Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS METAPLASMOS: A “EVOLUÇÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS”12 Jenniffer Kaiolany Garcia Martins Santos (UEMS/UNA) Resumo: A língua portuguesa é o resultado das constantes transformações fonéticas que vem passando a partir do latim vulgar. A língua é tida como um veículo lingüístico de comunicação, de informação e de expressão entre os falantes, usada em situações naturais de interação social. Contudo, a língua apresenta um alto grau de diversidade e variabilidade, pois toda língua do mundo apresenta um fenômeno chamado “variação”, isto é, nenhuma língua é falada do mesmo modo pelos falantes em todos os lugares. A fala, por conseguinte, constitui-se um elemento modificador para as variações na língua, encontrando-se embasada em traços diferenciais, tais como: regionalidade, contexto sócioeconômico e político. Com essa maneira coloquial e, muitas vezes, espontânea, a fala manifesta-se por meio dos indivíduos que, muitas vezes, são “taxados” linguisticamente como “ignorantes” quando usam essas formas. As várias “oscilações” apresentadas na grafia dos informantes é uma característica demonstrada na fala espontânea arraigada no sistema da escrita. Palavras-chave: evolução; fala; escrita. Introdução A origem da linguagem é uma das questões que mais tem preocupado o espírito humano. Desde a remota antiguidade, ela vem sendo discutida pelos sábios, não chegando até o momento a um acordo. Justifica-se esse empenho devido ao importante papel que a linguagem exerce em todas as manifestações da vida humana. O instinto de sociabilidade, mais imperioso na espécie humana que nos outros animais, não encontraria expressão adequada, ou mesmo se anularia, se não existisse a linguagem. Com efeito, a existência em comum do uso da língua supõe a fixação de umas tantas normas ou regras obrigando cada pessoa a respeitar, conforme o embate dos interesses antagônicos, para que não prejudique a boa comunicação ocorrente no seio da coletividade humana. 1 Trabalho orientado pelo Prof. Dr. Marlon Leal Rodrigues, Letras Nova Andradina, 2009. Agradeço ao Prof. Dr. Miguel Eugénio de Almeida pela revisão e sugestões, no entanto as posições aqui assumidas são de minha responsabilidade. 2 www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS A linguagem não se restringe tão somente ao ato de transmitir informações, entre tantas outras, mas principalmente tem a função de comunicar ao ouvinte à posição que o falante ocupa na sociedade em que vive. Contudo, se as produções linguísticas são introduzidas em um campo linguístico não adequado ao contexto social, permitindo a um reduzido número de indivíduos uma comunicação satisfatória. Como afirma Gnerre (1991), a linguagem constitui o arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder. As variedades linguísticas, quando num contexto externo, determinam poder comunicação e são assim firmadas pelo seu grau de associação com a escrita, pelos seus usos. Quando há associação entre uma dada variedade linguística oral com a escrita, verificamos o resultado histórico indireto de oposições entre grupos usuários das diferentes variedades. O uso do código linguístico da variante de prestígio é um forte fator de desigualdade para muitos falantes, pois muitos desses falantes não têm acesso, ou têm domínio precário desse código; justificando, então, a discriminação que sofrem pelo seu “jeito” de falar. Alguns colocam as diferenças dialetais existentes no Brasil sendo responsáveis por alguns níveis sociais, especialmente os mais altos, tendendo a hipercorreção do esforço para alcançarem à norma reconhecida pelo poder político dominante. Por conseguinte, o intuito deste estudo é verificar por meio dos metaplasmos, as transformações sofridas pela língua portuguesa desde a origem latina perdurando atualmente na fala espontânea com as variantes ocorrentes. As ocorrências são oriundas de um questionário sociolingüístico, aplicado aos discentes do 8o ano do ensino fundamental de ensino público. www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS O objeto, para a análise desta pesquisa, é as variações fonéticas3 ocorrentes entre as formas orais para com as formas escritas, compreendendo o vocabulário de discentes do oitavo ano do ensino fundamental de ensino público. O objetivo geral desta pesquisa é analisar as diferentes formas fonéticas ocorrentes na atualidade utilizadas pelos alunos do oitavo ano do ensino fundamental. Uma das suposições vigentes – o apreender a falar vem antes mesmo do aprender a escrever -; pois cada falante é agente modificador de sua língua, conforme as situações que nos deparamos, gerando assim “neologismos” na norma culta da língua. Como defendeu José de Alencar (apud Gnerre, 1991), em seus escritos, implícita e explicitamente, a idéia de língua “brasileira”, movido por uma perspectiva nativista, a língua “brasileira” deveria se adequar à “simplicidade” de pensamento e da expressão do índio e do sertanejo. É bem possível que o português, evoluído do latim vulgar, continua apresentando essas falas espontâneas, vistas como formas erradas, passando com o tempo a incoporá-las. Seguindo o método para a realização desta pesquisa, elaboramos um questionário com dezesseis perguntas direcionadas aos alunos do oitavo ano do ensino médio. O tempo estimado para a resolução destas perguntas foi de aproximadamente vinte minutos. Diante das respostas, analisamos cada uma delas, ou seja, observamos as variações que ocorreram na escrita, mediante a confrontação com a norma padrão, considerando o respondido por cada discente. As respostas obtidas foram separadas em tabelas, atendendo-se aos elementos do gênero e faixa etária. Pois, como Lopes (1987), observa-se às vezes, nas pessoas alfabetizadas, uma tendência pronunciada para superestimar o papel desempenhado pela escrita em nosso tipo de cultura. 