ANO 17 - Nº 168 PORTO ALEGRE JANEIRO/2014 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Índio Vargas: ´´Castelo chantageou Jango´´ Indio Vargas tem 77 anos.É um dos resquícios do PDT que conviveram com Jango e Brizola.Aqui neste depoimento ele conta bastidores de ambos.Preso político nos anos 70, quando saiu da cadeia escreve o Guerra é Guerra, dizia o torturador, sucesso de público.Editado pela Codecri, em 1981, até hoje seu autor recebe direitos autorais do mesmo. Aposentado da CEF, Indio advogado no centro de Porto Alegre A entrevista foi concedida em 18 de janeiro de 2013. P -Vocês visitavam o Jango no exílio? R - Eu fui a Montevideo com o Rafael Peres Borges (falecido há pouco tempo) que fora presidente da CEFRS no período do Jango . Eles eram amigos. Tão amigos que o Rafael, aqui presidente da CEFRS levou umas pessoas que tinham que ser nomeadas e o Jango tinha que arrumar a nomeação. Era prum CC. E o Jango disse assim: - O Rafael, tu tens aí uns nomes, eu tou precisando de um nome lá de São Borja. Tem um amigo, ele tem 40 e tantos anos, Ele trabalhava no campo assim e tal. Quero ver se arrumo alguma coisa pra ele . Naturalmente que na CEF não que ela não lida com o campo. Arrumou um negócio adequado pra ele. o Jango era assim. O Jango nos recebeu lá em Pocitos, perto de Montevideo. Tava ele, a dona Maria Tereza, mulher dele, e os empregados com algumas pessoas da segurança deles. Ele conversou conosco muito a vontade. O Jango era muito afável. Tanto é que ele não resistiu (em 64) porque não quis. Ia haver o tal derramamento de sangue, sem dúvida. Ia ser muito feio.Se ele insistisse naquilo que o General Ladário Pereira Teles disse a ele . Como Ministro da Guerra. Ele então evitou um banho de sangue. Provavelmente até as forças legalistas ganhariam. O desfecho fosse favorável pela manutenção da ordem. Afinal de contas, foi um golpe vulgar, sem fundamento porque não tinha nada. Então foi uma coisa muito primária até a forma aquela do Exército sair por terra de fora as tropas comandadas pelo Gal. Mourão Filho quando se encontraram na divisa do RJ vinham vindo pra conter o avanço das tropas do Gal Mourão. Eu me lembro de uma entrevista dada por Dom Evaristo Arns que à época era capelão do Exército. Depois se tornou cardeal de SP. e foi muito importante lutando contra a ditadura. A verdade é que a Igreja Católica ajudou a fazer mas não com o consentimento... Dom Evaristo Arns que é intocável. Dom Evaristo na época capelão, disse que acompanhou de o deslocamento das tropas do Gal. Mourão pro Rio e onde haveria enfrentamento com as tropas que apoiavam Jango. Ele disse que acompanhou de longe, viu a entrada, o encontro, foi um negócio inesperado porque o resultado do encontro porque eles chegavam conversavam e se via a alegria de uma troca de abraços incompatíveis com o clima e o ambiente do fato que estava acontecendo naquele momento. P -O que vocês foram fazer em Pocitos? R - Em 1 lugar nós fomos conversar com o Brizola porque ele estava ainda em Montevideo. Ele não tinha ido pra Atlântida onde esteve depois confinado. Em Montevideo ele morava na Pr. Independência. Nós visitamos o Brizola, conversamos com ele, eu e o Rafael Perez Borges. E depois então nós fomos fazer uma visita ao Jango. O Jango nos recebeu lá muito bem. P - Ele perguntou pelo Brizola? R - Não. O Rafael disse assim: estivemos com o Brizola. Porque neste tempo bem no início, isto foi lá por 1965. Tava tudo muito quente ainda.... Eles não tinham ainda se incompatibilizado. Se tornaram incompatíveis as posições de um e de outro devido a situação que foi se criando depois do golpe. As coisas estavam se consolidando, né. Nenhum deles, o Brizola chegou ao ponto de dizer que iria assumir o mandato de deputado federal (eleito pela Guanabara) e tava preparando um discurso pra mostrar o que tava ocorrendo, descrever a realidade do que fora transformado o Brasil do ponto de vista institucional. Ele dizia isto aqui, 2 mas ficou clandestino em seguida mas ele dizia para as pessoas foi o caso que os jornais publicaram, nem dizia que tava percorrendo o Brasil, mas ele tava clandestino aqui (após o golpe)Ele não podia aparecer, se