A "conquista" dos Sete Povos das Missões: de "ato heróico" dos luso-brasileiros a campanha negociada com os índios Elisa Frühauf Garcia∗ Em 1801, os Sete Povos das Missões situados na margem oriental do rio Uruguai foram anexados ao território da América portuguesa. A conjuntura bélica européia em 1801, na qual a Espanha, pressionada pela França, declarou guerra a Portugal em 27 de fevereiro deste ano, ensejou nos luso-brasileiros as pretensões que estes tinham de anexar os Sete Povos desde a assinatura do Tratado de Madri em 17501. Segundo a maior parte da historiografia sobre o assunto, esta conquista teria sido levada a cabo, principalmente, pela voluntariedade de alguns "aventureiros" luso-brasileiros. No entanto, de acordo com estas mesmas interpretações, a "conquista" só foi possível pela participação dos índios missioneiros que, em menor ou maior escala, teriam facilitado ou efetivamente viabilizado a ação dos portugueses2. Para compreender melhor esta "conquista", é preciso considerar que os "aventureiros" portugueses não tinham em mente atacar diretamente as Missões. Tanto estes quanto as autoridades portugueses gostariam de anexar os Sete Povos, mas não consideravam que isto fosse possível naquele momento, devido à resistência dos ∗ Doutoranda em História Moderna pela Universidade Federal Fluminense. Bolsista CAPES. O Tratado de Madri foi firmado em 1750 entre as duas Coroas Ibéricas. Também conhecido como Tratado de Limites, visava demarcar as linhas fronteiriças entre as suas possessões coloniais. Em relação à América portuguesa, estipulava a troca da Colônia do Sacramento pelo território dos Sete Povos das Missões. A execução do Tratado gerou uma revolta que ficou conhecida como a "Guerra Guaranítica", na qual uma parte dos índios missioneiros se negou categoricamente a entregar as suas terras ao Rei português. Juntamente com outros fatores, a "Guerra Guaranítica" foi um dos motivos da anulação do Tratado. 2 Apesar dos poucos trabalhos acadêmicos sobre o tema, a conquista das Missões foi discutida em quase todos os livros sobre a história geral do Brasil e do Rio Grande do Sul. Ver: CAPISTRANO DE ABREU, João. Capítulos de história colonial & Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil. Brasília: Editora da UnB, 1982. p.181; SOUTHEY, Robert. História do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da USP, 1981. 3 vols. 3º vol. p.376; PINHEIRO, José Feliciano Fernandes, Visconde de São Leopoldo. Anais da província de São Pedro. Petrópolis: Vozes, Brasília: INL, 1978. p.144; GAY, João Pedro. História da República Jesuítica do Paraguai. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1942. p.377; PORTO, Aurélio. História das Missões Orientais do Uruguai. Porto Alegre: Livraria Selbach, 1954. p.469; SOUSA DOCCA, Emílio Fernandes de. História do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: edição da organização Simões, 1754. p.184. Uma análise mais recente pode 1 espanhóis sustentada pelas milícias indígenas missioneiras. Assim, o que os lusitanos pretendiam era roubar as estâncias dos povos3 e causar embaraços à defesa espanhola, práticas comuns durante os constantes períodos de guerra entre as duas Coroas Ibéricas ao longo do século XVIII e princípios do XIX, chamadas pelos rio-grandenses de "hostilizar o inimigo". Dessa forma, assim que soube, informalmente, da notícia da declaração de guerra pela Espanha, o governador do Rio Grande, Sebastião Xavier da Veiga Cabral da Câmara, decretou o perdão a todos os desertores que se apresentassem para combate. Logo após a notícia do perdão, o soldado desertor José Borges do Canto se apresentou ao comandante da fronteira de Rio Pardo, Patrício José Corrêa da Câmara, solicitando permissão para "hostilizar o inimigo", através do ataque das guardas espanholas4, para o qual solicitou ao comandante