3 Esta expressão é mais adequada, em se tratando das formas fonéticas atuais. www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS Já quanto à faixa etária, foi evidente naqueles com maior idade, um melhor desempenho na resolução das questões, não sendo tão relevante devido às mudanças ocorridas. Foi preciso elaborar um questionário sociolingüístico das diferenças dialetais (gênero e faixa etária), com perguntas direcionadas. O mesmo foi aplicado para os discentes e, depois a partir das respostas obtidas, foram feitas as tabulações, selecionando as respostas que sofreram maiores variações para só assim ser realizada a análise. Breve história do objeto de pesquisa Servindo de instrumento diário de comunicação entre os indivíduos de uma nação, a língua portuguesa remontando no passado as suas origens, ao seu período de formação, explica-nos as transformações por que essa mesma língua passaram, na sua evolução através do espaço e do tempo. Essas transformações não se deram por acaso, não foram produzidas pela moda ou capricho, mas obedeceram às tendências naturais, aos hábitos fonéticos espontâneos. A constância e a regularidade, que se observam em tais transformações, permitiram ao gramático formular-lhes os princípios e as leis. Modificações do latim vulgar transportado pelos legionários romanos para a Península Ibérica, e aí transformado e grandemente enriquecido no seu léxico, o português é uma língua novilatina que possui documentos literários apreciáveis, por meio dos quais é possível retomar as várias fases da sua evolução. Por sua vez, a linguagem é o conjunto de sinais que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas idéias e pensamentos. Onde quer que ela se encontre, em estado selvagem ou civilizado, revela sempre o conhecimento de um sistema especial de sinais articulados. Pode-se dizer também que os animais possuem sinais fônicos muito desenvolvidos, permitindo assim a comunicação entre os animais, contudo esta linguagem não é um produto cultural como enfatiza Lopes (...), esta linguagem é senão www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS uma componente da organização físico-biológica dos animais, ou seja, herdada com a programação genética da espécie. Já a linguagem humana, por sua vez, não é herdada, o homem aprende a sua língua. Portanto só a linguagem humana expressa sentidos diferentes de acordo com diferentes experiências e situações. Embora estejamos inseridos em uma sociedade que se vale do mesmo código como meio de comunicação, a língua falada está sujeita às variações. O que acontece é que em toda língua do mundo existe um fenômeno chamado variação, isto é, nenhuma língua é falada do mesmo jeito em todos os lugares. A estas variações regionais a que a língua esta sujeita, são designados como dialetos. Ao passo que não se deve admitir a falsa idéia de que o dialeto seja a corrupção de uma língua. O povo, quando modifica o idioma, obedecendo às suas tendências naturais, não o corrompe. A língua, como tudo na natureza, está sujeita às transformações inevitáveis. A língua falada é, portanto como conclui Tarallo (1997), um sistema variável de regras, e a esse sistema devem corresponder tentativas de regularização, de normatização. Como grande estandarte desta regularização surge a língua escrita. Já na Idade Média, a associação entre a variedade lingüística e a escrita foi uma operação que respondeu às exigências políticas e culturais. Inicialmente passou-se por um processo de adequação lexical e sintático, tendo como modelo o latim. A segunda etapa foi no processo de fixação de uma norma constituída pela associação da variedade já estabelecida como língua escrita com a tradição gramatical. Contudo, como advertia Saussure (apud Lopes, 1986) a única razão de ser da escrita é o seu caráter de representante da fala. Considera-se, portanto, que a distância entre a língua codificada na gramática da variante de prestígio e a realidade da variação em geral, por meio desta pesquisa comprovando que os falantes usuários de uma mesma língua tentam reproduzir no sistema da escrita o sistema da fala. 1. Pressupostos teóricos www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS De todos os códigos utilizados pelo homem para expressar suas impressões, para representar coisas, seres, idéias, sem dúvida alguma, o mais importante é a língua, sistema de representação constituído por palavras e por regras que as combinam em unidades portadoras de sentido, comum a todos os membros de uma determinada sociedade. Isso significa que a língua pertence a toda uma comunidade, como é o caso da língua portuguesa. Os falantes de uma língua adquirem naturalmente e gradativamente o conhecimento necessário para usá-la, em se pensando em uma criança, por exemplo, que em contato diário com a comunidade falante, começa a emitir palavras soltas, depois pequenas frases, até montar sentenças mais elaboradas. O uso que cada indivíduo faz da língua depende de várias circunstâncias: do que vai ser falado e de que forma, do contexto, do nível social e cultural de quem fala e para quem se está falando. Portanto, o falante vale-se de um sistema de regras, convencionado e instituído antes mesmo dele nascer, que pode e deve ser adaptado às suas necessidades de comunicação, sem menosprezar a criatividade e sem esquecer a intencionalidade. 