aparecesse, matavam ele, ah, não tinha dúvida.... P - O Rafael disse ao Jango que vcs tinham estado com o Brizola? R - Ele disse assim, mas ele não desenvolveu o assunto do Brizola porque eles não estavam atritados, esta que é a verdade. como estiveram até a morte depois. A reconciliação foi um ano antes da morte do Jango. Foi uma questão do Josué Guimarães, de pessoas amigas, eram amigos. Josué fora chefe de gabinete de Jango quando ele foi secretário de Interior e Justiça. Então ali ele contou uma coisa muito interessante. Eu refiro no livro, en passant... sem dar força e expressão ao fato que eles nos contou.... E o fato é o seguinte: ele disse que percebeu, estava a par de tudo que estava acontecendo sabia por exemplo antes do golpe, temendo o golpe, estava sendo tramado mais no RJ do que em qualquer outra parte, um pouco em SP, mas mais no RJ. por causa do Lacerda (n.r: Carlos Lacerda, então critico feroz do Jango, governador da Guanabara) então ele disse que sabia de tudo o que estava acontecendo e um ministro do Exército, era ministro da Guerra, depois é que mudaram tudo, que comandava as 3 Forças, e o ministro do Exército adoeceu então tinha que assumir um substituto e não achavam o tal substituto e ele convidava pessoas pra preencher o cargo mas deixar aquele vago numa área de decisão militar e não conseguiu, ele achou muito estranho, mandou pesquisar pra saber o que tava havendo e ai ele aconselhado por pessoas da alta esfera ,do Exercito, de conversar com o chefe do EMFA que era depois do ministro da Guerra a primeira pessoa na hierarquia militar, de um chefe das Forças Armadas do governo da Nação, que era o general Castelo Branco, era um EXPEDIENTE Propriedade de Olides Canton - ME CNPJ 94.974.953/0001-02 Editor: Jorn. Olides Canton - Mtb 4959 Endereço: Av. Lavras, 425/303 Fone/Fax: (51) 3330.6803 e-mail: [email protected] CEP 90460-040 - Porto Alegre/RS Editoração Eletrônica: Rita Martins(8496.7088) e-mail: [email protected] Impressão: RML Gráfica (3347.6575) Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. Os colaboradores não têm vínculo empregatício. dos que estavam na conspiração. Ai disse pra ele: - chame o general castelo branco e converse com ele, porque ele está na conspiração, que o chamasse e o interpelasse porque ele estava se opondo à hierarquia. O Exercito é baseado na hierarquia, na disciplina, né. Ele estava rompendo uma disciplina, uma hierarquia. O chefe do EMFA, o seu chefe é o presidente da Republica, queira ou não. Ele chamou o Castelo Branco uns 4 ou 5 dias antes do golpe. antes do comício do dia 13 (13.03.1964, na central do brasil)naquele comício do dia 13 já desbordou a coisa, foi ali que começou a degringolar, e o castelo branco foi falar com o Jango, e disse que ele não estava. Ele acreditava que houvessem forças contrárias ao governo forças que tinham como objetivo mudar o governo porque um governo assim com relações com o partido comunista com relações internacionais na área dos países marxistas era um perigo no Brasil e um perigo pro continente. não só pro Brasil, mas pro continente. Inclui ali os USA também, não era só o Cone sul aqui. O general ficou muito surpreso e disse: Mas Presidente, chegou a esta altura que da conversa que o presidente que o Jango lhe disse: - O Sr. vai ser demitido. General, porque está contrariando a orientação do governo eleito pelo voto direto, está quebrando uma hierarquia. O sr. não está cumprindo a sua principal função que é defender o estado democrático de direito, o sr. é guardião da constituição, guardião da normalidade democrática do presidente. O senhor é chefe de estado maior das forças armadas. Posto maior que este na hierarquia militar não existe. Eu tenho só uma alternativa: demití-lo! (prossegue) forno à lenha Horário: 3331.9699 3331.1749 Almoço: Sexta Sábado Domingo e Feriado Das 11h da manhã à 1h30min da madrugada ININTERRUPTAMENTE 3 Foto: Erli Lou Fotos do mês Foto divulgação A vovó do andador Foto: Marcos Eifler Bar Lamas,RJ. Gilmar Sossella assumiu como novo presidente do legislativo estadual em 31.01.2014 foto de Juremir Versetti Restaurante Gambrinus Dr. Belmar Andrade Cardiologia