homens e armas. Este respondeu que homens não lhe daria, mas forneceu certa quantidade de munição. Borges do Canto reuniu aproximadamente 40 homens para a sua campanha, entre os quais estava Gabriel Ribeiro de Almeida, que teve um papel principal na "conquista" devido ao seu conhecimento da língua guarani. Nos primeiros dias de agosto, quando Borges do Canto estava marchando com os seus milicianos a fim de "hostilizar o inimigo", encontrou um índio seu conhecido5. Este estava fugido do povo de São Miguel e lhe disse que se quisesse atacar esta redução poderia contar com a adesão dos seus habitantes, pois estavam insatisfeitos com a ser encontrada em: CAMARGO, Fernando da Silva. O "malón" de 1801: a guerra das laranjas e suas implicações na América meridional. Porto Alegre: PUC, 2000. (tese de doutorado) 3 Cada redução tinha uma ou duas estâncias onde eram criados vários tipos de vacuns. Enquanto algumas estâncias ficavam localizadas perto do seus respectivos povos, cerca de 20 quilômetros, outras chegavam a distar 300 quilômetros das suas sedes. No momento da anexação, os Sete Povos tinham nas suas estâncias um total 125. 097 cabeças de gado. MAEDER, Ernesto J. A. Misiones del Paraguay: conflicto y disolución de la sociedad guaraní. Madri: MAPFRE, 1992. p.152. 4 As guardas eram postos de vigilância e defesa utilizadas pelos espanhóis na tentativa de manutenção dos limites territoriais. 5 "Notícia abreviada dos principais sucessos da Guerra de 1801, na Campanha do Rio Grande de São Pedro, na América Meridional" s/d (c.1802), por José de Saldanha. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro – MS, 554 (1) Coleção Linhares. fl.3, 3v. administração espanhola dos povos6. Também informou existir na estância de São JoãoMirim uma patrulha formada por cinco espanhóis e vários índios e, um pouco distante desta, se estava formando um acampamento com 30 espanhóis e 300 índios. Borges do Canto atacou tanto a patrulha da estância quanto o acampamento. Segundo ele, no ataque ao acampamento, os índios começaram logo a fugir, ao que Borges do Canto mandou Gabriel Ribeiro de Almeida falar com eles na língua guarani "e dizer, que nós íamos a socorre-los, e não a trazer-lhes dano, [então] se voltaram todos a nosso favor, e muito contentes e prontos a nos acompanhar e auxiliar em qualquer empresa que tentássemos"7. Segundo a memória escrita por Gabriel Ribeiro de Almeida, no entanto, não foi apenas a sua conversa com os índios que os convenceu a seguirem com Canto para as Missões. Conforme Almeida, Canto, visando a adesão dos missioneiros, proibiu qualquer saque nos pertences dos índios e não permitiu que nenhuma hostilidade fosse cometida contra eles. Quando da partilha dos pertences dos espanhóis, Canto fez questão de dividir o botim com os índios. Segundo Almeida, esta atitude deixou os índios muito "contentes", e foi neste momento que decidiram se aliar aos luso-brasileiros. Foi apenas após esta adesão que Canto decidiu atacar as Missões, pois até aquele momento não tinha homens suficientes para isto, assim como temia uma resposta à altura daqueles diante de qualquer tentativa de ataque8. 6 Após a expulsão dos jesuítas do Rio da Prata em 1768, o governo dos 30 Povos das Missões passou a ser exercido por administradores leigos espanhóis. Não cabe aqui uma análise pormenorizada da situação dos povos durante esta administração, mas pode-se ressaltar que os problemas surgidos com esta nova gestão agravaram a insatisfação dos índios e corroboram na sua aliança com os luso-brasileiros em 1801. Para uma análise mais aprofundada das Missões após a expulsão dos jesuítas veja-se: MAEDER, op. cit.; POENITZ, Edgar & POENITZ, Alfredo. Misiones, Provincia Guaranítica: defensa y disolución [1768-1830]. Posadas: Ed. Universitária/UNAM, 1993. 