1.1 Leis Fonéticas Como discorre Coutinho (1976), as Leis Fonéticas são princípios constantes do uso de fonemas que presidem a evolução dos vocábulos. Observando-se as modificações das palavras, verifica-se, sem dificuldade, que os fonemas se alteram do mesmo modo, sempre que se acham em idêntico meio e circunstância. Daí o caráter de constância e inflexibilidade das leis fonéticas. Os antigos gramáticos sustentavam opinião contrária. Para eles, não passavam elas de tendências mais ou menos pronunciadas, pelas quais se podiam explicar uns tantos fatos; ao passo que outros, por eles chamados exceções, ficavam irremissivelmente sem explicação. www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS Coube aos neogramáticos a tarefa de sustentar o seguinte: o conceito de que as leis fonéticas são princípios absolutos em que o rigor científico pode ser facilmente observado. Só a partir dessa época, pode a Lingüística pretender ao título de ciência, enfileirando-se, pela segurança dos seus processos, ao lado das demais ciências. A transmissão da linguagem não é representada por um todo, pois não se pode reproduzir senão o que se ouve, sendo assim por sua descontinuidade natural, a transmissão da linguagem dá lugar a modificações. Estas modificações provêm dos meios precários que nos levam ao conhecimento de um idioma: a imperfeição das imagens auditivas e a incapacidade de reproduzir com fidelidade, os sons ouvidos. Bem ao contrário ao que se pode pensar, as modificações são coletivas, levando-se em conta um dado lugar e época, nas mesmas condições sociais, climáticas e biológicas, podendo manifestar-se de três formas: - Inconscientes. As modificações que se observam nos vocábulos de uma língua são alheias à vontade do povo. Falamos segundo as tendências próprias da época em que vivemos. Essas tendências podem variar o que explica a diversidade de tratamento às vezes dado aos vocábulos de uma língua, no curso de sua história. - Graduais. A evolução das palavras se processa segundo a lei natural: Natura non fácil saltus. Não raro se forma idéia errônea da evolução dos vocábulos, quando se cotejam formas latinas com as atuais portuguesas, que daquelas se originaram. Faz-se mister, antes de mais nada, restabelecer todos os elos da cadeia evolutiva, com a citação das formas intermediárias, para que se veja como se processou gradativamente essa evolução. - Constantes. Foram os neogramáticos que assinaram este caráter de constância as leis fonéticas. Da regularização das transformações é que se tornou possível a generalização de leis. Sempre que um fonema se encontre em determinada circunstância, ele deve modificarse do mesmo modo. Três são as leis fonéticas que presidiram a evolução das palavras portuguesas: www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS - Lei do Menor Esforço ou da economia fisiológica. É uma lei universal, cujo domínio se estende a todos os ramos da atividade humana. Caracteriza-se pela simplificação dos processos, empregados pelo homem, na realização de sua obra. Como lei fonética, ela exerce no sentido de tornar mais fácil aos órgãos fonadores à articulação das palavras. As modificações e quedas de fonemas deram-se em obediência a esta lei. Pode-se dizer que a lei do menor esforço visa à eufonia e ao ritmo. - Lei da Permanência da Consoante Inicial. A evolução das consoantes depende da posição que elas ocupam na palavra. Enquanto as mediais e finais estão sujeitas as frequentes sonorizações ou quedas, as iniciais passam integralmente ao português, com raras exceções. Para esta permanência, deve ter concorrido o acento de intensidade no antigo latim, que punha em evidência a sílaba inicial da palavra. Também se poderá explicar este fato naturalmente, pela atenção especial que nos merece o início da palavra, suficiente às vezes para determinar o seu sentido exato, antes mesmo que ela nos seja transmitida integralmente. - Lei da Persistência da Tônica. No meio das transformações e quedas de fonemas, foi o acento tônico que guardou a unidade da palavra, ameaçada de perecer. Obrigando este acento a uma pausa mais demorada da voz na sílaba sobre que incidia, evidente se torna que esta devia resistir. Em oposição a esta lei, dos quais alguns remontam ao latim vulgar, temos as Causas Fonéticas, Morfológicas e Analógicas. - Causas Fonéticas. A deslocação de acento tônico, que se observa em português, dá-se: www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS a) em palavras latinas, em que aparece i ou e tônico em hiato, ou seja, seguido de outra vogal. O latim vulgar, na sua tendência para evitar o hiato, deslocou o acento tônico para a última vogal, reduzindo-as freqüentemente por crase a uma só, que era a última. Latim clássico Latim vulgar Português mulíere - muliére > mulher lintéolu - linteólu > lençol b) nos polissílabos, em que no latim havia vogal em “positio debilis”. Diz-se vogal em “posição débil” a que era seguida de grupo consonantal, formado de muta (p, b, t, d, c, g) e liquida (l, r). A sílaba em que figurava receber o acento, segundo as necessidades do verso. Na prosa, porém, era átona. O latim vulgar tornou-a tônica. O português conservou a acentuação do latim vulgar. Latim clássico Latim vulgar Português íntegru - intégru > inteiro cáthedra - cathédra > cadeira c) em vocábulos que deviam terminar, de