objetivando o possível! Rayck (2011, p. 96) nos diz que pelo ato de desenhar -se cria uma ficção que exacerba as características ficcionais do próprio objeto que se desenha. Em outras palavras, a partir do ato de desenhar-se criauma ficção; ficç ão esta, porém, não menos verídica do que a própria realidade. Errando melhor De maneira a inserir o desenho por meio de sua prática no debate sobre a constituição imagética da realidade, abordarei, neste momento, duas proposições artísticas realizadas nos meses de setembro e outubro de 2014. 4 A primeira proposição chama -se ERRE MELHOR (figura 2). A premissa básica da proposta é trabalhar com certa inevitabilidade do Seerro. por um lado, o erro é sugerido a partir da educação que recebemos sobre é certo o queou não; por outro, podemos isolá -lo objetivamente em determinada atividade, como, por exemplo, durante a execução de determinada música. Mesmo que tal percepção pudesse não ser aparente a princípio, ERRE MELHOR se desenvolveu na intersecção entre estas duas abordagens do erro. Assim, a proposta, desenvolvida durante o dia 16 de setembro de 5 2014,em horário comercial , na Universidade Estadual de Maringá, contou com a participação da violoncelista Karolyni Da Vila no período da manhã e do violonista Diego Zanata no período da tarde. Ambos tinham que executar músicas que não dominassem por completo, de modo que erros na execução fossem inevitáveis e 4 O título ERRE MELHOR é derivado de uma passagem do texto Worst ward Ho do dramaturgo e escritor irlandês Samuel Beckett: “All of old. Nothing else ever. Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail DJDLQ)DLOEHWWHU´ (BECKETT, 1983, p. 7). 5 A relação estabelecida com a ideia de “horário comercial” – 8h às 12h e 14h às 18h, com o intervalo de 2 horas para almoço entre manhã e tarde – procura refletir a noção implícita de controle e produtividade que condiciona o cotidiano de grande parte dos trabalhadores. 8 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR ocorressem naturalmente. Ao redor da(o) instrumentista, foram utilizados 16 cavaletes como suporte para apeis p A1,para que eu desenhasse com carvão o/a musicista enquanto a música era tocada. A medida em que ocorriam erros na execução musical, eu pausava o desenho que estava fazendo e iniciava outro ao lado, dando a volta e consequentemente desenhando sobre s desenhos o iniciados anteriormente, formando assim, um acúmulo visual de erros (figuras 1 e 2). Embora tenham havido alguns atrasos6, além de pequenas pausas para descanso, o trabalho transcorreu de forma intensa, buscando confrontar entre si as necessidad es de urgência e eficiência. Figura 1–Diego Zanata e Halisson Jr em ERRE MELHOR, 2014. Foto: Henrique Rozada. 6 A instalação onde ocorreria a proposição artística deveria ter sido preparada no dia anterior por funcionários da UEM, mas, por falha de comunicação interna da instituição, acabou sendo montada no dia 16, a partir das 8h. Todavia, como se sabe, o erro era um dos pressupostos do trabalho. Tais imprevistos, como este, constituem assim, parte da proposta. 9 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR Figura 2–Um dos desenhos em processo durante a realização de ERRE MELHOR, 2014. Foto: Henrique Rozada. A partir do erro musical, qual quer possível erro do desenho é redimido ao se representar visualmente um músico ensaiando. As imagens resultantes certamente não correspondem à uma representação realística do motivo desenhado, seja devido à incompletude dos mesmos ou pela sobreposição traços de divergentes;todavia, são estas mesmas características que permitem uma imagem que emule visualmente um músico em seu ensaio, se esforçando para acertar as notas, buscando a execução perfeita dos acordes. A segunda proposição artística relaciona esenho o d com a ideia de visibilidade. Segundo as previsões de Flusser, o futuro de nossa sociedade se realizará essencialmente por meio de sua materialização em imagens. Todas as nossas condições objetivas, inclusive as biológicas, se passam às nossas costas: elas não nos interessam. Por certo, continuam a se passar: comemos, copulamos; há ciência, há técnica, há política, há economia. [...] Mas tudo isso é quimérico; torna-se concreto apenas depois de levado das costas para novo campo de interesse, ou seja, depois de “traduzido em imagem”. Doravante, apenas a imagem é o concreto (FLUSSER, 2008, p. 189). Se, por um lado, tal citação possa parecer absurda a princípio, por outro, não é difícil identificar algumas de suas características nos dias que se m. passa Dentre 10 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR as inúmeras imagens compartilhadas nas mais diversas redes sociais internet, da uma parte significativa corresponde aos autorretratos fotográficos conhecidosselfies como. Em uma realidade perspectiva filósofo A de onde NÃO esloveno tudo estar tende tiràda imagem, exposto SlavojŽižek “invisibilidade” da ao (2002, olhar p. 225 proposição que maneira quesequer foi tratada oficialmente como um trabalho artístico, não recebendo nem mesmo um título, nem que fosse um títu meu aniversário de 28 anos, no dia 4 de outubro de 2014. Organizei uma festa para reunir meus ami gos e comemorar a data. Como forma de inverter a lógica deste tipo de evento, onde o aniversariante recebe presentes dos convidados, ofereci com antecedência um presente a cada um que comparecesse à confraternização: um desenho da pessoa nua a ser feitorante du a festa. Há certo paradoxo na ideia do “prese Para aceitar e receber o presente, o convidado teve que se desnudar, teve que me “presentear” com sua nudez. Os desenhos cômodo e f chado e sasessõesduraram entre 15 e 20 minutos. Depois de terminado, o desenho foi entregue à pessoa desenhada dentro de um envelope de modo que ninguém mais veria a imagem caso ela não quisesse. Em vez da exposição mediatizada pelas imagens técnicas, na proposição discorridaa exposição foi mediatizada pelo desenho, alterando os vetores de significação da experiência imagética: o observador é, ao mesmo tempo, a imagem observada, materializada por mim por meio do desenho de observação. Certamente houve fluência a in de minha subjetividade e técnica artística na realização do desenho. Todavia, tal influência também esteve condicionada à subjetividade do convidado no momento em que este aceitou participar da proposta, gerando, assim, um ciclo de significaçãoe qu possibilita evidenciar poeticamente as relações entre sujeito e imagem que ocorrem cotidianamente, onde o sujeito subjetiva a imagem, que, por sua vez, objetiva o sujeito. 11 fo Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR Considerações finais No trabalho apresentado, procuramos tecer relaçõesproblematizem que as ideias comumente disseminadas acerca da linguagem imagética; colocando em suspenso, por exemplo, juízos de valor que concebem a fotografia como uma imagem mais realista que o desenho. Destarte, mesmo considerando tal expressão artística mo co uma linguagem visual elementar , as proposições artísticas das quais tratamos não pretenderam instituir o desenho como representação unívoca da realidade . Antes, se quis evidenciar a realidade enquanto possibilidade poética, utilizando a arte do desenho como instrumento de pesquisa, e não apenas como objeto. Assim, distante de querer buscar uma verdade absoluta da realidade, procuramos abordar aqui a própria noção de verdade da realidade, questionando esta enquanto algo estabelecido e posicionando -a ao alcance da ação humana. Referências BAITELLO JR, Norval.A serpente, a maçã e o holograma: esboços para uma teoria da mídia. São Paulo: Paulus, 2010. BECKETT, Samuel.Worst ward ho. New York: Grove Press, 1983. DERDYK, Edith. (org.) Disegno. Desenho. Desígnio. 2ª Ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010. FLUSSER, Vilém.O universo das imagens técnicas : elogio da superficialidade. 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