7 CANTO, José Borges do. "Relação dos acontecimentos mais notáveis da guerra próxima passada na entrada e conquista dos Sete Povos das Missões orientais do rio Uruguai" In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. vol.130, t.77, parte II, 1914 [1802]. p.54 8 ALMEIDA, Gabriel Ribeiro de. "A tomada dos Sete Povos das Missões". In: SILVEIRA, Hemetério José Velloso da. As Missões Orientais e seus antigos domínios. Porto Alegre: Companhia União de Seguros Gerais, 1979. p.69-71. Acompanhado destes 300 índios, Borges do Canto rumou para São Miguel, onde sitiou o Povo e intimou o seu tenente governador, dom Francisco Rodrigo, a se render, ao que o governador solicitou três para dias para deliberar. Neste meio tempo, alguns índios começaram a fugir do povo. Enquanto isto, os missioneiros que estavam com Borges do Canto se ofereceram para tentar entrar em São Miguel, para com isto abrirem as suas portas e se apoderarem da munição lá existente. Segundo o combinado, depois disto dariam um sinal para os luso-brasileiros atacarem. Mas dom Francisco Rodrigo desconfiou dos índios e não permitiu que entrassem em São Miguel9. Pode-se pensar que uma parte do narrado por Borges do Canto integre uma retórica destinada a engrandecer e legitimar os seus feitos, e que a adesão dos guaranis missioneiros não tenha sido tão grande assim. Provavelmente, nem todos os índios aderiram aos planos de conquista dos luso-brasileiros. Porém, algumas informações indicam que houve uma adesão grande por parte dos missioneiros, suficiente para desestabilizar a defesa espanhola. Primeiro, pelo tenente governador dom Francisco Rodrigo não ter permitido a entrada dos índios no povo, denotando a sua desconfiança destes, ou seja, para ele era provável que estes estivessem mancomunados com os portugueses. Em segundo, o próprio tenente governador afirmou que uma das suas dificuldades durante o cerco foi a rebeldia dos índios, pois estes não obedeciam ordem alguma, nem sua, nem dos empregados espanhóis sob seu comando10. Pressionado por Borges do Canto e pela desordem interna em São Miguel, dom Francisco Rodrigo aceitou a rendição e elaborou uma capitulação em 13 de agosto, devidamente endossada por Canto. De acordo com uma memória anônima sobre as causas da conquista das Missões pelos portugueses, dirigida ao Vice-rei do Rio da Prata, os índios de São Miguel estavam 9 CANTO, op. cit., p.55. sublevados e a rendição de dom Francisco Rodrigo foi motivada pelo seu receio de uma revolta generalizada nos 30 povos. A relação entre os índios e os espanhóis estava bastante tensa, e estes tinham medo da perda de todos povos. Segundo esta memória, o resultado não foi tão desastroso, pois ainda se conseguiu salvar os povos ocidentais, aos quais os portugueses também tencionavam atacar11. Após a capitulação de São Miguel, afirma Borges do Canto que no dia 15 de agosto mandou avisar através de ofícios aos povos de São João e Santo Ângelo que deveriam se sujeitar à vassalagem do Rei português, cuja informação, em suas palavras: "aceitaram sem repugnância"12. No mesmo dia 15, os cabildantes13 de São João escreveram uma carta respondendo aos avisos enviados por Canto, na qual afirmavam estarem inteirados da rendição de São Miguel. Também informaram estarem rendendo vassalagem à Coroa portuguesa, incluindo armas, povos, territórios e demais posses14. O mesmo fez o povo de Santo Ângelo. Estas duas cartas não corroboram a afirmação de uma sublevação nestes Povos a favor do Rei português. Os índios de São João e Santo Ângelo mais parecem ter aceito a rendição, talvez até por receio de um ataque português, do que terem "entusiasticamente" passado para o lado português, como afirmam algumas memórias. Segundo o relato de Almeida, foi ele quem levou os ofícios aos quatro povos adjacentes: São João Batista, Santo Ângelo, São Lourenço e São Luís Gonzaga. Conforme as informação de Almeida, os povos não tiveram dúvidas em render vassalagem ao Rei de Portugal quando souberam que assim tinham feito em São Miguel. 