acordo com a etimologia, em â tônico final fechado, se a língua portuguesa os tolerasse. Neste caso, estão quinta, campa e venta. No período arcaico, soavam respectivamente quintãa, campãa e ventãa. A sua origem é o latim quintana, campana e ventana. - Causas Morfológicas. No latim vulgar, operava-se a transposição do acento tônico para o segundo elemento, quando a palavra era composta e havia consciência da composição. www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS Explica-se isso pelo fato de encerrar o segundo elemento a idéia principal. O português conservou a acentuação do latim vulgar. Latim clássico Latim vulgar Português óbligo (ob+ligo) - oblígo > obrigo implico (in+plico) - implíco > emprego Essa consciência era às vezes tão nítida que levava o povo a recompor o vocábulo em seus elementos mórficos: perfácit por pérficit > perfaz, requarit por requirit > requer; ou a preservá-lo de maiores alterações: retenere por retinere > reter, recipére por recipere > receber, em que se na operou a transformação do -t- nem do -c- intervocálicos. Permanecia, porém, a acentuação clássica, quando não tinha o povo romano consciência da composição: Latim clássico cómedo (cum+edo) Latim vulgar - cómputo (com+puto) - Português cómedo > como cómputo > conto - Causas Analógicas. A ação que umas palavras exercem sobre as outras é causa de que se encontre, às vezes, discordância entre a acentuação latina e a portuguesa. É assim que: a) os nomes judice, varice e cytisu, proparoxítonos no latim clássico, tornaram-se, por influência da terminação -ice os dois primeiros e por analogia com cupressu o último, paroxítonos no latim vulgar e, conseqüentemente, em português: Latim clássico Latim vulgar www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Português Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS júdice - judíce > juiz várice - varíce > variz cýtisu - cutessu > codesso b) muitas palavras, em vez da acentuação latina, tomaram entre nós a grega: Latim Grego Português órgia orgía orgia astrologia astrología astrologia c) os verbos da terceira conjugação clássica latina (-ềre) identificaram-se por analogia com os da segunda (-ềre) no latim vulgar da Península. Latim clássico Latim vulgar Português dícere - dicére > dizer sápere - sapére > saber cápere - capére > caber fácere - facére > fazer Ainda por analogia, alguns verbos da segunda (-ềre) passaram à quarta (-ire), no latim vulgar. Para isto, deve ter influído a semelhança fonética entre a terminação da 1a pessoa do presente do indicativo -eo da 2a e -io da 4a conjugação. Latim clássico Latim vulgar www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Português Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS ridére - ridire > rir complére - complire > cumprir d) na 1a e 2a pessoa do plural do imperfeito, mais-que-perfeito do indicativo e imperfeito do subjuntivo, houve deslocação, por influência da acentuação das três pessoas do singular. INDICATIVO Imperfeito INDICATIVO SUBJUNTIVO Mais-que-perfeito Imperfeito Amábam > amava lé(g)eram > lera Puni(ví)ssem >punisse Amábas > amavas lé(g)eras > leras Puni(ví)sses > punisses Amábat > amava lé(g)erat > lera Puni(ví)sset >punisse Amabámus > amávamos le(g)erámus > lêramos Puni(vi)ssémus>puníssemos Amábalis > amáveis Le(g)erátis > lêreis Puni(vi)ssétis >punísseis 1.2- Metaplasmos Na língua portuguesa, desde a origem latina tem ocorrido transformações fonéticas e ainda hoje perduram na fala espontânea. A Lingüística Histórica chama essas transformações de Metaplasmos. Para Coutinho (1976), os metaplasmos são modificações fonéticas que sofrem as palavras na sua evolução. Os fonemas constituem o material sonoro da língua. Este material está como tudo o mais, sujeito à lei fatal das transformações. Cada geração altera inconscientemente, segundo as suas tendências, as palavras da língua, alterações essas que se tornam perfeitamente sensíveis, só depois de decorrido muito tempo. www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS De quatro formas estas modificações se manifestam, motivadas pela troca, acréscimo, supressão e ainda por transposição dos fonemas ou acento tônico. Sendo assim segundo (Coutinho, 1976), os metaplasmos se dividem em: a) metaplasmos por permuta; b) metaplasmos por aumento; c) metaplasmos por subtração; d) metaplasmos por subtração. - Metaplasmos por permuta são os que consistem na substituição ou troca de um fonema pelo outro. Pertencem a esta classe: 1) Sonorização: é a permuta de um fonema surdo por um sonoro com mesmo ponto de articulação. Os fonemas latinos p, t, c e f, quando mediais, sonorizam-se em português b, d, g e v. Exs: lupu > lobo, cito > cedo, acutu > agudo, profectu > proveito. 2) Vocalização: consiste na conversão de uma consoante que se transforma em vogal. Vocaliza-se em i ou u a primeira consoante dos grupos ct, lt, pt, lc, lp, bs e gn. Exs: factu > feito, alteru > outro, absentia > ausência, regnu > reino. 3) Consonantização: vogal que se transforma em consoante, dão-se com as semivogais i e u, que passam respectivamente a j e v. Exs: iam > já, ieiunu > jejum, uagare > vagar. 