Preventiva e Cardiologia do Esporte Avaliação para prática esportiva Eletrocardiograma e teste ergométrico Terças e Quintas à tarde Av. Praia de Belas, 2174 / 308 Fones (51) 3233.4543 e 3231.5470 [email protected] 4 Urbanismo equivocado: um elemento para a insegurança Nos dias que correm, uma das grandes preocupações das pessoas é, sem dúvida, o problema da segurança urbana. Muitos acreditam que um posto policial por si só é garantia de uma vida mais tranquila. Ledo engano. É certo que a insegurança aumentou em nossas cidades, mas não apenas pelo crescimento do consumo de drogas, como o crack, uma das calamidades mais alarmantes, ou pela desigualdade social e econômica. A violência urbana cresceu especialmente em decorrência da péssima arquitetura das grandes cidades, das calçadas mal conservadas e do urbanismo equivocado. Questões estas que os governantes e os empreendedores fazem questão de não discutir. Sabem que este modelo exclui de todas as formas. Quanto mais carros, avenidas amplas e edifícios altos, mais lados sombrios e iluminação inadequada, logo uma cidade menos segura. Não é de hoje que estudiosos do urbano, especialmente arquitetos, vem se debruçando sobre o assunto e dando contribuições valiosas para o seu enfrentamento. Por isso, é interessante explorar quais fatores espaciais podem contribuir para diminuir a violência. Jane Jacob já defendia décadas atrás a presença de desconhecidos como importante. Ela também acreditava que a manutenção da segurança não é feita apenas pela polícia, mas pela rede intrincada de controles e padrões de comportamento espontâneos presentes em meio ao próprio povo e por ele aplicados. Ou seja, espaços onde o morador é o olheiro e o comerciante conhece as pessoas do entorno são um atestado de que ali fica mais difícil um meliante aprontar alguma ou um abusador atacar uma estudante na calada da noite. Cidades com calçadas amplas também desempenham papel fundamental para Adeli Sell a manutenção da segurança. Explico por que. As próprias pessoas que usam e transitam pela rua acabam exercendo uma vigilância natural. Ruas desertas dificilmente atrairão a atenção de quem está dentro das edificações, o que acaba acentuando a sensação de insegurança. Vou além. Calçada mal cuidada não só atrapalha quem caminha, mas impede o sujeito de olhar a vitrine, apreciar uma bela arquitetura ou cumprimentar alguém no café. Um passeio público descuidado faz com que as pequenas distâncias, como uma ida à padaria ou à farmácia, sejam percorridas de carro, e não mais a pé como antigamente. Observe, reflita, isto acontece. Esquinas com obstáculos tipo "fradinhos" para carros não subirem na calçada são o maior absurdo, atrapalham, tiram a atenção das pessoas, dificultam a vida dos idosos e cadeirantes. Um banco de praça quebrado, sujo, sem pintura é mais um elemento para a insegurança, porque as pessoas não sentarão ali para conversar, tomar mate, viver a vida. Mas a insegurança se dá com um discurso e atitudes que clamam por segurança. Nossos planos diretores de 59 e 79 segmentaram Porto Alegre. Com o discurso da modernidade a la Niemeyer e Lúcio Costa, que seguiam Le Corbosier, dividiram a cidade em espaços residenciais, comerciais e industriais. O certo seriam cidades miscigenadas, com comércio e pequenas praças, para que estes locais possam ser acessados a pé ou de bicicleta. Cidade onde poucos caminham ou pedalam são inseguras. Assim como na Idade Média, quando se construía as muralhas ao redor das fortalezas para se proteger do inimigo, na atualidade construímos gigantescos paredões que nos isolam da rua - que acaba sendo propriedade de ninguém e, desta forma, marginais e violentas. Por outro lado, quando permitimos a abertura das janelas das nossas casas à cidade estamos compartilhando o espaço com toda a sociedade, deixando o isolamento e enfrentando em parceria os bons e maus momentos. Por isso, estou certo que arquitetura e urbanismo adequados podem minimizar o problema da insegurança pública ao intensificar a vivência urbana, diminuir a segregação espacial e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Por Adeli Sell Vereador de Porto Alegre por 16 anos