10 Carta de dom Francisco Rodrigo para o governador Sebastião Xavier Cabral da Câmara. Povo de São Miguel, 22 de agosto de 1801. Arquivo Nacional do Rio de Janeiro – cód. 104, vol.13, fl.175 11 "Memória dirigida ao Vice-rei do Prata sobre as causas da conquista dos 7 Povos pelos portugueses". Pueblo de Santa Maria La Mayor, 26 de septiembre de 1802. Anônimo. In: CORTESÃO, Jaime. Do Tratado de Madri à conquista dos Sete Povos (1750-1802). Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1969. (Manuscritos da Coleção de Angelis). p.464-465, 466. 12 CANTO, op. cit., p.56. 13 Cabildantes ou mandarins eram os índios que ocupavam os postos de comando nos cabildos das reduções, espécie de câmara municipal. Nas reduções, todos os integrantes dos cabildos eram índios. Em cada um destes povos, Almeida retirou os respectivos estandartes dos cabildos, os quais enviou ao Governador Sebastião Xavier da Veiga Cabral da Câmara. Em cada povo, Almeida reunia os índios e explicava em guarani que os estandartes não deviam mais ser hasteados, porque havia cessado o governo espanhol. Ao mesmo tempo, se reunia com os índios e assistia aos seus festejos. Almeida também conversava com os curas, lhes pedindo para permanecerem nas suas igrejas, sendo bem sucedido neste pormenor, pois muitos dos párocos ficaram nas Reduções15. A efetiva compreensão do ataque dos súditos de Portugal aos Sete Povos, no entanto, não pode ser compreendida fora do contexto geral do Império português, inclusive dos significados que neste possuía a conquista territorial. Em vários momentos históricos da América portuguesa, a conquista territorial foi efetuada pelos próprios colonos, independente da existência de ordens régias para tal fim, através da qual buscavam benefícios concretos, como a anexação de terras e de homens, geralmente índios, bem como visavam a obtenção de mercês outorgadas pelo Rei em reconhecimento aos serviços prestados. Dessa forma, a problemática entre a voluntariedade dos "aventureiros" ou a existência de ordens para o empreendimento da conquista é uma questão anacrônica, uma vez que este tipo de ambigüidade era característico daquele período histórico16. Tanto Borges do Canto quanto Gabriel Ribeiro de Almeida foram muito políticos e hábeis na sua relação com os índios missioneiros. A maioria dos relatos17 afirma que estes gostavam muito de Canto e desejavam a sua permanência no governo das 14 Carta do Povo de São João Batista, 15 de agosto de 1801; Carta do Povo de Santo Ângelo, 15 de agosto de 1801. Arquivo Nacional do Rio de Janeiro – cód.104, vol.13, fl.174. 15 ALMEIDA, op. cit., p.72. 16 FRAGOSO, João. "A formação da economia colonial no Rio de Janeiro e de sua primeira elite senhorial (séculos XVI e XVII)". In: FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda & GOUVÊA, Maria de Fátima. O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p.42 e segs. 17 Como por exemplo o exposto por José de Saldanha, segundo o qual José Borges do Canto era o "ídolo daqueles povos", por ter respeitado todas as suas propriedades e a sua hierarquia social. In: "Notícia abreviada dos principais sucessos ...", fl. 4. Missões. Apesar destes relatos terem sido feitos por luso-brasileiros, podendo ser, portanto, tendenciosos, parece que ambos conseguiram conquistar uma boa parte dos índios das Reduções. O próprio dom Francisco Rodrigo elogia Canto e Almeida, dizendo que eram homens corretos, de bom procedimento. A questão, no entanto, não é se eram ou não homens corretos, mas que eles conseguiram estabelecer relações de reciprocidade com as populações missioneiras, trazendo-as para a sua esfera de influência. Ambos tinham uma história de contato com as populações indígenas