4) Assimilação: é a aproximação ou dois fonemas idênticos, resultante da influência que ambos exercem sobre o outro. A assimilação pode ser vocálica e consonantal, total e parcial, progressiva e regressiva. - É vocálica, quando o fonema que se assimila é uma vogal. Ex: caente (arc.) ( <calente) > queente (arc.) (>quente). www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS - É consonantal, quando o fonema assimilado é uma consoante. Ex: ipse > isse (>esse). - Diz-se total, quando se identifica o fonema assimilado com o assimilador. Ex: per+lo > pello (>pelo). - É parcial, quando, havendo semelhança entre o fonema assimilado e o assimilador, não existe completa identidade. Ex: com(i)te > conde, auru > ouro. - A progressiva é aquela em que o fonema assimilador está em primeiro lugar. Ex: amaramlo > amaram-no. - A regressiva é aquela em que o fonema assimilador está depois. Ex: ersa > essa, reversu > revesso. - Há também assimilação, por influência de uma consoante sobre a vogal. Ex: fame > fome, cognatu > cunhado. 5) Dissimilação: é a diversificação ou queda de um fonema por já existir fonema igual ou semelhante na palavra. Ex: calamellu > caramelo, aratru > arado. A dissimilação pode também ser: - Vocálica, quando o fonema que se dissimila é uma vogal. Ex: tosoira (<tonsoria) > tesoira, temoroso > temeroso. - Consonantal, quando o fonema que se dissimila é uma consoante. Ex: raru > ralo, rastru > rasto. - Progressiva, quando o fonema que se dissimila se acha depois do dissimilador. Ex: prora > proa, rutru > rodo, rostru > rosto. www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS - Regressiva, quando se verifica o contrário. Ex: mel(i)mellu > marmelo. 6) Nasalação ou nasalização é a conversão de um fonema oral em nasal. Ex: mae (arc.) (<matre) > mãe. Neste caso a nasalação se dá pela nasal anterior. Em sim <si (c) decorre da influência de non (arc.). 7) Desnasalação ou desnasalização é o contrário da nasalação. O fonema antes nasal perde a nasalidade, tornando-se oral. Ex: bõa (arc.) (<bona)> boa. 8) Apofonia ou deflexão é a modificação que sofre a vogal da sílaba inicial de uma palavra, quando se lhe ajunta um prefixo. Ex: per+factu > perfectu (> perfeito). 9) Metafonia é a modificação de som, ou mais propriamente de timbre de uma vogal, resultante da influência que sobre ela exerce sobre a vogal ou semivogal. Ex: debita > dívida. - Metaplasmos por aumento são os que adicionam fonemas à palavra. São desta classe: 1) Prótese ou próstese é o aumento de som no começo do vocábulo. Ex: stare > estar. A prótese remonta ao latim vulgar, onde encontramos formas como istare, ispiritus. No português arcaico ocorrem muitos casos de prótese como acredor, arruído. Em português muitas vezes ela provém da aglutinação do artigo, como mora > amora. 2) Epêntese é o acréscimo de fonema no interior da palavra. Ex: área (<arena) > areia. 3) Anaptixe ou suarabácti é a epêntese especial que consiste em desfazer um grupo de consoante pela intercalação de uma vogal. Ex: bratta (<blatta) > barata. www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS 4) Paragoge ou epítese é a adição de fonema no fim do vocábulo. Ex: ante > antes. Este -s se explica por analogia com o de depois. Do mesmo modo se explica a sua existência nos advérbios algures, alhures, nenhures, somentes. São formas dialetais portuguesas mare, alguidare, sole, animale. Nos empréstimos modernos, acrescenta-se -e quando terminados em consoante que não se use como final de palavra portuguesa: chique (chic), clube (club). - Metaplasmos por subtração são os que tiram ou diminuem fonemas à palavra.Fazem parte desta classe: 1) Aférese é a queda de fonema no início da palavra. Ex: attonitu > tonto, episcopu > bispo, inamorare > namorar. 2) Síncope é a subtração de fonema no interior do vocábulo. Ex: malu > mau, mediu > meio. 3) Haplologia é a síncope especial que consiste na queda de uma sílaba medial, por haver outra idêntica ou quase idêntica na mesma palavra. Ex: perdeda (< perdita) > perda. 4) Apócope é a queda de fonema no fim do vocábulo. Ex: amat > ama, amare > amar. 5) Crase é a fusão de dois sons vocálicos contíguos. Ex: pee (arc.) (<pede) > pé. Só há modernamente crase, em português, quando concorrem a preposição a e os demonstrativos aquele, aquela, aquilo, aqueles, aquelas, ou a mencionada preposição e o artigo feminino a. www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS 6) Sinalefa ou elisão é a queda da vogal final de uma palavra, quando a seguinte começa por vogal. Ex: de+intro > dentro, de+ex+de > desde. - Metaplasmos por transposição são os que consistem na deslocação de fonema ou de acento tônico da palavra. A esta transposição de um fonema toma o nome de metátese. Metátese é a transposição de fonema que se pode verificar na mesma sílaba ou entre sílabas. Ex: ravia (arc.) > raiva, pigritia > pregriça (arc.) > preguiça. - A transposição de acento tônico toma o nome especial de Hiiperbibasmo, a este compreende: 1) Sístole é a transposição de acento tônico de uma sílaba para a anterior. Ex: amassémus por amavissémus > amássemos, éramus > éramos. 2) Diástole é a deslocação de acento tônico de uma sílaba para a posterior. Ex: océanu > oceano, júdice > juiz, muliére > mulher. 