e, provavelmente, sabiam muito bem como relacionar-se com estas. Almeida não era apenas uma pessoa que falava guarani. Ele era filho de uma índia guarani e havia passado a sua infância junto da sua mãe, ou seja, ele foi criado dentro dos códigos culturais guaranis. Almeida sabia como relacionar-se com os índios e estes deveriam ver nele uma pessoa mestiça, talvez mais próxima das suas referências culturais. Neste sentido, após passarem algumas décadas sob uma política espanhola que visava extinguir o seu idioma em prol do castelhano, a chegada de um português que falava guarani e neste os convidava para se passarem aos domínios lusitanos, deve ter significado, inclusive, uma maior possibilidade de diálogo, pois a grande maioria dos administradores espanhóis não falava e nem entendia a língua guarani. José Borges do Canto, por sua vez, era um homem que estava acostumado a conviver com as populações indígenas do Continente, tanto os missioneiros quanto os charruas e minuanos, tendo vivido uma boa parte da sua vida entre eles. O pai de Canto era natural dos Açores, enquanto sua mãe havia nascido na Colônia do Sacramento. Ele foi batizado em Rio Pardo em 1775. Canto tinha 26 anos quando empreendeu a conquista das Missões, e uma boa parte da sua vida tinha passado nos campos neutrais18. Ao 18 Em 1777, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Santo Ildefonso, que deveria resolver os problemas de limites na América. Por este Tratado, criavam-se os "campos neutrais", faixa de terra sobre a qual nenhum dos dois impérios, em permanente litígio, teria jurisdição, sendo, como o nome indica, neutra. Nestes campos habitavam desertores, contrabandistas, índios missioneiros fugidos dos seus respectivos povos, assim como índios charruas e minuanos. contrário de Almeida, Canto não era um mestiço biológico, mas era uma pessoa formada nas múltiplas identidades e culturas presentes nos campos neutrais. Segundo Bartolomeu Meliá, a mestiçagem biológica não produz automaticamente indivíduos multiculturais. Os processos de formação de mestiçagem, embora costumem ocorrer em contextos de intercâmbios sexuais, se dão "por aprendizagem, quer dizer, são históricos"19. Neste sentido, tanto Almeida quanto Canto eram homens mestiços, capazes de circular em meios diferentes, e esta sua habilidade foi fundamental na conquista dos Sete Povos. A partir da pesquisa da documentação surge uma outra interpretação da conquista, muito além de concepções teleológicas, segundo as quais os luso-brasileiros já sabiam que iriam conquistar as Missões antes mesmo de sair em campanha. A própria adesão imediata, e até mesmo anterior, dos índios deve ser repensada. A conquista das Missões foi uma campanha construída na relação entre os missioneiros e os lusobrasileiros que a levaram a cabo. Estes não saíram em campanha pensando em conquistá-las, mas sim em atacar as suas estâncias. No entanto, o contexto histórico se mostrou propício para a tomada, não apenas pela conjuntura de guerra européia, mas também pelo desgaste das relações entre os índios e os espanhóis. Os missioneiros, porém, se estavam suscetíveis a mudança de soberania, não aderiram a esta idéia de uma vez só. Além de um convencimento que vinha sendo feito desde a década de 1750 e intensificado a partir das demarcações do Tratado de Santo Ildefonso, foi neste momento específico que alguns índios de São Miguel resolveram passar-se para o lado português. Entre os outros povos, os de São João Batista, Santo Ângelo, São Lourenço e São Luís Gonzaga não se mostraram tão entusiastas num primeiro momento. Mas, a partir dos discursos de Almeida, garantindo a permanência dos curas e o respeito às suas hierarquias, acabaram por aderir à mudança de soberania. 19 MELIÁ, Bartolomeu. La lengua guarani del Paraguay: historia, sociedad y literatura. Madri: MAPFRE, 1992. p.63.