1.3- Analogia Ainda segundo Coutinho (1976), analogia é o princípio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-se, reduzindo as formas irregulares e menos freqüentes a outras regulares e freqüentes. Encarada, porém, à luz de outro critério, constitui um recurso ordinário de simplificação, porque torna idênticos os casos discordantes. Foram os neogramáticos que chamaram a atenção para ela e lhe assinalaram os efeitos decisivos nas transformações da linguagem. Os casos decorrentes de analogia podem ser considerados verdadeiras criações. A forma analógica não motiva logo o desaparecimento da originária. Vive uma a par da outra durante algum tempo, e nem sempre é a analógica que consegue triunfar. www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS Resulta assim a analogia da influência de um vocábulo sobre o outro, determinando igualdade ou aproximação. A ação da analogia se exerce nos diferentes domínios da língua. Daí as suas conseqüências se fazerem sentir na fonética, na morfologia, na sintaxe e na semântica. - Na fonética, a palavra tomada isoladamente é um conjunto material de fonemas ou sílabas, a que se atribui determinado sentido. Mas ela também pode fazer parte de um grupo, pertencer a um sistema (flexão, derivação, etc.). Quando esses fonemas ou sílabas são atingidos pela ação da analogia, sem que sejam afetadas as formas do sistema, é óbvio que se trata de analogia fonética. O nosso espírito associa, não raro, palavras que na origem são distintas. Para isso basta que uma possa de algum modo evocar a outra, o que acontece quando ele descobre certas relações entre elas, principalmente de afinidade ou oposição semântica. O resultado é que a menos familiar ou menos radicada na língua sofre a influência da outra, que lhe determina modificações materiais, inexplicáveis pelas leis fonéticas conhecidas. Cada agrupamento humano pronuncia as palavras estranhas ao seu léxico de conformidade com os hábitos fonéticos da própria língua. Até na grafia das palavras se sentem os efeitos da analogia. É que as pessoas menos entendidas, em matéria de etimologia, freqüentemente se equivocam, aproximando graficamente vocábulos cuja origem é inteiramente diversa. Ainda na fonética, é a analogia que causa a deslocação do acento tônico de muitas palavras. O cruzamento pode ser considerado também como um caso de analogia fonética. O nosso espírito associa, às vezes, duas palavras semelhantes na significação ou pronúncia, surgindo dessa associação um terceiro vocábulo, com elementos fonéticos de ambos. - Na morfologia, pode-se dizer de um modo geral, que a analogia é base de toda a morfologia: no substantivo - como gênero masculino e feminino; no número - como plural dos nomes e grau, contudo, são através dos verbos que melhor podemos apreciar a ação da www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS analogia, devido a vasta forma de flexões que caracteriza esta classe de palavras. Desde o latim, se nos deparam freqüentemente criações analógicas nas formas verbais. Assim, os verbos da 3a conjugação passaram todos para a 2a, por analogia, no latim vulgar da Península Ibérica. - Na sintaxe, é na regência que ocorrem os casos mais comuns de analogia sintática, ou seja, nada mais é que usar duas construções equivalentes, onde acaba por fundi-las numa só. - Na semântica, o emprego de um vocábulo, em sentido figurado, é u, recurso natural, de que se serve geralmente o povo para exprimir, com mais energia e rapidez, as suas idéias. Evita-se assim, por este processo, dificuldades de expressão e, ao mesmo tempo, põe em relevo a idéia que pretende transmitir. A analogia, em semântica, constitui o emprego de palavra ou expressão em sentido figurado, conhecido por metáfora. 2. Análise. O intuito desta análise é verificar que, ao longo do tempo, a língua vem sofrendo constantes evoluções; a fala, por sua vez, constitui elemento fundamental para que haja tais “adequações” a cultura e a todo um contexto social de determinada comunidade. O falante enquanto usuário de uma língua transporta por muitas vezes inconscientemente os falares espontâneos, ao momento da escrita. Porém quando as realizações dos falantes são colididas com a “normatização” solidamente organizadas tem se a nítida noção de “oscilação”, ou seja, em outros termos, há então o que se chama erro. Visto que essas formas “taxadas” como erros, ocorrem independentemente de sexo, idade, grau de escolaridade. www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS A análise por sua vez consistiu na seleção das questões cujas respostas sofreram maior variação, de acordo com a norma padrão. 2.1 Quadro: a tabela que segue tem por base as questões cujas respostas sofreram maiores variações. Questão Norma Variações 01 Botijão/ Bujão Bojão/ Butijão/ Butisão/ Dutijão/ Boutigão/ Butizão/ Butjão/ Bojão/ Boutijão 02 Dezesseis Dezeseis/ Desesseis/ Deseseis/ Dezeceis/ Deze ceis/ Dizeseis/ Dezessiis/ Deseceis 08 Óleo Oleó/ Oléo/ Oleo 09 Fósforo 10 Advogado 13 Xícara Chicara/ Xicara/ Chicra/ Chícara/ Chicará/ Chicàra 14 Piscina Picina/ Pisinca/ Pecina/ Pisina/ Pcina Fosforo/ Fósfero/ Fosfoo Adevogado/ Advogado/ Devogado No quadro acima está o número de cada questão, o que se esperava ter respondido de acordo com a norma, e por último as variações ocasionadas na escrita dos discentes, tanto do sexo feminino quanto masculino, com idade entre 12 e 17 anos, ambos os gêneros cursando o 8o ano do ensino fundamental. a) Na questão (1) foi perguntado: O gás de cozinha que utilizamos no fogão vem dentro do: A resposta esperada advertia duas formas, pois no vocábulo /botijão/, também é admitida a forma /bujão/. De acordo com Ferreira (2000), botijão e/ou bujão são recipientes utilizados para armazenar produtos voláteis, ou ainda, recipiente metálico, utilizado para entrega ou uso de gás a domicílio. www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS Os informantes tanto do sexo feminino quanto do masculino, registraram ortograficamente variadas respostas que seguem abaixo: - /Bojão/ - /Butijão/ - /Butisão/ - /Dutijão/ - /Boutigão/ - /Butizão/ - /Butjão/ - /Bojão/ /Boutijão/ b) Na questão (2) foi perguntado: Quantos são dez mais seis (com a observação de se responder por extenso)? A resposta esperada era /dezesseis/, que conforme Ferreira (2000) é uma quantidade superior a quinze. Foram registradas as seguintes grafias: - /Dezeseis/ - /Desesseis/ - /Deseseis/ - /Dezeceis/ - /Deze ceis/ - /Dize-seis/ - /Dezessiis/ /Deseceis/ c) Na questão (8) foi perguntado: Como é denominado o liquido com o qual fritamos batatinha? A resposta esperada era /óleo/ que ainda conforme Ferreira (2000) é um nome comum dado a substâncias gordurosas, inflamáveis, de origem animal ou vegetal. Com efeito, as respostas foram: /_íca/ - /_íca/ - /_íca/ d) Na questão (9) foi questionado: Com que acendemos o fogo que não é o isqueiro? A resposta que deveria ser /fósforo/ apresentaram a seguinte grafia: /_ícara_/ - /Fósfero/ - /Fosfoo/ www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS Que de acordo com Ferreira (2000) /fósforo/ constitui-se um palito com uma cabeça composta de corpos que se inflamam quando atritados. e) Na questão (10) foi questionado: Quem faz curso superior em direito vai exercer a profissão de: (não é juiz, nem promotor, nem defensor) A resposta correta seria /advogado/, contudo oscilaram para: /Adevogado/ - /Advogado/ - /Devogado/ Segundo Ferreira (2000) /advogado/ é o indivíduo legalmente habilitado a advogar. f) Na questão (13) foi perguntado: O que utilizamos para beber café que não é o copo? A resposta esperada seria /xícara/, porém o que evidenciaram foram: /Chicara/ - /_ícara/ - /Chicra/ - /Chícara/ - /Chicará/ - /Chicàra/ Conforme Ferreira (2000) /xícara/ é uma pequena vasilha com asa, utilizada em sua grande maioria para servir bebidas quentes. g) Já na questão (14) foi questionado: Em que lugar os atletas praticam a natação? A resposta esperada e correta seria /piscina/, porém registraram das seguintes formas: /Picina/ - /Pisinca/ - /Pecina/ - /Pisina/ - /Pcina/ Que ainda segundo Ferreira (2000) é um tanque artificial utilizado para a natação. Considerações Finais www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS A língua portuguesa apresenta-se de uma forma estereotipada perante a sociedade, contudo, no momento em que o indivíduo vale-se da linguagem para se expressar com os demais, esta vem “carregada” de formas irregulares e instáveis. O que acontece é que toda língua do mundo existe um fenômeno chamado “variação”, isto é, nenhuma língua é falada do mesmo jeito em todos os lugares, por estarem adequadas às diferentes situações. Assim cada falante adquire seu estilo próprio de se expressar, seja ele no momento da fala ou da escrita. No instante em que há a “colisão” de um estilo próprio com a norma até então solidamente organizada, tem se a noção de “erro”. Para concluir, o grande desafio que os dias de hoje nos impõem é de se saber utilizar o nível de linguagem adequado a situação. No entanto, é inegável que o padrão formal culto é o registro de prestígio social, via de regra exigido nas relações sociais de caráter profissional ou oficial. Referências Bibliográficas BAGNO, Marcos. Preconceitos lingüísticos – o que é, como se faz. 23a Ed. São Paulo – SP: Edições Loyola, 1999.(Não está no corpo do trabalho) CARVALHO, Castelar de. Para Compreender Saussure: fundamentos e visão crítica. 13a Ed. Petrópolis - RJ: Editora Vozes, 2003 COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro - RJ: Editora Ao Livro Técnico, 1976. www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da língua portuguesa. 4a Ed. Rio de Janeiro - RJ: Nova Fronteira, 2000. GNERRE, Maurizzio. Linguagem, Escrita e Poder. 3a Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. LOPES, Edward. Fundamentos da Lingüística Contemporânea. SANTANA, Maria Pastoura Benedita de. Metaplasmos: Entre o oral e o escrito. Nova Andradina - MS, 2009. TARALLO, Fernando. A pesquisa sócio-lingüística. 5a Ed. São Paulo - SP: Editora Ática, 1997. Anexo 1 - Questionário UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE NOVA ANDRADINA CURSO DE LETRAS PROJETO DE PESQUISA Aluna: Jenniffer Kaiolany Garcia Martins Santos Orientador: Prof.Dr. Marlon Leal Rodrigues - Ficha________ Escola:___________________________________________________________________ Nome:___________________________________________________________________ Série:_______________Idade:________________Sexo:___________________________ Questionário 01 - O gás de cozinha que utilizamos no fogão vem dentro do: R:________________________________________________ 02 - Quantos são dez mais seis? (escreva por extenso) R:_________________________________________ 03 - Que nome é dado ao animal que habita o aquário de vidro de pequeno porte? R:_______________________________________________________________ 04 - Como é chamado o lugar em que o professor escreve com giz para transmitir conteúdo em sala de aula? R:_______________________________________________________________________ 05 - Qual é o oposto de homem? R:_________________________ 06 - Qual dos talheres pontudo em sua grande maioria, que utilizamos para comermos macarrão? R:_______________________________________________________________________ 07 - Qual o órgão de nosso corpo responsável pela visão? www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS R:___________________________________________ 08 - Como é denominado o liquido com o qual fritamos batatinha? R:__________________________________________________ 09 - Com que acendemos o fogo que não é o isqueiro? R:_________________________________________ 10 - Quem faz curso superior em direito vai exercer a profissão de: (não é juiz, nem promotor, nem defensor) R:_______________________________________________________________________ 11 - Na dieta básica do brasileiro qual o cereal branco, pequeno, pontiagudo e que faz parceria como o feijão? R:_______________________________________________________________________ 12 - Que objeto de plástico, redonda, maleável e comprida, que utilizamos para lavar a área e que se encaixa na torneira? R:_______________________________________________________________________ 13 - O que utilizamos para beber café que não é o copo? R:__________________________________________ 14 - Em que lugar os atletas praticam a natação? R:____________________________________ 15 - O que utilizamos para nos enxugar após o banho? R:_________________________________________ 16 - Como é chamado o acessório que colocamos na cabeça para proteção contra o frio que não o boné, nem o chapéu, nem a boina, nem o gorro? R:_______________________________________________________________________ Anexo 2 Tabulação Geral das Respostas QUADROS DA ESCOLA ESTADUAL GUAICURU QUADRO GERAL Fichas: 1 a 34 Ano: 8o Questão Masculino: 21 Feminino: 13 Resposta Esperada 01 Botijão/ Bujão 02 Dezesseis Resposta Correta 18 10 Idade Média: 12 a 17 anos Resposta Incorreta 16 24 Variação Apresentada Bojão (1) Butijão (7) Butisão (1) Dutijão (1) Boutigão (1) Butizão (1) Butjão (1) Bojão (2) Boutijão (1) Dezeseis (14) Desesseis (4) Deseseis (1) Dezeceis (1) www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Gênero Masc. 13 16 Gênero Fem. 3 8 Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS 03 04 Peixe Lousa 33 11 01 23 05 Mulher 29 05 06 Garfo 31 03 07 08 Olhos Óleo 34 20 00 14 09 Fósforo 15 19 10 Advogado 22 12 11 12 Arroz Mangueira 33 28 01 06 13 Xícara 06 28 14 Piscina 17 17 15 Toalha 26 08 16 Touca 04 30 Deze ceis (1) Dize-seis (1) Dezessiis (1) Deseceis (1) Peichinho (1) Losa (13) Loza (5) Louza (4) Laisa (1) Molher (3) Muler (2) Guarfo (2) Quarfo (1) -.Oleó (1) Oléo (4) Oleo (9) Fosforo (16) Fósfero (2) Fosfoo (1) Adevogado Adivogado (12) Devogado (1) Arros (1) Mangeira (5) Manqueera (1) Chicara (11) Xicara (12) Chicra (1) Chícara (2) Chicará (1) Chicàra (1) Picina (9) Pisinca (1) Pecina (1) Pisina (5) Pcina (1) Tualha (5) Tualia (3) Toca (30) 01 16 -.07 05 -.- 03 -.- -.10 -.04 14 05 12 02 01 05 -.01 19 09 14 03 06 02 19 11 Anexo 3 Tabela Específica das respostas e suas respectivas variações do Gênero Feminino (Idade entre 12 e 16 anos) do 8o ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Guaicuru, localizada na cidade de Anaurilândia - MS. QUADRO FEMININO Faixa Etária: 12 a 16 anos www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS Questão 02 Resposta Esperada Botijão/ Bujão Dezesseis 03 04 05 06 07 08 09 10 Peixe Lousa Mulher Garfo Olhos Óleo Fósforo Advogado 11 12 13 Arroz Mangueira Xícara 14 Piscina 15 16 Toalha Touca 01 Variação Apresentada 12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos Butijão/Bojão -.- Butijão /Bojão -.- -.- -.- Dezeseis/Deseseis/ Desesseis -.- Dezeseis -.- Desesseis Não Houve Louza/ Losa/Loza Não Houve Não Houve Não Houve Oleó/Oleo Fosforo Adevogado/ Adivogado Não Houve Mangeira Chicra/ Xicara/Chicara/ Chícara Picina/Pecina/ Pisinca Tualha Toca -.-.-.-.-.-.-.-.- Dezeseis/ Deseseis/ Desesseis -.Louza/ /Losa -.-.-.-.Fosforo Adevogado -.Losa -.-.-.Oleó Fosforo Adivogado -.Loza -.-.-.Oleo Fosforo -.- -.Losa -.-.-.-.Fosforo -.- -.- -.- -.- -.- Chicara/Xicara/ Chicra Xicara Xicara -.- Pisinca -.Toca Tualha Toca -.Mangeira -.- -.- Picina Xicara/ Chícara/ Chicara Pecina -.Toca Tualha Toca -.Toca Anexo 4 Tabela Específica das respostas e suas respectivas variações do Gênero Masculino (Idade entre 12 e 17 anos) do 8o ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Guaicuru, localizada na cidade de Anaurilândia - MS. QUADRO MASCULINO Faixa Etária: 12 a 17 anos Questão 01 02 Resposta Esperada Botijão/ Bujão Dezesseis Variação Apresentada Butijão/ Bojão/ Dutijão/ Boutigão/ Butizão/ Butisão/ Boutijão/ Butjão/ Deze ceis/ Dezeseis/ Deseceis/ Dezeceis/ Dize-seis/ 12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos -.- Butijão Dutijão/ Bojão/ Butijão Boutigão/ Butizão/ Butisão/ -.- Butijão/ Boutijão/ Butjão -.- Dezeceis Dezeseis/ Deseceis Desesseis/ Dezeceis/ Dezeseis/ Dize-seis/ Dezessiis Dezeseis -.- Dezeseis www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br Recebido até Agosto/2011, aprovado até Setembro/2001. Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Universitária de Campo Grande – MS 03 04 Peixe Lousa 05 Mulher 06 Garfo 07 08 Olhos Óleo 09 Fósforo 10 Advogado 11 12 Arroz Mangueira 13 Xícara 14 Piscina 15 Toalha 16 Touca Deseseis/ Desesseis/ Dezessiis Peichinho Louza/Losa/ Loza/Laisa Muler/ Molher Guarfo/ Quarfo Não Houve Oleó/Oleo/ Oléo Fosforo/ Fosfoo/ Fosfero Devogado/ Adivogado Arros Mangeira/ Mangueera Xicara/ Chicara/ Chícara/ Chicará Picina/ Pecina/ Pisinca/ Pisina/ Pcina Tualha/ Tualia Toca -.Losa Peichinho Losa Muler Molher -.- -.- -.-.- -.-.- -.- -.Laisa/ Louza -.- -.- -.- -.- -.Oleo/ Guarfo/ Quarfo -.Oléo/ Oleo -.Oleo -.-.- -.-.- Fosforo/ Fosfoo Fosforo Fosforo Fosforo -.- Fosfero Adivogado Adivogado/ -.- -.- Adivogado -.-.- -.Mangeira/ Mangueera Chicara/ Xicara Adivogado/ Devogado Arros Mangeira -.-.- -.-.- -.-.- Xicara/ Chícara /Chicara Chicara Chicará Xicara Chicara -.Louza/ Losa/Loza -.- -.Losa -.- Picina Pisina/ Picina Picina/ Pisina/ Picina Pcina -.- -.- Tualha/ Tualia Toca Tualha -.- Tualha Tualha Toca Toca Toca Toca Toca www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br